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YA TVOTLA) AO PROJETO BANCO de meios téenteos. (de desenho. ou maleméticas: desde ax quatro operacies e da régua de eee ‘passando pela. ae mecdnica €.0 co Hee “Esta.al me de Ludovico ‘Quitoni resume tum dos abjetivos deste texto, “gue trata de um tema praticamente = - ignorado pela literatura da arquitetura: a teorig do projeto arquitetdnico. ‘OquaCueu ~.chama de “eduseiencia * gat Gaptendizado do projetar, vineula-s¢ vlaramente com o dominio da tearia.. do projeto arquiteténics: sta Por sua vez, prende-se fortemente a aspectos essenciais da identidade profissional na arquitetura, Na atualidade, 9 arquiteto é dofinido. como o profissional que, como regra, ata no ainibito, da élaborapao do projeto_ das edificardes ¢ de suas obras a. cai ge seu emptego hes colegas oles Fa caldales Dow Peclro TI, com meu recon hegmprty Jenhs 200% ‘SPN, Vice-Reltor ‘ton Rodrigues Paim ro-Reitor de Extensio liz Fernando Coelho de Souza Vice-ProReitora de Exensio Resa Blanco EDITORA DA UNIVERSIDADE Diretor Geraldo F. Hust Son arn kage Cinta Berger Serge Bor Bop orga ‘et anton cnt ars ese raul oping aes orld fit escort Editora da Universidade/UFRGS * Ay. Jotio Pessoa, 415 - 9040-000 - Porto Alegre, RS - Fone/fax (051) 224-8821 - E-mail: editora@ orion.ufrgs.be- Pagina na Web: www.utrgs.br/editora « Direglo: Geraldo Francisco Huff * Editoragio: Paulo Antonio da Silveira (coordenados), Carla M. Luzzatto, Cléudia Bittencourt, Maria 4a Gléria Almeida dos Santos, Rubens Renato Abreu Administragdo: Julio Cesar de Souza Dias (coordenador), Laerte Balbinot Dias + Apoio: Jara Lombardo, Idalina Louzada, Lastcio Fontoura. | by Sea ic ll roman we UL EZ Fae.D.PEDRO tt @ deinen Sis weet soit I edigao: 1984 ee Ss vA ree Direitos reservados desta edigo: gees Universidade Federal do Rio Grand do Sulf YALOR ES (O82 Capa: Andrea Paiva Nunes ustragGes da capa: Edificio Grosvenor Place, Sidnei, Austritia, Harry Seidler & Asociados; Casa da Parede Poriante, Japio, Ushida & Findlay, Museu Judaico ‘anexo ao Museu de Berlin, Alesanha, Daniel Libeskind, Matthias Resse, Stefan Blac, Jan Dinnebier, Taria MacGabhana, Bric J. Schall Revisio: Maria da Gléria Almeida dos Santos Cléudie Bittencourt Exditoregfo eletr6nica: Cléudia Bittencourt Elvan Silva. Arquiteto, mestre em Arquitetura, doutor em Sociologia, professor titu- Jar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professor visitante na Faculdade de Anquitetura e Urbanismo Ritter dos Reis 8586u Silva, Elvan ‘Umma introdugio as projeto arquitet6nico -2.ed.rev. amp. - Porto Alogre, Ed. da Universidade/UFRGS, 1998, 1, Arquitetura - Pojetos. I. Titulo, cpu 72.011 Catalogagio na publicagio: MGnica Ballejo Canto - CRB 10/1023 eet: | | SUMARIO Introdugao a primeira edicao Introdugio 4 segunda edigo DEFINICAO DE PROJETO ARQUITETONICO A necessidade do projet0 ncn Aproximagées ao ambito antropoldgico. Primeiro tipo: a sociedade primitiv: Segundo tipo: a sociedade intermediaria. Tetceiro tipo: a sociedade organizada Quarto tipo: a sociedade complexa Ampliagtes.... Conclusio: a projetualidade no oficio do arquitet0 svmsve Btimologia e conceito .. Teoria e metodologia... Etimologia e sinonimia Definindo o projeto arquiteténico . Avaliagio do projeto. Interpretagio do projeto Questées lerminolégicas subsidiarias.. Substancia e forma do projeto Introdugio: as categorias de avaliagio do projeto. Nevessidade .... Viabitidade Grau de definigao ...- Comunicagao .. Um modelo tesrico do processo projetual na anquitetura. © enquadramento episteroldgico do projeto... Reformulando 0 conceito do processo de projetagao As entidades envolvidas no processo projetual 0 problema biisico do projet0 snr Configuragdes ¢ dificuldades no processo projetual (Os estégios principais do proceso de projetagii .... Critétios de projetacéo. ‘A projetacdo como seqiiéncia temporal ‘A avaliagio da proposta Os critérios de projetagio e a nogio de racionali Hicrarquizagao € Sacrifici0 wn. Categorias de avaliagao na arquitetura .. Subcategorias de avaliagio MORFOLOGIA DO PROJETO ARQUITETONICO As etapas do processo projetual a O processo de projeto como progressio temporal .nw.nrw Exigéncias comunicacionais no projeto As etapas da progressio : ‘Variagdes na seqiiéncia projetual O programa Conceito de programa Elementos do programa Natureza do programa 0s requisitos programéticos Apresentagao dos elementos programéticos. © partido arquitet6nico Tnfeio do processo projetual... Definigio de partido arquitet6nico ‘Acexpressio do partido arquiter6nico, Estudos prefiminares ¢ anteprojeto Estudos preliminates «rn ‘Anteprojeto Contetido do anteprojeto .. 0 projeto executivo . Conceito e propésito : © processo comunicacional do projeto... Descrigdio da forma ou do espago? {AS informagées do projeto executive REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS... INDICE REMISSIVO... INTRODUCGAO A PRIMEIRA EDICAO (1984) ‘Somente 0 aprendizado do projetar poderdlevar oarquiteto a compreender ‘goais sio a5 operages que se devem levar a cabo com o pleno auxilio da Conseiéncia raciocinantee, eventualmente, com a ajuda de meios técnicos (Ge desenho ou matemiticos: desde as quatro operacées e da régua de di- plo deoimetro até erégua de odleuo, passando pelacaleuladora mecinica ¢ ‘© computador). (Quaroni, 1980, p. 25) ‘A arquitetura é um fendmeno complexo ¢ contradit6rio. 1 complexo por- que envolve uma verdadeira infinidade de fatores intervenientes: fatores cul- turais, psicolégicos, econdmicos, técnicos, ambientais, etc. & contraditério porque um mesmo fator pode significar coisas diametralmente opostas, de- pondendo do contextoem que se verifique. O que é verdade em uma determi- nada situago poderd nfo ser em outra, O conceito do valido edo verdadeiro, cin termos de arquitetura, 6 uma varidvel que depende da época, do cenario © dos protagonistas. ‘Como qualquer fendmeno complex, a arquitetura admite ser estudada segundo indmeros 4ngulos ¢, portanto, oferece diversas faces ao observador. Sendo assim, a especulagao te6rica no campo da arquitetura pode enveredar por virias diregdes diferentes, e conduzir a diferentes significagdes do mes- smo. objeto. © conceito de arquitetuza, em si mesmo, € uma nogio abstrata, genérica, exprimivel numa definigéo verbal, em termnos préprios do plano das idéias © das imagens mentais; mas, antes de tudo, a arquitetura é um fenémeno do nuyndo concreto, ¢ apresenta uma exteriorizacdo visivel, material e tangivel, ue Ga colegio de edificios que o género humano erigiu através dos tempos. isles —0s ediffcios — constituemn ou deveriam constituir 0 objeto de estudo mais imediato, precisamente por representarem a manifestagio substancial do processo cultural identificado como “arquitetura”. ° Os ediffcios podem ser estudados segundo suas caracteristicas morfol6gicas, de acardo com os termos do clissico trinémio vitruviano: urilitas, irmitas © snitstas. Podem ainda ser analisados sob o prism hist6rico, ou sob o enfoque comparativo, de conformidade com suas relagdes com 0 ambiente natural ¢ corti © meio sociocultural onde se inserem. Enfim, pode-se estudar a expres~ vel da arquitetura sob as mais variadas formas de abordagem. No entanto, tais andlises niio exaurem as possibilidades especulativas do tema. |Além da manifestagio concreta, a arquitetura apresenta uma expresso abs- trata, que se refere nfo ao produto em si, mas a0 proceso que conduz & materializagao da obra arquitet6nica, e também ao reflexo produzido pelo bindmio processo + prodato no plano dos valores socioculturais. Processo, produto e reflexiio constituem a matéria-prima da disciplina cientifica deno- minada Teoria da Arquitetura. ‘Acs estudiosos do assuntondo deve ter ficado despercebido oimteresse que os teéticos da arquitetura tém devotado ac estudo de novos e palpitantes temas como, por exemplo, interpretago lingistca do fenémeno arquitet6nico (semiologia da ‘rquitetura) e a problemtica do processo criativo na arquitetura, ‘A tradicional subdivisfo da Teoria da Arquitetura em Teoria dos Edificios "Teoria da Composigio pode ser considerada como em vias de superagio. A Teoria dos Edificios, que estudava as diversas tipologias arquiteténicas, se- undo suas morfologias e caracteristicas programiticas, tornou-se uma disci- plina quase impraticavel, em razdo do explosive aumento no nimero de tipologias e aos processos de acelerada obsolescéncia a que todas estéo sub- metidas. Com efeito, as mutagdes socioculturais, econémicas e teenolégicas determinam substanciais alteragées tanto na estrutura programitica quanto nna interpretacdo formal dos diversos tipos de edificagéo que o género huma- tno constr6i ¢ utiliza. Tome-se, por exemplo, a tipologia dos prédios escola- res: aquilo que era valido ha poucos anos pode estar superado pelas novas concepedes pedagogicas, administrativas e econémicas. Assim sendo, nfo faz sentido tomar o tempo de estudantes e professores com demorado e exaus- tivo estudo de programas tipicos e morfografia de uma intermindvel colegio de tipos arquite ténicos, se tal estudo ndo se vincular a um imediato exereicio projetual. Em vez de tentar remeter para a meméria uma abundancia de infor- magées de utilizaco improvavel e remota, & preferivel desenvolver no proje- tista habilidades que o capacitema interpretar, no momento oportuno, os as- peclos progransiticos de qualquer tipologia arquiteténica. Como o catélogo tipolégico s6 ¢ capaz de registrar dados de significagio provisoria, justifica- se sua remogiio para um plano secundétio, compensada pela Gnfase concedi- da ao estudo do processo criativa, ‘Quanto a Teoria da Composigio, se nao foi superada, foi certamente trans- formada por um compreenstvel proceso da evolugao. Na época do ensino académico, o termo composi¢do identificava uma modalidade de trabalho precisamente caracterizada, que consistia na obediéncia a normas ¢ formulas canénicas e no emprego de padroes formais pertencentes a colecbes finitas de modelos devidamente homologados pela tratadistica oficial, personifica- do em alfarrabios como 0 Tratado das cinco ordens, de Vinhola, ou Os qua- to livros da arquitetura, de Palladio. Em tais circunstncias, nfo havia pro- priamente invengao de novas formas, mas apenas combinagio de clementos previamente retirados de um catélogo, que deviam ser associados em confor- midade com a sintaxe preestabelecida. Dada a extrema simplicidade programética, decorrente, talvez, da inexisténcia de sofisticagao tecnol6gica ¢ do abundante emprego da energia humana, € razoavel admitir-se que tal procedimento projetual nao redundasse em prejuizo do objetivo funcional das edificagdes, que poderia ficar subordinado aos esquemas esteticistas que regiam a atividade projetual. De fato, embora a nogao da importancia do aspecto funcional da arqui- tetura seja tio antiga quanto o préprio conceito de arquitetura, como 0 atesia a ufilitas de Vitvivio, foi somente com o advento da Revolugdo Industrial que se materializou, de forma explicita, a necessidade de se conceber um procedimento projetual verdadeiramente despojado de arbi- trariedade academicista. O surgimento de novas tipologias arquitetOnicas, derivadas das novas necessidades e das novas possibilidades surgidas no seio do progresso material, colocou diante dos arquitetos ¢ engenheiros uma temética arquitetGnica inédita, no codificada pelos tratadistas dos séculos anteriores. Se, para um arquiteto académico, 0 projeto de um pa- vilhdo industrial ou de uma estagdo ferrovistia constitufa um sério pro- blema, pois no havia modelos classicos a copiar, para 0 engenheiro, tal- vez catente de formagao artistica mais aprimorada, mas certamente descomprometide com 0 dpriorismo estético, a problema apresentava-se mais simplificado: projefar e construir um edificio para uma determinada finalidade especifica; ndo importando saber como Palladio o teria feito, se tivesse tido ensejo. Paradoxalmente, constata-se que a contribuigao dos nio-arquitetos foi relevante na definigdio de um novo modo de se encarar 2 arquitetura © movimento racionalista na arquitetura, com todas as suas imémeras subtendéncias, pretendia, pelo menos no plano doutrinsrio, sepultar o enfoque académivy uv provers de projetago arquitetnica. Tal propésito foi larga- mente apregoado, como o comprovam, por exemplo, os incontaveis escritos, de Le Corbusier. Todavia, nio se abandonou completamente 0 conceito de composicio, pois o academicismo, de certo modo, sobreviveu no espitito anticléssico, j4 que o denominado “racionalismo” substitui os canones do passado por um novo catdlogo e por uma nova sintaxe, sem despojar-se de fato do esteticismo arbitrério que caracterizava as épocas precedentes. O pré- prio termo composigdo demonstra uma vigorosa persisténcia, pois continua sendo empregado, tanto na acepedo correta como na de sin6nimo de projetacao arquitetSnica, 0 que no € perfeitamente correto. Contudo, a partir dos anos 60, vérios estudiosos se dedicaram a investigar © fendmeno do processo criativo na arquitetura, o que deu ao assunto novas, imens6es ¢ uma perspectiva ainda inexplorada. Dois eventos so importan- ssna historia desta expansZo: o primeiro deles foi 2 publicago, em 1964, da bra Notes on the synthesis of form, de Christopher Alexander; e o segundo >i a realizagio, em 1967, do simpésio sobre Metodologia ¢ 10 mquiteténico, Jevado a cabo na cidadé"de Portsmouth, na Inglaterra. Este artame contou com a participagio de mais de quatrocentas estudiosos ¢ inte- sssados na matéria, provenientes no s6 do Reino Unido mas também da suropa Continental e dos Estados Unidos. A partir dai, a popularidade do sma cresceu e novas contribuigGes tém surgido com regularidade. O préprio \lexander trouxe novas concepgées & nomes, como Geoffrey Broadbent, ‘hristopher Jones e outros que passaram a adquirir crescente importancia. Deploravelmente, entrenés, a defasagem é gritante.' O arquiteto brasileiro {nda esta profundamente preocupado com a grave problemitica do exerei- io profissional, repleto de contradicSes, e quando se retine com seus pares, io costuma tratar de cutro tema. Ao mesino tempo, niio é inconcebivel que, ‘uto-sugestionado pela imodesta e ufanista convicgio de que os brasileiros o os maiores arquitetos do mundo (como se todos fossem co-responsiveis ‘elo éxito do festejado compatriota Oscar Niemeyer), 0 arquiteto brasileiro io se sinta atraido pela pesquisa tedrica, pois a mesma nfio oferece as opor unidades de realizacio e renome que so obteniveis na atividade prética. Por hutro lado, ha quem acredite que as discussdes em torno de questdes netodolégicas podem significar uma forma de alienagio, adequada a fazer ente a contextos de esvaziamento ideolégico ¢ doutrinério, proprios de nomentos de repressio intelectual, e isto explicaria o diminuto interesse que ais temas despertam entre o$ arquitetos nacionais. Tal pensamento no é compartilhado pelo autor deste estudo, que prefere acreditar que a falta de liseussio das questdes metodolégicas deva ser tributada 3 tradigio empirista jue domina amplas reas do conhecimento profissional brasileiro. F, tam- ém, a decantada auséncia de est{inulo ao labor especulativo que caracteriza 1s sociedades subdesenvolvidas e dependentes, cativas que sto do colonialismo ecnolégico, cientifico e cultural ‘Noeentanto, é importante a tomada de consciéncia de que a arquitetura, como jnalquer campo do conhecimento aplicado, é uma dea onde podem ocorrer rnovagées tecnolgicas significativas nao apenas no plano dos processos mate ‘ais, mas também na esfera abstrata dos métodos de concepgio. © fendmeno Ja criatividade constitui um fecunéo campo para a exploragao psicoldgica, ehé Svidéncias de que se pode aperfeigoar o potencial propositivo de uma pessoa através do desenvolvimento de técnicas de