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lh VOI Os AY rr aS E: pL Me Dee IMAGENS _ DE IMAGENS DO INCONSCIENTE INTRODUCAO E preciso que se diga, e desde jd, que ndo estamos escrevendo aqui um livro de arte, ou mesmo mero catélogo de museu de arte, O propésito que nos retne aqui nao é este. E dar desenvolvimento & idéia nascida naturalmente do experincia de terapéutica ocupacional a que Nise da Silveira deu inicio no Centro Psiquicitrico Nocional, no Engenho de Dentro, no ano da graca de 1946. No curso desses longos anos @ sega¢ ocupacional prosseguiu com altos e baixos, embora ininterruptamente, gracas sobretudo & perseveranga e & autoridade moral da doutora Nise: os enfermos chegam e se vao, escolhidos no péttio, onde jazem em pleno cnonimato, para oatelier e de lé a mesma mao que os leva os traz de volta, e se tomando amiga, faz deles, pouco a pouco, personalidades identificéveis, que se véo para voltar no dia seguinte;e os terapeutos aparecem, se formam, e sob a direg&o competente, sabia e prudente da nossa psiquiatra, os seus servigos crescem, 0 pessoal ganha em técnica e responsabilidade e (08 enfermos contraem o hébito de pegor, toda manha, do lépis ou do pincel e de cobrir papel ou telas de tinta ov carvao, e isso 0 fazem todos os , em horas certas. {Eaqui me permitam um testerunho pessoal de cerfa importéncia: alguns monitores os conheci essoalmente e eram arlistas. Com prazer, citoo nome de Almir Mavignier(*) com quem algumas vezes sai para visitar Raphael, em casa da mae dele, sob os arcos; depois do “trabalho”, saiamos ‘em familia: Mary, guiando um Citréen, eu, Almir e Raphael. Com sua voracidade de artista, a mil eguas do burocrata funcional, Almir mol chegava & cosa da mae de Raphoel, corria a buscar o cavalete que, previdentemente, (6 havia levado em outra ocasido, e 08 outros petrechos; e ei-o a chamar Raphael, bem refestelado num pijama listrado, como em férias na casa matema, todo entregue @ travessuros, que sua mae bem os conhecia, ‘como por exemplo, a de esconder as chaves da porta da rua no pote d’égua da cozinha, —e senté-lo numa cadeira, em frente aocavalete. Jé contei alguns desses episédios de Raphael no trabalho criativo, ou melhor no sev oficio, diante de nés. Era jovial, finha preguiga, reclamava do calor, “abafado", desabotoava 0 cés do pijama e, afinal, quando the dava na telha, comegava a trabalhar mos terminava por dar sinais de néo querer mais, cansado. Almir, com efeito, néo era um monitor como 0s outros. Era, talvez, 0 Unico que, ao exercer sua fungéo, exemplarmente, instruido por Nise, carregava ainda consigo uma {6 ardente e romantica, e que no transmitia a ninguém: a de que dentro da cémara escura daquele esquizofrénico havia um génio. Assim, 0 monitor-arlista se havia proposto uma miso extra: a de oferecer a seus monitorados as melhores condigées possiveis para que pudessem “criar” livemente, sem que nada, absolutamente nada, os impedisse). Assim, com 0 tempo, a Secdo de Terapéutica Ocupacional se transformava num atelier vivo e movimentado pelos doentes que ali se ‘acostumavam, como se fosse a casa deles. Ali no se fazia apenas pintura, escultura, modelagens etc., mas teatro também, dramatizagées, segundo datas febtivas do.ano, e nas quais todos participavam, cada qual com suas habilidades e talentos. Eos protagonistas, & medida que as coisas que faziam, pintura, escultura ov 0 que fosse, iam ficando conhecidas, iam sendo objeto de apreciagéo cada vez mais por si mesos — os ensinamentos