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Boaventura de Sousa Santos UM DISCURSO SOBRE AS CIENCIAS Tredigio FDIGOES AFRONTAMENTO Eat tno a verte ami proleia ne aber sslara dar suse na Unwesdase do Coin, no ao activo de T0886 as Um Oscar he Cc Ante: Rnsers de Se Sur itm Sor Sn Ee Aestamens Faas ies Avot Cova Coa 89 / oto Ne ages 20 De Extamos a quinze anes do final do séeulo XX. Vivemos ‘num tempo aténito que ao debrucar-se sobre si préiprio des cobre que os seus pés sio um ervzamento de sombras, som bras que vém do passado que ora pensamos ji nfo sermos, ora ppensamos no termos ainda deixado de ser, sombras que vem do futuro que ora pensamas ji sermos, ort peasamos nunca virmos a ser. Quando, 20 procurarmos analisar a situacdo pre: ‘sente das cigncias no seu conjuno,othamos para o passido, a primeira imagem é talvex a de que os progresses ciemificos ‘dos iimos trinta anos séo de tal ordem dramiticos que os séculos que nos precederam — desde 0 século XVI, onde todos ns, cientistas modemos, nascemos, até a0 frOprio século XIX — nfo sfo mais que uma pré-histiria longingua Mas se fecharmos os olos 0s volianmos a abrir, verifcamos com surpresa que os grandes ciemistas que estabeleceram _mapearam o campo terico em que ainda hoje nos movemos viveram ou abalharim entre o sécula XVHL @ 08 princiros inte anos do século XX, de Adam Smith e Ricardo a La voisiere Darwin, de Marx e Durkheim a Max Weber e Pareto, Ge Humboldt e Planck a Poincaré e Einstein. E de tal modo € assim que & possivel dizer que em termos ciewtitiens vivemos ainda no séevlo XIX ¢ que o século XX ainda nin comecon, fem talver comece antes de terminar. E se, em ver de no pasado, centrarmos © nos60 lar no futuro, do mesmo modo {uas imagens convaditrias nos ocorem alterradamente, Por ‘um lado, as polenialidades da tradugiotecnoldgica dos conhe cimentos acumulades fazemnos cfer no liar de uma so- Ciedade de comanicasoe iterativa libertada dus eaénctas © insegurangas que ainda hoje compéem os dias de muitos de ns: 0 século XXL a comegar antes de comegar. Por outeo Tao, uma eflexio cada vez mais aprofundada sobre ns lmites 4o rigor cientifico combinada com os perigos cada vez ‘verosimeis da catistrofe ecoldgica ou da guerra nuclear fazem no mer que o século XXI termine antes de comer Recorrendo 2 tori sinergética do fsicotebrico Hermann Haken, podemos dizer que viveros num sistema visual muito instivel em que a minima futwacdo da nossa percepsio visual provoca ruptiras na simetsia do que vemos. Assim, olhando 2 mesma figura, ora vemos am vaso grego branco recoriado sobre um fundo preto, ora vemos dois rostos gregos de perfil, frente a frente, reortados sobre um fondo branco, Qual das imagens € verdadeira? Ambas e nenhuma.E esta a ambigui dade ea complexidade da situacdo do tempo presente, um tem po de transigéo, sinerone com muita coisa que esté além ou fiquém dele, mas descompassado em relagio a tudo 0 que @ habia Tal como noutros periodos de transigo, dices de enten er ede percorrer, é necessrio volta 4s coisas simples, & ea pacidade de formulae perzuntas simples, pergunas que, como Einstein costumava dizer, s6 uma erianga pode fazer masque depois de feta, sio capsizes de tazer uma lor nova A nossa petplenidade, enki comigo wna vianga que hépeecisamente urentos e trina e cinco anos fer alpumas perpnts simples sobre as cigncias © 0s cientsts. Pé-las no inicio de um ciclo 4e producto cientiica que muitos de nés jlgam estar agora 8 chegar2o fim. Essa crianga € Jean-Jacques Rousseau, No seu célebre Discours sur les Sciences et les Arts (1750) Rousseau formula virias questGes enquanto responde que, também razoavelmente infantil, he fora posta pela Academia de Dijon (0), Esta dha questio rezava assim: o progresso das eins ‘das artes contribuird pars purificr ow para corrmper os nos- sos costumes? Trata-se de uma pergunta element, 20 mesmo {empo profunda e ficl de entender. Para Ihe dar resposta — {do modo eloquente que Ihe mereceu « primeizo premio al- ‘gumas inimizades — Rousseau fez as sepuintes perguntas nfo ‘menos elementares: hi alguma relacio entve a eiéncia e a Virtude? 