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Estatuto da Pessoa com

Deficiência: o que é e o que


representa na luta pela Inclusão
by João Vitor Bogas Leis sobre Acessibilidade 1

A luta por uma sociedade onde todos possam usufruir de oportunidades iguais
é constante. No caso do Brasil, as pessoas com deficiência são um dos
grupos que levantam essa bandeira, e trabalham todos os dias para
assegurar o cumprimento dos seus direitos. Por um lado, isso envolve o
“trabalho de formiguinha” de quebrar as barreiras comportamentais que as
pessoas têm com relação à deficiência. Mas também demanda um movimento
organizado em busca de condições políticas e legais favoráveis à inclusão.
Esse movimento existe há bastante tempo e uma de suas maiores
conquistas foi o Estatuto da Pessoa com Deficiência – uma lei ampla que
trata da acessibilidade e da inclusão em diferentes aspectos da sociedade.
Você já deve conhecer o Estatuto pelo seu nome original: Lei Brasileira de
Inclusão. A gente tem falado bastante sobre a LBI e não é a toa. Apesar dos
avanços que a legislação trouxe, ela é só mais um capítulo na história de luta
das pessoas com deficiência. E ainda estamos longe de ver a legislação
sendo cumprida como deveria.
Vamos te contar um pouco dessa história e como o Estatuto da Pessoa com
Deficiência se encaixa nela, mostrando seus principais pontos. Fica ligado, que
no final do texto tem uma série de dicas importantes!

Desde quando se fala em Acessibilidade?


A primeira referência de peso à inclusão na legislação é bastante antiga: a
nossa Constituição de 1988. Lá estão descritos alguns dos deveres mais
básicos do Estado. Oferecer transporte acessível, uma educação especializada
no ensino regular e garantir a proteção das pessoas com deficiência, por
exemplo. A natureza genérica desses deveres foi sendo complementada
pouco a pouco com outras leis mais específicas. Mesmo assim a evolução
ocorreu a passos lentos. As regras para atendimento prioritário, por exemplo,
só foram definidas em 2000 e a Libras (Língua Brasileira de Sinais) só foi
considerada uma língua oficial do Brasil em 2002.
O grande avanço do Estatuto da Pessoa com Deficiência foi alterar outras leis
(como a CLT e o Código Eleitoral) para deixá-las em conformidade com a
Convenção Internacional da ONU. Apesar do progresso, a LBI passou pelo
mesmo problema da lei de Libras. A legislação demorou a ser criada e o
cumprimento das regras é um grande problema até hoje. A primeira versão
do texto foi apresentada no ano 2000, mas sua aprovação e publicação
ocorreram só em 2015!
No fundo, muita gente ainda não conhece a legislação e isso dificulta que ela
seja posta em prática. E entender os seus principais pontos é essencial para
mudar isso.
O que o Estatuto da Pessoa com Deficiência
aborda
Podemos dividir a LBI em três grandes partes. A primeira trata das disposições
gerais e dos direitos fundamentais das pessoas com deficiência, como
educação, transporte e saúde. Há uma série de requisitos que precisam ser
cumpridos em cada uma dessas esferas, como por exemplo:

 Acesso universal e igualitário à saúde para as pessoas com deficiência,


por meio do SUS, com informações adequadas e acessíveis sobre as
condições de saúde (Art. 18);
 Oferta de tecnologias assistivas que ampliem as habilidades dos
estudantes nas escolas (Art. 18-XII) ou auxiliem nos processos seletivos
e permanência nos cursos da rede pública e privada (Art. 30-IV);
 Acesso à educação superior e à educação profissional e tecnológica em
igualdade de oportunidades e condições com as demais pessoas (Art.
28-XIII);
 O direito ao trabalho em ambientes acessíveis e inclusivos em igualdade
de oportunidades com as demais pessoas (Art. 34).

A segunda parte fala sobre Acessibilidade e Ciência e Tecnologia, tratando


do acesso à informação e à comunicação e do uso de tecnologias assistivas.
Alguns exemplos são:

 A obrigatoriedade da acessibilidade nos sites públicos e privados de


acordo com as melhores práticas e com as diretrizes internacionais (Art.
63);
 A oferta de recursos de audiodescrição, legendagem e janela de Libras
nas produções audiovisuais (Art. 67);
 O fomento do poder público ao desenvolvimento de tecnologias
assistivas e sociais para aumentar a participação das pessoas com
deficiência na sociedade (Art 77-§ 3º).

Por fim, a terceira parte endereça o Acesso à Justiça e o que acontece com
quem infringe as demais exigências. A gente falou um pouco sobre
isso nesse post sobre as multas por descumprimento das leis de
acessibilidade. Apesar da existência de multas e outras punições, ainda há
muitas áreas que deixam a desejar no cumprimento da lei.

Um longo caminho a percorrer


Dois exemplos ilustram bem a distância entre as exigências legais de
acessibilidade e o seu cumprimento:

 A Lei Brasileira de Inclusão prevê que instituições culturais (como


museus, casas de espetáculo e cinemas) estejam acessíveis a todos os
públicos. Entretanto, como a gente explica no nosso ebook de
Acessibilidade em Museus, somente 51% dos museus nacionais
podem ser considerados acessíveis. No caso das bibliotecas públicas
o número é só 8,4%! E a meta do Ministério da Cultura é 100% até 2020
para os dois casos. Ou seja, estamos longe de atingir nossos objetivos.
 A acessibilidade digital é área que também deixa muito a
desejar. Apesar da LBI exigir acessibilidade nos sites de empresas e do
governo, um estudo recente avaliou os sites governamentais e concluiu
que 98% dos sites do governo não podem ser considerados
acessíveis.

Para tentar reverter essa situação de desconhecimento e negligência, a gente


preparou uma série de posts sobre o Estatuto da Pessoa com Deficiência! Eles
trazem mais detalhes sobre os capítulos específicos da LBI e dicas práticas
para cumprir a legislação. Você pode acessar os posts clicando nos links
abaixo:

 O que a Lei Brasileira de Inclusão diz sobre a Educação?


 Como deixar o seu site acessível, de acordo com a LBI
 As exigências do Estatuto da Pessoa com Deficiência para o Setor
Público

E para quem gosta de uma leitura mais profunda, a página de materiais da


Hand Talk (clique para acessar)tem vários ebooks sobre as exigências da LBI
para diferentes organizações. Ah! Também recomendamos que você leia
o Guia da LBI da Mara Gabrilli ou veja a versão acessível em Libras do
documento.

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