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Questées tedricas e metodoldgicas O conceito de industria cultural | e€ a comunicagao na sociedade | contemporanea’ | The concept of culture industry and the communication in the contemporary society Claudio Novaes Dac Professor do progres 4a Faclode Cosper Liters Rosurr Neste trabalho petende e demonstra aualidade do coneita de Indra Cultural elaborado por Adorno Harker Para cumpri tl finaidade, sd fit wana exposiodo dae principals carcterstioas do ndastanCaltrl, endo exes ‘utores, 0 mex tempo em que realland wm cononto demas coractrstioar com elementos da pv {is pmceso comune conten purine Seu memo lave unaazdioecompartv | “eine eos doses ae or aid «Fo Palavranchave: ndisti. Abstract = Im this eri, itended to domonszete the validity for our umes ofthe canes of Culture Industry elaborated by Adare an lrkhvimer. Sooo comply vet th goa the math character of Culture Indust, according sch thor wil be presertod. and ut he sme ne Ue characters with loners of the ultra proton and ofthe Contemporary conminictional process til be cond. Furthermore, a compara anaes of adoro and hor onthe capita soceyand ofthe thorvs aborted by Baoclard ond Poocalt wl be expan Keyword culture industry enc theory ofthe society, contemporary society Fons compl tl faded, had oerprtt ston cute, su Gncament se confor cept de Industria Cuan elaborodo por Ad de fos comteitios prinspoles dela fds process comunicacionales conterporincos. Se desarolla tami sn ands compara dela oerta de Adorno y Hoskbiner abve la sociedad capita y dels torceelatoradas por Bawcrilord y Foucoul Palebr-clave:induscia cultural, ri cen del socks, comunicalin contempardnat atualidade das reflexdes de Adomo ¢ Horkheimor fica evi- alae pee slices denciada dosde a abortura do sales 6 Row iuragsoleekt atid a pitule do livro Dian do esclareei-) Guviaa sea ou iterate i monte dodicado 2 [ndiistria Cultural. No pardgrafo inicial, os autores criticam jqueles que intcprtam a sociodadsvs-— | pitalista, afirmando a existancia de uma fragmentagdo sociocultural Ee to esta das. (] O esquomatismo do procedi onto mostra sono fata do quis oe pro Autos mecanicamente diferenciacos fcabam por se mvelar sempre como a mesma coisa. A diferenca entre asérie Chrysle alamen- irmaglo que esi presente nos sso Canes Moto 6 0 teabalhios dv Baudrillard w dy Foucault Tun una distin al, coma Paca Baudrillard social implodiu, an- | Sabo toda eranga intresoda ez mo- quanto que pera Foucault ele 6 descen- doles de automéveis. As vantagans © talzade, Reitaado o conceited ig. | Scare tne mentagao sociocultural, Adorne @ rtd o de po ‘tiluato da concorroncia 6 de pose Horkheimer ergumentam; | Tidado do eacotha.” A cultura cuntomport Com base nesta argimentagao, pode na camfore a to um se afirmar, por exemplo, que # ciforenge per mS | ‘entre © programa Big Brother Brasil, da cere ettuemawee: | Rede Globo, e 6 programa Casa dos Artis- tome Cada ator 6ono- | tas, do SBT, 6 iluséra, assim como a dife- ronte rm simosmo‘o- | renga ontre os provedorns de intomnet Uni Aosostoemconjunto | yersoOn Line e America Or Line, Mas essa ‘A-compreensio do cars. | ilusio 6 sociolmonte newosséria : a eronga ter sistemico da produgao | M# exist@ncia da concortincia & na liber cultural ¢ dos procossos | dade de oscolha 6 um componente esson- fomunicecionais de sacie- | cial da idoologia dominanto no eapitalis- dae captalsn depend de | A vgn tal do nobel imarefeioquevsalémda | 404 fruto doacaso, 6 uma conseqiincia pardncia, domanifestagio | 40 grau do desenvolvimento aleangado superficial dos fendmenos | elas relacdes sociais capitalistas @ pela sociais, bscando a ldgioa que os ostrota.. | PYOpria inddstria cultural. A crenga de ta-Comosesabe,a diaéic