1 slguma razio de peso para subsituitmos 0 conbe ‘erktaqmo 2 pops saurera Ts 3038 popes as clas tematic, so & a geomet eda atta mas qua 9 nlp ‘ina cnhace infintonemt mas propsges org a come fs, ‘Maeno qu espe aqelepooese ue tlic bomen comes ‘espenco que sa concern € al an Divina er csr jet Frue, nes casos, meee ompesonder a cess ara let Ja {oa edo Md ane conezo, Cali eect, p-N. {01 sd Elna por Clit eb ten exes no pret cio tering nna deal fo com Fe lugar cenval da matemtica na cigneia mewema derivam duas consequéncias prinipais. Em primero lugar, conhecer sign fea quantficar.O rigor cietfic afere-se pelo rigor das me- igdes. As quaidades intinsecas do objecto sio, por assim dizer, desqualficadas €em 2a lugar passam a imperar as quan- tidades em que eventualmente se podem traduzit. O que no € ‘quantiicdvel éciemificamenteirclevante, Em segunde lugar, © método cientiico assenta na reducio da complenidade. ‘mundo € complicado ea mente humana no pode compreen: der completamente. Conhecer significa dividir e classificar pata depois poder deteminarrelagoes sistemticas entre 0 que ‘se separou. J em Descartes uma das regras do. Método consiste precisamente em «diviir cada uma das difieuldades fem tantasparcelas quanto for possivel erequerido para melhor as resolver 0), A divisio primordial € a que dstingve enue ‘condigaes iniciais e ules da natueza>. As condigdesinciais io 0 reino da complicagio, doacidentee onde € necessirio se: leccionar as que estabelecem as condigéesrclevantes dos fa: tos. observar as leis da natureza so oreino ds simplicidade e a regularidade onde € possivel observar e medir com rigor. xa distingdo entre condigoes iiciais eles da natureza nada tem de «naturals. Como bem observa Eugene Wigner, € mes smo completamente white 2) No enantio, énela que asses tatoda a cigncia moderna ‘A natureza te6rica do conhecimento cientificn decore dos pressupostos cpistemoligicns e das reeras metodoligicas j& ‘annreramotemtica da eur da mtr exis cy pare longa ‘uate 3 terrain ds meses unis egecamente cia Intrrctaco de Cipeshaue) Cie 8 Holla, Als" Ein. Cre torn Rebel, Nova lg, Nee America Cia) pp Ve (it) Desa, oh tp (02) 8 Wigner, Smiter and Reftone Semi ssa Cam sth: Came Unverty se. p3. 1s referdas. & um conhecimento causal que aspira A formlagio de leis, 2 luz de regulaidades observadas, com visa a prever © comportemento futuro dos fendmenos. A descoberta das leis da natoreza assent, por um lado, e como jf se referiu, no isolamenta das condigGesiniciais relevantes (por exemplo, no ‘caso da queda dos corpos, a posi incial ea velocidade do corpo em queda) e, por outro lado, no pressuposto de que © resultado se produziriindependentemente do lugar ¢ do tem po em que se realizaem as condigées incias. Por ovteas palavras, a descoberta das leis da natureza assenta no print pio de que a posiglo absoluta e © tempo absoluto nunca sio condigdes iniciais relevantes. Este principio €, segundo Wigner, 0 mais importante teorema da invarincia na fisiea lisien 0, As leis, enquantocategorias de ineligibildade, repousam ‘num conceito de causalidade escolhido, no arbitrariament, centre os oferecidos pela fisicaristoélia.Aristles dstingue {quatro tipos de causa: causa material a causa formal, a causa cliciente a causa final, As leis da ciéncia moderna sio um lipo de causa formal qu prvilegia © com funcioma das coisas tem detsimento de qual 0 agente ou qual o fim das coisas. E or esla via que 0 conhecimenta eientifico rompe com conhecimento do senso comum. E que, enguanto n0 senso comum, € portanto no conhecimento prtico