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PN ; j : A Matematica do ' Ensino Médio Volume 1 Elon Lages Lima Paulo Cezar Pinto Carvalho Eduardo Wagner Augusto César Morgado COLEGAO DO PROFESSOR DE MATEMATICA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MATEMATICA A Matematica do Ensino Médio Volume 1 Sexta Edigao Elon Lages Lima Paulo Cezar Pinto Carvalho Eduardo Wagner Augusto Cesar Morgado Colegao do Professor de Matematica Sociedade Brasileira de Matemética, Rio de Janeiro Contetido Capitulo 1 - Conjuntos 1, Anogao de conjunto 1 2. A relagao de inclusio 3 3. O complementar de um conjunto 10 4. Reuniao e intersecao 14 5. Comentario sobre a nogiio de igualdade 17 6. Recomendagées gerais 18 Exercicios 20 Capitulo 2 - Nimeros Naturais 1. Introdugao 25 2. Comentario: definigdes, axiomas, etc. 26 3. O conjunto dos niimeros naturais 29 4, Destaque para o axioma da indugdo 32 5. Adigdo e Multiplicagao 33 6. Ordem entre os ntimeros naturais 34 Exercicios 36 Capitulo 3 - Numeros Cardinais 1. Fungées 38 2. A nocdo de mimero cardinal 42 3. Conjuntos finitos 45 4, Sobre conjuntos infinitos 47 Exercicios 49 Capitulo 4 - Nimeros Reais 1, Segmentos comensurdveis ¢ incomensuriveis 52 2. Aretareal 55 3. Expressées decimais 59 4, Desigualdades 67 5.Intervalos 70 6. Valor absoluto 72 7, Seqiiéncias ¢ Progressées 74 Exercicios 76 Capitulo 5 - Fungées Afins 0.0 produto cartesiano 78 1.0 plano numérico R? 82 2. Afangio afim 87 3. A fungdo linear 92 4, Caracterizagaio da fungao afim 98 5, Fungées poligonais 102 Exercicios 104 Capitulo 6 - Fungées Quadraticas 1. Definigdo e preliminares, 113 2. Um problema muito antigo 118 3. A forma canénica do trinémio 121 4. O grafico da fungao quadratica 124 5. Uma propriedade notavel da parabola 136 6. O movimento uniformemente variado 142 7. Caracterizagao das fungoes quadraticas 145 Exercicios 151 Capitulo 7 - Fungées Polinomiais 1, Fungies polinomiais vs. polinémios 160 2. Determinando um polinémio a partir de seus valores 163 3. Graficos de polindmios 165 Exercicios 169 Capitulo 8 - Fungdes Exponenciais e Logaritmicas 1. Introduggo 171 2, Poténcias de expoente racional 173 3. A fungao exponencial 178 4, Caracterizagao da fangao exponencial 183 5. FungGes exponenciais e progresses 185 6. Funcdo inversa 186 7. Fungées logaritmicas 190 8. Caracterizagao das fungées logaritmicas 194 9, Logaritmos naturais 191 10. A fungao exponencial de base ¢ 203 11. Como verificar que flc+h) /f(x) depende apenas deh 209 Exercicios 211 Capitulo 9 - Fungées Trigonométricas 1. Introdugdio 213 2. A fungdo de Euler e a medida de angulos 217 3. As fungées trigonométricas 224 4, As formulas de adigdo 228 5. A lei dos cossenos € a lei dos senos 233 Prefacio O programa de Matematica da primeira série do Ensino Médio tem como tema central as fungées reais de uma varidvel real, estudadas sob ponto de vista elementar, isto é, sem o uso do Célculo Infinitesimal. Como pre- liminar a esse estudo e preparagao para as séries subseqiientes, sao apre- sentadas nogées sobre conjuntos, a idéia geral de fungao e as diferentes categorias de numeros (naturais, inteiros, racionais e, principalmente, reais). O presente livro cobre esse programa. Ele contém a matéria lecio- nada no primeiro dos trés médulos do curso de aperfeigoamento para professores de Matematica, iniciado no segundo semestre de 1996, no IMPA, tendo como instrutores os professores A.C.O. Morgado, E. Wagner, Paulo Cézar Carvalho eo autor. A estes caros amigos e competentes cola- boradores devo uma revisio critica do manuscrito, a sugestdo de alguns exemplos interessantes e a inclusdio de numerosos exercicios. Por essa valiosa participagdo, registro meus agradecimentos O professor de Matematica, principalmente aquele que atua no cha- mado Segundo Grau, no escasso tempo que lhe resta da faina didria para preparar suas aulas, conta praticamente com uma tinica fonte de referéncia: 0 livro-texto que adota (ou os outros, que dele pouco diferem). Visando dar ao professor maior apoio bibliografico, a Sociedade Bra- sileira de Matematica, com a colaboragao do IMPA, vem publicando na sua “Coleco do Professor de Matematica” uma série de monografias, cada uma delas dedicada a um tépico especifico, principalmente a nivel do Ensino Médio. A presente publicagéo, que pretende ser o primeiro livro de uma trilogia, tem a mesma finalidade. 86 que agora, em vez de expor o programa de Matematica do segundo grau sob forma de temas isolados, estaremos dividindo os assuntos Por série. Em todo este livro, procuramos deixar claro que a Matematica ofe- rece uma variedade de conceitos abstratos que servem de modelos para situagdes concretas, permitindo assim analisar, prever e tirar conclusées onde uma abordagem empfrica muitas de forma eficaz em circunstancias mas aqui abordados sao apresen. vezes nao conduz a nada. Todos os te! tados dentro dessa dtica. Assim 6 que os conjuntos sao 0 modelo zagio do pensamento ldgico; os nimeros siio 0 mo de contagem e medida; as fungées afins, as quadrati as logaritmicas e as trigonométricas, cada uma dela: modelo matematico adequado para representar uma si ‘A fim de saber qual o tipo de fungao que deve ser empregado para resolver um determinado problema, é necessdério comparar as carac- teristicas desse problema com as propriedades tipicas da fungdo que se tem em mente. Este processo requer que se conhegam os teoremas de caracterizagao para cada tipo de fungaio. Sem tal conhecimento é im- possivel aplicar satisfatoriamente os conceitos e métodos matematicos para resolver os problemas coneretos que ocorrem, tanto no dia-a-dia matematico para a organi- delo para as operacoes icas, as exponenciais, s 6 estudada como o ituacéo especffica. como nas aplicagses da Matemética as outras ciéncias e a tecnologia. Varios desses teoremas de caracterizagio séo expostos aqui, de forma elementar. Acho que todos os professores devem conhecé-los e ensinar seus alunos a usd-los de forma consciente. Quanto as demons- tragdes desses teoremas, embora acessiveis, clas foram incluidas aqui para o entendimento dos professores. Nao considero essencial repassé- las aos estudantes, salvo em casos especiais, a critério de cada professor. O importante é ter em mente que as aplicagdes aqui sugeridas des- pertam o interesse, justificam o esforgo, exibem a eficiéncia e a utilidade dos métodos da Matematica mas, por outro lado, s6 podem ser levadas a bom termo se contarem com uma base conceitual adequada. __ Apublicagio deste livro contou com o apoio da FAPERJ, em convé- nio com a CAPES, com a valiosa e sempre presente colaboragdo do IMPA e com a proverbial expertise de Wilson Ges. Rio de Janeiro, 26 de novembro, 1996 Elon Lages Lima Prefacio 4 segunda edicéo Esta edigao difere da primeira apenas pela corregao de alguns erros tipogrdficos, por uma pequena modificagao no final do Capitulo 8, pela inclusao de dois novos exercicios no Capitulo 6 e pela eliminagao de uma asneira que escrevi e que o Gugu me apontou. Rio de Janeiro, julho, 1997 Elon Lages Lima Prefacio a terceira edicao Nesta edicao a segado 7 do Capitulo 6 foi re-escrita. Quero agradecer a Ar- tur Avila Cordeiro, por uma elegante sugestao ali incorporada. Agradeo também a Jonas Gomes pela imagem da pagina 146. Agradecimentos sao devidos também a Maria Laura Magalhaes Gomes por ter usado 0 texto num curso e ter feito uma cuidadosa reviséo do mesmo. Rio de Janeiro, dezembro, 1998 Elon Lages Lima Prefacio 4 quinta edigao Para esta edigao foram feitas algumas modificagdes de pequena monta, visando maior clareza e corre¢ao. Agradego aos diversos colegas que me apontaram os defeitos, em particular ao Prof. Antonio Paiva, que fez uma revisdo sistematica do texto. Rio de Janeiro, outubro, 2000 Elon Lages Lima Capitulo 1 Conjuntos 1. A Nogao de Conjunto Toda a Matematica atual é formulada na linguagem de conjun- tos. Portanto, a nogdo de conjunto é a mais fundamental: a partir dela, todos os conceitos matematicos podem ser expressos. Ela é também a mais simples das idéias matematicas. Um conjunto é formado por elementos. Dados um conjunto A e um objeto qualquer a (que pode até mesmo ser outro conjunto), a unica pergunta cabivel em relagao a eles é: a é ou nao um ele- mento do conjunto A? No caso afirmativo, diz-se que a pertence ao conjunto A e escreve-se a € A. Caso contrario, poe-se a ¢ Ae diz-se que a ndo pertence ao conjunto A. A Matematica se ocupa primordialmente de numeros e do espago. Portanto, os conjuntos mais freqiientemente encontrados na Matematica sao os conjuntos numéricos, as figuras geométricas (que sao conjuntos de pontos) e os conjuntos que se derivam destes, como os conjuntos de fungées, de matrizes etc. A linguagem dos conjuntos, hoje universalmente adotada na apresentagao da Matematica, ganhou esta posi¢ao porque permite dar aos conceitos e s proposigées desta ciéncia a preciso e a ge- neralidade que constituem sua caracteristica basica. Os conjuntos substituem as “propriedades” e as “condigées”. Assim, em vez de dizermos que “o objeto x goza da propriedade P” ou “o objeto y satisfaz a condigéo C”, podemos escrever x € Ae y € B, onde A é 0 conjunto dos objetos que gozam da propriedade 2 Conjuntos s objetos que satisfazem a condigao ¢. Pa propriedade de um numero intein por 2)eCa condi¢ao sobre 0 numerg ie Pe B éo conjunto dos Por exemplo, sejam ser par (isto é, divisivel expressa por ver y2—3yt2=0. Por outro lado, sejam Aa (.-4,-20,2,4,6,-.} © B={I2). tanto faz dizer que x goza da propriedade P e y satista 4 0 afirmar que x € Aey € B. a vantagem que se obtém quando se prefers de dizer que x goza da propriedade Entao, condigaéo C com Qual é, porém, dizer quex EAeye Bem vez Pey satisfaz a condigao C? ‘A vantagem de se utilizar a linguagem e a notagao de conjun. tos 6 que entre estes existe uma Algebra, montada sobre as ope. ragdes de reuniao (A UB) e intersegaéo (A 1B), além da relagao de inclusao (A C B). As propriedades e regras operatérias dessa Algebra, como por exemplo An(BUC)=(ANB)U(ANC) e ACAUB, sao extremamente faceis de manipular e representam um enorme ganho em simplicidade e exatidao quando comparadas ao manu- seio de propriedades e condigées. Recomendagoes: 1. Evite dizer “teoria dos conjuntos”. Essa teoria existe mas, neste nivel, estd-se apenas introduzindo a linguagem e a nota? dos conjuntos. Nao ha teoria alguma aqui. 2. Resista a tentago de usar a expressao “x satisfaza propriedade P”, Um objeto pode gozar de uma propriedade, posswir uma P?™ priedade, ou ter uma propriedade. Pode também satisfazer uma condi¢ao ou cumprir essa condigéo. Satisfazer uma propriedad® tao errado como gozar de uma condigéo. Propriedade ¢ sindnim? ral A lat SR TT ‘A Matematica do Ensino Médio, Volume 13 de atributo; condig&o é 0 mesmo que requisito. 3. Nunca escreva coisas como A = {conjunto dos naimeros pares}. Isto é incorreto. O simbolo {...