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Je OOM, , " 8 John: Maynard Keynes Organizador: Tamas Szmrecsanyi ECONOMIA 2.° edigao ca editors atiea 9. AS POSSIBILIDADES ECONOMICAS DE NOSSOS NETOS (1930) + I Estamos sofrendo hoje de um violento ataque de pessimismo eco- némico. Tornou-se comum ouvir as pessoas dizerem que terminou 0 periodo de enorme progresso econémico que caracterizou o século XIX; que a rapida melhoria do padrao de vida vai se tornar mais lenta — pelo menos na Gra-Bretanha; que, na década que temos pela frente, sera mais provavel um declinio da prosperidade do que um progresso. Creio que se trata de uma interpretagéo extremamente errada do que esta ocorrendo conosco. Estamos sofrendo, nao do reumatismo da velhice, mas das dores crescentes de mudangas excessivamente rdpidas, da dor do reajustamento entre unr+perfodo econémico e outro. O aumento da eficiéncia técnica tem ocorrido com mais rapidez do que conseguimos lidar com o problema da absorgéo de trabalhadores; 0 Progresso no padrao de vida foi um pouco rapido demais; o sistema bancario e monetério do mundo tem impedido que a taxa de juros caisse tanto quanto seria exigido pelo equilibrio. E, ainda assim, 0 desperdicio e a confusao resultantes nao se referem a mais que 7,5% da renda nacional; estamos perdendo um shilling e seis pence por libra, € temos apenas 18 s 6 d, quando poderiamos, se féssemos mais sensatos, ter uma libra; contudo, apesar disso, os 18 s 6 d equivalem ao que uma libra teria sido cinco ou seis anos atr4s. Esquecemo-nos de que em 1929 * Reproduzido de Keynes, J. M. “Economic Possibilities for our Grandchildren.” In: Essays in Persuasion — CWJMK. Londres, Macmillan, 1972. v. IX, cap. V-2, P. 321-32. Este ensaio foi apresentado pela primeira vez em 1928, sob a forma de conferéncia em diversas sociedades, inclusive a Essay Society do Winchester College € 0 Political Economy Club, em Cambridge. Em junho de 1930, Keynes ampliou suas notas numa palestra sobre “As Possibilidades Econémicas de Noss Netos”, que apresentou em Madri. Esta apareceu sob forma literéria em duas partes, no semanfrio Nation and Athenaeum de 11 € 18 de outubro de 1930 — ou seja, em plena época da depressiio. i 151 9 produto fisico da indistria britiniea foi maior do que nunea, € gue o excedente liquido de nossa balanga externa, disponivel para novos inyestimentos no estrangciro, depois de pagas todas as importagdes, foi maior no ano passado do que o de qualquer outro pais, sendo, na verdade, 50% maior que © excedente correspondente dos Estados Unidos, Ou ainda — se se tratar de uma questo de comparagao —, suponha-se que devéssemos reduzir & metade os saldrios, repudiar 4/5 a divida nacional ¢ entesourar nosso excedente de riqueza em barras de ouro, em vez de empresté-lo a 6% ou mais. Com isso ficariamos parecidos com a Franca, atualmente téo invejada. Mas seria isto um progresso? A vigente depressiio mundial, a enorme anomalia do desemprego | a mundo cheio de necessidades, os desastrosos erros cometidos, | m-nos para 0 que est4 ocorrendo sob a superficie — para a ver- Gadeira interpretagio da tendéncia das coisas. De minha parte, prevejo ‘soaue ainda em nossa época devera ser provado o desacerto dos dois erros de pessimismo que atualmente tanto tumultuam o mundo — mo dos revoluciondrios, para quem as coisas vao tao mal nada nos pode salvar, a nao ser violentas transformagées, e o essimismo dos reaciondrios, para os quais o equilibrio da vida econé- 1 € social € to precério, que ndo nos devemos arriscar em fazer objetivo neste ensaio, todavia, ndo é examinar o presente ou proximo, mas