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21/04/2018 GD muito além dos telhados | CanalEnergia

/ REPORTAGENS ESPECIAIS

20 DE ABRIL DE 2018

GD MUITO ALÉM DOS TELHADOS


Mecanismo de geração compartilhada ainda engatinha, mas poderá propiciar impulso no setor. Tributação
ainda é desa o

PEDRO AURÉLIO TEIXEIRA, DA AGÊNCIA CANALENERGIA

Dentre os aprimoramentos trazidos pela resolução 687/2015 da Agência Nacional de Energia


Elétrica, que trata da Geração Distribuída Fotovoltaica, a permissão para a modalidade
compartilhada tem tudo para ser uma das maiores aliadas na expansão da GD no país. A nal, a
possibilidade de ter uma conexão mesmo sem ter um telhado ou área para instalar um sistema parece
ser uma resposta para os que alegavam a impossibilidade para não aderir. A modalidade permite que
uma usina fotovoltaica seja utilizada para GD por mais de um conSTEmidor, em que cada um terá uma
cota do empreendimento, que vai se converter em créditos na sua conta de luz.

A intenção do órgão regulador era exatamente criar mais mecanismos e modelos de negócios
capazes de ampliar a GD. O texto da resolução caracteriza como geração compartilhada aquela
formada pela reunião de consumidores, dentro da mesma área de concessão, através de consórcio ou
cooperativa, formada por pessoa física ou jurídica, que tenha unidade consumidora com micro ou
minigeração distribuída em local diferente das unidades consumidoras nas quais a energia excedente
será compensada.

O Compartilhamento, em alta no mundo, é o conceito dessa modalidade de GD, que atende a 809
consumidores e tem potência de 17,8 MW

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De acordo com dados da Aneel, são 26.665 usinas com potência de 318,2 MW, para um total de
38.493 unidades consumidoras que recebem os créditos de geração distribuída. Desse total, a
geração compartilhada tem 164 usinas que geram para 809 consumidores o montante de 17,8 MW.
A geração na própria unidade lidera, com 24.299 unidades que geram 216,08 MW. Apesar da
performance ainda ser considerada pouco expressiva, chama a atenção a potência. Tendo entrado em
vigor em 2016, a partir daí os empreendedores começaram a avaliar o modelo de negócio ideal para a
modalidade e a estruturá-lo. Em 2017 começaram a ser identi cados mais projetos sendo executados
nesse modelo, lembra Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar
e Fotovoltaica. “Foi necessário um tempo de aprendizado até que eles pudessem se tornar uma opção
real para o setor”, explica.

O mecanismo da GD Compartilhada também representa uma boa oportunidade de negócio, já que a


chance dos consumidores se reunirem em cooperativas ou consórcios traz vantagens interessantes
como a economia no valor pago pela compra do sistema, que se torna menor por ser coletiva; a
possibilidade de mudança de endereço dentro da mesma distribuidora sem perder o benefício; a
possibilidade de inclusão de novas unidades consumidoras ou ainda o fracionamento de crédito entre
elas e mais facilidade no acesso a nanciamento. “Como ela é desenvolvida por pessoa jurídica, ela
acaba tendo acesso as linhas de nanciamentos, o que traz mais competitividade”, frisa Sauaia, da
ABSolar.

Para Rodrigo Sauaia, da Absolar, Geração


Distribuída Compartilhada traz vantagens para
consumidor

Os gastos menores na adesão ao projeto na comparação com a compra para uma geração na própria
unidade consumidora aparecem como primeiro atrativo, já que o ganho de escala está claro. Outro
fator que pode pesar na escolha pelo mecanismo compartilhado é a desobrigação individual com a
manutenção dos equipamentos do sistema, que poderá car cargo de uma empresa designada pela
cooperativa.

De certa forma, a geração distribuída compartilhada possibilitada pela resolução revisita a


organização via cooperativismo e se aproxima de movimentos que vem sendo feitos na sociedade.
“Ela nada mais é do que um espelho de uma tendência mundial que é o compartilhamento de serviços
a um custo mais barato e uma e ciência melhor”, de ne Evangelista.

