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ariasen sy ao) By & CIDADE Te ete a CRO ICs ty Cee MCC rt Coordenado por Catherine Bidou-Zachariasen, com a colaboragao de Daniel Hiernaux-Nicolas e Héleéne Riviére d’ Arc DE VOLTA A CIDADE Dos processos de gentrificagao as politicas de “revitalizagao” dos centros urbanos Tradugao Helena Menna Barreto Silva This one QBQR-P25-7YGA Retours en ville: des processus de “gentrification” urbaine aux politiques de “revitalisation” des centres Sous la direction de Catherine Bidou-Zachariasen avec Daniel Hiernaux-Nicolas et Héléne Riviere d’Are © Editions Descartes & Cia, 2003 Cet ouvrage, publié dans le cadre du programme d'aide a 1a publication, bénéficie du soutien du Ministére frangais des Affaires Etrangeres. Este livro, publicado no ambito do programa de participagdo 4 publicagao, contou com 0 apoio do Ministério francés das Relagdes Exteriores. Centro de Documentagio e Informagio Polis Instituto de Estudos, Formacio e Assessoria em Politicas Sociais B484 Bidou-Zachariasen, Catherine, Coord. De volta a cidade: dos processos de gentrificagao As politicas de “revitalizagio” dos centros urbanos. Coordenado por Catherine Bidou-Zachariasen com a colaboragao de Daniel Hiernaux-Nicolas e Héléne Rivére d’Arc — So Paulo : Annablume, 2006. 294 p., 14 x 21 em ISBN 85-7419-622-3 1. Urbanismo. 2. Politica Urbana. 3. Cidades. 4. Revitalizagio de Centros Urbanos. 5. Gentrificagao. 6. Experiéncias de Gentrificagao. 1. Titulo. I. Hiernaux-Nicolas, Daniel. III D'Arc, Héléne Riviere. cpu 7114 cDD_ 301.6 DE VOLTA A CIDADE Coordenagdo editorial Joaquim Antonio Pereira Diagramacao Ray Lopes ‘Capa Carlos Clémen I" edigdo: junho de 2006 I* reimpressio: abril de 2007 CONSELHO EDITORIAL ANNABLUME editora . comunicagio Eduardo Peiiuela Caftizal Norval Baitello Junior Rua Padre Carvalho, 275 . Pinheiros Maria Odila Leite da Silva Dias 0427-100 . Sdo Paulo . SP . Brasil Celia Maria Marinho de Azevedo Tel. e Fax. (11) 3812-6764 ~ Gustavo Bernardo Krause Televendas 3031-9727 Maria de Lourdes Sekeff Cecilia de Almeida Salles www.annablume.com.br Pedro Jacobi Sumario Apresentagao .... Introdugao — Catherine Bidou-Zachariasen.... A gentrificagdo generalizada: de uma anomalia local a “regeneracao” urbana como estratégia urbana global =Neil Smith SD A cidade renasce! Formas, politicas e impactos da revitalizagao resi: ic Bi — Mathieu van Criekingen A gentrificagao do bairro Saint-Geoi em Ly a convivéncia de mobilidades diferenciadas =Sean-Yves Authied ....ccsssccscccssssssssccccssssnscscssssssssscsesssssnsssee 121 A Ciutat Vella de Barcelona: renovagao ou gentrificagao Nuria Chavet ossssscssessssssecsessssnsescessssssnssccesssssssssesssssnseee 145 A reapropriagao do patriménio simbélico do centro de Napoles (Rejinvestir nos espacos centrais das cidades mexicanas = Patrice Melé........ voces esses 197 A reapropriacgao de bairros da Cidade do México pelas classes médias: em diregao a uma gentrificagao? ~ Daniel Hi Ni 229 Requalificar 0 século XX: projeto para o centro de Sao Paulo ~— Héléne Riviére d’Are o. 265 Apresentagao Helena Menna Barreto Silva* A exemplo de cidades americanas e européias, nos ultimos anos vem aumentando o nimero de cidades brasileiras que pro- poem intervir nos seus centros antigos para recuperar qualidades ou fungdes que estariam sendo perdidas. No principio eram pe- quenas interveng6es voltadas principalmente para a revitalizagao do patriménio, mas hoje as propostas sao mais complexas e arti- culam projetos de transformagées das fungées, do uso e do valor do solo. Varios pesquisadores, na Europa, Estados Unidos e América Latina, estio preocupados com os efeitos que as intervengdes de requalificagao podem causar nas areas centrais, pois existem mui- tos casos em que as familias moradoras mais pobres foram subs- * Urbanista, doutora pela FAU-USP, Helena Menna Barreto Silva tem se dedicado nos tiltimos anos a problematica dos centros urbanos, como pesquisadora ¢ consultora. Foi coordenadora do programa Morar no Centro, da prefeitura de Sio Paulo, entre 2001-2004. Atualmente coordena um projeto para desenvolver um “Observatorio do centro de Sdo Paulo”, junto ao Labhab da FAU-USP. De volta @ cidade tituidas por outras de classe média superior, fendémeno que tem sido chamado de gentrificagao. Também no Brasil essa preocu- pagao tem sido levantada no meio académico e pelos setores po- pulares ligados a projetos habitacionais ou sociais nas areas centrais. Alguns autores consideram que a gentrificagdo é inevitavel nas grandes cidades cujos centros antigos permaneceram ‘esque- cidos’ pelas classes médias altas durante algumas décadas e, por isso mesmo, permitiram e estimularam 0 desenvolvimento de ati- vidades populares e mesmo a moradia de familias de menor ren- da. Esse fenémeno tenderia a ocorrer por influéncia de dois processos, que podem ser combinados ou nao. Pelo lado da demanda, as estratégias das classes médias de (re)conquista de territérios e de volta a cidade depois de décadas