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O conteúdo deste tópico foi retirado do artigo “O sistema de garantia dos direitos de crianças e

adolescentes” de Graça Gadelha, Eliane Bispo e Fernando Luz.

O texto possui adaptações realizadas por Daniela de Macedo B.R.T. de Sousa, para a adequação
do material à temática proposta.

Parte 2

Estrutura e atores do Sistema de Garantia de Direitos

O ECA se propõe a construir um Sistema de Garantia de Direitos (SGD). Sistema, aqui,


entendido como um conjunto ordenado de atores e instituições responsáveis pela garantia dos
direitos de crianças e adolescentes previstos em lei.

Com o Sistema de Garantia de Direitos são definidos papéis, limites, responsabilidades e


competências em diferentes níveis e âmbitos.

Essas definições estão delineadas no artigo 86 do ECA, que trata da política de


atendimento de crianças e adolescentes.

Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á


através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais,
da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.

Nesse dispositivo e nos seguintes, encontra-se o conjunto de atribuições para cada um dos
atores que compõem o SGD, construído exatamente para que haja uma dinâmica na aplicação
dos instrumentos e uma total interação dos atores.

Conforme visto, o ECA organiza as ações para a garantia dos direitos das crianças e
adolescentes por meio do Sistema de Garantia de Direitos.
O SGD pressupõe, portanto, a ação de vários órgãos ou instituições de forma
integrada.

Para desenhar melhor a atuação desses órgãos ou instituições, o ECA os distribuiu em


três eixos:

a) promoção;

b) defesa;

c) controle.

1. Eixo Promoção

O eixo da promoção ou atendimento caracteriza-se pelo desenvolvimento da "política de


atendimento dos direitos da criança e do adolescente” e subdivide-se em três tipos de programas,
serviços e ações públicas:

I – serviços e programas das políticas públicas, especialmente das políticas sociais, afetos aos
fins da política de atendimento dos direitos de crianças e adolescentes;

II – serviços e programas de execução de medidas de proteção de direitos humanos;

III – serviços e programas de execução de medidas socioeducativas e assemelhadas.

O eixo promoção ou atendimento caracteriza-se pelos serviços oferecidos nas seguintes


áreas:

a) Assistência Social:

O Centro de Referência de Assistência Social (Cras) atua como a principal porta de


entrada do Sistema Único de Assistência Social (Suas), e é responsável pela organização e
oferta de serviços da Proteção Social Básica nas áreas de vulnerabilidade e risco social.

O principal serviço ofertado pelo Cras é o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à


Família (Paif).

O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) oferta serviços


especializados e continuados a famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação de
direitos (violência física, psicológica e sexual, tráfico de pessoas, cumprimento de medidas
socioeducativas em meio aberto, etc).

A oferta de atenção especializada e continuada deve ter como foco a família e a situação
vivenciada.
b) Saúde:

O Sistema Único de Saúde (SUS) abrange desde o simples atendimento ambulatorial até
o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do
país.

O SUS compõe-se de diferentes estruturas, destacando-se: Programa Saúde da Família


(PSF); Postos de Saúde; Unidades de Pronto Atendimento ou Pronto-Socorro; Hospitais; Centros
de Atenção Psicossocial (Caps).

c) Educação

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizam, em regime de


colaboração, os respectivos sistemas de ensino.

A educação escolar compõe-se de Educação Básica (formada pela Educação Infantil,


Ensino Fundamental e Ensino Médio) e Educação Superior.

A Educação Básica é formada:

- pela Educação Infantil, que abrange as creches e pré-escolas (0 a 5 anos de idade);

- pelo Ensino Fundamental, que vai do 1º ao 9º ano; e

- pelo Ensino Médio, que vai do 1º ao 3º ano.

Há, ainda, a Educação Profissional Técnica de Nível Médio, a Educação de Jovens e


Adultos, a Educação Profissional e Tecnológica e a Educação Superior.

d) Serviços de Atendimento Socioeducativo

Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente pode aplicar ao


adolescente as seguintes medidas previstas no artigo 112 do Estatuto:

I – advertência;

II – obrigação de reparar o dano;

III – prestação de serviços à comunidade;

IV – liberdade assistida;

V – inserção em regime de semiliberdade;

VI – internação em estabelecimento educacional;

VII – qualquer uma das previstas no ECA, art. 101, incisos de I a VI.
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente
poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao
adolescente;
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou
ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a
alcoólatras e toxicômanos;

As medidas socioeducativas em meio aberto (III e IV) são executadas em âmbito


Municipal, enquanto as medidas de inserção em regime de semiliberdade e internação em
estabelecimento educacional (V e VI) são executadas em âmbito Estadual.

e) Serviços de Acolhimento Institucional

O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e


excepcionais, utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta
possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade.

2. Eixo Defesa

O eixo defesa ou responsabilização dos direitos de crianças e adolescentes caracteriza-


se pela garantia do acesso à Justiça, ou seja, pelo recurso às instâncias públicas e mecanismos
jurídicos de proteção legal dos direitos humanos, gerais e especiais, da infância e da
adolescência.

O eixo defesa compõe-se, prioritariamente, das seguintes instituições:

a) Conselho Tutelar – Segundo o artigo 132 do ECA, em cada Município e em cada Região
Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar composto de 5
(cinco) membros, escolhidos pela comunidade local.

Ao Conselho Tutelar compete acolher, denunciar, averiguar, encaminhar e orientar todos os


casos de violação dos direitos da criança e do adolescente e requisitar serviços públicos nas
áreas de saúde, educação, assistência social, previdência, trabalho e segurança.