desembaracar-me de visdes curtas e levantar que podemos racionalmente esperar daqui a cem anos quanto de nossa vida econdmica? Quais sao as possibilidades econd- ‘Rossos netos? de 0s primeiros tempos documentados — digamos, uns dois es de Cristo —, até 0 inicio do século XVIII, no houve muito grande no padrao de vida do homem médio, do $ de pragas, fomes ¢ guerra, Intervals brilhantes. Mas Progressiva ou violenta. Talvez alguns periodos do que outros — na melhor das hipéteses, 100% 0s quatro mil anos que terminaram, digamos, em 152 E verdadeiramente notavel a auséncia de importantes invengées téc- nicas entre a era pré-hist6rica e os tempos comparativamente modernos. Com efeito, quase tudo 0 que importa, e que o mundo possuia no inicio da Idade Moderna, ja era conhecido pelo homem no albor da Histéria: a linguagem, 0 fogo, os mesmos animais domésticos que temos hoje, 0 trigo, a cevada, o vinho e a oliva, o arado, a roda, o remo, a vela, 0 couro, panos e roupas, tijolos e cuias, ouro e prata, cobre, estanho e chumbo — e 0 ferro foi acrescentado 4 lista mais de mil anos antes de Cristo —, os bancos, a politica, a matematica, a astronomia e a religiéo. Nao existe documentagdo sobre quando comegamos a con- tar com estas coisas. Em determinada época, antes do aparecimento da Histéria — tal- vez até num dos agradaveis intervalos anteriores a ultima era glacial — deve ter havido uma era de progresso e invengéo comparaveis a que vivemos hoje. Mas, através da maior parte da Histéria documentada, nunca houve algo parecido. Eu acho que a Idade Moderna comegou com a acumulacéo de capital iniciada no século XVI. Creio — por razdes com as quais nao sobrecarregarei esta discusséo — que isto foi devido inicialmente a alta dos precos e dos lucros, resultantes do tesouro em ouro e prata que a Espanha trouxe do Novo Mundo para o Velho. Daquele tempo até hoje, o poder da acumulacao através dos juros compostos, que parece ter estado adormecido por muitas geragdes, renasceu e renovou sua forga. E 0 poder dos juros compostos em duas centenas de anos é de monta a abalar a imaginacao. Apresento como exemplo disso uma quantia a que cheguei. Hoje, © montante dos investimentos externos da Gra-Bretanha est4 avaliado em cerca de 4 bilhdes de libras. Isto nos proporciona uma renda anual de aproximadamente 6,5%. A metade disto trazemos para casa e apro- veitamos; a outra metade, ou seja, 3,25%, deixamos acumular no estrangeiro, a juros compostos. Algo semelhante vem ocorrendo ha cerca de 250 anos. Isto porque eu vinculo o inicio dos investimentos externos da Gra- -Bretanha ao tesouro que Drake roubou da Espanha em 1580. Naquele ano, ele voltou a Inglaterra, equilibrou o orgamento e ainda ficou com 40 mil libras nas maos. Investiu esta quantia na Companhia do Levante — que prosperou. Os lucros da Companhia do Levante deram origem 4 Companhia das Indias Orientais; e os lucros desta grande empresa serviram de base aos investimentos externos subse- qiientes da Inglaterra. Ora, acontece que 40 mil libras, acumulando-s¢ 153 a um juro composto de 3,25%, correspondem aproximadamente ao yolume real dos investimentos externos da Inglaterra em diversas datas ¢, na realidade, chegaria hoje ao total de 4 bilhGes de libras, que ja ‘mencionei como sendo nossos atuais investimentos externos. Assim, ada libra que Drake trouxe para o pais em 1580 foi multiplicada por oem mil. Tal é o poder dos juros compostos! see » A partir do século XVI, e com uma progressdo cumulativa depois 0 o XVIII, teve inicio a grande era das invengées cientificas e Estas, desde 0 comego do século XIX, tomaram um impulso