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14/5/2014 FILME B

Boletim Filme B
Ano 15 - semana 10 - 05/03/2012 - Edição 746

RioContentMarket reflete efervescência do


mercado audiovisual
por Gustavo Leitão, Beatriz Leite, Marina Carvalho e Tiago Maranhão

Em sua segunda edição, o RioContentMarket, que se realizou entre 29 de fevereiro e 2 de março no hotel
Windsor Barra, no Rio, se consolidou como ponto de encontro dos produtores brasileiros e internacionais
em um momento de efervescência para o setor audiovisual. O crescimento da economia e a entrada em
vigor, ainda este ano, da nova lei da TV por assinatura, contribuíram para multiplicar o interesse pelo
evento, que teve 2,1 mil participantes e 52 painéis, reunindo convidados de 23 países diferentes. Muitos
painéis tiveram lotação esgotada.

Uma das estrelas da programação foi Jack Bender, produtor executivo e diretor de séries de TV como
Lost, Família Soprano e, mais recentemente, Alcatraz. Responsável pela keynote de abertura, ele
descreveu, por exemplo, os impasses da produção de Lost, que teve um dos pilotos mais caros da
história. O fato gerou imensa apreensão dos produtores, antes que a série se confirmasse um dos
maiores sucessos da história da televisão americana.

Bender afirmou que, hoje, há melhores séries de TV sendo realizadas e exibidas do que filmes para
cinema. “Os estúdios estão fazendo filmes superficiais como Transformers e ganhando bilhões de
dólares”, afirma. Mas, para Bender, uma das consequências dessa opção é a evasão de talentos. “A
televisão, especialmente a televisão paga, tem atraído atores de cinema, escritores e diretores porque
lá eles podem fazer coisas que são desafiadoras. Na televisão existem por exemplo melhores papéis para
atores mais velhos”, citando o exemplo de Jessica Lange, em America Horror Story, e de Dustin
Hoffman, em Luck.

Taplin: Brasil será centro de explosão criativa

Outro convidado internacional de destaque foi o especialista americano em comunicação e


entretenimento Jonathan Taplin, professor da Universidade do Sul da Califórnia (USC) e diretor geral do
Annenberg Innovation Lab. Taplin disse acreditar que o próximo centro de explosão de criatividade
cultural do planeta será o Brasil, e focou sua apresentação na importância do crescimento da análise de
recepção e da produção de conteúdo para plataformas de internet móveis.

Representantes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul se reuniram na mesa “Brics no mercado
audiovisual” e falaram do crescente poderio econômico do bloco, que no ano passado recebeu o reforço
sul-africano. “A previsão da Pricewaterhouse é que China e Brasil liderem o mercado audiovisual até
2015”, disse Silvio Da-rin, gerente executivo de articulação internacional e licenciamento da Empresa
Brasileira de Comunicação (EBC).

Na China, Viacon investiu em produções locais


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Diretora geral da Viacom chinesa, Yan Mei contou como a empresa precisou se adaptar para incorporar
os traços culturais do país. Para cativar o imenso público chinês (juntando todos os canais, a empresa
concentra 500 milhões de espectadores na China), o conglomerado precisou apostar nas produções
locais. Ela destacou a importância de coproduções como com o canal China Television.

Kamscilla Naidoo, chefe de commissioning e projetos especiais da South African Broadcasting


Corporation, maior canal da África do Sul, destacou os interesses em comum que podem nortear as
coproduções e intercâmbio de produtos entre os Brics: “Temos uma forte cultura jovem em comum. Mas
também outros interesses que podem ser compartilhados, como comida e música. E todos nós gostamos
de telenovela. O que torna um produto vendável internacionalmente é seu forte colorido local. Um país
precisa encontrar suas histórias secretas e contá-las”.

Ana Paula Santana: “momento de virada”

No painel “A economia do audiovisual brasileiro”, a secretária do Audiovisual, Ana Paula Santana, afirmou
que o momento é de virada: “É agora que poderemos concretizar nosso potencial industrial. Qualquer
mudança no audiovisual segue o fluxo de mudanças em outros setores industriais. Nosso entrave
continua sendo a capacidade de produção em escala que uma indústria requer”.

