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= COLEGAO PSICOLOGIA EM FOCO (foal do sro 19 pees un en crise rua de paradigms. Coma falc domo: aki ecco tradicional e com asupresto de toda ¢ qulgucr possbkade de saga de andra rao univer uma sf elemento en th err pao concent ¢« spreeno peda arn por cron Note Sita 6s cial + comce, Uales orale a perder aa obvidade pasar moar como panies de sre clots em quo (Com i, extacla ea concede exten ape he ¢ corte pasta a devepenba ut papa entra em too um conto de sfeder etermnats par © fn de or dope ‘mento cootenpekne,Pensadoe com Pich Niche, Soren Kiser Wiel. Die, Marin Heeger Karlee so peas gue csemploe da esl cen deve Oa taper carter ase do une ede pear ports doe leat inpamescosiios do proprio existir, da existéncia em sua materialidade ‘singular. Tais dilemas ¢ impasses, contudo, nao permaneceram restritos a0 campo da flosofia € da ‘eoria do conhecimento, mas se estenderam muito eats Fae ce ee ee ine ‘ho mesmo tempo, como a psicologia moderna se instal como ial jutuent apart de wma gs exec coma meal oder © oon certos transtor- fado por Medard homem em um fia técnica. Estas, Martin Heideg- psiquiatria, pri- continuidade € Ho apresentados j¢io mais recente ytura, a auséncia logia hermenéu- leno. Retomando sm uma coorigi- Idiscutidas como Jaremos, por fim, no conscienti- que, ao contré- 0 outro a tutela jesde o principio 1a clinica a0 bertura para que DA CONSCIENCIA INTENCIONAL EM HUSSERL ‘A DESCONSTRUGAO DA SUBJETIVIDADE MODERNA EM HEIDEGGER Husserl é sem davida alguma um autor que rompe com 2 idéia de um psiquismo constituido ou origindrio. Ao eriticar 0 psicologismo, ele nao apenas tece consideraveis criticas @ ten- tativa de posicionar 0 objeto da psicologia como constituide psicofisicamente, mas também elabora propostas para pensar a psicologia por via da fenomenologia. Nessa elaboragio, acaba por introduzir a nogao de intencionalidade e 0 método fenome- nol6gico como modo de alcangar o fendmeno prescindindo de qualquer teoria. Heidegger, na construgio de sua ontologia fe- nomenolégica, considera de inicio duas posicées introduzidas por Husserk o carter intencional da existéncia e a atitude an- tinatural como modo de investigagao necessério para dar conta do fendmeno do existir. Podemos observar, entretanto, algumas modificagbes introduzidas por Heidegger no desenrolar de seu projeto em relagdo a Husserl. Ele aponta primeiramente para ‘uma tiltima ingenuidade de Husserl, que consiste no fato de ele ter mantido uma perspectiva natural com relagdo 4 consciéncia. Heidegger, por isso, retira a idéia de consciéncia, mantendo ape- 25 nas a intencionalidade como o espaco onde a existéncia aconte- ce, Dasein. 0 filésofo do Dasein acrescenta ainda a fenomeno- logia o carter hermenéutico de toda e qualquer interpretacdo, a ligagdo origindria entre o ser do homem e o espago existencial no qual se do seu ser. Com isso, Heidegger abarca em sua feno- ‘menologia hermenéutica uma reflexio de fundo sobre a relagdo entre existéncia e mundo, entre o ser-ai ¢ 0 seu ai que é decisiva para.a psicologia. Bem, mas explicitemos um pouco mais as con- tribuigdes de Husserl e Heidegger para a psicologia. 1.1, Husserl ea fenomenologia Husserl defende que o lugar onde a filosofia deve permane- cer € 0 do projeto moderno, ou seja, na vontade de se constituir ‘como ciéncia rigorosa. O projeto husserliano de uma funda- mentacao rigorosa da filosofia, que serviria de base a toda uma fundamentagao da ciéncia, segue na mesma linha do projeto cartesiano, no que se refere & sistematica do método, Husserl, no entanto, tenta se desviar da perspectiva da subjetividade nu- clear e posicionadora do mundo de Descartes rumo a uma via imanente da conscigncia, via essa a que ele vai referir-se como intencionalidade. O filésofo fundador propriamente dito da fe- nomenologia vai considerar a intencionalidade o elemento mais original a partir do qual tudo se dé a conhecer. A fenomenologia, tal como elaborada por Husserl, prope um método que consis- te em, uma vez frente ao fendmeno, poder assumir uma atitude analitica e reflexiva para chegar as coisas em sua dagao origins ria, Ble pretende com seu método antinatural elucidar o sentido intimo das coisas. Por meio do método fenomenolégico, em um constante esforgo de suspensio das pressuposigdes, assumindo ‘uma atitude de andlise e reflexio, é que Husserl vai investigar a consciéncia. Assim, ele acaba concluindo que o eu consiste em ‘GE quanto a este ponto Casanova (2008). 