resolugio de problemas. Pretender axcluir a arquitetura do rol das atividades nas quais cabe a abordagem "sta observagio foi feita em 1984 (nota do autor). metodolégica, por mera fidelidade a conceituagGes anacrénicas © desgastadas, uma atitude retrograda e indesculpavel. A relevincia de tal matéria niio pode ficar despercebida, por suposto, no Ambito do ensino da arquitetura; pois a preoeupaco com o aprimoramento do ensino deve ser um estado permanente € deve estar sempre em primeiro plano, Alis, 0 que € 0 ensino da arquitetura | senio, basicamente, o ensino da teoria e pritica da projetacdo arquitet6nica? 0 objetivo deste trabatho, de ambicbes relativamente modestas, & concor- rer para 0 preenchimento de uma lacuna, manifesta na quase absoluta inexisténcia de bibliografia de Teoria da Arquitetura no nosso idioma. Espe- cificamente, pretende-se fornecer ao estudante de arquitetura um roteiro ‘um apoio para obtengio do embasamento tedrico necessério ao posterior de- senvolvimento das habilidades criticas e instrumentais necessarias a0 desem- penho da atividade do arquiteto. Na condiglio de embasamento, o texto que aqui figura pressupde ampliagGes subsequentes. ‘Como se esclarecers mais adiante, o presente estudo nao é um tratado metodolégico. i, antes de tudo, uma abordagem tedrica, ou seja, explicativa ce codificadora, que visa tornar organizado ¢ cognoscivel seu campo especifi- co de estudo. De certa maneira, pode-se dizer que a teoria esta para a metodologia assim como a botinica esté para a agronomia ou a geometzia esta para a topografia. A teoria é um procedimento explicativo, descritivo e sistematizador. Em tais condigdes e na medida do possfvel, nfo é a defesa de principios doutrindrios, mas essencialmente uma abordagem de esclarecimento e-codificagio, conforme ja se afirmou acima, Por nao se enquadrarem dentro dos objetivos do presente estudo, deixam de ser examinados certos aspectos filoséficos conexos 2 temitica de produ- ‘iodo edificio, mormente aquele que interpreta 0 projeto arquitetOnico como uma espécie de discurso despético, veiculo de uma mensagem unidirecional, ‘que monopoliza o poder decis6rio ¢ marginaliza os demais elementos encar- regados da execuso da obra no canteito, Efetivamente, como se discutiré mats adiante, 0 projeto arquiteiOnico completo pretende resolver a priori a totalidade cu quase totalidade dos pormenores da edificagio, o que impede a contribuigao dos construtores para a concepgao da obra. Todavia, na pritica isto impossivel, pois os problemas de construgio sao inémeros e muitas vezes virtualmente imprevisiveis, o que transforma o projeto completo numa ‘utopia. De qualquer modo, o cardter despstico, se existir, ndo altera a essén- cia I6gica do mesmo. Da mesma forma, nio se analisam neste estudo temas relativos & participacio do usudrio nas decisées projetuais, ja que este assun- to é de natureza eminentemente doutrinéria, Cuja exclusio nio prejudica o teor da matéria aqui exposta Finalmente, eabe dizer que se verificaram certas questées de nomenclatu- ra, que niio puderam ser negligenciadas, em vista dos propésitos didaticos laste trabalho. Em tais circunst€ncias, adotou-se a premissa de perfilhar & zexminologia de uso corrente entre os profissionais, sem contudo esquecer os spectos etimolégicos e seminticos. Tomou-se como base, especificamente, \ Diciondrio da arquitetura brasileira, de Corona ¢ Lemos (1972) ¢ 0 Peque- 10 diciondrio brasileiro da lingua portuguesa, de Aurélio Buarque de Hoollanda Jerreira (Rio de Janeiro: Civilizagio Brasileira, 1974). Substdios adicionais ‘oram obtidos pela utilizagio de outras fontes lexicogréficas, inclusive dicio- \érios em outros idiomas, circunstincia esta que ficara perfeitamente sclarecida no texto. Porto Alegre, 1984 ES. INTRODUCAO A SEGUNDA EDICAO A generosa acolhida que este trabalho recebeu, nas duas impressdes ante- riores (1984 ¢ 1991) — ambas totalmente esgotadas —, levou a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul a produzir esta terceira, revista e ampliada. Na realidade, mais ampliada do que revista, j4 que a revisio se restringiu 20 aperfeigoamento do enunciado de-algumas proposigbes ¢ & subs- tituicdo de alguns vocdbulos por equivalentes mais precisos. Nenhuma das Proposicées do texto de 1984 foi suprimida ou contraditada. A ampliagio, Por sua vez, teve por escopo acrescentar alguns conceitos que, na opinido do autor, enriquecem 0 texto sem desfiguri-lo, mantendo fidelidade 20 texto original de 1984. De fato, uma ampliacdo significativa redundaria, na pritica, ‘num outro trabalho, diferente do primeiro — empreendimento que est nos plants do autor, para ser levado a cabo quando posstvel. De qualquer forma, o decurso desses treze anos entre a primeira ediga0 © a presente permitiu verificar que as condigées nas quais este trabalho foi gestado nao se alteraram substancialmente no que constitui 0 nticleo tematico do livro. A problemética da teoria do projeto arquitetdnico teria continuado na mesma situagdo das décadas de 70 ¢ 80, nio fosse a série de encontros nacionais sobre o ensino do projeto arquiteténico, realizada na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Algumas das comunicagées apresentadas no primeiro daqueles en- contros (1985) foram reunidas numa publicagio conjunta do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico ¢ Tecnolégico (CNPq) e a Edi- tora Projeto, intitulada Projeto arquitetOnico, disciplina em erise, disei- lina em renovacdo (1986). Este evento teve como organizador Carlos Eduardo Comas, como autores contribuintes Jorge Czajkowski, Rogério de Castro Oliveira, Edson da Cunha Mahfuz, Alfonso Corona Martinez e © autor. Alguns conceitos apresentados por Comas, Oliveira ¢ Mahfuz foram incorporados a presente edigfo, ilustrando alguns argumentos. Além daquela série de encontros acima referida, nfo se tem registro de outras, iniciativas congéneres realizadas no Brasil. No primeiro capitulo, foi adicionado um trecho com pouco mais de mil pa- lavras, caracterizando a condigio daprojetualidade, que 0 autor considera como trago essencial da profissio de arquitetura nos tempos atuais. Tal insergo se deve ao fato de que a projetualidade 60 substrato cultural e ideol6gico sobre 0 qual de assenta a maioria dos prine‘pios da teoria do projeto arquitetinico. ‘No quarto capitulo, foram acrescentados alguns conceitos peitinentés & siferenca entre “projeto” e “composi¢a0”, necessarios porque, a despeito do ue foi afirmado na primeira edigio, verifica-se que o interesse pela proble~ initica da composig&o arquitetOrica nfo desapareceu como a consolidagio da ortodoxia modemista. Neste ambito, o revisionismo doutrindtio das déca- das de 70, 80e 90, ao revalorizar, ainda que ambiguamente, certos fundamen- tos da arquitetura acad&mica e historicista, conduziu a um novo debate sobre aquela modalidade de invengao acquiteténica. No restante do texto, foi, de forma pontual, promovida a substituigao 02 supressio de alguns adjetivos e edvérbios, medida adotada com vistas a au- ‘mentar a preciso e/ou a sobriedade dos enumeciados. Porto Alegre, margo de 1998. BS. Definicao de Projeto Arquiteténico A necessidade do projeto APROXIMACOES AO AMBITO ANTROPOLOGICO ‘Um exame teérico do fendmeno projeto arquiteténico comegaré, inevita- velmente, pela resposta 4 seguinte questo: 0 que 60 projeto arquiteténico, e para que serve? Obviamente, a resposta é conhecida no plano pratico, eo que se pretende é conduzir o assunto para uma aproximagio conceitual, tedrica e didética, E requerida uma definigéo. O pensamento arquiteténico convencional se caracteriza por examinar 0 fenémeno arquiteténico basicamente sob 0 ponto de vista morfolégico e morfografico, privilegiando os aspectos funcionais, construtivos e estéticos englobados no clissico trinémio vitruviano, jé referido nas paginas prece- dentes: wiilitas, firmitas ¢ venusias. No entanto, embora esta andlise possa ser precisa e correta, serd sempre incompleta. Com efeito, o fendémeno arquitet6nico comporta outras modalidades de estudo, geralmente negligen- ciadas, embora essenciais para a compreensio do substrato ideolégico que, de modo explicito ou implicito, conforma ou deforma a maioria dos atos concretos desenvolvidos pelos individuos e coletividades humanas, entre os ‘eas requintadas, mas nem por isso terna-seexeaivel aberturas, abGbadas, telhados — todos, elementos de arquitetura —esta- delecerio sua composigao com quartos, vestfbules, saidas e escadas. Es- tes so os Elementos da Composiclo. O pensamento teérico modemista repudiava ou pretendia repudiar omodus operandi académico “contaminado” pela preocupaco com os estilos, ¢ aca- ‘bou por instituir aquilo que Bruno Zevi (1978, p.17) denominou “o catélogo como metodologia de projeto”. Desaparecendo a “composigo” como pro- cesso valido de projetagio, tomou-se inevitével que, mais cedo ou mais tar- de, 0 proprio termo viesse a ser substitufdo, como de fato 0 foi em muitos contextos. Na realidade, como um termo emprestado por outras éreas do do- mfnio artistico, como a mésica ¢ a pintura, o conceito de composigao conse- guiu uma grande sobrevivéncia no campo da teoria arquiteténica Finalmente, no plano meramente didatico, é oportuno fazer referéncia 20 termo desenhio, que muitos tendem a confundir com projetaco. Isso 6 expli- cfvel, pois 0 vocabulo design, do idioma inglés, tem utilizagio universal, ¢ significa atividade criadora, tendo andlogos em espanhol (disefo) ¢ italiano (disegno). Tanto a palavra “desenho” quanto seus equivalentes no inglés, es- panhol e italiano tém a mesma origem etimolégica, que € 0 verbo latino designare, que se traduz. por “designar”, “indicat”, “marcar”, “tragat”, “re- presentar” e, no sentido figurado, “ordenar”, “dispor” ou “regular”. Entretanto, o termo portugués “desenho” corresponde normalmente ao in- #lés drawing e ao espanhol dibujo, que significam a confeccao de elementos ‘grdficos (desenho), sem implicar o exercicio da criatividade. O certo é que 0 vocébulo “desenho” pode dar margem A dupla interpretagao, o que no ocor- re com a palavra projetaco, cujo significado & preciso.”* 2 Nio obstante, o lermo “desenho”, historicamente esteve seimpee ligado A arquitetura ecam- os afins. Sabe-se, por exemplo, que no século 18 exista em Lisboa uma Academia Real de Fortficagto, Artitharia e Desenho; houve também um estabslecimento denominada Aula Piblica de Desenko. SUBSTANCIA E FORMA DO PROJETO INTRODUGAO: AS CATEGORIAS DE AVALIACAO DO FROJETO Conforme se estabeleceu no capitulo anterior, o projeto arquiteténico pode ser entendido como uma tepresentago ou modeio de um objeto por cexistir, mas ainda nao materializado, ¢ conseqiientemente, insuscetivel de ser avaliado. Um dos prop6sitos do projeto é justamente fornecer uma des- crigdo da forma a ser edificada, de modo que possibilite nfo apenas a pré- pria materializagio da idéia, mas também, e num estégio prévio, que petmi- ta aavaliagdo da qualidade da proposta concebida pelo projetista. Esta ava- Tiago, no entanto, ser sempre realizada em condigdes sensivelmente limi- tadas, pois o projeto, como se eafatizou anteriormente, jamais substituird a edificagdo propriamente dita, em termos de comprovacio da correspondén- cia as exigéncias, necessidades e aspiragdes do usuirio, A avaliagio do edificio, obviamente, € realizada sobre 0 prOprio objeto, através da experi- @ncia concreta, sensorial e epidérmica, e o projeto, conforme se observou, somente pode ser avaliado no plano teérico, em termos puramente racio- nais ¢ abstratos. Todavia, por uflizar sua propria linguagem, e por assumir sempre uma configuragao peculiar, o projeto de arquitetura materializa sua propria realidade especifica. Esta, por sua vez, € 0 invélucro de um poten- cial resolutivo, que pode, dentro de compreensiveis limites, ser analisado através de instrumentos conceituais também espectficos. Observadas as evidentes diferengas entre o modelo ¢ 0 objeto representado, pode-se iden- tificar um elenco de caracteristicas, ou atributos, que possibilitam, numa abordagem teérica, a aferigdo do potencial resolutivo referide. Como jé foi visto anteriormente, tal possibilidade de avaliagio é absolutamente neces- séria, pois dela depende a decisio de se empreender ou nao a materializago do projeto considerado. Ideal seria que se pudesse avaliar 0 edificio propri- amente dito e efetuar-se sobre o mesmo as cotregBes que se manifestassem recomendaveis; isto, entretanto, é praticamente impossivel, dadas as reper- cusses econémicas facilmente imagindveis. A avaliacio do projeto, mes- mo no sendo plenamente satisiatdria ¢ nfo podendo se comparar & avalia- gio da obra, 6 uma Gbvia imposicio de ordem racional. No plano teérico, podem-se identificar seis categorias segundo as quais se pode examinar 0 projeto arquiteténico, e estabelecer scu nivel de qualidade enquanto pro- posta de solucdo para um particular problema de organizagdo do entorno uumano; estas categorias so examinadas a seguir. NECESSIDADE, A primeira caracterfstica enunciadora do grau de adequago ou exceléncia do projeto seri a de corresponder a una determinada necessidade.” O proje- to foi definido como hipstese de solucdo ou correcdo para uma situagio par- ticularmente insatisfat6ria, configurada na inexisténcia de uma forma do or- denagio do ambiente — que pode ser um edificio ou equipamento urbano— eno temporirio desconhecimento do aspecto que aquela ordenagiio deve apre- sentar. Em princ{pio, esta axiomética condicao nao & propriamente do ambito projetual. Entretanto, se a énfase do problema colocar-se na definigSo dos elementos da denominada situagao problemética, podem ocorrer situagbes em que a tarefa do projetiste tem inicio no ato de equacionar os dados que compdem 0 problema, Tal atividade se refere & andlise programética que, em ccontextos mais complexos, converte-se efetivamente na etapa inicial do pro- cesso de projetagio na arquitetura. A exceléncia do projeto decorrer, natu- ralmente, da sua capacidade de satisfazer a necessidade real que lhe deu en- sejo. Nao existindo esta necessidade real e, conseqiientemente, uma corres- ponéncia entre ela eo projeto, nfo subsistiio condigdes para que se avalie arelevancia do dltimo® RESOLUBILIDADE, segundo requisito do projeto de arquitetura vincula-se ao que pode ser chamado de resolubilidade, ou seja, A capacidade do projeto de resolver os problemas implicitos no contexto da realidade fisica da obra concebida. Re~ * A dlferenga fandamental entre as modalidades anfsticas propriamenteditas ¢ a arquitewra reside a fato de que a prodago de uma obrearguitetinica depende sempre da exists de uma sneoessidade conereta¢ bjeliva, externa ao esptito do produtor da forma. Estc, ja aruuiteto ou ‘contro, ta para stender ls neessidadc, aspiragdes eexpectatvas de um grupo de usuéros, cexpressas num programa arguiteténico. Nas denominadss "bolas artes", a mativageo que con. (uzcrisgo da obra 6 de camho eminettementssubjetvo, nao eontemplando nenthuma neces ade objetiva externa. Uma obcace arquitotura pretende sezapre comesponder a umanecessidade ia mesmo que esa neesadeem poser questions # Reconde-se, a propésto, as observactes feitas sobre as diferencas entre a avaliagdo da ecu e anasto do rojo; oto exindo um programa arqusnico conta nei ‘© principal parametro pata se aeriro grau de adequabilidade do prejeto solver significa dar solugo, isto 6, eliminar o problema; em termos de arqui- tetura, €0 ato ou efeito de se eslabelecer a forma apropriada para a corregiio, completa de uma dada situagao considerada insatisfat6ria ou problemitica. No capitulo precedente fez-se referéncia 8 categoria da soluciondtica, o que significa essencialmente a mesma coisa. O programa de uma determinada edificacdo conteré um conjunto de requisites, e a resolubilidade do projeto seré aferida na medida em que o mesmo apresentar propostas de ordens for- mais capazes de atender aos recuisitos respectivos. OTIMIZACAO, 0 terceiro atributo € a ofimizagdo, que significa que 0 projeto, além de propor solugées para os diverscs requisitos programiticos, o faz através das hipsteses dtimas. Sendo o projeto um esforgo intelectual e de racionalizagao, deve implicar, por definigao, um esforgo no sentido de se buscar, entre as diversas alterativas de um conjunto finito, aquela que, nas circunstiincias, melhor atenda aos dados do problema projetual considerado.