} significa 0 conjunto cujos elemen- tos estdo descritos no interior das chaves. Escreva A = conjunto dos ntimero pares, A = {ntmeros pares} ou A = {2njn € Z}. inte: o conjunto va- @. Ele é aceito como conjunto porque ‘oposi¢des, evitando Existe um conjunto excepcional e intriga: zio, designado pelo simbolo issima fungao de simplificar as pr uma longa e tediosa mengao de excegdes. Qualquer propriedade contraditéria serve para definir 0 conjunto vazio. Por exemplo, tem-se 2 = {x:x # x}, 00 seja, 2 & 0 conjunto dos objetos x tais que x 6 diferente de si mesmo. Seja qual for o objeto x, tem-se sempre x ¢ @. Em muitas questées matematicas é importante saber que um determinado conjunto X nao é vazio. Para mostrar que Xnaoé vazio, deve-se simplesmente encontrar um objeto x tal que x € x. Outros conjuntos curiosos sao os conjuntos unitarios. Dado um objeto x qualquer, 0 conjunto unitario {x} tem como unico ele- mento esse objeto x. Estritamente falando, x e {x} nao sao a mesma coisa. Por exemplo, 9 # {@} pois {@} possui um elemento (tem-se 2 € {o}) mas © é vazio. Em certas ocasides, entretanto, pode tornar-se um pedantismo fazer essa distingdo. Nesses ca- sos, admite-se escrever x em vez de {x}. Um exemplo disso ocorre que a intersegao de duas retas re s 0 ponto P (em nto cujo tinico elemento é P) ¢ escreve-se T's = P, em vez derns = {P}. (Com experiéncia e bom senso, quem se ocupa de Matematica percebe que a obediéncia estrita aos rigidos padrées da notagao e do rigor, quando praticada ao pé da letra, pode ser um obstaculo a clareza, 4 elegdncia e ao entendimento dos alunos.) cumpre a utili quando se diz lugar do conju 2. A Relagao de Inclusao Sejam Ae B conjuntos. Se todo elemento de A for também ele- mento de B, diz-se que A é um subconjunto de B, que A esta con- 4) Conjuntos tido em B ou que A é parte de B. Para indicar este fato, Usage, notagao A C B. . an P . Exemplo: sejam T o conjunto dos triangulos e P o conjunty deg A relagao A c B chama-se relacdo de inclusdo. Quando A n;, é um subconjunto de B, escreve-se A ¢ B. Isto significa que non todo elemento de A pertence a B, ou seja, que existe pelo MeN up objeto atal que a € Aea ¢ B. Por exemplo, sejam A oconjunto ao, ntimeros pares e B 0 conjunto dos multiplos de 3. Tem-se Ags porque 2 € A mas 2 ¢ B. Tem-se também B ¢ A pois 3 € B mas 3A. ee Ha duas inclusées extremas. A primeira 6 ébvia: para todo conjunto A, vale A C A (pois é claro que todo elemento de A per. tence a A). A outra é, no minimo, curiosa: tem-se @ C A, seja qual for o conjunto A. Com efeito, se quiséssemos mostrar que 3 ¢ A, teriamos que obter um objeto x tal que x € @ mas x € A. Como x € @ é impossivel, somos levados a concluir que 3 CA, ou seja, que 0 conjunto vazio é subconjunto de qualquer outro. Diz-se que A é um subconjunto proprio de B quando se tem ACBcoomA¢BeAFB, Arelagao de inclusao goza de trés propriedades fundamentais, Dados quaisquer conjuntos A, B C tem-se: reflexividade: Ac AS anti-simetria: seA CBeB CAentéoA = B; transitividade: se A CBeBC Centio ACC. A propriedade anti-simétrica é constantemente usada nos ra- ciocinios matematicos, Quando se deseja Mostrar que os conjuntos A eB sao iguais, Prova-se queA C Be Bc A, ou seja, que todo elemento de A pertence a B e todo elemento de B pertence a A. Na realidade, a Ppropriedade anti-simétrica da relagao de inclusa contém, nela embutida, a condi¢ao de igualdade entre conjuntos: 0s conjuntos A e B sao iguais Se, € somente se, tém os mesmos elementos. ‘A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 5 , Por sua vez, a propriedade transitiva da inclusao 6 a base do raciocinio dedutivo, sob a forma que classicamente se chama de silogismo. Um exemplo de silogismo (tipicamente aristotélico) é 0 seguinte: todo ser humano é um animal, todo animal é mortal, logo todo ser humano é mortal. Na linguagem de conjuntos, isso seria formulado assim: sejam H, Ae M respectivamente os conjuntos dos seres humanos, dos animais e dos mortais. Temos H C Ae ACM, logoH CM. Recomendacées: 4. Se a é um elemento do conjunto A, a relagdo a € A pode também ser escrita sob a forma {a} C A. Mas é incorreto escrever acAe{ajeA. 5. Em Geometria, uma reta, um plano e o espago so conjuntos. Seus elementos séio pontos. Se r é uma reta contida no plano TI, escreve-se t C TI pois, neste caso, a reta r 6 um subconjunto do planoTT. Nao se deve escrever r € IT nem dizer que a retar pertence ao plano IT, pois os elementos do conjunto IT sao pontos e nfo retas. A relagdo de inclusao entre conjuntos esta estreitamente re- lacionada com a implicagao légica. Vejamos como. Sejam P e Q propriedades referentes a um elemento genérico de um conjunto U. Essas propriedades definem os conjuntos A, formado pelos ele- mentos de U que gozam de P, e B, conjunto formado pelos elemen- tos de U que tém a propriedade Q. Diz-se entao que a propriedade P implica (ou acarreta) a propriedade Q, e escreve-se P > Q, para significar que A CB. Por exemplo, seja U 0 conjunto dos quadrilateros convexos do plano. Designemos com P a propriedade de um quadrilate- ro ter seus quatro Angulos retos e por Q a propriedade de um quadrilatero ter seus lados opostos paralelos. Entao podemos es- crever P = Q. Com efeito, neste caso, A é 0 conjunto dos retangulos e B 60 conjunto dos paralelogramos, logo A C B. 6 Conjuntos Vejamos outro exemplo. Podemos escrever a implicaggo ex-1=0 = xv —2x+15 Ela significa que toda raiz da equacao x?-+x—1 = 06 também vay de 8 -2x+1=0. Ha diferentes maneiras de se ler a relagao P > Q. Pode-se dizer “P implica Q”, “se P ent&o Q”, “P é condigao suficiente para Q”, “Q é condigdo necessdria para P” ou “P somente se Q”, Assim, no primeiro exemplo acima, podemos dizer: “sey ro. tangulo implica ser paralelogramo”, “se x é um retAngulo entao x éum paralelogramo”, “ser retangulo é condigéo suficiente para ser paralelogramo’, “ser paralelogramo é condigéio necesséria para ser retangulo”, ou, finalmente, “todo reténgulo é um paralelogramo’, Aimplicagéo Q = P chama-se a reciproca de P > Q. Eviden- temente, a reciproca de uma implicagao verdadeira pode ser falsa, Nos dois exemplos dados acima, as reciprocas sao falsas: nem todo paralelogramo é retangulo ex = 1 6 raiz da equacao P-2k+1=0 mas nao da equacao we tx-1=0, Quando sao verdadeiras ambas as implicagées P > QeQ> P, escreve-se P <> Qe lé-se “P se, e somente se, Q”, “P é equivalente a Q” ou “P é necessaria e suficiente para Q”. Isto significa que? conjunto dos elementos que gozam da propriedade P coincide com ° conjunto dos elementos que gozam de Q. 1 Por exemplo, sejam P a Propriedade de um triangulo, cv ados medem x nao significa “entdo”, mas sim “implica”. Também 6 incorreto empregar 0 simbolo = com o significado conclusivo da palavra “portanto”. O simbolo adequado para esta palavra é endo =. 7. As definigdes matematicas consistem em atribuir nomes a obje- tos que gozam de certas propriedades particularmente interessan- tes. Elas contribuem para a clareza do discurso e a economia do pensamento. Por exemplo, um ntmero natural n > 1 chama-se primo quando 1 e n sao os tinicos némeros naturais que s4o seus divisores. Embora, estritamente falando, nao seja errado usar “se, e somente se,” numa definigao, trata-se de um costume didatica- mente inadequado pois da a impresséo de um teorema, além de ocultar o fato de que se trata de simplesmente dar um nome a um conceito. Por exemplo, se queremos definir paralelogramo deve- mos dizer assim: “chama-se paralelogramo a um quadrilatero no qual os lados opostos sdo paralelos”. Alguns autores escrevem: “um quadrilatero 6 um paralelogramo se, e somente se, os lados opostos sao paralelos”. Isto nao tem cara de definigao. Duas observagées adicionais a respeito de Pproposigées mate- miaticas: A primeira é que em Matematica nao ha afirmagées absolu- tas ou peremptérias. Todas as proposigdes matematicas sao do tipo “se P entéo Q”. (Esta afirmacdo peremptéria nao pertence a Matematica. Ela é apenas sobre Matematica.) Por exemplo, seja ita verdade absolute mas werent : t ma Me el, . ae ma afirmagao condicional: “Se a > b>c sao as medidas dos lados de um tridngulo retan- 8 Conjuntos fo a2 =b? +07.” as Br iso as vezes se diz que a Maveméticn 6 4 ciénoig dk ndigdes necessarias. Ou entao se diz como ertrand Us, Na Matematica nunca sabemos do que estamos falando Nem so, verdade o que estamos dizend oe ~ A segunda observagao diz respeito as afirmages We S80 yy, cuamente satisfeitas. Se um professor disser 4 Sua classe que tp, dos os alunos que tiverem 5 metros de altura passarao com Nota 1p sem precisar de prestar exames, ele certamente estar falando 4 verdade, mesmo que corrija suas provas com o maximo Tigor, Com efeito, sejam P a propriedade de um aluno ter 5 metros de altura e Qa de obter nota 10 sem prestar exames. Entao P 3 Q pois 0 conjunto definido pela propriedade P é vazio e 0 conjunto Vazio esta contido em qualquer outro. De um modo geral,a implicagio P = Q éverdadeira (vacuamente) sempre que nado haja elementos com a propriedade P. As vezes émais natural dizer que um objeto cumpre uma ceria condi¢do em lugar de afirmar que ele possui uma determinadapro. priedade. Por exemplo, uma equag¢&o como x? — x —2 = 0é mais apropriadamente vista como uma condiga&o a que deve satisfazer © numero x do que uma propriedade desse ntimero, (Estamos fa- lando de “mais ou menos conveniente”, no de “certo ou errado”) A propésito, a resolugao de uma equacao 6 um caso tfpico et que se tem uma seqiiéncia de implicagdes légicas. Vejamos. Para resolver a equaciio 2 x°-x-2=0 podemos seguir og Passos abaixo: (P) wu. ¥~K2= ; (Q) verse (x= Q)ix tT (R) wo. x*=2 ou x= -1 (S) wn. XE (2,1), Se eS impr, chamarmos respectivamente de P,Q, ReSas condigoe® Postas sobre o ntimero x em cada uma das linhas 20" A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 9 passos que acabamos de seguir significam que P>Q> RS, isto é, se o ntimero x satisfaz P entao satisfaz Q e assim por diante. Por transitividade, a conclusao a tirar 6 P => S, ou seja: 2 Se x*—x-—2=0 entéo xe {2,-1}. Estritamente falando, esta afirmagao nao significa que as rai- zes da equagao x?—x—2 = 0 séo 2e —1. O que esta dito acima é que se houver raizes desta equagao elas devem pertencer ao conjunto {2,-1}. Acontece, entretanto, que no presente caso, 0s passos acima podem ser revertidos. E facil ver que valem as implicagdes reciprocas S > R > Q = P, logo S = P. Portanto P © S, ou seja, 2. —1 so de fato as (anicas) raizes da equaciio x?-x-2=0. E importante, quando se resolve uma equaciio, ter em mente que cada passo do processo adotado representa uma implicagao légica. As vezes essa implicagaéo nao pode ser revertida (isto é, sua reciproca nao é verdadeira). Nesses casos, 0 conjunto obtido no final apenas contém (mas nao é igual a) o conjunto das raizes, este tiltimo podendo até mesmo ser vazio. Ilustremos esta possi- bilidade com um exemplo. Seja a equacao x*+1 = 0. Sabemos que ela nao possui solugées reais. Na seqiiéncia abaixo, cada uma das letras P, Q, Re S repre- senta a condigao sobre o numero x expressa na igualdade ao lado. Assim, P significa x? + 1 = 0, etc. (P) x2+1=0. (multiplicando por x? — 1) (Q) x4-1=0; (R) x4=1; (S) xe {-1, 1}. Evidentemente, tem-se P = Q = R = S, logo P = S, ou seja, toda raiz real da equagéo x’ +1 = 0 pertence ao conjunto {-1,1}. O %, 10 Conjuntos raciocinio é absolutamente correto, mas apenas ilustra 0 fato qe que o conjunto vazio esta contido em qualquer outro. A Conclusi que se pode tirar é que se houver raizes reais da equaco ey 1 = 0 elas pertenceréo a0 conjunto {—1, 1}. Nada mais. ° fato ¢ que a implicagao P= Qnao pode ser revertida: sua reciproca ¢ falsa. Este fenémeno ocorre freqiientemente quando se estudam as chamadas “equagoes jrracionais”, mas as vezes ele se manifesta de forma sutil, provocando perplexidade. (Veja Exercicio 6.) Observagao: Nao é raro que pessoas confundam “necessario” com “suficiente”. A.G.M. notou que os alunos tém mais facilidade de usar correta- mente esta tltima palavra do que a anterior, ja que “suficiente” é sinénimo de “bastante”. Talvez isso tenha a ver com 0 fato de que uma condigao suficiente é geralmente mais forte do que a conclusao aque se quer chegar. Por exemplo, para que um ntimero seja paré suficiente que seja multiplo de 4. (Ou basta ser miultiplo de 4 para ser par:) Por outro lado, uma condigao necesséria é, em geral, mais fraca do que a conclusao desejada. Assim, por exemplo, para que um quadrilatero convexo Q seja um retangulo é necessario que seus lados opostos sejam paralelos, mas esta propriedade apenas nao assegura que Q tenha seus angulos todos retos. Eclaro que um cdnjunto completo de condigdes necessarias para que seja valida uma propriedade P constitui uma condigao suficiente para P. 3. O Complementar de um Conjunto A nogéo de complementar de um conjunto sé faz pleno sentido quando se fixa um conjunto U, chamado 0 universo do discurso, 0U conjunto-universo. U poderia ser chamado o assunto da discussado o o tema em pauta: estaremos falando somente dos elementos de Uma vez fixado U, todos os elementos a serem considerados pertencerao a U e todos os conjuntos serao subconjuntos de U, ou A Matematica do Ensino Médio, Volume 111 derivados destes. Por exemplo: na Geometria Plana, U é 0 plano. Na teoria aritmética da divisibilidade, U é o conjunto dos nimeros inteiros. Entao, dado um conjunto A (isto é, um subconjunto de U), chama-se complementar de A ao conjunto A‘ formado pelos objetos de U que nao pertencem a A. Lembremos que, fixado o conjunto A, para cada elemento x em U, vale uma, e somente uma, das alternativas: x € A,oux¢A. O fato de que, para todo x € U, nao existe uma outra op¢ao além de x € A oux ¢ A é conhecido em Légica como 0 principio do terceiro excluido, e o fato de que as alternativas x € Aex ¢ A nao podem ser verdadeiras ao mesmo tempo chama-se o principio da ndo-contradigao. Seguem-se dos principios acima enunciados as seguintes re- gras operatérias referentes ao complementar: (1) Para todo conjunto A C U, tem-se (A‘)° = A. (Todo conjunto é 0 complementar do seu complementar,) (2) Se A C B entao B° c A‘. (Se um conjunto esta contido noutro, seu