de encantamento pelos conjuntos e loteamentos fechados, esti- muladas pelo setor imobilidrio. Mas nao seria a classe média tra- dicional, mas sim outro tipo: ou os yuppies; ou familias jovens, com maior escolaridade. Pelo lado da oferta e das decisdes dos produtores de espagos ~as estratégias dos governantes, em acordo com 0 setor privado, para tornar as cidades competitivas, dotando os centros de carac- teristicas que o tornariam atrativo para aquelas classes, seja para moradia ou para consumo e lazer. Neste livro, organizado por Catherine Bidou-Zachariasen e publicado em 2003 na Franga, se discutem os efeitos dos proces- sos de requalificagdo em centros antigos e desvalorizados de al- gumas grandes cidades do mundo. A autora faz uma introdugdo sobre o estado atual do debate e explica que fez um desafio para varios pesquisadores no sentido de confirmar se os processos de outras cidades correspondiam 4s andlises tradicionais, bastante marcadas sobre estudos de cidades anglo-saxénicas. O préprio termo “gentrification” foi criado para explicar 0 repovoamento Apresentagao (nesta altura expontaneo) de bairros desvalorizados de Londres por familias de renda média, nos inicio dos anos sessenta. Uma primeira questdo foi colocada para os diferentes autores: os pro- cessos de gentrificagao que estdo entre os mais marcantes dos centros de cidades dos paises mais desenvolvidos, estéo também presentes em outros contextos e segundo que variantes? Que ou- tros tipos de recomposig6es urbanas os acompanham? O pesquisador americano Neil Smith é 0 autor do primeiro artigo do livro, sobre Nova Iorque, e quase todos os outros autores fazem referéncia a seus trabalhos anteriores, seja para questionar suas afirmagGes ou para situar os estagios dos processos nas di- ferentes cidades. Smith nos conta que o processo de Nova lorque comega de forma pontual e esporadica, por artistas que instalam seus ateliés e passam a viver em bairros como Greenwich Village e Soho des- de os anos cingiienta e setenta (primeira onda).E posteriormente assumido pelos promotores imobilidrios, que obtém enormes lu- cros (segunda onda). E, finalmente, se torna uma estratégia da cidade, atingindo todos os antigos bairros populares (terceira onda). A gentrificagao deixa de ser uma anomalia local do mercado imo- bilidrio de uma grande cidade para se desenvolver como um com- ponente residencial especifico de uma ampla reformulagao econémica, social e politica do espago urbano. Essa renovagao representa a gentrificagéo da cidade como uma conquista alta- mente integrada do espago urbano, na qual o componente residencial nao pode ser dissociado das transformagées das paisagens do emprego, do lazer e do consumo. Segundo Smith, a “regeneragdo urbana” hoje representa uma estratégia central na competig4o global entre as diferentes aglo- meragées urbanas. O novo papel representado pela globalizagao do capital é também decisivo na sua generalizagao, incluindo a presenga das mesmas empresas internacionais nos grandes pro- De volta a cidade jetos urbanos. O desenvolvimento imobiliario urbano — a gentrificagéo em sentido amplo—tornou-se agora um motor cen- tral da expansdo econémica da cidade, um setor central da eco- nomia urbana. Os projetos imobiliarios se tornam a pega central da economia produtiva da cidade, um fim em si, justificado pela criagdo de empregos, pela geragdo de impostos, pelo desenvol- vimento do turismo e pela construgao de grandes complexos culturais. De um modo inimagindvel nos anos sessenta, a cons- trugdo de novos complexos de gentrificagdo nas dreas centrais, ao redor do mundo, tornou-se cada vez mais uma inatacavel es- tratégia de acumulagao de capital para economias urbanas em competigao. Examinada através desse quadro geral de uma estratégia ur- bana global, a generalizagao da gentrificagdo posterior aos anos noventa aparece para Neil Smith como associada ao abandono das politicas urbanas progressistas do século XX (Estado provi- déncia) e a vit6ria das politicas neo-liberais. Ele explica que a gentrificagado passa a ser apresentada, por alguns planejadores e urbanistas como “natural”. Mas sua critica se dirige também a um certo eufemismo presente nos discursos e planos a partir dos anos noventa, que esconderia o carater gentrificador dos projetos de “regeneragado” urbana. Por outro lado, Smith enfoca a questio da resisténcia contra a gentrificagao. O alto grau de repressao a que foram expostos os movimentos anti-gentrificagdo nos anos oiten- ta e noventa seria uma prova do carater central dos programas imobiliarios na nova economia urbana. Liga também o processo de gentrificagao ao crescimento da repressdo a grupos que atuam nos centros, incluindo o programa de “tolerancia zero”, fartamen- te exportado. Para Catherine Bidou, o livro mostra que, no contexto europeu, algumas cidades francesas, espanholas, belgas, italianas, conhe- ceram ou conhecem transformagées de seus centros que questio- 10

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