em que ele se teaduz, a causa ea intengo convive sem problemas, na ci cia a determinagio da causa formal obtém-se com a expulsio da imengio. & este tipo de causa formal que permite prever e, portant, intevir no real e que, em sltima instincia, permite & céncia modema responder 3 pergunta sobre os fundamnentos| td se rigor e da sua verdade como elenco dos ses Exitos na (IF Wise ot 92 6 ‘manipula e na ransformagio do red ‘Um conecimento baseado na formulago de eis tem como ‘ressuposto metateérica a ieia de orden e de estbilidade do ‘mundo, a ideia de que o passado se repete no futuro. Segundo a mecénica newtoniana, 0 mundo d& matéria € uma maquina ‘cuits operagées se podem determinar exactamente por meio de leis isicase matemticas, um mundo estiticoe eterno flutvar ‘hum espago vizio, um mundo que oracionalismo eartesiano tora cognoscivel por via da sua decomposicio nos elementos que 0 constituem. Esta idea do mundo-miquina€ de tal modo poderosa que se vai transformar na grande hipStese universal da época modema, © mecaniismo. Pode parecer surpren: dente ealéparadoxal que uma forma de conlecimento,assente numa tal visio do mando, tenha vindo a constituir um dos pilares da idein de progresso que ganha corpo no pensamento ‘europeu a partie do século XVII e que € 0 grande sial in teletual da ascensio da burguesia (4, Mas a verdade & que a ‘ordem e a esabilidade do mundo sio a pré-condico da ans Formagio tecnoligiea do real (0 determinism mecanicsta & 6 horizonte certo de wma forma de conhecimento que se pretende uiiiio funcional, reconheeido menos pela capacidade de compreender profun ddamente 0 eal do que pela capacidade de 0 dominare trans- formar. No plano social, € esse também o horizonte cognitive ris adequado aos interesses da burgucsia ascendemte que via na sociedade em que comesava a dominar o estédio final da ‘evolugdo da humanidade (0 estado postive de Comic; a s0 ciedade industrial de Spencer; a solidariedade orginica de Durkheim). Da que o prestigio de Newton e das les simples 2 U8) Cie, cme in, Pld, The fe of Progress Les, Peegin 197,78, ‘que reduzia toda a complexidade da ordem esmica tenham ‘convertido a eigncia modema no modelo de racionalidade be eeménica que a pouco e pouco transbordou do estudo da na- tureza para o estudo da sociedade, Tal como foi possivel descobrir as leis da natuteza, seria igualmente possivel des- cobras leis da sociedade. Bacon, Vico e Montesquieu si0 08 srandes precursores. Bacon afirma a plasicidade da natreza Jhumanae, portato, a sua perfectibildade, dadas as condigies sociis,juriicas e politicas adequadas, condigoes que & pos sivel determinar com rigor 1. Vico sugere a enstencia de eis ‘que governam deterministicamente a evolucio das sciedaes € tomnam possivel prever os resultados das aegies colectivis, Com extrardindria premonigio Vieo identifica © resolve contradigao entre a liberdade e a imprevisibildade da acco ‘humana individual ea determinagao e prevsibilidade da weg colectiva 9, Montesquieu pode ser considerado um precursor 61 sociologia do dteito a0 estabelecer a relagao ene 4 fis do sistema juriico,fetas pelo homem, € as les inescapsiveis da natura, No séeulo XVII este espirito precursor € ampli e apo: fundado ¢ fermento intelectual que da resula, 36 lu7es, vah criar a6 condigGes para a emergéncia das eigncias socials na ‘séeulo XIX, A conscincta filosofiea da eiéncia moderna, que tivera no racionalismo cartesiano eno empirsme baoniano as ‘suas primeitasfoemulagées, velo a condensar-se no posits ino eocetista. Dado qe, segundo este, s6 hi dts fons de conlecimento cieattico — as disiplinas formais da ligiew da matemitica ¢ as eigncias empiricas segundo.0 modelo tnecanicna das ciocasnturais as eine seca mse 118) Bacon, ah {16 Vien Seen Man, in Opere Mis, Rica 1983. (15 Steaua Papa des foe a tes Baer Lees, 190 am para