complementar contém esse outro.) A regra (2) pode ser escrita com a notagao =>, assumindo a forma seguinte AcB => BCA. Na realidade, na presenga da regra (1), a regra (2) pode ser reforgada, valendo a equivaléncia abaixo (3) ACBe BCA. Esta equivaléncia pode ser olhada sob 0 ponto de vista légico, usando-se as propriedades P e Q que definem respectivamente os conjuntos A e B. Entao o conjunto A é formado pelos elementos de U que gozam da propriedade P, enquanto que os elementos de B sao todos os que (pertencem a U e) gozam da propriedade Q. As pro- priedades que definem os conjuntos A‘ e B* s&o respectivamente a negagdo de P, representada por P’,e a negagdo de Q, represen- tada por Q’. Assim, dizer que um objeto x goza da propriedade P’ significa (por definigao) afirmar que x nao goza da propriedade P 12 Conjuntos ’), Com estas convengées, a Telagig (e analogamente, para Q } i: Jé assim: ne) P => Qse, e somente se, VP. Noutras palavras, a implicagao P = g (P implica Q) equiy, dizer que Q’ = P’ (a negacao deQ implica a negacao de Pp), Vejamos um exemplo. Sejam U 0 conjunto dos quadriliten, convexos, R a propriedade que tem um quadrilatero x de Ser Uy retangulo e P a propriedade de ser um paralelogramo. Entjo i é a propriedade que tem um quadrilatero convexo de nao sey un paralelogramo e R’ a de nao ser um retangulo. As implicagie, R= PeP’ => R’se léem, neste caso, assim: (a) Se x é um retangulo entao x é um paralelogramo; (b) Se xndo é um paralelogramo entao x nao é um retangulo, Evidentemente, as afirmagées (a) e (b) so equivalentes, 91 seja, elas sao apenas duas maneiras diferentes de dizer a mesma ales coisa. Aimplicagaéo Q’ = P’ chama-se a contrapositiva da implicagio P>Q. Sob o ponto de vista pragmatico, a contrapositiva de uma implicagao nada mais é do que a mesma implicagao dita com outras palavras, ou vista de um Angulo diferente. Assim, por exempl, a afirmagao de que todo ntimero primo maior do que 2 é impat? a afirmagao de que um numero par maior do que 2 nao é prim” dizem exatamente a mesma coisa, ou seja, exprimem a mest!" idéia, s6 que com diferentes termos. No dia-a-dia da Matematica é freqiiente, e muitas veu substituir uma implicagdo por sua contrapositiva, a fim de fe seu significado mais claro ou mais manejavel. Por isso é extrem mente importante entender que P = QeQ’ = P' sao afirm equivalentes. Pad A equivaléncia entre uma implicagéio e sua contrapositive “ae Serene por absurdo. exemplo, No plano TI, consideremos as retas perpendiculares *® es titi a $ bas A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 13 P a propriedade que tem uma reta x, nesse mesmo plano, de ser diferente de s e perpendicular a r. Por outro lado, seja Q a pro- priedade de uma reta x (ainda no plano IT) ser paralela a s. Entao P’, negagao de P, é a propriedade de uma reta em II coincidir com s ou nao ser perpendicular a r. A negacdo de Q é a propriedade Q’ que tem uma reta do plano TT de nao ser paralela a s. A implicagiio P > Q se 1é, em linguagem comum, assim: se duas retas distintas (s e x) séo perpendiculares a uma terceira (a saber, 1) entio elas (s e x) sao paralelas. Acontrapositiva Q’ = P’ significa: se duas retas distintas nao sao paralelas entao elas nao sao perpendiculares a uma terceira. (Nos dois paragrafos acima estamos tratando de retas do mes- mo plano.) Acontece que é mais facil (e mais natural) provar a implicagao Q’ = P! do que P + Q. Noutras palavras, prova-se que P = Q por absurdo. O raciocinio é bem simples: se as retas distintas s e x no sao paralelas elas tém um ponto A em comum. Entéo, como é tinica a perpendicular s & reta r pelo ponto A, segue-se que x nao 6 perpendicular a r. Figura 1 Observa9#™ retas S40 paralelas, em geral 50 usg « Para provar que dua do pois @ definigao de retas paralelas g le al =o por absur (Retas paralelas sao retas coplanar, be Ne praca e bane egagao- ma ; ae tos em comum. 7 . m pon . pao entdo US = eee. og que Ss uéo univer a W Recomendacao: — palmente nos raciocinios por absurdg) ; Ticagdio P => Q- E precise ter cuidada 4. ao de “todo homem é mortal” nao é “nen) faerie as “existe (pelo menos) um homem ‘tog Mais geralmente, negar que P =? Q sizniiiee admitir que existe (pelo menos) um objeto que tem a propriedade P mas nao tem 4 propriedade Q. Isto ébem diferente de admitir que nenhum objet, com a propriedade P tem também a propriedade Q. Por exemply sePéa propriedade que tem um tridngulo de ser isésceles ¢ 9 a propriedade de ser equilatero, @ implicagao P = Q significaria que todo triangulo isésceles é equilatero (o que é falso). A negacay deP>Qéa afirmagado de que existe (pelo menos) um triangulp isésceles ndo-equilatero. Neste contexto, convém fazer uma disting&o cuidadosa en. tre a idéia matematica de negagdo e a nogao (ndo-matematica) de contrario, ou oposto. Se um conceito é expresso por uma palavra, 0 conceito contrario é expresso pelo anténimo daquela palavra. Por exemplo, 0 contrario de gigantesco éminusculo, mas a negagao de gigantesco inclui outras gradagoes de tamanho além de mintsculo, 3. Muitas yezes (prince! necessario negar uma imp 4, Reuniao e Intersegao Dados os conjuntos A e B, a reunid@o AUB é0 conjunto formado pelos elementos de A mais os elementos de B, enquanto que a intersegdo ANB é 0 conjunto dos objetos que so ao mesmo tempo ss H a fa ‘A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 15 elementos de A e de B. Portanto, se consideramos as afirmagées xEA, xeB, veremos que x € AUB quando pelo menos uma dessas afirmagées for verdadeira e, por outro lado, x € AMB quando ambas as afirmagies acima forem verdadeiras. Mais concisamente: x€AUB significa “xe A ouxeB”; x€ANB significa “xe AexeB”. Nota-se, deste modo, que as operacdes A UB e ANB entre conjuntos constituem a contrapartida matematica dos conectivos légicos “ou” e “e”. Assim, quando o conjunto A é formado pelos elementos que gozam da propriedade P e B pelos que gozam da propriedade Q entao a propriedade que define 0 conjunto AUB é “P ou Q” e o conjunto AM B é definido pela propriedade “P e Q”. Por exemplo, convencionemos dizer que um numero x goza da propriedade P quando valer a igualdade x?—3x+2=0. Digamos ainda que x tem a propriedade Q quando for x? 5x+6=0. O conjunto dos nimeros que possuem a propriedade P 6 A = {1,2} e o conjunto dos ntimeros que gozam de Q é B = (2, 3}. Assim, a afirmagao “x? —3x+2=0 ou x?-5x46=0" equivale a “x € {1,2,3},” e a afirmacado ‘7 —3x4+2=0 e x -5x46=0" 16 Conjuntos » equivale a jE (2} ou x= 2. Noutras palavras, AUB=(1,2,3) e ANB = {2}. ue a palavra “ou” em Matematicg t m tanto diferente daquele que The | No dia-a-dia, “ou” quase sey, iveis (‘vamos de énibug ou importante ressaltar q' tem um significado especifico u é atribuido na linguagem eae i Iternativas incom, de on oo al ee Matematica, a afirmagaio P ou Q” significa que pelo menos uma das alternativas P ou Q é valida, podendo per. feitamente ocorrer que ambas sejam. Por exemplo, é correta a afirmagao “todo numero inteiro é maior do que 10 ou menor gy que 20”. Noutras palavras, se A={x €Z;x > 10} B= {x €Z;x < 20} entéo AUB =Z. A diferenca entre 0 uso comum e 0 uso matematico do conec- tivo “ou” é ilustrada pela anedota do obstetra que também era matematico. Ao sair da sala onde acabara de realizar um parto, foi abordado pelo pai da crianga, que lhe perguntou: “Foi menino ou menina, doutor?”. Resposta do médico: “Sim.” (Com efeito, se A 6 0 conjunto das meninas, B 0 conjunto dos meninos e x ° recém-nascido, certamente tem-se x € AUB.) As operagées de reunidao e interseceaio so obviamente comu- tativas AUB=BUA e ANB=BNA, e associativas (AUB)UC=AU(BUC) (ANB)NC=An(BNC). ‘A Matematica do Ensino Médio, Volume 1.17 Além disso, cada uma delas é distributiva em relagdo a outra: AN(BUC) =(ANB)U(ANC) AU(BNC) =(AUB)N(AUC). Estas igualdades, que podem ser verificadas mediante a conside- ragao dos casos possiveis, constituem, na realidade, regras que regem 0 uso combinado dos conectivos légicos “ou” e “e”. A conexao entre as operagdes U, Nea relacdo de inclusdo c édada pelas seguintes equivaléncias: AUB=B © ACB & ANBE=A. Além disso Ac B = AUC C BUCe ANC C BNC para todo C. E, finalmente, se A ¢ B sdo subconjuntos do universo U, tem- se: (AUB)°=ASNBS e (ANB)°=ACUBS. Estas relagées, atribuidas ao matematico inglés Augustus de Mor- gan, significam que a negagéo de “P ou Q” é “nem P nem Q” ea negagao de “P e Q” é “nao P ou nao Q”. 5. Comentario Sobre a Nogao de Igualdade Uma coisa sé é igual a si prépria. Quando se escreve a = b, isto significa que ae b sao simbolos usados para designar 0 mesmo objeto. Por exemplo, se a 6 a reta perpendicular ao segmento AB, levantada a partir do seu ponto médio e b 6 o conjunto dos pontos do plano que sdo equidistantes de A e B entao a = b. Em Geometria, as vezes ainda se usam expressdes como “os Angulos « e B sao iguais” ou “os triangulos ABC e A'B‘C’ sdo iguais” para significar que sao figuras que podem ser superpostas exatamente uma sobre a outra. A rigor, porém, esta terminolo- gia é inadequada. Duas figuras geométricas que coincidem por superposigao devem ser chamadas congruentes, Eee a set 48 Conjuntos ‘Palvez valha a pena observar oe a palavra “igual” em metria j4 foi usada num sentido até bem me ample, Bat “ que viveu ha 2300 anos, chamava iguais a segmentos qe iy com 0 mesmo comprimento, @ dois poligonos com a mesma ack a dois sdlidos com 0 mesmo volume. ; : Na linguagem corrente, as vezes 8° diz que duas Pessoag objetos sdo iguais quando um certo atributo, ao qual se Tefen discurso naquele momento, é possufdo igualmente pelas ie 4 ou objetos em questao. Assim, por exemplo, quando dizemog = “todos sao iguais perante a lei”, isto significa que dois cidagt® quaisquer tém 0s mesmos direitos € deveres legais. 0g, A relagdo “a é igual @ b”, que se escreve a = b, goza ie seguintes propriedades: Reflexividade: a= 4; Simetria: se a =b entéo b = a} Transitividade: sea=beb=centaoa=c. Diante da simetria, a transitividade também se exprime as, a=c. Em palavras: dois objetos (a sao iguais entre si. Formulada deste phen nani sim: se a = bec = b entao ec) iguais a um tereeiro (b) modo, esta propriedade era uma das nogdes comuns (ou axiomas) que Euclides enunciou nas primeiras paginas do seu famoso livry “Os Elementos”. | 6. Recomendagées Gerais i A adogiio da linguagem e da notagiio de conjuntos em Matematica s6 se tornou uma pratica universal a partir da terceira ou quarta década do século vinte. Esse uso, responsavel pelos elevados graus de precisdo, generalidade e clareza nos enunciados, raciocinios e definigdes, provocou uma grande revolugdo nos métodos, no al- cance e na profundidade dos resultados matematicos. No final do século 19, muitos matemAticos ilustres viam com séria desconfian- ga as novas idéias langadas nos trabalhos pioneiros de G. Cantor. Mas, lenta e seguramente, esse ponto de vista se impés e, no dizer A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 19 de D. Hilbert, com sua extraordindria autoridade, “ninguém nos expulsara desse paraiso que Cantor nos doou”. Portanto, se queremos iniciar os jovens em Matematica, éne- cessario que os familiarizemos com os rudimentos da linguagem e da notagao dos conjuntos. Isto, inclusive, vai facilitar nosso proprio trabalho, pois a precisao dos conceitos é uma ajuda indispensdvel para a clareza das idéias. Mas, na sala de aula, h4 alguns cui- dados a tomar. O principal deles refere-se ao comedimento, ao equilibrio, A moderagao. Isto consiste em evitar 0 pedantismo € 0s exageros que conduziram ao descrédito da onda de “Matematica Moderna”. Nao convém insistir em questées do tipo {2} # {(2}} ow mesmo naquele exemplo 2 # {2} dado acima. Procure, sempre que possivel, ilustrar seus conceitos com e- xemplos de conjuntos dentro da Matematica. Além de contribuir para implantar a linguagem de conjuntos, este procedimento pode também ajudar a relembrar, ou até mesmo aprender, fatos inte- ressantes sobre Geometria, Aritmética, etc. Seja cuidadoso, a fim de evitar cometer erros. A auto-critica é o maior aliado do bom professor. Em cada aula, trate a si mesmo como um aluno cujo trabalho esta sendo examinado. Pense antes no que vai dizer mas critique-se também depois: sera que falei bo- bagem? Se achar que falou, nao hesite em corrigir-se em publico. Longe de desprestigiar, esse habito fortalecera a confianga dos alu- nos no seu mestre. Esteja atento também a corregao gramatical. Linguagem cor- reta é essencial para a limpidez do raciocinio. Muitos dos nossos colegas professores de Matematica, até mesmo autores de livros, sao um tanto descuidados a esse respeito. Dizem, por exemplo que “a reta Tr intercepta 0 plano « no ponto P”, quando deveriam dizer intersecta (ou interseta) j4 que o ponto P é a intersegao (ou intersec¢4o) mas nao a interceptacao de r com a. Eis aqui outros erros comuns de linguagem que devem ser evitados: “Maior ou igual a”. O correto é: “maior do que ou igual a”. ne 20 conjuntos »e veja como soa mal.) ra equal ou MAIOF ™ clidiano- Tente dizer ig to 6 “eve P : ¢ Q corre! » (vamos assummir QUE aS reta, : sre i Tr apuclidean? * éeypor” “0 7 de “SUP ad. _ «assumir 0 a gcorreto em inglés mas nao em portugy® * : alelas)- oie, Gee “eompleteza”. (Belo + bele 8, ; iga “complen preza; com jeto + completeza) Nao obre 7 » Bspago & tempo S40 conogiy, 0 ' ntes. Nao se deve misturé.j, 8, edades referentes a elementy u, Suponha que P; @ Pz esgotam tod, 1s um elemento qualquer de U ou tetas ), Suponha ainda que Qi e Q2 séo incon mutuamente). Suponha, finalment, js e valem as reciprocas: Q; = ®, Exercicios 4. Sejam Pi, de um. conjunto- 0 os casos possiveis (ou sejay ade P; ou tem P2 isto 6, excluem-Se Prove qu Pp, Qu Q2 propril universo propried: pativeis ( que Pi = QieP2= Q2- eQ2 => Pa- xxercicio anterior 0 seguinte fat } 0 ! 