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Wouny Dados de Caralogacao na Publicagao (CIP) Interacional (Camara 0 - Teoria 2. Fenomenologia 3, Ligica 1. L Lopari, Andréa Maria Altino de Campos. (I, Thulo, EDMUND HUSSERL INVESTIGACOES LOGICAS SEXTA INVESTIGACAO (ELEMENTOS DE UMA ELUCIDACAO FENOMENOLOGICA DO CONHECIMENTO) ms edo: Eo Lops Anita Ale agen sito PAULO (o NOVA CULTURAL 1988, HUSSERL VIDA E OBRA Consultoria: Marilena de Souza Chaui ici its 3 seulo 20% psicolopa gozava de grande pres gio € tendia a converter-se na chave de explicacio da teoria do conhecimento e da logica, retirando essas disciplinas do campo da filosofia. Contra essa orientacao opés-se 0 pensador Edmund Hus- serl, formulando 0 método fenomenoldgico e dando origem a um mo- vimento, em torno do qual gravitaria consideravel parcela da filosofia do século XX, cujas influéncias se estenderam a todas as areas das ciéncias humanas Husserl nasceu a 8 de abril de 1859, na cidade de Prossnitz, Mo- ‘Avia, entdo pertencente a0 Império Austro-Hingaro. Depois de estu- dar nas universidades de Leipzig, Berlim Viena, iniciou sua carreira como professor na Universidade de Berlim, em 1883, de onde se transferiria, sucessivamente, para as universidades de Viena (1884 a 1887), de Halle (1887 a 1900), de Gottingen (1900 a 1916) e, final- mente, de Freiburg-im-Breisgau, onde permaneceria até 1928, ano fem que se retirou do magistério. No curso dessas atividades docen- tes, Husserl escreveu diversas obras, entre as quais se salientam Filo- sofia da Aritmética (1891), Investigacdes Ldgicas (1901 e 1902), lias Diretrizes para uma Fenomenologia (1913), e Meditagdes Carte- sianas (1929). Em 1933, com a tomada do poder pelo partido nazista, Husserl foi proibido de sair da Alemanha; no ano de sua morte (1938), seus amigos transferiram para Louvain, na Bélgica, escritos de sua autora, que fiaram conecidos como Arquivos Hus- seri Accritica do psicologismo Nos prolegomenos das Investigagdes Légicas, Husserl procurou mostrar que hd uma’ diferenca de direito entre a psicologia, ciéncia empirica dos fatos do conhecimento, e as ciéncias normativas puras, como a teoria do conhecimento e a légica. A grande importéncia das Investigagdes Légicas consiste em mostrar que € impossivel alcancar a apodicidade (necesskde ¢_universalidade) a verdade, sem. a idealidade das significagdes légicas e das signi fem geral. Em outros termos, as les logics, susentéculos Ga unidade-de toda clén- cia, mio podem, segundo Husserl, fundamentar-se na_psicologia, ia empirica e, coma tal, sem a precisio das regras ldgicas. O psi- vu HUSSERL cologismo, diz Husserl, ndo consegue resolver o problema fundamen- tal da teoria do conhecimento, ou seja, 0 problema de como € possi- vel alcangar a objetividade; ou, em outros termos, como € possivel ue 0 sujeito cognoscente aicance, com certeza e evidéncia, uma rea- lidade que Ihe 6 exterior € cuja existéncia ¢ heterogénea a sua A tendéncia do naturalismo, do qual 0 psicologismo € um caso particular, consiste em resolver a questdo anulando a dualidade ou a iferenca entre sujeito e objeto, e afirmando que a Gnica realidade & a Natureza. Em linhas gerais, as conseqiiéncias do naturalismo po- dem ser reduzidas as seguintes: tudo 6 objeto natural ou fisico; a cons- ciéncia é uma expressdo vaga que se costuma atribuir a eventos fis- o-fisiolégicos ocorridos no cérebro € no sistema nervoso; 0 conheci- mento 6 apenas 0 efeito da aco causal exercida pelos objetos fisicos texteriores sobre os mecaniismos nervosos e cerebrais; os conceitos © leis cientificos so. generalizagoes abstratas que servem para 0 ho- mem pensar mais economicamente a multiplicidade dos objetos exte- riores; 0s conceitos de sujeito, objeto, consciéncia, coisa, principio, ‘causa, efelto etc. 6 t8m sentido quando reduzidos a entidades empiri- ‘cas observaveis; e, finalmente, a teoria do conhecimento ¢ uma psico- logia, isto é, uma descrigdo do comportamento do sujeito na ativida de de conhecer. Husser!_procurou mostrar que tais consequéncias redundam na impossibilidade do conhecimento cientfico, enquanto conhecimento universal e necessério, visto que a universalidade se reduz a generali- dade abstrata, e a necessidade a freqiiéncia e repeticio dos eventos ‘observados. Essa impossibilidade tem sua origem na confusio estabe- lecida pelo naturalismo entre o fisico e 0 psiquico. Este, diz Husser| 1ndo € 0 conjunto dos mecanismos cerebrais e nervosos, mas uma re sido que possui especificidade e peculiaridade; 0 psiquico ¢ fenéme- no, nao € coisa. Esta € 0 fisico, 9 fato exterior, emplrico, governado Poor relagdes causais e mecanicas, O fendmeno ¢ a consciéncia, en- ‘quanto fluxo temporal de vivéncias e cuja peculiaridade ¢ a imanén- -cia.e. a capacidade de outorgar significado. as coisas exteriores. A consciéncia pode ser dita um fendmeno empirico quando seu conhe- ccimento € feito por uma ciéncia empirica como.a psicologia, desde ‘que esta nao se curve a reducéo naturalista do psiquico ao fisico. Mas, e sobretudo, a consciéncia, ao ser estudada em sua estrutura imanente e especifica, revela-se como algo que ultrapassa 0 nivel em- pitico e surge como a condicao a priori de possibilidade do conheci- mento, portanto, como Consciéncia Transcendental, fenomenolo- gia é uma descricdo da estrutura especifica do fendmeno (fiuxo. ima- nente de vivéncias que constitui a consciéncia) e, como descri¢ao de estrutura da consciéncia enquanto constituinte, isto é, como condi- 640 a priori de possibilidade do conhecimento,.o € na medida em que ela, enquanto Consciéncia Transcendental, constitul as significa- ‘G6es.e-na medida em que conhecer é pura ¢ simplesmente apreende- (no nivel empirico) ou Constituir (no nivel transcendental) os significa- dos dos acontecimentos naturais e psiquicos. A fenomenologia apare ce, assim, como filosofia transcendental. Para demonstrar que a filosofia (enquanto fenomenologia trans- cendental) ¢ uma ciéncia rigorosa, Hussert apresenta. varias distin ‘G0es. Em primeito lugar, distingue entre cigncias empiricas (dos fatos VIDAEOBRA IX ce ciéncias puras (de idealidades a prion), como, por exemplo, a fisica fe a matematica. Em seguida, distingue entre ciéncias exatas e cién- Cias_rigorosas. As. primeitas vinculam-se a0 caréter preciso de_ suas TmedigGes © experimentagGes; as segundas, 20 cardter necessério de seus principios bésicos. Finalmente, Husserl distingue entre ciéncias figorosas e ciéncias absolutamente’rigorosas. As primeiras possuem principios fundamentados, mas seus fundamentos ndo so fornecidos por elas proprias e sim por outras ciéncias, as absolutamente rigoro- Ss. Fstas so aquelas que se autofundamentam, A filosofia , em to- dos os sentidos e de pleno direito, a.dnica ciéncia absolutamente rigo- rosa porque fornece a si prdpria os seus fundamentos ¢ os de todas as ‘outras ciéncias, sejam elas puras ou empfricas. ‘© psicologismo surge, assim, como um engano teGrico que pode comprometer a possibilidade do proprio conhecimento cientifico, € © nnaturalismo, como um erro que deve ser combatido através da_andl se fenomenologica da estrutura imanente da consciéncia, enquanto tedutfvel a um fato natural e, mais do que isto, enquanto fonte do sig: icado. dos proprios fatos naturais. Por outro lado, a légica, enquan= to disciplina filosofica, apresenta um cardter normativo e a prior! que impede sua confusdo com a psicologia, ciéncia empirica dos atos em- piticos do conhecimento. A empiria no pode forecer as condicées a apoditicidade. Estas devem ser encontradas numa regiio 2 priori, uma esfera de idealidades puras cujo cardter universal, necessario € rormativo possam oferecer as lels do conhecimento verdadeiro. Ciencia e consciéncia ‘A compreensio do projeto fenomenolégico de Huser! depende de que se compreenda primeiro como 0 fildsofo apresenta a estrutura dda consciéncia enquanto intencionalidade. Este conceito, oriundo da filosofia medieval, significa: dirigirse para, visar alguma coisa. “A conscincia é intencionalidade”, significa: toda consciéncia € ‘"cons- tiéncia de’. Portanto, a consciéncia ndo € uma substancia (alma), mas uma atividade constituida por atos (percep¢ao, imaginacio, espe- culagio, volicao, paixdo etc.), com os quais visa algo. A esses atos Husser! chama noesis e aquilo que é visado pelos mesmos s80 05 noe- ‘mas. Esta distingdo 6 fundamental para compreender-se a critica do psicologismo, pois este consiste em confundir noesis e noema, isto é, (08 atos pelos quais a consciéncia visa um certo objeto de uma certa ‘maneira, € 0 conteddo ou significado desses objetos visados. Quando ‘© psicologista considera que a idéia de um certo objeto ¢ formada pe- la associagao de sensacdes, percepgdes e outras idéias, confunde os alos empiricos que o sujeto realiza para alcangar tal idéia, com a pr6- pria idéia, que, no entanto, € um conteddo ou significado nao depen- Gente dos atos empiticos do sujeito que procura alcancé-la. Justamen- te por causa disso, varias noesis diferentes podem estar referidas a um 6 e mesmo noema. No nivel empirico as noesis.s4o_atos. psicoldgi- {cos € individuais para conhecer um significado independente deles. No nivel transcendental as noesis $80 08 atos do sujeito constituinte que’‘cria os noemas enquanto puras idealidades ou significacoes. Nes- sa medida, as noesis empiricas 50 passivas, pois visam uma significa- X —-HUSSERL Go preexistente; as noesis transcendentais s30_ativas porque const tuem as proprias significacées ideas Essas distincdes permitem a Husserl elaborar a nocio de Ciénc ‘como conexio objetiva ¢ ideal de noesis e noemas puros ‘A ciéncia caracteriza-se, segundo Husserl, por centralizar-se ogo de unidade, pois é na medida em.que existe uma unidade e tre’o ato de conhecer e seu correlato (aquilo que ¢ conhecido) que pode falar de cigncia. Esta dltima seria, portanto, um conjunto de co hhexdes objetivas e ideais. Essas conexées se dao em dois niveis: p” meiro, 0 das coisas que $40 visadas pelo pensamento, ou ainda, p= los atos do pensamento; segundo, o das verdades. Isso, contudo, 2 significa que exista uma distingao entre as verdades que dizem respe to as coisas e as verdades que se referem as proprias verdades; Se ‘aceitasse essa distingao, ficaria anulada a pretensio de estabelecer dade da ciéncia. Portanto, a ordem das verdades nao é apenas ‘ordem do proprio pensamento, porém, nia medida em que a orden do pensamento conhecida, a ordem da verdade é a ordem das pr prias coisas. Isto significa que toda cincia, além das verdades emo'- Cas que constata ou constr, e além das leis logicas gerais que fov= ham todo pensamento apolifico, pressupde ainda a esfera das cone Sr g prior de porbdade do vus ‘objetos ¢ de seus métodos. T ja ciéncia pressupde, portanto, a camada noético-noematica tran Cendental, que determina as significagies ideais de um certo camo ide conhecimento e 05 atos de conhecimento (método) capazes apreendé-las, Eis por que a diferenca entre ciéncias da naturezs Ciencias do espirito € uma diferenca absoluta, segundo Husserl ‘A unidade entre o ato de conhecer e 0 objeto que € conhecio encontra na fenomenologia, na ciéncia do fenémeno, isto é, da con ‘ciéncia enquanto manifestacéo de si mesma e das significacoes obje vas, a possibilidade de instauracdo