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EDITORIAL

Estruturando um artigo científico

Kamille Ramos Torres1

A revista FOCO apresenta nesta edição um editorial que tem como objetivo auxiliar os
pesquisadores menos experientes a entender o processo de construção de um artigo científico.
Muitos artigos são rejeitados porque o autor escolhe o periódico errado
(VASCONCELOS FERREIRA, 2013) ou porque não se atentam as normas do mesmo. É
preciso compreender as normas solicitadas pelo periódico antes de submeter um artigo.
“Genericamente, todos os periódicos contém na sua declaração de escopo, ou missão, uma
indicação face ao que pretendem publicar”. (VASCONCELOS FERREIRA, 2013, p. 3). No
caso da Revista FOCO, consultar o link “Diretrizes para autores” é essencial.
Para estruturar um artigo adequadamente é necessário conhecer sua estrutura, que
segue basicamente nove etapas: i) Título; ii) Resumo; iii) Palavras – chave; iv) Introdução; v)
Referencial Teórico; vi) Metodologia; vii) Análise e Discussão dos dados, viii) Considerações
Finais e; ix) Referências Bibliográficas.
O título é o que irá trazer o leitor para o artigo. Ao fazer uma busca no Google, o título
será o primeiro resultado e, por ele, o leitor irá decidir se deve clicar no link
(VASCONCELOS FERREIRA, 2013). O título deve ser o reflexo do que o leitor encontrará
no texto.
A segunda etapa para estruturar um artigo é a elaboração do resumo. O resumo, assim
como o título é uma parte essencial no artigo. Algumas revistas chegam a dar uma estrutura
de como o resumo deve ser construído (VASCONCELOS FERREIRA, 2013). “Usualmente
estas estruturas pedem que os autores organizem os resumos da seguinte forma: objetivo,
design/método, resultados, limitações, implicações para a teoria e/ou prática, originalidade.

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Bacharel em Administração pela Faculdade Novo Milênio (FNM). Membro do conselho editorial da revista
FOCO.

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Outras revistas impõem limitações no número de caracteres ou palavras”. (VASCONCELOS


FERREIRA, 2013, p. 5). No entanto, além do autor ter que seguir as diretrizes do periódico
“[...] é importante que o resumo seja atrativo, sem desprezar a necessidade de refletir o
conteúdo do manuscrito. Afinal, o título é mesmo “resumo”, pelo que se pretende uma
perspectiva geral do que o manuscrito trata e do motivo porque o deveríamos ler”
(VASCONCELOS FERREIRA, 2013, p. 5).
O resumo deve apresentar os objetivos, a metodologia empregada e os principais
resultados, esses são os pontos destacados pela NBR 6028 como importantes de constar no
resumo (ABNT, 2003). Recomenda-se que o resumo tenha um parágrafo e esse contenha de
100 a 250 palavras (ABNT, 2003).
Outro ponto importante na estrutura de um artigo são as palavras-chave escolhidas.
Segundo as normas da ABNT (2003), as palavras-chave devem representar o conteúdo do
artigo. As palavras-chave são usadas para facilitar a busca por artigos relevantes nos
indexadores e mecanismos de busca. É importante que as palavras-chave utilizadas não
constem no título do artigo.
A introdução é o quarto elemento que faz parte da estrutura de um artigo. Para Pereira
(2012, p. 675), “a introdução é a parte do artigo científico em que o autor informa o que foi
pesquisado e o porquê da investigação”. A introdução de um artigo científico, segundo o
autor,

É local para precisar aspectos particulares da pesquisa, tais como a justificativa para
a sua realização, a originalidade e a lógica que guiou a investigação. Algumas
questões auxiliam na redação. De que trata o estudo? Por que foi feito? Por que deve
ser publicado? Procura-se também mostrar que a pesquisa está assentada em bases
sólidas. Assim, na introdução, se faz a ligação com a literatura pertinente. O que se
sabia sobre o assunto no início da investigação? O que não se sabia sobre o assunto e
motivou a investigação?Resposta à essas questões envolve um processo de escolha
de trabalhos a citar (PEREIRA, 2012, p. 675).

