Foi num circo de rodeio, Na chegada dos peões Que vieram pro torneio. Soltaram tanto foguete, Que fizer’um bombardeio, Na hora da montaria, Que o negócio ficou feio. Soltar’um burro famoso Que nem sei de onde veio. Era só sentar no lombo Cada pulo, era um tombo. Ninguém esquentou o arreio.
Surgiu um moço granfino
Do meio da multidão. Pelo traje eu vi que era Um homem de posição. Cabelos bem penteados E roupa de exportação. As unhas tod’esmaltadas E anel de ouro na mão. Pra montar naquele burro Foi pedindo permissão. “Pode ser que eu também caio, Mas pretendo dar trabalho Pra fama desse burrão.”
Os "peão" que beijou a terra – Os “peão” que o chão beijaram
Falaram com precisão: “Os granfinos da cidade, Quando quer bancá o peão, Não para nem amarrado No lombo de um pagão. Se esse granfino montar, Pode preparar o caixão. O burro tirou do lombo Barbado da profissão: Não foi um e nem foi dois. Vamos ver o pó de arroz Bater a cara no chão.”
O granfino entrou na arena,
Calçou a espora de prata, Jogou o paletó na cerca E apertou bem a reata. Sentou no lombo do burro, Bambeou o nó da gravata, Cortou o burro na espora E foi batendo de chibata. O burrão caiu de costas, Levantou as quatro patas. O moço saltou de lado E o burro ficou deitado, Entregue para as baratas.
Ganhou aplausos do povo,
Ganhou beijo das meninas O granfino contou a vida Bebendo numa cantina. “Eu já fui peão de fama Lá no estado de Minas. O dinheiro do papai Que mudou a minha sina. Eu tenho na minha casa Diploma de medicina. Tô morando na cidade, Mas sinto grande saudade, Que até hoje me domina.”