da “filosofia como uma ciencia gorosa’”. Assim, a descrigéo do vivido, dos atos intencionais da con Ciencia e das esséncias que eles visam, isto €, dos correlatos intenc rrais — enfim, a disciplina que poderé fundamentar a logica —, ¢ 2 omenologia, Esta nao considera, de maneira insepardvel, 0 fato © ‘Objeto que ele visa, mas estabelece sua unio mediante a estrutura = Sica da consciéncia, a intencionalidade, que revela.a impossibilida de um ato da consciéncia ndo ter um objeto, nao visar um objeto. to nic significa, contudo, que a consciéncia vise seus objetos de ur mesma maneira, nem também que esses objetos se apresentem pare consciéncia de um mesmo modo. £ nesse ponto que o papel da fer menologia se destaca: cabe a ela distinguir, revelar o que ha de esse na percepcdo, na recordacéo, na imaginagao. Ontologia regional Se a consciéncia, diz Husser|, “6 sempre consciéncia de alu coisa”, conseqientemente 0 objeto é apreendido em sua relac: ‘com a consciéncia e, nesse sentido, ele supera a si mesmo. Uma ‘Que 0 ‘traco essencial da consciéncia é a intencionalidade, 0 ob) ode ser considerado como escopo dessa mesma intencionalidade ‘assim, transcende a si mesmo, pois, sendo um contedido da inten: MIDAEOBRA x! nalidade, ele transcende sua propria existencia real, enquanto existén- Cia emp/tica imediata. Por outro lado, se se considera que 2 intencio- nalidade pode ser polarizada em maltiplas esséncias, desde a percep- 20 até a ideagao, torna-se possivel distinguir diversas “‘regides” do ser. As esséncias ou significagdes (noemas) so objetos visados de cer- ta maneira pelos atos intencionais da consciéncia. Assim, por exem- plo, um cubo pode ser visado pela percepcéo e, enquanto esséncia perceptiva, € distinto do cubo quando visado pela idéia geométrica de volume. Por outro lado, esse mesmo cubo pode ser visado por um ato de imaginacéo, encontrando-se, assim, uma terceira esséncia, dis- tinta. das_anteriores. A fenomenologia procura descrever a estrutura peculiar de cada um desses atos e de cada um de seus correlatos ou significagoes. Percepcao-percebido, imaginagao-imaginado, recorda- ‘¢do-recordado, ideagao-ideado etc. constituem 0 campo de trabalho das descrigées e andlises fenomenoldgicas. Cada um desses.pares cconsttui uma certa regido do ser, isto é, um certo modo de um ente ser visado pela consciéncia. Cada regio se define, assim, pela estru- ‘ura do ato intencional e pela estrutura do correlato intencional; 05 pa- res formam uma estrutura unitéria.e € a unidade imanente existente entre os dois momentos (0 ato de visar e a esséncia ou significacdo vi- sada) que permite falar na regido da natureza fisica, na regido dos ob- jetos matemsticos,nareido dos valores moras et. A fenomenologa uma ontologia regional na medida em que se trata do ser (do grego ‘6n) enquanto estruturado com sentido diferente conforme seja visado pela consciéncia, Cada regido, estabelecendo a esséncia ou signitica- Gio do objeto pela modalidade da relagéo ato-correlato intencionais, € uma regio eidética (do grego eidos: idéia ou esséncia). As essén- clas que regem conjuntos ‘empiricos s4o ditas materiais, seja ual for sua regido. As esséncias s30 materiais, € no meramente for- ‘mais, porque possuem um conteddo determinado pelo dominio cir- unscrito de uma certa maneira pela camada noético-noematica. As- sim sendo, as esséncias configuram campos de objetividades que nao podem ser extrapolados, 0 que seria possivel se fossem puramente for- ‘mais. Por iss0 a fenomenologia implica uma ontologia regional. Ciencia das esséncias em geral, mas remetida da consideragao ddo objeto para a da consciéncia, a fenomenologia estuda as esséncias da regido. “consciéncia”, suas ‘estruturas e seus atos. Inicialmente, Husserl distingue a regio “mundo” (exterior) © a regio. "conscién- ia” (interior). Contudo, no nivel transcendental, na medida em que © sentido ou eidos da regido “mundo”, ou das varias regides eidéti- ‘cas da regido “mundo', ¢ constituldo pela regido "‘consciencia’, esta se toma a regido fundamental que produz o significado das demais. ‘O mundo entre parénteses Para se compreender a passagem das vérias regibes eidéticas, da regio “mundo” para a regido “‘consciéncia”, deve-se levar em conta uma operacio muito especial que Husser! denomina de epoqué ou re- ducao fenomenoldgica. A reduc3o ou epoqué 6 a operacao pela qual fa existéncia efetiva do mundo exterior ¢ "posta entre parénteses”, pa- xil HUSSERL ra que a investigacdo se ocupe apenas com as operagdes realiza pela consciéncia, sem que se pergunte se as coisas visadas por existem ou nao realmente. A redugio, diz Husseri, suspende a natural do mundo” (do thésis: posigao, aceitagdo). A “att natural” € a atitude cotidiana de “tese do mundo”, ou seja: acrec se espontaneamente que as coisas exteriores existem tais como s= vé; portanto, natural © espontaneamente, “‘pde-se’” 0 mundo. ‘quando se descobre que cada individuo pode ter uma “ posicso +e) diferente da dos outros a “‘tese do mundo” torna-se confusa © blematica. A fenomenologia coloca a “tese natural” entre parén'= para indagar, primeiro, como a consciéncia funciona e como se es {ura, para, no final, justficar essa “tese natural” exatamente ena. to atitude irrefletida, ingénua e que precisa ser fundamentada {ilo ‘camente, jd que é 0 modo de viver cotidiano, Husserl distingue dois niveis ou momentos da reducao. No meito, a reduc3o consiste em_buscar 0 significado ideal e nao ¢~ tio dos elementos empiricos. £ uma reducdo eidética que procurs séncias ou significados. Segundo Husserl, toda ciéncia (empirica pura) deve ser antecedida por uma investigacdo eidética que defi esséncia ou estrutura necesséria do objeto a ser estudado. Assim tes da psicologia deve vir uma psicologia eidética ou fenomenolo: que apresente a esséncia do psiquico;_ antes da fisica, uma fisica « tica que faca a mesma descrigao da esséncia do fisico; e assim diante. No segundo momento, porém, a reducdo € transcende Porque visa a esséncia da propria consciéncia enquanto constitu ou produtora das esséncias ideais. € nesse nivel que noesis e noe se revelam como absolutamente a priori. ‘A redugao, contudo, nao pode ser compreendida como uma ‘ga¢Ho ou uma limitacdo. Ela nao nega 0 mundo, apenas o coloca tre parénteses. Torna-se um desvelamento do objeto, pois, enqus pprocedimento de investigagao, a. redugéo tora exeqdivel o mi. da experincia vivida. E, mediante sucessivas redugées, manites: ‘a intencionalidade psicologica com seus objetos, a intencionalc transcendental, que pensa o mundo e 0 sentido do mundo, © fim, a intencionalidade criadora (idéntica ao movimento de rédus: que faz o mundo aparecer. Por essa andlise transcendental, os pc- ‘mas da l6gica se encontrardo recolocados em um “‘conjunto de de consciéncia, de-atitudes da consciéncia em face do objeto, de dos sob 0s quais 0 objeto é dado a consciéncia’”. “Cosa”, “idea”, “eu” As coisas, segundo Husserl, caracterizam-se pelo seu persp= vismo, pelo seu inacabamento, pela possibilidade de sempre sere sadas por noesis novas que as enriquecem as modificam. As ice ui conceitos, a0 contrério, caracterizam-se por seu aspecto globa dor, total e acabado. Por exemplo: 0 cubo percebido pode ser ot de infinitas es porque € apenas a multiplicidade de perspe -vas que. apreendem. © cubo pensado, por outro lado, € 0 ob ‘geometricamente definido de uma vez por todas. Basicamente, percepgio e a ideagéo encontra-se a diferenga entre a transcen VIDAEOBRA ill, cia da coisa, que a torna inesgotavel, e a imanéncia da idéia, que a torna completamente definida pela e para a consciéncia. Essa diferen- @ abre 0 campo para uma atividade fundamental da consciéncia, am- plamente empregada pela fenomenologia: a imaginacdo transcenden- tal, que procura, através da variagéo eidética, captar na multiplicida- de infinita dos esbocos e perspectivas a unidade de sentido que permi- te alcangar a idéia de uma coisa que, em si mesma, € inesgotavel, ‘mas que pode ser “aprisionada” pela seu conceito uno e total. A pos- sibilidade de variacao eidética (t do ndcleo essencial) pela imagi- nat transcendental decorre da natureza peculiar da consciéncia. Embora em cada noesis e em cada noema a coisa transcendente pare- {6a parcial e suscetivel de novos desenvolvimentos e esbocos, cada noesis e cada noema enquanto tais, isto é, enquanto atos e correlatos da consciéncia, so absolutamente totais € presentes. Cada um deles € completo em’si mesmo e, assim, a cada passo a consciéncia se ofe rece como integral e absoluta. A imanéncia significa que cada vivido, ‘embora forme um fluxo infinito com os demais, € em si mesmo com- pleto e acabado. A imaginacao transcendental consiste em atribuir 3 multiplicidade transcendente da coisa 0 cardter acabado que cada vi- vido possui. A idéia ou conceito é a superacao da infinidade das pers- neces transcendentes da coisa, pela unidade imanente do significa- Jo. Por outro lado, 0 eu parece estar na consciéncia constantemen- te, mas essa permanéncia ndo & a de um vivido que se obstina estupi- damente, ‘O eu pertence antes a todo vivido que chega repentinamente e se escoa; seu “olhar” dirige-se para 0 objeto através de todo 0 cogito ‘tual, Como diz 0 proprio Husserl,“...) 0 eu puro parece ser um mo~ ‘mento necessério; a identidade absoluta que ele conserva através de todas as transformacées reais e possiveis ndo permite consideré-lo em rnenhum sentido como uma parte ou um momento real dos préprios vividos". Esse eu surge como uma transcendéncia, contrapondo-se & imanencia dos vividos; é esse eu que vive todos os modos do vivido, Pode-se dizer, portanto, que o eu “natural” da psicologia se de- tém ante as coisas, que ele julga reais e transcendentes, no mundo; ‘essa atitude, uma vez suspensa, parece como tema ao eu “transcen- dental’, que pensa o mundo como transcendente ao eu empfrico; en- fim, altima modificagao do “olhar’, a teducdo transcendental com- pleta-se ao descobrir no eu puro a origem do sentido, Ao eu puro, Que opera essa ultima significagao, e que fica como simples especta- dor, aparece 0 eu que pensa 0 mundo com o conjunto de seus atos. ‘Quando Huser! elogia Descartes e se considera um neocartesia- no, ele o faz por duas raz6es: a primeira consiste no fato de Descar- tes ter imposto a filosofia algo que para Husserl é a pedra de toque do filosofar, isto é, ter imposto a necessidade de um meétodo que obrigue a uma reflexéo radical sobre os procedimentos adequados para 0 pen- samento filos6fico; a segunda consiste no fato de Descartes ter encon- trado © Cogito como primeira verdade indubitével para comecar a pensar corretamente. O Cogito, isto é, 2 subjetividade, torna-se com Descartes 0 ponto de apoio necessério para 0 saber, ¢ Husserl lamen- ta que 0 fildsofo francés, apds ter demonstrado essa necessidade capi- tal, ainda tivesse recorrido a0 argumento teoldgico que coloca o Cogi- XIV HUSSERL Cronologia fo na dependéncia da inteligéncia e vontade infinitas de Deus. © = gio do Cogito cartesiano si presenta losofia é ica que, para Husserl, 0 “eu pen Aaquele caréter a priori necessério absoluto sem o que impossivel, pois ver-se-ia lancada na contingencia des ‘2s empiricas e jamais poderia pensé-las como apoditicas, © Cos arecem na medida em que conserva aquilo que as coisas emp ndo poder possuir: a permanéncia, a identidade co~ Terme através de todos os seus vividos. O Cogito 6 0 que permae icentico sob a multiplicidade das vivencias. € 6 a identdade ox Confere 0 poder de alcancar a identidade das coisas através do <- do que outorga a elas. Essa identidade revela, também, que o C= nao se com © “eu psicolégico”, que & empltico, mali» Mutavel como toda empiria. Afirma-se dessa forma, a tese capital do idealismo transcen> talfenomenolégico de Husserl: € unicamente a subjetividade c I que possui um sentido e, quanto a seu ser, um ser ab. {0/ a0 asso que o mundo real é relativo a ela. O Cogito reabre rém, duas difculdades pecullares a todo ideslisme treo: mo do objet demonstrar que a relacdo entre a subjetividade solitdria e 6 'vo € a mesma para todos 05 sujeitos? Como explicar que ja uma transformacao das Sianificagées ideais que, de direto, 5 temporais? A primeira dificul ao de lade € resolvida por Fi Ue? cbietvidade transcendental: € intersubjetvidacs ura. Esses dois problemas serdd retomados por um dos ¢ Ruadores da fenomenologia, 0 fildsofo frances Maurice Mes: = A. 8 de abril, em Prossnitz, Morévia, nasce Edmund Hussel, Fe TER2 Brentano publica a Psicologia do Ponto de Vista Empirco, 1876-1878 — Husser freqdenta a Universidade de Leipcig 1082 7, Doulora-se pela Universidade de Viena com a tese Sobre 0 Cé Variagées. 