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FLORESTA, Nisia, Opisculo mantra. repha de MA Siva Limas asi, A: TYP GOES BITTENCOURT, Anna Ribeiro de. Longos serdes do campo: infinciae juvenuie, Rio de Jani, Nova From, 1995," LIMA DUARTE, Custinin, Misia Flore: vide cb. Neal — Ed. Universitéria, 1995. . PAES DE BARROS, Maris, No tem pipe TeAnnos) tempo de dantes. Sio Paulo, om 9} oA A roda dos expostos € a crianga abandonada na Histéria do Brasil. 1726-1950 Maria Luiza Marcilio Introdugio ‘A oda de expostos foi uma das insttuigGes brasieias de mais longa vida, sobrevivendo aos tes grandes regimes de nossa Historia, rade na Colonia, perpassou e multiplicou-se no pertodo imperil, conseguiu manterse durante « Replica e s6 foi extinta defini vvamente na recente década de 1950! Sendo o Brasil 0 sltimo pas 1abolira chaga da escravidio, foi ele igualmente o dlkimo & acabar com 0 irste sistema da roda dos enjeitados Mas essa instituigio cumpriu importante papel. Quase por século fe meio a roda de expostos foi praticamente a nica instiuiglo de fusisténcia } erianga abandonada em todo o Brasil, E bem verdade Gque, na época colonial, as municipalidades deveriam, por imposigio ‘is Ondenagées do Reino, amparar toda crianga abandonaéa em se temitéro. No entanto, esta asistncia, quando exist, nfo crios nenhuma entidade especial para acofher 0s pequenos desamparados. ‘AS cdmaras que ampararam seus expostos limitaram-se & pagar um Gtipindio iniséso pars que amas-de-lite amamentassem e cfiassem as criangas (© sistema de rodas_ de expostos foi inventado va Europa medieval, Seria ele um meio encontrado para garantir © anonimuo 31 do expositor assim estimuli-lo a levat o bebé que ndo dese (eer 2 que no desejava ‘Porat dele ado cans de famtin cm 0 sae ok falta de otra opgio.- Assim. procedendo, a maioria das_criancinhas morriam de fome, de frio ou mesmo comidas por animais, antes de ‘serem_encontradas e recolhidas por almas caridosas, = Masse os responsives da insu isd Insttuigtotvesem qualuer di 2 valida dese ballsmo, batizavam de nove sub condone, come mandavam as melhores leis do Direito candnico. aa Em Portugal, as rodas d instaladas pela primeira vez, igualmente, na Kade Média em seus dimos momentos, Sepulam. télia, pelos quais introduziram a primeira. tea etn ayo ar mag algunas de ss rcp cies. ope ene» mal da roda de Lisboa, administrada pela Santa Casa de Misericendia com subvengdes da Camara municipal. a : Segit otra no, Ri de Janeiro € ama em, ins tis° fenbieno de abandonar 0s filtos ¢ to antigo como a sia da eolonizagio brasileira, SO que ants da rota 0s teninos abandonados supostimente deveriam ser asnidos pelas chimaras unicipis: Raramente at monicipalidades assumiram a responsabi- idade por seus peauenos abandonados. Alegavam quis todas falta via de fato descaso, omissio, pouca disposigd0 para pp apr ee toee tition pc mec airs os I, rida e gratuita; desta forma, melhor do que a escrava. 52 { t — alidade, a quase totalidade destes pequenos expos ‘chegavam A idade adulta, A mortalidade dos exposioss assistidos pels rodas,pelas elmaras ou crisdos em famfias subsiuas, Sempre Foi mais elevada de todos 0s segmentos soviis do Brasil, em fodos os tempos — incluindo nales os escravos, como ja tivemos oportunidade de comprovar.! Vendo 0 fendmeno do abandono de criangas na perspectiva historica ampla, abrangente, podemos afirmar, sem :incorrer_em frandes ertos, que a maioria das criangas que os pais abandonaram, ‘alo foram. assistidas. por instuigdes. especializadas, las. foram feothidas por famfias substtutas. No entarto, bem entrado neste sp séeulo, ultimo deste milénio, os chamados até bem recentemente “ilhos de eFiag%0” niio tinham seus direitos garantidos pela lei. Neste trabalho apresentaremos apenas alguns aspectos particu lares da hist6ria da assisténcia A infancia abandonada no Brasil, aquela realizada pela velha roda dos expostos. ste trabalho insere-se dentro de um projeto coletivo de pesquisas interdisciplinares, mais amplo, que elaborei e dirigi durante dez anos (1984-1994) no CEDHAL — Centro de. Estudos de Demografia Histériea da América Latina, organism. interdepartamental que cia mos na Universidade de Sio Paulo, © projeto initulou-se: “Quatro Hculos da Histéria Social da Infincia no Brasil” Dele resultaram Guase uma centena de trabalhos publicados sob a forma de livros, atigos, capftulos de obras, comunicagées ‘em reunides,cientificas rracionais e internacionais ¢ teses de doutorado e mestrado na USP. Dentro desse vasto projeto de investigagio, eu mesma incum- ime do estudo da histéria da inflincia abandonada, que contou com a participagio de larga equipe de pesquisadores apoiados pelo (NPG, pela FINEP e pela FAPESP. Com estes auxilios pucemos nos deslocar para vérias capitais brasileiras, 8 cata de dades em seus arquivos em documentagdo a mais variada. Estive intimeras Nezes em Salvador, no Rio de Janeiro e em Portugal, buscando € jevantando dados de base, para poder construir o edificio trabalhoso de uma obra sobre a “HistGria da infincia abandonada” que ora estamos coneluindo € que constari de dois volumes. 1 MARCILIO. M. L. Abaedone Chien in Bra: Infaot morality rte i town Corso. tne Seminar on "Child cnd Infant Mornay in the Past, Intemanional Union for the Scenific Stay on Population. Commitee or Histodcat Demierahy: Mortsa, Canad, 1992.12 p (Mimeo) 33 __ Ele prea da prtnioinetoacional Soh Quero deixar aqui rada mit nd "eked maha imensa grado 2% mo eves, Finances — FINED, FAPESP, CMG 20 RoSOe zgcnhcim, que to jusiicadamente me envadecca > cane de sino, © pesauiaders do CEDHAL (ue inga abandonada na Histéria mereceu 0 ‘Simon Guggenheim. As rodas de expostos: origens AS rodas de expostos tiv. a ‘POStOS tiveram origem na dade Média e na Elas sur de caridade, no século XII, sociedades de socorros mituos, Misericérdia (enunciadas no sée © sete materiais Uma dessas confraras, Peller, sul da Franga (entce Junto a0 Hospital, para assis doentes © 208 exposios 8 do Santo Espirito nas M jceu em Mont- 1160 © 1170) fundada pelo frei Guy, ’encia aos