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7.1.1 – Introdução
A proteção do talude de montante contra ondas deve ser implantada, nos casos
comuns, entre a crista da barragem e uma elevação 1,5 m abaixo do nível mínimo
de operação do reservatório (Corps of Engineers, 1971). Em casos nos quais exista
preocupação com erosão por ondas durante a fase de enchimento do lago, pode ser
necessário colocar proteção (dimensionada com menos rigor) na parte inferior do
talude ou, como alternativa, implantar uma “berma de sacrifício” constituída por
materiais rejeitados pela obra (“tout venant”), lançados sem maiores cuidados de
compactação e homogeneidade.
Outros métodos, tais como: lajes, placas e blocos de concreto, concreto asfáltico e
até chapas de aço, foram utilizados em diversos casos no passado (Sherard et al,
1963; Taylor, 1973). No Brasil, a ampla maioria das barragens grandes possui o
talude de montante protegido por riprap. A proteção do talude de montante com solo
cimento foi utilizada em alguns casos em nosso País, como, por exemplo, no dique
do Mojú da hidrelétrica de Tucuruí (Eletronorte, 1987).
Nos itens que se seguem são enfocadas as duas alternativas mais comuns de
proteção contra ondas, o riprap e o solo-cimento.
O riprap deve ser constituído por pedras que, alem de serem grandes o suficiente
para não se deslocarem, resistam tanto ao impacto das ondas como ao ciclos de
secagem e umedecimento a que ficarão expostas. Na fase de projeto, caso haja
dúvida sobre a resistência da pedra que será utilizada, são realizados estudos
geológicos mais apurados. Esses estudos podem incluir desde uma simples
inspeção regional, passando por ensaios tipo Los Angeles e de ciclos de secagem e
umedecimento, até ensaios mineralógicos e estudos de microscopia ótica para
verificar a presença de minerais expansivos e microfraturas na rocha. Este é um
tema vasto que foge ao objetivo das presentes notas e pode ser estudado, por
exemplo, em Frazão (2202) do qual foi tirado o fluxograma mostrado na figura 7.1(a).
Por requerer enrocamento constituído por rocha de alta qualidade e com dimensões
consideráveis e que devem ser rigorosamente atendidas, o riprap pode representar
uma parte importante do valor total do aterro. Estimativas em casos típicos (Sato,
2003) indicam que o riprap pode representar entre 4% e 12% do preço total de um
maciço de terra homogêneo, podendo exceder os 25% em regiões (como, por
exemplo, alguns trechos da Amazônia) onde só exista rocha a centenas de
quilômetros da obra e com grandes dificuldades de logística de transporte.
onde,
P50 = peso da pedra com diâmetro médio do riprap
γe = peso específico das pedras que constituem o riprap
(tipicamente: 2550 a 2750 kg/m3)
H = altura da onda de projeto
Se = densidade das pedras que constituem o riprap
(típico: 2,55 a 2.75). Em geotecnia utiliza-se o símbolo Gs
ou δs para este parâmetro (densidade dos grãos)
αcrit = ângulo do talude para o qual um bloco típico
qualquer esteja a ponto de rolar (ou seja, não é preciso
que uma onda o desloque). Para riprap lançado, utilizar
65 graus
α = ângulo do talude de montante com a horizontal
1. O solo-cimento que se objetiva obter deve ter boa durabilidade (ou seja,
resistência às intempéries) e resistência suficiente para resistir aos impactos e
ações abrasivas das ondas e objetos flutuantes no reservatório (incluindo gelo,
nas regiões frias);
12. Uma preocupação que existe, quando do projeto de proteções de montante com
solo-cimento, é a relação entre a permeabilidade da capa de solo-cimento e do
solo do aterro subjacente. Se a capa de solo cimento for menos permeável do
que o solo do maciço teme-se, em princípio, que ocorram subpressões que
venham a causar deslizamento. A permeabilidade do solo cimento, apesar das
junções entre camadas e do fissuramento associado à retração de pega do
cimento, pode ser bastante baixa. De Groot (1972), em um trecho experimental
instrumentado de capa de solo cimento, constatou que a percolação se
processava predominantemente pelas fissuras e pelos contatos entre camadas.
No caso, a permeabilidade da capa de solo-cimento, inferida das vazões
observadas no trecho experimental, situou-se entre 1,4x10-5 cm/s e 1,7x10-6
cm/s. O USBR, para evitar as subpressões, tem como procedimento normal
adaptar a seção da barragem de maneira que a proteção de solo-cimento fique
apoiada diretamente sobre solo de baixa permeabilidade.
HBL = Hm + R + ∆H + HS
onde:
Altura de subida da onda (R). A altura (R) de subida da onda de projeto é obtida
em função da altura e do comprimento de onda (H e L) e da inclinação do talude. O
comprimento L da onda é determinado em função do período T, pela expressão L =
Uma borda livre insuficiente pode resultar na passagem de água do reservatório por
cima da crista da barragem, caracterizando um transbordamento ou galgamento.
Responsável por algo como 30% de todos os desastres em barragens grandes de
terra, o galgamento, mesmo por pouco tempo (horas) e com lâmina d'água modesta
(decímetros), leva a destruição do maciço de terra em quase todos casos.
Os taludes de jusante ficam expostos a ação erosiva das águas superficiais. Devem
ser implantadas proteções, em geral vegetação e sistemas de canaletas em bermas
(tipicamente, a cada 10 m de altura) e rápidos de descida para drenagem das águas
das chuvas. Os procedimentos de projeto da drenagem das águas superficiais são
aqueles rotineiramente utilizados para taludes urbanos e de estradas.
Muitas vezes é necessária proteção dos taludes de solo ou rocha contra erosão
causada pelo fluxo de água em velocidade nos trechos de entrada e saída de
estruturas hidráulicas (vertedouros, galerias de adução, tomadas de água, casas de
força, etc). Este assunto foge ao escopo do presente texto.
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