O Conselho Tutelar deve ser acionado sempre que houver ameaça ou risco ou quando a
violência já aconteceu.
b) Segurança Pública – Responsáveis pela vigilância, prevenção e proteção das vítimas contra
qualquer tipo de violência, bem como pela investigação e encaminhamento dos adolescentes
em conflito com a lei.

Destacam-se, no âmbito da Segurança Pública, Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal e
Polícia Rodoviária Federal.

c) Defensoria Pública – Presta assistência judiciária gratuita, por meio de Defensor Público ou
Advogado nomeado, assegurando o acesso à Justiça e garantindo a proteção dos direitos
fundamentais das crianças e dos adolescentes e, mais especificamente, dos adolescentes em
conflito com a lei.

d) Justiça – especialmente as Varas da Infância e da Juventude e suas equipes


multiprofissionais, as Varas Criminais Especializadas, os Tribunais de Justiça, as Comissões
Judiciais de Adoção e as Corregedorias Gerais de Justiça.

e) Ministério Público – especialmente as Promotorias de Justiça, os centros de apoio


operacional, as Procuradorias de Justiça, as Procuradorias Gerais de Justiça, as Corregedorias
Gerais do Ministério Público.

f) Ouvidoria – Trata-se de espaço onde o cidadão pode manifestar suas críticas, dar sugestões,
fazer reclamações e denúncias, pedir informações quanto aos serviços prestados por algum
órgão público ou privado etc.

g) Centros de Defesa – São entidades de promoção e defesa de direitos de crianças e


adolescentes pela intervenção jurídico-social, por meio da articulação, mobilização e
participação no controle social, para a garantia de sua proteção integral.

Essa proteção jurídico-social se dá mediante intervenções jurídico-judiciais, intervenções


administrativas e intervenções legislativas, focando, principalmente, nas violações de direitos
cometidas pela ação ou omissão do Poder Público.

3. Eixo Controle

O controle ou vigilância das ações públicas de promoção e defesa dos direitos da criança
e do adolescente se dará por meio de espaços de discussão coletiva, onde estejam presentes
órgãos governamentais e entidades sociais.
Várias instâncias fazem parte desse eixo, destacando-se:

a) Conselhos de Direitos

Nesse caso, o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho


Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, que atuam também no eixo promoção.

Os conselhos de direitos são responsáveis pela deliberação e controle das ações voltadas
para a efetivação dos direitos de crianças e adolescentes nos Estados e nos Municípios.

Em nível federal, também há o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente


(Conanda).

Os conselhos de direitos da criança e do adolescente devem acompanhar, avaliar e monitorar


as ações públicas de promoção e defesa de direitos de crianças e adolescentes, deliberando
previamente a respeito, por meio de normas, recomendações e orientações.

As deliberações dos conselhos de direitos da criança e do adolescente, no âmbito de suas


atribuições e competências, devem ser observadas pelos órgãos governamentais e pela
sociedade civil organizada.

b) Conselhos setoriais

São conselhos de formulação e controle de políticas públicas. Dentre eles, destacam-se:


Conselho Municipal de Assistência Social, Conselho Municipal de Saúde, Conselho Municipal
de Educação, Conselho Municipal de Juventude, etc.

Os conselhos setoriais são órgãos que reúnem representantes do governo e da sociedade civil
para discutir, estabelecer normas e fiscalizar a prestação de serviços públicos e privados no
Município.

c) Tribunais de Contas dos Estados e Municípios.

Os Tribunais de Contas exercem jurisdição administrativa, julgando as contas dos


administradores de recursos públicos. Auxiliam os parlamentares (deputados e vereadores) na
fiscalização das entidades da Administração Pública (Governo do Estado e Prefeitura).

Essa atividade é denominada controle externo.

Importante ressaltar que os eixos promoção (ou atendimento), defesa (ou


responsabilização) e controle (ou vigilância) atuam em diferentes instâncias de efetivação dos
direitos.
A população dispõe ainda de outros instrumentos jurídicos que podem ser utilizados para a
busca de efetivação de direitos de crianças e adolescentes, como as ações civis públicas, os
mandados de segurança, os habeas corpus, etc.

Nesse sentido, reitera-se a necessidade de que as pessoas integrantes do Sistema de


Garantia de Direitos (SGD) possam, cada vez mais, compreender a importância de uma ação
articulada.

Somente com essa articulação e o seu fortalecimento será possível pensar na construção
de uma sociedade que se quer cada vez mais justa e saudável.

O ECA tem, portanto, regras claras e bem definidas para a articulação do Sistema de
Garantia de Direitos.

Mas uma lei só se legitima quando os cidadãos denunciam ou provocam ações que
possam fazer desencadear uma reação daqueles que legalmente devem restaurar direitos.

É importante compreender que não só o Poder Público, o Poder Judiciário, o Ministério


Público ou a Defensoria Pública devem assegurar a plena cidadania de crianças e adolescentes.

Essa é uma tarefa que cabe a toda a sociedade brasileira, principalmente àqueles que
acreditam na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Chegamos, agora, ao fim da apresentação sobre a Estrutura e os Atores do SGD.

Muitas informações complementares ainda poderão ser acrescentadas à sua formação,


por isso, continue pesquisando sobre as atribuições e responsabilidades dos atores e,
principalmente, sobre as alternativas para o fortalecimento da rede e da articulação do Sistema de
Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes.

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