26 uma sintese de vivéncias que nao possui nenhuma unidade es- tatica, mas que acompanha, a0 contririo, a propria dinamica do ‘luxo vivencial no tempo. Essa sintese em fluxo sempre acontece, por sua vez, em um espaco de imanéncia, Mas cabe perguntar por que € preciso buscar em Husser! consideragbes acerca da psicologia? Segundo Sé (2010, p. 177): “as relages entre a Fenomenologia e a Psicologia aparecem no pensamento de Husserl, ja desde suas primeiras criticas ao ‘psi- cologismo’ nas Investigagdes légicas, de 1900” 1.11 Posigdo critica em relagao a Psicologia moderna Husserl, em diferentes momentos de sua produgio, tece consideriveis criticas & psicologia. Em A crise da humanidade européia ¢ afilosofia, publicado em 1922, Husserl pretende apon- tar para o impasse no qual se encontram as ciéncias européias, para além do aparente vigor e progresso por elas apresentados. Esse impasse diz respeito & repentina perda da capacidade da ci- éncia de responder ao problema da existéncia. E este alerta cabe também para a ciéncia psicol6gica. Ele volta, entio, a chamar a atengio para a urgéncia e a necessidade de que se fagam refor- ‘mulagdes quanto aos pressupostos da psicologia moderna. Com isto, ele se refere ao mesmo tempo ao despropésito de se pensar 0 psiquismo em termos de objetividade e ressalta a importancia do valor pritico dessa ciéncia, embora seus conhecimentos estejam aquém daquilo que poderia ser. Ema Filosofia como ciéncia rigorosa, texto publicado pela pri- meira vez em 1910/11, Husserllevanta considerdveis argumentos contrarios a Psicologia em sua articulagao com o método experi- ‘mental, Primeiramente, le refere-se ao equivoco que essa ciéncia comete ao se posicionar com a pretensio de cientificidade plena. Em segundo lugar, aponta para a importancia que a psicologia atribuia A mensuragio indireta dos fendmenos psiquicos, acredi tando que 0 acesso ao psiquico se dava por deducio ou inferéncia. a E, em terceiro lugar, diz que a psicologia atribui ao seu objeto uma natureza psicofisica, com uma determinagao objetivamente valida com leis que determinam a sua formasio e transformacio. Husserl considera que, se a filosofia tanto quanto a psico- logia pretendem alcangar argumentos decisivos para a sua cons- tituigdo, elas deverdo proceder antes de tudo com base em um comportamento metodolégico precedente, originario, que seja ccapaz de suplantar as inconsisténcias oriundas de suas assungées te6rico-dogmiticas, Para tanto, ele indica a importancia de sus- pendermos os posicionamentos ontolégicos do mundo, ou seja, 08 argumentos e pressuposigdes metafisicos, sejam eles as opini- 6es compartilhadas e prévias sobre os objetos, sejam eles as teses cientificas, passando a refletir sobre a vida da prépria conscién- cia em sua dindmica imanente. Para esclarecer 0 que esta ai em ‘questo, ele se refere as duas visadas sobre os fenémenos que se estabelecem a partir da assungao incontornavel de posicées pré- vias, Sio clas a visada do senso comum ea cientifica. A primeira acontece de modo confuso, ambigua e abscuro.O senso comum confunde-se aqui com 0 que o fildsofo denominou atitude natu- rale ingénua, uma vez que tende a tomar como verdade aquilo que é visto imediatamente ou aquilo que é comprovado empiri- camente. A segunda, em uma tentativa de clarificar e tornar ob- jetiva a visada do senso comum, pressupde que 0 eu se da como uma substancia passivel de ter suas verdades confirmadas, de modo objetivado ¢ com propriedades, isto é, como uma substin- cia fechada em si mesma que se constitui dicotomicamente em relacio ao mundo, Esta dicotomia acaba se estendendo a ideia de um corpo e de um psiquismo cujo encontro se dé em uma relagio regulada por leis universais. Husserl aponta também para as caracteristicas em comum dessas duas visadas, nas quais, permanece o dualismo corpo e mente. Corpo e mente tendem a principio a ser concebidos como duas instancias independentes eacessiveis de forma empirica e passivel de mensuragio, poden- do ser descritas nas suas determinagdes causais. Caberia, deste 28 modo, perguntar sobre as suas qualidades, suas relagdes cau- sais e numéricas, tal como aconteceu com a psicologia. Por fim, Husserl apresenta o naturalismo do comportamento cientifico ea desconsideragio da esséncia dos fenémenos de consciéncia. Segundo ele, nesta perspectiva, 0s objetos sio supostos como da- dos em seu ser e permanentes na sua identidade constante, suas ‘qualidades sio determinadas quantitativamente ¢ confirmadas ‘ou corrigidas por novas experiéncias. ‘Husserl propde que, frente ao fendmeno, possamos assumir ‘uma atitude antinatural prépria a fenomenologia. S6 assim seria possivel alcangar