1883 — Toma.se assistente, em Berlim, de Weiersiras, seu ex-professor. Tame Kiet toma a Viena, ilandose dhlsafa de Brentano. 1886 — versidade de Halle, 1001 Musser! publica o primeizo volume da Filosofia da Avitmética, 1900-190) 1906 — 11 — Publica as Investigaces Légicas, Musser! & nomeado professor ordinario na Universidade de G: ‘en. 1 Tei See cutso Sobre a idéia da Fenomenologa, surge a primeira explicita de redugdo, ‘1910 — Publica A Filosofia como Ciéncia Riorosa. 1913 — Publica ldéias para uma Fenomenol ia Pura'e para uma Filoso oa nomenalégica, 1931 — nas, licam-se, traduridas para 0 francés, suas Meditacées Car VIDAEOBRA XV. 1933 — Ascenso do nacional-socialismo na Alemanha. Husser! fica proibi- ‘do de deixar o pals sem autorizacao. 1938 — Falece no dia 27 de abril. Bibliografia one S.: La Logique de Husserl, Presses Universitaires de France, Paris, * Faas The Foundation of Fenomeror, Hanard Univesity re, Cm Keuc, L. © Scrtere, R.: Husserl, Sa Vie, Son Ocuvre, Presses Universitaires de France, Paris, 1964 Lauen_Q.: Phénoménologie de Husserl, Essai sur la Genése de 'intencionali- 16, Presses Universitaires de France, Pars, 195 wegen 'M.: Le Philosophe et Son Ombre, in Signes, Gallimard, Paris, 1960. Mun A, oc Uidée de la Phénoménologie — L’Exemplarisme Husserlen, Presses Universares de France, Paris, 1998, Pan. Ell Problema del Tempo nella Fenomenologia di Husser, La Golard- a, Milan, 1960. Tavamaewez, Biewel, Kuveuts, Levnas e outros: Husserl: Tercer Coloquio Fisolofi- co ee Roveurtons ‘in Cachiers de Royaumont, Editorial Paidés, Buenos Ai- res, 1900, Tuemaz. P: Questce que la Phénoménologie?, La Baconnigre, Neuchitel, Paris, 1953. Prefaicio A presente reedigio da parte final das “Investigagdes Logicas” no corres- ponde, infel zmente, a0 programa anunciado no prélogo que acrescentei, em 1913, a0 primeiro volume da segunda edigdo". Tive que me decidir a publicar o texto antigo, com apenas alguns melhoramentos essenciais em certas segdes, em lugar do texto radicalmente refundido, do qual uma parte considerdvel ja estava entio impressa. Mais uma vez se mostrou verdadeiro o velho ditado segundo o qual os livros tém seu destino. Primeiramente, 0 cansago natural que se segue a um periodo de trabalho excessivo obrigou-me a interromper a impressio. Dificul- dades tedricas, que me surgiram durante a mesma, exigiam profundas reformula- ges do novo esbogo de texto, e para elas eram necessérias novas energias. Duran- te os anos de guerra que se seguitam, fui incapaz de dedicar a fenomenologia da légica aquele interesse apaixonado, sem o qual um trabalho frutifero € para mim impossivel. $6 pude suportar a guerra ¢ a “paz” subseqiiente entregando-me a reflexdes filoséficas as mais gerais ¢ retomando os trabalhos voltados para a elaboragio metédica e material da idéia de uma filosofia fenomenol6gica, para 0 esbogo sistematico de suas linhas fundamentais, a ordenagio das suas tarefas e ara 0 prosseguimento daquelas investigagdes concretas que, nese contexto, pareciam indispensdveis. Minha nova atividade docente em Friburgo também contribuiu para que meu interesse se dirigisse para as generalidades fundamentais € para o sistema. S6 recentemente é que esses estudos sistematicos me trouxeram de volta a origem das minhas pesquisas fenomenolégicas ¢ relembraram os anti 0s trabalhos de fundamentagao da logica pura, que hd tanto tempo aguardavam conclusio ¢ publicagio. Mas. dividido como estou entre uma intensa atividade docente ¢ uma intensa pesquisa, ndo sei quando estarei em condigSes de adaptar esses trabalhos aos progressos realizados nesse entretempo ¢ de dar-lhes uma nova forma literdria; nem tampouco se me servirei do texto da Sexta Investigagio ‘ou se darei a meus esbogos, cujo contetido ultrapassa de muito o dessa diltima, & forma de um livro completamente novo. "Na sua primeira sigio, ax Mnvestigagder Légicas foram publcadas em dois volumes: 0 primero, publ ado em 1900, somtinha on Brofegonena para a Ligiea Pura 0 segundo de 1901.98 sss Investizagies. A Segunda edigdo (parcialmente reelaborada) dspe a obra em tés volumes, O primeiro volume I? corres: ponde a1. mas 0 novo segundo volume (II. 1) contém apenas a primeira parte do antigo, ii as cinco primeira Investigagbes, Esse dois volumes sio os que surgem em 1913, A Sexta Investigagio. que era 2 Segunda parte do segundo volume da primeira edigio,surgira somente em 192 volume (I, 2a segunda edgdo, & essa obra que traduzimos equ @ parr da sua quata edigio — que reproduz sem akerages 2 segunda. (N. dos T) 10 HUSSERL Tal como estio as coisas, tive que ceder & pressiio dos amigos dessa obra? e tomar a decisio de tornar a sua parte final novamente acessivel a0 piblico, pelo menos em sua antiga forma, Mandei reimprimir quase literalmente a primeira seco, da qual nem mesmo os detalhes podiam ser reelaborados sem por em perigo 0 estilo do conjunto. Em compensagio, fiz varios melhoramentos no texto da segunda segdo, sobre “Sensi- bilidade ¢ Entendimento”, para mim particularmente valiosa. Continuo conven- cido de que o capitulo sobre “intuigo sensivel e intuigéo categorial”, juntamente com as considerades preparatérias dos capitulos precedentes, abriram o caminho para uma elucidagdo fenomenolégica da evidéncia légica (e assim, eo ipso, tam- bém dos seus paralelos na esfera axiolégica e pratica). Muitos equivocos a res- peito de minhas /deen zu einer reinen Phanomenologie teriam sido impossiveis, se este capitulo tivesse sido levado em conta. Pois é evidente que tanto o cardter ime- diato da visio das esséncias genéricas, do qual se fala nas deen, como também 0 de qualquer outra intuigio categorial, é 0 oposto do carter mediato do pensa- mento no intuitivo, tal como 0 simbélico-vazio. Em vez disso. tal carater imediato foi entendido como sendo aquele da intuigo, no sentido comum da pala- vyra, exatamente por no se ter tomado conhecimento da diferenga, fundamental para toda teoria da razio, entre intui¢do sensivel e intuigio categorial, Na minha opinido, & caracteristico do presente estado da ciéncia filoséfica 0 fato de que te- ham permanecido sem uma visivel influéncia literdria as simples constatagdes de significado tdo profundo, expostas numa obra muito hostilizada, mas também muito utilizada, durante quase duas décadas, © mesmo acontece com o capitulo — cujo texto também foi aperfeigoado — sobre “as leis aprioristicas do pensamento no sentido proprio e improprio”. Ele nos da pelo menos o esquema de uma primeira superacio radical do psicologismo dentro da teoria da razdo: no quadro da presente investigagio, que se interessa apenas pela l6gica formal, esse esquema irrompe dentro dos limites da razao Wégi- co-formal. A pouca profundidade com que ela foi lida se revela na objegio freqiientemente ouvida, embora para mim grotesca, segundo a qual, depois de ter recusado energicamente o psicologismo no primeiro volume dessa obra, teria eu 2 No optisculo "Meu caminho para a fenomenologia™(citamos a tradugio de E. Sein, publicada no volume XLY da colegio Os Pensadores, pp. 497-498), Heidegger se identifies como um dos argos da Seata Invest! ‘agi: “Desde 1919 passei a dedicar-me pessoalmente ds atividades docenes aa proximidade de Huser: ‘Rests, aprendia o ver fenomenokigico,nele me exercitando e a0 mesmo tempo experimentando ume nove compreensio de Avatteles oi ai que 0 meu interesse se vollou novamente is Invetiganes Légices, sobte. tudo & Sexta Investigagio da primeira edigio. A distinglo que Husserl ai const entre intuigha tensive ¢ éategoria evelouse sem aleance para determinagdo do "significado miltplo do ents Bar bao initinos— amigos ¢ alunos — para que o mene edie a Seta vein, agua pace sitfciimenteencontrivel ‘Logo em scyuida, Heidegger celembea como fez uma das descoberas fundamentas da sua filosofa. Ao se sprofundar no estudo das dnvestigagdes Légicas, descobri que “o que para a feromenologia dos atos cons. lentes se realza como oautomostrar-se dos fenimenos& pentado mais orginariamente por Aristbeles e por todo © pensamnento ¢ existéncia dos gregos como Althea, como 0 desrelamento do que se presenta $00 \desocultamieata au mostrar-se. Aquil que as Investigagdesredescobiram como aati bisa do pensa- mento rvelase com o trago fundamental do pensamento srezo, quando mio da ilosofia come tal”. (N. dos nD INVESTIGAGOES LOGICAS uN recaido nele no segundo volume. Nao estarei renegando o que foi dito, se acres- centar que hoje, depois de vinte anos de trabalho continuo, hé muitas coisas que eu nao escreveria da mesma maneira, que ha varias coisas que nao mais acato, ‘como por exemplo, a doutrina da representagdo apreensiva® categorial. Contudo, acho que me 6 permitido dizer que mesmo 0 que é imaturo, ¢ até o que esté errado nessa obra, merece ser rigorosamente repensado. Pois nela tudo provém de uma pesquisa que se dirige efetivamente para as proprias coisas, que se orienta pura- mente segundo a maneira como elas so dadas intuitivamente ¢, além disso, de uma pesquisa da consciéncia pura, na atitude eidético-fenomenolégica, a tinica que pode ser frutifera para uma teoria da razio. Quem quiser entender 0 sentido do que exponho tanto aqui como nas Iden nao deve poupar esforgos conside- raveis — nem mesmo 0 esforgo de “por entre parénteses” seus proprios conceitos € convicgdes sobre temas que so 0 mesmos, ou presumidamente os mesmos. Esses esforgos so exigidos pela natureza das préprias coisas. Quem no os pou- par, teré oportunidade suficiente para emendar minhas exposigdes ¢, sendo do seu agrado, criticar suas imperfeigdes. S6 0s que se baseiam numa leitura superficial © partem de uma esfera de pensamento estranha a fenomenologia, é que no pode- rao fazer isso, sem serem desacreditados por todos aqueles que sao realmente entendidos no assunto, A facilidade com que certos autores se dio a criticas desai- rosas, a maneira pouco conscienciosa de fazerem a sua leitura, os disparates * que ousam atribuir a mim e a fenomenologia, tudo isso é 0 que se mostra na “Allge- meine Erkenntnis-theorie” de Moritz Schlick, na qual (p. 121) lemos com assom- bro: “Afirma-se [sc., nas minhas “Ideen”] a existéncia de uma intuig&io especial que no deve ser nenhum ato psiquico real; e Aquele que nao pode descobrir seme- Ihante ‘vivéncia’, que no cai no dominio da psicologia, faz-se saber que ele simplesmente nao entendeu a doutrina, que ele ainda nio foi levado & correta ati- tude de experimentar e de pensar que exige, na verdade, ‘estudos drduos e especifi- cos’”, Quem quer que tenha familiaridade com a fenomenologia haverd de reco- hecer & primeira vista a impossibilidade total de eu ter feito algum dia uma afirmagao tao insensata como a que Schlick me atribui, nas frases acima subli- nhadas, assim como a inverdade da sua exposigao restante sobre o sentido de fenomenologia. * Naturalmente, sempre exigi “Arduos estudos”. Porém, no proce- » Reprisenttion. Vein a nota 94.