É importante começar a introdução mostrando a relevância do tema que será tratado.


Em seguida, deve-se fazer uma breve revisão da literatura. Segundo Vasconcelos Ferreira
(2013) o objetivo da revisão é o de posicionar o seu artigo na literatura e mostrar que a
conhece, porém não é necessário que a introdução se estenda muito, “[...] mas,
fundamentalmente é deste breve périplo pela literatura que deve sair a identificação de uma
lacuna no conhecimento” (VASCONCELOS FERREIRA, 2013, p. 5). Esta lacuna que foi
identificada anteriormente deve ser tratada no próximo parágrafo. Depois, deve-se explicar

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como o autor aborda a questão de pesquisa, expondo brevemente a metodologia


(VASCONCELOS FERREIRA, 2013).
De acordo com Pereira (2012), o objetivo do artigo geralmente é colocado no final da
introdução, mas também pode ser uma consequência natural de um encadeamento de ideias
anteriores. O objetivo é um ponto de apoio de todo o desenvolvimento do artigo e, por isso,
antes de começar a escrever a introdução, é importante já ter o objetivo bem definido. Para
concluir a introdução, pode ser descrito em um parágrafo como será a estrutura do artigo.
A quinta etapa para estruturar o artigo cientifico é a construção do referencial teórico
ou revisão de literatura, a qual, no dizer de Vasconcelos Ferreira (2013), embora pareça
simples, pode ser bastante trabalhosa e levar a construções desastrosas em alguns casos. O
autor coloca os pontos mais difíceis desta etapa de forma bastante objetiva:

Penso que há três dificuldades mais notórias nos trabalhos que revejo: a primeira, a
imensa abrangência da revisão da literatura que, assim, não está focado no tema do
artigo e não contribui diretamente na linha da questão de pesquisa definida. A
segunda dificuldade que mais observo, é assentar a revisão em resultados empíricos
dos artigos revistos, em vez de na teoria em si. A terceira é organizar o texto por
autor, ou obra, em vez de por assunto, tópico ou interesse. Talvez a terceira seja a
mais nítida diferença entre um estudante e um acadêmico experiente e um dos
problemas que tornam mais difícil para o leitor entender aonde o autor quer chegar
(VASCONCELOS FERREIRA, 2013, p. 6-7).

Em se prestando a resumir discussões de outros autores, servindo assim como um


embasamento para a pesquisa, a revisão teórica deve ter ligação com a questão problema, pois
ela será utilizada na análise e discussão dos resultados. Outro ponto bastante observado pelos
avaliadores é a utilização de ideias de autores que são referência no tema abordado na revisão
da literatura. Além disso, os artigos utilizados não devem ser ultrapassados. Por ultrapassado
chamo os artigos que têm teorias que já foram debatidas e que por isso obtiveram avanços
significativos.
O desenvolvimento da metodologia é a sexta etapa para a elaboração de um artigo
científico. Nessa seção, o autor deve abordar cada componente usado para o desenvolvimento
da pesquisa. É importante deixar claro os passos da pesquisa para o caso de outro
autor/pesquisador ter o interesse de replicar a mesma, ou, na avaliação do artigo, os
pareceristas quererem comprovar os dados. Segundo Pereira (2013), um avaliador que seja
experiente procurará entender como o autor chegou ao resultado, fazendo perguntas e
esperando encontrar as respostas no artigo. Ainda segundo o autor, é importante lembrar que,