uma visada realmente rigorosa nio comprome- tida coma postura ingénua inconsistente, uma vez que essa sem- pre se deixa levar pela opiniao, jé marcada por um modo de ver presente no senso comum e na ciéncia. Nessa atitude antinatural, como bem o descreve Husserl no § 3 da introducao a sua Primei- ra Investigagao logica, “ao invés de imergirmos na realizacao de atos multiplamente construidos uns sobre os outros e, com isto, de pressupormos ingenuamente como sendo os objetos visados em seu sentido, determinando-os ou estabelecendo-os hipote- ticamente, devemos antes ‘refletr, isto é, transformar esses atos € 0 seu contetido imanente de sentido em objetos” (2007, p.14), acompanhando, entao, o caréter intencional de sua realizagio. ‘A Fenomenologia, com seu lema fundamental “rumo as ‘coisas mesmas’, pretende superar todas as tendéncias metafisi- ‘cas que criam teorias acerca dos entes, esquecendo-se do sentido originario do campo de génese fenomenolégica do ser. A orien- tacio fenomenolégica exige que se saia do campo empirico, que posiciona os objetos no espaco e no tempo. Com isto, ele procura necessariamente deixar o campo emergir num gesto nio teori- zante. Para tanto, & preciso que, uma vez diante do fendmeno, se <4& um passo atrés e se retorne ao ponto de surgimento do corre- lato cooriginario dos atos de consciéncia em geral. Husserl propée, em suma, o abandono da atitude natural e aassungao de uma atitude antinatural pautada por aquilo que ele 2» posteriormente chamaré de epoché ~ a suspensio desta atitude natural. O que ele nos ensina & que precisamos deixar de tomar a verdade com referenciais ¢ categorias hipostasiantes, como se as coisas fossem estruturadas naturalmente, dando a falsa idéia de que se pode conhecer a verdade para além de toda e qualquer aparigao dos fendmenos. Assim, a Fenomenologia opée-se frontalmente & visada te- “rica, j& que esta forma de se colocar frente ao fendmeno produz inexoravelmente uma hipostasia, realista ou idealista, do univer- sal, Esta atitude frente 20 que se apresenta é denominada por Husserl atitude ingénua ou natural, o que significa dizer que, com essa atitude, toma-se a natureza que se pretende investigar como simplesmente existindo com sentidos e determinagdes previamente dados ¢ acessiveis para a teoria em questao ou até ‘mesmo para o senso comum, Ea superagao da ingenuidade ou da atitude natural dos tedricos ocorre quando Husserl descorti- nna a natureza intencional dos fendmenos psiquicos. que nos interessa nesse contexto, por sua vez, é apontar para a relevancia dessa posicéo para uma psicologia com bases fenomenologica. 1.1.2. A consciéncia Intencional Husserl considera desde as suas primeiras obras o cariter intencional dos fendmenos psiquicos. Ele se refere claramente as relagbes imanentes da subjetividade ou da consciéncia pura, ou seja, fenomenologicamente reduzidas, diferenciando-as, assim, dos fenémenos materiais em jogo em uma consciéncia empirica, ra qual se pressupOe que essa seja constituida por propriedades por uma essencialidade especifica. Em Investigagdes ldgicas (Husserl, 1900/2007), obra decisi- vva para a fundacdo e compreensio do método fenomenolégico, Husserl vai tematizar a intencionalidade a partir da superagio das vvertentes tradicionais e modernas, com seus pressupostos de que ‘© psiquismo teria sentidos e determinagdes dadas. Aqui encon- 30 tramos a transformagio radical produzida pela fenomenologia na investigagao em Psicologia. A proposta fenomenoligica nao s6 vai permitir transformar completamente 0 sentido da nogio de fenémeno psiquico, como também vai modificar a postura que © investigador dos fendmenos psiquicos ir tomar frente a este fendmeno, Bem, mas o que isto significa mais propriamente? Para Husserl (2007), a psicologia, de modo geral, em seu posicionamento empirico, desconsidera o cariter originario do psiquismo, uma vez que parte de uma predicagao do homem, jé pretendendo saber aprioristicamente, antes de qualquer inves- tigagio, aquilo que homem é, ou seja, 0 fato de ele ser dotado de psiquismo, Para a fenomenologia de Husserl, o psiquismo indo possui nenhuma determina¢ao prévia, nem mesmo um eu substancial. A consciéncia 6, para este filésofo, transcendente, nunca se retém em si mesma, mas se vé projetada por seus pr6~ prios atos para o campo dos objetos correlatos. Na medida em ‘que a consciéncia se realiza por meio de seus atos, ela sempre transcende 0 campo de realizagio desses atos. E é nesta linha ue Husserl vai proceder a sua Investigacao da consciéncia i tencional. Ele se desloca da tendéncia para a