apartnciates- | 4989 consumido (0 "ciente") 60 sei Séncin éenfoticamente rejelterla polos tes. | 10 das atividades econdmicas, de que as Ficos do P6s-Eatruturalsmo 0 polos | uprses existem pare stisfazer as suas ‘edoptos da P6s-Modornidado do modo go- | ecessidades, « devem fezer de tudo pera -Deacordocom Adomo cHerkheimer, | mantera fidelidade” dos seus “clientes", a fragmentago, a dioronciagdo 6 uma ca. | i# estava presente nos anos 40 do sécalo rectesistca dagpartncia,dasuperfiiedes | XX-quando Adorno e Horkheimer public bons produzidos na sociedade capitalists: / °#T@m a primeira edigdo de Dialétion do 1 padronizagio 6 a earactoratica ossonci- | Bsclarectmento. al, esirutural, rosultanto das articulagdos infornas do modo do produgdo capitaista: | EW, Adorno & M, Horkties: Diallica do xclarec- As distingbes onfiticas quo so faz sient, p13 centre os filmes ds ealagorias Ae Aestsrspeto, Fred Jomeson.Pés-modermlsmo. te as historias publicadas em 7 STL. Adomo 6 8, Hontheimer Dialétea do esclarec- visas de diferente prog, tm menon | anno p11. 36 A aluslidade do conceito do indus tria cultural néo pode ser reconhecida se no se levarem consideracao que vate canceito foi elaborado, visendo a com- | preensio de um fenémeno social que nao | para de se desenvolver, acompankando © desenvolvimento do capitalismo. Na década te 40 do século pasado, Adamo ¢ Horkheimer chamavam atengao para a tondéncia de a publicidade tornar-se 0 principal vercula ideoldgico da socted: do capitalista’. Hoje, essa tendéncia con- ‘rvtizou-se plenamente: com a total trans- formagao da cultura ¢ dos processos comunicacionals em mercadarins, a cul- fura 0 a comunieagéo passaram a ser do- minadas pola linguagem criada para a vonda das mercadorias, a publicidade (© posicionamento da publieidade como © elemento principal da ideologia cape liste significa 0 esvaziamonto (mas néo a ‘extingao) dos eampenontes nfo econdmi- cos da ideologia dominante. Ou soja, na sociedad contemporaine, ids politicas ou religiosas s6 sobrevivom na forma de “produtos” a serem “vondidos" coma uti- Jizagao da linguagem publicitiria, Passa a exislir uma contradigio entro as caracte risticas especificas da linguogom politica ou da linguegem religiosa eas caractorst- cas da linguagem publicitéria. Nao hé a supressao das linguagens nao publieitéi as, mas a sua pessisténcia numa condigio subordinada’ Conforme jé havia sido apontado por Adorno e Horkheimer, ha unca semelban- ‘gaentre as caracteristicas da produgao dos bens materiais (automéveis, por exenplo} © 2s carncteristicas da produgio cultural © desenvolvimento do capitalismo signi- | fica a dissominacia da logia da produgio dos bens materiis para as outcs dimen- sides da sociedade, camo a arte, vida po: ltion eas manifesta ses oligiosas. A apa. réncia di diferenga e a presenga de semelhangas essenciais (estruturais) si00 | traco, porexemplo,dasdlisputaseleitonss: | tors os candidatos com chance de olei- | ‘gio para cargos majoritérios utilizam-se do ‘marketing e da publicidade, validandoas- sium o componente essuncial da idaologia capilalisia contemporiaoa, A trunsform a0 da publicidad om inguagom univer sal longe do significar, como postula Baudrillard, a implosio dos macanismos de controle social, constitui-se na ratifica- |, soduariculyje tora da eid, Pilalista: a ligica da produgio (morcantil) | anifesta-se cada vez mais nas outras di ‘mensoes da vida social | Segundo Baudtillard, em Simulacros ¢ Simulagdo, a transfocmayio da publicida- de numa linguagem universal significa 0 fim das outras linguagens o da propria lin- | _suagem publicise (© que estamos a viver é aabsorgao de todos os modas de expresso viruais no da publicidede. Todas as formas culturaisoriginais, todas as linguagens ‘doterasinadas sbsorver-v neste por que nfo tOm profuadidado, 6 insten- {neo instantanesmente esquecide, Triunfo da forma superficial, minis enominador comm de todor 08 sige nificados,grau zere do sentido, ifun- {o da entiopia sobro todos os sropos possivoias © aspecto atualmente sais interes: ate da publicidade 60 su rocimento, a sua diluigao | ta ospocificn, ott como ito simplesmente. [an @ [alg ma vezofo\7)um meio ducomsnica: | 0 ou oe inforuago |. Ateoria de Baudrillard estéancorada no pressuposto de quea sociedade capita- | lista se autodestrét pelo sex prs ccimento (sem aintervengi de su isis revolucionarios): esta dostruigio | teria acontecido, o projeto moderne de pla- «ese eset, er EW. Adorn 8M. Hoikholmer,Dialétien Ao eselorecimente pp. 131-134, A priprin indstia cullra éitrngocamente cote saprodugtecaturel encontrado aos intense re cents. £1 Rraudrillard Simalacros e simulocdo,p 113. idan, p25. 37 nejamento ¢ controle dos comportamen- tos sociais (das acdes da massa) néo fun- ciona mais, nio se consegue exercer 0 po- der sobre a massa. A expansio da logica ‘mercantil signficou o seu fim, a publici- dade é incapaz de determinar 0 comporta- ‘mento social, nao é mais um meio de co- ‘municagao: nio existem mais as classes socials, nem dominantes nem dominadas. ‘Somes todos massa, 0 social controle) aca- bout Discordando, antecipadamente, de Baudrillard, Adorno e Horkheimerafirmam ‘ocrescimento do poder dos grandes grupos ‘econémicos: a transformacéo do publico da cultura em consumidor de produtos em sé- rie eoloca-o numa posigzo de subordina- ‘Go frente aos executivos da indiistria cultural, que, por sua vez, se subordinam aos sotones econémicos mais po- Adauséncla derosos: dependéncia em que se sapubiodade etn a ples 6 polticamente sociedade radiofénica em suspeia Jace da inddstria eltrica, ou @ do cinema telativameate dos bancos, caracterizn a tera inteiro,cujor stores individvais, por sua ver, se interpenetrom numa conf sa trama econtmict. Tudo etd to ested {amente astaposto que qa concentragdo do ‘spirit atinge um volume tal qu Ihe per= mite passa por cima da inka de demar capde entze as diferentes firmas e stores tecnicos. A unidade implacdvel da indis- tria cultural atest « unidade em forma- {0 da poli” {A presenca da linguagem publiité- ria na'vide politica nto significa o fim | do poder, muito pelo contrario, a publi cidade ¢ insepardvel do reforgo da con- | transi¢lo do século XIX para o XX) do capitalismo eoncorrencial para 0 capi- talismo monopolista (quando a livre concorréncia sé sobrevive na aparéncia): [Na sociedade concorrencal.a public dade tinha por fino orienta? o com. prador pelo mercado, ela faclitava a tescolha possibilitava ao fornecedor Aesconbocido # mals produtivo colo- tar sua moceadoria, Nao apenas ni feustava tempo de trabalho, mas tam- ‘Gas de pubicidade, polo radio sobre- to, isto 6, quem fax paste do sist- ma ou 6 cooptado com base nas deci ses do capital bancério e industrial pode enn como vondedorno paso nexeado. Os custos de publicidad, 0 tacabam por retoraar wos bolsox das orporagbos, poupam ae diftculdades elimina pola concorréncias intra Son indesepveis. Esse custom garantom ‘ques detentores do poder de decisho ficarao entre si als, como ocorr nas resolugies dos conselhos econbmicos aque controlar, no Estado totalitiio, a {rincio oa gest das empresas. A pi- blicidade 6, hoje em dia, um principio nezativo, um dispositive de Blogueio, tudo aquilo que no aga seu sineto & ‘economicamente suspeito.