pobres, aos peregrinos, 20s 2. Biss Opera Peratis ea wei am umeradas na poca sob forea de dos vemos Viio-pocib edie wtegolioconde Consul carpedace-tlare-emiteferam frei Guy seu Mestre Magister commendator (cabega da ordem). Nascia assim 0 primeiro hospital destinado a acolher as criangas ‘abandonadas e assisti-las. Nele foi organizado um sistema institucional de protesdo & crianga exposta que logo seria copiado nas principais cidades italianas e em toda a Europa. Séculos depois seria exportado para outros continentes. No Hospital de Roma, que recebia pobres, peregrinos doentes €¢ leprosos, entravam os expostos, através. de uma “roda", com um pequeno colchio, onde se depositavam os bebés, estando rigorosamente vedada a busca de informazées sobre o expositor. © nome da roda provém do dispositivo onde se colocayam os bebés que se queriam abindonar. Sua forma cilindrica, dividida ao meio por uma diviséria, era fixada no muro ou na janela da instituigo, No tabuleiro inferior € em sua abertura externa, 0 expositor depositava a criancinha que enjeitava. A seguir, ele girava a roda a crianga jé estava do outro lado do muro, Puxava-se uma cordinha com uma sineta, para avisar a vigilante ou rodeira que um bebé acabava de ser abandonalo eo expositor furtivamente retirava-se do local, sem ser identifiado. A origem desses cilindros rotat6rios de madeira vinka dos trios ou vestibulos de mosteiros € de conventos medievais, usados entio como meio de se enviar objetos, alimentos e mensagens aos seus residentes. Rodava-se 0 cilindro e as mercadorias iam para 0 interior da casa, sem que os internos vissem quem as deixara. A finalidade era a de se evitar todo contato dos religiosos enclausurados ‘com © mundo exterior, garantindo-Ihes a vida contemplativa escolhida, Como os mosteiros medievais recebiam criangas doadas por seus pais, para o servigo de Deus — os chamados oblatos —, ‘muitos pais que queriam abandonar um filho utilizaram a rode dos rmosteiros para nela defositarem bebé. Esperavam eles que 0 Pequeno nio s6 teria os cuidados dos monges, como seria batizado € poderia receber uma educagio aprimorada (como no caso do ‘oblato)> Desse uso indevido das rodas dos mosteiros, surgiria o uso da oda para receber os expostos, fixada nos muros dos hospitais que 3. BIOSWELL, J, incisi en seu telo livro um vato e documenta estdo sobre 1 Oblation, insiugda de dcop de flor pele pis ao senigo dos mosis, durante 2 dade Mesa, 5s foram. sendo criados Sonam send = aati séculos XI e XII, para A Confraria do Santo Espirito chegou icando- Ss Es ‘em Portugal dedi desde das obras piedosas: acolher raat soma doers, dstibuir sop ema. Soents, ot prisons, cuidar dos exposon ans OF MONON, Mae Sones, 7m Portugal, foram criadas mediante os eats a = 8s confrarias € as corporagées de oficios. A aco ned ise Em_1273, a rainha D, Beat “Sposa 2 12 ». Beatriz, ¢: de D, Sanaa. com a dramética situagio dos bebés érfdos oe € sem batsmo. fundow o-Hospital dos meninos érftor 4 ana eek na rua da Porta de S. Vicente da ere ca a filet mts ene jo sustento, na juventude. nee Uma segunda casa para. Santa a as des Tnecenes de Santarém — surgi oe a ats D, label mulher de D. Dinis. Pouc MPO eae tanh riya em Coimbra Real Cas ds Expos). o scl XIL Esa conf ft fommada por homens daa ite rimento de toda orem. Dest primeio nico surgi, em 1498, Por obra frei Miguel de Contreras, confessor da rainha e apoiada seu primeiro compromisso Afonso Il de. fic6rdia. Redigido pelo frei Contreras inclufa © amparo & crianga exposia, 4. ALVIM, Mt Helena V. Be e exposoe poreguesen Revi de Haan aa ‘Univerage de Lisboa. 1984, 1: 147-166 Em tomo dos exposos. As duas primeine case RIBEIRO, Vitor. A Sant Cata de Mierke Sis) W988, Lito, Asuna Rl Ge Scena Lea pas AS 56 Por sua vez, em Lisboa mesmo ¢ desde 1492, existia 0 Hospital de Todos os Santos, orginizado segundo o modelo de hospitais de Florenga, Itia, que stendiam também os expostos. Jim, no inicio do século XVI havia em Lisbos duas grandes, instiuigées de assisténcia 20s pequenos abandonados: a. Irmandade ie Misericérdia eo Hospital de Todos 0s Santos, ao lado de outras pequeninas instuigdes remanescentes da época medieval ¢ que Togo esapareceram, CConflitos surgiram entre as duas shaiores insttuigbes de Lisboa, esse mesmo século, cala uma reivindicando 0 monopélio da as- Ssténcia aos pequenos desamparados. Para acabar com o problema e’Sstruturar melhor a asistencia aos expostos, D. Manuel decretou (1543) que @ Confraria éa Misericérdia se incumbisse dos expostos que estavam a cargo do Hospital Real de Todos os Santos. A partir Ge entio, a Santa Casa de Misericérdia de Lisboa passou a incorporar fem seus compromissos a assisténcia 2 infincia abandonada ¢ a fnstitucionalizar esse servigo, dentro da melhor forma da assisténcia caritativa ‘A Cimara municipal deveria arear com a parte substantiva da assistncia através de um subsfdio anual, Este foi outro ponto de Constante atrito, entre 2 Santa Casa ¢ a Cimara de Lisboa. Em 1635, Filipe TIT deu um ultimato & Cimara: ou esta assumia intei- ramente a responsabilidide sobre todos os expostos de Lisbos, ov Geveria auxifiar a Sana Casa com a ajuda anual de 6895360. A ‘Camara finalmente acabou por aczitar estes citimos termos em 1637 Em 1657 uma casa de expostos foi fundada em Lisboa, para assistt aos expostos deixados na roda.* Essa sistemética foi seguida por outras Misericérdias do Reino. ‘A tradigo_passou para o Brasil quando, no. século. XVII, $e reivindieou & coroa a permissio_ de se estabelecer. uma primeira sods de expostos na cidade de Salvador da Bahia, junto,d sua MisericOrdia, € nos moldes daquela de Lisboa. Inicialmente foram feitas presses para que a Santa Casa dt Bahia aceitasse estabelecer uma roda de expostos. Estas presses iniciaram-se com 0 govemador Dom Joio de Lancastre (1694-1702) e continuaram, anos depois, com 0 vice-rei Vasco Fernandes Cezar 6 RUSSEL.WOOD. A.J. R.Fidaleor end Philmthropisn, The Santa Casa de Misecontiaof Bahia. 