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Os gregos criam as Eurínies (as) ou as Eumênides, que os romanos transformam nas três

Fúrias (Tisífone, Megera e Alecto) e, há milênios, as sobras da humanidade vêm incumbindo-


se, diga-se de passagem, com inexorável maestria: de espalhar o ódio, a cólera e o furor
(ruim) por todos os cantos do nosso manjado admirável mundo novo

Fúria, o “Aurélião” (dicionário) define-a como: ira, agitação violenta ou entusiasmo; Ambrose
Gwinett Bierce (pensador e jornalista americano, 1842 – 1914) como: ódio ou “o sentimento
reservado para ocasião de superioridade de alguém”, isto é, da vantagem de alguém sobre outros
pobres mortais.

Os antigos gregos – que pensam muito e têm resposta para quase tudo – costumam arremessar o
furor (ou a raiva) contra as pessoas sob a forma da própria divindade alegórica Fúria ou através de
um convite às Harpias (seres alados monstruosos, sempre famintos, com: corpo de abutre, rosto de
senhoras pouco sociáveis, garras medonhas e um péssimo humor) ou às Eurínies. Tem-se um
exemplo clássico na loucura que atinge o maior herói semideus de todos os tempos: Hércules (ou
Alcides, ou ainda Héracles em grego), quando Juno (Hera) ordena à deidade Fúria e à Demência
que o castiguem, insuflando-lhe um desejo incontrolável de matar a flechadas alguns de seus filhos.

Gottfried Wilhelm Leibniz (filósofo alemão, 1646 – 1716) - em sua obra Novos Ensaios sobre o
Entendimento Humano, Livro II, capítulo XIX - enuncia que o entusiasmo do homem está ligado ao
seu espírito de dominação no subconsciente. Os gregos, pra variar, já diziam que ficar
entusiasmado seria o mesmo que possuir um deus ou uma divindade “dentro de si” e que o êxtase,
que pudesse segui-lo, seria um estado de euforia ou embriaguez que, literalmente, significava “sair
de si”, para fora. Muito interessante essa coexistência de dois sentimentos humanos tão íntimos e
ambivalentes, podendo tornar-se opostos ao mesmo tempo.

A fúria (benéfica, não a destrutiva) é uma questão de vida ou morte no universo do mais denso e
impetuoso gênero musical que se tem notícia: o Heavy Metal. Faz-se vital a perpetuação de uma
imagem de puro dinamismo para aqueles veteranos grupos desejosos de manter a sua clientela de
fãs ou para as bandas principiantes ansiosas de construir o seu próprio público. O visual é
essencial, mas a performance em concertos “fechados” ou festivais ao ar livre é determinante,
mesmo que as músicas (composições) atuais sejam infinitamente inferiores aos grandes clássicos
já produzidos.

Por motivo de consciência pessoal, não vou listar os grupos que perderam a vontade ou o tesão de
tocar e, por conseguinte, também a sua criatividade. Ocorre que a maioria dos músicos perdeu o
entusiasmo e a empática interação com as plateias, estes artistas não se expressam mais com a
natural alegria necessária. Posso apenas citar alguns grupos do Heavy Metal (como também do
Hard Rock), que continuam a encantar pela “agressiva” postura em palco e pelo som “furioso” que
ainda produzem, tais quais: o AC/DC, o Slayer, o Exodus, o Metallica, o WASP e o Judas Priest, e,
outros que retornaram à ativa, carregando a mesma paixão de outrora, como: o Raven, o Foreigner,
o Krokus e o Accept.

A vida sem ira, emoção e vontade, simplesmente, não se manifesta em toda a sua plenitude, pois
se extingue o interesse na criação. E fúria e entusiasmo são elementos indispensáveis na
constituição do Heavy Metal. É por isso que não se consegue amordaçar o Rock Pesado, nunca,
ele é livre, independente; por isso ele vive a conquistar posições de destaque em vendas - a
despeito da discriminação ainda sofrida por boa parte da crítica e da mídia nacional e do exterior -;
e por isso, eternamente, ele cresce e adquire reformada robustez, granjeando o amor (simpatia)
das novas gerações e prostra toda a teoria que o censura como causador de todos os problemas
da juventude, e também da minha meia-idade.

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