O cenário de crise econômica que o país vem passando nos últimos anos é uma das razões para o
fraco desempenho da GD compartilhada na visão de Guilherme Susteras, CEO da Sun Mobi. “A
prioridade das pessoas não é de investir, elas estão com medo de perder o emprego. Passamos um
período da economia que agora volta a aquecer e deve acelerar mais”, avisa Susteras. Por ser um
produto novo, ainda existe um certo desconhecimento da GD compartilhada no país. Para ele apenas

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o tempo pode fazer com que as pessoas comecem a se acostumar com os benefícios da GD
compartilhada, de modo a fazer com que ela cresça. “As pessoas precisam se acostumar, ver que
funciona, com gente recebendo os créditos na sua conta”, explica.

GD Compartilhada traz  tendência de compartilhamento de


serviços a custo mais barato e e ciência melhor, diz
Evangelista, da ABGD

Construindo a sua primeira expansão de usina, Susteras conta que ela deve car pronta ainda no
primeiro semestre deste ano e a expectativa é que ela cresça em cinco vezes. Com objetivo de
crescer de 5 MW a 10 MW anuais, ele quer ir além da área de concessão do projeto inicial, a CPFL
Piratininga (SP). Segundo ele, a Sun Mobi fornece aos consumidores a oportunidade de eles
acompanharem o seu consumo de energia em tempo real, o que tem feito com que eles indiquem
outras pessoas para a lista de espera da nova usina empresa, que já está com quase 60%
completados. “Isso tem tangibilizado para nossos clientes a presença da energia. Eles estão
supersatisfeitos”, a rma.

A primeira cooperativa de microgeração de energia renovável do país, a Coober, entrou em operação


em 2016, na cidade de Paragominas (PA). Formada por 23 cooperados, ela foi uma iniciativa da
Organização das Cooperativas Brasileiras, que na época colaborou nas discussões da resolução
687/2015. Ela teve investimentos de R$ 600 mil e possui capacidade de 75 kWp. Ao longo de um ano,
já há la de interessados em uma eventual expansão da usina, construída em um terreno cedido pela
prefeitura. O êxito do projeto fez com que a OCB transformasse a Coober em modelo a ser
consultado em futuros projetos em outros estados.

Assim como no início da GD tradicional, a modalidade compartilhada também trava um duelo com o
componente tributário. O convênio do Conselho Nacional de Política Fazendária que é adotado pela
grande maioria dos estados não vem se aplicando na compartilhada, uma vez que ele é anterior a
resolução 687 e não previa o mecanismo de compartilhamento. A exceção é o estado de Minas
Gerais, que por conta de lei estadual mitigou esse risco. “Houve um desalinhamento entre a redação
do Confaz e a resolução 687”, observa Guilherme Susteras, da Sun Mobi.

Para Susteras , da Sun Mobi, houve desalinhamento


entre convênio Confaz e resolução da Aneel

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Segundo Carlos Evangelista, da ABGD, a cobrança de impostos acaba se tornando um entrave, uma
vez que o tempo de retorno aumenta. “Sem dúvida impacta o resultado nal. [O ICMS] Não deveria
ser cobrado em nenhuma hipótese em nenhum dos casos, avisa. Outro aspecto que Rodrigo Sauaia,
da ABSolar, ressalta é que na formação das cooperativas não deva se adotar um modelo padrão de
contrato, sob forma de não se abordar as especi cidades de cada caso. Ele também cita a
necessidade da gestão adequada dos contratos, para que casos como a saída ou a entrada de um
participante estejam sempre regulares.

O m da limitação imposta a todos os sistemas de geração distribuída de estarem localizados na


mesma área de concessão da distribuidora em que os créditos vão ser aplicados também pode
expandir a compartilhada. No estado de São Paulo, em que há muitas concessionárias em cidades
vizinhas, as mini usinas poderiam ser construídas em locais com maior radiação e obter uma
performance melhor.

Em Minas Gerais, estado que sempre veio liderando em número de conexões de GD, a Enercred vem
buscando os consumidores residenciais. Com uma planta piloto de 20 clientes que começou a gerar
créditos no m do ano passado, ela já se prepara para a segunda, que vai ter 75 kW, será feita em
parceria com a EDP. Segundo José Otávio Bustamante, CEO da empresa, o foco é na plataforma
digital, que vai possibilitar uma assinatura de energia limpa. O contrato da Enercred é anual e ele
garante em 12 meses 10% de desconto acima do que o cliente pagou para a distribuidora.