dicotomizacéo que predominou em toda a Modernidade, na qual a consciéncia ‘ocupa um espaco dado, uma sede na interioridade (Descartes), tna qual a consciéncia se constitui por aderéncia a uma subjeti- vidade transcendental (Kant) ou, ainda, na qual se procura re- solver o problema da dicotomia, defendendo que nada hé senio 4 subjetividade em sua dindmica de auto-objetivagio (Hegel). Husserl entende que a fenomenologia, embora seja uma cién- ‘la da consciéncia, nao € psicologia tal como essa é entendida ‘em uma versio psicofisica. A esta ciéncia importa a consciéncia ‘empirica, algo que existe de modo natural; jé a fenomenologia Importa a consciéncia empiricamente reduzida, sindnimo de “na consciéncia fenomenolégica. Ele defende que a psicologia ‘deveria também pensar na consciéncia como intencionalidade. fio que ele mesmo nos diz em uma passagem de seu escrito so- 31 bre a Filosofia como ciéncia rigorosa: “Se assim estiver certo, re- sultaria dai a psicologia estar mais chegada a filosofia por meio da Fenomenologia’ (2007, p. 19). 1.1.3. A concepgao do eu Husserl rompe com a idéia de que o eu se institui como ‘uma interioridade e de que, assim, se afasta a principio do mun- do de modo a posicioné-lo. Assume, entio, a concepgao de Pessoa como sintese em fluxo de vivéncias. O seu intuito com essa concepgio é escapar completamente de toda e qualquer hipostasia em relagio ao ser dos objetos, assim como de toda coisificagao do eu que obscurecesse o seu cariter intencional, ‘Tanto o realismo, quanto o idealismo partem de uma hiposta- sia em relagao ao ser dos objetos e caem, exatamente por isto, em aporias incessantes. No ingenuismo dos pensadores iniciais, ocorria a tentativa de se langar para além da posigio inicial do ewe de encontrar o ente tal como ele é nele mesmo. Surgia, com isto, o problema do acesso. Como acessar 0 em si, sem conta- miné-lo a0 mesmo tempo com as particularidades do sujeito. Nos pensadores modernos, por outro lado, a tentativa era a de encontrar um si mesmo dos entes em meio & prépria estrutura a subjetividade. Nao se consegue, porém, escapar da suspeita de que, em meio a redugao de tudo as concepcies do sujeito, tudo nao passe de ilusdo, Nestas duas perspectivas, o eu se en- contra em um lugar onde se inicia 0 processo de rearticulagdo com os universais. Essa posigdo repercute diretamente sobre 0 ‘modelo te6rico tradicional, porque toda e qualquer teoria parte de pressupostos ontol6gicos que jamais podem ser alcangados de maneira cientificamente rigorosa e porque a articulagio da teoria com a subjetividade nao representa sendo uma variante especifica desse problema. eu fenomenolégico, por sua vez, exige que consideremos, © fato de a universalidade se constituir no interior mesmo dos 32 atos intencionais; logo, se 0s atos intencionais fossem suspensos, a universalidade desapareceria. Esse eu alcanga em Husserl um cariter dindmico, que se baseia exclusivamente em suas viven- cias fiticas, reais. O eu vem & tona, entdo, em meio a imersio em sua esséncia performética, como fluxo que reatualiza cons- tantemente o presente, o pasado e o futuro em uma sintese de vivéncias que incluem lembrangas, percepgdes € expectativas. Essas vivéncias intencionais, por mais que nascam com cada ato intencional particular, possuem, contudo, contetido significativo ideal, uma ver que nao sao posicionadas pela subjetividade, mas concretizam em si mesmas o sentido de uma intengao significa tiva. Com a nogao de intencionalidade, portanto, escapa-se das articulagdes metafisicas a partir da fenomenologia e encontram- se possibilidades outras de se tratar o fendmeno psiquico, sem perder a possibilidade de se falar em sentidos e significados pst- quicos de maneira rigorosa A Fenomenologia de Husserl, embora se proponha a pen- sar em outras bases a constituigao propriamente dita da psico- logia, ou seja, para além da consideragio da psicologia como uma espécie de epifendmeno da fisiologia, tal como pretendida pela psicofisiologia, também nos parece, porém, em iiltima ins- tncia invidvel, pois se desvia por demais na busca de uma base transcendental para a experiéncia fenomenoldgica. Como tal, la mesma acaba se construindo a partir de uma intuigdo que nao faz jus ao caréter mundano do existit humano. A psicolo. ‘gia ndo pode prescindir do fitico, da existéncia, enfim do lugar ‘onde a vida acontece, o mundo. Por esse motivo, 0 nosso proj to de psicologia e sua pratica clinica tomam na sua constituigio a hermenéutica-fenomenoldgica de Heidegger como horizonte cessencial de realizado. Essa parece apontar para elementos