* A diferenca entre o trabalho do leigo ¢ 0 trabalho executado pelo especialista reside pre- cisamente na capacidade que o tiltimo deve ter de identifica 0 melhor (6ti- mo) resultado, isto & de otimizar, VIABILIDADE ‘A quarta caractertstica 6 a viobilidade, ou seja, 0 conjunto de aspectos que permitem avaliara exequibilidade das propostas, nos termos dos condicionantes de ordem tecnolégica, econdmica, legal, etc., aplicdveis a situago concreta em estudo, As vezes, no contexto académico, comete-se 0 equivoco de negligenci- ar esta caracteristica, sob 0 pretexto de “estimitlar” a critividade do estudante de arquitetura. Mas ha uma fronteira entre a criatividade responsavel e a mera fantasia, ¢ nesta realidade se alicerga o conceito de viabilidade. Uma proposta pode ser valida no plano conceitual ou doutrinério, ou mesmo no ambito das leis da fisica, mas ser questiondvel, por exemplo, no campo da economia, ou ser impraticavel, também por exemplo, na estera legal. A inviabilidade nao se ™ Segundo Christopher Alexander (op cit, p.98), 0 problema do projeto ado é um problema de otimizagio; de acordo com seu Tecieinio, a uma determinada nevessidade =6 podem ‘orrspondier duas hipéteses mutuemerte exeludentes: ov ela écatisfeita pela forma proposta, ‘0a do 6, Isto implica considerar que bf graus maiores ou menotes no mode pelo qual sc 6 satisfagio, Ocoreria, conseqientemerte, uma sitwagSo bindria: on a necessidad & afendida (esposta postiva), 01 ndo 0 6 (esposta negatva). tnt iments Ma abesecmcares traduz na impossibilidade de execucéo material, mas submete esta dltima a critérios ¢ ulgamentos derivados de pontos de vista essencialmente valorativos. GRAU DE DEFINICAO (O quinto requisito do projeto dove ser 0 grau de definigdo, Com isto se quer dizer que 0 projeto deve abordar todos os aspectos materiais exigidos para a ‘completa solugdo do problema em questi. A obra arquitetdnica, na sua realida- de fisica, implica 0 atendimento necessério da totatidade dos problemas funcio- nais, construtivos e estéticos compreendidos pelo quadro programstico. Se, no plano tedrico, é possfvel analisar-se 0 fendmeno arquitet6nico de modo parcial, ‘onde cabe a abstracdo de certos aspectos, no plano concreto o mesmo no ocore, pois a realidade material do edificio envolve de modo necessério e inevitével todos os pormenores formais ¢ construtivos do objeto arquiteténico, por mais insignificantes que possam parecer. Em outros termos: a obra arquitetOnica é uma realidade completa, enquanto o projeto, sendo um modelo desta realidade, ‘no qual a abstracio ou supressio de pormeaores ¢ admissivel, nem sempre conse- gue apresentar aquela totalidade. Efetivamente, entre as diferenas de todas as cordens que se arrolam entre © projeto e a obra projetada, a mais destacével 6 exatamente a possibilidade de abstracdo, essencial tanto no estigio de germina «¢40 do projeto como no desenvolvimento das etapas do processocriativo. A com- plexidade fisica do edificio nao pode ser concebida em sua totalidade, ¢ 0 traba- Iho de projetagdo evolui'em fases sucessivas, nas quais se vetifica um progressi- voprocesso de pormenorizagio dos elementos plasmaciores da forma arquitetonica. © grau de definigdo do projeto é 0 reflexo deste processo de pormenorizagio crescente, observével nas diversas e sucessivas etapas da tarefa projetual que vo do estagio nidimentar e simplificado (esquema, zoneamento, plano de massas) ‘a0 estigio elaborado e completivo (plano de execucio, detalhamento). Nas eta- [pas inicinis sc perseguc a macrodefinigao, que delineia os tragos mais gerais da concepeio desenvolvida — tratando-se, por exemplo, da definigo do partido arquiterOnico, nas etapas intermedirias se busca a definigtio, Caracierizando-se ‘com maior preciso os clementos configuradores da solucio espacial proposta, ue inclui aspectos qualitativos (geometra, articulagao) e quantitativos (dimen- 63); © nas etapas finais se contempla a microdefinigdo, que diz respeito aos pormenores construtivos que demandam resolugio, bem como as prescrigdes rnecessérias para a perfeita realizagio da obra. Ei Gbvio que, s¢ 0 projeto niio cchegar ao nivel do detalhe, os problemas pertinentes a esta escala serio resolvi- os, bem ou mal, no proprio canteiro, mas jamais poderiio ser abstraidos ounegli- genciados, pois a natureza se manifestard, denunciando-os, através da ago do tempo, da chuva, do vento, do sol ou mesino da gravidade. As expresstes estudo preliminar, anteprojeto,e projeto executivo referem-se, entre outras coisas, 20 ‘grau de definigao. ‘Um estudo preliminar, por exemplo, poder resumir-se na proposta de defi- nigdo da distribuigio espacial (macrodefinigo) ¢ omitir, por dispenséveis, na- 4quele niomento, 0s detalhes construtivos, que Somente interessar%io quando do inicio da obra. No entanto, o projeto executivo, como instrumento por excelén- cia para a realizagio da obra, ou para a avaliagio de seu custo, nao podert deixar de registrar a solugo para todos os aspectos materiais que reclamam. do, e que deverdo ser resolvidos, ou na prancheta, ou no canteiro, Deve- se observar que poders ser adctada, pelos responséveis pelo empreendimento, a norma de protelar para a fase de execucao o estudo dos pormenores que fo- rem dispensiveis & coeréncia ¢ comunicagio do projeto. Deste fato, podemos deduzir que grau de definigio ndo é propriamente uma qualidade, mas um aspecto do projeto. Mesmo porque a abordagem de determinados pormenores no implica necessariamente 0 teor qualitativo da solugo proposta, mas a constatago de que tais detalhes foram levados emconta.¥ O aspecto valorativo das solugGes apresentadas diz respeito &s categotias da resolubilidade, da ctimizagio e da viabilidade, analisadas anteriormente, COMUNICACAO Finalmente, a sexta condigéo€ a que pode ser denominadacomunicagdo.” Opprojeto, como meio para se atingir o objetivo determinado, que é a constru- 20 do edificio, deve sex, necessariamente, uma descricdo clara, que permita sua compreensio por parte de quem vai materializar a proposta nele contida, *% Dentro do context dh visio do taboo do process de especial crescent a clabora- gio de profisionas de oxtasdiszpinas pen & ser npensvel prea complera desig da fropost atic, prs on ring fic agua pv recangto do problems nico especificos, compreendidos em campes de estado especializados, como 0 das instalagdes elétricas, brs, ee. Assim sndo, ojo argutetaico comple necessramete corpora, nasa configuraggodfiniva, os sobvepojtos qe ata dos campos especializados. Opto Imuitnico noe apenas a deserigo do formato peomético c regio das menses dos com ‘tment, aberara, xsipaments¢elementcsconsmiveséoconjnt do toes as informa bes neessric completa prt materlizago da obra O fata de qo alguns aspects da forma aruttnic io detnides como axtio de especial no-qctos no isco arqi- feo ovaem cosie-asio as mane res de ner sin concepo ss canseqienis facials c constzuivas do lemenios tats nos sbprctes completes. 50 poyetoanuitetnio, em si. elpa'conc inva, pode er considerado ums mensagem que pretend informar as esponsdves pla execugao da aba os recursos e rocedimcaiesweces- ris &implementagao ds proposta Enguanco measagem,o proetodever correspond Saractersieas da comuniayiocicnt, nos termes da Teoria da Commas, nt imple, basicamente, a adogao de im citdige comum, ao emissor ¢ ao receptor, ¢ na existéncia de um repertrio compatnado pels pars ewolvidss A clareza se obtém através do correto.emprego da linguagem técnica conven- cional, que deve ser comum a todas as partes envolvidas. Do mesmo modo, 0 projeto deve ser uma descrigao exata, ou seja, deve existir uma perfeita cor- respondéncia entre a descricdo propriamente dita e 0 objeto deserito, de ma- neira a se proscreverem a ambigtidade e a imprecisdo. Por fim, a descrigaio deverd ser completa, devendo compreender a totalidade do objeto descrito, de modo a refletir a abrangéncia obtida. A necessidade de tais atributos — clareza, exatidao ¢ completividade — é evidente por si mesma, E importante recordar que, no que diz respeito ao projeto de anquitetura, nem sempre so suficientes os elementos gréficos e, nestes casos, os elementos textuais (me- mérias, especificagdo, tabelas, ete.) se tomam componentes importantes da comunicagao. ‘Todavia, 6 oportuno enfatizar-se 0 que jé foi colocado no capitulo prece- dente: a exceléncia do processo de comunicagio nfo garantia de qualidade 4a proposta em si mesma. O projeto, conforme jé foi dito, € um meio, nfo um fim. Assim sendo, 0 que se exige dos recursos de comunicago é 0 conjunto de aspectos jd analisados. As possibilidades artisticas dos meios de represen- -tagio podem induzir 2 um desvirtuamento de sua finalidade, que é de infor- ‘mar, ¢ no a de produzir estimulos estéticos. Se o projeto pelo projeto pode ‘converter-se em um exercicio tedrico, a graficacao pela graficagdio pode de- ‘generar-se em um mero ato Itidico. UM MODELO TEORICO DO PROCESSO PROJETUAL NA ARQUITETURA ‘O ENQUADRAMENTO EFISTEMOLOGICO DO FROJETO inclui-se a arquitetura no rol das chamadas artes plisticas, o que signifi- ‘ca considerar que 0 processo de criaco nesta atividade é similar ao ato de criagio artistica em geral.™ Na arte pléstica propriamente dita, 0 fendmeno a criagdo tem uma natureza peculiar, em que prevalecem categorias psico- légicas de imprecisa conceituacio, como talento, inspiragao, imaginagIo e termos andlogos; mas também regras de combinacio das partes. A partir deste ponto de vista, € compreensivel que se tenha estabelecido chamar de “composigao” o proceso projetual na arquitetura, prética que, conforme se viu no segundo capftulo, se consagrou no século 19. Isto sugere que a ela. boragio do projeto arquitet6rico seria uma tarefa compardvel & produgio 4a obra pict6rica, de um poema ou de uma peca musical. Ora, esta concep- do era valida no contexto da cultura artistica académica, que estipulava regras, cAnones modelos, além de inventariar os elementos a serem em- pregados na “composicio" de um determinado projeto, que era Zonsidera- do como uma proposta de organizacdo essencialmente plistica, ou visual, nna qual a idéia da imitacao tirha seu lugar estabelecido.” No entanto, o repidio a tradigdo académica, explicito nas bases doutrindrias, da arquitetura modemista, deveria conduzir a uma reformulago do conceito do ™ ¥ bem conhecida a conceituago de Licio Costa (1962, p.111), que esereveu: “A arqu- ‘ture — apesar da sua complexidade atual de realizagao — ainda continua sendo, como 1no passado, fundamentalmente, arte plistica. Arte pldstica porque, desde a germinegso do projeto até a conclusio da obra realizada, o sentimento é seguidamente charnado a itec- Vir, frn de escolher ivremenie— dentro dos limites exiremas determinados pelo edlcu- lo, preconizados pela técnica, condicionados pelo meio ou impostos pelo programa — forma plastica adequada” Bison Mahfuz. (1995, p.17) observ: que “durante a maior parte deste século,o temo com= posigao teve uma conotapo negativa, pis estavaassociado AtradigHo académica de mitag0 ‘stilftica, qual o Movimento Modemo se opunhia e tentava superar. Essa avers a0 ter © a cisiptina a qual se efere deve bastante ao tomantismo a soa defesa do organicismo da ate. processo de projetacio na arquitetura. Deveria. Esta reformulacao, entretanto, iio se verificou" Os tedricos modernistas ocuparam-fe, na realidade, com a morfologia do produto, mas negligenciaram os aspectos essenciais do processo de projetagio, que nfo estavam na matéria-prima do referido proceso, mas na postura esteticista, que 0 modernismo apenas atualizou, sem renovar. Sobre isto, Carlos Comas observa que “o marco ideol6gico modemista no oferece alterna- tivas que invalidem a teoria tradicional da imitago como base do partido” A idéia do projeto por composicZo, heranga do pensamento renascentista, sobrevi- ‘veuquase intacta atéa primeira metade do século 20. E compreensfvel que assim ‘osse, pois a concepeio da arquitetura como arte plistica por exceléncia ¢ cOmo- da ¢ atraente, jé que implica outorgar ao arquiteto uma certa dose de “licenga ppoética” para conceder prioridade aos componentes sensiveis do processo projetual, As vezes, em fianco detrimento das aspectos racionais de ordem instrumental ou econémica. No entanto, duas razdes determinaram o temporério abandono da concepedo do processo criativo como “composigao” ou criagaio artstica. REFORMULANDO O CONCEITO DA PROJETACAO. A primeira destas saztes jé surgira no século passado. Com 0 advento da Revolugio Industrial, introduziu-se no campo da producio uma colecio de novas tipologias e novos programas, quc no poderiam nem podem ser trata- dos com os mesmos instrumentos conceituais adotados para os projetos de palécios © catedrais. Os fequisitos programaticos da arquitetura de catedrais « palicios caracterizam-na como simb6li¢a ou monumnentat, o que permite ou mesmo exige que 0 valor icénico de tais obras prevalega sobre as solicitagées de ordem instrumental. No entanto, quando se trata de tipologias de espécie mais complexa ou de cunho mais pragmético, como hospitais, indéstrias, pé- dios administrativos, aquela atitude meramente artistica no é suficiente para produzir um equacionamento racional ¢ respousivel do problema proposte. por isto que, um tanto tardiamente, o pensamento arquiteusral contem- porfneo também se volta para 0 estudo do proceso de projetagao propria- mente dito, buscando codificar métodos projetuais explicitos e escoimados do subjetivismo intuitive que era uma das principais caracteristicas da abor- dagem convencional. Esta, muitas vezes, aspirando & qualificago de “racio- ® Como observa Rogério Oliveira, “tendo-se esgotado 0 filio acadmico, até hoje nenkuma sistematizagio didatica veio substitui-lo. As experimentagies da Bauhaus e de alguns ‘constrtivistas permanecem tentativasisoladase estéreis — ainda que provocantes —~refltin- do-se de forma apenas residual em nossos carsos de arquitenura (Oliveira, 1986, .75). » Comas, Carlos Eusrdo, Kleologia modernistae ensino de projetoarquitetonico: duas pro- osighes em conflito, In: Comas, op. cit, p38. nal”, fundamenta-se em critérios pessoais e as vezes arbitrérios, que podem dar certo, mas qué sao insuscetiveis de verificagao, niio podendo, portanto, ser codificados. A longevidade do subjetivismo intuitivo ni surpreende, pois, ‘quando etigido em principio aceito, praticamente isenta o projetista de jus _ficar suas criagSes, Isto pode ser valido no ambito da produeZo artfstica orna- ‘mental, mas € questiondvel no campo da arquitetura, que 6 uma atividade em que devemn prevalecer 0s critérios de racionalidade e de relevancia social. A segunda razio 6 uma conseqUéncia da situagio acima retratada: a nogéo de que a abordagem convencional é imune & codificagio implica que se con- clua que a mesma nfo pode set ensinada. Esta concluséo estava expressa, ‘com todas as letras, no texto de Guadet: “a composigao néo se ensina, ela no se aprende a nio ser pelos ensaios miltiplos, pelos exemplos e pelos conse- Thos, a experiéneia propria se superpondo & experiéncia alheia’.” Este para- doxo— aprender 0 que ndo pode ser ensinado—, por mais popular que posse set, representa um obstéculo ao esforgo de se