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2. Introdução
Retomando a discussão sobre a necessidade (ou não)2 de uma metodologia específica para o
ensino de português a falantes de espanhol (FE), apresentamos, neste trabalho, uma aplicação da
proposta heterodoxa de Grannier3 (no prelo) à elaboração de material didático, a partir de um
estudo preliminar sobre os erros dos aprendizes no processo de aquisição/aprendizagem (A/A).
Inicialmente, apresentamos um ensaio de análise da A/A de português por FE, que nos permitiu
fazer um levantamento objetivo de um conjunto de erros persistentes.4 Nesta análise procuramos
identificar (1) alguns tipos de erro devidos à transferência e (2) como se explica essa transferência.
1
Agradecemos a Adrián Canteros e a Orlene Carvalho a leitura prévia que fizeram e os seus valiosos comentários. A
presente versão se beneficiou de diversas sugestões e correções apontadas por eles.
2
Quanto à não necessidade de uma metodologia específica, cf. J. C. Paes de Almeida Filho (1995) e, sobre abordagens e
materiais específicos para o ensino de português a FE, v. Akerberg (1994), Lombello et al. (1983), Lombello e Baleeiro
(1983), Silva Gomes, et. al (1987), Simões (1995) e Coudry e Fontão (2000).
3
O quadro da proposta heterodoxa para o ensino de português a FE se apoia nos argumentos do movimento do
"redespertar do foco-na-forma", nos termos de Doughty e Williams (1998), para o ensino de línguas estrangeiras, iniciado
por Long (1991). com respeito à conscientização através do foco-na-forma, adotamos, entre outras, proposta de Fotos
(1992), citada em Fotos (1993) e de Swain (1998). Na aplicação à elaboração de materiais, revisitamos antigos exercícios,
até mesmo o ditado e a tradução.
4
Outras análises de erros e/ou análises contrastivas visando à aplicação ao ensino: Jensen (no prelo), Júdice (no prelo) e
Ferreira (1995 e 1997).
2
Utilizamos, como base do levantamento, quinze provas do exame CELPE – Brás (2000)5,
distribuídas em três grupos, de acordo com o grau de certificação obtido pelos candidatos: segundo
certificado (2), primeiro certificado (1) e sem certificado (S).
O primeiro grupo, dos erros lexicais, reúne aqueles que incidem em algum aspecto da seleção
lexical (na sua forma ou na sua adequação semântica).
O segundo grupo, dos erros morfossintáticos, apresenta aqueles que afetam a estrutura interna da
palavra e seus vínculos a outras palavras, tais como erros de regência e de gênero.
Consideramos como um terceiro grupo, de erros sintáticos, os que se encontram num nível
puramente sintático, tais como erros de ordem dos constituintes e de conetivos.
No quarto grupo, os erros definidos por “questões léxico-sintático-semânticas”: são erros que
incidem em dois ou mais itens lexicais em pelo menos uma das duas línguas e envolvem
diferenças de recorte semântico e/ou uso em diferentes estruturas sintáticas.
1. Erros lexicais
Dentre os erros lexicais, neste trabalho, consideramos que não constitui propriamente erro (ou erro
com o mesmo grau de interesse que os demais), tanto o primeiro subtipo, o uso da forma em
espanhol, como o segundo subtipo, o uso da forma (quase) em português; pois o primeiro subtipo
indica apenas uma falta de contato (suficiente, pelo menos) com o item lexical em português e o
último podem ser considerados mais como uma falta de atenção às regras ortográficas do
português do que erros de língua.
O terceiro subtipo, denominado o “uso de formas mistas”, apresenta erros que revelam melhor o
desenvolvimento do processo de aquisição / aprendizagem do português naqueles pontos em que
o aprendiz pode se beneficiar de um ensino que propicie uma conscientização das semelhanças e
diferenças entre P e E.
592 – IV / S
receta
(E. receta, P. receita)
573 – I / 2
sur (E. sur, P. sul)
593 – I / S
55
Agradecemos à SesuMEC e à Comissão Técnica do exame CELPE-Bras pela disponibilização das provas realizadas em
2000.