* ‘Tendo em vista 0 contexto contempori- neo, pode-se afirmar que a auséncia da pu- blicidadstamiyéin 6 poiticamente suspeta ‘A presenga determinante da publicidade faz com que 0 mecanismo da concentraglo cco- indica de capital se manifeste na forma da ‘concentracio do poder politica: as campa- thas politicas, cada vez mais earas tomam ‘0s partidos dependentes dos grandes gru- pos econdmicos, eliminando-se assim as centracao de capital (e de poder). Como / acompanha o processo de desenvolvi mento do capitalismo, suas caracteristi- cas modificaram-se com a passagom (na ‘A este espeito, ver Jean Baudallrd. A sombre des maiorias BI f Aderio ® M. Horkheiner Dilétca do eselareci- amen, pp. 115-16 Sbidem pp. 151-252, 3s “iia ntrusas”anticapitalistas), som ano- \ a sua formagZo intelectual estruturalisa} cessidade do uso da violéncia, que osde- | 56 existem duas possibilidades, ou a dife- onsores destasidéiasenfrentamgrandesdi- | renciagdo total ou a indiferenciagao to- ficuldades para se “comunicar” com os | tal. Com base nessa perspectiva, a presen- ‘consumidores (eleitores), pois fogem ao pa- | ado econémico, da légica mercantil, nas drip (querna forma, quer ao contetido). Nao | outras dimensdes da vida social s6 pode se trata do fim da politica, conforme argu- | significaro fim do econémico e dessas ox- rmenta Baudsillard, mas da transformagio | tras dimensdes. Entender essa presenca ta publicdade no principal slomento de po- | ‘como 0 resultado de uma acéo de deter Iitca capitalists. | _minagdo do economico sobre a vida soi- ‘A postura tedrica de Baudrillard 6 cre- | al ndo faz parte do quadro te6rico de dora da teoria da modernizacéo. Esta teo- | Baudrillard ria, cuja matriz sociol6gica é a concepro ‘Se Baudrillard 6 incapaz de compre- ‘weberiana, interpreta. sociedade capialista ender as articulagbes que mantém o capi- com base na existéncia de um proceso de | talismo como uma totalidade social, esta racionalizagio, gerador de uma total dife- no compreensto manifesta-se também na roncinglo das vérias dimensbesda vida so- | tworia de Foucault. No entanto, nfo se cial (economia, politica, cultura, eligido, | pode purae simplesmente estabelecer uma etc}, Baudrillard concorda com a presenca rolagio de igualdade entre esses dois pen- sadores®. A postura teérica de Foucault pode ser situada numa posigdo intermo- didria entre a versio cléssica da teoria da modernizagao e sua desconstructo por Baudrillard. Foucault também interpreta a socieds- do capitalista sob o prisina da modorniza- so racionalizadora ede diferenciagdo das vérias dimensfes da vida social. No en- tanto, ole afirma a prosonga de uma di- rmensto da vida social (as relages © po- der) em todas as outras, sem que signifique menta Baudrillard), pois Foucault postu- la acietividade dessas relacies que se ma- enc dei . | nifestam descentralizadamente: ‘nossa, ond jf nto é dierenge jooontinien eo pelltien, paren “As relagbes de poder no se encon- ieee cued Rees rwspeito ottros tipas de rolagoes {processos econdmicas relagtes de hocimento.rolagbes sexta). Tes so imanentes sto os efeitos ime- diatos des partithas, desigualdades © dda modernizacdo na sociedade capitalists, mas entonde (daf sua diferenciagto frente aos adeptos clissicas da teoria da moder nizago) que esta 6 um projetoimpossivel mente 0 sou oposto, ou soja ronciagio total (a pés-modernidado,o im social): ‘A propaganda faz-se marketing e _merchandizing do ideias-forgas, deo rmens-politicas ede partidos com a ua “imagem de marca". A propaganda aproxima-se da publicidade como do modelo veicular da tnica gran dadeira idéia-forga da sociedade std onfim plenamente realizada isto 4, dissolvida como instincia especifica {camo modo histérico de contradic social). resolvida,absarvida numa in: {gua sem contradigdes, como o sonho, porque percorrida por intensidades simplesmente superficiais = A teor | JBtoudriiarSimalacros smal 9.133 le Baudrillard & perpassada | gunn, no feo aque Feacau, jes Compltaments por uma logica binéria (provavel heranga | «teria deste autor sobre as relies de poder. 