atribuir A tarefa projetual na arquitetura sua necesséria configurago de racionalidade. O fato é que, na pritica, cocxistem duas concepeGes principais sobre a natureza do processo de projetacio na arquitetura. Néo obstante, 0 vocébulo “composigao” pode ser empregado, em relagio ao projeto arquiteténico, com um significado que iio incorpore o contatido que lhe foi atributdo pela tradigao académica. Em determinados contextos, 0 processo de projetagio poderé enquadrar-se na- quela condigio caracterizada por Edson Mahfuz. (1995, p.16), ao discutir a questi das relagGes entre as partes eo todonna criagdo da forma arquiteténica: Para definir a relagio partestodo com mais certeza nao ésuficiente definir ‘o que 6 uma parte arquitetdica. E também necessétio saber como sio cri- das, pois isto nos informard a respeito do seu grau de dependéncia em relagao ao todo. ainda relevante saber as diferentes manciras em que as partes podem ser organizadas; isto nos daré uma idéia de como as partes © © todo se relacionam entre si. Equacionar a problemitica do projeto arquitetinico em termos das rela- (g&es entre as partes e o todo nic significa que essas partes sejam, necessaria- mente, os elementos catalogitveis de que nos fala Guadet. Na arquitetura do modernistno ortodoxo também ba as partes €0 todo; 0 que se nota, noenfoque modernista, 6 a inexisténcia aparente de um critério iconogrifico de hierarquizago das relagGes e de subordinagtio das partes ao todo. A istoBru- no Zevi chama de sintaxe da decomposigdo quadridimensional. O objeto ar- ‘quitetOnico deixaria de ser um volume, para ser o resultado da concatenacdo de planos. O compartimento mais simples seria o resultado da jungdo sin- titica de seis planos: 0 piso, o tto, as quatro patedes. Por outro lado, o pré- * Guade, Julien, op. cit, vl. prio edificio deixaria de ser um corpo inteirigo, para ser o agrupamento de seus vérios blocos. © modelo por exceléncia dessa concepeto arquiteténica pode ser encontrado na sede da Bauhaus, em Dessait (figura 4.1). Pode-se discutir a pertinéncia de chamar de “decomposi¢0” a uma moda- Tidade projetual que, como a “composigio” definida na cultura académica, também trata de reunir as partes num todo, No entanto, o antGnimo de Zevi serve para distinguir a “sintaxe da decomposicio quadridimensional” do con- junto de critérios adotados no campo da arquitetura académica. Nesta, como resume Marcelo Trabueco (1996, p.10), (0s elementos da arquitetura provinham, principalmente, da linguagem ‘greco-latina. Estavam relacionados com a longa tradigdo dos generos ou ‘ordens e com uma abundante literatura teGrica de raiz vitruviana desen- volvida a partir dos tratados escritos durante o século XV: a toscana, a erica, a jOnica, a corintia e « composta, ¢ alaumas variagbes propostas académicas e rominticas do classicismo (fundamentalmente durante 08 séculos XVILe XIX). ‘A doutrina modemnista sepultou os elementos da arquitetura de origem greco- latina, como também proscreveu a sintaxe do classicismo — ao ponto de per- mitir a Zevi afirmar que a linguagem modema, na anquitetura, sintetiza-se no anticlassicismo. Mas, sc, na doutrina modemista, as partes que constituem 0 todo néo provém do reperisrio clissico, sendo, em vez disto, resultantes deterministicas do programa, do partido arquitet6nico e dos meios de edificagao, nem por isso deixa de se colocar a problemética da reuniio das partes no todo. Retomemos ao raciocinio inicial. Dizfamos que, na prética, coexistem duag _concepgtes principais sobre a natureza do processo de projetactio na arquite- tura, Dentro de uma analogia cibernética, a abordagem convencional, basea- dano subjetivismo intuitivo, pode ser comparada a uma “caixa preta” (black box), que representa umn mecanismo do qual nao se vé o funcionamento, sen- do apenas cognosciveis a entrada ou formulagéo do problema (in pui), © a safda ou resposta (out put), como se simboliza na figura 4.2. Se o funciona __ mento nio pode ser testemunhado, no pode obviamente ser analisado, nem, ser limitado ou transmitido. Esta concepsdo ndo é mais considerada satisfatéria, pois implica a impos- sibilidade de aperfeicoamento do processo projetual ¢ da incorporagio de novos instuumentos légicos de apoio aos processes decisérios, jé presentes em outros campos do conhecimento aplicado, como a pesquisa operacional, ‘océlculo de probabilidades, etc. Assim sendo, uma das tendéncias do moder- no pensamento arquitetural é justamente o esforgo de codificagdo do proces- so do tipo “caixa transparente” ou “caixa de vidro” (glass box), ou soja, simi- lar aos mecanismos dos quais é possfvel observar-se 0 funcionamento, con- forme se representa na figura 4.3. Figura. 1 -Oedificio-sede da Bauhaus, em Dessau, projetado por Walter Gropius, exemplifica oconceite de “decomposigio” formulate por Bruno Zevi. O volume da edificagfo € oresulla- do da sticulagho de bldcos individualmente identifcdveis (salas de aula, alojamento,adminis- tragio), que no os submete um principio de unificagto formal ou estilistica. “OUT PUT* Figura 4.2 - Pera muitos studiosos, 0 proceso de projetagto na aruitetura asemethase a0 fetcionamente de uma “oaixa pret” (Sack box), imagem que representa vm mecanismo do ‘qual se pode conocer apenas x etzada ou alimeatagao (input) ¢&satda ou produto (out pu) thas info ge consegue observar 0 modo operaivo, por estar octto, Fura Umadstendéaias do pemsmento astral contrspoctne 6 de compart 0 Frbccvo ett, de um modo gea uae “cusaanspazente” lass os), que represent Tinrntsanfsmo do qual ep serie concer o mado de funconamenta Coshcendo- ‘Zulmodo de haere, pode ered 1 aperteigo lo i i i AS ENTIDADES ENVOLVIDAS NO PROCESSO PROJETUAL, presente capftulo examina alguns aspectos desta modalidade de abordagem, cam 0 objetivo de propor wn modelo tedtico aplicdvel ao proceso projetual na arquitetura. Para tanto, parte-se da premissa enunciada nos capitulos preceden- tes, segundo a qual o projeto arquitetonico é uma proposta de solugio para wn particular problema de organizagdo do entorno humano, através de uma deter- minada forma construtivel bem como a descrigto desta forma e as prescrigéies para sua execugéo.® Esta proposicao, como se vé, envolve cinco entidades: ~ a primeira é o particular problema de organizagio do entorno humano, sinteticamente traduzido no programa; ~ a segunda ¢ a proposta de solugdo; ~a terceira é a forma construtivel, eventualmente convertida em obra; ~aquarta 6 a descrigo desta forma; ~ aquinta é 0 conjunto de prescrigdes para sua execugio. O presente capftulo se limita a analisar aspectos relativos as trés primeiras entidades, ji quo as duas ttimas so apenas transcrigdes que no interferem diretamente no contetdo conceitual. No exame daquele modelo far-se-& uso do modelo teérico jé mencionado, buscando-se representar a esséncia das relagdes verificadas no fenémeno ém estudo. O termo modelo,esti aqui empregado na sua acepgio cieatifica, isto ,uma certa modalidade de representagio da realidade, através da manipul ‘go de um reduzido niimero de varidveis mais significativas da abstragdo aquelas que, para efeito de demonstrago, podem ser negligenciadas* Um exemplo classico de modelo € o préprio projeto arquitetSaico que, a partir de ‘uma linguagem convencional do tipo grafico, representa um objeto real ox realizével. (© PROBLEMA BASICO DO PROJETO. Em termos bastante simplificados, 0 problema bisico do projeto se reduz em procurar estabelecer, para um determinado contexto insatisfatrio, a for- ® Yer segundo capitulo. % Na terminologia cienitice, modelo ¢ representago sio sinénimas. Segundo Edward Keick (1970), os modelos podem ser icdnicos, dlagramdticos, matematicos e de sinulayao. 1 conto sue Ackof¥ e Sasient (1979), “os modelos to repesentacso da realidade. Se fossern tio comple ‘os to difecis de contolar como a realidad, nao haveria venhurae vanragem ern wilid-Hs". na arquiteténica que se ajuste a esta satisfacio, neutralizando-a.® O deno- ninado contexto insatisfatério 6, com efeito, uma colecao finita de requisitos 'specificos, de ordem material e imaterial, que, por definigao, podem ser atisfeitos por um ou mais aspecios da forma arquiteténica. Tais requisitos lizem respeito aos componentes praéticos ou instrumentais do problema inquiteténico, mas podem também envolver solicitagées de ordem.estética, 10 plano das aspiragdes afetivas, expressivas e/ou simbélicas. Assim sendo, fo arrolaveis como requisitos todas aquelas exigéncias suscetiveis de tradu- lo em algum pormenor éa forma arquitetOnica. Ao requisito necessidade de ‘luminagdo natural, por exemplo, corresponderia o aspecto da forma arquitetGnica identificade como janela; ao requisito ambiente interno acon- chegante, entretanto, poderé corresponder, na forma arquitetnica, diferentes aspectos, tais como dimensdes, cores, texturas, etc., eventualmente recone- idos como aconchegantes dentro de um sistema de referéncia cultural ou ‘meramente subjetivo. Ao conjunto finito, organizado hierarquizado do re- uisito di-se a denominagdo de “programa”. No modelo aqui estudado.0 pro- rama & representado pela expresso R= {lpte tye ty--Tab onde Ré 0 programa completo er, etc.,representam os diversos requisitos como tal identificados. Pode-se representar o problema projetual da seguinte maneira: seja.o.cam- po dos requisitos ov campo R, € seja igualmente 0 campo das formas arquitetbnicas ox campo F, a ser explorado, sendo ambos simbolizveis de acordo com a figura 4.4. ‘A tarefi do projetista consiste em determinar, no campo F (das formas arquiteténicas), aqueles especificos aspectos formais que comrespondam aos re- ‘quisitos jé identificados. E importante esclarecer que aspecto formal aqui no significa a configurago geométrica ou estética da solugao arquitetonica: tanto forma quanto aspecto formal referemse, neste caso, & natureza material e per- Cceptivel da solucdo arquitetdnica, envolvendo as categorias funcionais/instru- rmentais, construtivas, estruturais e inclusive estéticas * ® Segundo Christopher Alexander, “todo problema de projetagéo se inicia com um esforgo ‘para obter um ajuste finess) entre dua etidades: a forma em questioe sen contexto. A forma a solugdo do problema; o coatexto define o problema"(Alexander, op. cit). [0 voctbulo forma & aqui emipregado no seu significado mais preciso, como consignado nos iciondrios “forma 6 0 modo pelo qual umn coisa existe ou se manifesta”. (Aurélio, op. cit), [Referee forma meramente como sindsimo de expresso plistica €ignorarofato de que tanto ‘a foncionalidade instrumental quanto a slide, por excampo, da obra exuitetinice também Se ‘taduzem na geonsetri, nas dimenses enas caracteristias fsicas Gos elementos constrtivos. rojo estnatal, ainda pox excimpo, envolve um problema de forma por exceléncia. (Ss laren meena CAMPO DAS FORMAS. CAMPO DOS REQUISITOS Figura 44- Um modo tefrico do possi poeta (1), No pti momento do process projets, 0 projetiaa tora conbesento dos resists a ser eeris, as ina iguoraos aspects foal canes ds pod esto on suse rosuadas. Ocampo as formas se reseta temperaments como un eo ser explored ( problema essencial da projetardo arquitetdnica é 0 estabelecimento de uma Jorma capaz de eliminar uma particular situago insatisfatéria. Nenhuma situa- Ho insatisfatGria pode ser resolvida ou eliminada exclusivamente por um concei- ‘abstrato. O conceito, na arquitetura, deve ser traduzivel no campo das formas, » que significa configuracao geométrica, dimens6es, disposi¢ao de equipamento + materiais, e as relagbes perceptiveis entre eles. A este conjunto de elementos lesignamos forma arquitetdnica. 0 conteddo estético é um aspecto da forma unquitetCnica, mas nfo a exaure. A questo projetual estaré solucionada se, para vada elemento r, do campo dos requisitos ou programa, for encontrado um ele~ nento f, do campo das formas queo satistaca,fazendo desaparocer 0 desajust. Solocado nestes termes, o problema parece realmente muito simples (gura 4.5). CONFIGURACOES F DIFICULDADES DO PROCESSO PROJETUAL A situago representada na figura 4.5 € a ideal, pois significa. inexisténcia le problemas de decisio; no entanto, tal circunstancia € rarissima. O proble- na; em decomréncia, nio € tio simples, pois podem comer, ¢ na reatidade scorrem, cinco tipos de situago ou configuragSes de projeto: a) dois ou mais requisites podem set satisfeitos por um nico aspecto for- nal, 0 que é uma circunstincia evidentemente benigna; ») um mesmo requisito poderd ser igualmente satisfeito por mais de uma tNhernativa de aspecto da forma arquitetOnica, o que também é uma condigo >enéfica, pois transforma 0 projeio em um processo de selegio entre varias aipdteses adequadas; c) um determinado requisito poderd nfo encontrar correspondéncia no cam- 20 dos pormenores formais, ou seja, ser insatisfaztvel; 4) a soluetio de um determinado requisito poderd implicar impossibilidade le satistagdo de outro, por contradicdo manifesta entre as solicitagdes consi- leradas; ©, ) finalmente, poder ocorrer que dois aspectos formas, isoladamente iveis, ndo sejam compativeis entre si, o que obviamente impediré sua combi- 1agio para a constituigio de um todo unitério, ‘A conjugagio das cinco circunstancias materializa o drama do projetista e sstabelece os limites da criatividade para o exercicio da criatividade em ter. nos consistentes ¢ responséveis, Nas situagdes concretas & improvavel a ocor- “éncia freqilente das duas situacdes positivas examinadas em primeiro e se- undo lugares; jé a associago das trés Gltimas situagbes é um fato normal na arefa de projetacio, que € qualificada como problemética justamente por ‘sta circunstncia; se tais hipéteses no fossem cortiqueiras e inevitéveis, do haveria o problema projetual, Podemos estabelecer que a competéncia a CAMPO DAS FORMAS CAMPO DOS REQUISITOS: Figura 4.5 - Um modelo teérico do processo projetual (2) A situapdo ideal ¢ aquela na qual ‘consegue estabelecer prontamentc uma comrespondéacia entre os equisits conhecidos e um ‘conjunto harménico de aspectos formais qu represente um perfeitoajuste so entomo. profissional do projetista residiré precisamente na capacidade que 0 mesmo demonstrar na neuttalizacéo dos conflitos representados pelas trés éltimas configuracdes, que ocorrem de modo isolado ou conjuntamente. (05 ESTAGIOS PRINCIPAIS DO PROCESSO DE PROJETACAO Em tese, 0 processo de projetacio propriamente dito apresenta dois gran- des estigios: 7 a) inicialmente, o projetista efetua 0 inventdrio dos aspectos formais que, isoladamente, possam satisfazer o conjunto de requisitos programaticos pre- ‘viamente estabelecido, cabendo a cada r; um ou mais f,, conforme se simboli- zana figura 4.6. Admitindo-se, por mera hipétese, que nosso programa seja composto por ape~ nas cinco requisites e que, ainda por hipGtese, inventariam.