1SSD175S. Berkeley, University of Califoria Pres, 1968, 27 37 de Menezes. As aul fades estavam preocupadas com o crescente, fendmeno do abandono de bebés pela cidade de Salvador. O objetivo + era o de “evitar-se 0 horror ¢ deshumanidade que entio praticavao. ‘com alguns recem-nascidos, as ingratas e desamorozas mies, desas. sistindo-os de si, € considerando-as a expor as criangas em varios lugares imundos com a sombra da noite, e de quando amanhecia 0 dia se achavéo mortas, ¢ algumas devoradas pelos cies ¢ outros animais, com laztimoso sentimento da piedade catholica, por se Perderem aquelas almas pela falta do Sacramento do baptismo”, conforme se Ié ngs atas da Mesa da Santa Casa, quando se rememorava a hist6ria da roda em 1844.7 Para convencer 0 rei a dar st roda da Bahia, 0 vice-rei argument 1726: “Como a constituigdo do clima conduz muito para a liberdade, no faltam ociosos que se aproveitam dela, para continuarem na Fepetigio dos vicios; destes procede haver tal numero de eriangas expostas, que sem piedade as langam nas ruas, e muitas em partes, donde a voracidade dos animais as consome”. E afirmava que pedi 20 Provedor da Miseric6rdia que “erigisse uma roda, que era 0 | Unico meio por que se podia evitar tanta impiedade”, A Santa Casa acabou aceitando a incumbéncia desde que 0 rei “concorresse com alj gua esmola anu de sua finde ¢ com © rudinerao eum gong A fod de Salvador fe sbera endo em 1725, 20 pda ponaa do secolhimento ds menins, © 0 re semibieae om oan da Santa Case som euros pa sender os expeton cadence em 1731 ui “subsidoanaul de 4008000m par 9 Oeee Senne evans, endo. 2005000 pags pelo rennet Ge ges 200$000rs pela Fazenda Piblica”? | Se | | ua permiss3o para a abertura da tava em carta a ele dirigida em foi instalada a segunda roda de, -expostos do Brasil, em 1738, Com 0 aumento da exposigdo de criangas pelas ruas © casas de familia, e as mesmas dificuldades materiais da Cimara para 7. Arsuivo da Sania Casa da Misericsetia de Salvador. At da Mesa da §. Coss | Misericontia da Babia de 21-7-1884, Lio. 1834-186. et AC Late 8. Arquivo Histéico Utramariao de Lisboa. Csia 34 (nfo caslogais), 1726. Ms 2. DAMAZIO, Antonin Joaquim. Tondument» dos bens inmoves da Sanaa Cant (tt Misericorda de Bahia em 1862. Bahia. Typogrphia de Camilo, 1865, 0. 38 rviava petigo tas, 0 govemador Antonio Paes de Sande enviava pe erases anos fn do sclo XV, sliced poviencs Spt oy ats devumanos de se abandons’ crags pl rss, onde corms comidas por edes, moras de frio, fome ¢ sede. 9 monaca eRpondia-Ihe favoravelmente atendendo as suas argumentages 5 wesPoneinlpiedade que ackase nesta Capitania com as creangas Splints achando- mus, maras ao_desmpar, sem que Siberia nem ofa Clas 0 ue echr ieno no teem fendas para os mandar erat”. orderava a0 Conselho 4 Camara que tinue de seus roveios 0 recess pira esse igo. Cartas enérgicas do rei eteravam & Cara que cumprisse Sin Cogn e deve de ard exposts Ex fo ha reeaon wueria onerar 0 povo com novos tributos, Bees ao gover. "Por eres repetdas de S. Magesace ¢ Srpresa dpoign da li, deve exe Senao lngar fia ao Fove ara cri. dos exposts, que por ndo aver com que alimentem tse pague & quer 0s cre svcede langarem-nos a0 desimparo pelas se tem visto © examinado..”"" Be Wes final, o_govermador compadecido com a. sont. dos, abandons fever ros de expose dia pea Santa Casa de Misericérdia, na_cidade do, Re de ae a, Dols filantropos concorreram com legados para viabilizar a obra Remit de Mattos Duarte (mio da Miseicdrdia), natural da feguesia de S. Romio de Carvaloss, em Portugal, que ofereceu 2 quanta, de 32:0005000 cruzados em “sinkeiro de contado” © Taracio da Sila Medelia que “fez, esmola, dvgio © traspasso na ima 24 reis”.!2 De 1738, quando foi. impl a Tcpndsnis dpa roa. de poss 60 RO. de Janeiro recebera 8.713 criangas,”? Es © Semado da Camara do Rio de Janeiro, por orem express Ja rainha D. Maria I (1778), passou a conribuir com a quanta ase dpe com on exons do Mise Joe Vii A Rota (iss expen athe? Cooper Brain, UXXV, 1903" 153181 (160 th pk Ratt ne, 3. ed. Rio de Janeiro, 13, ZARUR, Das. Edad Romo de Maus Duar 3 vom 99 59 ea ree ei toda do perodo colonial fo insaada na (1/05/1789), ia do Recife, em finais do stevlo XVIII Foi o governador de Pernambu: _ smambuco, Thomaz Jozé de ~ Sees so esis: Fi ett tc 8s Si cx , conseguindo a aprovagio de seu plat ‘meio S.Setcnemee seers ten Pees Com a Independéncis arts Oat 2 inependéncia do Brasil cominuaram a funcionar as Ja mesma forma vigiram ainda as Ordenagdes Filipinas, pelas quais toda a as: eae sisténcia aos expostos era obrigago sepa on tn ener: Cote ve pas ale 68 chan Let dv Manin "pr cade so re ‘eximir algumas car 5 ia © roda © atsnéacn oes enjtados que rece. Reta pcs 3 {Acta Lepdaa prove © mi man Cara rm entraria com um subsidio li alho da Misericoria, era com um sbi par aie, © ual Mision Mins cloaao esta ego Ena, Poe im, o gue eaiaiyo asic par inure sf en zena delas em algumas poucas capit it ) eidades 1 Angina Htc Uewarco sina VENANCIO, Remo P Cant Reda iin hsiceaeo Brel inion hace lf a Bel VIF — (Cov — xD sce Pars, Univer Pav, 1993, Tee de door 1S. Colegio das Leis dong see St a de pti do Bal de 1K. Fre 1. Ria 6 nn or razbes difceis de expliar, a taxa de exposido de ol ania a cidade de $i0 Paulo, no inicio do steulo XIX; oO mais ms tas do Brasil, Ene 1741 a 1843, contamos 3.488 batizados elevmpostos na cidade de Sio Paulo, numa proporsio 159% de todos os nascimentos livres do perfodo.'