39 igs intonas doses ferns tsreliges de podernaoestioe po | Siptode supersetratur comm sm piles papel de proibicao oi: de recan- | Cea ossom, lise tam um | papel cetamente produton™™ Foucault onxorga uma diferenciagzo no interior do cada uma das dimensios da | vida social, As rolagbes de poder nio si vistas come determinantes, ndo do \ articuladoras de uma totalidade social, pois, ‘manifestan-se em rede: poder dave sor analisado como algo ue cicula, ou melhor, como algo que ‘funciona em cadela Nunca eat gu tall, munca est nas mos de alguns, snunca 6 apropriado como wma Fiqueea ‘ou un bom. O podor funciona eso exer ‘ce am redo, Nas stias imalhas os individiaos nos clvculam, eases A soviodade esta eons jesnfer sa adorn organized em toma ane innate onsuatido peter, de mecanismos so compre centrcs do . transmit. Em ottos de wigldnala termos, poder ni se 7 splice aor indvios, epunigaa ssa pores." Aaustacla de posigaes a ceontisis, de instancias de terminantes e capazes de articular a socivdade como uma totalida- do, 6 a caracteristica da eoncepgao four catltiana da rode de relayées de poder: tiv hd uma imploséo do socil como em Baudrillard, mas este 6 descentrado. N s» pode também falar num social erticu- lado iaternamente, pois as relapbes entre ‘os diforentes pontos que compoem axede | so n6ves,flexvas, modificavis todo | instante A condigéo do possbilidace do poder, ‘m toro caro, © pouto de vista que per Init tomar sew exerci intligivel até ‘em seusolitos mais “penrces” tam ‘hm, onselaorapregar seus cans como chavo da intoligbilidade do ease otocil nto deve serprocaradanaoxs- ‘oncia primeira do um ponto contra ‘num fn nen de sober de onde Datirin formas derives ac torso muportemvel das corrlagbes de forgas qu, devide a sua desigaldad, Inghinn centinamente esd der mas sempre lorie sts Se, a0 contrario de Baudrillard, Foucault afirme a exisiéacia de zelacées ddeddaminacio, mantenda inchisive a po- sito entee classe dominante e classe do- ‘minnda; deixa-nos desarmades, do panta de vista to6rico, frente a essa dominagto, pats nfo hé como compreender as atic lagdes que produzem a dominacao social (cxerciio de peder potas classes soci) Ajuosturo t6ica de Foucault iio perma | a lnvetigagao das atculopde interms 8 vide social, que unem diferentes instanci 4s 0 funcionam como pontos contrais para © oxorefeio da dominagio, como 6 0 caso da indiistia cultural” | A twats de Foucault ao ¢ capa do prmitir a compzoonsao do papel desem- peahado pela industria cultural; no entan- to, ela, talvez, possa sor ul para uma ro- exo sobre os mecanismos uiizados pela Jnudsteia cultural para 0 exoccicio da do- ‘minacao social. A eritice da eoncepcao foucaultiana das relacees de poder, aqui apresentada, ndo significa que alguns es pectos desta concepeao ns possam ser tui para uma investigacso dos procassos comunicacionais ¢ da produgao cultural | na sociedade contemporinea. 4 socieda- do, organizada om toro da movanismos M,FoucoultHistria da sexvolidade = a vontode deashen p20 oo 17 Foret Miofsen do pad p18. “ N.Fovoaul Hist de staualdode 1 vontade dosaber p80 we rnfebaciae em viros posses de texto do Fouueao “poder de Exod ow ao condo dave sect" nn psa dette, obra deste ety MO force intel leo etl para tn Hr sign esta tins. Seo owcoutiane das aes de poder, neste os pect am eros, so conrad com ws eles de ‘these sor or apoetos Kolm de ado dao viglinciao punigto, pode wrvircomo | ponto de pertida para uma anélise de pro- dutos culturais como a Casa dos Artistas on 0 Big Brother Brasil. De acordo com Foucault, © poder na sociedade capitalista possui uma dimen- silo positiva, ow seja, volta-se para a pro- ‘ducdo de comportamentos adequados as normas