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ACASAE OCORPO, 1968 “Euma estrutura de oito metros de comprimento, com dois compartimentos laierais. O centro dessa estrutura se constitui de um grande balao de plastico. Asextremidades séo fechadas com elasticos e as pessoas ao se encostarem neles provocam as mais variadas formas. Ao penetrar no labirinto o visitante afasta os elasticos da entrada, sentindo um rompimento semelhante ao de um himen complacente e tendo acesso assim ao primeiro compartimento, chamado ‘penetracao’. Nesta cabine a pessoa pisanuma Jona estendida pouco acima do chao e perde o equilibrio: no escuro ela apalpa as paredes, que cedem, da mesma forma que o chéo. Prosseguindo ocaminho através do tato, encontrara uma passagem semelhante é da entrada, e a pessoa chegana ‘ovulaedo’, espaco igual ao anterior, chefo de bal6es. Ao prosseguir, 0 visitante alcanca o ampio espaco central, onde se 6 possivel ver e ser visto do exterior. Neste localhd uma imensa boca através da qual apessoa entra na ‘germinacao’, ali tomando as posie6es que Ihe convier. De volta ao tunel, continuarido o passeio, penetra no compartimento da ‘expulsao’, que além das bolinhas macias de vinil espalhadas pelo chao, possui una foresta de pé nee bis ee ee ee RR on Ue ket nen coc Noe ee ee ales Te ROE eee tec Ree eked ee ee eee eee eee Cd Cee ee ee ee eee 1969: O CORPO E A CASA Na fase sensorial de meu trabalho, que denominei nostalgia do corpo, © objeto ainda era um meio in- dispensdvel entre a sensagéo ¢ 0 participante. O homem encontra seu préprio corpo através de sen- sagées téteis realizadas em objetos exteriores a si. Depois incorporei 0 objeto, mas fazendo-o desapa- recer. Entretanto, 6 0 homem que assegura o seu proprio erotismo. Ele torna-se 0 objeto de sua pré- pria sensagao. O erético vivido como “profano” e a arte como “sagrada" se fundem em uma experiéncla énica; trata-se de confundir a arte e a vida. Minha nova proposigéo ¢ intimista. Dou um simples pedago de pidstico com sacos cosidos em suas extremidades @ cada um faz a experiéncia que quiser, inven- tando proposigées diferentes e convidando outras pessoas a participarem. O tocar se exerce sobre ‘os préprios corpos: eles podem ser dois, trés ou mais, Seu ndmero sempre cresce segundo um de- senvolvimento celular que se tornaré cada vez maior conforme o nimero de pessoas que partici- parem dessa experiéncia. Assim se desenvolve uma arquitetura viva em que o homem, através de sua expresso gesticular, constroi um sistema bio- Iégico que é um verdadeiro tecido celufar. Esta 6 a proposigao a que finalmente me decial. ‘Apenas na medida em que ela toma um sentido para os outros 6 que ela. faz sentido para mim. Torei-me o outro — que passa a me trazer os sig- hificados da proposigéo. & a soma de todas as signiticagoes que the dé um sentido global. Na medida em qué indmeras pessoas aspiram a isto, a proposicéo toma um sentido coletivo tribal. Ela pode se desenvoiver em qualquer lugar, nos par- ques, nes ruas, em nossa casa. Nenhum local de- terminado a priori. O meio em que vive 0 homem ‘86 existe na medida em que ha esta expresso co- Ietiva. Ela ¢ criada pelos gestos dos participantes quando cada um arrasta uma folha de pléstico, que por outro fado seria uma célula que envolve este ou aquele participante, e assim sucessiva- mente. Através de cada um desses gestos nasce uma arquitetura viva, biolégica, que, terminada a experiéncia, se alissolve. A expresséo corporal tem aqui uma importén- cia essencial, pois é através dela que as células .s40 construidas, por exempio, abrindo os bragos ‘ou erlando com as pernas abertas tineis em que as pessoas podem passar. Trata-se de um abrigo postico onde o habitar 6 0 equivalente do comu- nicar. Os movimentos do homem constroem este abrigo celular habitdvel partindo de um nticleo que se mistura a outro. Uma folha de plastico co- locada aberta no chao ainda néo 6 nada. £0 homem que, penetrando-a, a cria e a transforma, pois desenvolve em seu interior comunicagées té- teis. Neste momento, 0 homem & um organismo vivo. Ele incorpora a idéia de agéo através de sua expresséo gesticular. Ele cessa de ser 0 objeto de si mesmo para tornar-se 0 objeto do outro, reali- zando 0 proceso de introverséo e extroverséo, Ele inverte os conceitos casa e corpo. Agora o corpo a casa. E uma experiéncia comunitaria, Nao hé regresséo, pois hé a abertura do homem ‘em diregdo ao mundo. Ele se reata aos outros em um corpo comum. Ele incorpora a criatividade do ‘outro na invengao cofetiva da proposigao. Reatando todas as partes de si mesmo — sepa- radas na fase analitica de meus trabalhos prece- dentes, “nostalgias do corpo” —, 0 homem se comunica com 0 mundo se desenvolvendo para fora de si, dando a outro 0 suporte para que este Gitimo se exprima também. ‘Nas minhes obras dites “baratas”, onde cada um podia fazer seu proprio objeto a partir de ma- terials que Ihe eram dados, jé se encontrava, de uma forma embrionéria, a mesma caracteristica de minhas novas obras. Mas cada experiéncia era in- dividual e corria o risco de se fechar em si mesma, ‘enquanto que agataela . a0 mesmo tempo pes- soal e coletiva, j& gacmndo realizada sem @ dos outros, no seio da mesma estrutura polinuclear. Eu néo me considero um precursor. O que pro- ponho jé existe em numerasos grupos de jovens que déo a sua existéncia o sentido poético, que vive a arte em lugar de fazé-la. Através da expe- riéncia deles, nés, os “artistas”, podemos ter uma perteit critica da sociedade atual, assustada ela intensidade de ser e de viver desses jovens. ‘Agora que 0 artista verdadeiramente perdeu na sociedade atual seu papel pioneiro, ele é cada ver mais respeitado pelo organismo social em de~ composigéo. No momento em que o artista é cada vez mais digerido por esta sociedade em dissolu- ¢80, the resta, na medida de seus meios, tentar Inocular uma nova maneira de viver. Mesmo no instante em que o artista digere 0 objeto, ele 6 di- getido pela sociedade, que j& the achou um titulo uma ocupagao burocratica: 0 engenheiro do écio do futuro... Atividade que nada afeta 0 equill- brio das estruturas socials, A Unica maneira para 0 artista escapar da recuperacao 6 tentar desenca- dear uma criatividade geral, sem nenhum limite psicolégico ou social. Sua criatividade se expri- imiré no vivido. 38 24. Méscara sonsoril, 1967, “Entre as mascaras que eu realize! ha uma bastante espacial, com cespethinhos voltados para os olhos da pessoa que asa. Esta visao ‘do prtprio alhar provoca sensagoes de Iniravercdo e disscclago" 26. Cesaviana, 1967. “Como. Eu ¢ otu, este rabalho pertence & ste Youpa-corporou- al, que procura estabelecer um contato entry os sexos através da “descoberta do homem na muher evice-worsa. A cesariana’consisie ‘em um macacdo para ser vestido por um homem. Nesta rovpa ele ‘deve abrir um ziper para rebrar a ‘banviga grévida’fela de bowracha ‘cor

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