que, ‘como veremos a frente, possibilitam a edificagio de uma Psicolo- ‘gia Fenomenolégico-Existencial em dois aspectos fundamentais: ‘em primeiro lugar, 0 eu como transcendente, fluxo temporal; em segundo lugar, a destruigo do eu em meio a intencionalidade de 33 base ser-ai/mundo, Para elaborar uma proposta para uma clinica psicoligica que nao se valha do pressuposto do psiquico trata- remos dos fundamentos em Heidegger, considerando antes de tudo a sua inspiracdo em HusserL 1.2, Heidegger e a desconstrugao da subjetividade moderna Tniciaremos por esclarecer que interpretar a ontologia fun- damental de Heidegger como uma filosofia da subjetividade seria uum evidente equivoco, jé que ele mesmo pretendia destruir a no- ‘io de subjetividade a partir da demonstragao do cariter origina rio da estrutura ser-no-mundo, O interesse de Heidegger nao re- cai na ideia de sujeito: nem do sujeito nuclear cartesiano, nem do sujeito aderente de Kant e nem tampouco do sujeito dinimico de Husserk e isso justamente porque todas essas posi¢des subjetivas desconsideram a intencionalidade de base set-no-mundo, tanto quanto a impossibilidade de pensar para além dessa intenciona- lidade, A tarefa da ontologia fundamental tal como proposta por Heidegger consiste em buscar o sentido do ser, partindo do ser-ai ‘como 0 lugar no qual acontece historicamente tal sentido. Esse lugar baseia-se, por sua vez, no ai, no mundo e na inseparabi- lidade homem-mundo; portanto, néo possui nenhuma determi- ‘ago que se associe essencialmente a ele, justamente porque a sua tinica determinagao consiste no caréter do poder-ser, sempre atravessado pelo horizonte histérico em que se encontra. (© pensamento de Heidegger é uma tentativa de desobje- tificagio da existéncia humana. E, assim, pretende mostrar que o saber metafisico, cientifico e tecnolégico é derivado e ao mes- ‘mo tempo encobre o fenémeno mais originario que se encontra na génese do ser-ai, E deste modo, entéo, que iremos caminhar para podermos pensar em uma psicologia sem objeto, sem subs- ‘ancia, enfim sem eu e sem psiquismo. Indo além, acreditamos ainda que toda e qualquer formulagio tedrica em psicologia acaba por encobrir aquilo que & mais origindrio na existéncia. 34 ara pensar esse cardter mais originario do ser-af, vamos iniciar (© nosso estudo com 0 modo segundo 0 qual Heidegger, em Ser «¢ fempo (1988), j4 nos traz.a possibilidade de subtrair o eu subs- tancializado e de tomé-lo antes como pura abertura dinamica, ‘Vejamos, entao. Em Ser e tempo (1927/1988) encontramos pela primeira vez um didlogo entre a Fenomenologia hermeneutica e as cién- cias Onticas, em meio a discussio do projeto de uma ontologia fundamental. Nesse projeto, Heidegger pretende levantar a per- gunta acerca das condiges de possibilidade das ontologias, ow seja, da propria Filosofia e, para tanto, dirige-se ao ente que pode perguntar por algo assim como ser. O filésofo alemao parte da analitica existencial, que envolve elementos da tradigdo fenome- nolégica ¢ hermenéutica, assumindo para a sua descrigio uma atitude antinatural. Essa atitude, tal como postulada por Husserl, ‘consiste em uma supressio ou superagao da tendéncia, presente tanto na vertente tradicional como na moderna, de pressupor que os sentidos e as determinagdes sao dados pelas préprias coi- sas ~ no caso em questdo, 0 sujeito, Heidegger nos mostra, entio, ‘em que medida se deve deixar de tomar a verdade com referen- ciais e categorias, como se as coisas fossem estruturadas natu- ralmente, A analitica do ser-ai consiste, portanto, na descrigéo interpretativa das estruturas ontolégicas fundamentais do existir humano, explicitando a historicidade do sentido da existéncia em sua dimensao mais originéria. 1.2.1. A estrutura do ser-at ‘Uma psicologia sem psiquismo requer que se tome a nogio de ser-ai, tal como elaborada por Heidegger em Ser e tempo, em. particular no paragrafo 9. Nesse trecho, a partir da estrutura on- toldgica origindria do poder-ser do ser-ai, Heidegger inicia com 1 exposigao da expressio de sua singularidade maxima, qual seja: “o ser-ai é sempre a cada ver meu’ Ser sempre a cada vez 35 ‘meu é algo que aponta para o fato de o Dasein ser a cada ver sua Possibilidade, um ente que pode, em seu ser, escolher-se e, exata- mente por isto, também perder-se e voltar a conquistar-se. Antes de realizar uma de suas possibilidades existenciais, 0 ser-ai no é nada, Ele nao possui determinagdes essenciais. Desta forma, 0 ser-ai nio pode ser tema de um discurso teérico especifico, nao pode ser explicado por determinagdes, nao tem propriedades