ser empiricas, O modo como 0 madelo mecaicista fo assumido fo, no entanto, dverso, Distingo duas vetentes principais: a primeira, sem divida dominant, consisiu em aplicar, na medida do pessvel, a0 estudo da sociedade todos (0 principiosepistemoldg cos ¢ metodoldgicos que presidiam 20 estudo da natureza deseo século XVI: a segunda, dorante :nuito tempo marginal mas hoje cada vez mais seguida, con sista em reivindier ara as ciciassociais um estatutoepis- temologico e metodolpico proprio, com base na especificida: ‘de do ser humano sta dstingdo polar em relagio 2 natureza Eas duas concepgbes tm sido consideradas antagsnica, a primera, sujeita a0 jogo positivist, a segunda, libera dele, € ‘qualquer dela reivindicando © monopélio do conhecimento Cientfico-social. Apresentarei adiante uma interpreta die rente, mas pata fi earaeterizareisucintamente cada uma destas ‘A primeira variante — cvjo compromisso epistemot6gico ‘esti bem simbolizado no nome de «fsica social» com que inicialment se designaram os estudos cientficos da sociedad — part do pressuposto que as cignciasnaturais so uma api ‘eigio ou conctetizagio de um modelo de conhecimento uni- versalmente valid €, de esto, 0 nico vido. Portanto, por raioces que sejam as diferengas enze os fenémenos naturals © ‘0s Fendmenos sociais € sempre possvel estudar os dltimos ‘como se fossem os priteitos. Reconhece-se que essas dife renges aciuam conta os fendmenos “ocias, 04 sla, tornam mais difct o cumprimento do cinone metodoligico © menos tigoroso 6 conhecimento aque se chega, mas no hi dferen ‘as qualitativas ente © process cientiico neste dominio € 0 ‘que preside ao estudo dos fenémenos naturais. Para estudar 08 Fenimenos socias como se fossem Fenémenos natrais, ob seit pea conceber os Fctos soci como cosas. como pre tendia Durkheim (0,0 fundador da sociologia académica, € necessirio redurir os factos sociis 36 suas dimensdes exter: nas, observveis e mensuraveis. As eausas do aumento da taxa 4e suieidio na Europa do virar do século nio sio procuradas 1n0s motives invocados pelos suicidas e deixados em carts, como € costume, mas antes a partir da verficagio de regu: laridades em funcio de condigbes tais como 0 sexo, 0 estado civil, aexsténcia ou no de filhos, a religiso dos suicias Porque essa redugio nem sempre & fcil e nem sempre se cconsegue Sem distorcer prosseiramente 0s factos ov sem os reduzir 8 quase irelevincia, as cigncias socias tm um longo camino a percorrerno sentido de se compatibilizarem com os crilrios de eientifcidade das is. Os obsticulos So enormes mas ni sio insuperiveis. Emest Nagel, em The Structure of Science, simboliza bem 0 esforgo desenvolvido nesta variane para ientlicar os obstcules e apomtar a vias sua superagio. Fis alguns dos prineipais obsticulos, as cigncias sociais no dispdem de teoras explicativas que thes permitam abstair do real para depois busear nele, de mado metodologicamente controlado, a prova adequada; as cgncias sociais ilo podem estabelecer leis universais porque os fe inimenos sociais sio historicamente condicionados e cult ralmente determinados:as inci sociais no podem prodizir previsdes fiveis porque os seres hummanos modifica @ seu ‘comportamento em [ungo do conbecimento que sobre ele se adquire: os fenvimenns socias sio de natureza subjectva © como tal nio se deixam capt pela objectividade do compo tamento; as ciéncias sociais no sda objectivas porque o clen (08), Dain, A Regn “TF Dakin. © Sa, Lsho, Preseng, 1973 Soin. List. ” tista social no pode libera-se, no acto de observacio, dos valores que informam a sua pitica em geral e, portant ti tbém a sua pritica de cienista 2, Em relagio a cada um deste obsticulos, Nagel tenta de- rmonstrar que # oposigio cntre as ciéncias sciais eas eiBncias naturaisndo € Ho Tinea gant se julga e que, na medida em que hi diferencas, elas sio