3
Consideramos como um grupo à parte (quase “não erros”) os exemplos que apresentam apenas
erros de acentuação gráfica, tais como
603 – I / S
horario (P. horário )
603 – I / S
éxtase (P. êxtase)
594 – II / 2
bém (P. bem)
592 – II / S
Dessa maneira, podemos supor que, se os exemplos abaixo, ao invés de serem produzidos por
escrito, tivessem sido produzidos oralmente, eles teriam sido pronunciados corretamente.
603 – I / S
assessorio (E. accesorio, P. acessório)
604 – I / 1
Neste tipo incluímos os erros em que a forma fonológica da palavra em parte é espanhola e em
parte é portuguesa.6
(a) O erro pode ser um indício de uma diferença sistemática entre os sistemas fonológicos do
português e do espanhol. Um tipo bastante recorrente é o que envolve as letras b e v e revelam
uma dificuldade para distinguir os fonemas correspondentes em português.
573 – I / 2
pobo (E. pueblo, P. povo)
592 – II / S
6
Consideramos "forma fonológica" de uma palavra desde (a) a forma de seus morfemas (os fonemas de que são
constituídos): por exemplo, em "besinho", [bes-] apresenta a forma (com fonemas) do espanhol enquanto o sufixo
apresenta a forma (com fonemas) do português, passando por (b) (ir)regularudades de natureza morfofonológica: o verbo
"dormir" em português apresenta variações do radical diferentes das variações do radical do (aparentemente) mesmo
verbo em espanhol, até (c) aspectos que permitem inferir a situação do sistema fonológico da interlíngua do aprendiz.
4
(b) O erro pode ser decorrente de uma estrutura transitória, uma tentativa de aproximação da forma
em português
592 – IV / S
A irregularidade do português ainda não foi adquirida ou só foi parcialmente adquirida. Em alguns
casos, a correspondência é conhecida, mas é aplicada em item lexical no qual não ocorre a
correspondência ou é aplicada em um ponto inadequado da palavra (vevir).
592 – II / S
soamente (E. solamente, P. somente)
609 – IV / 1
vevir (E. vivir, P. viver)
592 – III / S
604 – IV / 1 (1) 7
entrar (E. entrar, P. colocar)
573 – I / 2 (2)
trocou (E. cambió, P. mudou)
621 – II / 1 (3)
2. Erros morfossintáticos
3.2. Usos de preposições
Constituem erros de natureza próxima do erro lexical, a substituição de preposições de uso fixo, em
formas-feitas, por outras. 8
2.2. Gênero
as outras costumes
593 – III / S
(12)
(P. os outros costumes)
588 – IV / 2
(13)
o sua situação (P. a sua situação)
603 – IV / S
(14)
o viaje (P. a viagem)
8
Curiosamente, os exemplos recolhidos coincidem na preposição substituída: em todos eles deveria ocorrer a preposição
a. Além disso, em três deles, o a foi substituído por em. (Em apenas um exemplo houve substituição do a por que.)
6
609 – II / 1
(15)
seus preocupações
601 – II / S
(16)
Um tipo de erro comum é o uso de artigos em estruturas onde o português não os aceita, assim
como a sua omissão nas estruturas em que são obrigatórios. Entre os pronomes e adjetivos
indefinidos, os erros mais freqüentes incidem nas formas tudo e todo(s).
620 – II / 2 (17)
a outra única coisa (P. a única coisa)
620 – II / 2
(18)
algum
(P. alguém)
592 – II / S
(19)
toca o sanfone (P. toca sanfona)
620 – II / 2
(20)
todo
(P. tudo)
601 – II / S
(21)
tudos
(P. todos)
609 - II / 1
(22)
3. Erros sintáticos
Entre os erros sintáticos mais comuns destacam-se os erros de ordem dos constituintes.