ge- neralizaveis e nio pode, por conseguinte, ser acessado por meio de universalizacio, Daf a necessidade de falarmos de uma psico- Jogia sem psiquismo, jé que abandonamos totalmente a idéia de uma sede ou estrutura psiquica. Passamos a falar do ser-ai, ser ‘que, sendo, coloca necessariamente em jogo 0 seu ser, Heidegger, em sua obra Ser e tempo, pretende investigar 0 sentido do ser e, para tanto, inicia tematizando o ente cujo ser importa a si mesmo, Denomina-o ser-ai para destacar a sua du- plicidade de ente e ser. No seu fundamento estrutural ontologico, © ser-ai se constitui como ser-no-mundo. Sem diivida, a com- preensio heideggeriana do ser-ai traz como elemento inicial a ‘estrutura da intencionalidade tal como desenvolvida no ambito dda quinta Investigagdo légica (HUSSERL, 1900/2007), No entan- to, a compreensio de Heidegger toma uma redugio tio radical ue o ser-ai passa a ser compreendido como a prépria dinmi existencial ¢ como nada para além disto. Na primeira parte de Ser e tempo, Heidegger analisa feno- ‘menologicamente a estrutura do ser-ai na sua cotidianidade me- diana, modo em que o ser-ai se encontra de inicio e na Parte das vezes. Na busca pelo sentido do ser, 0 filsofo alemio Fecorre ao método fenomenolégico, uma vez que nio hi pos- sibilidade de posicionamento conceitual, nem de demonstragio desse ser. Faz-se necessirio, entdo, proceder a uma espécie de ‘mostracdo, na qual vamos ao encontro do ponto de génese da relagéo intencional entre ser-ai ¢ sentido de ser; ponto em que esse ser se mostra por si mesmo e no qual o ser-ai acompanha cooriginariamente sua mostrago. 36 Heidegger descreve o ser-ai, desde o principio, como um ser capaz de interrogar 0 ser, como o ente privilegiado tanto ontica, ‘quanto ontologicamente. Para Heidegger, somente pelo exame fenomenolégico deste existente poder-se-& chegar & nocio do sentido do ser em geral, referindo-se as caracteristicas constituti- vvas do ser-ai como somente modos possiveis de ser. Exatamente por ser os seus modos possiveis de ser, porém, e nada além disto, © ser-ai precisa de inicio da base de sustentagio de seu mun- do fatico sedimentado, para que ele possa receber do mundo as orientagées necessérias para a realizagio de seu poder-ser. De inicio e na maioria das vezes, portanto, o ser-ai se vé perdido no mundo. Ao mesmo tempo, como o ser-ai é um ente dotado de cardter de poder-ser e como nao possui nenhuma determinagio essencial prévia, ele no tem como ser determinado em seu pro- prio sendo a partir da ideia de uma modulagio especifica de sua relagio com o seu espaco existencial. Este fato tem repercussées sobre o projeto da analitica existencial Para realizar sua analitica, Heidegger jamais poderia par- tir do préprio, pois, desta forma, iniciaria com pressuposicées sobre um modo de ser dado aprioristicamente. Por isto, inicia ‘sua andlise a partir do modo impréprio de existir, tal como esse se dé na cotidianidade mediana. Em sua exposigio dos tragos cexistenciais do ser-ai, em sintonia com o modo mediano de ser do ser-af, Heidegger revela, entdo, elementos importantes, que desempenham um papel decisivo nas perspectivas estruturado- ras de nossa pesquisa: 1) 0 primado da existéncia frente a essén- cia, que indica que sua esséncia consiste em sua existéncia. Ser-ai refere-se, com isto, aos modos de ser em meio aos quais alcanga as determinagées que sio suas a partir do movimento do existir; 2) 0 ser-ai é sempre meu, algo que se refere ao ser singular, uma ‘vex que é marcado pelo carster de ser sempre meu — dai a impos- sibilidade de se compreender o ser-ai para além da chave singu- lar e de transformé-1o em tema de uma investigacio éntica com vistas a sua determinacio quididativa; 3) ele se encontra marcado 37 pela l6gica do ter de ser, fundamento da responsabilidade com 0 seu existir, do fato de que, sendo, ele se relaciona com o seu ser. Ser-af que, em seu comportamento de base, é descerrador e abre ‘© mundo como horizonte no qual os entes the vém ao encontro requisitam determinados comportamentos. © modo como 0 ser-ai se comporta, por sua ver, determina radicalmente o modo como ele é; 4) 0 seu cardter de poder-ser, o que caracteriza a sua incompletude ontolégica. O ser-ai é um ek-sistente, Neste ter- ‘mo, o prefixo ek diz respeito a mobilidade estrutural que retém a incompletude fundamental e que ja sempre projeta o ser-ai para além de algo assim como uma interioridade susbstancial, ‘enquanto o radical sistente aponta para uma dinamica de ser. Ek-sistir, neste sentido, significa literalmente ser para fora, ser para o mundo, ser-no-mundo. Em