psiquidtricos iam sendo colhidos e a pratica do pessoal profissional era adestrada coletivamente. sob a inspiragao de Nise da Siveira, cujas descobertas no campo da assisténcia aos (*) Hoje, pttor de rename intemocionl, professor de arte num ‘stobeecimento pibeo de presige em Homburgo, na Alemonho esquizofrénicosiam constitvindo uma verdadeira revolugaio doutrinaria no campo da psiquiatria pratica e tem dado base a novas concepgées realmente fecundas quanto ao tratamento e assisténcia aos nossos enfermos, de que resultou ‘nosso museu e seu continuo desenvolvimento. O resultado 6 que enquanto a experiéncia vivida dos internos de Engenho de Dentro aumenta de importancia, de ano para ano, Nise da Silveira e sua equipe, penosamente reunida no curso dos anos, se véem com problemas cada vez mais complexos. Que fazer com todos esses enfermos elevados hoje a personalidades artisticas com obras esteticamente respeitdveis, tais como Emygdio, Raphael, Fernando Diniz, Carlos, Isaac, Octavio e outros? Como preservar suas obras, como proteger esses seres por vezes de grande talento, mas frdgeis, muito frageis mesmo, assegurar-Ihes um futuro menos incerto, menos tragico? Dai nasceu com eles a idéia de museu. Mas que museu? Uma colegdo de belos quadros pendurados & parede, com salas contiguas para serem apreciados? Nao. Os criadores de arte, os seus produtos néo podem ser dispersos. O museu tem de ser também uma instituigio, uma casa que os abrigue. Mas que néo seja uma dessas “colénias” de doidos por ai, verdadeiro depésito de homens insanos aos quais a sociedade j& renunciou aceité-los como tais, embora ld 0s retenha, & espera que com 0 tempo chegue a seu termo a longa, continua adaptagao deles para baixo até a condigéo de insetos, como na sinistra visao de Kafka, onde nessa qualidade algum dia morrerdo, varridos Por uma vassoura, uns apés outros. O museu que a doutora Nise batizou, com sua habitual preciso, Museu de Imagens do Inconsciente, tem por isso mesmo de completor-se numa comunidade. Tem que ser realmente uma comunidade da qual, co contrdrio da teoria hoje prevalecente no campo da psiquiatria, nao se pode afastar de Ié os 10 —_ doentes. O que, 00 contrario, « experigncia cry tem demonstrado é ser absolutamente necessdrio criar-se, com essa ‘auténtica comunidade, uma ambiéncia que hes focacel afluirem os doentes endo dela fugirem © conceito de ambiéncia € hoje primordial ao éxito de qualquer idéia de tratamento ocupacional. E quem primeiro no mundo ientifico soube exalgar a idéia foi a grande outoridade de C.G.Jung. Do Il Congresso Internacional de Psiquiotria reunido em Zurique, em 1957, fez parte a apresentacGo de uma exposicéo de pinturas de esquizofrénicos para a qual contribuiram varios paises. A exposigéio do Centro Psiquidtrico Nacional (hoje Centro Psiquiatrico Pedro II), que ocupou 5 salas, foi inaugurada por C.G.Jung no manha do dia 2 de setembro. Dois dias depois, na recepcdo que ofereceu aos médicos estrangeiros em sua residéncia, Jung dirigiv-seo Nise da Silveira e disse: “Fiquei impressionado com as pinturas dos esquizofrénicos brosileires, pois elas apresentam no primeiro plano caracteristicas habituais da pintura esquizofrénica, mas noutros planos a harmonio de formas e de cores que nao é habitual no pintura dos esquizofrénicos. Como é o ambiente ‘onde esses doentes pintam? Suponho que trabalhem cercados de simpatia e de pessoas que no tém medo do inconsciente.” A confeccéo deste livro é como a aberturo de qualquer coisa como um