¢ Sensibilzado por esta relidade, 0 goverador da Capitania ¢ Sto Pealo, Antonio Manuel de Mello Castro © Mendongt, 2 8S Moméria escrita em 1800, lamentava que “nenhume providéncia se Memini a respito dos merinos expostos”. E essa falta PETS verncias, ponderava, “he causa dé muitos infantcidios, ae cordina- Meiers scomacer, mas tambem de ficar a sociedad wives to Tamer Ihe rezultaria de os fazer educar, sendo mun pened: Co Moe os méos tats dos pariculares a cujas ports $0 langados deixa ave oe eivindicava a0 rei a permissto da abertura de om roda Wer ma casa de expostos, nos moldes da de Lisboa, qos, ER foodera ser instalada na Fazenda de Santana que for dos Jesutas."” Teual petigdo foi renovada pela esposa de out sgovernador geral da captania paulsta, D. Laisa Catarina 2st Horta, para Berra de ume, roda ¢ casa de expostos em Sio Pail. 2 fim 2 aoe do mimo elevado de crangas enjetadas na cidade " ‘Mas a roda ainda ndo seria autorizada. tin 1821, a Camara da Cidade de Sto Paulo parcia interessaga cem instal rapidamente uma roda. Escrevia ao sargenio- not pedindo Sano para estabelecta: “exigimos de Vossa Mere jim plano em Fe nos proporha o modo mais facil de se consegut & ‘organisar aoe i enabelecimento cuj institute, nfo tendo ainda sido praticado wa ovinca,esperamos das les, caridade ¢patriotsme 9° Voss Mercé o desempente..." Mas o Hospital de Caridade e a roda de expostos de. Sip. Paulo 26 foram implantados em 1825, na chicara dos inpeses 09 Te MARCILIO, Msc La Vile dS Pol: peaplemet pation 722) oe RC es de Roe, 16, ps. Vr eam om CO Roun, Ans men Popo. 701880, S80 Pas PoevEDUSP, isn. 1 MENDONCA, AM de M. C.« Menta econtmio ea Sat eee aus de Aer Polina, XV, 196 B20, PRS aA Tie Laem A Smet Cot de Marca te Sie Pre CDSEO ‘uo Pasi, Cowselho Estalual de CoBur, 1975. p17 1D. arauivo Pili do Esato de Sio Paulo, Rego ot cera Hs HL Largo da Gléria, em instalagbes acanhadas © pouco satsfatriss, A ‘imara Municipal de Sé0 Paulo relutou em contribuir com as despesas da casa como era seu dever. Com a regulamentagio do Conselho provincial ficou determinado que uma oitava parte das rendas da Camara deveria ser enviada & casa da roda A Cimare pagou esse substdio apenas nos anos de 1827, 28 e 29. Com a Lei dos Municfpios de 1828, a Camara parou de pagar sua quota a partir de 1830. Essa mesma lei foi feita também para incentivar a iniciativa particular a assumir a tarefa de criar as criangas abendonadas, liberando as municigalidades deste servigo. Com base nela surgiram, dentro de novo espfrito filantrépico e utilitaista, algumas rodas de expostos. Quase todas essas foram de diminutas dimensbes ¢ de precérias condigées para assist os pobres pequenos enjeitados. ‘A primeira provincia a entrar nessa nova sistemitica foi 2 do Rio Grande do Sul, que desde logo criou trés rodas de expostos. ‘A primeira foi a de Porto Alegre. A Cimara local, pouco depois de promulgada a Lei dos Municfpios, tentou passar aassisténcia ‘205 expostos para a MisericSrdia, que nio aceitou. ‘A Assembléia Provincial terminou com a disputa entre as duas instituigSes e, pelo decreto provincial de 21/11/1837, imps 0 encargo dos expostos & Santa Casa, criando af a casa dos expostos. “Num dos muros abriram um buraco, colocaram do lado de dentro a Roda de madeira, em forma de tambor, com uma pequena abertura que girava em torno do eixo”® A infincia desamparada da capital ‘gaticha encontrou, pela primeira vez, uma solugdo asilar de assisténcia. (0 exemplo éa capital frutificou no interior da provincia s A Assembléia Provincial imps a abertura de roda € casa de expostos nas cidades do Rio Grande (1838) e de Pelotas (1849). Ambas foram de pequena dimensio. A de Rio Grande, por exemplo, entre janeiro de 1839 e junho de 1858 recebeu apenas 125 expostos na roda: 64 meninos ¢ 61 meninas2" A roda de Pelotas, menor das 20, FLORES, Mossy A Casa dos expos. Estudos tberoamericanas (Poo ‘Avegay, HG) See, 1905: 42-9, pl, Vor também GERTZE. forma Infincia em ‘Perks auinéncla a @angas sbindcnadas em Porto Alege: 1817-180. Por Ale, PUC. 1990. Disserapto de mesrato “21. Reladeio de Presidente de Provacia do Rio Grande do Sul 1858, p58. 62 fundagdo em 1849 aé jonho de 1858, recebeu 48 ets, deste 80 oe abertura de tncins 2 te de 1828 provocou 2 sm ours province ® af insalada ma cats de 1840. hin et deavse a reecber OF EHD0HO8, i Jeite € prover seus salérios. Quando OS rea da fate de amameasio, ma a ecies, sles, evn ot d jor, Parece que esta roda teve existén al Sadr Pec ee ole ee NS ra Mie “ pars Merges dam de me de 1870. E Jo foi aberta uma segunda roda, na ‘também em Pernambuco fo ma sept le Token om ace oles _ cite de Olt. Sr oa de set oe On aaa cidade, os quais pela roder a ns i, cole. io ns FOR cain es cqulnments eens ar a TES) SE ode nr toni cls eas caro TS ee om pe 1870 existiam 271, eriangas a Camara subve oer = yaa rota de egos, ci Se clita iors : on aa ode 8. nesa ci a man Desens ue ca A do Ser Bom Jt Open eas) to : wados em 1840. Por ‘ele a Irmandade compre sprovados emo sesveo « exitade, como hos 8 wna tna com ead por set Mordome ot SPO TE fen yr we a ua aed rns go a So peas fae tn om, Com sn i ge fam manda arm os, agencies dos, ov maint PS novedo tt mines grande. Em fa roda com. ‘2, Mem, idem. 2 em esd de Prov de Pemambun, THE IS do Pin de Janets. 1870, 9.20- 4 Frevncin de Santa Caring 1854 pL 3 ‘Subsidiada insuficientemente com verbas provinciais de 1:200Srs anuais, em 1839, 16 N08 i i s '839, conforme nos informa o relatério de Presidente cura também. Uma pequena roda de expostos sur i : da de exposos sug na cidade de Vit do spit Santo, mand pla Miser oeal ene “elonene para « Provincia 6 nara de expose ¢ limiting. Anns 862] nto excede de 6, e ands dees, 4 se hie conn cuidados de familias caridosas”.2 4 Ent Pequena também foi roda cidade de Cuiabd, cada em: Primeros anno, langaram-se alguns innuoentes* ar kos a inocenes” — dain tlato Provincial — “eau, prem, que ignoo fezio Ai mute eaens este teneficiopublco, pos ha mat de 6 annoy nentun eee 'm recebido a Sta Casa”.” No ano de 1839 86 foram deixados ino ¢ dus menina), Depelspasce oe in te mae neha ens embora connate ose andonar meninos recémnascidos “na pots e care te Paniculares", A provedoria gtibua esse fo h Coloacio an rs ‘muito prOxima do Hospital Militar, local muito freqientado & noite 28 Assim, encontramos treze rodas de expos asi Assi las de expostos s ‘riadas no século XVIII (Salvador, Rio de Janeiro, Resilgr snares {nto do Império. (Sto Paulo); todas as demais foram ctadss na reset Lel dos ‘Manicipios que isentava a Cimara da response mia Tal fava a Camara da - ES pals orga tide gue na cidade houvesse uma Sara Casa de Misricéra qe se icumtine dsses peqstns dosae Peaes: Neste caso estveram as rodas de expostos. das cidades, de