virtude dos tragos descritos acima, 0 ser-ai nio deve ser interpretado pela diferenca de um modo determinado de exis- tir. Devemos descobri-lo antes a partir do modo indeterminado em que, de inicio e na maior parte das vezes. ele se da: a par- tir da medianidade, ou seja, da indiferenga cotidiana do existi. Heidegger acaba, assim, por chegar & estrutura fundamental do ser-no-mundo, distinguindo o ser-ai dos demais entes: 0 cardter de abertura diferencia-o dos demais entes, cuja existéncia encon- tra-se fenomenologicamente “fechada’. O cuidado (Sorge) vem 4 tona neste contexto como 0 ser propriamente dito do ser-ai: 0 ser-ai é constitutivamente cuidado, porque ele é os seus modos de ser, e, assim, sendo, sempre cuida de si. Esse modo de ser en- volve, por sua vez, uma ocupacdo com os entes intramundanos (Besorgen) ¢ o desentranhamento de um contexto relacional Portanto, ele jamais vive isolado em si mesmo, Ser-af é um ente sempre referido a outro ente, seja sob o modo da ocupacio, seja sob 0 modo da preocupacio (Piirsorge) No Seminério de 8 de setembro de 1959, no grande audit6- rio de Burgholzli da Clinica Psiquidtrica de Zurique, Heidegger refere-se ao Dasein humano como um ambito do poder-apren- 38 der. Propée investigar o Dasein como modo de ser do homem, que, na sua duplicidade, se constitui como ser simplesmente dado e, a0 mesmo tempo, como existir, como ser-no-mundo, {que esta sempre em jogo no devir temporal. Fle refere-se a0 Da- sein ou ao ser-no-mundo como modo de ser do homem, modo «esse determinado pelas ‘meras’ possibilidades de lida com aquilo que Ihe vem ao encontro. E conclui esse semindrio, referindo-se ao Dasein como o ente cuja esséncia 0 exist. Heidegger prossegue sua analitica, na segunda parte de Sere tempo, ainda tendo em mente as estruturas ontolégicas do ser-ai Porém, ele considera agora essas estruturas em seu sentido tempo- ral, Com isto, ele pressupée que, para investigar 0 ser no tempo, & preciso tomar previamente a totalidade do fendmeno ser-ai para, entio, poder desvelar as possibilidades mais proprias? desse ente tematizado que, na sua estrutura fundamental, é ser-no-mundo ¢ cuja totalidade estrutural se determina como cuidado. Para ele, 6 claborando o fendmeno do cuidado que se pode vistumbrar a constituigdo da existéncia em seu nexo originério com a factici- dade e a decadénciat do ser-aie revelar o tempo como 0 horizonte de abertura origindrio da compreensao de ser. 1.2.2, O cardter de poder-ser do ser-at: +-para-a-morte (O cariter de poder-ser do ser-ai aponta para as dificuldades {que sua analitica impée, ja que o ser-ai, pela sta caracteristica de poder-ser, se mostra como um ente constantemente em jogo com o seu ser, que sempre resiste a uma apreensio total; e ainda, por sua caracteristica de abertura, sempre nao concluido, jamais réprio do Dasein consiste na antecipacio da superivel irremissivel 3) Para Heidegger, o mais morte como possibilidade certs, 4A. Determinasio existencial do proprio Dasein também a sua possibil dade, na qual 0 Dasein encontra-se absorto nas ocupagées cotidianas, enco- Drindo, assim, o que Ihe & mais proprio. Tendéncia a se perder no mundo da mypessoalidade, imitando suas possiblidades. 39 alcanga uma totalidade, realizar a investiga, lidade, Heidegger lana circularidade hermenéutica, ender ser a partir de um ermanecendo sempre inconcluso, Para ido ontol6gica deste fendmeno em sua tota- ‘mio do que ele mesmo vai denominar © fato de o ser-aijé sempre compre- campo semintico sedimentado histori- camente a partir das decisbes presentes na tradicdo. Assim, ele se dio direito de partir de uma. mediana do ser- entre concepgio prévia: a cotidianidade nascimento e morte; 0 ser-ai como um todo, em sua posisao prévia, sempre teré uma pendéncia & qual Pertence o préprio fim do ser-no-mundo, Anteciparo fim, por Sua ven algo passivel de se dar em meio a decisio,abre oespaco Para que o ser-ai se conquiste na totalidad ledo fendmeno, porque 4 antecipacéo da morte revela plenamente o ser-ai na totalidade intransferivel, intranspon: vel e inexoravel de seu sendo, Heidegger conclui que as estruturas ontolégicas do ser-ai, agora, devem ser investigadas em sua temporalidade, jd que a Cotidianidade em seu cuidado se desentranha como modo da temporalidade. Se a temporalidade constitui-se no senti ligico originério do ser-ai, entio cuidado deve precisa ido onto- ar de tem- oe, assim, contar com o tempo. Diz Heidegger (1988, p.14) “o projeto* de um sentido horizonte do tempo” Segue-se,e de ser em geral s6 pode se realizar no "ntJo, a tarefa hermeneutica na investiga¢do do ser-no-mundo, apreendendo-o em sua totalida. de, tendo por horizonte de abertura o tempo. Com isso, torma, ‘se imprescindivel tematizar 0 poder-ser mais Préprio do ser-ai: erceber como essa temética seri abordada por Hans feu Verdade e método, no capitulo sobre a redendo dos Pressupostos. O que Gadamer nos mostra apenas nio ¢ possvel, mas, se fosse possve que suspender os pressupostos no nto seria desejivel, uma ver que 0 Pressupostos slo para ns operativos. Cf. Hans-Georg Gadamen, Vouloa, ‘método, . 