-se quatro alternativas de solucdo igualmente vélidas para cada um dos requisitos. E fécil demonstrar ‘que o objeto ser projetado pode assumir exatamente 1.024 diferentes configurs- es.” Se, por outrolado, for possivel arrolar cinco alternativas para cada req) sito, o niimero de configuracées relizaveis chega a 3.125. A funcio do projetis ‘a, no entanto, consiste em propor apenas uma ou duas hipéteses deste imenso rol. E, na realidade, o rol nem sempre 6 efetivamente imenso, j que, dada a incidéncia das trés tiltimas situagées problemiticas referidas no subtitulo E, tor- na-se, As vezes, dificil até o estabelecimento de uma tinica proposta plenamente satisfat6ria, dentro dos termos ideais. Tal circunstincia, como é dbvio, dependeré ‘da natureza intrinseca dos requisitos ou das limitages do campo das formas. Na pratica, 6 licito supor-se que alguns requisitos sero eventualmente satisfaziveis ‘por duas ou mais hipéteses formas, e que alguns ndo encontrem solugio em nenhum dos aspectos formais inventariados, pelo menos em termos ideais. ’) o segundo estigio serd, consequentemente, o momento da selegdo € ‘conexdo dos f, cousidesados mais adequados no contextoem estado. Tal ope taco € realizada com o emprego de certos critérios, nem sempre explicitos organizados, mas necessariamente presentes. Chega-se, nesta fase, & situagao simbolizada na figura 4.7. Neste exemplo, a configuragio Fai{fi 66 ft poderé representar a solugao hipotética mais adequada para 0 problema formula- do. Se, por qualquer razio de ordem funcional, tecnolégica, econdmica ou est6ti- ‘a, etc., dois ou mais fforem incompativeis, tomna-se necessirio sua substituigo 7 Trata-se de urna simples questo de aslise combinatra: 4° = 1.024. ee ee aa ei acon an ists CAMPO DAS FORMAS. CAMPO DOS REQUISITOS Figura 4.6 Um modelo tein do procesto proetal (3). A careterstia pocencensia do ‘rocco projetalé a exporago do. campo das formas, coma fsalidade de identifica as $erativas formal potencialmenteepas pas rsolugSo do peoblema.E sual que para im dterminado requisto exist um conjunte de lipteses mereesorss de considerag0, cada tua com vantagense dsvantagns e com diferentes possiblcades de ariculaao. CAMPO DAS FORMAS CAMPO DOS REQUISITOS € 3 x Figura 4.7 - Um modelo teico do proceso projetual (4). A sclogfo e & covexo de una altemativa yaa cade apecto formal, operadss segundo eis de wvaliagio coerentes como Programa, 60 real objetivo do proviso de projet, Os clementos f sclcionados serio agueles quo, além de satistazerea aos requisitos do programe, presenters um gran de compa: iibiidade sdequnco. bes ‘Por outros que sejam combindveis, mesmo que isto represente um eventual de- «réscimo no grau de satisfagio dos requisitos atingidos, pois o que se busca é a ‘coeréncia formal do todo. Mesmo porque a mencionada incompatibilidade entre dois ou mais aspectos da forma significa sua automatica inviabilidade, Nos termos da arquitetura, a tarefa projetual compreende dois tipos de atividade, nem sempre distintamente hierarquizadas ou seqiienciadas: a) a busca ou proposiciio de aspectos formais que possam satisfazer 05 requisitos programaticos; ) a selecio e conexio dos aspectos formais considerados mais convenien- tes A solugiio completa ¢ eficiente do problema, através de uma forma unité- ria, integrada e coerente. Cabe também enfatizar que estas operagdes nio estéio necessariamente separadas, pois a intuicdo frequientemente intervém, produzindo superposigio de etapas, ou sua inversio. A primeira das modalidades de ago mencionadas, isto €, a selegio, € uma atividade criativa por exceléncia: constitui-se na procura de determinadas associag6es de conceitos preexistentes, de modo a estabelecer entidades no- ‘vas, ou mesmo na utilizacdo direta de formulas j4 conhecidas e testadas.* Tal ‘operacio poder basear-se em procedimentos algorétmicos (aplicagio de re- gras explicitas) ou heurfsticos (determinagao de respostas sem o emprego de processos verificéveis).” O segundo tipo de atividade, a conexo, é um desdobramento do pri: meiro tipo, em outro nivel. Procura-se, nesta etapa, integrar as alternati vas escolhidas em uma tinica entidade dotada de coeréncia formal. Para tanto, o projetista emprega um certo niimero de critérios de avaliagio de alternativas ou critérios de projetagdo. Estes critérios derivam do repert6- rio conceitual do projetista, de sua bagagem cientifico-tecnolégica, de suas posturas de natureza filosdfica, ideolégica ou doutrinéria, e de suas inclinagGes e preferéncias no plano das possibilidades estéticas da arqui- tetura. O sistema de critérios de projetagao poder ser também plasmado pelo conhecimento empirico, que completa o conhecimento teérico e lhe confere a indispensével consisténcia Na pritica, tais critérios no esto necessariamente expressos de modo orga- nizado, nem tém imediata transpdsi¢ao para o discurso verbal; mas certamente_ > Segundo Louis A. Flieger, durante at ceiador “manipula stnbolos ou objets extemos para produzirum evento incom para és o para nosso mci (lado por Kner, 1968.13). > Seguro Duaiibie Simonsen Je (1971, p 22-23), “um algorismo(algortmo) emt matcmi- ‘ica, uma egra, ou uma le, owuma verdade qu, Sempre que aplicacaapremissasconhccides, produ resulados se no conhecdos, pelo menos esperados{..Jaheurstca do pregoheuisicin {Gescobri, pelo contiio, € uma verdadecrcunstancil no é‘veficdvel’, do € matemai- ‘eamente comprovéve!”, estario sempre presentes, mesmo que nio o perceba 0 projetista. Ao decidir-se por uma entre duas ou mais alternativas, o projetista estard fazendo uma aval actio, ¢ para tanto emprega um critério, mesmo que este fique subjacentc. A natureza e o significado do critério de projetagio so analisados no ca~ pitulo seguinte. ion Liat Ane ati bane carne hme seiosetecre acim CRITERIOS DE PROJETACAO ‘A PROJETACAO COMO SEQUENCIA TEMPORAL ‘Nao se tenciona, no presente capitulo, investigar em profundidade os meca- nismos do processo criativo na arquitetura, nem analisar a temética da metodologia projetual, que sao t6picos suficientemente extensos para justificar ‘uma abordagem especifica, em etapa posterior; o que se pretende neste item é estudar alguns aspectos relevantes do procedimento projetual, no que diz res- ppeito aos mecanismos de determinacZo qualitativa da forma arquiteténica. Fez-se, 10 capitulo precedente, referéncia aos estigios mais definidos do proceso de projetacdo, examinado em conformidade com o modelo anterior- mente exposto. Estes estdgios revelam, numa primeira fase, a proposigdo de tum vasto elenco de formas potencialmente capazes de satisfazer os requisitos do programa cstabelecido; numa etapa posterior ou mesmo simultaneamente com a primeita fase, realiza-se a selecdo e a conexiio dessas formas, de modo ase produzir uma imagem coerente que represente uma possfvel solugio para 0 problema proposto. 0 canceito de soluedo, no caso, implica o conceito de resolugio, ou seja, de resposta Satisfatéria para o problema em estudo. ‘Tais atividades (proposigio, selego e conexio de formas), para serem le~ vadas a cabo de modo eficiente, pressupGem certas aptiddes por parte de quem as executa, De um modo geral, estas aptidées podem ser qualificadas como pertinentes 4 categoria psicol6gica denominada criarividade.” No caso especitico da tareta projetual na arquitetura, a capacidade criadora do proje- tista deverd estar alicercada no repertério de conhecimentos técnico-cientifi- “© podem se encontrar inimoras definig6es de eriatvidade. Maria Helens Novaes (1971, p.19) arrolaalgumas: "Cratividade 6 um processo que toma alguém sensivel 20s problemas, defici- acias, hiatos ou lacunas n0s conhecimentos, eo leva a identificardificuldades,procura solu- (96es, fazer especulagbes ou formular hipstses, testar essas hipSteses, modificando-as, ea ‘comnicar os resultados (Torrance)"; “Criatividade pode ser considerada como una forma de solucionar problemas, envalvendio saltos intuitivos ou uma combinasio de idéias de campos Tiaxgameate separados do conkecimento (Gagné). George Kaeller (1968) também spreseata algumas dfinig6es, entre as quais a dc Louis Flieger, citado, que afirma que a “riatvidade & ‘araniptlag3o do sfmbolos ou objetas externos para producir um evenloincomum para n6s ou ‘para nesso meio”, O autor deste trabalho considera partiulamente adequada a conceituagio dde Abraham Moles (1971, p.59) acima enunciada cos apropriados, posto que, sem estes conhecimentos, carecerdo de consis- _tneia as propostas sugeridas. Com efeito, a competéncia profissional do ar- ‘quiteto envolve @ capacidade de criag&o, mas inexistird sem a devida baga- _gem de conhecimentos cientifico, tecnol6gico e humanistico, ja que € esta ‘bagagem e somente ela que fomece a medida da corregdo das idéias propos- tas pelo projetista de arquitetura. ‘A quantidade e a qualidade das formas propostas no primeiro estigio do processo projetual dependerio do repertério de imagens e conceitos em po- der do arquiteto.” Abraham Moles (1971, p.59) define criatividade como “rearranjo dos elementos do ‘campo de consciéncia’ de um modo original”. Conforme 0: autor, semethante definigao implica a existéncia de ele- mentos do “camp de consciéncia”, semantemas ou étomos de significagio: signos que nos vérh de nossa cultura, dos conhecimentos fomecidos pela do- ‘cumentagiio, conceitds abstratos, fragmeintos de imagens, tudo o que nos pro- pie a percepeio consciente com a documentagio. O proceso de exploracio dese repertério se df, as vezes, de modo consciente, 3s vezes, de modo in- consciente, mas esta diferencaé irelevante para efeitos do presente trabalho. Importa é constatar que, para um determinado problema, podem ovorrer ne- ‘nhuma, apenas uma ou varias alternativas de solugdo. Da riqueza do teperts- rio de imagens ¢ conceitos depender4 a ocorréncia da primeira, da segunda ou dia terceira hip6tese. A ultima situaco caracterizard um rico e fecundo repert6rio, enquanto a primeira, obviamente, traduziré urna situagio adversa. AAVALIAGAO DA PROPOSTA af “ A etapa de selego e conexiio de alternativas representa o estégio mais impor- tante do processo criativo, podendo verificar-se, basicamente, de duas maneiras iferentes: na primeira, a avaliagdo dos resultados € posterior ao processo em si —vomo fiz o meanbio de un jit’ de premiago — enquanto na segunda, esta avaliago realizada concomitantemente integrand 0 proprio processo—como deve fazer 0 projetista responsével. A primeira situagiio cocresponde, aproxima- damente, & seguinte imagem retratada por Abraham Moles (1971, p.58): Os estudiosos concordam na importincia da meméra (arquivo de imagens e conceitos) na cfativagao do processo criative, Diz a peopdsito Fayga Ostrower (1977, p.19): “Evocando 0 ‘ntem € projetando-o sobre o amanhi, 9 homem dispoe em sua memézia de um instrumental para, a lempos varios, inegrar expediéncias ja feitas com novas experiéacias que pretende fazer”. Segundo 0 pocta Mario Quinana (1979), “s imaginag%o & a meméria que eniougue- eu", Abrahama Moles (1971, p.61), refere-20 aos elementos do “campo de conscineia” como constituintes €0 “mobilidrio” do eérebro do pesquisador e portato produto de sua edacasio, sua cultura, de seus conhecimentos, de seu aprendizado, senéo a soma do que recebe. xen hein, ‘ d Propetide pelo motor de umaatividade intelectual que tomaremos proviso- riamente como dado de experincia, e que se pode chamarseja curisida- de, soja desejo de por ordem no mundo, seja sensualidade do racional, 0 pesquisador tentard, com umamentalidade hidica,reunirconcsitos uns com ‘outros, por ligagBes onde a légica formal tem pouco, ou nada, a ver com ‘0 stanus nascendi em que nos colocamos por hipétese. Nessa eventualidade, o processo projetual confunde-se com o processo de criagio artistica stricto sensu, pois posterga, remetendo para outra etapa, a tarefa de avaliar os resultados advindos. As expressdes “sensualidade do ra- cional” ¢ “mentalidade lddica” definem uma postura psicolégica peculiar & criagio desinteressada. No entanto, o processo criativo na arguitetura esti longe de ser desinteressado, pois deve responder & ado progra- ‘ma, que é essencialmente um inventatio de necessidade ou requisitos reais, Faz-se exigivel, portanto, um mecanismo de avaliagio das proposig&es estabelecidas. Fez-se referencia a duas situagées diferentes quanto oportunidade do pro- cesso de avaliaciio, ou seja, avaliacio a posteriori e avaliagio concomitante, Nao se pode estabelecer uma ordem hierdrquica entre as suas modalidades, ‘posto que, do ponto de vista da finalidade do processo projetual, o que efeti- vamente importa é a qualidade do resultado, Para o usuario interessa mais 0 produto que 0 processo; se 0 resultado satisfizer 20s requisitos do programa, tudo o mais tem importancia secundtia. OS CRITERIOS DE FROJETACAO E A NOGAO DE RACIONALIDADE ‘Todavia, sob o ponto de vista do projetista, no é negocidvel a questo dos procedimentos adotados, pois os mesmos dizem respeito aos padrées de efi- cigncia operacional. A avaliagio das propostas estabelecidas visa determinar co grau de aceptabilidade das diversas alternativas. tendo em vista a natureza do programa, a disponibilidade de meios e as intengdes do arquiteto. As re- ‘gras, normas e prinefpios adotados no processo de avaliagio constituem os critérias de projetagéo. ‘Neabum projetista admitiré a hip6tese de ser seu trabalho destituido de racionalidade; hii mesmo um imenso epis6dio na hist6ria da arquitetura rotu- Jado como Racionalismo. Ora, é sabido que racionalidade diz respeito & ra- Zito, que, em termes filos6ficos, equivale a fundamento: “a razio explica en- tito porque que algo 6 como & e nao de outro modo” (Ferrater Mora, 1978, 1-337). A idéia de racionalidade vincula-se & idéia de possibilidade de expli- cago, ou seje, de, supressaio da gratidade. Segundo 0 eminente filésofo René Le Senne (1965, p.16): “o racionalismo é a filosofia que funda o saber sobre o conhecimento das relagGes nevessérias entre as idéias”. Em termos especificos da arquitetura, a concepe&o racionalista significa assumir que cada aspecto particular da forma arquiteténica corresponde a um determinado as- pecto do contexto programético ou & conseqtiéncia da limitagao dos recursos disponiveis.“? Podemos entdo aceitar a premissa segundo a qual o fundamen to de racionalidade no procedimento projetual é o pressuposto segundo 0 qual deve ser sempre possivel justificar-se um determinado pormenor da for ma projetada como decorréncia da aplicagao de critérios defensdveis e com- ativeis com 0 contexto considerado. Em outras palavras, ui compromisso ‘com o not6rio lema “a forma segue a fungio”-© O termo fiungdo, como serd visto mais adiante, perde seu papel qualificador quando empregado com um significado deliboradamente amplo, Se for permisstvel, por exemplo, falar-se da fungio estética de. um determinado elemento arquitetOnico, a expresso “funcionalidade” carecerd da necesséria preciso semantica. Dentro desta amplitude conceitual, todos elementos arquitetGnicos poderdo ser qualifica- dos como “funcionais”, mesrao que digam respeito somente as intengdes es téticas esposadas pelo projetista. A expressdo adequacéo instrumental, em- pregada no presente trabalho, referir-se-4 exclusivamente & capacidade da forma arquiteténica de possibilitar 0 exercicio eficiente da atividade para qual foi concebida, visando as necessidades fisicas e psicologicas do usuério. De qualquer modo, sabe-se que, mesmo na denominada arquitetura racionalista, so frequentes oscasos em que juizos de ordem estética prevale- ccem na selegio de determinadas alternativas, ainda que em prejuizo dos as- pectos instramentais ou construtivos. Hi toda uma historiografia da arquite- tura a demonstré-lo, servindo para corroborar a difundida nogao de que ar~ quitetura é, acima de tudo, arte plastica, Sabe-se que a liberdade de criagao do artista plistico nem sempre é compativel com os principios doutrindrios As origens doutrndrias no Racioralismo na arquitstura sto remotes, pois, de certo modo, correspondem a0 advento do Raciomlismo na Filosofia, © que nos remete ao aéculo 18. Este {oto periodo em que, segindo Renato de Fusco (198i, p. 263), “a literatura arquitetonica inienta win descrigao dos elementos, uma classficacto, um méiodo operativo transmissivel mediante um conjunto limitado de preceits verificvels; daa associagio proposta,nzo sem. razfo, por diversos autores ene oracionalismo mioderuo e cultura do classicism. Por outro Indo, o tind vituviano firmilas, uiltas, venustas, a afirmagio de Lodo segundo a qval ‘nada deve ser representa sem qu esgja na fungi’, levada para a arquitetaa por Horstio Greenough, coastituem exemple, ene muitos, de uma tatadistica com intongdesracionalistas +4 despeito da origem mais remotada dosirina racionalist, sabe-se que oterno funcional, aplicado 3 arquitetura, tem ums hisiria mais recente, Como jf se vu, a4 nota precedente, deve-s so escultrnorie-ameriean Horatio Gresaough 0 ensaioiatitalado Formand Function, publieado por valde 1850 (cf. Mumford, 1972, p32). Segando Eaiward De Zurko (1970, 1.15), “as teoras funcionalisas @argiteura sto aquelas que fazem da estritaadaptacSo da formu finalidade o prinepiocittorbésico da peojelagSoe o padrio fundamental para medi ‘a exoxltncia ou a beleza da arguitetra” bel ag a ab do funcionalismo; mas, como se afirmou na abertura deste trabalho, a arqui- tetura é um fenédmeno complexo e contraditério. De qualquer forma, dentro do escopo pragmético do qual no pode esca- par a obra arquitetGnica, qualquer que seja, fica claro que a tarefa projetual no deve basear-se unicamente em atitudes arbitrarias ou descomprometidas, de carter meramente intuitivo.ou, desvinculadas do contexto I6gico onde inevitavelmente se insere o problema a ser tesolvido. E: por isto que 0 proje- tista, 20 encarar com seriedade 0 seu trabalho, procura, consciente ou in- conscientemente, adotar uma colegio de normas ou princfpios capazes de orienté-lo na atividade de avaliar, selecionar ¢ conectar as alternativas cabi- veis dentro do quadro programético. Como jé se afirmou anteriormente, estes ‘Prinefpios ou normas constituem os critérios de projetagio.