superiveis ou negligencveis. Re- conhece. no entanto, que a superagio dos obsticulos nem sem pre ¢ ffeil e que essa € a razso principal do atraso das ciéncias sociais em relagio as ciéneias naturais, A ideia do ataso das cine sociais deta central da argumentacio melodolsgica nesta variante,e, com ela, a ideia de que esc atraso, com tm pve dinheiro,poderdvira ser reduzido ow mesmo eliminado Na teoria das revolugées cientifcas de Thomas Kuhn 0 atraso das cigncias socais € dado pelo eardcterpré-paradig ndtico destasciéncas, a0 conteirio das cigncias natura, essas sim, paradigmticas. Enquanto na cincias naturas, 0 desen volvimento do conhecimentotornou possivel a formulagio de tum conjunto de princios e de teorias sobve a estrutura da 1matéria que So acites sem discusséo por toda a comunidade ciemfiea, conjunto esse que designa por paradigma, na cién- cias sociais no hi consenso paradigmatico, pelo que o debate tende a atravessar vertcalmente toda a expessura do conhe- cimento adquirido. Oesforgoe o desperdcio que iso acareta €simultaneamente causa e eit do atraso das eigncias soci, ‘A segunda vertente reivindica para as cigncias sociais um cestatuto metodol6gico préprio, Os obsticulos que hi pouco ‘enunciei slo, segundo esta vertent, intransponiveis. Para al uns, & a propria ideia de cigneia da sociedade que esti em (20) Earet Nagel, The Souctae of Sine, robe nthe Loic of Seoafie Filan Nova ge a, Be & Weed, 19 a causa, para outros Walase Lo-s6 de empreender uma ciéncia diferente. O argumento fundamental & que a acco humana é ‘adicalmentesubjctiva, O comportamento humano,20 cont ‘dos Zen6menos naturais, nfo pode ser descrito © muito menos explicado com base nas suas caracteristicasexterires.¢ objectiviveis, uma vez que o mesmo acto extemo pode corres: ponder a sentidos de acco muito diferentes. A eiéncia social Serd sempre uma eigncia subjectiva e no objectiva como as Cigna natura; tem de compecender 0s Fendmenos sociais 3 partir das atitades mentais e do sentido que os agentes con ferem as suas acgies, para 0 que € necessiri utilizar métodos de investigagio e mesmo citxi enistemolipices diferentes dos correntes nas cigneias naturais, métodos qualitatives em ‘ex de quanttatives, com vista 8 obtengio de um conheci mento intersubjective, descritivo e compreensivo, em ver de tum conhecimento objetivo, expicativo e nomexstic. Esta concep ode cigneia socal reconhece-se numa posts ra antipositivistae assenta na tradigin Hilositica da Fenome nologia e nela convergem diferenes variantes, desde as mais rmoderadas (como a de Max Weber) 1 até &s mais extremis tas (como a de Peter Winch) @2), Contudo, noma reflexio ‘mais aprofondada, esta concepedo, tal como tem vindo a ser claborada, evela-se mis subsidiria do madelode racionalda de das cigncias natura do que parece. Partha com este mo {elo a dstingio naturezaser humano e tal como ele tem da natureza uma visio mecanicista & qual contapie, com evi 1.4 expecificidade do ser humano. A esta dis: ting, primordial na revolugio ciemtfica do século XVI, vio (21) Mav Weber, eto 122) Peer Winch, Ue Idea of a Soil Scene end ty Retain to Phat tomes Rowe e Ret Pt. 10. rachen Selifien. Venkat, Fisher, -se subrepor nos séevles seeuintes outras, tal como di tingéo naturezafcultura e a distingio ser hurmanovanimal, para no século XVIII se poder celebrar 0 carter Unico Jo ser hhumano, A fronteira que entio se estabelece entre 0 estudo do ser humano e o estado da rtureza nfodeixa de ser prisioneira ‘do reconhecimento da privridade cognitiva das cigncias natu ‘ais, pois, se, por um ldo, se reeusat, os condicionantes bio Twpieos do comportamento humano, pelo outro usam-se argu mentosbiol6gicos para fixar a especificidade do ser humano, Pode, pois, conclui-se que ambas as concepgies de eigncia social aque aludi pertencem ao paradigma da ciéncka