(N. dos.) * Unsinn. © disparate nio deve ser confundido com 0 absurdo, Sobre essa diferenga, ef. por excmplo, a ISe1V, §12.(N. dos.) ia fenomenologin huseriana ¢ a sua retago com a psicologia empirica foram caracterizados de mancira partisularmente clara na Introdusio ao segundo Volume (II, 1), edgdo de 1913, das Investiga- ses Logics (pp. 18 ¢ 19): “Mas a fenomenologia nlo fala do modo algum em estados dos sees animals {nem mesmo dos estados dos seres de uma natureza possvel qualquer) el fala de percepges,juizos, ent- ‘mentos, tc. como tas, daquilo que Ihes convém @ priori, numa genealidade incondicions, justamente éenquaniosingularidades puras de espécies pura: daguilo euja visdoevidente éfundamentada excisivamente fa compreensio puramentsintuitiva das “essinciat™ (dos eros e espécies de exséncias) — de mancira totalmente andlogs 4 da artmética pura e& da geometria que, findamentando-se na intuigio pura, fala respectivamente dos nimeros ¢ das figuras espaciais auma generaidade deatva. Portant, nio& a psicolo- ia, mas sim a fenomenologia que ¢ 0 fundamento das elucidagies Waicas puras (bem como de todas as lu dagdes da critica da razio). Mas ela € ao mesmo tempo, numa fungdo totalmente outa, 0 fundamento neces 2 HUSSERL. di de maneira diferente da de um matematico, por exemplo, quando impde exigén- cias aos que pretendem falar das coisas matemiticas ou até mesmo aventurar uma critica sobre o valor da ciéncia matematica. Em todo caso, consagrar a uma dou- trina menos estudo do que o necessirio para compreender 0 seu sentido, ¢ a0 mesmo tempo criticé-la, ¢ inftingir as leis eternas da probidade literdria. Nao ha erudigéo no domfnio das eiéncias naturais, da psicologia ou mesmo das filosofias histricas que possa tornar dispensavel ou mesmo mais leve esse esforgo de pene- tragdo na fenomenologia. Mas. todos aqueles que aceitaram fazer esse esforgo & que aleangaram o estigio to raro da auséncia de preconceitos, chegaram também a certeza indubitavel de que o solo cientifico thes ¢ dado e de que o método exigi- do é legitimo, método que, tanto aqui como nas outras ciéncias, possibilita a cone- x0 dos problemas conceitualmente determinados ¢ as decisdes firmes, conforme a verdade ¢ a falsidade. Devo ainda observar explicitamente que M. Schlick no comete simplesmente alguns deslizes irrelevantes, mas que toda a sua critica se constrdi sobre imputagSes absurdas. Depois dessas palavras de defesa, devo observar ainda, a propésito da segiio IIL, que mudei de posigio com respeito ao problema da interpretagio fenomeno- lbgica das proposigves interrogativas e optativas, pouco tempo depois da primeira edigio da obra e que, nesse ponto, as poucas reformulagdes que ora poderiam ter sido feitas ndo seriam suficientes. Por isso, 0 texto permaneceu inalterado. Com respeito ao Apéndice muito utilizado, sobre “percepgao externa ¢ interna”, foi-me possivel ser menos conservador. Mantendo o teor essencial do texto, esse apéndice aparece agora numa forma consideravelmente aperfeigoada. Infelizmente, nao foi poss{vel realizar o desejo de compor um indice de toda obra, pois meu aluno tao prometedor, Dr. Rudolf Clemens, que havia comegado a claboré-lo, morreu pela patria. Friburgo i. Br., outubro de 1920 Edmund Husserl sirio de qualquer psicologia — que poss legtimamente ser dts rigorosamente centfica —. assim como 8 matemitca pura, por exemplo, a teora pura do expago e do movimento, € 0 fundamento neeeséri de qual ‘quer cigncia natural exata(eoria natural das coisas emprieas, com suas configuragdes empires, seus mov tmentos empircos, ete) As visSes evidentes das esincias das peropeSes, voles, e de qualsqueroutras ‘expécies de vivéncias valem naturalmente também para os correspondents estados empricos dos seres an tmais, assim como as evidencias geométricas valem era. Veja absino, cap. 8 (em particular, § 64)¢ Apéndice.(N. dos .) ELEMENTOS PARA UMA ELUCIDACAO FENOMENOLOGICA DO CONHECIMENTO Introdugio anterior,’ que a principio parecia perder-se em longinquas questées de psicologia descritiva, nao deixou de favorecer consideravelmente os ‘nossos interesses pela elucidagao do conhecimento. Todo pensar, e sobretudo todo Pensar © conhever teéricos, perfaz-se em certos “atos” que surgem em conexio” com a fala* em que se exprimem. Nesses atos est a fonte das unidades de valida- de, que esto perante aquele que pensa, como objetos do pensamento e do conhe- cimento, como suas leis & principios explicativos, ou como teorias ¢ ciénci que Ihes dizem respeito, Portanto, é também nesses atos que esta a fonte das respec- tivas idéias gerais © puras, cujas conexdes regidas por leis ideais a Wégica pura ‘quer explicitar, e cuja elucidagao a critica do conhecimento Pretende levar a cabo, Evidentemente, muito ja se ganhou para o trabalho de elucidacio do conheci mento com a determinagao da peculiaridade fenomenol6gica dos atos, como tais, dessa tao discutida ¢ tio desconhecida classe de vivéncias. * A inclusao das viven- cias logicas nessa classe foi um importante passo inicial para a delimitagio da compreenso analitica da esfera légica e dos conceitos epistemolégicos fund: mentais. Mas a continuagao da nossa investigagio nos levou também a distinguir diversos conceitos de contetido * que costumam vir emaranhados uns nos outros, sempre que esto em causa atos ¢ unidades ideais que Ihes dizem respeito, Reap: ‘ecem agora, em dominio mais amplo e forma mais geral, as diferengas que, no interior do circulo mais estreito das significagdes e dos atos que as conferem, haviam chamado a nossa atengio, na Investigagao I. Mesmo o especialmente notiivel conceito de contetido, recém-obtido na ditima Investigagao, o conceito de esséncia intencional, néo prescindira dessa relagio com 0 dominio logico; pois, a mesma série de identidadgs que antes servira para ilustrar a unidade da significa- gio, uma vez adequadamente generalizada, nos deu a conhecer uma certa identi- } Ct Investigagio V.(N. dos T) ¥ Zusammenhang(N. dos 7.) | ese, Huser etude as expresses dentro dos tos globas de alae no como objeto sicos ou enidades bstratas da lngistes, CE. abaixo, $68. (N. dos T.) A Erlenishiasse, Erebnis designa, em Huser, aos psiqucos earacterizados pela intencionalidade. Cf avestigngdes V, cap. 2. palavra€relativamente nova em alemio. Para uma hstria da palavra eum escla. recimento do conceit, cf. H. G. Gadamer, Wahrheit und Methode, Mohr, Tibingen. 196% pp. $6-66.(N. dos 1) Inbat. cf nvesigngdo V, espec. § 4 e também Investigagio I § 14 (N. dos) 14 HUSSERL dade que pode ser relacionada a quaisquer atos, qual seja, a identidade da “es séncia intencional”. Gragas a essa ligagio ou, conforme 0 caso, a essa subordinagio dos caracteres fenomenolégicos ¢ das unidades ideais do dominio igico aos caracteres e as unidades totalmente gerais que se situam no dominio dos atos, foi possivel, em grande medida, chegar a uma compreensio fenomeno- \gica e critica dos primeiros. AS investigagdes desenvolvidas nos tiltimos capitulos, apoiadas na distingao entre qualidade e matéria * de um ato no interior da esséncia intencional unitaria, levaram-nos entio a penetrar profundamente na esfera de interesses da logica. A impreterivel questio da relagdo entre essa matéria intencional eo fundamento de representagao ” essencial a todo ato obrigou-nos a distinguir varios e importantes conceitos de representagao, sempre confundidos; com isso, elaboramos ao mesmo tempo um fragmento fundamental da “teoria de juizo”. Todavia, os conceitos especificamente logicos de representagdo € o conceito de juizo nao foram definiti vamente elucidados. Nesse ponto, como nos demais, temos ainda um longo cami- nnho @ percorrer. Estamos ainda nas primicias. Ainda no conseguimos atingir nem mesmo 0 nosso fim mais proximo, que €0 de clarificar a origem da idéia de significagdo.* Inegavelmente, e essa é uma descoberta valiosa, a significagao das expressdes® esté na esséncia intencional dos atos correspondentes; mas ainda nao pesamos de modo algum quais seriam as espécies de atos capazes de exercer a fungao de significagao ou se, sob esse ponto de vista, nao viria mais ao caso equiparar todas as espécies de atos. Mas, desde que nos propomos a abordar essa questo, nés nos deparamos (08 proximos para grafos vdo mostré-lo de imediato) com a relagdo entre intengo de significagio e preenchimento de significagio"° ou, numa expresso mais tradicional porém mais equivoca, com a relagao entre “conceito” ou “pensamento” (entendido aqui como um visar ndo preenchido intuitivamente), e “intuigdo correspondente”. £ excepcionalmente importante examinar com 0 méximo rigor essa diferen- ‘¢4, j@ indicada na Investigagao I. Ao efetuarmos as respectivas andlises, que par- tem das mais simples intengdes nominais, notaremos imediatamente que todas essas consideragdes exigem uma ampliagio natural e uma nova delimitagio. A classe mais ampla de atos, nos quais encontramos diferengas entre intengao € preenchimento ou, conforme 0 caso, decepedes de intengao, estende-se muito além do dominio légieo. O proprio dominio l6gico se delimita pela particularidade de uma relagao de preenchimento. Com efeito, ha uma classe de atos — os objeti- Akxmaterle. Sinbnima de “sentido do ato”, desn I.$ 129-131. (N. dos 7) * Yorsteltinggrundlage. O conceitorepresentagio (Vorselung) no deve se: confundido €om 0 conesito de representagio apreensiva (Reprdsentation. Sobre esse timo, veja especialmente o texio correspondente 3 nota 12€& nota 94, Sobre Vorselungserundlage, cf. echo corespondente nota 97. (N. dos.) "Bedeutung. A nossa radugio & sugrida pelo proprio Huser cf. abaixo § 8. nots 47S. O termo "signii- cago” & sminimo do temo "sentido (Sinn), de mods que Huser fala indiferentemente em envio ov em Signiicagio de uma expressio. Aqullo que nos atoscorresponde i signiicagio€ = sua matéria ou também 0 sentido. (CE. Investgagio V,§ 20, deen 1, §§ 129-131). (N. dos.) * Ausdnicke.(N.d05T.) 10" Redeatungsintontion und Bedeutungcefilung.