604 – IV / 1 (23)
(P. ajudar o indivíduo para que)
621 – II / 1 (24)
(P. eu só posso lhe dizer)
627 – II / 2
(25)
7
4. Questões léxico-sintático-semânticas
À primeira vista, os erros que envolvem questões léxico-sintático-semânticas poderiam ser
considerados erros de seleção lexical, tais como o uso de ser por estar. Um exame mais detido
revela que o erro se deve a distribuições em estruturas diferentes e/ou a recortes semânticos
(parcialmente) diferentes de uma língua para a outra.
estou a favor
(E. estoy a favor, P. sou a favor)
627 – IV / 2 (27)
estar em contra
(E. estar en contra, P. ser contra)
613 – III / 1 (28)
prestar ouvidos
(P. dar ouvidos / prestar atenção)
609 – II / 1 (29)
592 – IV / S
621 – II / 1
5. Inadequações
5.1. De registro
613 – III / 1
(P. deve fazê-lo agora / tem que fazer isso
agora)
8
(2) De estrutura
613 – III / 1
(P. [...] à natureza, não devemos esquecer que a (sua) qualidade mais importante
[...])
em relação à natureza, [...] a qualidade mais importante que tem é que é única.
613 – III / 1
(P. em relação à natureza, [...] a qualidade mais importante é ser única)
1. Análise contrastiva
Uma classificação de base contrastiva se faz necessária para distinguir os pontos para os quais
existe a possibilidade de se depreender uma regularidade na correspondência entre P e E daqueles
para os quais não há uma generalização suficientemente econômica.
Convém notar que, embora nem todos os pontos críticos analisados contrastivamente ofereçam
resultados aplicáveis a atividades de depreensão de regularidades no ensino de PFE, isso não
invalida a sua adoção.
Em primeiro lugar, mesmo que, de toda a análise contrastiva, apenas uma parte se usasse para
esse tipo de atividade (e o resto fosse posto de lado), esse recurso não deveria ser desprezado,
pois fornece elementos ao professor e ao elaborador de material didático que, em aula, permitirão
ao aprendiz fazer descobertas úteis sobre o que sente como dificuldades, acrescentando um novo
sentido à aula, fazendo com que percorra o processo de A/A com segurança.
Por outro lado, o "resto", como os pontos isolados resultantes da análise contrastiva (por exemplo,
a inadequação semântica (v. (4) em 1.3.), servem a vários propósitos: na seleção de textos9, e de
atividades, para permitir contato repetido com esses elementos. Caso sejam notados pelo aprendiz
ou caso sejam realçados no material (através de negrito, por exemplo) poderão ser enfocados
durante a aula.
"a análise contrastiva é apenas um ingrediente entre vários, na gramática pedagógica [...] talvez
seja mais factível chamar a atenção do professor para a importância e o estudo da mesma”.
Examinaremos a seguir os pontos que serão utilizados para ilustrar a aplicação à elaboração de
materiais didáticos com foco na forma.
9
"Textos" em sentido amplo: textos verbais (orais e escritos), textos visuais (desenhos, fotos, etc.), textos mistos (anúncios
publicitários, reportagens, textos ilustrados), obras de artes plásticas, filmes e vídeos.
9
3. b / v: pobo e posivilidade
Os erros que envolvem b e v requerem um exame em vários níveis, pois, de acordo com a
ortografia do espanhol, essas duas letras constituem representações de um mesmo fonema e não
serviriam para indicar a distinção fonológica entre o fonema /b/ e /v/ do português.
Podemos afirmar com bastante segurança, portanto, que na grafia pobo não houve intenção de
representar o fonema /b/ assim como em posivilidade não houve a intenção de representar o
fonema /v/.
Esses erros, entretanto, não constituem meras “confusões de letras” mas são indícios de que o
aprendiz provavelmente ainda não distingue os fonemas /b/ e /v/ em português. E, mesmo que ele
já os distinga em algumas palavras, ele ainda não sabe qual dos dois ocorre em outras (como em
possibilidade e em povo).
4. O viaje
O gênero dos substantivos em espanhol e a concordância que eles provocam correspondem, na
maioria das vezes, ao que se encontra em português.
Alguns substantivos isolados (nariz, leite, sangue, costume, árvore, etc.) e todos os derivados com
o sufixo –agem, entretanto, não apresentam essa correspondência.
la nariz
o nariz
la sangre o sangue
la leche
o leite
la costumbre o costume
el viaje
a viagem
el coraje a coragem
el garaje a garagem
Por outro lado, a análise do português demonstra que há necessidade de se distinguir, como indica
Carvalho (no prelo), os usos gramaticais das preposições dos usos com significados distintos.
