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Análise de Variações

10 Variations on 'La stessa, la stessissima' – Beethoven


Análise Musical I - 2017/2 - Lucas Brum

Realizar análise dos processos de variação

As 10 variações que Beethoven faz sobre o tema “La stessa, la stessissima” da


ópera “Falstaff” de Salieri mantém do original a tonalidade de Si bemol maior, apenas na
variação 5 que muda para Si bemol menor. O esquema harmônico e a forma AAB (e sua
extensão de tempo 8-8-7, totalizando 23 compassos) também são mantidas durante as
variações. A melodia do tema é lembrada nas variações, aparece de forma modificada,
porém no final da última variação – na curta Coda – o tema reaparece menor e modulando.
Há também uma linha melódica (E – Eb – D – C – Bb) no compasso 18 (se não houvesse
repetição) do tema que aparece em todas as variações menos nas 2, 5 e 8. O andamento
se mantém constante (Andante com moto) até a Variação 10 – Allegretto (Alla Austriaca).
Tema – Apresenta a harmonia e a melodia muito claramente. Melodia
acompanhada por acordes, apenas nos compassos 18 e 19 que a textura muda levemente
para duas melodias num contraponto homorítmico. Melodia no A em semínimas
ornamentadas, no B em colcheias e semicolcheias. Harmonia que perpassa as variações:
[A] Bb – F – F – Bb – Eb – Bb – F – F [B] F – (C – F – Bb – F) – Bb – F – Bb – F – Bb.
Variação 1 – Variação Melódica – Nova melodia sobre a harmonia e a forma
originais. Essa melodia é baseada em escalas ascendentes e descendentes com
cromatismos. Novamente os acordes são tocados claramente. Melodia inteira em
colcheias. Melodia que passa da mão direita para a esquerda (diferente do Tema, que fica
apenas na parte aguda). Essa e as próximas três variações acabam da mesma forma, com
um arpejo de Si bemol maior.
Variação 2 – Melodia escalar (como na variação anterior) majoritariamente
ascendente e acompanhamento motívico de arpejos da harmonia. Crescendo rítmico em
relação à variação 1, semicolcheias.
Variação 3 – Acordes acompanhados por linha de baixo. O motivo dessa variação
é o deslocamento de colcheia da mão esquerda. A melodia do tema é apresentada
simplificada na ponta dos acordes da mão direita – primeira vez que a melodia reaparece,
porém de forma branda, não tão óbvia.
Variação 4 – Variação figural – tercinas como motivo da variação. Aqui não há
propriamente uma melodia, apesar da melodia original ser lembrada nos compassos 5, 6
e 7. Há de melodia também a figura descendente E – Eb – D – C – Bb do original.
Variação 5 – Única variação que muda o modo do para Si bemol menor. A
harmonia é alterada para se adequar à mudança. [A] Bbm – F7(b9)/Bb – F7(b9)/Bb –
Bbm – Ebm – Bbm – F [B] F – Ebm – Bbm – F – Bbm – F – Bbm. Melodia lembra o
tema simplificado em modo menor (mas é tema novo). Um motivo interessante em
colcheias é usado para dar ritmo e completar a harmonia na mão esquerda.
Variação 6 – Uso de variação imitativa: mínimas passam da mão esquerda para a
direita e depois colcheias em staccato são imitadas também – isso nos quatro primeiros
compassos. A partir do quinto compasso, melodia harmonizada em terças. O B é
construído da mesma forma, primeiro variação imitativa depois melodia em terças – uma
semínima pontuada mais cinco colcheias passam de mão em mão e depois melodia
harmonizada.
Variação 7 – Variação imitativa novamente, o motivo dos compassos 1 e 2 – escala
ascendente com cromatismos partindo da tônica – é imitado nos compassos 3 e 4 partindo
da dominante. A escala descendente dos compassos 5 e 6 é imitada nos compassos 7 e 8.
O motivo do compasso 11 é imitado nos compassos 12, 13, 14 e 15. A melodia é
levemente relembrado nos compassos 3 e 4.
Variação 8 – Esta variação pega a melodia do tema e a modifica, faz uma
simplificação e põe ornamentos. Essa variação é a mais solene do grupo, justamente antes