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uma vez o autor não estando presente para responder os questionamentos gerados pelo
trabalho científico, o trabalho precisa ser suficiente para trazer as respostas procuradas pelo
leitor.
A não descrição das técnicas utilizadas para o alcance dos resultados poderá fazer com
que o trabalho seja rejeitado. Por isso, a metodologia precisa ser clara, adequada e consistente
com os objetivos do trabalho. Em alguns artigos a metodologia pode compor a introdução,
mas isso só poderá acontecer se ela puder ser explicada em um parágrafo. Após
esclarecimentos dos procedimentos usados para o desenvolvimento da pesquisa, a seção que
se segue é a de análise e discussão dos dados.
A seção de análise e discussão dos dados é aquela na qual serão apresentados os
resultados, as tabelas, os quadros e/ou gráficos, resultados das entrevistas realizadas ou dos
questionários aplicados. Abaixo de cada resultado, faz-se a discussão dos dados apresentados
com utilização do referencial teórico escrito. É importante evitar colocar teorias que não
constem no referencial teórico. Vasconcelos Ferreira (2013) diz que a discussão dos
resultados deve ficar separada da exposição dos resultados e junto às considerações finais da
pesquisa. No entanto, entendemos que o modo de estruturação do artigo depende da pesquisa
que foi realizada. Assim, por exemplo, em uma pesquisa em que o instrumento de coleta de
dados foi a entrevista, fica difícil ligar a resposta do entrevistado com a teoria se as seções
forem separadas.
A seção de conclusão ou considerações finais é a penúltima etapa da estrutura do
artigo científico. A denominação conclusão se refere a artigos em que os resultados concluem
o que pode ser achado sobre o tema, sem abrir para novas pesquisas. Já a denominação
“considerações finais” é utilizada quando o autor/pesquisador abre “brecha” para que novas
pesquisas sejam realizadas sobre o tema, sendo essa denominação a mais usual. Na seção
considerações finais,

os autores precisam fazer o encerramento do artigo, o que, tipicamente, envolve: (a)


recordar qual a questão de pesquisa e como foi abordada e respondida, (b) ligar os
resultados com a teoria e as hipóteses – no caso de um artigo empírico, (c) mostrar
as limitações do trabalho, que podem ser relativas ao método, à amostra, aos
procedimentos, aos dados etc., (d) revelar qual a contribuição do artigo – que pode
ser pensada como: “O que aprendemos”, (e) apresentar implicações para a teoria e o
conhecimento, embora possa estender para implicações para a prática e mesmo para
as políticas públicas, dependendo da área de pesquisa, por fim, (f) identificar
algumas sugestões para pesquisas futuras. Estes elementos, de (a) a (f), são
essenciais numa discussão que se queira completa (VASCONCELOS FERREIRA,
2013, p. 8).

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Por fim, a última etapa na construção de um artigo científico: as referências


bibliográficas. Nela, são listados todos os autores e artigos que foram utilizados para a
elaboração de sua pesquisa.
Esperamos ter contribuído para tornar mais simples a estruturação de um artigo
científico que tenha a pretensão de ser publicado em um periódico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnica. NBR 6028: Informação e documentação


– Resumo – Apresentação. Rio de Janeiro, 2003.

PEREIRA, Mauricio Gomes. Estrutura do artigo científico. Epidemiol. Serv. Saúde,


Brasília, v. 21, n. 2, p. 351-352, jun. 2012 . Disponível em
<http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-
49742012000200018&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 28 jan. 2018.
http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742012000200018.

PEREIRA, Mauricio Gomes. A seção de método de um artigo científico. Epidemiol. Serv.


Saúde, Brasília , v. 22, n. 1, p. 183-184, mar. 2013 . Disponível em
<http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-
49742013000100020&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 28 jan. 2018.
http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742013000100020.

VASCONCELOS FERREIRA, M.. The Research and Academic Article Structuring


Administration. Iberoamerican Journal of Strategic Management (IJSM), North America,
12, jun. 2013. Disponível em:
<http://revistaiberoamericana.org/ojs/index.php/ibero/article/view/2034>. Acesso em: 28 Jan.
2018.

DOI: https://doi.org/10.28950/1981-223x_revistafocoadm/2018.v11i1.567

Como citar:
TORRES, Kamille Ramos. Editorial: Estruturando um artigo científico. Revista FOCO, v. 11, n.
1, p. 1 – 5, nov./fev. 2018. Disponível em:
<http://www.revistafocoadm.org/index.php/foco/article/view/567>

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