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Peão da Cidade - Jacó e Jacozinho

Eu vi com meus próprios olhos,


Foi num circo de rodeio,
Na chegada dos peões
Que vieram pro torneio.
Soltaram tanto foguete,
Que fizer’um bombardeio,
Na hora da montaria,
Que o negócio ficou feio.
Soltar’um burro famoso
Que nem sei de onde veio.
Era só sentar no lombo
Cada pulo, era um tombo.
Ninguém esquentou o arreio.

Surgiu um moço granfino


Do meio da multidão.
Pelo traje eu vi que era
Um homem de posição.
Cabelos bem penteados
E roupa de exportação.
As unhas tod’esmaltadas
E anel de ouro na mão.
Pra montar naquele burro
Foi pedindo permissão.
“Pode ser que eu também caio,
Mas pretendo dar trabalho
Pra fama desse burrão.”

Os "peão" que beijou a terra – Os “peão” que o chão beijaram


Falaram com precisão:
“Os granfinos da cidade,
Quando quer bancá o peão,
Não para nem amarrado
No lombo de um pagão.
Se esse granfino montar,
Pode preparar o caixão.
O burro tirou do lombo
Barbado da profissão:
Não foi um e nem foi dois.
Vamos ver o pó de arroz
Bater a cara no chão.”

O granfino entrou na arena,


Calçou a espora de prata,
Jogou o paletó na cerca
E apertou bem a reata.
Sentou no lombo do burro,
Bambeou o nó da gravata,
Cortou o burro na espora
E foi batendo de chibata.
O burrão caiu de costas,
Levantou as quatro patas.
O moço saltou de lado
E o burro ficou deitado,
Entregue para as baratas.

Ganhou aplausos do povo,


Ganhou beijo das meninas
O granfino contou a vida
Bebendo numa cantina.
“Eu já fui peão de fama
Lá no estado de Minas.
O dinheiro do papai
Que mudou a minha sina.
Eu tenho na minha casa
Diploma de medicina.
Tô morando na cidade,
Mas sinto grande saudade,
Que até hoje me domina.”

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