Além disso, a autora salienta que a preposição de, por sua vez, apresenta um complicador: além
de ocorrer com esses dois usos, vários outros de seus usos são limítrofes, tornando a
análise demasiadamente complexa para uma aplicação econômica ao ensino.
6. soamente
Em espanhol, assim como em português, nas palavras derivadas com –mente, a base apresenta a
forma feminina: P. primeiramente – E. primeramente. A regra é válida, nas duas línguas, também,
para as palavras que têm apenas uma forma tanto para o feminino como o masculino: P.
tradicionalmente – E. tradicionalmente, P. simplesmente – E. simplemente, P. fortemente – E.
fuertemente, etc. nas quais a base, embora com formas invariáveis, têm gênero feminino.
O erro acima se deve ao fato de, em espanhol, a palavra correspondente encontrar-se no primeiro
grupo, das palavras que apresentam uma forma marcada como feminina: solamente, enquanto, em
português a base tem uma forma invariável, independentemente do gênero: somente.
2. A aplicação ao ensino
O material didático apresentado aqui corresponde aproximadamente à metade de uma unidade
baseada no filme Eu Tu Eles. Essa primeira parte é centrada numa reportagem sobre o filme. Na
segunda parte, depois de assistir ao filme, pode-se desenvolver atividades análogas às da primeira
parte, seja com base no próprio filme (uma atividade com foco-na-forma (léxico), pode ser, por
exemplo, uma prática oral controlada sobre meios de locomoção, pois a protagonista se desloca
usando vários meios, entre os quais, anda de burro/jegue, de ônibus e a pé) seja com base no texto
da canção “Esperando na Janela“ de Gilberto Gil ou, ainda, com base em pequenos textos
inseridos incidentalmente, mas de forma integrada, de acordo com a necessidade de ampliar o
trabalho dos pontos com foco na forma.
As atividades propostas a partir de textos têm por objetivo propiciar (como foi mencionado na
introdução deste trabalho), tanto (1) a interação em sala de aula,10 como (2) o trabalho da língua,
com foco-na-forma.
O critério básico para optar por uma ou outra atividade ou por um ou outro ponto crítico é a análise
do próprio texto,11 e a identificação do potencial que ele oferece. Por outro lado, os tipos de
atividades selecionados devem atender às indicações da proposta heterodoxa.
A partir desses dois critérios, qualquer atividade pode ser considerada para inclusão no material
didático. Revisitamos algumas atividades tais como o ditado e a tradução e adaptamos exercícios
de análise lingüística (fonética, fonológica, morfossintática e semântica). Incluímos um "teste Cloze"
clássico, como exercício, pelo desafio de "busca de pistas" que envolve e pela integração
lingüística que proporciona.
Além disso, consideramos a discussão da "correção" do teste Cloze, oralmente, em aula, uma
atividade que proporciona um foco-na-forma descontraído, pois a proposta, na forma clássica
dessa atividade, já prevê respostas variadas, mais ou menos precisas em que o que se procura
não é uma resposta única e certa (a que ocorre no texto), mas qualquer preenchimento que faça
sentido e até mesmo uma informação sobre o tipo de palavra que poderia ocorrer. É, como se vê,
uma excelente oportunidade para o aprendiz verbalizar suas dúvidas. É o momento, também, de
uma interação aluno/professor e aluno/aluno para uma reflexão sobre os variados aspectos que
cada escolha de palavra requer.
Um conjunto de unidades temáticas desse tipo permite desenvolver a primeira fase de um curso
que atenda às características da proposta heterodoxa, mencionada acima, proporcionando
elementos para:
(1) o contato com a língua portuguesa e com a cultura brasileira através de filmes, textos e
interação em sala de aula, com ênfase na compreensão. (V. no desenvolvimento da
10
V. atividades desenvolvidas em Henriques e Grannier (2001).
11
Esse processo, aparentemente simples, torna-se bastante complexo na medida em que o elaborador de materiais
didáticos procura integrar a quantidade de textos necessários para um curso completo.