labirinto, ou se quiserem, de uma caixa de surpresas. O Museu de Imagens do Inconsciente é mais do que um museu, pois se prolonga de interior © dentro até dar num atelier onde artistas em potencial trabalham, fazem coisas, criam, vive™ e convivem assistidos por todo um corpo de profissionais adrede preparados, sob a dires6? de uma psiquiatra de alta qualificagéo. Esto composi¢Go explica em grande parte a feitur sui generis de nosso livro. O seu segredo € ° % ncleo da sociedade que ali dentro se formou, desde quando foi fundada @ Segéo de Terapéutica Ocupacional, faz mais de trinta ‘anos. ‘Al, com efeito, se foram reunindo ao acaso (acoso porém fruto de oportunidades que jamais — nem uma s6 vez — foram desperdigadas) todo um grupo de enfermos — esquizofrénicos irados do péttio do hospicio para a segéo terapéutica, desta para oatelier, doatelier para © convivio, onde passou a gerar-se 0 afeto e 0 afeto a estimular a criatividade. A grande descoberta foi a formacao ou a revelagdo ao longo dos anos de personalidades extraordindrias que nasceram no convivio que para eles se abriu, e cujas obras constituem ‘agora um patriménio cultural da nagéo brasileira. Quem sGo essas pessoas? De onde vieram? Como se formaram? Como chegaram 20 que hoje s60? Como preservar suas vidas? Como sobretudo preservé-las? Ao definir esses homens, em si mesmos e em relagdes uns com os outros, é que se vai saber 0 que $60, 0 que fizeram, 0 que véo ser, onde viveram ou vivem, o que é este museu, esta comunidade em que se formaram. A primeira coisa a constatar — em todos eles, com mais ou menos talento de artista, mais ov menos atacados na enfermidade, é que nenhum poderia ser 0 que séo ou que foram — no isolamento. Na solidéo poderiam qualquer deles ter sido simplesmente destruido pela vida, fossem pobres ou ricos os pais, a familia. A sociedade de Engenho de Dentro, com toda a precariedade de seus recursos, Ihes deu éncora & vida, thes marcou um destino, que se néo foi brihhante, néo foi anénimo, embora marcodo pela fatalidade. E todos os maiores como os menores, provaram do mesmo convivio de todos © por momentos chegaram a entre-ojudar-se, como a humilde Adelina fazendo presente de um par de chinelos ao grande Carlos, e este transpassando os chinelos ao pobre Enio, descalgo. Eis 0 convivio, alma da comunidade, sem a qual 08 esquizofrénicos nao terdio guarida para viver e conviver, nem os artistas e poetas afins — doravante pelo mundo, neste mundo cada vez mais omeagado — encontraréo comunidades que os acolham. Mario Pedrosa uv O MUSEU DE IMAGENS DO INCONSCIENTE- historico Atistéria do Museu de Imagens do Inconsciente uma histdrio singular, Este museu teve origem humilde, pois nasceu na Segdo de Terapéutica ‘Ocupacional do Centro Psiquidtrico Nacional, Rio de Janeiro. E acontece que a psiquiatria vigente considera 0 tratamento por meio de atividades ‘ecupacionais método subalterno, mero auxiliar dos tratamentos aceitos em primeiro plano, tais como medicamentos psicotrépicos, convulsoterapia, psicocirurgia. Assim, a historia do Museu de Imagens do Inconsciente esté intrinsecamente vinculada & histéria da Segéo de Terapéutica Ocupacional. No anode 1946, Paulo Elejalde diretor do Centro Psiquidtrico Nacional, convidou-nos para orgonizar a terapéutica ocupacional naquele conjunto hospitalar. Ficou de inicio estabelecido entre nds que a terapéutica ocupacional sob nossa orientagéo seria entendida num largo sentido, ndo visaria a produgéo de utilidades para o hospital, mas teria por