sociais. Foucault preocupa-se com ‘ presenga do poder nas diferentes dimen- sbes da vida cotidiana, pois este € susten- tado por mecanismos do vigilancia dos ‘comportamentos individuais ¢sociais (gr- pos) e de punigao dos desvios das normes ‘A prosenga cada vez maior de cameras de video em shopping-centers, nos locais de ttabalho e de moradia,¢ nas ruas dos gran- des centros urbanos, por exemplo, parece ‘corroborar 0 papel atribuido por Foucault ‘aos mecanismos de vigilancia, Produtos cculturais como Casa dos Artistas ¢ Big Brother Bresil® parecom transportar para 1s meios de comunicagio (tv, internet) 0s mecanismos de vigildncia presentos na vida cotidiana ‘Segundo Foucault, em Vigiare Punir, Vigilancia é anénima e onipresente: qual- quer um pode ser sujeito ou objeto da vig Lincia, pois, como jé foi abordado, o poder std organizado na forma de uma rede des- ccontralizada que abrange toda a socied de. A proliferagio das “mégquinas de ve do panoptismo, € a caracterstica defini- dora da sociedad disciplinar: (1 Vie quan pee oder Screen een meal ws tes oe ploca eqweesendoino,potoed Vinbara manoiracon 6 exweda av tlie Na lade queria tet pandpics, mos qus ach 0 cubledoouente ted quate nite pote som cule Scraubmetda ann npoctosco mes” imo wpe sientrae oioeantor © Som porperedorconteladors | dsignton ne por pate do pic qualquer mei Ss soiodadeek came nemanes ito Coie tals, as fibricas, as pistes. Nao hi, ‘coneeqientemente, azn de que o czes- Cimento de poder devido & maquina ;pandptica posse dagenerar em iranias ‘dispositive diseiplinar sera domocra- Tleamente controlado, pois sor sem ‘essa, acesivel a0 "grande comité do ‘wibunal do mundo". Esse pandptico,su- Ulmente aranjado para que um vigia ‘poten obwervar comma cthodel,an- tos individvos diferentes, permite tam. ‘ben a qualquer pessoa vigtar 9 menor Vigia. A méquina de ver ¢ uma espécie {de cémara escura em que se espiona: 1s individu ela toraa-so um edificio transparente onde oexercicio do poder ‘controlavel pela sociedade itera. O fsquoma pandptico, sem se desfazor nom perdor nesinuma de suas proprie~ dades, 6 destinado ase difundir no cor ‘po socal: em por vocago tornarso af ‘uma funcio generalizada. Como a postura tebrica de Foucault incapaz de compreender o processo de con- contragao de poder, constituinde-se a in- dstria cultural muim dos seus elementos chaves, a adesdo acritica 8 concepcio fou- caultiana dos mecanismos de vigildncia e unico impede a constatacdo de quo © caréter descentralizado e “democrético” do exorcicio do poder é uma ilusio necessé- ria para a manutengio das relagoes de do- minagao na sociedade capitalista, Os “reality shows" corroboram esta ilusio, pois qualquer uum pode vigiar 0 comports- ‘mento dos moradores das “casas” e punir 0s inadequados (os que néo se comportam de acordo com os padrées esperados) com 4 expulsdo (votagao pela internet ou pelo telefone}. ‘A interpretagio de Adorno ¢ Hor Kheimer da elacao entre 0 piblica e os fil- res de animagio fornece clementos para ‘uma melhor compreenséo dos mecanismos de vigilincia ¢ punicdo, presentes na cotidianeidade capitalista. De acordo com ‘os autores frankfurtianos, quando o pibli- * Onome deste programe i win eferénci ax amcznisnes devighteca, 2, Foucault Vilar epuni, pp 182-183. reito de vir constatar com sous olbos ‘como funcionam as escolas, os hospi at co so diverte,rindo, da violéncia softida, porexemplo, pelo Pato Donald, no fundo, ide si mesmo, das homilhagdes sofridas nas relagdes de peder vividas no cotidia ro: 0 riso sorv como acoitagiio dusta situ ago de vitima de violéncia. Deacordo com ‘Dialética do esclarecimento, os filmes de animagio: \ \ (3 jnensteam em todas as exbeoas a antiga verdade de que a condigse de vida nesta sociedade 60 dnsgasta con inno, a vsmagamonto do toda resis téncin individual. Assim como Peto Donald nos cartoons, assim também ‘os desgragados na vida veal recebem & sua save para quo os uspectadores pos sam so acoatumar com a que eles pe trios reealom, No caso dos “reality shows", 0 pili leitima a sua condie4o, na vide cot fa, de objeto dos mecanis- ‘mos de vigllancia o pani Os padtoes de bigamento sia sna medida em que se caloca, “ enquanto telespectades, 08 produzidos condicao de sujeito desses ‘mecanismos. 