(N. 508.) INVESTIGAGOES LOGICAS 18 vantes — que se distinguem de todos 0s outros, porque as sinteses de preenchi- mento pertencentes a sua esfera tém 0 carter do conhecimento, da identificagio, do “posicionamento da unidade”'’ do “concordante”, assim como as sinteses de decepgio tém o cariter correlato da “separagio”, do “conflitante”. No interior dessa esfera mais ampla de atos objetivantes, vamos agora estudar todas as rela- ges referentes a unidade do conhecimento e, note-se, niio apenas no tocante ao Preenchimento daquelas intengdes particulares que pendem das expressdes como intengdes de significagio. AnGlogas intengdes surgem, outrossim, independentes de ligagdes gramaticais. Além disso, também as intuigSes, via de regra, tém o carter de intengSes que exigem, € freqiientemente experimentam, um preenchi- ‘mento ulterior. ‘Vamos caracterizar fenomenologicamente os conceitos totalmente gerais de significacao ¢ intuigio, recorrendo aos fendmenos do preenchimento, ¢ enveredar na andlise, fundamental para a elucidagio do conhecimento, das diferentes espé- cies de intuig&o, a comegar pela intuig&o sensivel. Entraremos ent&o na fenomeno- logia dos graus do conhecimento, para aclarar e determinar com firmeza uma strie de conceitos fundamentais do conhecimento, a ela relacionados. Com isso surgirfo novos conceitos de contetido, aos quais aludimos de passagem nas ani ses precedentes: 0 conceito de conteiido intuitivo e o conceito de contetido repre- sentante (apreendido).'* Ao ja conhecido conceito de esséncia intencional vir& juntar-se o de esséncia cognitiva, na qual distinguiremos a qualidade intencional, matéria intencional enquanto sentido da apreenséo, a forma da apreensio 0 contetido apreendido (apercebido ou representante). Com isso ficard determinado © conceito de apreensio ou representacéo apreensiva, como unidade de matérin € conteiido representante-apreendido produzida pela forma da apreensio. Quanto agora ao que conceme a série de graus de intengdo e preenchimento, aprenderemos a reconhecer diferengas quanto & maior ou menor mediatez da pré- intengdo, que exclui um simples preenchimento, exigindo antes uma sucesso gradual de preenchimentos, ¢ assim aprenderemos a compreender 0 importante sentido em que se fala de representagdes indiretas, que permanecera até agora nao clarificado, Investigaremos entio as diferengas quanto a uma maior ou menor adequagio da intengo a vivéncia intuitiva que, no conhecimento, se funde a meira, a titulo de preenchimento, ¢ determinaremos 0 caso da adequagio objetiv mente completa. Em conexio com isso, buscaremos uma dltima elucidagio fenomenolégica dos conceitos de possibilidade e impossibilidade (unio, compat bilidade — conflito, incompatibilidade) e dos respectivos axiomas ideais. Levan- do em conta as qualidades dos atos que até agora permaneceram fora de jogo, consideraremos entdo a diferenca entre preenchimento provisorio e definitivo refe- 1 “tn-Bins Setar Sobre “posicionamento", cf. nota 122.(N. dos T) °9 der Begri! des reprasenierenden (aufgefassten) Inhalts. E, na sentenga sequinte: .. und den aufge- Jessen (appersipierien, bew. reprdsentierenden) Inhalt... Como se vt, 0 termo *reptesentante-apreendido” — que passamos a usar na expresso “conteddo representante-apreendido" (reprisenterender Inbal) «gue teaduzti a forma abreviada Reprasentanr — & sugerido pelo proprio Hus. A ese respite. vga ainda 8 ota 94 Heer I, Apéndice XXIV. (N. dos T.) 16 HUSSERL rente aos atos posicionantes. ’? O preenchimento definitivo representa um ideal de perfeigao e esta sempre numa “percepgao” correspondente (0 que na verdade pres- supe uma ampliagio do conceito de percepgo para além dos limites da sensibili- dade). Nesse caso, a sintese de preenchimento é a evidéncia ou o conhecimento, no sentido forte da palavra, Aqui se realiza 0 ser no sentido da verdade, da “concor- dineia” corretamente entendida, da adequatio rei ac intellectus; aqui a verdade & diretamente dada, ela propria, & intuigao e a apreensio. Os diferentes conceitos de verdade, a serem constituidos sobre o fundamento de uma mesma situagao’ * fenomenolégica, sero ai perfeitamente elucidados. Algo semelhante vale para 0 ideal correlato de imperfeigao, portanto, para o caso do absurdo e, com respeito a0 “conflito” e ao nao ser nete vivido, para 0 caso da inverdade. © curso natural da nossa investigagio, que s6 se interessava originalmente pelas intengdes de significagio, levou-nos a tomar como ponto de partida de todas essas consideragies apenas as significagdes mais simples, fazendo abstragio das diferengas de forma entre as significagdes. A investigagio complementar da segunda seo, que leva em conta essas diferengas, conduz imediatamente a um conecito inteiramente novo de matéria, mais precisamente, a oposigio funda- ‘mental entre material sensivel' * ¢ forma eategorial, ou, passando da atitude obje- tiva a fenomenologica, entre atos sensiveis e eategoriais. Em estreita conexio com isso, est a importante distingao entre objetos, determinagdes ¢ ligagdes sensiveis (reais) ¢ categoriais: distingdo em que surge como caracteristico desses tltimos 0 fato de que eles s6 podem ser “dados”, a maneira da “percepedo”, em atos que se fundamentam em outros atos ¢, por fim, em atos da sensibilidade. Em geral, 0 preenchimento intuitivo —e, portanto, também 0 imaginativo — dos atos catego- riais se fundamenta em atos sensiveis. Mas, a mera sensibilidade nunca pode dar preenchimento as intengdes categoriais, ou mais exatamente, as intengSes que encerram em si formas categoriais. 1ss0 nos leva a uma ampliagio absolutamente indispensivel dos conceitos originariamente sensiveis de intuigio e de percepgio gue nos permitiré falar em intuigdo eategorial e, especialmente, em intuigio geral. A distingao entre abstracio sensivel e abstragio puramente categorial impée, em seguida, a distingdo dos conceitos gerais em conceitos sensiveis e categorias. A antiga oposigio, da teoria do conhecimento, entre sensibilidade ¢ entendimento re- cebe toda a clareza desejavel pela distingao entre intuigao simples ou sensivel e intuigio fundamentada ou categorial. © mesmo acontece com a oposig&o entre pensar ¢ intuir, que, na linguagem filoséfica usual, confunde as relagdes entre significagaio ¢ intuigio preenchedora com as relagdes entre atos sensiveis e catego- riais. Sempre que falamos em forma légica, referimo-nos ao que é puramente cate= 1 settende Abte. Vain a nota 122.(N. dos.) 1 Sachlage. Esse termo significa ora uma stuagdo,em ger (N.aosT) °¥ sinliche Sif O temo "material" & usado por Locke em expresses como “material do pensamento”, materi! > ciheeimento” e possui portato a ignidade de um termo Blasco: ef. Locke. Ensaio sobre fenteeinnnt Iunano, Livro I. eap. 1. De modo geral linguagem descritiva de Huser! deve muito a Locke, (N- dos T.) ora, mais conicamente, um estado de coisas. a OC —] ——— INVESTIGAQOES LOGICAS 17 gorial nas respectivas significagdes e preenchimentos de significagdes. Mas, gra- Gas a uma superposigio gradual de intengdes categoriais, a “matéria” lbgica, conjunto dos “termos” pode admitir ainda certas distingdes entre material e forma, de modo que a oposigao légica entre esses dois denota uma certa relativi- zagéo facilmente compreensivel da nossa distingdo absoluta, Concluimos a parte nuclear dessa investigagao, com um exame dos limites que cerceiam a enformagio categorial efetiva de um material. Daremos atengio is {els analiticas do pensar propriamente dito que, fundamentando-se nas categorias Puras, sio independentes de todas as Particularidades dos materiais. Limites para- lelos circunscrevem 0 pensar no sentido improprio, isto é, a mera significagao, se quisermos que ela seja susceptivel de expresso, no sentido proprio, @ priori, independentemente dos materiais a serem expressos, Dessa exigéncia decorre a fungo que tém as leis do pensar propriamente dito, de serem normas da mera significagao. A questio levantada no comego de Investigagao, a respeito de uma delimita- gio natural dos atos que dio ¢ que preenchem o sentido," é resolvida pela inclu. S&o desses atos na classe dos atos objetivantes ¢ pela divisio desses iiltimos em significativos e intuitivos. $6 a elucidagio das relagdes fenomenoligicas que dizem respeito ao preenchimento, feita ao longo dessa investigago, nos da condi. ‘Ges para apreciar criticamente os argumentos que felam pré e contra a concep. ‘slo aristotélica segundo a qual as proposigdes optativas, imperativas, ete., sto Predicagdes. A sesio final da presente Investigacio é dedicada a elucidagio com. pleta dessa controvérsia. Os objetivos dos esforgos que acabamos de descrever ndo sio nem os dltimos, nem os supre- ‘mos objetivos de uma elucidagio fenomenotzica do conhecimento em geral. Por mais extensas ‘que sejam as nossas anilises, o dominio extraordinariamente frutifero do pensar ¢ do conhecer Imediatos permaneceu quase completamente nio elaborado; a esséncia da evidencia mediata ¢ de seus correlatos ideais continua sem uma elucidacio sufciente. Ainda assim, acreditamos que as Inossas pretensdes nio foram insignificantes, ¢esperamos ter desnudado 0s mais bisicose, por sua Prépria natureza, primeiros fundamentos da eritica do conhecimento. E preciso fazer uso, também iw ettica do conhecimento, daquela modésta que pertence i esséncia de toda investigagio cen fice. Queira ela dirigir-se & solugio real e definitive das coisas, deixar de enganar asi memna pretendendo poder resolver os grandes problemas do conhesimento por meio de meras crticas aos flosofemas tradicionais do raisonnement’ provavel, queia ela afinal tornar-se consciente de 4 as eoisas no progridem nem tomam forma sem wm trabalho irduo, e terdentio que se resig. ‘ar & abordar os problemas do conhecimento no em suas maiores ¢ mai je 1 sinngebenden und sinnerfillenen Akte,(N. dos T.) 17 Em francis no orignal, e sem grifo. Quremosesclarecr que, excetuando slgumas raras geass explici- {tamenteindicadas, respeitamos rigorosamente o uso que Hussar! faz das asa, tos negrits e dos gril (N. or T) PRIMEIRA SECAO INTENGOES E PREENCHIMENTOS OBJETIVANTES. © CONHECIMENTO COMO SINTESE DE PREENCHIMENTO ESEUS GRAUS. Capiruto PriMeiRo Intengiio de significagio e preenchimento de significagao § 1. Se todas ou somente algumas espécies de atos ‘podem funcionar como portadores de significagao. Partimos da questo levantada na introdugio: se o significar se perfaz ape- nas em atos de certos géneros delimitados. A primeira vista, poderia parecer total- mente dbvio que tais limitagdes nio existissem e que qualquer ato pudesse exercer 1a fungo de dar sentido, Com efeito, podemos dar expresso a atos de toda espécie — representagées, juizos, suposigies, perguntas, desejos, etc. — e, ao fazermos isto, eles nos fornecem as significagdes das respectivas formas da fala, dos nomes, dos enunciados, '* das proposigées interrogativas, optativas, etc. Mas, também & possivel admitir como dbvia a concepgao oposta, especial mente enquanto ela afirma que todas as significagdes se limitam a uma classe ‘muito reduzida de atos. Certamente, dir-se-4, todo ato é exprimivel; mas sua expresso se encontrard, respectivamente, numa forma da fala que (supondo-se luma linguagem suficientemente desenvolvida) Ihe seja propriamente adaptada; temos, por exemplo, no caso das proposicées, diferengas entre proposigdes enunciativas,"® interrogativas, imperativas, etc. Entre as primeiras, por sua vez, fencontram-se as proposigdes categéricas, hipotéticas, disjuntivas ¢ outras. Em todo caso, enquanto se exprime nessa ou naquela forma da fala, 0 ato deve ser reconhecido na sua determinagio especifica, a pergunta como pergunta, o desejo como desejo, 0 juizo como juizo, etc. Isso se estende aos atos parciais constitu- tivos, na medida em que a expressfo a eles se ajusta, Os atos niio podem encontrar as formas que lhes so convenientes sem que sejam apercebidos ¢ conhecidos quanto a forma e ao conteiido. O expressar da fala nfo esta, pois, nas meras pala- ‘vras, mas nos atos que exprimem; eles estampam num material novo os atos cor- 18 Aussagen.