* HIERARQUIZACAO E SACRIFICIO £ possivel que a mais notével caracterfstica dos critérios de projetagiio seja 0 fato de que os mesmos nfo se apresentem sempre e necessariamente de ‘modo explicito, embora devam ser sempre ¢ necessariamente suscettveis de explicitagio, ou seja, nao é indispensavel que 0 arquiteto verbalize, de imedi- ato, o sistema de normas ou principios que esté cmpregando. A forma arquitet6nica proposta, quando derivada da aplicagio de critérios implicitos, dificilmente ocultaré os lagos de coeréncia com os objetivos do projetista. No centanto, a busca de uma fundamentagio tedrica e metodoldgica para a ativi- dade projetual conduzird inevitavelmente & explicitagdo dos critérios adotados. De certa maneira, jé constituem 0 primeiro passo para 0 estabelecimento de um procedimento metodolégico. : ‘0 propésito dos critérios de projetagio € garantir a qualidade do projeto no que diz respeito & correspondéncia entre as formas propostas ¢ os requisi- tos expressos no programa; naturalmente, é possivel que 0 conceito de quali- dade se tradluza de modos diferentes, revelando a concepgao pessoal do pro- jetista e a sua propria hierarquia de valores. Assim, toma-se diffcil falar na universalidade dos critérios de projetagZo. Hié campo para a coexisténcia de cxitérios pessoais e nio-coincidentes. Raramente se dé 0 caso de uma alternativa formal que satisfaca igual e plena- ‘mente todos os aspectos qualitativos procurados. Na hip6tese de incompatibili- dade de dois ou mais aspectos, caberd ao arquiteto optar pela alternativa que ‘considera mais recomendavel naquele contexto espectfico. Quando é impossivel “Na terminologia filoséfica, eitéri (do grego crithrioukrizerion) 6 “uma regra para decidir 0 ‘que & verdsdeiro ou falso” (Abbagnano, 1970), © atendimento simultéineo de dois ou mais requisitos igualmente importantes, © projetista se depara com a contingéncia de aceitar algum sacrificio. Nesta cir- ccunstincia, 0 processo criative passa a envolver no apenas a invengdo, mas também a hierarquizagdo de prioridades; ou, como jé muito bem sintetizou José Luiz Moya (1947, p.42), “arquitetura € uma classificagio de sacrificios”.*° ‘Exemplifieando: quando o projstista procura solucionar o problema de uma co- bertura, ele no ignora que, no plano ideal, deve buscar uma altemativa que seja, ‘um s6 tempa, funcional (impermeabilidade, isolamento térmico actistico, re- sistGncia mecdtica, etc), econdmica (custo de material, nvio-de-obra, conserva- ‘so, etc.) e bonita (formato, cor, textura, etc.). Contudo, é provével que, em certas i aaa Line smanipular tivar eleborar ot cozinhar eaimentos (sein tecother imontarse J viveres contervar 0 equipamento comer e eber ‘wosar roupa dormir obter privacidad sommir cobter tiléncio| ir obter obscuridade ouvir misica obter condigies de repose J ver televisdo impart ot lazer fazer nada conwersar ee. HABITAR lavarse banharse nee escovar dentes Nigene —__ pentareabelos necassidades a fisiolégicas contorto ‘ambiental ae. outras atividades Figura 7.1 - © programa arguitetOnico pode ser entendido como a decomposico de uma ne~ ‘cessidade determinente no conjunto mais ou menos definido eexplicito de todos os requisitos ‘esub-tequisitos que a integram. A necessidade genérica de habitar, por exemplo, decompbe- ‘se em requisitos como proteger-s das intompéries,repousar, alimentarse, dormir, cuidar da higiene, etc, que, por sta ver, podem ser decompostos em sub-requistos ainda mais especsfi- 08 € pormenorizadis. de classficagio e hierarcuizag3o, de modo a verdadeiramente relevantes, por serem suse: verso de requisitos num sistema de informagdes O0OO000000 plo argentino, partiu-se de um inventério inicial, com mais de quatrocentos requisitos, ¢ ao fim de um ano de intenso labor, chegou-se a um programa sintético, constituido por nada menos que 130 elementos. Em seu trabalho Community and privacy, escrito em parceria com Christopher Alexander e publicado em 1963, Serge Chermayeff (1968, p.163 seg.) propée, para o programa de um pequeno conjunto de residéncias urba- nas, uma lista sintética de 33 requisitos. Tais requisitos referem-se aos aspec- {0s abaixo relacionados a) adaptacao e utilizagao do terreno; b) problemas de prote¢do; ©) responsabilidade: 4) controle climético; ¢) iluminagao; f) actistica; 2) comunicagio, h) equipamento e servigo. & importante ressaltar que os 33 requisitos enumerados dizem respeito apenas a organizagio urbanistica do conjunto, pois nao incluem aspectos re~ lativos & solugio interna das habitagdes. Caso o fizessem, o némero de itens niio seria tio diminuto, NATUREZA DO FROGRAMA, No inicio deste capitulo, afirmou-se que a traducio das necessidades determinantes nos termos de uma linguagem manipulavel pelo projetista no é uma etapa do projeto mas é uma fase do processo resolutivo; pode-se aperfeicoar este conceito, estabelecendo-se que, se o programa for real- mente constitufdo no equacionamento do problema considerado, ele assu- mir§ também um papel de modelo tedrico da solugio procurada, jé que ‘enuncia as caracteristicas desejiveis naquela solucio. Com efeito, umn pro- grama corretamente elaborado é um gabarito, por exceléncia, para a aval ‘¢o qualitativa da proposta. Em tais condigdes, pode-se concordar com a nogio de que 0 processo criativo na arquitetura tem seu infcio efetivo com 0 esforgo que 0 proje- tista desenvolve no sentido de interpretar as expectativas, aspiragées ¢ necessidades do usuirio, visando fixd-las numa linguagem instrumental, compativel com os procedimentos racionais préprios do proceso projetual. Este estigio de reconhecimento, interpretagao e organizagdo dos elemen- tos do contexto, constitui a operagio que pode ser denominada de andlise programética : : Poneianiameeuias (08 REQUISITOS FROGRAMATICOS Como ji foi enunciado, a matéria-prima do programa, cessidades, aspiragdes e expectativas do elemento humano que vai utilizar a edificagdo, ~ slio as categorias que constituem o fator determinante da arquitetuta, pois, emtese, a obra da arquitetura ¢ erigida para introduzir, no entorno, modifica. es materiais que possibilitem a satisfagdo daquelas solicitagées. Em ter- ‘mos simplificados, pode-se dizer que as necessidades, aspirag&es e expectati- vas dizem respeito ao uso da forma arquitetGnica, nos planos fisiol6gico, psicolégicoe sociocultural, como jé foi observado; mas, na pritica, nem sempre 6 possivel estabelecer uma fronteira entre aqueles tipos de uso, pois a com- plexa realidade biolégica do ser humano no é caracterizada pela interagio daqueles planos, cuja dissociagao s6 € cabivel como resultado de uma abor- dagem didética ou I6gica, Na operaco de uso da forma arquiteténica, 0 usu- rio no tem condigées de separar os aspectos fisiolégicos, psicol6gicos € socioculturais, que efetivamente constituem uma realidade sensorial. Por outxo lado, a exteriorizagio dos requisitos programiticos pode assu- mir diversas modalidades. Algumas necessidades e aspiragBes so expressas claramente pelos usufrios que delas tomam consciéneia a partir da prépria experiéncia pritica e sensivel, ou mesmo, o que é igualmente valido, em fun- G0 da observacio, anilise ¢ reflexio sobre fendmenos relacionados com a vivéncia de terceiros. Entretanto, hé um elentco numeroso de necessidades aspirages que deixa de.se exteriorizar, permanecendo em estado latente. Este virtual estado de inconsciéncia poderd resultar do fato de serem tais solicita- ‘g0es vinculadas a, planos elementares da existéncia fisica ou psicol6gica do ser humano, por exemplo; ou também poderd se verificar em fungo de uma incapacidade transitéria ou permanente do usuario de traduzi-las nos termos de uma linguagem verbal. Ao projetista caberd a tarefa, nem sempre realiz- vel, de transformar os requisitos inconscientes ou latentes em dados expres- 0s € manifestos. Os requisitos poderdio manifestar-se de maneira explicita ou implicita. No primeio caso, os dados sio textualmente registrados no programa; no segundo caso, embora nao diretamente verbalizados, os requisitos ficam subentendidos, por serem aspectos necessariamente conectados a dados explicitos. Assim sendo, por exemplo, se o programa de uma determinada edificagio estabelece a necessidade de iluminagio e ventilaclo naturais, fica implicito que a mesma deverd ser provida de abertura para o exterior, como janelas, clarabéias, etc. Alguns requisitos importantes, como os que dizem respeito 20 condicionamento ambiental, por exemplo, so tao 6bvios ‘que costuma-se no enuncis-los de modo explicito. Quando um cliente en- comenda a elaboragio do projeto de uma residéncia, nio declara que pre- tende obter um espaco interno onde a temperatura oscile entre 15 ¢ 25 graus ccentigrados, nem que o teor de umidade do ar seja de tanto porcento, ¢ que onivel de ruido seja de tantos decibéis; tais solicitagdes ndo sao especificas de um programa determinado, pois constituem um fator determinants de ‘ordem genérica, No entanto, se o projeto tratasse de um centro de computa- ‘¢fo eletronica, por exemplo, tais requisitos seriam expressos de modo ex- plicito, j4 que constituem um dado essencial do programa e séo peculiares Aquela tipologia arquitetdnica. ‘Um programa poderd apresentar requisitos alternativos, quando a satisfagao de um possibilitar a anulagio de outro. Por exemplo, poderé sex previsto que, num determinado contexto, a circulagio vertical se efetive ou por excada ou por rampa. O atendimento de um requisito excluiré o atendimento do outro. Poderdo também apresentar-se requisitos condicionais, que s6 se verifica~ Ho se a solugdo proposta assumir cesta configuragao. Exemplificando: em ‘um determinado programa, 0 elevador somente ser um requisitose asolugio arquitetdnica proposta atingit um certo némero de pavimentos; quebra-sois serio necessérios se as janelas de um determinado compartimento forem or entadas para 0 poente. APRESENTACAO DOS REQUISITOS PROGRAMATICOS A titulo de conclusio deste capitulo, convém fazer referéncia as maneiras de apresentagio dos dados programiiticos. Naturalmente, a modalidade mais simples, quanto a forma de apresentagao, € o mero inventario textual dos compartimentos ou funges a serem atendidos pelo projeto, conforme o exem- plo da figura 7.4, para uma hipotética clinica odontolégica. ‘A manipulagao destes dados programéticos, no esforgo para organizé-los ¢ hierarquizé-los, conduzira 4 elaboragto de yréficos, em forma de organograma ou de matriz (figuras 7.5 e 7.6), cuja finalidade & apresentar 08 diversos elementos juntamente com as variadas formas de relagdo entre eles. (0s gréficos superam os inventitios textuais, em termos de eficiéncia, pois, ogra expressar maior quantidade de informago, a0 mesmo tempo que ado- tam linguagens mais apropriadas & instrugio da atividade projetual. © programa do tipo extenso, ou seja o programa que inventaria nao apenas compartimentos, mas solicitagdes do tipo instrumental, afetivo, ctc., também esté sujeito As mesmas modalidades de apresentagdo. Em trabalho publicado anteriormente, 0 autor do presente estudo elaborou 0 programa basico para o projeto da habitago de interesse social, expresso nos termos de uma listagem de atividades desempenkadas no ambito do- = cL CA ODONTOLOGICA z programa arquiteténico 3. sanitdrio pacientes 4. laboratério 5. sanit@rio dentistas 6. administracgiao 7. depésito & consultério n® 1 9. consultério ne? 2 WW. consultGrio n* 3 Me-consuitdrio n* 4 Fig. 74-0 ey pitti mnie mai inles convention ue cateasfo extal ds components ou fangee comreenias ma eto er tada Ne igor scm, oprogrns snpliado de unm hipotisclicaodouaagicn, aanyrseaon-<@> vusyesaoanesa > ranrsesc> é reryenauscn > O e oysviay 30 soul ee ee x-ove % onjoLINSNoO| © oni9.INSNOO| @ oieLiNsNoo| 1 onjo.NSNoo| € e OSIAN36 BO VOVULNS é exis5a50 € Oyovusinmay oyevinouio omouvEoavT SVIGILNSO OMYLINYS {SB.LNSIOVE OmyLINVS oysaa0a4 | vuaues 30 vive| TWaloNta VaveLN3| S3QOV1aY 3 SOLNAWS73 30 ZMIWW VWVHOOUd — VOIDOIOLNOGO VvoINNO sane Figura7.6- A matrizde elementos ¢relagGes apresenta as mesmas informagSes do organograma ‘numa outa linguagem, ondeostipos de relages so traduzidos por e6digos de ipa simi, sem as implieapées topoldgieas do arganogramia. 1apdes desejavels enue eles, Pel fio de ows ees + wrrenc| oxtegesa|—] voavuos 3 one ae & oy oe Tauanwner] [ cxousoad amenog VAVHSONVOXO VOIDQTOLNOAGO VOINITO estas rlagOes numa configureeao topoldgica, o ongasiograma pode induzir 0 proje- speriente& tela reproduzir a esrutura de posicionamento ali esquematizada,o que é Figura 75 -O organograma ¢ uma dss manelras de se representaro program, ¢ inclu, além da tama das mas iracionais formas de conicionamento do projeto. snumeragaa dos elementos, uma representagio das rel presenta sta ine FROGRAWADA HABITAGRO DE INTERESSE SOCIAL Usage std deapentnct es tie mba ‘eid sti rons 02 erate dete 5 amuse ntrmicae 8 am dn evcron 5 or nesses vet COnVIVIOFAMILAR 06 toma lector social 3) ocaber tires, 28 comer (0% arms lo, oeneon [ALIMENTAGRO 12 gee geet ais 13 srs nti d colt 1S Gane ees {omar etl pis {arr te ona HIGIENE: 18 som oao 24 onus rope 26, ener bres siias {AZER EREGREAGAO 27 aes 28 isis) 2 grater oreo mes esru00 32 te (ool oe 34 rote tatanor nana uanuTENgio DO 35 run vopesae vestuano, 3 neue Bo prow tomes ere TNanuTEncho 1 gener ator pene PERTENGES OIvERSOS {2 ura mater weal 43 gost mater rane {44 Sudo foraneias ions edherne Fome: SILVA. €. Gaonen facil epsns habe Paro Alera, toma de Userand Federt co Fo Grande Se 6, 182.48. Figura 7.7 - Us programa extenso 6 um inventirio de solicitag6es especticas que, de certo ‘modo, pode fornecer um gabarito pam se aferc o grav de aceptabilidade da proposta,jé que identifies explicitamente as cxigéncias a sorem satsfeitas. Um coteo entre o programa extenso 03 elementos do projeto dio a medida daquela aceptabilidade. méstico (figura 7.7), ¢ de uma matriz. das compatibilidades entre ativida- des ¢ compartimentos (figura 7.8) (Silva, 1982, p.46-47). No mesmo tra- balho, apresenta-se um exemplo de pormenorizacéo do programa, ao se Tequisitos instrumentais especificos, como os exigiveis jo de casal, Tais solicitagdes, naquele caso, foram apre- sentadas de forma textual, nos termos de condig6es mfnimas a serem sa- tisfeitas pelo objeto arquitet6nico a ser projetado (figura 7.9). Estas mo- dalidades de configuragao do programa favorecem o desenvolvimento do proceso projetual, na medida que tomam claro e inteligivel 0 contexto e fornecem um gabarito para a avaliaco das hip6teses apresentadas. TSR DG WaRITAGRO BETNTERERSEBOOTAL riz do compstlidades MANE comet pet Cee comparioaane ventuat (Cea) mpariidade xcecion! 