0 préipria exer- cicio do podor pola miia e fs grandes conglomorados comunicacionais, que toma- se simultanamente obsca- recida e logitimado, pois 0 exereieio (thuséria) do parler polo publico épropiciado pelo indsicia cultural (emis soras de ts) e pelos que controlam a {nfraesteuture comunicacional (Companhi- as telefinicas, provedores de intocnet). Alem disso, os“reality shows” colebram o triunfo da padronizagio, que 60 elemento de ligngao, de articulayi, oat 0 proces so produtivo eo pracesso éomunicacional na sociedade eapitalista: ganba v peéaio em disputa quem, muma situagio de vigi- lincfa total, se comportar melhor de acor do com os padrées esporados. Os padirdes de julgamonta no si outros sens pro: duzidos pola prépria indistsia Cultura, j particularmente, no caso brasileiro, pelas pela notin cule a2 \ lelenovelas. Nao foi obra do acaso a vité ria, na Casa dos Artistas 1, de bem contra mal, com o triunfo da “garota boazinha ‘epobro”. A mosma formula estove presen: te no Big Brothor Brasil: 0 vanoedor fat 0 ‘oncorrente "ingénuo pobre” Adorno ¢ Horkheimer apontam o esquomatismo como um dos olomantos fintdres dn ag da intel cultural © comportamonto do piblico abodoce a | “umesguoma pré-dotoinado:a sua ado- sto cum padtéo comporamantl pare, inclusive para ole mesmo, espontines, \ mas no 6 Apés deades de implantagao dnindstria cultural, coma aprontagdo om orcalaindusirial de padrbos do com portamento om filmes, eriados o taleno- elas (lée des pegaspublicris), no Ses estranar quo os participants dos | ealiy shows" subum come secompor tar, ou seja, como desompenbar sens pa- Peisemstatnia com as asprngtes do pi Biico, som a existiacia de um roteiro explicit, O esquematismo, « adequagto comportamental sox padres de conde esperadce, menifeserse, segunda a arg imentagdo desenvavide em Dilton do esclorecinenta tanta na esfora do tra | Tkoquantonedoleze nds cutira) 0 of participants dos “relly shows” procisim saber previamente como scom- Porta, os canddatos 9 fincionétion di tina empres ambi precisa sabor pra- ‘laments como se comport, pols ert na sitwagio (smulnda) de funcionério nem presnqueol er aval plo prof ale da don de roorsos humans. A inolhanga ente ar dindmicas de grupo vivenciades porcandiatos nos procosaoe deselect, « = indica de grpo, viv das pelos participaates dos “reality Shows" nao é mera cincidtncia, Dhanalise dor "eat hones" permite tambo uma avalngto do conoolto desi TW. Adorno M, Horkelus Dialtica do estarec mento, p13, mulacao trabathado por Joan Baudrillard. ‘Sem diivida © comportamento dos parti- yantes dos “reality shows” e dos proces: sos de selecao é de natureza simulacional: busca-se mostrar aadequagae au padrio de comportamenta esperada e nio expl Cito, Nao importa, pois nao hé como saber se este comportamento corzesponde ou ni ‘A verdadeira personalidade dos individuos: sobrevive” quem simular melhor. Esta é ‘a moral, a regra de comportamento essen cial da sociedade contemporinea, AA presenga da simulagao nao significa, ‘como interpreta Baudrillard, a implosao do social. Para 0 bom funcionamento da socie- dade capitalista, nao é necesséria que os inilividuos acreditem no que estao fazen- do, basta que eles se comportem de acordo com os padrées, aginda, por exemplo, ‘como