(N. dos) 19 ussagendize.(N. dos) 20 HUSSERL relatos que devem exprimir, eles criam para eles uma expressio a0 nivel do Pansamento*® e & a esséncia genéricn dessa iltima que constitu a significagio da fala correspondente. Uma excelente confirmagio dessa concepgio parece estar na possibilidade e uma fungéo puramente simbélica das expressdes, A expressio mental, que aa nivel do pensamento é a réplica do ato a ser expresso, impregna se na expressiio lingifstica, podendo nela reviver, até mesmo quando 0 proprio ato nio € coma, mado?" por quem a compreende. Compreendemos a expresso de uma percepgao scm Pereebermos, a expressio de uma pergunta sem perguntarmos, ete. Dispomos ‘do somente de palavras, mas também de formas ou expresses a nivel do ensa- mento. No caso oposto, em que 0s atos intencionados estao realmente presentes, & expressio se recobre2? com o que deve ser expresso ea significagao impregnada as palavras se adapta ao que ela significa, sua intengao ao nivel do pensamento encontra assim a intuigio preenchedora, Manifestamente, em estreita conexio com essas concepgSes divergentes est 8 antiga controvérsia em que se discute se as formas peculiares das proposigdes interrogativas, optativas, imperativas, ete, podem ou nio valer como enunciados, algae eine Suas significagdes como juizos. Segundo a doutrina aristotélica, 4 Significagdo de todas as proposigées independentes e completas reside em vivén, cias psiquicas de diferentes espécies, em vivéncia do julgar, do desejar, do man- dar, ete, Por outro lado, segundo uma outta doutrina que vem seve cada nn, mais difundida nos ditimos tempos, o significar se perfar exclusivamenic ou Jule verdade conforme caso, em suas modificagdes em termos de representagdes, & Nerdtde que, num certo sentido, uma pergunta se exprime numa proposigda inver, rogativa, mas isso se deve apenas ao fato de ser a pergunta apreendila coma per aenu apresentada, nessa apreensio a0 nivel do pensamento, como vivencia de inteira ou uma parte possivel de tal significagdo, As proposigdes enunciatinns saa 204i proposigdes predicatvas. Pois, em geral, segundo esse ponto de vista @ juizo & Sonsiderado como um ato de predicagio, quando na verdade, come tovnce ainda, a controvérsia conserva o seu sentido se o julzo for compreendide cong ‘um ato posicionante qualquer. Para chegar a uma posigio correta quanto a essas questbes, serdo necessi- fias pesquisas mais exatas do que as feitas acima, nas argumentegses lnieaie 20 examinarmos melhor o-que cada um dos lados apresenta como dbvio notare '™m0s que isso é pouco claro e até mesmo errdneo. 2° gedanklichen (N. dos) 2 Talogen paripo pasado de voltihen, verbo que traduzinos outossi por “pcre” (N. dos.) ** aur Deckung Kommi.(N, dos.) INVESTIGAGOES LOGICAS § 2. A expressabilidade de todos os atos néo é uma solucao. As duas significacdes em que se fala de exprimtr um ato. Todos os atos sio exprimiveis, disseram-nos anteriormente. Isso, natural- mente, esté fora de divida; todavia, dai no segue o que se quis subentender, isto &, que por essa razio todos os atos podem exercer também a fungio de suportes de significagao. Como dissemos antes,?* nosso falar em exprimir tem muitas face tas, mesmo quando relacionado a atos a serem expressos. Os atos que dao signifi- cago, os atos “manifestados” no sentido mais restrito, podem ser qualificados de atos expressos. Mas, outros podem ainda ser chamados de atos expressos, embo- ra, naturalmente, em outro sentido, Tenho aqui em mente certos casos muito co- muns em que nomeamos os atos que entio vivemos e, por esse meio, enunciamos que os vivemos. Nesse sentido, exprimo um desejo pela forma desejo que. . ., uma pergunta pela forma pergunio se..., um juizo pela forma julgo que..., etc. E Sbvio que, assim como podemos fazer juizos a respeito das coisas exteriores, podemos fazé-los também a respeito das nossas préprias vivéncias interiores e, esse momento, as significagdes das respectivas proposigdes residem nos juizos sobre essas vivéncias, e nio nas proprias vivéncias, desejos, perguntas, etc. Da mesma maneira, as significagSes dos enunciados sobre as coisas exteriores tam- bbém nao residem nessas iltimas (casas, cavalos, etc.), mas nos juizos que fazemos interiormente sobre elas ou nas representagdes que ajudam a construir esses jui- 708. O fato de num caso os objetos julgados serem transcendentes & consciéncia, (ou de pretenderem valer como tais), ede no outro serem imanentes & mesma, nfio acarreta aqui nenhuma diferenga essencial. Sem davida, enquanto 0 exprimo, 0 desejo que me preenche e o ato de julgar so concretamente uma s6 coisa. Mas 0 desejo em nada contribui para o juizo. Ele & apreendido num ato de percepeio reflexiva, subordinado ao conceito de desejo, nomeado por meio desse conceito € pela representagao que determina o contetido do desejo; ha assim uma contribui- Gao direta da representacdo conceitual do desejo para o juizo sobre o mesmo e do correspondente nome do desejo para o juizo optativo, tal como a que ¢ feita pela representagao do homem para o ju'zo sobre 0 homem (e, respectivamente, pelo nome homem para o enunciado sobre o homem). Quando imaginamos a propos gio eu desejo que. . ., com um nome proprio no lugar do sujeito eu, o sentido da proposicao, nas suas partes nio modificadas, nao sofre nenhuma alteragio. Mas € inegavel que o enunciado optativo pode ser entendido e revivido no juizo, com ‘© mesmo sentido, por um ouvinte que néo compartilha o desejo. Iss0 mostra que (© desejo ndo pertence efetivamente?* a significagao do juizo, mesmo quando 25 lnvestigagio Ip. 46(N. do A) 24 wirklich. O terma serve para caractriar entes que nio s20 apenas presumidos (via ditima anes do Apéndice desta Investgagio). A efetvidade dss coisas do mundo € também chamada de “realidade” (Real {ate por extensdo esas coisas so dias reais (eal) ou chamadas de “realidades”. Povém)tgor,0 trmo “realidade” nio deve ser empregado para designar a efetvidade dos als psiguicos. que poss caracteres fenomenoligeos disinios (ef. Iden I § 46) — N.B. aba, no $30, Husserlempregao trmo “realidad” como sindnimo de “possbilidade”.(N. dos.) 22 HUSSERL ‘eventualmente ele ¢ 0 ato do juizo para ele dirigido ‘sfio uma coisa sd. Uma vivén- cia que verdadeiramente dé sentido é indispensavel para que se mantenha inalte- rado o sentido vivo da expressio. Por conseguinte, também é claro que a possibilidade de exprimir todos os atos é irrelevante para a questao de saber se todos eles podem também exercer a fungdo de dar sentido, na medida em que por ela nfo se entende, de fato, nada além da possibilidade de emitir certos enunciados sobre os atos. Mas, nesse 880, 0 alos nao exercem a fungio de suportes de significagio. § 3. Umterceiro sentido em que se fala da expresso de um ato. Formulagdo do nosso tema. ‘Acabamos de distinguir um duplo conceito, a0 falarmos em atos expressos. (Ou pensamos em atos nos quais se constitui o sentido, a significagio da expresso correspondente, ou, por outro lado, em atos que o locutor quer apresentar predica- tivamente como atos entdo vividos por ele. Podemos imaginar esse iltimo con- ceito convenientemente ampliado. Naturalmente, a situagao por cle apreendida permanece a mesma, sob 0s aspectos aqui considerados essenciais, quando 0 ato expresso nfo se relaciona predicativamente ao eu que 0 vive, mas a outros obje- tos; ¢ também permanece a mesma para todas as formas de expressao aceitaveis que nomeiam genuinamente?® esse ato como vivido, sem fazé-lo exatamente daquele modo que Ihe dé o cunho de sujeito — ou de objeto de uma predicacio. 0 principal é que, ao ser nomeado, ou de algum modo “expresso”, esse ato apare- gga como aquele que é efetivamente o objeto presente da fala ou do posicionamento Objetivante que fundamenta a fala; ao passo que, no caso dos atos que do senti- do, isso no ocorre. "Ao falarmos da expresso de um ato num terceiro sentido, temos que ver, como no segundo, com um julgar, ou com um outro objetivar qualquer, relativo ‘aos atos correspondentes; nio com um julgar sobre esses atos — portanto, nio ‘com uma objetivagao dos mesmos, feita através de representagées ¢ denominagdes a eles relacionadas —, mas com um julgar fundado nesses atos, que nao requer {que os mesmos sejam objetivados. Por exemplo, dou expressio d minha percepedo pode querer dizer que a ela atribuo predicativamente esse ou aquele contetido. ‘Mas também pode querer dizer que & da percepgio que extraio 0 meu juizo, que no somente afirmo o fato em questo mas que 0 percebo ¢ 0 afirmo tal como 0 percebo. Neste caso, 0 juizo nao é feito sobre a percepgio, mas sobre 0 pereebido. ‘Quando falamos, sem mais nada, em juizos de percepeao, via de regra, temos em mente 0s juizos da classe que acaba de ser caracterizada, ‘De modo semelhante podemos exprimir outros atos intuitivos, imaginagSes, Jembrangas, expectativas. No caso dos enunciados fundados tanto, de que neles exista um verdadeiro imaginagio, é possivel duvidar, entre- zo, ¢ temos até mesmo a certeza de que 2» poll A palavra significa ainda sincero, honest idneo, de confianga real. (N. dos.) INVESTIGAGOES LOGICAS 23 ai ndo existe juizo. Temos em mente os casos em que, levados pela fantasia, expri- mimos 0 que nela nao aparece em enunciados regulares, como se fosse percebido; ou ainda, a forma de uma narragao onde um contista, um novelista, etc. “di expresso” nao a acontecimentos reais mas a criagdes da sua fantasia artistica. De acordo com 0 que foi exposto na iiltima investigagao,? * temos que ver aqui ‘com atos que passaram por uma modificagdo conforme € que, como contrapar- tidas, correspondem aos juizos efetivos a serem expressos nas mesmas palavras, tal como as imaginagGes intuitivas correspondem as percepgdes e eventualmente também as lembrangas e is expectativas. Por enquanto, nao levaremos em conta essas diferengas. Partindo da mencionada classe de casos ¢ do novo sentido, por ela detetmi- nado, do nosso falar em atos expressos, vamos clarificar a relagao entre significa- Gao € intuigdo expressa. Pretendemos examinar se essa intuigdo mesma é 0 ato que constitui a significagio, e, se no for o caso, como deve ser entendida e em que género deve ser classificada a relagio entre as duas. Com isso tomamos 0 umo de uma questo mais geral, a de saber se 0s atos que podem dar expresso aqueles que podem recebé-la se movem em esferas de espécies de atos essencial- mente diferentes ¢, além disso, rigidamente determinadas, ¢ se existe em tudo isso uma unidade de género superior ¢ normativa que contenha e encerre a totalidade dos atos capazes de exercer a fungao de significagio em sentido lato — seja a pro- ria fungao de significagao, seja a do “preenchimento de significagdo” —, de tal modo que, £0 ipso e por forga de