através do carvao, do vapor, da eletricidade, do petrdéleo e 0 aco, da borracha, do algodao e das industrias quimicas, das maqui- $ automaticas e dos métodos de producao de massa, do telégrafo e da de Newton, Darwin e Einstein, e milhares de outras coisas, famosos e conhecidos demais para enumerar. Qual foi o resultado? Apesar do enorme crescimento da populagao que era preciso equipar com casas e maquinas, creio que se de umas quatro vezes o padrao de vida médio na Europa e nos dos Unidos. O crescimento do capital deu-se numa escala muito m de uma centena de vezes do que jamais existiu em qualquer do anterior. E de agora em diante, nao precisamos esperar um } tao grande da populacao. © capital aumenta, digamos, 2% ao ano, o equipamento bisico © tera crescido 50% em vinte anos e sete vezes e meia em Pensem nisso em termos de objetos materiais — casas, meios € coisas semelhantes. tempo, nos ultimos dez anos, os progressos técnicos na “os transportes tém continuado a uma taxa maior que em to anterior na Histéria. A producao industrial per Unidos era 40% maior em 1925 do que em 1919. detidos por obstaculos tempordrios, mas ainda assim dizer que a eficiéncia técnica tem aumentado a uma taxa de mais de 1% ao ano. Existem provas de que as revolu- técnicas, que até agora atingiram principalmente o S tao grandes na eficiéncia da produgéo de j4 ocorreram na mineracao, na indtstria e nos Ppoucos anos — quero dizer, ainda durante a ser capazes de desenvolver todas as fungdes poderao afetar a agricultura. Podemos estar as | e da indistria com um quarto do esforgo | 154 Por enquanto, a propria rapidez destas mudangas nos aflige e provoca problemas dificeis de resolver. Aqueles paises que nao estado na vanguarda do progresso suportam-nas apenas relativamente. Estamos sendo atingidos por uma nova doenga, a respeito da qual alguns leitores ainda podem nao ter ouvido falar, mas sobre a qual ouviraéo muito nos proximos anos — ou seja, 0 desemprego tecnoldgico. Isto significa um desemprego causado pela nossa descoberta de meios para economi- zar o emprego do trabalho, a um ritmo maior do que aquele pelo qual conseguimos encontrar novas utilizagdes para a forca de trabalho. Trata-se, porém, apenas de uma fase temporaria de desajustamento. Afinal, tudo isto significa que a humanidade esta resolvendo seu pro- blema econémico. Eu prediria que o padrao de vida nos paises em progresso sera daqui a cem anos entre quatro e oito vezes maior do que o atual. E nao seria absurdo considerar a possibilidade de um progresso ainda maior. IL Para fins de discussio, suponhamos que, em média, no sentido econémico, todos estejamos daqui a cem anos oito vezes melhor do que hoje. Certamente, nada sera capaz de nos surpreender aqui. E verdade que as necessidades dos seres humanos podem parecer insaciéveis. Mas elas podem ser agrupadas em duas classes — as necessidades absolutas, tais como as sentimos, qualquer que seja a situagéo de nossos semelhantes; e as relativas, que apenas sentimos quando sua satisfagéo nos torna superiores a nossos semelhantes. Na verdade, as necessidades do segundo grupo, que satisfazem o desejo de superioridade, podem ser insacidveis; tanto mais elevadas serao, quanto mais alto for o nivel geral. Todavia, 0 mesmo nao se dé no caso das necessidades absolutas — e logo sera possivel atingir, talvez muito antes do que pensamos, um est4gio no qual, uma vez satisfeitas essas necessidades, preferiremos devotar nossas energias a finalidades nao- -econémicas. Vejamos agora minha conclusao, que vocés acharao, segundo penso, cada vez mais surpreendente para a imaginacdo, quanto