1 incompatibiidede absolute ‘eid OT domi 2 ceaceror ler (eae 03 comaleser de ener dade Ds rota de enero Ds ager 8 tomer or 08 conver [8 vic minis ae, ace ‘ask leita 12 grea gnaros alimenciion 3 gute de oxi prope alimentoe Teena A omar elles 7 lover uterus de osha 18 tomer banho. 20 ava rotow moe Barbee 2 partes oF baie 22 eramor ox dente, 24 roe de 25 xe ants rt nese 27 desorr er ese 29 orate jogos doo 30 bine lelonee peauarse raise "nab 3 ran aefon enclaves Tritt) 3 reslzn tabaloe menvaie 35 ren roupa su 26 oar 7 ec 6 pasar roupa Tre couse under Tou 1 gundorobiton pesto rset ear 3 guard meter de manta Suncor ferarents lees 8 GET 5 efetuarpeguanos repro = Font:SILVA, €, Geomatr tvnclone! dos epajoe a bite. Porto Alar, Ector ds Unlvonidade Fadl da Ra Grande da, 1062. pA [Figura 7.8 - 0 programa extenso pode ser aperfeigoado pela inclusio de informagdes alcio- nals, como a matriz das compatbilidades exemplificada na ilutragao acima, No caso em ela, informa-se que tipos de aividades podem ser realizadas nos diversos compartimentos de uma, hinotéticahabitacko econdmica HABITAGAO DE INTERESSE SOCIAL Enunciado dos requisitos de funcionalidade do dormitério de casal: 1° - O espaco deverd comportar, no minimo, uma cama de casal, duas mesas de cabeceira, um ropeiro de trés ou quatro portas (duas potas, em situagdio precéria) e uma cOmoda ou penteadeira, com o respectivo assento. 2.°- E desejavel que, além do equipamento mfnimo acima descrito, seja possivel a colocacdo de uma ou duas pegas adicionais, como penteadeira ou ‘moda separadas, cama infantil ou méquina de costura. 3.°- Os ropeiros e dea de utilizagio devem ser colocados o mais préximo possivel da entrada, evitando-se contornar a cama para atingi-los, 42 Asdreas de utilizago e circulagio devem atender aos minimos indica- dos no diagrama respectivo, tolerando-se apenas a existéncia de banco ou ca- deira, sempre que a passagem tiver sessenta centimetros ou mais de Targura. 5.°~ A implantacio do equipamento no deverd dificultar 0 acesso e/ou 0 funcionamento da janela, que deverd ser atingivel através de uma passagem com largura nao inferior a 5Senv60cm, tolerando-se a largura de 40cm em situagao eritica; deve ser garantido o acesso a toda a largura da jancla, ou pelo menos a 60% desta, como solugao precétia. 62 As éreas de citculagio ¢ de utilizagio de equipamento deverio ser superpostas, a fim de se, obter a otimizagdo no uso dos espagos livres. (Fonte: SILVA, E. Geometria funcional dos espacos da habitagdo. Porto Alegre, Faitora da UFRGS, 1982. p50-51) Figura 7.9 - A pormenorizagio dos requisites de Suncionalidade (adequapio instrumental) terna-se um valioso elemento do programa, pois no enuncindo de tas exiséncins se estabelece ‘um padeo para a avaliagio objetiva da proposigdo formal a ser projetada. © PARTIDO ARQUITETONICO INICIO DO PROCESSO DE PROJETAGAO Como jé foi visto nos capitulos precedentes, o processo projetual na arqui- tetura (em inicio na analise progcamética e na primeira exploracio do campo ~~ das formas, que se materializa na etapa denominada estndo preliminar. Neste cestégio, realizam.-se tentativas no sentido de determinar um caminho que evi- dencie possibilidades de conduzir a0 procurado ajuste entre a forma arquitetOnica e seu contexto. Tal evidéncia se obtém quando as tentativas formuladas demonstram a visbilidade do programa considerado, tendo em vista sua compatibilidade com os condicionantes identificados no decorrer da primeira etapa do processo de projetagio. Tais condicionantes dizem res- peito as caracteristicas do terreno, as limitagSes impostas pela legislagao apli- cével, a disponibilidade de recursos materiais ¢ a outros aspectos que possam. contribuir para a definigdo da forma arquitetGnica procurads. Nestes termos, a fase inicial do processo é simultaneamente uma anilise do problema ¢ uma proposta a ser pormenorizada; verifica-se, neste estdgio, uma hipstese vilida de macrodefinigao da forma arquitetOnica. Os clementos necessérios para atestar a exequibilidade da proposta sio os seguintes: 1) andlise do programa arquitetOnico estabelecidos ») estimativa das dimensées, Srea construfda e configuracio geral do volu- me ou volumes resultantes daquele programa; ‘c) estudo das caracteristicas do terreno, no que concerne a formato, di- mensées € relevo; 4) estudo das limitagdes impostas pela legislagaio pertinente; ©) avaliago dos recursos materiais disponiveis; e, £) identificagao dos demais condicionantes significativos. ‘0s passos enumerados poderdo niio ocorrer exatamente nesta sequéncia, mas sio geralmente indispensdveis na tarefa de possibilitar ao projetista a formulacio das hip6teses quanto a jé referida viabilidade do programa em causa. A viabilidade serd confirmada ou presumida caso se manifestem evi- déncias de que as solicitagBes do programa possam ser satisfeitas dentro do quadro fomecido pelos condicionantes antes mencionados. Sempre que © processo projetual atinge este grau de definigao, 0 projetista consegue sinte- ‘eins: I tizar sua proposta mediante um conjuato’ decaeestscoexcininsa chamadas de partido geral ou partido arquiteténico.; DEFINICAO DE PARTIDO ARQUITETONICO De acordo com a terminologia de uso corrente no ambito profissional, partido, na arquitetura, 6 0 nome que se dé & conseqtiéneia formal de uma ‘série de determinantes, tais como o programa do édificio, a conformagao topogtifica do terreno, a orientagao, 0 sistema estrutural adotado, as condi- ‘¢6es locais, a verba disponivel, as condig6es das posturas que regolamen- tam as construgdes e, principalmente, a intengdo pléstica do arquiteto.% © partido arquitet6nico assume, conforme este conceito, um duplo pa pel, pois, ao mesmo tempo que reflete 0 contexto objetivo do programa, através da interpretagiio dos condicionantes existentes, espelha também um elemento subjetivo, que & 2 intenedo plstica do projetista. Dentro de um espirito rigidamente racional e funcionalista, poderia-se afirmar que a pri- meira caracteristica —a consegiténcia formal de wna série de determinantes —6 hierarquicamente mais importante que a segunda — a intengdo plasti- a do projetista; isto porque existe um preceito doutrindrio da arquitetura racionalista que determina que a configuragao plastica da obra arquitetGnica deve resultar da expresso funcional ¢ construtiva, sem jamais derivar de _auma proposta estética arbitrariamente assumida antes das definigdes prd- prias dos esiudos preliminares. ‘Nao obstante, este ndo é um pensamento undinime, pois ha os que acredi~ tam que o atendimento aos requisitos instrumentais é um aspecto que pode ser supetado no tempo, pela obsolescéncia formal, enquanto o contetido esté- tico (gerado por uma intengio plistica bem-sucedida) tende para um sentido de permanéncia, independente do fato de ser ou. nao da funcionalidade da ‘obra. E uma tese que se pode discutir. Poder haver tipologias de edificios nas quais, efetivamente, a obsolescéncia dos aspectos instrumentais ocorra rapidamente. Os edificios administrativos, por exemplo, tanto na esfera pl- blica quanto na esfera privada, tendema ter sua organizagiio espacial prema ‘turamente superada pelo dinamismo das transformagoes exigidas pelo pré- * Corons, Eduardo ¢ Lemos, Carlos A. C, (1972, p360).E cetto que o terme tem origern tx) idioma francés, onde o voeébule part significa “resolugio, decisio, determinagio"; a expres: so parti pris, por exemplo, se raduz como “decisfo tomada” ou “apiito prevoncebida". partido, ou esquema, & umn produto conceitual do sistema de ensino dasenvolvido nas Fscolas e Belas-Ares francesas no século passado, que exigia que o estudante defiisse a ida geval de seu projeta em poucas horas, e x adtasse até a conclusdo do mesmo, prio desempenho das atividades neles realizadas (Graeff, 1960). Isto nfo sig- nifica que os componentes estéticos da concepyao, por serem teoricamente mais duradouros, sejam conseqientemente mais importantes; talvez se deva considerar que a obsolescéncia precoce das condigGes instrumentais seja uma deficiéncia da ordem formal adotada, atribufvel, por exemplo, a uma eventu- al falta de flexibilidade do esquema desenvolvido. Naturalmente, poderdo ocorrer situagGes em que uma ordem formal preconcebida seja capaz de involucrar adequadamente os elementos de satisfagio dos requisitos de um programa dado, sem ser uma decorréncia de um maguro proceso de elaboracio; tal fendmeno dar-se-4 quando 0 projetista dispor de um repertéirio de imagens bem sortido e de uma razo- vel capacidade de articulagio e de sintese. De qualquer modo, 0 que define o partido arquitetOnico nio é exatamente 0 proceso em si, mas 0 resultado da manipulacdo inicial do programa e dos condicionantes ob- Jetivos de identificacdo imediata. O partido é a sintese das caracteristicas principais do projeto. coe A EXPRESSAO DO PARTIDO ARQUITETONICO Sendo assim, pode-se condluir que 0 partido arquitetOnico néo é uma etapa esso de projetacio, mas a descrigao, em Tinguagem dos ‘agos elementares da proposta desenvolvida. A représentagao € una tarefa que somente se possa executat através de desenhos. Por razSes, ‘operacionais, de comunicago com o cliente, por exemplo, o arquiteto poder representar 0 partido adotado através de esbocos, esquemas, etc. (figuras 8.1, 8.2. 8.3); porém, de qualquer modo, o partido arquitetOnico é um conjunto de caracteres que pode ser descrto, inclusive, pela linguagem verbal, do tipo “solugdo em trés pavimentos com circulacio vertical implantada exteramente, ce dependencias de scrvico agrupadas em um bloco dnico”. Ou veja, » partido arquitetdnico ndo é a representago esquemitica da concep¢iio, mas sin 0 “conceit ido, Este conceito deriva do proceso de elaboragio men- tal que procura sintetizar o resultado das principais decisées tomadas pelo projetista enquanto procura definir os tragos essenciais do objeto em concep- 80, Segundo o professor Edgar Graeff (1960): é impossivel desvendar a natureza essencial da composigdo de arquitetu- ‘ra nfo ser através de suas manifestagbes, ou soja de suas exteriorizagbes. Estas exteriorizagées revelam-se com maior clareza no momento culmi- rnante e decisivo do processo da composicao, quando entram em jogo to- dos seus aspectos fundamentais, Trata-se do momento em que se elabora © partido geral Figura 8.1 -“O partido, na aquiteta, 60 nome que se dé consequtacia formal de uma série de determinantes tis como 0 programa do edifico, a conformagio topogrifica do terreno, a forieniagio, o sistema estrutural adoiado, a condigOes locas, a verba dispontvel, as condigOes sas posturss que regulamentam as construg6es e, principalmente aintengio plistica do arqui- teto". Corona e Lemos. Diciondrio da arquitera brasittra SETOR SOCIAL, i é q j : a i i y i 5 2 gl a Airey Gite) Hittite : ‘en ‘ Figura.2-O partido deve se entenddo, no sentido lato da expresso, “como uma consirgso e rental que cavolve todos os tragos deainantes do futuro ecicio: o delineamento geral das plantas, elevagbes, secebes, espagos inlomos ¢ extemos. Nao se deve confundi-lo com aqu fsbogo que impropriamente recebe seu nome, sem passer, no entanto, dé mera represcatagiio, 3 Figura 83 - A representagio do parts, quando requerida, pode ser obtica através de plantas, parc daconspe tll qu fo uci aberata"(GHAEPY Ua sienica por ‘ats a ponpestvas empee fama coqueace objet deal reese fata a ‘al Teor Argues), + lmcagio an cette gus prs tounaforna dua cone tu, pseu Srv a evenualmentse coin fa spa conea pro poten Deduz-se daf que todo projeto arquitetOnico implica um partido, j4 que resulta de um certo mimero de decisdes e da selegao e conexdo de um certo niimero de alternativas formais; o fato deste partido ser ou nao conseqiéncia da intengao de expressi-lo previamente é isrelevante, pois a importancia do_ partido reside na.coeréncia do mesmo com o contexto, ¢ na sua aptido para ‘conter aqueles pormenores que atribueri 4 forma arquiteténica a necessdria adequago ao programa, O desenvolvimento da tarefa projetual através do processo de erescente definico somente comeca a ocorrer quando, se tem a conviegio de que se estabeleceu 0 correto partido arquitetGnico. Explicito ou implicito, 0 partido contém as premissas mais importantes da proposta, das quais os estudos prelimninares, 0 anteprojeto € 0 projeto definitivo séo 0 ne- cessdrio detalhamento.” No texto ates citado, Grae faz una observagéo: "Entonde-s¢ aqui o partido geral no sen~ tido lato da expressio, isto é, como utta construgso mental que envolve todos os rages domi- nantes do futuro edificio: 0 delineameato gerl das plantas, elevagGes, secges, espagnsinter- ros e externos, No se deve confundi-lo com aqucle esbogo que impropriamente recebe seu ‘nome, sem passe, no entanto, de mers representagio parcial da concepcao total que foi men talmeate elaborada”. y = a ESTUDOS PRELIMINARES E ANTEPROJETO ESTUDOS PRELIMINARES Como foi visto nos capitulos anteriores, 0 proceso de projetagio na arquitetura se desenvolve conforme uma progressio, ocorrendo um au- mento no grau de definigao da proposta na medida em que a tarefa € leva- daaefeito. Alguns elementos desta definigo costumam ser obtidos atra- vés do método das aproximagGes sucessivas, quando a forma adequada a um determinado requisito é identificada gradualmente, por etapas, na medida em que se corrige ¢ aperfeigoa um conceito inicial sobre o qual se concentra o esforgo de investigagio. A definicio pelo método das aproxi- mages sucessivas é uma’caracteristica constante do processo projetual Em algumas ocasiées, pode ocorrer que na mente do projetista surja, como que num estalo, a ordem formal procurada, de modo perfeitamente articu- lado e integro;* porém, o mais usual é que este desiderato somente seja alcangado depois de um significative esforgo de aproximacio ¢ ajustes, no qual o arquiteto procura fazer uma sfntese de imagens e conceitos, num processo de proposig‘o, avaliagao, hierarquizagao e simbolos.”