lei, os atos de todos os outros géneros fiquem excluidos dessas fungdes. Com isso, indicamos nosso objetivo imediato, No prosseguimento das nossas reflexdes, a ampliagdo natural da esfera de nossas consideragdes tornara evidente a significado das questdes levantadas para uma ‘compreensio do conhecimento em geral; e nesse momento surgirio prontamente no nosso horizonte objetivos novos e mais altos. $4, A expressdo de um perceber ("Jufzo de percepedo"). ‘Sua significacao ndo pode residir no perceber, mas tem que estar em atos de expressdo que the so préprios. Consideremos um exemplo. Olho para o jardim ¢ exprimo a minha percep- do por meio das palavras: wm melro voou. Qual & aqui o ato em que reside a significagao? Pelo que foi exposto na Investigagao I, acreditamos poder afirmar: nao € um perceber, ou pelo menos, ndo somente um perceber. Parece-nos que a presente situagiio no pode ser descrita como se ao lado das palavras pronuncia- das?” nada mais fosse dado ou nada mais fosse decisivo para a significagao de uma expressio que 0 perceber, ao qual elas se ligam. Tomando essa mesma per- ‘epg como fundamento, o enunciado poderia ter sido formulado de uma manei- + Investigagio V.cap. 5,4 40, p 454 da primiraedigioe § 491. x. da segunda ego. (N. do A.) *7 Wortlat. Na oss tradugio partinos da hipotese de que Wortlut coresponde a articulated sounds hich we nil words de Locke f. Ensaio, Livro Il ap. I. 1. Nese sentido usamos as exptesses “palaveas promunciadas”esom das palaveas™(N. dos T) 24 HUSSERL. ra completamente diferente, explicitando, portanto, um sentido todo outro. Por exemplo, eu poderia ter dito: isto é preto, é um pdssaro preto; este animal preto voou, subiu, etc. Inversamente, seria possivel que tanto as palavras pronunciadas ‘como o seu sentido permanecessem os mesmos, enquanto a pereepgio mudava de varias maneiras. Qualquer alteracao casual da posigao relativa daquele que perce- be altera a propria percepciio, ¢ pessoas diferentes que simultaneamente percebem a mesma coisa nunca tém exatamente a mesma percepgao. Para a significagao do enunciado de uma percepgao, diferengas da espécie que acabamos de indicar sio irrelevantes, Naturalmente, podemos eventualmente ter em vista essas diferengas, mas nesse caso o enunciado também teria que ser formulado de uma maneira completamente diferente. Sem divida, seria possfvel dizer que a objegio prova apenas que a significa- iio é insensivel a tais diferengas entre percepgdes singulares; a significagio residi- tia precisamente em algo comum que cada um dos miitiplos atos de percepgio relativos a um mesmo objeto traz em si. Contra isso observamos, entretanto, que a percepgio pode no somente mudar, mas até desaparecer completamente, sem que a expressio deixe de ser significativa, O ouvinte compreende minhas palavras ¢ a proposigio inteira sem olhar para o jardim, ele pode emitir 0 mesmo juizo, confiando na minha veraci- dade ¢ sem ter a percepgo. Talvez ele se sirva de uma certa imagem de fantasia, talvez essa também Ihe falte; ou seja to lacunar, tao inadequada que nio possa valer sequer como uma réplica da aparigio perceptiva feita segundo os tragos pressos” no enunciado. Mas, se na auséncia da percepgio restar ao enunciado ainda um sentido, e se esse sentido for, além disso, 0 mesmo de antes, no poderemos admitir?* que a percepgiio seja 0 ato no qual se perfaz o sentido do enunciado de percepgio, seu visar expressivo. Os atos unidos as palavras pronunciadas, que podem ser signifi- cativas de uma maneira puramente simbélica ou de uma maneira intuitiva, e que se fundamentam, nesse Gltimo caso, quer na mera fantasia, quer numa percepgio realizadora, sio por demais diferentes, do ponto de vista fenomenolégico, para que possamos acreditar que o significar se dé ora nesses, ora naqueles atos; tere- mos que dar preferéncia a uma concepedo que atribua essa fungi de significar a ‘um ato sempre da mesma espécie, nio tolhido pelas limitagdes da percepgio — que tio freqiientemente nos é negada — nem mesmo pelas limitagies da fantasia, € que, quando a expressio “exprime” no sentido préprio da palavra, simplesmente se associe a0 ato expresso. Mas, apesar de tudo isso, & incontestivel que nos “juizos de percepgio” o perceber esté numa relagio interna com o sentido do enunciado. Nao é em vio ‘que se diz: 0 enunciado exprime a percepedo, ou melhor, exprime aquilo que é “dado” na percepedo. Uma mesma percepgio pode servir de fundamento para diferentes enunciados, mas 0 sentido desses enunciados, como quer que possa -Mesmo sem levar em conta as formas eategoiais que, nesea seqlo, iznoramos propositadamente. (N. do A INVESTIGAGOES LOGICAS 25 variar, “rege-se” entretanto pelo teor da apari¢io perceptiva; de uma vez sio essas, de outra vez aquelas percepgdes parciais (ainda que sejam partes niio inde. pendentes de percepgdes unitérias e plenas) que fornecem uma base especial a0 Juizo, sem que por isso sejam propriamente os suportes de significago; como ai ‘bamos de aprender a partir da possibilidade da auséncia de toda percepgio. Portanto, teremos que afirmar: esse “exprimir” uma percepgao (ou, numa maneira objetiva de falar: 0 percebido, como tal) nao compete as palavras pronun- ciadas, mas a certos atos expressivos; expressdo significa, nesse contexto, uma expresso vivificada por seu sentido total, posta aqui numa certa relagio com a percepeao, que, por sua vez, € dita expressa justamente em virtude dessa relagio. 1Iss0 implica, ao mesmo tempo, que entre a percepgao e as palavras pronunciadas esté inserido ainda um ato (ou, conforme o caso, um complexo de atos). Digo um ato: pois a vivéncia da expressio, seja ou nao acompanhada de percep¢ao, tem uma relagdo intencional com algo objetal.?* f esse ato mediador que deverd ser- vir propriamente de ato doador de sentido, ele € proprio a expressio que atua com pleno sentido, a titulo de seu componente essencial, fazendo com que o sentido seja sempre idéntico,?° quer a ele se associe uma percepio comprovante ou nio. A investigagio subseqiiente confirmara cada vez mais a viabilidade dessa concepgio. § 5. Continuagao. A percepgdo como ato que determina mas nao contém a significagao. Nao devemos prosseguir sem examinar uma diivida natural. Nossa exposi Gio parece exigir uma certa restrigio, parece haver nela mais do que aquilo que podemos justificar plenamente. Mesmo que o perceber jamais constitua a signifi- cago plena de um enunciado fundado numa percepeio, ele contribui, assim ‘mesmo, com algo para a significado, justamente nos casos da classe que acaba- mos de examinar Isso se vé mais claramente se modificarmos agora 0 nosso exemplo e, em vez de falar de uma maneira totalmente indeterminada de um melro, falarmos deste, Isto & uma expressio essencialmente ocasional que s6 se torna plenamente significativa em vista das circunstancias de sua exteriorizagio e, ‘no caso presente, em vista da percepgao efetuada. O objeto percebido, tal como & dado na percepgao, é visado por meio do isto. Além disso, o tempo presente da forma gramatical do verbo exprime também uma relagio ao presente atual, por- tanto, outra vez a percepgao. Manifestamente, mesmo vale para o exemplo no modificado; pois quem diz “um melro voa, decerto nio quer dizer que um melro em geral voa, mas que um melro voa aqui e agora. Sem diivida, a significagdo intencionada nao se prende as palavras pronun. * auf Gegenstindliche. Vea nota 32(N- do.) 29 identiseh, Por “sentido inti”, “sigifieagoidéntica”, Musser] quer designar “uma unidade intencional idémtca, face & dispersa multipicidade de viveniasefetivas ov possiveis de quem fala pensa Cf. Invest ‘angio I, cup. 4, $30. B graves a signifies ieticn que podemos falar. p ex. em "um mesmo” enunciade ‘de poometria, proferido por diferentes pessoas em diversi circunstancias (op. bid, § 11).(N. dos T.) 26 HUSSERL ciadas, nao faz parte das significagies ligadas por elas de uma maneira rigida € geral. Ora, como niio podemos abrir mio do fato de que o sentido do enunciado unitério reside no ato global do visar que eventualmente o fundamenta — quer ele se estampe plenamente em palavras, em virtude de suas significagdes gerais, quer isso ndo acontega — teremos que admitir, ao que parece, que a percepgdo, tra- zendo para a intuigao um estado de coisas?’ que 0 enunciado exprime em forma de juizo, presta sua contribuigao para o teor de significagio desse juizo. Sem divi- da, essa contribuigio pode eventualmente ser prestada, de maneira essencialmente concordante, também por outros atos. Talvez 0 ouvinte nio perceba o jardim, mas ele pode conhecé-Io, representi-lo intuitivamente, situar dentro dele 0 melro repre~ sentado e 0 processo enunciado, e, seguindo a intengio do locutor, gerar por meio dde meras imagens da fantasia uma compreerisio que tenha o mesmo sentido. Mas esse esado de coisas admite ainda uma segunda interpretagio. Num certo sentido, cabe decerto dizer que a intuigdo contribui para a significagdo do enunciado do perceber: precisamente no sentido em que, sem auxilio da intui- Gio, a significagao nao poderia desdobrar-se em uma relagio determinada & Objetidade®? visada. Por outro lado, néo se quer dizer com isso que 0 proprio ato de intuigio seja suporte de significagdo, ou que, no sentido proprio, traga contribuigdes para a significagdo, contribuigSes estas que jé se encontrassem, a ti- tulo de componentes, numa significago acabada. As expressdes essencialmente ‘ocasionais tém, na verdade, uma significagdo que muda conforme 0 caso; mas, em toda essa mudanga, ha um residuo comum que distingue essa plurivocidade da plurivocidade de um equivoco casual.?# Quando intervém, a intuigo faz. com que se determine esse residuo comum da significagéo que, enquanto abstrato, restara indeterminado. £ que a intuigdo determina a sua diregdo para o objeto e, assim, a sua diltima diferenga. Nao se requer para isso que uma parte da propria significa- gio resida na intuigao. * Digo isto e viso justamente o papel que esté na minha frente. & a percepgio que essa palavra deve sua relagao a este objeto. Mas nao é na propria percepgao {que a significagao reside. Quando digo isto, nao me limito a perceber mas, funda~ do na percepgio se constroi o ato do visar-isto, um ato novo que por ela se rege © 99 Sachverhalt(N, dos.) 22 Gegensténdlchkel. O erm é vsado por Husserl para designar de modo geralo cortelato internacional dos aos objeivanes, “Prefro fregGentemente a expressio “objetidade” (Grgensiindichket) pois tratase Aqui geralmente nao apenas de objetos (Gegensidnde) no sentido restrito, mas tambim de estados de coisas, ‘i caracteriatcas ede formes no independentes reais cu catogorais, et.” nv. I.§ 9.. nota. Das Gegensté “diche ¢ Objet sio waduaidos aqui rexpectivameote por “o objet” (cf. techo de Hussel referent & nota 29) «por “objetividade”. Para Gegensidndlihklfreservamos palavta “objtdade”, por duas razdes 1) a palavta Objekt ¢ empregnda pelo proprio Husser] como sinénimo de Gegenstndichket (cf. por cxeraplo es ctagdes do manuserito BI, 1, de Husser,naitrodugio de Waiter Biemel a Die Ide der Pino Imenbloge, Husserliana, Il, Marin Nypoff, Haag, 1958, pp. IX-X.}: 2) ela nos permite evtar na radugio © theo de “objetividade™.termo que, mesmo em Husserl (em outros sentidos — como. por exemplo. 