2, Enquadre no contexto do obliquas que sé afastam igualmente do pé da geométrico: Duas perpendicular sdo ig desiguais ea maior é a ais, Se se afastam desigualmente entdo séo que mais se afasta. 3. Sejam X1 X2, Vi V2 subconjuntos do conjunto-universo U. Su- ponha que X; UX =Ue ViNY2= Prove que X; =Yi eX2=Y2. @, que X; C Ye que Xz, Cp. 4, Compare o exercicio anterior com o primeiro em termos d clareza e simplicidade dos enunciados. Mostre que qualquer ui ‘ 4 deles pode ser resolyido usando 0 outro. Estabelega resultados ; andlogos com n propriedades ou n subconjuntos em vez de 2. Ve al no livro “Coordenadas no Espago”, (Colegao do Professor de M te 7 matica, S.B.M.) pag. 83 uma utilizagao deste fato com n = 8. ue 5, Ainda no imei tema do primeiro exercicio, seria valido substituir ‘A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 21 as implicagdes P; = Q; e P) > Q2 na hipétese por suas reciprocas Qi = Pie Q2 => P2? 6. Escreva as implicagées légicas que correspondem a resolugao da equagéo Vx +2 = x, veja quais sao reversiveis e explique 0 aparecimento de raizes estranhas, Facga o mesmo com a equa¢gao vxt+3=x. 7. Mostre que, para todo m > 0, a equacdo /x +m = x tem exatamente uma raiz. 8. Considere as seguintes (aparentes) equivaléncias légicas: x=1 6 x*-2x4+1=0 ® -2-141=0 # x7-1=0 © x=41. Concluséo (2): x=1 x=+1. Onde estdo erro? 9. As rafzes do polinémio x3—6x2+11x—6 sao 1,263, Substitua, nesse polindmio, o termo 11x por 11 x 2 = 22, obtendo entao x3 — 6x? + 16, que ainda tem 2 como raiz mas nao se anula para x = 1 nem x = 3. Enuncie um resultado geral que explique este fato eo relacione com 0 exercfcio anterior. 10. Expressées tais como “para todo” e “qualquer que seja” so chamadas de quantificadores e aparecem em sentengas dog tipos: (1) “Para todo x, é satisfeita a condigao P(x)” (2) “Existe algum x que satisfaz a condicao P(x)”, onde P(x) é uma condigao envolvendo a variavel x. a) Sendo A 0 conjunto de todos os universo U) que satisfazem acon (1) e (2) acima, usando a linguag b) Quais sao as negagdes de (1) negacdes usando conj em a). objetos x (de um certo conjunto- dicdo P(x), escreva as Sentencas em de conjuntos, © (2)? Escreva cada uma destas in Juntos e compare com as Sentengas obtidas rrr 2 Conjuntos ca abatx a senten' dE * adeira oy fals, jas dade c¢) Para cad forme sua negacae: / « Existe um numero real ¥ tal que * Para todo num pi! existe um numero ne . e Para todo numero Fe al x eX) natural tal 4 Ui n>* eo Existe um numero natural 1 tal que, para todo nuimerg ES rea x, tem-se 1? M1. Considere 08 conjuntos abaixt F = conjunto de todos 0S filésofos M = conjunto de todos 0S matemiaticos C =conjunto de todos 08 cientistas p = conjunto de todos os professores a) Exprima cada uma das afirmativas abaixo usando a linguag em de conjuntos: 1) Todos 08 matematicos sa0 cientistas. 2: Alguns matematicos sao professores. he 3) Alguns cientistas sao fildsofos. | 4; Todos 0s filésofos sao cientistas 0u professores. | 5) Nem todo professor é cientista. pb) Faga o mesmo com as afirmativas abaixo: 6) Alguns matematicos sa0 fildsofos. 7) Nem todo fildsofo € cientista. 8) Alguns fildsofos sa0 professores. 9) Se um filésofo nao é matematico, ele é professor. 10) Alguns filésofos sao matematicos. c) Tomando as cinco primeiras afirmativas como hipoteses, verifi- que quais das afirmativas do segundo grupo sao necessariamente verdadeiras. So A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 23 12. Oartigo 34 da Constituigao Brasileira de 1988 dizo seguinte: “A Uniao nao intervira nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: I. Manter a integridade nacional; II. Repelir invasao estrangeira ou de unidade da Federagao em outra” Ul. ....; a) Suponhamos que 0 estado do Rio de Janeiro seja invadido por tropas do estado de Sao Paulo. O texto acima obriga a Unido a intervir no estado? Na sua opiniao, qual era a intengao dos legisladores nesse caso? b) Reescreva o texto do artigo 34 de modo a torné-lo mais preciso. 13. Prove quex?+x—-1=0 => x?—2x+1=0. 14. Prove que, para x, y, k inteiros, tem-se x + 4y = 13k ==> 4x +3y = 13(4k —y). Conclua que 4x + 3y e x + 4y sao divisiveis por 13 para os mesmos valores inteiros de x e y. 15. O diagrama de Venn para os conjuntos X, Y, Z decompoe 0 plano em oito regides. Numere essas regides e exprima cada um dos conjuntos abaixo como reuniao de algumas dessas regides. (Por exemplo: XN Y = 1U2.) a) (XSUY) b) (XSUY) UZ ©) (XEAY)U(XAZ); — a) (KUYJENZ 16. Exprimindo cada membro como reuniao de regides numera- das, prove as igualdades: a) (XUY)NZ=(XNZ)U(YNZ); b) XU(YNZ)§=XUYUZ. 17. Sejam A, B e C conjuntos. Determine uma condigdo ne- cessdria e suficiente para que se tenha AU (BNC) =(AUB)NC. 18. A diferenga entre conjuntos é definida por A— B = {x |x € Aex ¢ B}. Determine uma condi¢ao necesséria e suficiente para que se tenha A —(B—C) = (A—B)-C. 24 conjuntos uadrado perfeito 6 par enta, © , Prove que 5° wu quadrada épare que 8° um quadrado perfeito é § da é jmpat- impar g, Ma Tig A R raiz quadre a de Cantor: se A 6 um coi njunt ito @ o teorem: de A, nao existe uma fungi f. tA 4 Pia! 20. Prove rtes conjunto das pa seja sobrejetiva. Sugestao: Suponha que exista uma tal fi funga ea: xe toh a0 fe consi DSidere & We Capitulo 2 Numeros Naturais “Deus criou os nimeros naturais. O resto é obra dos homens.” Leopold Kronecker 1. Introdugao Enquanto os conjuntos constituem w so um dos dois objetos principais de que se ocupa a Matematica. (O outro 6 0 espago, junto com as figuras geométricas nele conti- das.) Niimeros sao entes abstratos, desenvolvidos pelo homem como ‘tem contar e medir, portanto avaliar as diferen- 1m meio auxiliar, os nimeros modelos que permit tes quantidades de uma grandeza. Os compéndios tradicionais dizem o seguinte: “Numero 6 0 resultado da comparagao entre uma grandeza e a unidade. Sea grandeza é discreta, essa comparacao chama-se uma contagem e 0 resultado é um nimero inteiro; se a grandeza é continua, a comparagao chama-se uma medicdo e 0 resultado é um numero real.” Nos padrées atuais de rigor matematico, o trecho acima nao pode ser considerado como uma definigao matematica, pois faz uso de idéias (como grandeza, unidade, discreta, continua) e processos (como comparagao) de significado nao estabelecido. Entretanto, todas as palavras que nela aparecem possuem um sentido bastante claro na linguagem do dia-a-dia. Por isso, embora nao sirva para demonstrar teoremas a partir dela, a definigdo tradicional tem o grande mérito de nos revelar para que servem e por qual motivo foram inventados os nuimeros. Isto é muito mais do que se pode vais 26 Nameros Natu! mos no nosso diciondrig dizer sobre a definicao aue enon produits a sega Majg conhecido e fest on amert } Sm. L Mat 9 con} & Néniero. equivalentes @ um conjun os a _ bana tare ste ponto logo mais, quan mos de ng, Discutiremos N 9 momento, parece oportuno fazer uma be meros cardinais. nenvag0. quena pausa para uma 2, Comentario: Definicées, Axiomas, ete. . ‘tulo 1, uma definig&o matematicg ¢ i os no Cap’ Conforme dissem e usar um nome, ou UMA Sentene, a sist uma convengéo que consis siete eat ng breve, para designar um objeto ou uma propri ,cuja descriggg normaimente exigiria 0 emprego de uma sentenga mais longa, Vo. jamos algumas definig6es, como exemplo: Angulo 6 a figura formada por duas semi-retas que tém mesma origem. Primos entre si sao dois ou mais nimeros naturais cujo tnicg divisor comum é a unidade. Mas nem sempre foi assim. Euclides, por exemplo, comega os “Blementos” com uma série de definigoes, das quais selecionamos as seguintes: Linha 6 um comprimento sem largura. Superficie 6 0 que possui comprimento e largura somente. * Quando uma reta corta outra formando Angulos adjacentes iguais, cada um desses Angulos chama-se reto e as retas se dizem perpendiculares. As definigdes de Angulo e de nimeros primos entre si, dadas acima, bem como as definigdes de Angulo reto e retas perpendicu- lares dadas por Euclides, sao corretas. Elas atendem aos padrées atuais de precisao e objetividade. Por outro lado, nas definigées de linha e superficie, Euclides visa apenas oferecer ao seu leitor uma imagem intuitiva desses conceitos, Elas podem servir para (re A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 27 ilustrar 0 pensamento geométrico mas no sao utilizdveis nos ra- ciocinios matematicos porque sao formuladas em termos vagos € imprecisos. Na apresentagao de uma teoria matematica, toda defini¢ao faz uso de termos especificos, os quais foram definidos usando outros termos, e assim sucessivamente. Este processo iterativo leva a trés possibilidades: a) Continua indefinidamente, cada definigio dependendo de ou- tras anteriores, sem nunca chegar ao fim. b) Conduz a uma circularidade, como nos dicionarios. (Onde se vé, por exemplo: compreender ~7 perceber, perceber — enten- der e entender — compreender.) c) Termina numa palavra, ou num conjunto de palavras (de pre- feréncia dotadas de conotagées intuitivas simples) que nao sfio definidas, isto é, que sao tomadas como representativas de conceitos primitivos. Exemplos: ponto, reta, conjunto. Evidentemente, as alternativas a) e b) acima citadas nao con- vém & Matematica. A alternativa c) é a adotada. Se prestarmos atengao, veremos que foi assim que aprendemos a falar. Nume- rosas palavras nos foram apresentadas sem definigdio e permane- cem até hoje em nosso vocabulrio como conceitos primitivos, que aprendemos a usar por imitagdo e experiéncia. Para poder empregar 0s conceitos primitivos adequadamente, é necessario dispor de um conjunto de princfpios ou regras que disciplinem sua utilizagao e estabelecam suas propriedades. Tais principios sao chamados axiomas ou postulados. Assim como os conceitos primitivos sao objetos que nao se definem, os axiomas sAo proposigdes que nao se demonstram. Uma vez feita a lista dos conceitos primitivos e enunciados os axiomas de uma teoria matemitica, todas as demais nogdes devem ser definidas e as afirmagoes seguintes devem ser demonstradas. Nisto consiste 0 chamado método axiomdtico. As proposicdes a serem demonstradas chamam-se teoremas e suas conseqtiéncias NN -smammemmecnene terme . 28 Numeros Naturals tt, lenominadas corolérios. Uma proposigao aut de um teorema, é6chamada um lema ay Ser um axioma ou ser um teorema no é uma caracterigy, Dependendo da preferéng intrii igo. intrinseca de uma proposi¢? ‘ cia g A ia, uma determi le quem organiza a apresentacao da teoria, nada pro sigdo pode ser adotada como axioma 0U entao provada como te, rema, a partir de outra proposigao que @ substituiu na lista dog axiomas. Na segdo seguinte, eA dos numeros naturais, onde os conceitos primitivos so “ntime,, | . i ao os de Peano. | natural” e “sucessor” e os axiomas sao 08 . Do ponte de vista do ensino @ nivel do segundo grau, nao tom | imediatas sao 4 usada na demonstragae yeremos um resumo da teoria matemst,, a cabimento expor a Matematica sob forma axiomatica. Mas é pe cessario que o professor saiba que ela pode ser organizada sob g forma acima delineada. Uma linha de equilibrio a ser seguida na sala de aula deve basear-se nos seguil 1. Nunca dar explicagoes falsas sob o pretexto de que os aly. nos ainda nao tém maturidade para entender a verdade. (Istg seria como dizer a uma crianga que os bebés sAo trazidos pela ce. gonha.) Exemplo: “Gnfinito é um numero muito grande”. Para outro exemplo, vide RPM 29, pags. 13-19. 