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COJE – COORDENAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS

TURMAS RECURSAIS CÍVEIS E CRIMINAIS


Pça. D. Pedro II, s/n, Fórum Rui Barbosa, Nazaré, Salvador/Ba –Tel/320-6904

PRIMEIRA TURMA - CÍVEL E CRIMINAL


PROCESSO Nº 62383-0/2002 - Cível
RECORRENTE: NESTLÉ BRASIL LTDA
ADVOGADO(A) : DR.(a) RITA DE CASSIA BORGES
RECORRIDO: GERTRUDES LUZ SILVA
ADVOGADO (A): DR.(A) MAURICIO JOSE MINHO GONÇALVES,ANDREA
BORJA BATISTA
RELATOR (A): JUIZ(A) HELOISA PINTO DE FREITAS VIEIRA GRADDI
EMENTA: DANO MORAL. REPARAÇÃO. EMPRESA DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ART. 12 DO CDC. INCIDÊNCIA.
I- Cabe à empresa responsável, a reparação pelo dano
material ou moral, causado ao consumidor, decorrente da
má prestação de serviço.
II- A empresa fabricante ou fornecedora de alimentos
industrializados é responsável, independentemente de
culpa, por corpo estranho encontrado em um dos seus
produtos,.
III- É livre o julgador para aquilatar o valor da
indenização a ser fixado de forma a atender ao duplo
escopo de compensar a vítima e punir o autor do dano,
mantendo seus fins educativos.
RECURSO IMPROVIDO.

ACÓRDÃO
Realizado Julgamento do Recurso do processo acima epigrafado. A
PRIMEIRA TURMA, composta dos Juízes de Direito, HELOISA PINTO DE FREITAS
VIEIRA GRADDI, JOSE ALFREDO CERQUEIRA DA SILVA, GARDENIA PEREIRA
DUARTE, decidiu, à unanimidade de votos, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, a fim
de ser conservada intacta a sentença examinada.Condeno a recorrente ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios à razão de 18% (dezoito por cento) sobre o valor da
condenação.

Salvador, Sala das Sessões, em 11 de julho de 2005.

JUIZ(A) HELOISA PINTO DE FREITAS VIEIRA GRADDI


Presidente / Relator(a)
1ª TURMA RECURSAL CIVEL E CRIMINAL
PROCESSO Nº 62383-0/2002-1
RECORRENTE: NESTLÉ BRASIL LTDA
RECORRIDA: GERTRUDES LUZ SILVA

DANO MORAL. REPARAÇÃO. EMPRESA DE PRODUTOS


ALIMENTÍCIOS. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ART. 12 DO CDC.
INCIDÊNCIA.
I- Cabe à empresa responsável, a reparação pelo dano material ou
moral, causado ao consumidor, decorrente da má prestação de serviço.
II- A empresa fabricante ou fornecedora de alimentos industrializados é
responsável, independentemente de culpa, por corpo estranho
encontrado em um dos seus produtos,.
III- É livre o julgador para aquilatar o valor da indenização a ser fixado de
forma a atender ao duplo escopo de compensar a vítima e punir o autor
do dano, mantendo seus fins educativos.
RECURSO IMPROVIDO.

RELATÓRIO

NESTLÉ BRASIL LTDA irresignada com a sentença que julgou


procedente a ação ajuizada por GERTRUDEZ LUZ SILVA, interpõe recurso pleiteando
a reforma da decisão.

A parte recorrida ajuizou a ação, visando compelir a recorrente ao


pagamento de QUARENTA SALÁRIOS MÍNIMOS, a título de indenização por danos
morais e materiais sofridos, em face de engasgo causado pela ingestão de ignoto
objeto que se encontrava imerso em iogurte fabricado pela ré.
Em decorrência desse fato, teve que se submeter a tratamento médico,
que culminou com procedimento cirúrgico, sob efeito de anestesia, para a remoção do
corpo estranho ingerido com o alimento.
A decisão hostilizada concluiu pela procedência parcial do pedido,
condenando a acionada a pagar o valor correspondente a vinte salários mínimos, a
título de indenização por danos morais.
A parte vencida, irresignada, apresentou tempestivamente as razões de
recurso, acostadas. Houve contra-razões, onde a recorrida argüiu três preliminares,
requerendo por fim, a manutenção da sentença.
Remetidos os autos para esta Turma, coube-me por sorteio a função de
Relatora.
O recurso é tempestivo, foi preparado e respondido com elogios ao
julgado. Conheço do recurso e submeto o voto aos membros desta Corte.

VOTO

Preliminarmente, acolhe-se de plano, o pleito de assistência judiciária


gratuita, que de logo fica deferida.
Quanto à intempestividade do recurso, a preliminar deve ser afastada.
O recurso interposto é tempestivo, uma vez que o “dies ad quem” caiu na
Segunda-feira 08 de dezembro de 2003, dia santificado, dedicado a N.Senhora da
Conceição, venerada neste Município de Salvador e por este motivo, não houve
expediente judiciário naquela data, como acontece todos os anos. Assim, o prazo
findou-se no primeiro dia útil subseqüente, 09 de dezembro, dia em que as razões do
recurso, devidamente preparadas, foram protocoladas.

Quanto à preliminar de falta de interesse de agir, por ser o procedimento


escolhido pela recorrente, incabível em sede dos Juizados Especiais, não tem como
prosperar. Na verdade o “nomen júris” Recurso de Apelação não é capaz de macular o
recurso interposto. Portanto, deve o mesmo ser conhecido.
Razões tais, que ensejam a rejeição das preliminares levantadas.

