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O conceito de desenvolvimento econômico não é único e está associado às perspectivas

teórico-ideológicas de seus formuladores. A perspectiva positivista, ligada ao


mainstream, parte de uma abordagem mais restritiva limitando a análise a um aspecto
meramente econômico de determinação de preços, taxas e quantidades.

Essa definição pode levar a uma confusão entre os conceitos de desenvolvimento e


crescimento econômico, embora eles não sejam sinônimos. O crescimento está associado
a um aspecto quantitativo de melhorias na produção ou renda média, enquanto o
desenvolvimento leva em consideração as desigualdades e reestruturações nas atitudes,
instituições políticas e relações de produção decorrentes de um processo de
aperfeiçoamento. Diferentemente, a perspectiva normativa amplia o conceito de
desenvolvimento econômico e passa a abranger também as relações sociais,
denominando-o agora de “desenvolvimento socioeconômico”.

Os autores na área de desenvolvimento ainda podem ser enquadrados pela ótica “moral”
ou “não-moral”. A primeira diz respeito àqueles que seguem a linha cepalina ou
prebischiniana colocando o objetivo social como a razão de ser do processo de
desenvolvimento. A concepção de Marx e de Shumpeter podem ser classificadas como
“não-moral” por definirem como desenvolvimento um processo de forte progresso das
forças produtivas e de ampliação da renda per capita mesmo que este leve a uma
deterioração das condições de vida da classe trabalhadora.

Além da imprecisão teórica do conceito de desenvolvimento econômico, as variáveis


sociais são qualitativas e não passíveis de medição direta, fazendo-se necessária uma
mensuração indireta por meio do uso de indicadores quantitativos.

O produto nacional bruto (PNB) per capita é o indicador econômico mais abrangente
por refletir a previsão de bens e serviços e por ter resultados divulgados pela maior parte
dos países membros das Nações Unidas (ONU), entretanto não reflete distribuição de
renda ou bem-estar. Sobre as tentativas de criação de indicadores sociais, praticamente
todas envolveram a construção de números-índices e problemas de aglutinação e
ponderação.
Os economistas clássicos descreveram o desenvolvimento econômico como um processo
de difusão irregular do processo técnico comandado pelos criadores de novas técnicas
que se mantinha devido a salários estáveis, abundância de mão de obra em atividades de
baixa produtividade, acumulação e concentração de renda.

Contudo, a pressão cada vez mais eficaz dos assalariados para aumentar sua participação
no incremento do produto levou as economias capitalistas desenvolvidas, como a
Inglaterra na fase do imperialismo vitoriano e os Estados Unidos durante o século
passado, a um processo denominado homogeneização social. Este conceito não se refere
à uniformização dos padrões de vida, e sim a que membros de uma sociedade satisfazem
de forma apropriada as necessidades de alimentação, vestuário, moradia, acesso à
educação, ao lazer e a um mínimo de bens culturais.
Alternativamente, a teoria do subdesenvolvimento aborda os processos sociais em que
aumentos de produtividade e assimilação de novas técnicas não conduzem à
homogeneização social. Nesses casos, o processo produtivo permanece nos padrões
tradicionais e o aumento de produtividade decorre simplesmente do acesso a um outro
mercado com base na especialização. Mas isso não impedia a chamada “modernização”,
na qual a assimilação do progresso técnico se dava quase exclusivamente no plano do
estilo de vida da sociedade.

No caso dos emirados petroleiros a modernização agravou a concentração de riqueza e


renda e a homogeneização social se deu mediante a ação redistributiva do Estado. O
Japão teve uma industrialização tardia, e concentrou-se em uma maior rapidez na
reestruturação do sistema produtivo com um papel mais amplo do Estado. A China evitou
o processo de modernização para assegurar a homogeneidade social levando
consequentemente a modestos níveis de consumo e a renda per capita comparativamente
baixa. A Coréia do Sul e o Taiwan prezaram pelo social em uma primeira fase, mas
posteriormente o governo buscou ganhar autonomia tecnológica e inserir-se nos setores
mais dinâmicos do comércio internacional. Esses países alcançaram um elevado grau de
homogeneidade social e de crescimento logrando superar a barreira do
subdesenvolvimento ainda que com baixa renda per capita.

Essas experiências nos ensinam que para superar o subdesenvolvimento não se faz
necessário altos níveis de renda per capita, mas sim um processo de homogeneização
social e de criação de um sistema produtivo eficaz e tecnológico via ação dos mercados,
ação orientadora do Estado e exposição à concorrência internacional. Enquanto isso, a
teoria da pobreza relata ser preciso modificar a “distribuição primária da renda”, por
meio de reformas agrária ou do crédito, para romper com a concentração e beneficiar
aqueles em que o único ativo de que dispõem é sua força de trabalho.

Em seu trabalho, Furtado (1992) relata os alguns caminhos que ainda precisam ser
traçados na busca da superação do subdesenvolvimento, dentre eles estão: o processo
de habilitação profissional e de moradia, a inserção da população na atividade política, a
aplicação de recursos na pesquisa científico-tecnológica e um projeto político apoiado na
realidade social.

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