2, Nao insistir em detalhes formais para justificar afirma. m de verdadeiras, sdo intuitivamente Obvias e aceij- discussdo nem dtvidas. Exemplo: 0 segmento terior a um ponto exterior de uma ntes preceitos: ges que, alé tas por todos sem de reta que une um ponto in circunferéncia tem exatamente um ponto em comum com essa cir- cunferéncia. Em contraposi¢ao, fatos importantes cuja veracidade nao é evidente, como o Teorema de Pitagoras ou a Formula de Euler para poliedros convexos, devem ser demonstrados (até mesmo de varias formas diferentes). Excetuam-se, naturalmente, demonstragoes longas, elabora- das ou que fagam uso de nogoes e resultados acima do alcance dos estudantes desse nivel (como o Teorema Fundamental da Algebra, "7 A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 29 por exemplo). Provar o ébvio transmite a falsa impressdo de que a Matema- tica € inutil. Por outro lado, usar argumentos elegantes e convin- centes para demonstrar resultados inesperados 6 uma maneira de exibir sua forga e sua beleza. As demonstragées, quando objetivas e bem apresentadas, contribuem para desenvolver o raciocinio, 0 espirito critico, a maturidade e ajudam a entender o encadeamento légico das proposigées matematicas. 3. Ter sempre em mente que, embora a Matematica possa ser cultivada por si mesma, como um todo coerente, de elevado padrdo intelectual, formado por conceitos e proposigdes de natu- reza abstrata, sua presenga no curriculo escolar nao se deve ape- nas ao valor dos seus métodos para a formagdo mental dos jévens. Aimportancia social da Matematica provém de que ela fornece modelos para analisar situagdes da vida real. Assim, por exem- plos, conjuntos séo 0 modelo para disciplinar o raciocinio légico, ntimeros naturais so o modelo para contagem e numeros reais sao 0 modelo para medida; fungées afins servem de modelo para situagdes, como o movimento uniforme, em que os acréscimos da fung&o sdo proporcionais aos acréscimos da variavel independente. E assim por diante. ‘Todos os tépicos deste livro sao abordados sob o seguinte lema: a Matematica fornece modelos abstratos para serem uti izadosem situagdes concretas, do dia-a-dia e das Ciéncias. Para poder em- pregar estes modelos é necessario verificar, em cada caso, que as hipsteses que lhe servem de base sao satisfeitas. 3. O Conjunto dos Numeros Naturais Lentamente, 4 medida em que se civilizava, a humanidade apode- rou-se desse modelo abstrato de contagem (um, dois, trés, quatro, ..) que séo os niimeros naturais. Foi uma evolugdo demorada. As tribos mais rudimentares contam apenas um, dois, muitos. A lingua inglesa ainda guarda um resquicio desse estagio na palavra thrice, que tanto pode significar “trés vezes” como “muito” ou “ex- 30 Numeros Naturals: tremamente “jdades provocadas por um sistema social a As neces' ¢ as longas yeflexdes, possivels sragas & diss Yep so econdmico, condy: On, Jo progres: mento do extraordingrig ; ay d jue 60 conjunto dos nuimeros naturajg mento de av ‘tog milénios, podemos hoje descrever coin Cig, Re Deco: ; into N dos numeros naturais, valen, do-n nace ttali 3 0: co italiano Giuseppe Peans a © ng is complexe i mais comp fi trazida pelo ao aperfeigot recisal otavel sin i Jo matemau limiar do século 20. _ ntos sao chamad | ne 08 nuimeroy Néum conjunto, cujos ele n i turais. Aesséncia da caracteriza¢ae de Nresidena palavra ee sor”. Intuitivamente, quando 7,7 éN, dizer que n’ é0 he fi de n significa que nv vem logo depois de n, no havendo oy, nimeros naturais entre ne W- Evidentemente, esta explicag’ apenas substitui “gucessor” por “logo depois”, portanto —_ ‘gig definigéo. O termo primitivo “sucessor” nao é definido explicit mente. Seu uso e suas propriedades sa0 yregidos por algumas xo enumeradas: o natural tem um nico sucessor; ferentes tém sucessores diferentes gras, abai: a) Todo numer b) Numeros naturais dil ural, chamado wm e representad, lo ¢) Existe um tinico numero nati cessor de nenhum outro; pelo simbolo 1, que nao é su d) Seja X um conjunto de niimeros naturais (isto 6, X CN). Se 1 € Xese, além disso, 0 sucessor de todo elemento de X aud pertence a X, entéo X =N. As afirmacées a), b), c) & d) acima sao conhecidas como os axiomas de Peano. Tudo 0 que se sabe sobre os ntimeros naturais pode ser demonstrado como conseqtiéncia desses axiomas. Um engenhoso processo, chamado sistema de numeragdo deci- reel permite representar todos os numeros naturais com o auxilio los simbol é i imei dos jos 0, 4, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8e 9. Além disso, os primeiros timeros naturais tém nomes: 0 sucessor do numero um chame- é f f f b ——~s A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 31 se “dois”, 0 sucessor de dois chama-se “trés”, etc. A partir de um certo ponto, esses nomes tornam-se muito complicados, sendo pre- ferivel abrir mao deles e designar os grandes ntimeros por sua representagao decimal. (Na realidade, os ntimeros muito grandes nao possuem nomes. Por exemplo, como se chamaria 0 ntimero 1910009), Deve ficar claro que o conjunto N = {1,2,3,...} dos ntimeros naturais é uma seqiiéncia de objetos abstratos que, em principio, so vazios de significado. Cada um desses objetos (um numero natural) possui apenas um lugar determinado nesta seqiiéncia. Nenhuma outra propriedade lhe serve de definigaéo. Todo nimero tem um sucessor (tinico) e, com excegao de 1, tem também um unico antecessor (ntimero do qual é sucessor). Vistos desta maneira, podemos dizer que os nimeros naturais sAo ntimeros ordinais: 1 é o primeiro, 2 é o segundo, etc. Um Pequeno Comentario Gramatical Quando dizemos “o ntimero um”, “o ntimero dois” ou “o nimero trés”, as palavras “um”, “dois” e “trés” so substantivos, pois sao nomes de objetos. Isto contrasta com o uso destas palavras em frases como “um ano, dois meses e trés dias”, onde elas aparecem para dar a idéia de numero cardinal, isto 6, como resultados de contagens. Nesta frase, “um”, “dois” e “trés” nao sao substantivos. Pertencem a uma categoria gramatical que, noutras linguas (como francés, inglés e alemao, por exemplo) é chamada adjetivo nume- ral e que os gramaticos brasileiros e portugueses, ha um par de décadas, resolveram chamar de numeral apenas. Este comentario visa salientar a diferenga entre os nuimeros naturais, olhados como elementos do conjunto N, e o seu emprego como nimeros cardinais. Este segundo aspecto sera abordado no capitulo seguinte, Recomendagao 1, Nao se deve dar muita importancia a eterna questiio de saber se 32. Nameros Naturais cluido entre 0S niimeros naturajg de Matematica”, pag. 150.) Praticam, ente 4, id tica usados nas escolas brasileiras Cbhe, 03 og ero natural (conseqtientemente ca re Como se viu acima, nao adotame, © s—, evidentemente, de uma questig an aq tue o simbolo 0 (sob diferentes f Dre, gréficas) foi empregado jnicialmente pelos maias, Posterior, a5 pelos hindus, difundido pelos arabes @ adotado no ocidente ene im como um algarismo, Com 0 utilissimy” : a decimal vazia. (No caso dos ma o era 20, e nao 10.) De resto, g 7 a sequiéncia nao se limita a eg, 0 (zero) deve ou nao ser in “Meu Professor livros de Matem4 0 como 0 primeiro nim gundo, 2é0 terceiro, etc). ponto-de-vista. Trata-se, feréncia. Deve-se lembrar q io Obje, lias, como um ntimero e § tivo de preencher uma cas base do sistema de numeraca' 4 Peio do nimero natural para inicial calk entre Oe 1. Freqiientemente esquecemos que, do mesmo modo er ue conhecemos e usamos 0 ZeT0 mas comegamos os nimeros natura} com 1, a Matematica grega, segundo apresentada por Eucl ‘ais nao considerava 1 como um numero. Nos “Elementos”, encon mos as seguintes definigoes: “Unidade é aquilo pelo qual cada objeto 6 um. Numero é y, multitude de unidades”. ane ides, tra. 4. Destaque para o Axioma da Inducao tiltimo dos axiomas de Peano é conhecido como 0 axioma d inducdo. Ele é a base de um eficiente método de demonstra i‘ de proposigdes referentes a ntimeros naturais (demonstragées _ indugo, ou por recorréncia). Enunciado sob a forma de pro, o dades em vez de conjuntos, ele se formula assim: a Seja P(n) uma propriedade relativa ao numero natural n. Su | ponhamos que i) P(1) é valida; ii) Para todo n € N, a validez de P(n) impli . P(n’), onde n’ 6 0 sucessor de n. (n) implica a validez de Entao P(n) é valida qualquer que seja o numero natural n. ~* ‘A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 33 : Com efeito, se chamarmos de X 0 conjunto dos ntimeros natu- rais n para os quais P(n) é valida, veremos que | € Xem virtude de i) e que n € X Sn’ € Xem virtude de ii). Logo, pelo axioma da indugaio, concluimos que X = N. Recomendagaéo 2. O axioma da indugao é uma forma sagaz e operacional de dizer que qualquer nimero natural n pode ser alcangado se partirmos de 1e repetirmos suficientemente a operagao de tomar 0 sucessor de um numero. Ele esta presente (pelo menos de forma implicita) sempre que, ao afirmarmos a veracidade de uma proposi¢ao re- ferente aos ntimeros naturais, verificamos que ela é verdadeira paran=1,n=2,n=3e dizemos “e assim por diante...”. Mas é preciso ter cuidado com esta ultima frase. Ela pressupde que para todo n € N. No final deste capitulo, apre- P(n) = P(r’) sentamos como exercicios algumas proposigées demon: straveis por recorréncia, bem como alguns curiosos paradoxos que resultam do uso inadequado do axioma da indugao. 5. Adigdo e Multiplicagao Entre os numeros naturais estao definidas di mentais: a adigdo, que aos numeros n,p € N faz corresponder a soma n+p ea multiplicagdo, que Jhes associa 0 produto np. Asoma n+p é0 numero natural que se obtém a partir de n aplicando-se p vezes seguidas a operagdo de tomar 0 sucessor. Em particular, n +1 é 0 sucessor de n, n +20 sucessor do sucessor de n, ete. Por exemplo, tem-se 2 + 2 = 4 simplesmente porque 4é o sucessor do sucessor de 2. De agora em diante, 0 sucesor do ntimero natural n sera de- signado por n +1. Quanto ao produto, pée-se n- 1 = n por definicao e, quando p#l, npéasoma de p parcelas iguais a n. Em tiltima andlise, a soma n+p eo produto np tem mesmo os uas operagdes funda- 34 Numeros Naturais jbuidos pelas explicagées dadag i zar os numeros naturaj, Ma, falar em “p vezes” ¢ %y Pary tais devem ser definj, des 7 ue hes S40 atr a ee saibamos utili ao tem sentido ges fundamen significad Entretanto, até que efetuar contagens, ni las”. Por isso, a8 opera¢! indugao, como se segue. Adigaéo: n+1 = sucessor denen +(p+1) = (tp) 41, ‘iltima igualdade diz que se sabemos som P & todos os nien naturais n, sabemos também somar Pp +1: a son n+ tp Pe simplesmente 0 sucessor (n +P) +1 de n+p. O axioma da induge garante que a soma ' +pesta definida para quaisquer pen Multiplicacéo: n- 1 =" & nip +1) =p +n. Ou seja; vault plicar um numero n por 1 nao o altera. E se sabemos multiplica, todos os niimeros naturais n por P, sabemos também multiplice los por p +1: basta tomar (p +1) =np-+n. Por indugio, sabes, multiplicar todo n por qualquer P- Estas operagdes gozam das conhecidas propriedades de asso. ciatividade, comutatividade e distributividade. As demonstragie, sao feitas por indugao. (Vide, por exemplo, “Curso de Anilise”, VoL 1, pag. 28.) 6. Ordem Entre os Numeros Naturais Nossa breve descrigdo do conjunto N dos nimeros naturais ter. mina com a relagao de ordem m 2 e, em seguida, que n? < 2" para todo n25. . 3. Complete os detalhes da seguinte demonstra¢ao do Principiy de Boa Ordenagao: Seja A c Num conjunto que nao possui um menor elemento. Considere o conjunto X formado pelos nimeros naturais n tais que 1,2,...,n nao pertencem a A. Observe que 1 € Xe, além disso, se n € X entao todos os elementos de A sao n+ 1. Como n+ 1 nao pode ser o menor elemento de A, conclua que n +1 € X logo, por inducao, segue-se que X = N, portanto Aé vazio. 4. Prove, por indugao, que ee) 3 e conclua dai que a seqiiéncia 1, V2, ¥3, V4... é decrescente a partir do terceiro termo, 5. Prove, por indugao, que TH24324. tre MENON) 6. Critique a seguinte argumentagéo: Quer-se provar que todo numero natural é pequeno. Evidentemente, 1 6 um numero pe- queno. Além disso, se n for pequeno, n-+1 também o serd, pois nao se torna grande um ntimero pequeno simplesmente somando-lhe uma unidade. Logo, por indugao, todo numero natural 6 pequeno. 