meta encontrar atividades que servissem de meios individualizados de expressdio. Disporiamos da verba anual de 30 mil cruzeiros (antigos) que ufilizariamos como melhor nos parecesse- De fato, o museu surgiv dos ateliers de pintura e de modelagem instalados em situagéo de igualdade ao lado de varios outros setores ‘ocupacionais — encademaséo, marcenaria, trabolhos manuais femininos, costura, mbsico, dangas foleléricas, recreacéo etc. . Aconteceu porém que a expressdo livre através do desenho, pintura e modelagem, mais que em qualquer outra atividade revelou-se de grande interesse cientifico por permitir menos dificil ‘acesso a0 mundo interno do esquizofrénico, sempre tao hermético. Além disso os configuragdes pldsticas captavom imagens da situagdo psiquica, possibilitando assim estudos posteriores. E simultaneamente verificava-se de maneira empirica a surpreendente eficdcia do expresso pléstica como verdadeira modolidade de psicoterapia. Era espantoso constatar a existéncia de uma pulsdo configuradora de imagens sobrevivendo mesmo quando a personalidade estava desagregada. Apesar de nunca haverem pintado antes da doenca, muitos frequentadores do atelier, todos esquizofrénicos, manifestavom intensa exaltagdo da criatividade, resultando na produgdo de pinturas em nUmero incrivelmente abundante, num contraste com a atividede reduzida de seus autores fora doatelier, quando nao tinham mais nas maos seus pincéis. O atelier de pintura néo cessa de levantar problemas, questées dificeis que obrigam o médico a refletir, a estudar. Aquilo que feriu a atengao logo de inicio foi a alta qualidade de muitas das pinturas e modelagens. Era uma constatagdo surpreendente dentro da ética da psiquiatria tradicional. Um fator importante na primeira fase da vida do atelier de pintura foi certamente a colaboragao de Almir Mavignier. Em 1946, Mavignier, hoje um dos mais representativos pintores brasileiros, apenas se iniciava ne pintura e era funciondrio burocraticos e transferiu-o para nossa se¢ao. Nacional. Assim, quando falamos ao diretor Paulo Elejolde da nossa intengdo de instolar um atelier de pintura entre as atividades da terapéutica ocupacional, ele logo se lembrou do jovem pintor mal-adaptado a servigos burocrétticos e transferiu-o para nossa secéo. ‘Abrimos oatelier de pintura no dia 9 de setembro de 1946, Mavignier tomou-se de verdadeira paixdo pelo seu novo trabalho, nunca pretendeu influenciar os doentes que freqientavam o atelier e, com rara abertura de espirito, respeitava, admirava, tratava de pessoa para pessoa aqueles habitantes do hospital 13 psiquidtrico. Ele trabalhou conosco até as vésperas de sua partida para a Europa, em novembro de 1951. Naqueles idos anos do fim da década de 40, 0 entusiasmo de Mavignier pelos artistas de Engenho de Dentro contagiava. Vinham freqientemente com ele ao hospital seus jovens amigos Ivan Serpa e Abraham Palatnik, que mais tarde teriam nomes famosos nas artes brasileiras. Os primeiros dlbuns que ordenam séries de desenhos e de pinturas foram montados por Mavignier, Ivan e Abraham em dias de domingo. Esses dlbuns fazem parte do acervo do ‘Museu de Imagens do Inconsciente. Logo pensamos numa exposigao. Era grande o desejo de atrair pessoas interessadas pelo apaixonante problema que nos empolgava. A 4 de fevereiro de 1947, no salao do primeiro andar do Ministério da Educagao foi aberta uma mostra constituide por 245 pinturas de internados do Centro Psiquiétrico Nacional. A exposicao despertou vivo interesse entre