0 sentido ide valor intesubjeivo. Gegenttindick&, em Husser, 0 adjetivo que corresponde tanto a Gegerstand como 1 Cegensténdlchkelt: por isso preferimos tradua-lo por “objeta”. Todavia, sempre que a objetidade em ‘decode for um objeto no sentido estnto, no vemos sngonvensete em que se lea “objetual” em vez de “obe tal". (N. dos) 39 Gf, Investigagio I § 26,p.80.(N- do A.) INVESTIGAQOES LOGICAS que dela depende quanto a sua diferenga. Nesse e s6 nesse visar indicativo & que reside a significagio, Sem a percepgio — ou um ato que funcione analogamente i i sem uma diferenciagao determinada, e in conereto, abso: lutamente impossivel. Pois, naturalmente, © pensamento indeterminado 0 locutor esté indicando “algo” — pensamento que pode surgir no ouvinte antes de reco- nhecet 0 objeto que queriamos assinalar como o isto — nio é o pensamento que 16s mesmos realizamos na indicagao atual:?* como se, no nosso caso, fosse ape- zhas a representagio determinada do assinalado que se associasse ainda, Nao se deve confundir o carter geral de um efetivo indicar, como tal, com a represen- tagdo indeterminada de uma indicagio qual A percepgao realiza, portanto, a possibilidade de desdobramento do visar- isto, juntamente om a sua relagdo determinada ao objeto, por exemplo, a este Papel diante dos meus olhos; mas, segundo nos parece, ela propria nfo constitui a significagdo nem sequer parcialmente, O carater de ato do indicar, quando regi- do pelo intuir, recebe uma determinagao de intengao que se preenche, nesse intuir, de acordo com um teor de componentes? § gerais que pode ser caracterizado como ‘ esséncia intencional, Pois 0 visar indicativo é 0 mesmo, qualquer que seja a per- Cepgao que 0 fundamente, dentro da multiplicidade de percepgSes conexas, nas quais sempre aparece reconhecidamente o mesmo objeto. A significagio do isto Permanece a mesma, até quando a percepgao & substituida por um ato qualquer, dentro da multiplicidade de representagdes afigurativas?* que representam em imagem o mesmo objeto, de maneira reconhecidamente idéntica. Ela se altera, contudo, quando se fundamenta em intuigées de outros circulos de percepgiio ou de afiguragdo.*” Visamos outra vez 0 1810, mas 0 carter geral do visar que vigora aqui, a saber, o de ser uma alusio direta (isto é sem nenhuma mediagio atribu- tiva) ao objeto. diferencia-se de outro modo. ele se impregna agora de uma inten- ‘so para um outro objeto, assim como 0 indicar fisico se diferencia espacialmente ‘quando a diregdo espacial é alterada, O ponto de vista segundo o qual a percepgio & um ato que determina a signi- sem que no entanto a contenha é confirmado pela circunstancia de que ou- ‘tras expresses essencialmente ocasionais, do mesmo tipo que isto, sdo freqiiente- mente usadas ¢ compreendidas sem uma base intuitiva adequada. Uma intengio irigida a um objeto, uma vez concebida a partir de uma intuigdo conveniente, Pode ser repetida e recriada em consoniincia, sem-a mediagio de uma percepgao ou de uma afiguragdo que de alguma maneira Ihe seja adequada. De acordo com isso, as expressdes essencialmente ocasionais seriam paren- tes priimas dos nomes proprios, na medida em que esses tiltimos atuam na sua 2+ aktuell. Em ato, efetivo, i manera de um ato. O termo reaparece nas Ideen I, onde Husserl fla também m atulidade natualidade e potencialidade das noeses(N, dos T.) 3 Bestond. Traduzimos essa palavra também por “comporigia”. Sobre “tor” va a nota 87, (N. dos.) 2* imaginative Vorsellangn. Veja w nota 63.(N. dos T) 27 Bildichkeistreien. O trmo Bildichkeltdesigna er Hussel tanto 0 carder de ser imagem como o ato 4e representagio por imagem fica ou mental. (N, dos T) HUSSERL ficagao peculiar. Pois © nome proprio também nomeia “diretamente” o obje- to, Ele nao o visa de uma maneira atributiva, como suporte destas ou daquelas caracteristicas, mas visa-o sem essa mediagdo “conceitual”, como aquele que ele “proprio” &, tal como seria posto, diante dos nossos olhos, pela percepgic. A significagio do nome proprio reside portanto num visar-diretamente-este-objeto, visar que s6 é preenchido pela percepgio e, de maneira “provisiria” (ilustrativa), pela afiguragao, mas que nao é idéntico a esses atos da intuigdo. E exatamente assim que a percepcio dé 0 objeto ao isto (quando esse iltimo se dirige a objetos de uma percepcio possivel); 0 visar-isto se preenche na percepgio, mas nao é ela propria. E, naturalmente, nos dois casos, a significagao dessas expresses que nomeiam diretamente brota da intuigio pela qual as intengdes nominais voltam originariamente sua dirego para o objeto individual. Em outros pontos, subsi tem diferengas: 0 isto é impregnado por um pensamento de indicagao que introduz uma certa mediatez ¢ complicagdo da maneira que jé foi discutida anteriormente, €, portanto, uma certa forma que falta aos nomes proprios. Por outro lado, 0 nome préprio pertence ao seu objeto como uma denominagao fixa. A esse perten- cer constante corresponde também algo no modo da relagio para com 0 objeto; isso se confirma pelo fato do conhecimento nominal da pessoa ou coisa assim chamada: conhego Jodo como Jodo, Berlim como Berlim. — £ dbvio que nessa exposigo no levamos em conta os nomes préprios que desempenham uma fun- ‘gdo de significagao derivada. A partir do momento em que certos nomes préprios so construidos em direta ligagio com objetos dados (fundados, portanto, em intuigSes doadoras), 0 conceito do chamar-se, construido na reflexao sobre 0 dar- nome-préprio, pode servir para dotar de nomes proprios certos objetos — que nio nos so dados, nem diretamente conhecidos, mas que s6 so caracterizados indire- tamente, como suportes de certas caracteristicas — ou ainda, para que se tome conhecimento de seus nomes proprios. Por exemplo, a capital da Espanha chama- se (tem 0 nome proprio) Madri. Quem no conhece a “prépria” cidade de Madri adquire, assim, 0 conhecimento do seu nome e a possibilidade de aplica-lo adequadamente, porém nio ainda a significagao que € prépria a palavra Madri. Em vez do visar direto, que s6 pode ser suscitado pela intuigao dessa cidade, a pessoa se serve de uma assinalagdo”* indireta desse visar, por meio de representa- ges das caracteristicas especificas ¢ do conceito chamar-se-assim. , Se essas consideragdes merecem confianga, segue-se que nao é bastante dis- tinguir pura ¢ simplesmente a percepcio ¢ a significagao do enunciado de percep- gio, mas é preciso reconhecer que nenhuma parte dessa significagio reside na pro- pria percepcao. £ necessirio separar completamente a percepigio que di 0 objeto, do enunciado que o pensa e 0 exprime por meio do juizo ou, conforme 0 ¢as0, por meio de “atos de pensar” entremeados na unidade do juizo, muito embora, no caso presente do juizo de percep, estejam ambos na mais intima comunho, na telagao do recobrimento, na relagao da unidade de preenchimento, 98 aneige. Sobre a assinalagio, cf. Invesigagio I, § 2. Aqui, conto, aproxima'se de Anceiche (sina esse seatido, veja também p. 29,110. 148. (N dos T.) INVESTIGAGOES LOGICAS 29 E desnecessirio mostrar detalhadamente que o mesmo resultado vale para todos 0s outros juizos de intuigao, e, portanto, para os enunciados que “expri- mem”, de modo andlogo aos juizos de percepga0, 0 contedido intuitivo de uma afiguragao, de uma lembranga, de uma expectativa, etc. Adendo, ‘Na exposigio feita no § 26 da Investigagio 1, distinguimos,®* partindo da compreensio do ouvinte, a signticasio “assinaladora” e a signficagio “assinalada” das expres- ses essencialmente ocasionais ¢ especialmente do isto. No ouvinte, em cujo horizonte momen. tineo talver nio esteja aquilo que se quer indicar, desperta a principio apenas um pensamento seral indeterminado de algo estar sendo indicado; & determinagao da indicagio, ¢ assim. a signfi- ceagio plena © propria do demonstrativo 36 se constitui para ele na representagio complementar (que @ intuitiva, quando se tratar de algo que deva ser mostrado intuitivamente). Para 0 locutor, cesta seqiléncia nio existe; ele nfo precisa da representago que indica indeterminadamente, que funcionou para o ouvinte como “assinalagio. O que a ele & dado no € a representagio da indica: so, *° mas a propria indicagio,e eo ipso ela & uma indicago dirigida de uma mancira concreta ‘mente determinada; o locutor tem, desde o inicio, a significagio “assinalada” e a tem numa ime- data intengio representativa que se orienta pela intuigio. Quando a coisa conereta no pode ser dada intutivamente, como no caso em que nos remetemos & um teorema numa demonstraga matemética, 0 pensamento conceitual correspondente assume a fungio da intuigfo: a intengio indicadora encontraria 0 seu preenchimento fundamentada na reprodusio atual daquele pensa: mento passado, Em cada um dos casos, constatamos uma certa duplieidade na intengao indica- dora: no priniiro caso, 0 cariter de indicagao esposa a intengio objetal direta, de tal sorte que ‘rota desse mado a indicagio do objeto determinado, intuido aqui e agora. O mesmo se dé no ‘outro easo. Ainda que o pensamento conceitual anterior nio seja, a rigor, atualmente realizado, ‘ermanece entretanto na lembranga uma intengio que Ihe corresponde ou gue se lig ‘ato da indicagio, fazendo com que sua diregao seja determinada. Portanto, quando falamos em significagdo assinaladora c significagSo assinalada, podemos er ‘em mente duas coisas. 1. Os dois pensamentos alternados que caracterizam a compreensio suces- siva do ouvinte: em primeiro lugar, a representagio indeterminada de um certo algo visado com 0 ‘sto, em seguida a modifieagio prod ‘complementar, 0 ato da indicagio dlirigida de modo determinado. Ness ltimo ato residiia a significaglo assinalada, eno primeiro, 8 significagao assinaladora. 2. Se nos ativermos & indicagdo acabada, orientada de modo determi: nado, que se di desde 0 inicio no locutor,entio nela propria poderemos distinguir novamente duas ‘coisas: o cardter geral de indieagio e aquilo que e determina, aquilo que Ihe impée a restrigio de Ser uma indicagio isto ai. O primeiro por sua vez pode ser designado como sigificagio assinala- dora, ou melhor, como aquilo que assinala, numa significagio inseparavelmente unitéri na medi- ‘da em que, em virtude da sua generalidade exprimivel, éo que pode ser apreendio imediatamente pelo ouvinte e o que lhe pode servir como as assinalaglo do visado. Quando digo isto, 0 ouvinte sabe, pelo menos, que algo esté sendo indicado. (O mesmo se dé no caso das outras expresses fessencialmente otasionais. Quando digo aqui, trata-se de “algo” no meu ambiente espacial mais, proximo ou mais distane; et.) Por outro lado, 0 que essa expressio visa propriamente no reside nesse algo geral,e sim na intengao direta voltada para o objeto em questo, O que se tem em vista G-le e sua plenitude de conteido, e aquelas generalidades vazins nio contribuem em nada, ou em |uase nada, para a sua determinagio. Nesse sentido, a intensdo direta€ a significagio priméria e assinalada. A definigio dada na exposigio anterior repousa sobre esst sogunda diferenga, A distingio feita aqui, juntamente com a sua exposigio mais precisa deve ter contribuido para uma clucidago ‘mais ampla dessa difculdade + Cf. investigagio lp 83.(N. do A) “© Hinweis N. oT)

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