11
unidade abaixo: itens 1 e 2.1. a 2.3. que envolvem compreensão oral e compreensão de
texto);
(2)produção oral controlada (v. abaixo: questionário de múltipla escolha, correção do teste
Cloze e atividades propostas em 3.1. e 3.6.) – é nessas atividades que professor e aluno
podem dedicar parte da sua atenção para a precisão tanto da gramática quanto da
pronúncia;
(3) foco na forma: léxico (V. abaixo: 3.1. e 3.6.);
(4) foco na forma: regularidades som/letra (V. 3.3.) com ênfase na distinção fonológica e na
precisão da pronúncia. A atenção às regularidades ortográficas do português fornece um
apoio valioso, para o FE, na aprendizagem da forma fonológica das palavras do português;
(5) foco na forma: correspondências gramaticais entre o E e o P e regularidades do português
(V. 3. 2. a 3.5.);
(6) produção escrita intensiva e extensiva. (V. abaixo: 4.)
2. O texto básico.
O texto escolhido foi “Quadrilátero Sertanejo”, de Cléber Eduardo e Sílvio Ferreira, que constitui a
seção Cultura/Cinema da revista Época, de 14 de agosto 2000 (pp. 116 -117), reproduzido, em
parte, a seguir. (V. reprodução do texto completo no anexo II.)
Apenas os dois primeiros parágrafos da reportagem são reproduzidos aqui, pois serão examinados
mais detalhadamente para a amostra de material didático.
Quadrilátero sertanejo
Ambientado no cenário favorito dos filmes brasileiros, Eu Tu Eles conta a história de uma
mulher e três maridos.
A opção pelo inusitado está gerando boa colheita. Eu Tu Eles foi aplaudido de pé em uma mostra
paralela do Festival de Cannes, tem exibição garantida em vários países, estréia em mais de 90
salas no Brasil e é forte candidato a uma vaga para o Oscar de produção estrangeira. O roteiro
conta como a faceira e fogosa camponesa Darlene, interpretada por Regina Casé, recebe ajuda do
acaso para atrair e manter três homens em casa (Lima Duarte, Stênio Garcia e Luiz Carlos
Vasconcelos). O quadrilátero é retratado com bom humor. A exploração do lado cômico de
personagens matutos e das saborosas expressões regionais não faz pouco dos sertanejos. Eu Tu
Eles representa-os de forma afetuosa até quando tem cruéis ataques de sinceridade. Para não
reduzi-los a estereótipos, a produção usou como modelos os moradores da pequenina Junco de
Salitre, na Bahia, local das filmagens. Também contou com palpites de Gilberto Gil, autor da trilha
sonora.
Apresentamos aqui duas questões possíveis, referentes aos dois primeiros parágrafos do texto:
13
(1) O filme mostra as dificuldades enfrentadas, no dia-a-dia, por uma família brasileira
típica.
(2) Os brasileiros, assim como os estrangeiros, gostam de filmes com temas polêmicos.
(3) O filme deve ser muito bom, já que está sendo apreciado pelos estrangeiros.
(4) O filme é baseado em uma história fantástica, bem ao gosto dos brasileiros.
Quadrilátero sertanejo
12
11
Neste exemplo de um “Teste Cloze”, adotamos a eliminação de cada sétima palavra. Os nomes próprios e os numerais
foram considerados como uma só palavra. Adotamos aqui o critério de contar as palavras ortográficas. As contrações de
preposição e artigo, portanto, também foram contadas como uma só palavra. Na apresentação final, no material didático,
as lacunas devem ser numeradas.
14
1. em
2. Mais
3. Diante
4. a
5. que
6. amantes
7. no
8. seu
9. encontrado
10. a
11. dos
12. mulheres
13. é
14. está
15. pé
16. para
etc
16
3. Foco-na-forma
3.1. Produção oral controlada: léxico 1.13
a cidade
1.000.000 de habitantes
300.000 habitantes
açude
arranha-céus
avenidas asfaltadas
o lugarejo bancos
palácio do governo
o vilarejo
praça da igreja
shoppings
13
No material didático, esta página teria, como fundo, fotos de cidades de diferentes tamanhos, com algumas das
características citadas. Dois textos que poderiam se ligar a esta atividade, substituindo o quadro ou complementando-o,
são os anúncios publicitários em que aparecem (1) uma rua de uma cidade grande e suas "entranhas" e (2) uma
camionete passando por vários tipos de terrenos (areia, lamaçal, etc.), debaixo de chuva, de sol, etc.(v. anexo III).