Olds 1egte Rio. Grande Pelotas (RS), de Cachocira (BA), de, 's (PE); de Campos (RJ), Vitéria (ES), Desterro (SC) ¢ (MT), Estas ito ditimas tiveram vida curta; na décads de 1870 £5885. Pequenas rodas praticamente jé haviam deixado de funcionar” Subsistiram apenas. as. maiores, = de expostos do Mato Grosso, da 833, junto A Misericérdia. “Nos ‘do se deixou mais nenhu 26, Relatéio de Presidente de Pro 27, Relais de 1 Exposto, 28, Relatrio de Presidente de Provincia do Mato Gross, vincia do Espiito Sento, 1862, 5.20. resicenie é2 Provincia do. Mato Grosso, 1878. Annexo Roda 2, p38 6 (© encargo.com.os. expostos era uma tarefa pesada, custosa € dificil para as Santas Casas de Miseric6rdia, Durante a época colonial Gra freqiente que 0 espirito de caridade da populacdo ajudasse a ‘manter essas instituigBes. Homens proprietérios, preocupedos com @ salvagdo de suas almas, deixavam em seus testamentos legados € cesmolas para as Misericérdias, muitos designando-os expressamente para a ajuda na criagio dos expostos, ou para prover dotes as mocinhas desamparadas da casa dos expostos. Com 0 século XIX chega a influéncia da filosofia das luzes, do utiltarismo, da medicina higienista, das novas formas de se exercer a filantropia e do liberalism, diminuindo drasticamente as formas antigas de caridade e solidariedade para com os mais pobres f desvalidos. As Misericérdias ressentiram-se desses novos compor- tamentos, exatamente no momento em que as provincias obrigavam {que prestassem 0 servigo de assisténcia aos expostos. Mesmo que as assembléias provinciais passassem a subsidiar esse trabalho, as verbas dotadas foram sempre muito aquém das necessidades e muitas vezes nem elas chegavam regularmente aos destinatérios. Para contomar as dificuldades que se avolumaram em quase todas as casas de expostos em meados do século passado, ¢ para melhorar a assisténcia aos pequeninos, que por toda parte estava deteriorada, os bispos buscaram. uma_solugio..Com 0 apoio dos ‘governos provinciais, foram trazidas da Franca as irmis de caridade de So José de Chamberry ¢ mais tarde as irmas de caridade de So Vicente de Paula para assumirem a administragio das casas ¢ rodas de expostos de Salvador, do Rio de Janeiro ¢ de outras mais. AS filhas de caridade toraram-se valiosas colaboradoras dos bispos D. Romualdo Seixas da Bahia; D. Luis Antonio dos Santos, no Cearé; D. Cardoso Aires em Pernambuco; D. Pedro Maria de Lacerda, 1no Rio de Janeiro. O sucesso da iniciativa foi tio grande que levou ‘os demais presidentes de Provincia e bispos a adotarem a mesma solugio, Foram trazidas além das irmas vicentinas e de Sao José de Chamberry, as religiosas Dorotéias, as filhas de Santana, as irmis franciscanas da Caridade e da Peniténcia, todas durante 0 segundo reinado® 29, AZZI Riclndo. A tyres € 0 menor a Nstiria soia! rasra. S80 Paul, Poulins; CEHILA, 1992, pot 65 Este € outro aspecto a assinalar no cardter da assisténcia a0 menor a partir dos anos de 1830. Essa vai rapidamente deixando de set uma ago descentralizada e em mios das municipalidades e de confrarias ‘de leigos. As provincias vo sendo forgadas a sub- vencionar essa assisténcia e a contratar os servigos das Santas Casas e/ou das ordens religiosas femininas para cuidar das criangas con- finadas nas casas de expostos. __Em meados do século XIX, seguindo os rumos da Euro “Iiteral que fondava cadaver mas sum Teno. pogresso contin, | na ordem © na ciéncia, comecou forte campanha para a aboligfo da roda dos expostos. Esta passou a ser considerada imoral e contra | 08 interesses do Estado. Aqui no Brasil igualmente iniciou-se mo- vimento para sua extinclo. Ele partiu inicialmente dos médicos ienistas, horrorizados com os altissimos niveis de mortalidade reinantes dentro das casas de expostos. Vidas tteis estavam sendo perdidas para o Estado. Mas 0 movimento insere-se também na onda pela melhoria da raga humana, levantada com base nas teorias ‘evolucionistas, pelos eugenistas Os esforgos para extinguir as rodas no pais tiveram a adesio dos juristas, que comecavam a pensar em novas leis para proteger 1 crianga abandonada e para corrigir a questo social que comegava “2 perturbar a sociedade: a da adolescéncia infratora. Por sua vez os homens de lets apontavam em romances socas @ imoraidace da } l (© movimento contra as rodas de expostos, mais fraco no Brasil do que na Europa, nio foi suficiente para extingui-las no século XIX. As mais importantes sobreviveram no século XX. A do Rio de Janeiro foi fechada em 1938, a de Porto Alegre em 1940, as de Sio Paulo e de Salvador sobreviveram até a década de 1950, sendo & shmas do gEnero existetes nessa época em todo 0 mundo tal As criangas abandonadas As rodas de expostos foram, assim, muito poucas em agmero,. insuficientes para atender & demanda de todas as épocas. Para 30. Como foi 0 exo, por exemplo, de Joaquim Manoel de Macedo. A lunes imipica. 3. el. S30 Paslo, Aca, 1976, p 56-7. 66 ar fram ciadastardamene, apenas no século XVII, mesma ore faere ines. do seulo, XIX, 6 havia roda em ts cidades ‘apitais. Foi, portanto, um fendmeno essencialmente urbano e pontual Nas cidades onde fo houve a assiséncia instueionalizada das piss sram as clmars, por exgencia legal, a8 responsévels Sficas pels eagdo dos expsios Gbrigago que todas viam_ como are cing aca de sss posiblidades materials eorganizacionas Mules sue compriam a leis, alenderam a parcela (ofima das ‘Agtsos abandonadas em espago isico propio. A Cimara da cidade se'sko Paul, por exemplo, at 1850 (periodo que analisamos em sx.to'primeira ho jctado).conforme reistro em varias de suas wee Pftede século XVI, aenia esporadicamente tosomente a 3a Sa Gis expostoe por ano, jagando ireglarmente amas-de-leit pura cries: kao, apesar dos ieus elevades indices de exposigio se ccangas, A justifeatva consate era falta de recurs. A rica Caste fe Ou Preto, no séelo XVII atendeu a apenas 30% 6: Saas expouot, segundo Renato Pinto. Venincio. A. municipalidade seve titres de ouro por ano a amade-tete, conratada para rae dos behés até os tts anos. de. Made, Nos qUMro anes subseqdentes a Camara pagava 16 oitavas anuais a ama de criagio. Ein Sulvador da Bahia, anes da ciao da roda dos enetados, "em 156 anoe a Chiara a6 manteve pero de 50 engeliado, e dava 80s por dia para a sustentagio de cada um, no decurso de 3 anos”. ‘Chala de Marans teve 0 eaidalo de registrar os ¢ Gisenente or anos dé 1776 ¢ 1833, Nesse periodo foram expost Soe i taniar estes, apenas 36 ficaram com as famflias que os encontraram em __assistidos pela Camara? -bandono, por fore, ft sonora, nese podem. fencontrar uma alma caridosa que os recolhesse dos caminhos, “de igrejas ov de casas, pragas piblicas ou até em ee ‘Vérios so os testemunhos deixsdos que comprovam estas afirmag0es. 31. DAMAZIO, Antonio Joaquim, Tombamento dar bens immones x Santa Casa de Miercordia da Baba om 1869 organiador. senda depois proved, 0 lmBo Mantel Jae de Figeiedo Leite. Baha, Typogaphia de Camillo, 1865. 