mais pensarem nela. A minha concluséo € que, se nfo houver grandes guerras ¢ um grande aumento da populacio, o problema econémico podera set resolvido, ou pelo menos, ter uma solugdo a vista nos préximos cem 155 Bids. Isto significa que o problema econdmico nao constitui — se olharmos para o futuro — o problema permanente da raga humana. Por que — perguntariam vocés — que isso é tao surpreendente? Bssurpreendente porque — se, em vez de olhar para o futuro, olharmos para o passado — verificaremos que o problema econdmico, a luta pela subsisténcia, sempre foi o problema fundamental e mais premente @araca humana — nao s6 da raga humana, mas de todo o reino biold- Bico, desde © inicio da vida em suas formas mais primitivas. Dessa maneira, estivemos expressamente envolvidos pela natureza = com todos os nossos impulsos e os mais profundos instintos — na farefa de resolver 0 problema econdmico. Se o problema econdmico for resolvido, a humanidade ficard privada de seu objetivo tradicional. _ Sera isso um beneffcio? Se de alguma forma acreditamos nos valores 'réais da vida, essa perspectiva pelo menos abre uma oportuni- dade de beneficio. Contudo, penso com pavor no reajustamento dos habitos e instintos do homem comum, nele cultivados por incontaveis ‘getagbes, e€ que daqui a algumas décadas, ele poderd ser solicitado a por de lado. * : P e i se Na linguagem atual, nao sera de se esperar um “colapso nervoso I? Ja temos um pouco de experiéncia do que quero dizer — um lapso nervoso, do tipo que j4 é comum na Inglaterra e nos Estados entre as mulheres das classes privilegiadas. Muitas dessas criaturas, privadas pela riqueza de suas tarefas e de suas ocupa- €m que, nao tendo necessidade econémica de cozinhar, limpar , $40, contudo, incapazes de descobrir alguma ocupacao mais — até ser obtida. Propésito um epitafio tradicional, escrito para si mesma nao se enlutem e nunca chorem por mim, ‘Como outros que esperam o lazer, ela imaginava passar 0 tempo a escutar — pois havia outro distico roe Q Suave, os céus vao ressoar; ‘terei a ver com os cAnticos”. 156 Contudo, a vida s6 ser4 tolerével para os que tém algo a ver com os canticos — e qudo poucos somos os que conseguem cantar! Assim, pela primeira vez desde sua criagdo, 0 homem enfrentara seu problema real e permanente — como empregar a liberdade de preocupacdes econdmicas prementes, como ocupar o lazer que a ciéncia e€ 0 juro composto Ihe terao conquistado, para viver bem, sabia e agra- davelmente. Os ativos e decididos ganhadores de dinheiro podem levar-nos todos ao aconchego da abundancia econédmica. Mas apenas serao capa- zes de aproveitar a abundancia, quando ela chegar, os que puderem manter viva e cultivar para uma perfeigaéo mais completa a arte de viver, e os que nado se vendem pelos meios de vida. Todavia, acho que nao existe pais e povo capazes de encarar sem temor uma era de lazer e abundancia. Isto porque, durante um periodo demasiado longo, fomos treinados a lutar e nao a gozar. Trata-se de um problema temivel para a pessoa comum, sem talentos especiais para se ocupar, principalmente se nao estiver mais enraizada na terra, nos habitos, ou nas queridas convengdes de uma sociedade tradicional. A julgar pelo comportamento e pelas realizagdes das classes ricas da atualidade, em qualquer parte do mundo, a perspectiva é muito depri- mente! Isto porque tais classes constituem, por assim dizer, nossa vanguarda — que esta espionando a terra prometida para o restante de nds, e 14 instalando o seu dominio. E porque, segundo me parece, a maioria fracassou desastradamente — os que tém uma renda indepen- dente, mas