No mesmo painel, Luciane Gorgulho, chefe do Departamento de Cultura, Entretenimento e Turismo do


BNDES, disse que já enxerga mudanças: “Há mais ou menos cinco anos começamos a tratar o
audiovisual como um setor a ser desenvolvido no mesmo status de outros que apoiamos”. Para ela, o
mecanismo principal desse desenvolvimento é o fortalecimento das empresas nacionais. “Existe a
tendência, no Brasil, de olhar para projetos, não para empresas. O sistema de editais não propicia o
desenvolvimento, é necessário ter uma fonte permanente de recursos”.

Para Nelson Breve, diretor-presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), responsável pela TV
Brasil, é importante que o país não fique para trás no desenvolvimento tecnológico e na exploração de
novas plataformas. “Nosso objetivo agora é estabelecer conteúdos que sejam referência internacional,
como o infantil. Mas não consigo pensar em entretenimento infantil sem transmídia, sem jogos,
internet”.

Na mesa de debates sobre distribuição de conteúdo brasileiro, houve consenso em torno do fato de que
as novas cotas de produção nacional da TV paga vão aumentar a demanda por produtos audiovisuais
brasileiros. “As programadoras já estão se preparando para a nova lei, mas não estão pegando qualquer
conteúdo. A demanda é por um conteúdo premium. E um dos nossos desafios é saber adequar um
conteúdo ao perfil de um canal”, disse Sabrina Nudeliman, da ELO.

Todos também ressaltaram a necessidade de se estimular a distribuição para além das salas de cinema.
“Essa é por enquanto uma área sem pai nem mãe, não há editais ou qualquer financiamento”, completou
Sabrina. A diretora da ELO também citou a evolução gigantesca do mercado de video on demand (vod) do
ano passado pra cá. “Os modelos de negócio tradicionais estão sendo replicados para o mundo do digital.
São novas mídias, novos mercados”. João Worcman, da Synapse, destacou a importância da atenção aos
tipos de licenciamento de conteúdos. “É preciso conhecer e acompanhar o mercado, saber que tipo de
licença pode ser feita. O produtor depende muito do distribuidor por conta disso.”

Video on demand é mercado em ascensão

O crescimento do conteúdo on demand no Brasil, com o aumento da oferta e da concorrência, foi o tema
da mesa que reuniu Jason Ropell, vice-presidente de conteúdo da Netflix, Pedro Rolla, diretor de
programação da Terra TV, e Fernando Magalhães, diretor de programação da Net/Now. Os participantes
discutiram, principalmente, a mudança de hábitos dos espectadores.

Para os integrantes da mesa, não se deve esperar uma grande explosão do vod a curto prazo. A

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transformação será, como tem sido, gradual. “Vejo projeções de receitas de vod usando números do
Youtube como comparação. Não é assim. Existe ainda uma dificuldade que é fazer a passagem do meio
físico para o digital. As pessoas ainda gostam de ir à padaria e, na volta, passar na locadora. Outro
obstáculo é a banda larga, que nem sempre é boa”, disse Pedro. Uma das estratégias da Terra tem sido,
além de oferecer grandes sucessos de Hollywood, investir na segmentação local, com produtos como a
série de humor O Guri de Uruguaiana, sucesso no Rio Grande do Sul.

A Netflix, principal serviço do gênero nos EUA, tem como principal trunfo a personalização. Por meio de
tags, classificações e compartilhamentos, cria um perfil para cada assinante e sugere filmes e séries
com base nos seus hábitos. “Lançamos o serviço no Brasil para garantir nossa posição no mercado, mas
entendemos que ainda precisamos melhorar. Dos grandes estúdios aos independentes, todos estão
aprendendo nessa seara. Legendas, dublagem, tudo isso é um desafio”, afirmou Ropell.

Já o Now, além dos filmes e séries que o usuário da Net pode alugar e receber diretamente pela
televisão, tem em seu catálogo a programação dos canais da operadora, que ficam disponíveis depois de
sua exibição normal. “Nosso assinante pode assistir a um filme novo do Telecine na estreia ou quando
ele quiser no Now”, explica Fernando.

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