José Otávio Bustamante, da Enercred: foco na venda e


na gestão de plataforma

Bustamante acredita que a geração compartilhada vai ser uma solução para grandes centros
urbanos, em que o sistema convencional nem sempre é possível por limitações físicas. Uma
plataforma digital vai permitir pagamentos e informações sobre os créditos, além de dados de
faturamento. A Enercred não deve fazer a operação e manutenção das plantas, direcionando os
esforços na gestão do negócio e da plataforma. “O foco é mais a gestão dos clientes, ser um novo
canal”, explica o executivo.

De nindo esse período com a primeira usina como de aprendizado, o CEO da Start up compara o
trabalho da Enercred na GD ao de uma imobiliária. “Vamos prestar um serviço, o dono do ativo não
vai ter de correr atrás de milhares de clientes e fazer cobranças. Vai ter uma tecnologia ágil para isso
e cobraremos uma taxa de transação”, promete. A estratégia de venda é um ponto importante nessa
GD. Essa modalidade não vai ser vendida da mesma forma que um sistema usual. “Nem sempre as
empresas são as mesmas que atuam na venda direta”, diz Sauaia, da Absolar. Ele vê o setor mais
envolvido com a GD compartilhada, com mais contratos e interesse das empresas. Ainda pouco
conhecida dos consumidores, Guilherme Susteras, da Sun Mobi, acredita que o trabalho dos agentes

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dever ter a mesma pegada dos comercializadores quando o mercado livre de energia foi criado, que o
difundiram e mostraram as suas vantagens. “Acredito que quem mais se bene cia da coisa é que deve
divulgar”, frisa.

Usina de GD compartilhada da Sun Mobi, em São Paulo: Expansão deve car pronta o primeiro
semestre

O per l dos adeptos da GD compartilhada é o mais variado possível. Na Sun Mobi, Guilherme
Susteras revela que tem desde uma fonoaudióloga de 26 anos que mora em um apartamento de um
quarto até a Igreja Batista, passando por um administrador de empresas que tem uma casa grande.
“São pessoas que queriam fazer algo em prol da sustentabilidade, mas não sabiam como fazer.
Queriam algo de forma simples e sem complicação”, revela. Já a Coober, no Pará, é formada na sua
maioria por pro ssionais liberais que moram em apartamentos ou casas alugadas.

A geração distribuída além dos telhados não ca apenas na geração compartilhada. O autoconsumo
remoto aparece com 2.204 usinas gerando créditos para 13.386 unidades e com potência de 84,4
MW. Os segmentos que mais vem optando por ele são as empresas de telecomunicações, as redes e
farmácias e os bancos. Pioneira no modelo de autoconsumo remoto, a Enel Soluções fez um
condomínio solar para a rede de drogarias Pague Menos, em Tabuleiro do Norte, no Ceará. Rafael
Coelho, diretor de soluções B2B da Enel Soluções, elogia os aprimoramentos feitos pelo regulador
que permitiram as novas modalidades. Segundo ele, o autoconsumo remoto proporciona e ciência
na construção, na geração e na operação de projetos. “É um modelo de negócio que tem potencial
grande. Permite que você inclua na geração distribuída consumidores que não tem telhado e com
muito consumo”, explica.

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Projeto solar da Enel, no Ceará, foi pioneiro em autoprodução remota

Na GD compartilhada, o diretor da Enel escolhe a redução dos custos como a grande vantagem para
os clientes, que em vez de um valor cheio, pagariam um terço do seu valor. Para ele, a questão da
tributação do ICMS está travando o mercado da compartilhada, uma vez que as grandes empresas do
setor já estudam modelos de negócio, mas esbarram nesse ponto. “Ninguém vai se mexer até que
essa questão seja resolvida”, aponta.

Outra que vem ganhando espaço é a Órigo Energia, antiga EBES. Ela anunciou este mês a construção
da sua terceira Fazenda Solar no estado de Minas Gerais. Com planos de assinatura mensal, a
primeira unidade tem 63 consorciados recebendo energia. O serviço da Órigo está disponível para
pequenas e médias empresas. Até o m de 2018, a previsão é de dez unidades em operação, que vão
atender quatro mil clientes. O investimento previsto é de R$ 250 milhões.

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