os criticos de arte. Sera mesmo forcoso reconhecer que os criticos de ‘arte mostraram-se bem mais atentos ao fendmeno da produgao plastica dos doentes mentais que os psiquiatras brasileiros. Kapectos do iow ‘Arie Moderna de S60 Paulo, 1989 14 ‘erpoug0 "9 Amtates de Engento de Dentio", Musou de Escreveram comentarios sobre as pinturas expostas 08 criticos Marc Berkovitz (Bros Herald, 5 de fevereiro de 1947), Ruber, Navarra (Diério de Noticias, 2 de marcy q 1947), E Mario Pedrosa colocava lucidarnes’ problema em artigo publicado no Correio ee Manha de 7 de fevereiro de 1947: "Uma de, fungdes mais poderosas do arte — descake da psicologia moderna — é a revelagie de inconsciente, e este & to misterioso no norma) come no chamado anormal. (...) As imagens a inconsciente so apenas uma linguagem simbélica que o psiquiatra tem por dever decifrar. Mas ninguém impede que essas imagens e sinais sejam, além do mois, harmoniosas, sedutoras, draméiticas, vivas ov belas, consfituindo em si verdadeiras obras de arte”. A partir da exposigao apresentada no Ministério da Educagéo, em fevereiro de 1947, Mario Pedrosa ficou freqientando o atelier de pinto do Secéo de Terapéutica Ocupacional, fascinado em acompanhar o desdobramento de proceso criador na pintura de Emygdio e no desenho de Raphcel. Freqientemente trazia visitas ao hospital, poetas ) pyreess rey e escritores. Murilo Mendes era dos mais cossiduos. Um dia, em fins de maio de 1949, Pedrosa apareceu acompanhado por Leon Degand, primeiro diretor do Museu de Arte Moderna de Sao Paulo. Leon Degand ficou tao impressionado pela qualidade artistica de muitas dos obras criadas no hospital psiquidtrico que nos propés a realizagéo de uma exposigGo no Museu de Arte Moderna de Sao Paulo. Pouco tempo depois 0 préprio Degand e Pedrosa comegaram a escolha de pinturas, desenhos € modelagens, do ponto de vista do valor artistico, que representavam. Aconteceu que Degand de repente regressou a Paris, em 12 de julho, mas © novo diretor do Museu de Arte Moderna de Sao Paulo, Lourival Gomes Machado, manteve 0 compromisso de seu antecessor. E pediu-nos que escrevéssemos 0 prefacio para 0 catilogo da exposi¢ao. Sob 0 titulo “9 Artistas de Engenho de Dentro” esta exposico foi inaugurada no dia 12 de outubro de 1949. Os artistas participantes foram Adelina, Carlos, Emygdio, José, Kleber, Lucio, Fmvado — Raphael, Vicente, Wilson. A exposicdo dos nove artistas de Engenho de Dentro teve muita repercussGo em Sao Paulo, segundo se pode depreender dos comentarios do imprensa. Destacam-se crénicas de Sérgio Millet, publicadas em O Estado de Sao Paulo nos dias 15 de outubro e 8 de novembro de 1949, de Quirino da Silva, no Didrio de Sao Paulo nos dias 12, 16 30de outubro de 1949. © Jornal de Sao Paulo de 13 de novembro de 1949 tranécreveu na integra o prefacio do catélogo da exposigdo. O Dr. Carneiro Ayrosa, psiquiatra do Servigo Nacional de Doengas Mentais, em 14 de ‘outubro, pronunciou no auditério do museu uma conferéncia sobre “Anélise do sentido da arte”. Uma pequena anedaota ligada a essa exposigéo: Cicilo Matarazzo gostou muito de um quadro de Emygdio — “Capela do Mayrink”. Desejou adquiri-lo. Mavignier nos telefonou varias vezes de Sao Paulo dizendo que deveriamos oferecer 0 quadro a Matarazzo, pois era ele quem estava custeando a exposicéo. Negamos. Matarazzo fazia ofertas sempre maiores. 