7. Usea distributividade para caleular (m+ n)(1 + 1) de duas maneiras diferentes e em seguida use a lei do corte para concluir quem+n=n+m., 8. SejaX CNum Conjunto nao-vazio, com a seguinte proprieda- de: para qualquer n € N, se todos os némeros do que n pertencem a X entdo n boa ordenagao.) naturais menores €X. Prove que X = N. (Sugestao: 9. Seja P(n) uma propriedade relatiy, ponha que P(1), P(2) sao verdadeiras e que, para qualquer n € N a verdade de P(n) e P(n +1) implica a verdade de P(n+ 2). Prove que P(n) é verdadeira Para todon € N @ a0 numero natural n, Sy- 10. Use indugao para Provar que 1 PEPE pe ating ap Capitulo 3 Numeros Cardinais s naturais provém do fato de que clo matematico que torna possivel o process. 0 contagem. Noutras palavras, eles respondem a perguntas do 4; . Do; “Quantos elementos tem este conjunto?” Para contar 08 elementos de um conjunto é necessario yg, nogao de correspondéncia biunivoca, ou bijegdio. Trata-se a caso particular do conceito de fungao, que abordaremos de form a breve agora e com mais vagar posteriormente. | A importancia dos numero: constituem 0 mod 1. Fungées Dados os conjuntos X, Y, uma fungao :X — Y (lé-se “uma funeg de X em Y”) 6 uma regra (ou conjunto de instrugoes) que diz con mento x € X um elemento y = f(x) € Y, 5 conjunto X chama-se 0 dominio e Y 6 0 contra-dominio da fangs f. Para cada x € X, 0 elemento f(x) € Y chama-se a imagem ay pela fungao f, ou 0 valor assumido pela fung&o f no ponto x ¢ x. Escreve-se x +9 f(x) para indicar que f transforma (ou leva) x =m f(x). associar a cada ele Exemplos particularmente simples de fungées sao a fungéo identidade ¢:X — X, definida por f(x) = x para todo x € X eas fungées constantes :X 3 Y, onde se toma um elemento c € Ye se poe f(x) =¢ para todo x € X. Recomendagées 1. Eimportante ressaltar que f(x) 6a imagem do elemento x € x 1 49 Numeros Cardinals xV=¥ (x) = 9x sao 3 ais se, e somente se x=x,Y=Yef ' yt guais Se, todo x €X. Exemplos . , . njunto dos triangulos do plano Te Ro Conn 1. Sejam X 0 con) aremos logo mais). Se,a cada ty dos numeros reals = digacdy wings * Ot fizermos corresponder 0 obteremos uma tun¢gao £:X4R. ae veta do egmentos reta 5 Sejam $ 0 conjunto dos segmentos de plano 1 ¢ s: Jano. A regra que assogj 0 at ree ee rediatriz (AB) define uma fangs gr =a 3. Acorrespondéncia que associa a cada numero natural » lig sucessor n + | define uma funcao s:N > N, com s(n) = ned, Uma fungao f:X — Y chama-se injetiva quando clement, diferentes em X sao transformados por f em elementos diferente, em Y, Ou seja, f é injetiva quando x #x! em X => f(x) £ f(x’). Esta condicao pode também ser expressa em sua forma contrapo. (que abord: I der o numero real f(t) 2. sitiva: F(x) = f(x!) > x= x’, Nos trés exemplos dados acima, apenas 0 terceiro é de uma fungao injetiva. (Dois triangulos diferentes podem ter a mesma area e dois segmentos distintos podem ter a mesma mediatriz, mas numeros naturais diferentes tém sucessores diferentes.) Diz-se que uma fungdo f:X — Y 6 sobrejetiva quando, para qualquer elemento y € Y, pode-se encontrar (pelo menos) um ele. mento x € X tal que f(x) =y. Nos trés exemplos dados acima, apenas o segundo apresenta uma fungdo sobrejetiva. (Toda reta do plano é mediatriz de al- gum segmento mas apenas os numeros reais positivos podem ser areas de triangulos eo ntimero 1 nao é sucessor de numero natural oe id ‘A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 41 algum.) Mais geralmente, chama-se imagem do subconjunto A Cc X pela fungiio f:X — Y ao subconjunto f(A) C Y formado pelos ele- mentos f(x), com x € A. A fungao f:X —) Y é sobrejetiva quando f(X) = Y. O conjunto f(X), imagem do dominio X pela fungao f, chama-se também a imagem da fungdo f. Nos exemplos 1), 2) e 3) a imagem da fungao f é 0 conjunto dos ntimeros reais positivos, a imagem de g é todo 0 conjunto Ae aimagem de s é 0 conjunto dos ntimeros naturais >2. Dada a fungao f:X — Y, para saber se um certo elemento b € Y pertence ou nao A imagem f(X), escrevemos a “equagao” f(x) = b e procuramos achar algum x € X que a satisfaga. Con- seqiientemente, para mostrar que f é sobrejetiva deve-se provar = y possui uma solugao x € X, seja qual for 0 que a equagao f(x) y € Y dado. Recomenda¢ao 3. Em muitos exemplos de fungées f:X — Y, principalmente na Matematica Elementar, X e Y sao conjuntos numéricos e a regra x f(x) exprime o valor f(x) por meio de uma formula que envolve isa ser assim. A natureza da regra que x. Mas em geral nao preci: ehsina como obter f(x) quando é dado x 6 inteiramente arbitréria, sendo sujeita apenas a duas condigées: a) Nao deve haver excegées: a fim de que a fungao f tenha o conjunto X como dominio, a regra deve fornecer f(x), seja qual for x € X dado. b) Nao pode haver ambigiiidades: a cada x € X, a regra deve fazer corresponder um winico f(x) em Y. Os exemplos a seguir ilustram essas exigéncias. Exemplos 4, Considere a tentativa de definir uma fungao f:N — N, estipulando que, para todo n € N, o numero natural 42 Numeros Cardinais a = f(r) s6 243 =n, O numero p 7 6 bo = deve ser tal que P 2.19, «pois ne A B pieeraie se n for igual a 4, Gi t 4 poo mis tem toaee main os naturais sao da forma P . ae ee tang def nema fungao com dominio N, porque te Ges. ine . * e: unto dos ntimeros reais positivos e ., do plano. Para cada x € X, Pothames gulo cuja area é x. Esta regra nin porque € ambigua: dado o ntimen, de triangulos diferentes com area y 5. Indiquemos com Xoconj Y o conjunto dos triangulos ¢ f(x) = t caso t seja um trian; define uma fungéo f:X > Y x > 0, existe uma infinidade 2. ANogao de Numero Cardinal Uma fungao f:X + Y chama-se uma bijegdo, ou uma correspon, déncia biunivoca entre X e Y quando é ao mesmo tempo injetiyg e sobrejetiva. Exemplos 6. Sejam X = {1,2,3,4,5} ¢ ¥ = {2,4,6,8, 10}. Definindo f:x 4 y pela regra f(n) = 2n, temos uma correspondéncia biunivoca, onde f(1) =2, f(2) =4, f(3) =6, #(4) = 8 e £(5) = 10. 7. Um exemplo particularmente curioso de correspondéncig biunivoca foi descoberto pelo fisico Galileu Galilei, que viveu hg quatrocentos anos. Seja P o conjunto dos nimeros naturais pares: P={2,4,6,...,2n,...}. Obtém-se uma correspondéncia biunivoca f:N - P pondo-se f(n) = 2n para todo n € N. O interessante deste exemplo é que P é um subconjunto proprio de N. 8. Sejam Y a base de um triangulo e X um segmento paralelo a Y, unindo os outros dois lados desse triangulo. Seja ainda P o vértice oposto a base Y. Obtém-se uma correspondéncia biunivoca f:X + Y associando a cada x € X 0 ponto f(x) onde a semi-reta Px intersecta a base Y A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 43 Y¥ FO) Figura 2 9. Neste exemplo, X = C — {P} 6 0 conjunto obtido retirando da circunferéncia 0 ponto P e Y é uma reta perpendicular ao diametro que passa por P. Figura 3 Definiremos uma correspondéncia biunivoca f:X — Y pondo, para cada x € X, f(x) = intersegao da semi-reta Px com a reta Y. Diz-se que dois conjuntos X e Y tém 0 mesmo niimero cardinal quando se pode definir uma correspondéncia biunivoca f: X — Y. Cada um dos quatro exemplos acima exibe um par de conjun- tos X, Y com o mesmo niimero cardinal. Exemplo 10. Sejam X = {1} e Y = {1,2}. Evidentemente nao 44 Nimeros Cardinals a correspondéncia biunfvoca f:X — Y, Portany i 0 pode existir um: vdinal e Y nao tém o mesmo numero ¢ i ” no dicionario A palavra “numero” no a que os conjuntos Xe Y sao numericamente ' zes se diz alan | estabelecer uma correspondéncig Se valentes quando é possive e D : j mesmo . : voca f:X — Y, ou seja, quando Xe Y temo niimero cai mi | Isto explica (embora nao justifique) a defini¢go dada 5°: ciondrio mais vendido do pais. Em algumas situagées, cory, a em Matematica definigdes do tipo seguinte: um vetor 6 9 conjuy de todos os segmentos de reta do plano que sao equipolente, 0 um segmento dado. (Definigao “por abstragao”.) Nessa Whigs, yela, poder se-ia tentar dizer: “mimero cardinal de um conjunts © conjunto de todos os conjuntos equivalentes a esse conjunto» caso do dicionario, hd um conjunto de defeitos naquela definigg com um numero cardinal razoavelmente elevado. Os trag tie graves sao: : 1. Um dicionario nao é um compéndio de Matematicg 7 muito menos de Légica. Deve conter explicagoes acessiveis ay leigo (de preferéncia, corretas). As primeiras acepcées da Palayra “nimero” num diciondrio deveriam ser “quantidade” e “resultagg de uma contagem ou de uma medida”. 2. A definigao em causa s6 se aplica a numeros cardinaig mas a idéia de numero deveria abranger os racionaise, pelo menos, os reais. , 3. O “conjunto de todos os conjuntos equivalentes a um con- junto dado” é um conceito matematicamente incorreto. A nogéio de conjunto nao pode ser usada indiscriminadamente, sem submeter- se a regras determinadas, sob pena de conduzir a paradoxos, ou contradigoes. Uma dessas regras proibe que se forme conjuntos a n4o ser que seus elementos pertengam a, ou sejam subconjuntos de, um determinado conjunto-universo. Um exemplo de paradoxo que resulta da desatengiio a essa regra é “o conjunto X de todos os conjuntos que nao sao elementos de si mesmos.” Pergunta-se: Xé od A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 45 ou nao é um elemento de si mesmo? Qualquer que seja a resposta, chega-se a uma contradicao. 3. Conjuntos Finitos Dado n € N, indiquemos com a notagao I, 0 conjunto dos numeros naturais de 1 até n. Assim, I) = {1}, [2 = {1,2}, Is = {1,2,3} e, mais geralmente, um numero natural k pertence a I, se, e somente se, I X, No Exemplo 6 acima, temos X= Ise £:X—>Yéuma contagem dos elementos de Y. Assim, Y é um conjunto finito, com 5 elemen- tos. O conjunto N dos nimeros naturais é infinito, dada qualquer fungao f:I, — N, nado importa qual n se fixou . mos k = f(1) + f(2) +--+» + f(n) e vemos que, para todo x ze ipoesrel cumpir aeondgae bide ses ang biunivoca, "80 B) da de O numero cardinal de um con 1 njunto finito X. com a notagao n(X), goza de algumas propriedad Com efeito, n> a (x) =k. Assim, 6 finigado de correspondéncia que indicaremos les basicas, entre és 46 Numeros Cardinais emos as seguintes: . de elementos de um conjunto finito € o », e524 que se adote. + XegiIn— X sao corresponda, Deiag as quais destacar 1. O numero seja qual for a contagem Isto significa que Se film biunivocas entao m =" ; 2. Todo subconjunto Y de um conjunto finito X ¢ fing n(Y) n(Y), nenhy, fungao f:X = Y € injetivae nenhuma fungdo 9:¥ 4 Xé sobrejetin” ‘a, ‘As demonstragies destes fatos se fazem por indugio oy poa-ordenagao. (Veja, por exemplo, Curso de Andlise, vol. 1 Por 33.38) A primeira parte do item 4. acima 6 conhecida we principio das casas de pombos: se ha mais pombos do que cas, 0 num pombal, qualquer modo de alojar os pombos deveré loon pelo menos dois deles na mesma casa. As vezes, 0 mesmo fate ¢ chamado 0 principio das gavetas: sem >N, qualquer maneira ‘ distribuir m objetos em n gavetas devera pér ao menos dois daenes objetos na mesma gaveta. (Na referéncia citada, este éo Corolétig 1na pagina 35.) O principio das casas possui interessantes aplicagoes. m numero natural de 1 a9. Para fixaras idéias, seja 3 esse numero. Vamos provar que todo numero natural m possui um miiltiplo cuja representagéo decimal contém apenas os algarismos 3 ou 0. Para isso, consideremos 0 conjunto X = {3,33,... ,33.