456. 6 Projeto = sentido temporal {que se parte de um estar langado, ‘ excluindo outra. No entanto, sem 40 1d projegéo do ser-ai A vida ¢ um projet, rida € um projto, brojetando-nos para algumas possibilidades npr desrelando possibilidades. © ser-para-a-morte. F isto porque s6 ele traz & tona plenamente a temporalidade originéria do cuidado. O problema da morte consiste nesse ponto final que se encontra apartado do presen- te, do ser-ai, que de inicio e na maior parte das vezes encobre para si mesmo o seu poder-ser, de tal modo que a morte aparece ‘como algo que nao diz respeito ao ser-ai. O ser-ai nessas condi- ‘gBes existe como uma coisa, que ele ¢ ¢ continuard sendo até que cele morra. Um dia, distante e vago, no qual, em tiltima instancia, ele ndo conseguiré experimentar a morte, porque a ‘morte tomada onticamente é sempre da ordem do inexperenci- vel. No modo do impessoal, encontra-se a ideia de que a morte €0 fendmeno do qual temos que nos desviar, esquecer, afastar. No falatério do impessoal, fala-se: “morre-se” Quando é assim que compreendemos a finitude, temer a morte significa pensar @ morte como algo que vém ao nosso encontro em um futuro longinquo, jamais determinével previamente com exatidao e que ‘causa um dano irrepardvel na coisa que eu s0u. Trata-se, a0 con- trario, no ambito da conquista plena de si por parte do ser-ai, da antecipagio da morte que se da constantemente. Morrer é aqui o evento que revela o cardter préprio do ser-ai enquanto cuidado, ‘uma vez que ele s6 & propriamente cuidado se morre sempre, se conquista a sua finitude, se é, quando é, quem ele efetivamente €. Na decisio antecipadora, ao escutarmos o clamor da angtis- tia como tonalidade afetiva fundamental que, nio dizendo nada, ‘contfronta o ser-ai com o seu ser mais prdprio, surge para o ser-ai 4 possibilidade de conquistar 0 seu modo de ser mais préprio. E €no horizonte finito desse ser, abrindo a necessidade de pen- ‘sar a partir da propria rearticulagao do seu existir, que se abre a possibilidade de singularizacao do ser-ai. O antincio da finitude um dos modos possiveis de estruturagao da existéncia singular, Bem tiltima instancia a angiistia caracteristica do ser-para-a- morte que, na maioria das vezes, se mantém obscurecida pela tendéncia cotidiana de fugir de si mesmo. Por fim, a convocagio do ser-para-a-morte consiste na abertura do horizonte de reali- a Prosseguir nesta investigacdo consiste em iniciar por bus- car como se dé 0 ser-para-a-morte na cotidianidade mediana, na qual o ser-ai ndo ouve o chamado de seu ser-para-a-morte, por se distrair com os zunidos constantes e ambiguos do falatério, Para nao ouvir o antincio da sua prépria finitude, 0 ser-ai preenche o seu existir com ocupagdes de todo 0 tipo, tratando de preencher © seu tempo. Assim, nao ouve o clamor da consciéncia que se pro- nuncia na angiistia, anunciando a condicio finita de todo ser-ai, © por conseguinte, o seu caréter inexorivel como cuidado, Para desvelar as possibilidades mais préprias e auténticas, desse ente que, sendo, sempre coloca em jogo 0 seu ser, faz-se ne- cessério que esse se desvencilhe dos chamados da impessoalidade, que encobre o cuidado que ele sempre é. Assim, desentranhar a possibilidade de antecipar o seu ser-para superar até certo ponto a absorgao inicial no mundo. Para tanto, € preciso descrever fenomenologicamente, isto & acompanhar em seu acontecimento, a sua possiblidade mais propria: seguir a antecipagio de seu ser-para-a-morte; ouvir a voz da consciéncia, ‘que interpela o ser-ai para evidenciar o seu estar em débito, cla- mando pelo poder-ser mais préprio. A tonalidade fundamental da angiistia, a se pronunciar, sem que sua voz seja abafada, acaba or suspender as prescrigdes do mundo, conclamando 0 ser-ai a apropriar-se da sua existéncia mais prépria. Na maioria das ve- eS, acontece uma surdez, um fechamento para a possibilidade de se apropriar do fato de estar-jogado, O ser-ai, entdo, retoma a cadéncia do mundo, na decadéncia, escapando da possibilidade

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