° Neste espitito, o arquiteto seleciona, dentro do conjunto de requisitos que inte- gram o contexto programitico, um micleo central, constituido de exigén- ccias mais importantes em termos de repercussio formal, e procura deter- minar, por tentativas © adaptagio, a configuragio que atenda Aquelas soli- citagdes cle maneira mais satistatoria. > Pode-s presenta como exemplo desta stuagio a proposta do Oscar Niemeyer (1968) pars ‘© Museu de Caracas, na Venezuela: aardom formal sugerida ¢ a da pirimideapeada soe 0 ‘ertice, figure de needed impacto visual e exico. ® Segundo Liicio Costa (1962, p.112), 0 espirito de sintese € o trago mais importante. do proceso de projetagio. Diz ele: “Enquanto que este (0 engenhciro), formado no estudo exchi- 5ivo das ciécias eats, enfentao problema paringo de prefsréncia do particular para 9 ‘em, arco, por aso mosmo quo aqutetura é are acima de céaco, pute sempre 6a) orjto para pormenor, afm d, eno, nam segundo tempo, sue do parteaar para 0 geral, de onde tora a descr, perseguindo asim nesce waiver de severaaitcrica a6 & onclusto do projeo.B, alt, esse precedtcia do esp de sites sobre o de ands, caractersica tenia de trabalho do ariteo, qe 0 quai pars estas urban mo fea conccto modems” ; ‘Ainda que de modo provisério, interessard, nesta etapa, compatibilizar © programa com o terreno, pela observancia de suas caracteristicas altimétricas, planimétricas, constituigao geolégica (se for 0 caso), entor- no natural ¢ artificial e normas legais aplicaveis a edificagio, Em tais termos, o estudo jé explicitard a tendéncia formal da concep¢i, traduzida na configuragio geométrica ¢ na disposicdo e articulagio dos espagos. A definigao destes elementos no importa, necessariamente, na definigio pormenorizada dos aspectos construtivos/estruturais, especificagées de acabamento, etc., que, por sua natureza, podem ser transferidos para uma etapa posterior. Na maioria dos programas, as altemativas selecionaveis para a definicio daqueles aspectos pertencem a um elenco de varidveis finito ¢ de eficdcia conhecida, ndo representando um problema projetual A sua temporaria abstragao. Naturalmente, dependendo da tipologia arquiteténica, podem sobrevir situagGes nas quais a definigio do sistema construtivofestrutural seja o primeiro passo do proceso de projetagdo, como nos casos de programas peculiares, em que a exigéncia de um gran- de vio livre, por exemplo, estabelece um fator essencial na determinago da viabilidade de uma proposta. © estudo preliminar pode ent dido como un 10 _ménto do partido arquiteténico, do epresenta um estagio de pormenorizagio. A transformagao do estudo preliminar nao é automética, pois depende da homologagio do conceito por parte do cliente, ou do gran de satisfago do projetista com o proprio trabalho, ou ainda de ambas ‘as circunstincias. Tanto o cliente quanto o arquiteto podem estar eventu- almente interessados em examinar dois ou mais estudos diferentes, deta- Ihando dois ou mais partidos arquitetOnicos também diferentes, de modo a eleger 0 que apresente maicres possibilidades de produzir um projeto que atenda as expectativas. ‘A apresentacao do estudo preliminar, quando requerida, pode ser mais su- cinta e simplificada que a do anteprojeto. O objetivo principal desta apresen- taco € demonstrar a viabilidade do programa; por isso no implica, necessa- tiamente, a elaboragio de desenhos em escala exata e com todo 0 rigor das convengées técnicas (figura 9.1). Pode-se dar também o caso de niio ser exigida a apresentacio do estudo preliminar; neste caso, sua confecgao é do exclusi- ‘yo interesse do projetista, que verd na sua elaboragao um ensaio que precede ‘a realizagiio do anteprojeto. A catecral de Braslia, projetada po: Oscar Niemeyer, € um exemplo por exceléncia deste tipo de coucep0, onde a esiratura, 0 processo consitutivo, o aspecto funcional c wexpressio plistica sto indissocisveis. Figura 9.1 - A spresettagio do esudoprelimin, quando requ, pode sr mais uci ¢ Aplicada quracoeugotan © cijevo pasa dr wvesonae& dances & ‘lidade do progr, fe scarce J een ¢ demas connate, por so ‘No implicates labora ge Gs omesela ena ton odo npr das ‘tessa uae ANTEPROJETO ‘Superada a etapa correspondente & anélise do programa, aos estudos preli- minares ¢ & definigio do partido arquitetGnico, o arquiteto parte para a elabo- cago do anteprojeto. De acordo com nog bes aprescntadas anteriormente, pode- se entender que 0 desenvolvimento do processo de projetagio se verifica en- tre dois planos separados: no primeiro plano, relativo a eriatividade propria- mente dita, a atividade do projetista tem por escopo o fomecimento de infor- magdes para consumo préprio, ne esforco de obtencdo das ditetrizes que ori- entardo 0 desenvolvimento do trabalho; no segundo plano, o da comunica- go, as informagées interessam tanto ao cliente, como futuro usudrio da 2dificagio a ser construida, como 40(s) construtor(es), a quem competirétrans- formar a idéia em coisa concreta ¢ tangfvel. Via de regra, a elaboracio do projeto definitivo pressupée a aprovacio do anteprojeto por parte do interes- sado, servindo o projeto definitivo para transmitir a0 construtor as informa- ges necessérias & execuciio da obra, ‘Tendo propésitos diferenciadcs, é natural que tanto o anteprojeto como 0 projeto definitivo tenham forma e contetido também diferenciados, mesmo que digam respeito A mesma substincia, O anteprojeto, como exposi¢ao da idéia do projetista e no sendo, a rigor, um instrumento para execugao da cobra, se manifestard segundo um critério especifico. No que concerne ao.con- teiido, oanteprojeto completo seré aquele que contiver informagées que abran- jam os seguintes aspectos: a) definigio volumétrica; b) zoneamento das funges (atividades), ©) enquadramento no terreno; 4d) Upologia construtivolestrutural; &) geomotria dos espagos (eompartimentos); 1) configuragio das aberturas; #) articulago das fungGes; h) indicagio do equipamento; i) solugio plastica; j) relacionamento com 0 entomo; k)_acessos; 1) tratamento do espago externo m) meméria explicativa e/ou justificativa; fn) esboco das especificagses; ©) tabela enunciativa das éreas; p) orgamento estimativo. ‘ee 0s elementos e informagbes estio ageupados segundo a natureza da subs- tincia ou do meio empregado para enuncié-la. Naturalmente, e de acordo comas circunstincias, € admissivel que alguns dos dados acima venham a ser ‘omitidos, quando seu conhecimento néo for necessétio ou importante pata 0 proceso de compreensio da idéia por parte dos interessados. CONTEUDO DO ANTEFROJETO Os t6picos enumerados nas linhas anteriores serio exatninados, a seguir, com maior profundidade. 2) Definigao volumétrica Como jé 0 indica o nome, refere-se A morfologia geval do edificio projetado, ‘a0 modo pelo qual ele se insere no espaco, traduzindo-se no cavoltério material do aspago arquitetdnico. Devers corresponder as intengbes esposadas pelo pro- jetista e adequar-se no apenas &s premissas do contexto programatico mas também as caracteristicas do entomo. Dentre os diversos aspectos da obra arquiteténica, este é 0 de imediata apreensio pelo espectador. b) Zoneamento de funges O conceito de funcionalidade, aplicado a arquitetura, deve ser entendido no sentido figurado, ja que o edificio, em si mesmo, néo funciona nem pode funci ‘onar, pois é uma coisa inerte; na realidade, quem funciona (ou nfo) € 0 usudtio, que serve-se deste suporte material para realizar certas atividades ou desfrutar certos estados. De qualquer modo, convencionou-se chamar de fiarcional 20 instrumento que se preste de modo eficiente ao desempenbo da prépria finali- dade’ O fato € que, independentemente do qualificativo empregado na identi- ficagio da categoria, os edificios tendem a ser organizados em zonas de utiliza- io especifica, ¢ 0 modo de arranjar estas zonas expressa mutiores ou mewores possibilidades de uso eficiente do espaco. O partido arquitetGnico delineia este zoneamento, cabendo ao anteprojeto sua definigao final. ¢) Enquadramento no terreno As caracteristicas do terreno, nos aspectos planimétricos ¢ altimétricos, na estrutura geolégica, etc., importam em certos condicionantes do proje- to, que relacionam-se com a definigfo volumétrica ¢ 0 zoneamento de fung6es, A influéncia da geometria e das dimensGes do terreno na adogio © Sobre o significado das expressBes “funcional” ¢ “instrumental”, rever 0 que foi enunciado ‘no quinto capitulo, do partido e na definigéo volumétrica € facil de ser percebida; o mesmo rndo se dé com a caracterizagio geol6gica. Embora os aspectos geol6gicos digam respeito, principalmente, infra-estrutura da construgio, ha cit- ‘cunsténcias em que o projetista nfo pode negligenciar seu estudo, pois, eles podem determinar a viabilidade ou inviabilidade de uma concepgio arquitetGnica, situagao esta que deverd ser esclarecida antes da elabora- ‘go do projeto definitivo.” 4) Tipologia construtivo-estrutural CO invélucro mencionado no item a é a consequiéncia, entre outras coi- sas, do emprego de um determinado sistema construtivo/estrutural que, freqiientemente, nao pode ser dissociado da concepgao arquiteténica como um todo: a propria viabilidade do partido dependeré, em parte, das carac teristicas construtivas da solugio estudada, pois tem repercussio, inelusi- ve, no aspecto econémico da questo. Este tiltimo fator nao pode ser pre- tetido, pois a construgio de qualquer edificio representa um investimento de consideréveis recursos moretirios. Além disso, a prépria concepezo plistica do prédio esté relacionada com o sistema construtivo/estrutural escolhido. ©) Geometria dos espagos © formato ¢ as dimensdes de cada compartimento sao os principais parimetros da sua adequabilidade instrumental, na proporgo em que pos- sibilitam o exercicio de certas atividades, com ou sem 0 emprego de equi- pamento especifico. Um sem-nimero de programas arquitet6nicos encon- tra sua resposta em um correto dimensionamento dos espagos, principal- ‘mente quando as necessidades econdmicas impiem restrigées que nio pos- sam ser ultrapassadas, ) Configuraciio das aberturas formato, a posigio, o tipo de funcionamento eo material de que serio feitas as portas ¢ janelas podem estar relacionados com as caracteristicas © Um exemplo deste circunsténcia, amplamente conhecido;€ 0 projeto de Frank Lloyd ‘Wright (1972) para o Hotel Imperial de Téquio, onde a adequapio da forma srquitetOnica as caracieristicas geoldgicas do terreno teve urna importancia manifesta no éxito da pro posigo daquele genial arquiteto, Escreveu ele: “Em resumo, 0 cdificio deveria levantar $e sobre um antigo péntazo, um brago da baa aterrado quando T6quio se converteu na ‘capital do iimpério, Porém, 0 Darro que estava sob a terra pareceu-me wm bom coleho para minorar os embates de um terrtmoto. O edificio poderia flutuar no barro mais ov faenas como um barco de guerra flursa na égua salgada. Fazer flutuar um edificio sobre 0 arto? Por que nfo?". funcionais dos espagos e, inevitavelmente, sio parte integrante da concep¢io plistica da edificagao. g) Articulagio das fungées ‘A maneira pela qual se interligam as diversas zonas funcionais, através do tipo de vinculos, éreas de conexio, posicionamento dos elementos de circula- do vertical, etc, interessam como fator de eficiéncia ou ineficigncia no uso do espago atquiteténico. 1h) Indicaco do equipamento Dimensdes, formato, caracteristicas ¢ posicéio do cquipamento fixo ¢ mé- vel estio relacionados com a satisfacdo de diversos requisitos programéticos, devendo ser compatibilizados com os elementos enunciados nos itense ef. A representagao do equipamento, nos desenhos do anteprojeto, fornece, além da nogao de escala, informagdes importantes para a avaliagio da adequabilidade instrumental da concepgo proposta. ') Solugao plastica Evidentemente, um elemento importante na apreciagio do que propde 0 projetista. O conteddo estético da arquitetura encerra um valor que, freqlentemente, prepondera sobre os demais na adogao ou rejeigo de um, partido arquitet6nico; tal critério pode ser questiondvel, mas é uma realidade da qual o arquiteto nao fica atheio. {) Relacionamento com o entomo ‘O ambiente natural preservado ou alterado que circunda a edificagdo pode contribuir decisivamente na definigdo da forma arquitetdnica, modificando as condigées de insolagdo, ventilagi, iluminagio natural, etc. k) Acessus 1) Tratamento do espago externo 0 relacionamento do edificio com o entorno implica definigdo dos ele- _mentos extemos, como acessos, movimento de terra ¢tratamento paisagistico (quando couber), cercas ¢ muros, etc, m) Meméria explicativa e/ou justificativa Freqiientemente, os elementos da linguagem gréfica nao sfo suficien- tes para expor com clareza ¢ extensio 0 rol de premissas adotado pelo arquiteto, ¢ torna-se necessitio suplementar os desenhios com textos e esquemas que demonstrom a adequagdo da proposta ao contexto programitico. Nao raras vezes, cabe ao projetista exercer um grande es- forgo no sentido de comprovar que sua proposta é correta, a fim de neu- ‘alizar as resisténcias que as idéias novas sempre provocam.® 1n) Esbogo das especificagbes ‘A percepeo do espaco arquitetinico é uma reagdo sensorial diante do conjunto de estimulos representado pelos elementos visuais da arquitetura: formato, dimensGes, peso, natureza quimica, cor, textura, capacidade de isolacdo, teansparéncia, reflexio, resist2ncia, durabilidade, etc. Tais elemen- tos interessam ndo apenas para a questio do contetido estético; interessam. também para a estimativa do custo da obra, o que é indubitavelmente uma questio da maior relevancia. 0) Tabela indicativa de dress 1) Orgamento estimativo Tanto a tabela indicativa de éreas quanto o orgamento estimativo so pe- ‘¢a5 importantes para demonstrar que a alternativa proposta pelo arquiteto ‘exeqiifvel ¢ corresponde ao montante de recursos disponfveis. Eventualmente, poderd ser necesséria a apresentagio de elementos adicio- nais, como perspectivas e/ou maquetes, mas tais pegas nio so, rigorosamen- te, componentes do anteprojeto; sfo, quando muito, recursos de comunica- ‘¢do que podem facilitar ao projetista a compreensio daquilo que propée. Excepeionalmente, o anteprojeto poderé ser concebido como instramento ‘para realizagdo da obra, mas esta ndo é sua verdadeira finalidade. As infor- mages técnicas necessérias zo perfeito desempenho da tarefa edificatéria caracterizam o projeto definitivo ou projeto executivo, que seré abordado no préximo capitulo, © Muitos profissionais consideram que 2 linguagem do arquiteto € exclusivamente a do dese sho, das lias, dos planos e dos volimes. Mas, a realidade, no sio poucas as oportunidades ‘emque a capacidad de argumenis¢p oral e/o escrita€ indispensavel para assegurar a com proensio esceitagso de uma ideia original: “Para evadir-se de sua dependénci € preciso que © arquilelo aumeate suas artes de defesa, na sua ‘polioresiiea’; no prescae, ¢ indspensavel ‘que possua destreza em persuadi. Tendes talento? Magnffio, porém necessilas ademais sus- ‘enuar vossas iis, de palavras ou por escrito” (Auzelle, 1973). ; O PROJETO EXECUTIVO CONCERTO & PROPOSITO A finalidade do projeto executivo esta expressa na propria denominacio: cle serve como instrumento para a realizagdo da obra, pressupondo a homolo- ‘gagdo da idéia exposta no anteprojeto.* Assim sendo, ¢ repetindo o que jé foi declarado, 0 projeto executive deve ser considerado, acima de tudo, um siste: ‘ma de instrugées, que informara de que maneira deve ser construido o prédio. Acessoriamente, 0 projeto definitivo pode servir para 0 exame e aprovacio. da idéia por parte das autoridades encarregadas (papel documental), muito embora tal tarefa possa ser cumprida pelo anteprojeto, sempre que este atin gir determinado grau de capacidade informativa. A fungio primordial do projeto executivo € entio comunicar. Isto, natural- mente, implica utilizagao dos recursos de linguagem, para que a comunica- do seja posstvel; por definicéo, a mensagem a comunicar é 0 antes mencio- nado sistema de instrugdes para a perfeita eregio do edificio. Como ocorre em qualquer problema de comunicacdo, o cédigo adotado deve apresentar 0s conhecidos atributos da comunicagao eficiente: clareza e precisao. ‘As possibilidades da linguagem convencional adotada, ou seja, 0 desenho (écnico, so naturalmente limitadas, ¢ estas limitagdes sto superadas pelo emprego de informages complementares, e de recursos como a redind@- cia, como dispositivo para sc evitar a ambigtidade ou insuficiéncia de dados. Nao € muito dificil avaliar-se os problemas envolvidos no proceso de comunicagio através dos meios do desenho arquitet6nico. Os destinatitios ‘da mensagem podem ser técnicos de alto nivel, com instrugdo superior e for- magio especifica, como os engenheiros; ou elementos semi-alfabetizados, ‘como os opetdrios ¢ muitos mestres-de-obras. Tenciona-se informar a estas pessoas como reproduzir umn projeto por natureza complexo, € que s6 existe * Bm alguns culos, di-se 2 projeto executivo a denominagio de projeto de engenharia final ~ terminologia curios, qucinsinua que ainformacao técnica, exstae pris, soja uma prerrogne tiva exclusiva da engenharia. Parece cbvio que, em se uatando de uma obra de arquiteturs. temo projeto exeoutivo expressaadequadamente as carateristicas e os progvsitas do trabalho Jo arquitelo, mesmo que uma eventual equipe venha aineuix profissionais de outras disciplines.

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