--3}, cujos elementos sao os m primeiros numeros naturais representados somente por algarismos iguais a 3. Se al- gum dos elementos de X for miultiplo de m, nosso trabalho acabou. Caso contrario, formamos 0 conjunto Y = {1, 2,...,m—T}e defini- ingao f:X — Y pondo, para cada x € x, e de pombos, com toda sua simplicidade. Vejamos duas delas. , Exemplo 13. Tomemos w mos a fu f(x) = resto da diviséo de x por m. _ ‘A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 47 Como X tem mais elementos do que Y, o principio das casas de pombos assegura que existem elementos x; < x2 no conjunto X tais que f(x1) = f{x2). Isto significa que x1 e x2, quando divididos por m, deixam o mesmo resto. Logo x2—x; € multiplo de m. Mas é claro que se x; tem p algarismos e x2 tem p + q algarismos entao a representagao decimal de x» — x; consiste em q algarismos iguais a8 seguidos de p algarismos iguais a 0. Exemplo 14. Vamos usar o principio das gavetas para provar que, numa reuniao com n pessoas (1>2), ha sempre duas pessoas (pelo menos) que tém 0 mesmo numero de amigos naquele grupo. Para ver isto, imaginemos n caixas, numeradas com 0, 1,... ;— 1. Acada uma das n pessoas entregamos um cartao que pedimos para depositar na caixa correspondente ao nimero de amigos que ela tem naquele grupo. As caixas de numeros 0 e n — 1 nao podem ambas receber cartdes pois se houver alguém que nao tem amigos m dos presentes pode ser amigo de todos, e vice-versa. na realidade, n cartdes para serem depositados pelo menos uma das ali, nenhu: Portanto temos, em n—1 caixas. Pelo principio das gavetas, caixas vai receber dois ou mais cartées. Isto significa que duas ou mais pessoas ali tém o mesmo ntimero de amigos entre os presen- tes. 4. Sobre Conjuntos Infinitos yrar estas consideragoes a respeito de numeros cardi- tarios sobre conjuntos infinitos. vém esclarecer que a maior contri- Para ence: nais, faremos alguns comen’ Em primeiro lugar, con’ puigdio de Cantor nao foi a adogéo da linguagem e da notacao dos conjuntos e sim suas descobertas sobre os ntimeros cardinais de conjuntos infinitos. Ele foi o primeiro a descobrir que exis- tem conjuntos infinitos com diferentes cardinalidades ao provar que nao pode haver uma correspondéncia biunivoca entre N e o conjunto R dos nuimeros reais e que nenhum conjunto X pode estar em correspondéncia biunfvoca com 0 conjunto P(X) cujos elemen- tos sao os subconjuntos de X, Além disso, ele mostrou que a reta, 0 48 Numeros Cardinals (ou mesmo espagos com dimengs imero cardinal. Estes fatog do i i ntre Os 2) ue atualmente s40 consider: queiros & i matematiog época (meados do século dezenove) , causaram forte impacto na . secu’o ‘A segunda observagao diz respeito @ fungoes f: x 4X de om conjunto em si mesmo. Quando X ¢ finito, f é injetiva se, g - é sobrejetiva. (Vide referéncia anterior.) Mas isto a Por exemple, se definirmos a fun 80 n EN, f(n) = numero de fatores me a decomposigao de n, veremos aie (Para cada b € N existe uma jp. (n) = b.) Além disso, as fangs, NN, definidas por 8 0 tridimensional ) tém o mesmo nur ados cori plano e 0 espa¢ superior a trés, mente se, é verdadeiro para X infinito. f:N — N pondo, para cada 1 mos distintos que ocorrem n. 6 sobrejetiva mas nao é injetiva. finidade de nimeros n tais que f fNON, g: NON, hN>Neo: f(n) =nt), g(n) =n +30, h(n) =2n e o(n) =3n so injetivas mas nao sao sobrejetivas. Estas quatro fungées sao protagonistas da seguinte historinha que fecha a segao. Fantasia Matematica O Grande Hotel Georg Cantor tinha uma infinidade de quartos, numerados consecutivamente, um para cada numero natural. To. dos eram igualmente confortaveis. Num fim-de-semana prolon- gado, o hotel estava com seus quartos todos ocupados, quando chega um viajante. A recepcionista vai logo dizendo: — Sinto muito, mas néo ha vagas. Ouvindo isto, o gerente interveio: — Podemos abrigar o cavalheiro, sim senhora. E ordena: — Transfira o héspede do quarto 1 para o quarto 2, passe o do quarto 2 para o quarto 3 e assim por diante. Quem estiver no ‘A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 49 quarto n, mude para o quarto n +1. Isto manterd todos alojados e deixara disponivel o quarto 1 para o recém-chegado. Logo depois chegou um énibus com 30 passageiros, todos que- rendo hospedagem. A recepcionista, tendo aprendido a ligéio, re- i moveu o héspede de cada quarto n para o quarto n + 30 e acolheu assim todos os passageiros do énibus. Mas ficou sem saber 0 que fazer quando, horas depois, chegou um trem com uma infinidade de passageiros. Desesperada, apelou para o gerente que pron- iu tamente resolveu o problema dizendo: — Passe cada héspede do ) quarto n para o quarto 2n. Isto deixard vagos todos os aparta- mentos de nimero impar, nos quais poremos os novos héspedes. , - Pensando melhor: mude quem esta no quarto n para o quarto ) 3n. Os novos héspedes, ponha-os nos quartos de ntimero 3n. +2 Deixaremos vagos os quartos de ntimero 3n +1. Assim, sobrarao ' ainda infinitos quartos vazios e eu poderei ter sossego por algum \ tempo. - t Recomendagao t , 4, Nao confunda conjunto infinito com aquele que tem um niimero muito grande (porém finito) de elementos, Quando, na linguagem comum, se diz algo como “— Ja ouvi isto uma infinidade de vezes” trata-se de uma mera fora de expresso. Nao ha distancine intr, tas (mesmo entre duas galaxias bem afastadas) e até o numero de atomos do universo é finito. (O fisico Arthur Eddington estimou ° ‘ ntimero de protons do universo em 136 x 2256. Q numero de 4tom i € certamente menor pois todo Atomo contém ao menos um prot 8 : E importante ter sempre em mente que nenhum n ene Ravn ait timer né maior do que todos os demais: tem-se sempre n < al Exercicios 1. Seja f:x = y Anca A conjunto B . uma fungao. gem inversa yunto BC Y é 0 conjunto (B) = { por f de um * € x: f(x) € B). Prove que | aie 50 Numeros Cardinais se tem sempre f~'(f(A)) > A para todo A C Xe f(f1 para todo B Cc Y. Prove também que f é injetiva se, e go {ey SR #(f(A)) = A para todo AC X. Analogamente, Tastes & sobrejetiva se, e somente se, f(f~'(B)} = B para todo B oy oF 8 2. Prove que a fungdo f:X - Y é injetiva se, e somente uma fungdo g:¥ > X tal que g(f(x)) = x para todo x € x = “ite 3. ; Prove que a fungao f:X — Y é sobrejetiva se, e som, existe uma fungao h: Y > X tal que f(h(y)) =y para todo 8 be yey,’ ‘ Dada a fungao f:X - Y, suponha que 9, h:¥ — X sao f ais que g(f(x)) =x para todo x € Xe f(h{y)) = " Prove que g =h. =v pare teds Nebes vey, 5. Defina uma funcio sobrejetiva f:N > N tal que, nN, a equagao f(x) = n possui uma infinidade de ratzes toda (Sugestéo: todo numero natural se escreve, de modo tinie en forma 2° - b, onde a,b € Ne b é impar:) *9 80h a 6. Prove, por indugéio, que se X 6 um conjunto finito com n mentos ento existem n! bijegdes f:X — X. le 7. Qualo erro da seguinte demonstra¢ao por indugao: Teorema: Todas as pessoas tém a mesma idade. Prova: Provaremos por indugdo que se X 6 um conjunto de n (n=1) pessoas, entao todos os elementos de X tém a mesma idade, Se n = 1 a afirmagiio € evidentemente verdadeira pois se Xé um conjunto formado por uma tnica pessoa, todos os elementos de X tém a mesma idade. Suponhamos agora que a afirmagao seja verdadeira para to- dos os conjuntos de n elementos. Consideremos um conjunto com 2) Qn; Angi} Ora, {a1,42)+++> ay} € um con- n+ 1 pessoas, {a1,42)-- junto de n pessoas, Jogo ay, 42, +++ On tém a mesma idade. Mas {a2,..+5 Any dy 41} ta,bém é um. conjunto de n elementos, logo todos os seus elementos, em particular ay € On+1) tém a mesma idade. Mas de ay, d2,-+-1 On tém a mesma idade € dn ¢ An+1 tém amesma C—O : +S aa = on . A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 51 idade, todos os elementos de {a}, a2,..., dn, an41} tem a mesma idade, conforme queriamos demonstrar. 8. Prove, por indugdo, que um conjunto com n elementos possui 2" subconjuntos. 9. Dados n (n>2) objetos de pesos distintos, prove que é possivel determinar qual o mais leve e qual o mais pesado fazendo 2n — 3 pesagens em uma balanga de pratos. E esse o ntimero minimo de pesagens que permitem determinar o mais leve e o mais pesado? 10. Prove que, dado um conjunto com n elementos, é possivel fazer uma fila com seus subconjuntos de tal modo que cada subconjunto da fila pode ser obtido a partir do anterior pelo acréscimo ou pela supressao de um tnico elemento. 11. Todos os quartos do Hotel Georg Cantor estao ocupados, quando chegam os trens 1), 12,... » Tn, --. (em quantidade infinita), cada um deles com infinitos Passageiros. Que deve fazer 0 gerente para hospedar todos? Capitulo 4 Numeros Reais Nos dois capitulos anteriores, foram introduzidos og ndmeros turais e foi mostrado como eles sio empregados na Operagay ‘e contagem. Veremos agora de que modo ° Proceso de me, igs, das grandezas ditas continuas conduz A nogéio de miimero real Usaremos como prototipo a determinagao do comprimento de segmento de reta. Este exemplo de medigao é tao significatiy, o conjunto dos ntimeros reais 6 também conhecido como a re, ou, simplesmente, a reta. que t0.req 1. Segmentos Comensuraveis e Incomensurgyej, Seja AB um segmento de reta. Para medi-lo, é necessdrio fixay um segmento-padrao u, chamado segmento unitdrio. Por definiggg a medida do segmento u é igual a 1. Estipularemos ainda qu, segmentos congruentes tenham a mesma medida e que ge n, ~] pontos interiores decompuserem AB em n segmentos justapostos entao a medida de AB sera igual 4 soma das medidas desses 1, segmentos. Se estes segmentos parciais forem todos congruentes au, diremos que u cabe n vezes em AB e a medida de AB (que representaremos por AB) sera igual an. Pode ocorrer que o segmento unitadrio nao caiba um numero exato de vezes em AB, Entdo a medida de AB ndo seré um nimero natural. Esta situag4o conduz a idéia de fragdo, conforme mostra- remos agora. Procuramos um pequeno segmento de reta w, que caiba n vezes no segmento unitdrio ue m vezes em AB. Este segmento w sera entao uma medida comum de ue AB. Encontrado w, diremos | | | A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 53 que AB e u sao comensurdveis. A medida de w serd a fracdo 1/ne a medida de AB, por conseguinte, sera m vezes 1/n, ou seja, igual am/n. Relutantes em admitir como ntimero qualquer objeto que nao pertencesse ao conjunto {2,3,4,5,...}, os matematicos gregos a época de Euclides nao olhavam para a fragéo m/n como um ntime- ro e sim como uma razao entre dois ntimeros, igual a razéo entre os segmentos AB eu. Na realidade, nao é muito importante que eles chamassem m/n de numero ou no, desde que soubessem, como sabiam, ra- ciocinar com esses simbolos. (Muito pior eram os egipcios que, com exceeao de 2/3, s6 admitiam fracdes de numerador 1. Todas as demais, tinham que ser expressas como somas de fragées de numerador 1 ¢ denominadores diferentes. Por exemplo, 7/10 no Egito era escrito como 1/3 + 1/5 + 1/6.) O problema mais sério é que por muito tempo se pensava que dois segmentos quaisquer eram sempre comensuréveis: se- jam quais fossem AB e CD, aceitava-se tacitamente que haveria sempre um segmento EF que caberia um numero exato n de vezes em AB e um numero exato m de vezes em CD. Esta crenga tal- vez adviesse da Aritmética, onde dois nimeros naturais quaisquer tém sempre um divisor comum (na pior hipétese, igual a 1). Ailusao da comensurabilidade durou até o quarto século antes de Cristo. Naquela época, em Crotona, sul da Italia, havia uma seita filosdfico-religiosa, liderada por Pitdgoras, fundamentais de sua doutrina era o lema “Os nit o mundo”. (Lembremos que niimeros para eles e: Um dos pontos meros governam ram nimeros na- O argumento 6 muito simples e bem conhecido. soot LL ST 54 Numeros Reais A B Figura 4 Se houvese um segmento de reta u que coubesse n vero, lado AB e m vezes na diagonal AC do quadrado ABCD entaio ~ mando AB como unidade de comprimento, a medida de Ac ws ia igual a m/n enquanto, naturalmente, a medida de AB gen, 1, Pelo Teorema de Pitagoras terfamos (m/n)* = 1? 4 12, dking, in2/n? = 2e m2 = 2n2, Mas esta tiltima igualdade € absurda, poi, na decomposigao de m? em fatores primos 0 expoente do fator 26 par enquanto em 2n? é impar. A existéncia de segmentos incomensuraveis significa que os ntimeros naturais mais as fragdes sao insuficientes para megiy todos os segmentos de reta. A solugéio que se impunha, e que foi finalmente adotada, era a de ampliar o conceito de nimero, introduzindo os chamados numeros irracionais, de tal modo que, fixando uma unidade de comprimento arbitréria, qualquer segmento de reta pudesse ter ‘uma medida numérica. Quando o segmento considerado é comen- suravel com a unidade escolhida, sua medida é um numero racio- nal (inteiro ou fracionario). Os nimeros irracionais representam medidas de segmentos que sao incomensuraveis com a unidade. No exemplo acima, quando o lado do quadrado mede 1, a medida da diagonal é o numero irracional V2. (O fato de que esta con- cluso nao depende do tamanho do quadrado que se considera, deve-se a que dois quadrados quaisquer sao figuras semelhantes.) ‘A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 55 Recomendagaéo 1. Nos meios de comunicagao e entre pessoas com limitado co- nhecimento matematico, a palavra incomensurdvel é muitas ve- zes usada em frases do tipo: havia um ntimero incomensuravel de formigas em nosso piquenique. Nunca diga isso. _Incomensura- bilidade é uma relagao entre duas grandezas da mesma espécie; nao da idéia de quantidade muito grande. Uma palavra adequada no caso das formigas seria incontdvel. Noutros casos, como um campo gigantesco, poderia ser imensurdvel. Mas nada é incomen- suravel, a ndo ser quando comparado com outro objeto (grandeza) da mesma espécie. 