132, Anpivo de Cimara de Marina, MG. Livro de Matscula de Expostos. Cod 181-157-340858. Ms 0 ‘Além dos j& mencionados nfo queremos deixar de reproduzir 0 do govemador da Capitania de-Si0 Paulo, em 1803, Antonio Joze da Franca e Horta. Escrevia este governador ao vice-tei sobre a “precizio 4g, hd de Caza para os Expostos: so muitos os infeliz {sic}, € muitos 0s q. na Cidade de Sam Paulo, e em Santos se encontrio dislacerados por Animaes, quando de noite expostos sem Cautelas nas Portaras Gas Commonidades, outros semi vivos em dezamparo na rua, € s6 remidos por alguma mio benefica q. 0s encom”... |AS criangas que eram encontradas ¢ que néo recebiam @ protesio devida pela CAmara ou pela roda dos expostos acdbavam sendo acolhidas em familias que as eriavam por dever de caridade ‘ou por compaixzo. A pritica de criar filhos alheios sempre, ¢ em todos 0s tempos, foi amplamente difundida e aceita no Brasil. Sio inclusive raras as familias brasileiras que, mesmo antes de existir o estatuto da adogio, no possufam um filho de criagdo em seu seio. Carlos Bacellar fez um estudo original, buscando analisar as criangas expostas da Vila de Sorocaba, Sio Paulo (séculos XVITI € XIX), por intermédio das familias dessa comunidade cuja_ historia reconstituiu, Nessa vila nfo houve roda de expostos ¢ 2 Camara, segundo o autor, foi sempre negligente com sua obrigagio de cuidar dos expostos. estas condigées, 05 expostos da Vila de Sorocaba — como ocorrey na quase totalidade dos municipios brasileiros — foram assistidos por familias que os “adotaram”. A maioria deles (80%) foi acolhida por familias da rea rural. Além disso, um tergo dos expostos foi criado por domicflios chefiados por mulheres, em sua maioria vidvas. Outto fato que chama atengo: 0 expositor buscava de preferéncia domicilios chefiados por homens mais velhos. Na €poca do abandono do bebé, os chefes da familia receptora tinham fem média 47,8 anos, ¢ as mulheres chefes de familias 44,5 anos. Dos 313 domicflios de Sorocaba que receberam expostos, Bacellar constatou que apenas 18 deles possufam chefes com idades inferiores a 24 anos. Nao se buscava apenas as familias ricas para se deixar um bebe em sua porta Abandonava-se o filho em casas de senhores 38, Documentos inressintes para a Kisiia ¢ enstanes de Sdo Paslo. 1894. io Paulo, Arquivo do Estado de S80 Paulo. 1980. pl 6 de engenho, € bem yerdade, mas também em casas de humildes o eivos, costureira, fiandeiras, e mesmo de prosttutas ¢ menitigos. Be "testo 88.4% dos expostos de Sorocaba foram deixados em casts Me familias que ndo possufam um Gnico escravo. Eram pobres pois, ee trando serem elas as mais sensfveis no acolhimento dos. pobres “pandonados e ainda mais, que viam nesse ato um dever cristio, fuma forma de praticar a caridace.™ ‘As criangas expostas em casas de familias muitas vezes eram recenseadas, nas listas de habitantes de finais do século XVIII e Feinepios do XIX junto com a lista dos Filhos legtimos da fara, ran gistingdo. Isto pode mostrar que, nestes casos, a familia os favia incorporado como filhos. Este fato era recorrente entre 0s aveiros e sivanies pobres, que praticamente nenhuma preocupagao Gaham com a wransmisséo de propriedades. A heranga sempre foi anne para a aceitagao os expostos (¢ dos filhos naturais) coino fihos pelas familias. Esti na esséncia do sistema dominante No entanio, familis estéeis ou que $6 puderam ter um ov dois filhos, aeabavam “adotando" uma crianga abandonada. E bem Verdade que nem as Ordenagses do Reino, nem a legislagio brasileira Saterior 20 primeiro Cédigo Civil (1916) inctuiu 0 estate da adosdo. Mesmo assim, essas familias utilizaram a prética da adogdo € Gefiniram mesmo, como descobriu Bacellar, em Sorocaba, o termo fo Direito Romano, para os filhos que “adotaram”. Foi o caso do Giferes Francisco de Almeida Paes, rico proprietério sorocabano, que ieve uma Gniea filha Andreza em 1774. Por isso, acabou adotando ecieradamente cerca de quatro éxpostos. Seriam mesmo criangas expostas, pergunto, ov fihos adulterinos do alferes? Nao hé mancira Ge saber, Mas houve outros casos encontrados, no dificil garimpo de Bacellar, como 0 do casal Joo Nunes Maciel, que ndo pode ter filhos e que “adotou” trés exposios, entre 1755 © 1765. [Em que proporgdo entravam os expostos no conjunto da po- pulagdo? Seria a exposiglo de bebés Fendmeno periférico ou dominante na vida social brasileira? ara responder a estas perguntas, jd possufmos hoje um conjunto de pesquisas de Demografia Hist6rica, notadamente aquelas feitas 44 BACELLAR, Carlos de Almeida Prado, Faria ¢ sociiade em wrm economia Ge soaiccinens emo (Serocba, séclos XVIII € XDO, Sfo Paulo, FFLCH-USP 19st, Tee Ge Couorado, cap 7 8 35.1, id, 9333-4 ‘com base nos registros paroquiais de batizados, permit izados, que nos permitem aquilatar a extensio da prética da exposigio de bebés em nossa historia. Infelizmente, e em parte devido & imposigdo das fontes, essas pesquisas restringem-se ao periodo em torno de 1750 e 1850, ‘Vejamos alguns destes resultados, listados por Venincio e por nds, Proporgio de expostos nos nascimentos d ‘tang li Paréquias brasileiras®* 7 ee ee Paréguias Periode % de