Quanto ao mérito, passo à análise das razões da recorrente.

Em sua peça, a acionada discorre sobre o processo de fabricação do


produto, detalhando todas as suas fases, afirmando ser impossível a contaminação dos
mesmos, por qualquer corpo estranho. Em seguida menciona a existência de um
Serviço de Atendimento ao Consumidor que deveria, no seu entender, ter sido
contatado, colocando em dúvida a veracidade dos fatos narrados no termo de queixa.
Contudo, tais circunstâncias não passam de argumentações que nada provam quanto
à existência ou não do dano reportado nos autos.

No mérito propriamente dito, alega ter sofrido cerceamento em seu direito


de defesa, em razão de não ter tido acesso ao produto ou ao corpo estranho que ele
continha. Contudo, a parte autora não poderia prever a situação vexatória pela qual iria
passar e, assim, premeditadamente, guardar a “prova” exigida pela ré, que, ressalte-se,
nem pode mais questioná-la nessa fase processual.
As argumentações quanto ao processo de fabricação, embalagem e
armazenamento do produto, deveriam ser argüidas em sede de contestação, o que não
aconteceu em virtude da revelia decretada pelo ilustre Juiz “a quo”. Também em razão
de ser revel, não pode agora, em sede recursal, contestar a veracidade dos fatos
narrados pela recorrida em seu termo de queixa, porque, como se sabe, uma das
conseqüências da revelia é a confissão ficta dos fatos afirmados pelo autor, nos termos
do artigo 319 do CPC e do artigo 20 da Lei 9.099/95.
Ressalte-se, que a ré tendo sido regularmente intimada para comparecer
à audiência de conciliação, instrução e julgamento, não se fez presente àquela
assentada, nem justificou a sua ausência, razão porque a decisão que decretou a
revelia é perfeita e imutável.

A alegação de cerceamento do direito de defesa também, carece de


fundamento. Como já explanado, não houve qualquer cerceamento ao direito de defesa
da recorrente, que abriu mão do seu direito constitucional, quando deixou de
comparecer à audiência para a qual foi intimada. Não pode pretender agora, exercer tal
direito, em momento inoportuno, pois essa é a fase processual do recurso, tendo ela
perdido a sua oportunidade de contestar, em face da revelia. A possibilidade de
interpor o recurso é conseqüência do seu direito à ampla defesa, nada mais.

Como se constata, as alegações da recorrente não têm o condão de


reformar o julgado, pois a mesma não apresenta nenhuma prova capaz de modificar
aquelas apresentadas pela autora.
Não existe, portanto, razão para se proceder à reforma do julgado. O
Juízo “a quo” decidiu com sabedoria e justiça, deixando de condenar a recorrente ao
pagamento da indenização por danos materiais, ante a falta de provas que indicassem
terem os mesmos existido. Condenou porém, ao pagamento de indenização por danos
morais, em razão dos elementos dos autos, sobremodo a prova produzida: Os laudos e
relatórios médicos, de fls. 23 a 29 dos autos e o depoimento da testemunha, à fl. 34,
não deixam dúvida quanto ao medo, ao transtorno, o sofrimento e a aflição sofridas
pela parte autora e que lhe foram causados pela ré. O dano moral é incontestável, nos
termos em que costumo poetizar:

Destarte, o dano moral


bem resultou comprovado,
e o decisum, afinal,
deverá ser confirmado.

A ação da requerente
tem todo o amparo legal.
O pleito é procedente:
houve sim, dano moral.

Sabe-se, o dano moral


é tema controvertido.
Contudo, ele afinal,
pode bem ser traduzido.

Em mágoa, sempre redunda:


conforme a sensibilidade,
será ferida profunda,
ou arranhão, banalidade!
Será também traduzido
como alvar constrangimento,
que na face do ofendido
aflige e traz sofrimento.

Maior alento não há


à alma do Julgador,
do que sentir que está
em ser justo, o seu louvor.

Onde há direito violado,


algum recurso há de haver,
para o mal ser debelado
e a iniqüidade tanger.

Uma vez provado o dano, cabe a reparação. No que concerne ao seu


valor, a decisão não merece reparo, vez que o juiz a quo aplicou com critério os
elementos norteadores da correta fixação do quantum indenizatório.
O valor da indenização, a critério do julgador, deve representar para o
ofendido, uma satisfação psicológica que lhe diminua os dissabores sofridos, sem
causar, evidentemente, o chamado enriquecimento sem causa, nos termos líricos desta
relatora:
Foi grande o constrangimento
que viveu a requerente.
Tem inteiro cabimento
o ressarcir é procedente

Não é fácil aquilatar


o valor da indenização,
para não se exorbitar
ou abater o quinhão.

Há que se considerar
a condição do ofensor,
pois pouca valia terá
se não causar dissabor.

Quando há reparação,
é pelo dano causado
e pelo grau de aflição,
que o valor é fixado.

Assim, entendo que a sentença apreciou criteriosamente a pretensão da


parte autora, analisou bem a prova e aplicou corretamente os dispositivos legais
pertinentes, não ensejando alteração, nem reparo, devendo ser mantida em sua
inteireza.

Por todo o exposto, entendo que deve ser NEGADO PROVIMENTO AO


RECURSO, a fim de ser conservada intacta a sentença examinada.

É O VOTO.

Condeno a recorrente ao pagamento das custas processuais e honorários


advocatícios à razão de 18% (dezoito por cento) sobre o valor da condenação.

Sala das Sessões, 11 de julho de 2005.

HELOÍSA PINTO DE FREITAS VIEIRA GRADDI


RELATORA

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