moderna, ainda que a concepso mencionads em segundo lugar repre Sente. dentro deste paradigma, um sinal de crise e contenha alguns dos componentes da transi para um out paradigma cientitien DO PARADIGMA DOMINANTE ‘So hoje muitos e fortes 08 sinals de que © modelo de re cionalidadecienttica que acabo de deserever em alguns dos cus tras prineipaisatravessa uma prolunda crise. Defen derei nesta secgdo: primero, que essa crise € nfo s6 profunda como imeversivel; segundo, que estamos a viver um periodo Ge revolugio cieniica que se iniciou com Einstein ¢ a meci nica quntieae nao se sabe ainda quando acaba: terceio, que fs sinais nos permitem tio s6 especular acerca do puradigma {que emergi deste periodo revolucionstie mas que. desde j se pode afirmar com seguranga que colapsario as distinges| bisicas em que assent oparadigma dominantee aque audi na secgo precedente ‘crise do paradigma dominante € resultado interactivo dd uma plralidade de condigGes. Distingo entre condigGes so- ciais e condicées tericas. Darei mais atengio as condigoes teéricas € por elas comeco. A primeira observagio, que nio & to vil quanto parece, é que aidentificagio dos limites, das insuficiéneia estruturais do paradigma cientifico modemo & 0 resultado do grande avango no conhecimento que ele prop: ciou, O aprofundamento do conhecimento permity vera fe silidae dos pilares em que se funda instein consitui 0 primeiro remo no paradigma da eign cia moderna, um rombo, aiés, mais importante do que 6 que Einstein fot subjectivamente capaz de admitit. Um dos pen samentos mais profundes de Einstein & 0 dt relatividade da ‘simultaneidade. Einstein distingue enue a simultanidade de acontecimentos presentes no mesino lugar e # simultanesdade de acontecimentos distantes, em particular de acontecimentos separads por distincias astonémicas. Em selgio a estes sh ‘imos.o problema ligicoa resolver €0 seguinte: coma éque 0 jobservador estabelece a erdem temporal de acontecimentos n0 espace? Certamente por medigées da velocidade da luz, par lindo do pressuposto, que & fundamental teovia de Einstein, ‘que no hit na natutera velocidade superior & da tua. No tentanlo, ao medir a velocidad numa diteegao nica (de A a 8), Einstein defronts-se com um cievlo vicioso: a fim de determina asimultaneidade dos acontecimentos distantesé ne ceskirio conhecera velocidade; mas para medira velocidade & necessirio conhecer a simultaneidide dos acontecimentos, ‘Com um golpe de génio, Einstein rompe com este citeuo, de monsrando que a simultancidade de acontocimentos distantes rio pole ser verifcal, pode to-s6 ser defini, itv e dai que, como salienta Reichenbach, qu Ines miedigoes nie pode haver contradigdes nos resultado wn wr qe exes nos devs a smanidads gue 68 introduzimos por definigi no sistema de medigio 9. Esta teoria veio revolucionar as nossis cancepgies de espago © de tempo. Nae havendo simultaneidade universal, ofempo e 0es- rig absoltos de Newion deixam de existr. Dois aconte- Cinmenos simulineos num sistema de reeréncia no sio si multineos noutro sistema de reeréncia. As kis da fisica eda _Beometria assentam em medigBes Incas. «Os instruments de ‘medida, seam religios ou metros, nio tan magnitudes i pendentes, ajustam-se ao campo mstrico do espago, a estrutura do qual se maifesia mais laramente nos raios de luz» 9) ‘O cardcter local das medigiese, portant, do rigor do co- ‘hecimento que com base neas se obtém, vai inspiraro suri mento da segunda condigdo wérica da crise do paradigms do- rminante, a mecinica quintca. Se Einstein relativizou © rigor dla leis de Newton no dominio daasiofsica,a mecinica quan ties f€-lo no dominio da microfsie, Heisenberg e Bohr de ‘monstram que no € possivel observar ou medir win objecto sein interferir nee, emo alterar,e tal ponto que o objecto {que

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