da nona variação, a mais explosiva. Esta variação apresenta o segundo A de forma
levemente diferente que do primeiro, o que a distancia das demais variações, em que os
dois A são repetição um do outro ou apenas trocam materiais de uma mão para a outra.
Aqui aparece a dominante secundária do IV grau (Bb7 preparando Eb). Uso de figuras
pontuadas, semínimas e colcheias.
Variação 9 – Variação mais bombástica. Uso persistente de trinados. Aqui acordes
completos apenas são tocados com staccato, para pontuação das frases. Aqui a melodia é
fragmentada pelos arpejos e notas dos acordes nos tempos pares dos compassos de A.
Trinados dão uma sensação de urgência que não havia aparecido até então nas variações.
Variação 10 – Essa é a maior variação, tem 207 compassos (se contado o coda) –
o tamanho de 9 variações somadas (9 x 23) –, como se abarcasse tudo o que se passou até
então. As partes aqui tem o dobro de tamanho, assim, as partes A têm 16 compassos e as
B 14. Essa é uma variação característica que muda o andamento do tema, “Allegretto (alla
Austriaca)” e a fórmula de compasso – alterada de 4/4 (como no tema e nas outras 9
variações) para 3/8. Se inicia apresentando o tema original variado (variação melódica)
com os acordes na mão esquerda nos tempos 1 e 3, a melodia tem também a ornamentação
escrita do tema. O segundo A se baseia em arpejos e notas de aproximação da harmonia.
O B continua com os arpejos e uma pequena melodia na mão esquerda. O fim do B tem
um acorde de D maior que prepara para o Gm da segunda volta do tema e da forma. Essa
modulação para relativa menor é a primeira da peça. Aqui a melodia é tocada pela mão
direita acompanhada por um tipo de baixo de Alberti na mão esquerda. O segundo A
dessa segunda volta é em D menor – preparado (cadenciado) no final do A anterior. Aqui
volta a ideia de arpejos, porém passa para a mão direita, estando a esquerda encarregada
da melodia no registro mais grave. Esse segundo A é interrompido no meio (nono
compasso) para desenvolver o que apareceu até então sobre um F7 (dominante do Si
bemol maior). Esse F7 dura por 32 compassos, tendo arpejos, escalas e cromatismos sobre
o acorde. Volta o tema e a forma em Bb maior, a mão direta fazendo arpejos e a esquerda
baixos e melodia simplificada. No segundo A, a mão esquerda faz arpejos e a direita toca
acordes com a melodia na ponta. Há 12 compassos só de acorde Bb – Ebm – Cb que
fazem modulação para B maior (C bemol maior). O tema é tocado por 6 compassos em
B maior como no início da variação, mas é interrompido por arpejos que fazem acordes
que levam à F maior (dominante do tom original, Bb maior). [caminho harmônico: B –
Ebm – Aº - Ab7 – Db – Dbaug/A – Bbm – Gb7 – F]. Esse F maior é desenvolvido por 16
compassos com arpejos e escalas oitavadas e uma escala cromática que termina num
trinado. Esse trinado é sustentado na mão direita por 18 compassos, enquanto isso, a mão
esquerda toca o ornamento da melodia original relembrando o tema, faz uma escala e
termina no acorde completo de F maior que é seguido pelo pequeno Coda (Tempo I) do
final (em Bb maior). Esse Coda (que volta à f´romula de 4/4) tem apenas 13 compassos,
não é uma repetição exata do início, tanto que dentro dele há uma modulação para Gm
(relativa menor). O tema é tocado quase que como na primeira vez, porém apenas é
lembrado o primeiro A. Após os 8 compassos de tema do A (que termina na tônica, e não
na dominante, como no tema e no restante das variações), há 5 compassos de fim. Aqui,
a ornamentação do tema é usada sobre a nota de Bb e conduz a peça ao seu final. Sobrea
ornamentação, acordes de F7 e Bb maior. Para finalizar, escala de Bb maior no penúltimo
compasso e dois acordes de Bb maior em fortíssimo para acabar a peça.

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