17
18
(1) Contrações
1. Leia os dois primeiros parágrafos do texto e anote as ocorrências de em, no, nos,
na, nas, de, do, dos, da, das e das palavras que as acompanham. Depois, responda
às perguntas abaixo.
(1) Por que, em espanhol, quando o nome que se segue é feminino, há duas palavras:
de la e quando o nome é masculino, há
apenas uma?
(2) Esse mesmo tipo de explicação pode ser aplicado ao português?
(3) Como fica o quadro das correspondências entre as formas subjacentes e as formas
contraídas? Complete o quadro:
de + o do em + o no
3. Complete o texto abaixo com a, de, em, para. Se for necessário escreva a forma
contraída (no, dos, etc.).
O interesse maior ____________ (+o) jovem diretor está em mostrar como suas figuras
nordestinas fogem ____________ (+as) receitas tradicionais ____________ tentar
saborear um pedacinho ____________ felicidade. E o fato de usar o humor ____________
narrar a trajetória dessas pessoas não impede Eu Tu Eles de retratar o Brasil.
14
Quando há coincidência de uso em P e em E, principalmente da preposição de, não é econômico detalhar a análise do
significado.
20
Bb / Vv
1. Pronúncia
bela
vela
15
Os exercícios de pronúncia são inspirados nos treinamentos fonéticos (de lingüistas). Mantém-se aqui apenas os
elementos metalingüísticos que podem ser úteis para o aprendiz FE. Não há necessidade de utilizar a terminologia técnica.
O professor e o aluno poderão se referir aos mesmos fatos utilizando os termos que lhes parecerem mais sugestivos.
Exercícios desse tipo já haviam sido introduzidos no ensino de PLE por Grannier-Rodrigues e El-Dash em material
experimental elaborado na Unicamp, em 1979.
21
2. Grafia
[b] sempre se escreve b: ambientado, brasileiros, habitantes, bom, boa, recebe, pobre,
saborosas, Bahia, também, Gilberto, embora, cabra, baseado, possibilitou, urbana, bem-
sucedido, descobri, sabedoria, diabo, trabalho, barro, etc.
o inverso é verdadeiro:
b sempre se lê [b]
SUPERDICA!
v sempre se lê [v]
3. Exercícios
1. Ditado
Assinale a palavra ouvida
A B
1. o boto o voto
2. bate vate
3. libra livra
4. taba (es)tava
5. juba chuva
6. bento vento
7. cabo cavo
8. caba cava
9. berço verso
10. abelha a velha
b v Em espanhol
favorito favorito
televisão televisión
videoclipes videoclipes
boa buena
recebe recibe
bom bueno
22
palavras palabras
possibilitou posibilitó
cabra cabra
visões visiones
etc. etc.
23
(1) Por esse levantamento, o que é mais comum em português: palavras com b ou com v?
(2) Quando uma palavra se escreve com b (ou com v) numa língua, pode-se predizer com
que letra ela se escreve na outra língua?
(3) Você conhece outras palavras que se escrevem com b ou com v em português e não
coincidem com a escrita em espanhol? Quais são?
Português
feminino singular
Espanhol
feminino singular
Em português Em espanhol
regional regional
(b) Você conhece outras palavras em português (e/ou em espanhol) que não
distinguem forma masculina de feminina?
___________________________________________________________
___________________________________________________________
5. Agora, observe as palavras terminadas em –mente que ocorrem nos seguintes textos
e teste suas conclusões:
Personagens centrais
Osias
Darlene preguiçoso
ranzinza
faceira
fogosa
esperta
Zezinho
subserviente
“cabra” dedi-
cado a ...
Ciro
jovem
sedutor
ciúmes
desejo
medo da solidão
27
4. Atividades extraclasse.
4.1. Produção escrita com base no quadro “Personagens centrais”.
Filme: Eu Tu Eles
Produção escrita: resumo e comentários.