Export Se 4 Rio de Janeiro 1745-1746 211 el sacaepagud — Rd 1760-1799 30 Pilar Vila Rica — NG 168-1783, 102 [sé S.Pasto 1741-1835 159) Ns — sp 1805-1864 28 Sto. Amaro — SP 1760-1808, 93 ii Utawba — SP 1785-1830, 06 [Sorcata — $P 761-1770 32 [kaa curiita PR 1770-1829 2 AS var ai iam apenas de cidade para cidade, mz igualmente entre as deas ur Em Ubatuba, por exemplo, vila predominantemente constituida de pequenas rocas de subsisténcia, sifciimente © caigara abandonava seus filhos. Vai af também, com toda certeza, fort influéncia do indio nessa populagdo de mamelucen pois aquele nunca expunha seus bebés. Parsquias urbanas como 2 Sé de So Paulo, ou as centrais S€ ou Sio José da cidade do Rio de Janeiro apresentavam as maiores taxas de abandono de criangas E.notese ue nde fora.a roda de expostos que estimulou a exposi¢do. de filhos nessas cidades, pois no caso de Sio Paulo o fendmeno jf. i era de alta freqiéncia, bem ante: de a instalada '0 perfodo de 1741 a 1755, os expostos representaram 14,8% dos 36. Ver MARCILD M. Le VENANCIO. RP. cng os sande «pis toma ua pie. Ss VI © I Bei WOODS, Noe reo the steeple opiion i eal ines oa eo ie ‘CIDH, 1990: $09-519 onde estio aroladas todas as fontes Pa Sorcha ca LAR, C. A. P. op. cit. p2ai. wap oe = rnascimentes livres; entre 1771 € 1785, elevou-se para 21,49; n0 perfodo anterior & criagio da roda, entre 1801 e 1815, essa freqiéncia vera de 15,64%37 De resto, foram estas minhas descobertas. éas celevadas taxas de exposigio de criangas, numa vila pobre como era So Paulo na época, que muito me impressionou na época € que me levou, anos mais tarde, a conceber 0 projeto interdisciplinar sobre a historia social da crianca brasileira, ‘As vatiagdes fortes do fendmeno de abandono de criangas no Brasil nio foram apenas regionais, mas se mostraram também ‘20 longo do tempo. Pelos estudos existentes, podemos avangar, de forma ainda preliminar, que, embora presente em toda nossa Historia © mesmo apresentando faxas elevadas em alguns pontos, a exposicio de bebés nunca chegou aos niveis brutais conhecidos na Europa do séeulo XIX — época da exposi¢io em massa de bebés. O que caracterizou a natalidade geral brasileira foi, isto sim, as elevadas, taxas de ilegitimidade, presentes em praticamente todas as reas € fem todos 0s tempos. Considerando-se apenas 0 segmento livre da populagio, a ilegitimidade em Sio Paulo foi de 23,2% entre 1741 € 1755, conforme nosso estudo sobre a populagio dessa cidade. Ela foi muito mais elevada em Salvador, Recife e Vila Rica de Ouro Preto. Em Salvador, Bahia, na virada do século XVIII, 81,3% das, criangas livres_mulatas e 86,35 das negras que nasciam eram ilegitimas, contra 33% das brancas® As criangas assistidas pelas rodas de expostos, minoritdrias no nas a wi mesmo mesmo no XX, foi no entanto a melhor document considerando-se todos os demais segmentos da populagio infantil Esta insituigdo manteve sempre uma variedade de liveos de registras “individuals das criangas expostas sob sua protego. Na msioria dos fam acompanhados em toda sus vida, registran- 9s 0s importantes momentos de sua vida e da morte, mes individuais, $6 muito recentemente desco- Euro, 1s muliplicasdo de trabalhos sobre a infincia da roda. Analisaremos aqui alguns povcos aspectos da vida das criangas abandonadas’nas rodas. 37, MARCILIO, M. Luiza La Ville de S. Paulo, op. et. pL 38. MATTOSO, Katia Queiroz, Au Nea Monde: une Province d'un Nowe! “Empire: Baha au XIX sie. Pars, Universi de Pais IV, 1986, $v. These Docorat ae vl p09 A roda foi institufda para ‘garantir 0 anonimato do expositor, evitando-se, na auséncia daquela instituiggo e na erenga de todas as épocas, 0 mal maior, que seria 0 aborto € 0 infanticidio, Além disso, « roda poderia servir para defender a honra dss familias cujas filhas teriam engravidado fora do casamento. Alguns autores atuais ‘estfo convencidos de que a roda serviu também de subterfigio para se regular o tamanho das familias, dado que na época nko havia étodos eficazes de controle da natalidade, A crianga depositada na roda, recolhida pela rodeira, era logo batizada. Fazia-se um inventério de todos os eventuais pertences que trazia consigo, ipscrevia-se no livro de entrada dos expostos cada uuma dis pegas do vestuério e objetos que vestia ou foram colocados Juntos a si, mesmo sendo apenas farrapos. Transcreviam-se os bilhetes ‘ou escritinhos que eventualmente 0 expositor deixava preso A roupa do bebs, No livro de entradas dos expostos, jd registravam a crianga com seu nome de batismo, e por vezes suas condiges de saide aparentes. A cada crianga reservava-se uma pégina do grande livro de registros de entradas, pois todas as eventualidades de sua vida seriam cronologicamente af inscritas (data-da morte e causa mortis, saidas para casas de amas, para prestar servigos, casamento, eman- cipagio da casa etc.). No batismo buscava-se um nome para 0 exposto. Normalmente ceram eles extraidos do calendério dos santos da Igreja. Mas davam-se omes pouco usuais na sociedade de entio, inspirados em nomes latinos do império romano ou da Grécia antiga. Nos primeiros anos deste século jd surgiam nomes fantasiosos e fora do comum:; Dulcinéii Tronildes, Giselia, Derivaido, Afra, Florisvaldo etc. Foram poucos 0s casos de roda de expostos que tiveram ccondiges de asilo para os expostos. Buscava a rodeira colocar logo © bebé recém-chegado em casa de uma ama-de-leite, onde ficaria, fem principio, até a idade dos trés anos. Mas procurava-se estimular ‘a ama a manter para sempre a erianga sob sua guarda. Neste caso, € até a idade dos 7 anos, em alguns casos, e de 12 anos, em outros, @ Santa Casa pagava-lhes um estipéndio pequeno. A partir daf, poder-se-ia explorar 0 trabalho da crianea de forma remunerada, ou apenas em troca de casa e comida, como foi 0 caso mais comum. Eram as amas-de-leite em sua quase totalidade mulheres ex- tremamente pobres, solteiras, ignorantes e residentes nas cidades. Algumas eram mulheres casadas ou escravas. 