15 mos: nem por ouro, nem por prata, a ae de aragéo. Aquele desenho significava um marco importante, sendo a primeira representagéo da realidade externa Frediata feita por Emygdio. Foi desenhado em plena notureza, por ocasiéo de um passeio & fioresta da Tijuca. A professora Solange Gatto e Movignier costumavam organizar esses passeios em énibus do servigo, nos velhos tempos em que oservico dispunha de 6nibus. Os frequentadores do atelier levavam cavaletes, telas, tintas e pincéis. Emygdio sentiu-se atraido pela beleza do lugar e abandonou, ao menos por momentos, seu mundo onirico ov a evocacao de paisagens ligados a emogées da infancia, temas até entéo constantes na sua pintura. Assim, a “Capela do Mayrink” ocupava posigéo especial na série de obras de Emygdio. Dadas esas explicagées a Cicillo Matarazzo, ele compreendeu nossa negativa e elegantemente néo mais insistiv. A exposigéo apresentada no Museu de Arte Moderna de Sé0 Paulo foi transferida para 0 saldo nobre da Cémara Municipal do Rio de Janeiro, gracas ae poeta Jorge de Lima, na ocasiéo vereador e presidente doquela cémara, Esta exposigo foi inagurada a 25 de novembro de 1949 e encerrada no dia 10 de janeiro de 1950. O interesse do publico e da imprensa pelos artistas de Engenho de Dentro excedeu todas as expectativas. Durante mais de um més, publico numeroso e atento visitou a exposi¢ao. Cronicas foram escritas por Osorio Borba (Didrio de Noticias, 26 de novembro de 1949); Yvonne Jean (Correio da Manha, 30 de novembro de 1949); Jorge de Lima (A Manhé, 30 de novembro de 1949); Flavio de Aquino (Didrio de Noticias, 18 de dezembro de 1949); Anténio Bento (Didrio Carioca, 18 de dezembro de 1949). © fato mais marcante porém foi o debate entre 08 criticos de arte Mario Pedrosa (Correio da Maha) e Quirino Campofiorito (O Jornal), que se empenharam em intensa discussdo sobre 0 16 valor artistico dos obras criados no hoy Psiquidtrico de Engenho de Dentro, ¢ axaltando-os e o segundo negando ther qualidade estética. Fez parte do programa do | Congresso Internacional de Psiquiatria, reunido em Py més de setembro de 1950, 0 apresertors, © uma exposigao de “arte psicopatolégica” © professor Mauricio de Medeiros, entéo catedratico de psiquiatria da Universidade do |, foi 0 coordenador das contribuigées ros a esse congresso, inclusive do mater destinado aquela exposi¢do. Por seu intermecig enviamos uma selegao de desenhos, pinturase modelagens, obras espontdneas de sete esquizofrénicos, Separadamente, « Colénia Juliano Moreira enviou & mesma exposigéo importante conjunto de obras plasticas. © organizador dessa exposi¢ao internacional is ‘odr. Robert Volmat, chefe de clinica psiquidtica da Faculdade de Medicina de Paris, © dr. Volmat posteriormente publicou um live sob 0 titulo ’Art pshychopathologique, PUF, 1956, onde comenta as contribuigées de 17 paises referindo-se detidamente 4 colegéo do Centro Psiquidtrico do Rio de Janeiro. Atraiot especialmente sua atengdo as modelagers & Licio, anteriores e posteriores & lobotomia. 0 ¢- Volmat comento-as ds paginas 190 ¢ 192, ¢% reproduz nas pranchas Ill e IV. Em Engenho de Dentro, crescia a colecao de desenhos e pinturas. Comegou-se a folar e museu. O diretor do CPN cedeu uma solo situada no 1.° andar do Bloco Médico Cirira® para a organizagéo de pequena: exposigees) cinda em condigées muito precérias, no | de maio de 1952 foi inaugurado o Museu Imagens do Inconsciente. Em 1956, Humberto Mathias Costa, ave substitviu Paulo Elejalde na diregao do cen", ofereceu ao museu sala muito mais amp. a sm reuri pavimento térreo, onde foram também P|

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