3. Conclusão
Aplicando os princípios da abordagem heterodoxa, propomos que se leve em conta os
aspectos específicos do processo de A/A de português por falantes de espanhol. Destacamos (1)
atividades proativas predominantemente indutivas, que promovam a conscientização das
semelhanças e diferenças entre P e E, através do foco-na-forma (a partir do uso da língua em
contexto significativo), (2) o controle da produção oral e, como instrumento para atingir esses
objetivos, (3) a priorização da leitura e da produção escrita.
Bibliografia
AKERBERG, MARIANNE (1994) "Análise contrastiva na gramática pedagógica: um ingrediente útil no
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como Língua Estrangeira. 19 a 21 de outubro de 1994, Pp. 96-102.
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DOUGHTY, CATHARINE E W ILLIAMS, JESSICA (1998) Focus on Form in Second Language Acquisition.
Cambridge: Cambridge University Press. Pp. 1-11.
16
Na apresntação do livro, descrevendo o trabalho de Long e Robinson, o segundo capítulo do livro Focus on Form in
Classroom Second Language Acquisition.
17
Tradução de DMG.
28
FERREIRA, ITACIRA ARAÚJO (1997) “Interface português/espanhol" in: Parâmetros atuais para o ensino
de Português Língua Estrangeira, José Carlos Paes de Almeida Filho. Campinas: Pontes. Pp.141-
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2000.
GRANNIER, DANIELE MARCELLE (no prelo) “Uma proposta heterodoxa para o ensino de português a
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HENRIQUES, EUNICE RIBEIRO E GRANNIER, DANIELE MARCELLE (2001) Interagindo em Português – Textos e
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JENSEN, JOHN B. (no prelo) “O papel do espanhol como fonte de erro em português: o caso do aluno
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Anais do III Congresso da SIPLE, Universidade de Brasília – 2000.
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LONG, MICHAEL (1991) “Focus on form: a design feature in language teaching methodology” citado por
Doughty, Catharine e Williams, Jessica (1998) Focus on Form in Second Language Acquisition
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Universidade de Alcalá de Henares. Madrid. São Paulo: Livraria Martins Fontes Ltda.
NEVES, MARIA HELENA DE MOURA (2000) Gramática de usos do português. São Paulo: UNESP.
29
Anexo I
2. “Eu acho que o médico consegui entrar todos os dados que precisa…".
573 – I / 2
5. “Que ainda temos muito que aprender deles , eles conhecem mais estas terra."
603 – III / S
6. "… e descordo com o senhor Hickmam contrário a essa ventagem para nós…"
627 - IV/ 2
7. "Eu sou Argentino e deixe passar muitos anos sem olhar em meus indios."
609 – III / 1
9. "não fazer diferença entre brancos e indios, porque eles são iguais que nós"
592 – II / S
10. "Os editores teriam que fazer um esforço nesse respeito e manter os mesmos preços dos
livros…"
601 – IV / S
11. “Os governantes devem ficar cientes e até falar abertamente de que os resultados não serão
imediatos, mas no longo prazo.
588 – III / 2
12. "As costumes da civilização não tem que mudar as outras costumes ansestrais deles
indígenas…"
30
593 – III/ S
13. "E sugere um bônus para desconto em outra compra, deste vez fora da feira, nas lojas…"
588 – IV / 2
14. "porque os preços são elevados o sua situação econômica não deixa você ir?"
603 – IV / S
15. “como a música é relaxante, muitos deles continuam o viaje, deixando passar seu ponto de
ônibus."
609 – II / 1
16. "…e também os passageiros que desse modo deixavam de lado seus preocupações, o calor e
talvez suas tristezas."
601 – II /S
17. "Eu experimentei uma paz esquisita que foi aumentando a longo do trajento"
620 – II / 2
18. "… por isso mudou e a outra única coisa que sabia fazer era tocar o acordeão."
620 – II / 2
19. "… a gente diverte-se toda mas algum não da ouvido e durme."
592 – II / S
23. "A prática da leitura ajuda para que o indivíduo seja melhor…"
604 – IV / 1
621 – II / 1
627 – II / 2