0 sistema compo sp em tds o ois ade © Gea Sone, Nao for ao o caso de mies fevarr. seus scien ‘roda € logo a seguir oferecem-se como amas-de- leis do i, 6 gue agora ganando para 150. Além disc, dentro rb Ey do Dire Romano, rods cianga eirava depostads m8 de oeitvivse lies no tai, mits senhores manda sab ree ee depotarem seus ios ra roda, depois vem busc-os para sxe emementades com esipeadio e, finda a clo pas, con sr arn as cians, como escravas, Havia muias eres a Tonidncla de pessoas de dentro ds insiwigdo é Frequente ainda era a amedeleite nfo declarar a mone ama Chntga'h Santa Casa continar por algum tempo recebendo Tnu sleo de ama, como fe 0 tebe esvese vivo Si a aa ret oe ace a Ore Tek ee ates CS ca 5a oe A cee ea ae er ea hase eee ‘mais suave viver de latrocinios do que de seu suor” 9 a ara lal ica ears ee i ee a ee ne Sn ee See ee sore © endo em que 3 39. RENDON, José de Aroushe de Toledo. Refleses sab cha a agrialtura nt Capon de Sip Psa. Dl, vO, #8: 199201 B Siolizases. dos pequenos. desvalidos, dentro de dura disciplina. A construgdo de embarcagdes exigia a presenga de trabalhadores diversos, especializados ou nio especializados. Daf instalarem oficinas Para 0s expostos se iniciarem em oficios de marceneiro, calafate, fereiro, tanoeiro, pedreiro, tecelio © outros mais, No estaeiro a crianga vivia 20 lado de presos, escravos e degredados, Sua alimen- taplo era to fraca, & base quase s6 de farinha de mandioca, que acabavam definhando © rmuitas morrendo. No testemunho de um médico do Rio de Janeiro, que observou as criangas do Arsenal da Marinha, a maioria delas “comia terra" e tinha 0 corpo enfraquecigo pelos parasitas intestinais. © menino entrava “robusto, alegre, brin. cador, ¢ bem nutrido e comegava a definhar, emagrecer, tornar-se liste, melancolico e adquirir uma cér pilida, macilenta, terosa, ‘amarelada.. era a tuberculose que se aproximava’.© Veniincio contou 17 cidades brasileiras onde havia Com i ‘A menina, devido & preservago da honra e castidade, era alvo de maiores preocupagdes pela Santa Casa. Para elas foram criadas Junto as maiores Misericérdias um Recolhimento de meninas érf%s € desvalidas que estiveram sempre muito ligadas as casas de expostos Em alguimas cidades buscou-se ainda outras alterativas. Em ‘Salvador foi criada em fins do século XVIII (1799) a Casa Pia ¢ ‘Semindrio de Sio Joaquim, para “cuidar na sustentagio e ensino de ‘meninos orphios ¢ desvalidos, afim de que, convenientemente edu- cados, € com profissdes honestas venham depois a ser uteis a si ¢ A aso, que muito lucra com seus bons costumes e trabalho"... ‘Seus fins estavam mesclados da moral’ cristi da caridade e da filantropia utilitarista, do bom aproveitamento do individuo para ‘aumentar a riqueza da nagio, Durante todo 0 século XIX procurou- se uma parceria entre 0 Governo Provincial da Bahia e sua Casa Pia de So Joaquim, no 40. MARINHO, D. Reflestes sobre a tuberuose do mesenério nox meninos do AAnenal Anaatt de Medicina Bras, 1 (8), 1848, p.1920, Apud: VENANCIO. R. Infincia sem desina: 0 abandono de erangas 90 Ri de Ianero no téulo XVII Sto Paulo, FFLCHLUSP. 1988. Disenacio de mestado 4 VENANCIO, RP. Les intitons d'asitance aux enfans abandonnés a0 Bedi XVIIF € XIX sels. Cuber cu Br! Contemporcin (Pais). 19. 9.26, IS, 42. Coleplo das Les do Impée 1831, Actos do Poder Executv, pI 5 nn 7 ne sa Se oe Posing profissionalizante, aulas de aisica e de deseaho,¢ aprendiam eect fe aie aie ase rot ee on pas a Sn a ae ea permaneceram e 0 fiei Caetano Brandio pide fundé-lo em 10 de PE ae ect ut BM ‘Almeida Carvalho. Foi oe. ering eo s foe age cher n= omit Ae fone ec ns ca Sa a eae ree ‘inimeras instituig6es 4 oe en saan rere rss anaseereen te fe ace sce as ats ep ee eta Estamos ento nos inicios da nova fase assistencialista filan- twépica, que foi preponderante entre nds até bem recentemente, nos nants insite ng Maret te a ae sor emcee it ec rae oe Serene ones SSS en cena oe cance area Seca aMena es mst ieee waco Pan See Pa a pan ae cam. sa eee toes 9 ne go re Ua ie SS ede Stim 6 ‘anos de 1960. Houve gradualmente a substi Ou a convivéncia pactfica em muitos outr ‘A faridade, confrontada com uma nova realidade econdmica ¢ rocial, foi absorvendo objetivos e titicas da filantopia cone 6 nbrevensiio das desordens” por exemplo; a filantropia yor som vez, no abandonou inteiramente os preceitos religiosos, Além disso, ordens orfanatos por toda parte. Os s oO ituigdo, em alguns casos, , da £6 © da cigncia. juttes de imigrantes europeus, como o Orphanato Chinwinn oe 'ombo, em So Paulo outro em Vila Pridente Neste infio de século, a maioria das pequenas rodas de expostos if havia desaparecido, Subsistiam no entanto a5 melo ae Slo Paulo, Salvador, Porto Alegre e Rio de Janeiro da caridade. Nesses termos, a ‘organizar a assisténcia dentro das ncias sociais, politcas econdmicas e morais, que nascen om 0 inicio do século’ XX no Brasil Associagbes filantrSpicas foram sendo criadas, notadamente a Seen gtnos de 1930, para amparo e assistincia a infincs Ceuginbarada. Uma dels, de grande aglo, foi a Liga das Sonne . Particular © publica, imperava, 6 a partir dos anos de 1960, houve funda mudanga de modelo € Ge orientagio na assisténcia a infincia abandonada, Comegava a fase do Estado do Bem-Esiar. com a ctiagio da FUNABEN (1964), Giga da instalagio, em varios estados, das FEBEMs, Com 5 Sotstitigdo Cidadé de 1988, inseriam-se em nossa, secede os Rireits Intemacionais da Crianga, proclamados pela ONU wan coc 1500752, Como Estanno da Crianga © do Adulesceme (EGAN oe sobre 9’ LOAS (1993), 0 Estado assume enfim sua responsabilizade fobre a assisténcia 2 inflncia € & adolesctncia desvatdos @ cons fomamse sujeitos de Direito, pela primeira vez na Histéria, 16 A cidade de menores: uma utopia dos anos 30 Marisa Corréa A Itilia nfo € longe daqui aerate tit ‘sta: professor na fundador do Laboratétio de Antropologia Criminal e obec prémio Lombroso de 1933. A conferéncia, que saiu no volu a in erates Erp shar tncaivan, Gu Frege, x Dégioa dh ve ae ala, também pide apciar de pono campasta 4 leer em tne cen A wloba wee ms Coes n

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