2. A Reta Real A fim de ganhar uma idéia mais vidvel dos novos ntimeros, que denominamos irracionais e, em particular, situa-los em relagdo aos racionais, imaginamos uma reta, na qual foram fixados um ponto O, chamado a origem, e um ponto A, diferente de O. Tomaremos o segmento OA como unidade de comprimento. A reta OA sera chamada a reta real, ou 0 eixo real. A origem O divide a reta em duas semi-retas. A que contém A chama-se a semi-reta positiva. A outra é a semi-reta negativa. Diremos que os pontos da semi-reta positiva esto A direita de O e os da semi-reta negativa 4 esquerda de O. Seja X um ponto qualquer da reta OA. Se o segmento de reta OA couber wn wlimersy exato n de vezes em OX, diremos que a abcissa de X 0 mimero natural n ou o ntimero negativo -n, conforme X esteja a direita ou a esquerda da origem. Se X coincidir com a origem, sua abcissa seré 0 (zero). O conjunto Z, formado pelo ntimero zero pontos X do eixo real, tais queo segi exato de vezes em OX, chama-se Ele éa Teuniao Z=Nu(d}u( zero e 0 conjunto e pelas abcissas dos mento unitario cabe um. numero © conjunto dos ntimeros } —N), dos nimeros naturai —N dos ntimeros negativos, inteiros. is com o ac Figura 5 se o ponto X, pertencente ao eixo Teal. ¢ nsuravel com o segmento unitérig a Zag em, Mais geralmente, é come! ue o segmento OX é 7 segmento W caiba n vezes em OA € m ye. de modo que algum seg 5 _ OX, diremos que a abcissa do ponto X é m/nou—m/n, conform, estejaa direita ou Aesquerda da origem. Isto inclui, naturalmen, 0 caso em que o segmento OA cabe um ntimero exato de vere, sie OX, quando se tem 1 = le aabcissa de X pertence a Z, O conjunto Q, formado pelas abeissas dos pontos X do eixg Te, tais que o segmento Oxé comensuravel com o segmento Unitarig A chama-se 0 conjunto dos ruimeros racionats. Tem-seNcz c Como vimos acima, os ntimeros racionals sao representados por fragdes m/n, onde m € ZeneNn. , Se, agora, tomarmos um ponto X no eixo real de tal modo que os segmentos OX e OA sejam incomensuraveis, inventaremos um numero x, que chamaremos de ntimero irracional, e diremos que x € a abcissa do ponto X. O ntimero x sera considerado positiyy ou negativo, conforme o ponto X esteja & direita ou A esquerda da origem, respectivamente. Quando X esta & direita da origem, x ¢, por definigao, a medida do segmento OX. Se X esta & esquerda da origem, a abcissa x é essa medida precedida do sinal menos. O conjunto R, cujos elementos sao os numeros racionais ¢ os numeros irracionais chama-se 0 conjunto dos niimeros reais. Existe uma correspondéncia biunivoca entre a reta OA e 0 con- junto R, a qual associa a cada ponto X dessa reta sua abcissa, isto é, a medida do segmento OX, ou esta medida precedida do sinal menos. TemosNCZCQCR. Observagéo. As letras N, Q e R sao as iniciais das palavras ecm tm A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 57 numero (ou natural), quociente e real, palavra zahl, que significa nimero em alt O conjunto R pode ser visto como 0 reta enquanto esta, por sua vez, 6 o modelo geométrico de R. Esta inter-relagiio entre Geometria e Aritmética, entre pontos e numeros, é responsdvel Por grandes progressos da Matematica atual. A letra Z 6 a inicial da lemao. modelo aritmético de uma A interpretagao dos nuimeros reais como abcissas dos pontos de uma reta fornece uma visao intuitiva bastante esclarecedora sobre a soma x + y ea relagdo de ordem x < y,com x,y ER. Com efeito, se X e Y sao os pontos dos quais x e y respectiva- mente sao as abcissas, diz-se que x € menor do que y, e escreve-se x 0 e y > 0. Nos demais casos, é s6 mudar o sinal de xy conveniente- mente. tem o mesmo 0 1 yu Figura 6: O produto de ntimeros reais, visto geometricamente, As construgées geométricas suais para a soma e Para o pro conhecidas desde Euclides ( brar apenas que elas repre: duto de numeros reais ja eram 300 anos antes de Cristo). Vale lem- sentavam operacées sobre grandezas 58 Numeros Reais ‘co sobre ntimeros reais, diversidade de aplicagées qa . eiros até a alta tecnologia, ha tig e esta visio geométrica, por maig im ity eta), na entos de ret (no caso, seg™ Ciencia ea da O progresso ’ aa matica, dos casos mais corrq i aro qui P . tempo erence ainda seja, precisa ser complementag tante que te) ‘cao algébrica de R. Tal complementagao requer a = deserign® nas das propriedades (axiomas) do conjunty seja feita uma aoe oe os fatos sobre numeros reais possam a partir das aren parecido com 0s axiomas de Peano Para . demonstration $6 que, naturalmente, uma estrutura 7 taboradé ols R é uma concep¢ao bem mais rica e mais suti] do Poy te ae 7 escrito mais simples de R consiste em dizer que i de um corpo ordenado completo. Os detalhes dessa caracterizacs, nao sao dificeis, mas escapam aos nassie objetivos aqui. 0 leito, interessado pode consultar 0 livro Andlise Real, vol. 1, capitulo Diremos apenas que R é um corpo, Porque estao definidas ai as quatro operagoes: adicao, subtragao, multiplicagao & divisao E um corpo ordenado porque existe a relacdo x < YU, que est interligada com a adigdo e a multiplicacao pelas leis conhecidas de monotonicidade. E, finalmente, a completeza de R equiy, ale 4 continuidade da reta. E ela que garante a existéncia de yg fe, || mais geralmente, de a* para todo a > Oe todox ER. Ba cots i pleteza de R que diferencia os reais dos racionais pois, afinal de contas, Q também é um corpo ordenado, s6 que nado 6 completo, Ha varias maneiras de formular matematicamente a afirmagio de que o corpo dos ntimeros reais 6 completo. Todas elas envol- vem, direta ou indiretamente, a idéia de aproximagdo, ou limite, Na préxima segdo veremos um exemplo de como a completeza de R se faz necessdria para assegurar que toda expressdo decimal representa um numero real. traty Na pratica, nossos olhos (e mesmo os instrumentos mais deli- cados de aferigéio) tém um extremo de Percepgao (ou de precisio), sendo incapazes de distinguir diferengas inferiores a esse extremo. On a oe am Et awe 1 ae ‘A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 59 Portanto nenhuma medigao experimental pode oferecer como re- sultado um ntimero irracional. Deve-se entretanto lembrar que, quando 0 raciocinio matematico assegura a incomensurabilidade, o numero racional obtido experimentalmente 6 apenas um valor aproximado; o valor exato é um ntimero irracional. 3. Expressées Decimais Para efetuar calculos, a forma mais eficiente de representar os ntimeros reais é por meio de expressdes decimais. Vamos falar um pouco sobre elas. E claro que basta considerar os ntimeros reais positivos. Para tratar de nimeros negativos, simplesmente se acrescenta 0 sinal menos. Uma expressao decimal é um simbolo da forma &=9,010)...ay..., onde ap é um numero inteiro >0 e aj,a2,...,Qn,... sao digitos, isto é, numeros inteiros tais que 0 S aecim e usar q meg, nao se faz 1880- sao decimal. notagao a, para o numer” © expr ficado daquelas ret; 50 Pportante 6 explicar 0 SED" S Teticéng, final da igualdade Elas dao 2 entender de que se trata dy 4 ag no final da 1 - ‘ é i ths soma com infinitas parcelas, mas isto € uma Coiba que nao ‘pio. O significado da igualdade ic " i rinct sentido, pelo menos em Pp} a é inte: o numero real « (que Ja estamos escrevendo go, chain imad tameros racionai; ™ barra) tem por valores aproximados 0s ny ionais ). a, Ma a On _ ts. (n=0,1,2,.. o erro cometido nao é superior 4 Quando se substitui a por Xn» 1 ate 10 10" Assim, ao € 0 maior numero natural contido em a, a1 6 0 maior digito tal que a 1 Sy dot+ 10 a2 éo0 maior digito tal que +4 er 15 se uma seqiiéncia nao-decrescente de niime- Deste modo, tem- ros racionais que sao valores (cada vez mais) aproximados do ntimero real «. Mais precisamente, tem-se O 0. Entao obtemos a expressao decimal de « tomando sucessivamente ay = 0 maior nimero inteiro 20 contido em (isto é, menor do que ou igual a) a; a; =o maior digito tal que ao + 7<%3 ay = 0 maior digito tal que ao + 43 + #HS% e assim por diante. Por exemplo, quando escrevemos que 7 = 3, 14159265... esta- mos dizendo que 3 0. O conjunto dos nimeros reais positivos sera designado por R~. Assim R* ={x € R;x > 0}. As propriedades basicas dos nimeros positivos, das quais re- sulta tudo o que se pode provar sobre desigualdades, sao as se- guinte: Pi) Dado o numero real x, ha trés possibilidades que se ex- cluem mutuamente: ou x é positivo, ou x = 0 ou —x é positivo. P2) Asoma eo produto de numeros positivos sio ainda nu- meros positives. Com relago a propriedade P1), nunca é demais lembrar que x significa “z com 9 sinal trocado”, ou seja, —x é, por definigao, o nics nmero real tal que —x +x = 0. Ainda com respeito a P1), quando —x é Positivo, diz-se que x € um ndmero negativo e escreve-se x < 0. A desigualdade entre ntimeros reais reduz-se ao conhecimento dim nGmeros positivos pois a afirmagao x < y significa que a 68 Numeros Reais dife x éum nimero positivo. As proprie: dade. iferenga y — lagdo x 0ez>0, logo (y ~ x)z > 0, ou seja YZ — xz > 0, 0 que significa xz < yz. Como no caso da adigaéo, também é permitido multiplicar membro a membro duas desigualdades, desde que os ntimeros que nelas ocorrem sejam Positivos. O enunciado preciso é: mbro das ‘gunda, em tu! Por ee iv R8g, Sao: Phe: é creve y > x td / ‘que também se es >») sao: " ‘A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 69 4) Sejam x, y, x’, y/ numeros positives. Sex 0) Outras propriedades que derivam de P1), P2) e suas con- seqiiéncias sao: 5) Sex 4 0 entao x? > 0. (Todo quadrado, exceto 0, é posi- tivo.) Com efeito, se x > 0 entao.x? > 0 por P2). E se —x > 0 entao, ainda por P2), (—x)(—x) > 0. Mas (—x)(—x) = x2, logo x? > Oem qualquer caso. 6) .Se0 yz. (Quando se mul- tiplicam os dois membros de uma desigualdade por um nimero negativo, o sentido dessa desigualdade se inverte.) Com efeito, o produto dos ntimeros positivos y — x e —z é positivo, isto é (y — x)(—z) > 0. Efetuando a multiplicagéo vem xz —yz > 0, portanto xz > yz. skagen as tice amet sonio na cheer a nitive ex ‘8 propriedades acima para simplificd-la até ‘pressdo final do tipo x c. Usa-se freqiientemente a notagao *<¥ para significar a nega 70 Numeros Reais ao de y < * Portanto, x<¥ significa que x relativa aos ntimerog me ny, pode ser interpretada de trés modos diferentes: Sy ‘ Geometricamente: x < significa que, NUM eixo oy}, ponto de abcissa y esta a direita do ponto de abcissa x, Numericamente: Sejam entad : X= 9,1. Anes © y=bo,b)...bn.., niimeros reais positivos, dados por suas expressées decima; mo se pode yeconhecer que x < y? Certamente tem-se . Cy, (Lembre-se que estamos descartando aed pressées decimais que terminam com uma seqiiéncia de fone ( Ou entéo quando do = bo ear 0 tal que ag “ = ay = Byes Qke1 = De-1 2 Ok < by. Caso se tenha x<0 <1" 5 relagdio x < y é automatica. E, finalmente, se x e y forem anh negativos, tem-se x < y Se, © somente se, 0 numero positivo ~y foe menor do que o ntimero positivo —x segundo o critério acima, Algebricamente: (Supondo conhecido 0 conjunto dos ntimeros positivos, gozando das propriedades P1) e P2) acima enunciados) Tem-se x < y se, e somente se, a diferenga d = y —x é um ntimer positivo. Noutras palavras, vale x < y se, e somente se, existe um numero real positivo d tal que y =x +d. : Qual das trés interpretagdes acima para 0 significado da desi- gualdade x < y 6a mais adequada? Todas sao. As circunstancias é que determinam qual é a mais conveniente. quando ao < bo- 5. Intervalos Sejam a, b ntimeros reais, com ab. Os nove subconjuntos de R a eee or ow Ne HO ewe WAR OD QO A Matematica do Ensino Médio, Volume 1 71 abaixo definidos sao chamados intervalos: [a,b] = {x € R;axx0, /a é o numero ndo-negativo cujo quadrado é a. Outra importante interpretagéio do valor absoluto é a seguin- te: se x e y sao respectivamente as coordenadas dos pontos xXxeY sobre o eixo E entao |x —y| = distancia do ponto X ao ponto Y Figura 7 Para maiores detalhes sobre a distancia entre dois pontos de um eixo, ver o livro “Coordenadas no Plano”, pagina 5. As proprie- dades do valor absoluto sao estudadas no livro “Andlise Real”, vol. 1, pag. 14. A interpretagao do valor absoluto |x—y| como a distancia, no eixo real, entre os pontos de coordenadas x e y, permite que se possa enxergar intuitivamente o significado e a resposta de algu- mas questdes envolvendo médulos. Por exemplo, a igualdade |x — 2| = 3 significa que o nimero x (ou o ponto que a ele corresponde no eixo) esta a uma distancia 3 do numero 2. Logo, deve ser x = 5 (se x estiver A direita de 2) ou x = —1 (se estiver 4 esquerda). / Se tivermos uma desigualdade, como |x — a] <€,come > 0 isto significa que a distancia de x ao ponto aé menor do que e, logo 7

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