nenhuma associacéo, dever ou vinculos — em resolver 0 problema que lhes foi proposto. Tenho certeza de que, com um pouco mais de experiéncia, empre- garemos a generosidade recém-descoberta da natureza de maneira bem diferente daquela com que os ricos a usam hoje, e delinearemos para nds um plano de vida bem diferente do deles. Ainda por muito tempo o velho Ad§o estar tao forte em nés que todos precisario fazer algum trabalho para ter satisfacgio. Faremos mais coisas por nés do que o habitual no caso dos ricos atuais, apenas muito satisfeitos por contar com pequenos deveres, tarefas e rotinas. Mas, além desse ponto, esforcar-nos-emos em espalhar pouca manteiga no pao a fim de tornar o trabalho que ainda restar tao partilhado quanto for possivel. Turnds de trés horas ou semanas de quinze horas poderio adiar o problema por algum tempo. Isto porque, trés horas por dia é o suficiente para satisfazer 0 velho Addo na maioria de nés! 157 Também em outras esferas existem mudancas que precisamos es- perar que cheguem, Quando a acumulacao da riqueza nao tiver mais ma grande importdncia social, havera grandes alteragées no cédigo de moralidade. Seremos capazes de nos desfazer de muitos dos prin- tipios pseudomorais que nos oprimiram durante duzentos anos, através dos quais elevamos algumas das qualidades humanas mais repugnantes fi posicfio das mais altas virtudes. Seremos capazes de nos permitir ‘Avaliar em seu real valor 0 motivo econdmico. O amor ao dinheiro mo uma posse — diferente do amor ao dinheiro como meio para Gh goz0 ¢ as realidades da vida — ser4 reconhecido pelo que é: uma speeiade um pouco fastidiosa, uma dessas tendéncias semicriminosas que se costuma confiar com arrepios a especialistas TA siaacas mentais. Por fim, seremos livres para nos desfazer de todo ‘Tipo de costumes sociais e praticas econdmicas que influem na distri- riqueza e dos prémios e castigos econdmicos, agora mantidos ‘custo, por mais repugnantes ¢ injustos que possam ser em si, de serem tremendamente uteis para promover a acumulacao mente, ainda haver4 muita gente com objetivos intensos itos, em busca cega da riqueza — a menos que possam tlhe algum substituto plausivel. Mas entre nos néo nos mais obrigados a aplaudir e a encorajé-los. Isto porque ,com maior curiosidade do que hoje é seguro fazer, qual “carater deste “propésito” com o qual. a Natureza nos ‘todos em varios graus. E porque tal intengao revela que preocupados com os resultados de nossas acdes num © que com sua propria qualidade ou seus efeitos ime- abiente. O homem dotado de objetivos praticos esta ‘garantir uma imortalidade esptria e iluséria para seus ra a frente, no tempo, o seu interesse neles. Ele gatinhos de seu gato; na verdade, sequer os os gatinhos dos gatinhos, e assim por diante, para taria. Para ele, uma geléia nao é uma geléia, e de uma geléia para amanha e funca de uma , sempre projetando para o futuro sua geléia, ele se eee eee pare seu ato de fazé-la. © Professor em Sylvie and Bruno: , senhor, com sua continha’ — disse uma voz ‘date 158 — ‘Ah, bem. Se vocés conseguirem esperar um minutinhe. resolver © problema dele.” — disse 0 Professor as © alfaiate chegara, enquan’ poderei “Quanto é, este ano, meu Senhor falava. — ‘Bem, foi dobrando todos estes anos, compreende” — res pondeu o alfaiate um pouco rudemente — e acho que gostari receber agora, Sio duas mil libras!” — ‘Ora, nio & nada!’ observou distraidamente o Professor apa pando 0 bolso, como se sempre levasse consigo pelo menos oyucis quantidade de dinheiro. ‘Mas vocé no preferiria esperar s6 outro ano para que ficasse quatro mil? Imagine como vocé iria ficar rico! Othe. se voc’ quisesse, seria um rei — ‘Nao sei se eu gostaria de ser rei.’ — disse o homem pensativa mente. ‘Mas soa uma quantidade enorme de dinheiro! Bem. acho que vou esperar.” — ‘Naturalmente!’ — disse 0 Professor. ‘Vejo que vocé tem bom senso. Até logo, meu caro! — ‘Vocé teré de Ihe pagar alguma vez essas quatro mil libra; — perguntou Silvia, quando a porta se fechou atris do credor que partira. — ‘Nunca, minha filha! — respondeu enfaticamente 0 Professor. “Ele continuaré a dobrar a quantia até morrer. Vocé sabe, sempre vale a pena esperar outro ano, para conseguir tanto dinheiro’ ”. Talvez nao seja por acaso que a raga que fez 0 maximo para trarer a0 coragao e a esséncia de nossas religides a promessa de imortalidade também tenha feito 0 méximo pelo principio do juro composto, aprecie particularmente esta instituigio humana, das mais significativas. Portanto, vejo-nos livres para voltar a alguns dos mais seguros ¢ garantidos principios da religifo e da virtude tradicional — de que & avareza é um vicio, a usura uma contravenc&o, 0 amor ao dinheiro algo detestdvel, e que aqueles que percorrem mais fielmente © caminho saudavel da virtude e da sabedoria sio os que menos pensam no amanha. Valorizaremos novamente os fins acima dos meios, ¢ preferi- remos 0 bem ao itil. Honraremos os que puderem nos ensinar & passat Virtuosamente ¢ bem a hora e o dia, as pessoas agradaveis capazes de ter um prazer direto nas coisas, os lirios do campo, que néo mourejam nem fiam, Mas, cuidado! Ainda no chegou a hora. Pois, pelo menos pot mais cem anos, precisamos fingir para n6s mesmos € para os outros qve © justo € mau e o mau é justo; pois o mau € util ¢ o juste, nao, Ainda 159 aousura por algum tempo, nossos deuses continuarao sendo a avarez €aprecaucio. Pois somente eles poderao conduzit-nos de dentro de fine! da necessidade econdmica para a luz. Portanto, estou 4 espera, em dias nado muito remotos, da maior mudanga que j4 ocorreu no Ambito material da vida, para os seres humanos no seu conjunto. Mas, naturalmente, isso ocorrera gradativa mente, € ndo como uma catastrofe. Na verdade, ja comegou a ocorrer 0 curso dos acontecimentos resultaré simplesmente na existéncia de classes cada vez maiores e de grupos de pessoas praticamente livres dos problemas da necessidade econdmica. A diferenga critica ocorrera quando esta condic¢ao tiver se tornado tao geral que se modificara a matureza do dever de cada um para com o seu préximo. Isto porque continuara sendo razodyel ter um objetivo econdmico significativo para 5 outros, quando ele ja nao for razodvel para nés mesmos. 0 ritmo em que poderemos atingir esse nosso destino de satisfagdo @condmica sera condicionado por quatro fatores — noss: de controlar a populacéo, nossa determinacio em evita Gissengdes civis, nossa disposicéo em confiar A ciéncia a diregiio dessas @iest6es, que constituem propriamente a preocupagio da ciéncia, e o Mimo de acumulagao, fixado pela margem entre a produgiio e o con- Simo; este wltimo facilmente zelar4 por si depois da ocorréncia dos trés be HEnquanto isso, nao haveré mal em fazer moderados preparativos Tosso destino, em encorajar e experimentar as artes da vida, bem atividades com um propésito. rincipalmente, nado nos permitamos superestimar a importin- econdémico, ou o sacrificio a suas supostas necessidades tées de maior ou menor significagéo permanente. Esse ser atribuido a especialistas — da mesma forma que a 0S economistas pudessem dar um jeito de serem ymo pessoas humildes e competentes, num mesmo nivel

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