consumidores. Neste aspecto, a ar sgumentagdo de Baudrillard padece de um alto grau do ambigiiidnde: ao mesma tem- poem queafirma resistencia das massas [a""maioria silenciosa”}em agirem de acor- do com as expectativas, rgumentaque elas aagem de acordo com os padtrdes esperados, mas vem acreditarom neles: \ \ (..10 argomento ata do sistama él ‘maximalizagso da palavra, de proxive Gao maxima te sentido, A resstéucla estratégica, pois, & de recusa de ut do ¢ dv rocusa da palevra ~ ou da s- 2 hiperconformista aos prope:- fie mecnnismos do sites, yu una forma derrcusne de nio acvitagao, Bo aque fazex as massas: omotom pare 0 sistoma a sua propria léga, Redupli- ccando-a, davolvem, como um expel, © sont som 0 absorver De novo, os argumentos dos pensadoves frankfurtianes parecer maisadequados para oxplicar a realidade social contempoca- n. Adorno, no seu artigo cléssico scbre A indiistria culture, divulgado pela prix imeira ver om 1962, afirma que a relacao do piilico (consumider) com a indstia cultural 6 uma relagto de dependéncia Tendoom vista a monopélio dos meias de | I L 43 \ \ divulgneo da produggo cultural pelos grandes conglomorados empresarizis, 0 piiblico dopende destes canglomerados para tor acisso enmunicagto, Devido a esta lopendéneta, 0 piblice da inchistria cultural consome os seus pradutos, mes imo sein necessariamento acreditar neles Simplesmonta, nao possui os meios para ter gcesso ou divulgar uma outra visto da realidade social, Sendo asim, o publicn jengan a si proprio , agindo conforme at expectativas goradas pola insta elt ral:a visao da realidad transmitids polos conglomerados comunicacionais paroes sera inica walidado posstvel \ \ \ | | ‘A dia de quo o mundo quer sor onga- ‘nado umou-so mais vordadeira done, sem civida. jamats pretonden ser Nao somento os homons eaem no logro, como se diz, dese que isso thes st ‘allsfagio por mais gaa que sea, cana também desejam essa impostura que les proprios enteeveem; esforganise por fecharemos olbes eprovat nua spice de autodesprezo, aguilo quo lhes ceorse € do qual sabem por gat fabricade. Sem o confessar,prossonte ‘gue suas vidas se los torna incoler ‘els (20 logo no mais se agnrrm a Ufagos quo, na realidad, ne @ 40. De inode aposto® argamentacto de Baudrillard, que afirma o fim da dife- zonga entre o imagindria © o real, Adora postula que o mundo mostrado pela ind {tia cultural e.0 mundo real nao sto idée cos © que 0 piiblico possui algam gran de consciéneia desta diferanga. As solugies apresentadas pola inchistria cultural para os problemas reais so falsas solugdas: 0 pro bblemas e contradigdos socials eontinuam a exist: | | Provondondo sor o guia dos perplexos, e aprosentando-Thes de meneira a nadora os conflitos que eles devem ‘nfundir com os seus, «Indvstia cul: tural s6 na apartncia os resolve, pois no Ibos seria possvel rosolvé-tos em suas propria vidas." J. Browdeillard Slnalaers simaloedo p11 Em especial, a realidade da desi- | eragdo insuperdvel dos elementos gualdade social nao consegue ser anu- ‘humanot. 4 somolhenga porfita ¢ a ada pola indsteia cultural. A persis- | ae ee eae téncia da desigualdade social no \ te ee capitalismo faz com quo soja “cada voz A participagio de publica na esco- ‘ais difiil persuadir as pessoas «cola- | tha dos voncodores em programas como borar.”"*, No entanto, existem mecanis- | 98 “reality shows” ou os concursos para mos que logitimam a oxistacia da desi escolha de modelos {recentemente hou- gualdade social: ve o concurso da garota Brahma/ Playboy) eferenda a existincia da desi A islets a cen ne clele de | guoldade social ¢ a indsstria cultural hoger paen todos, mas pace quent ra | come canal de ascensao social. Canfor a eorte,oumelhor para quom desig | me a argumentacéo de Adorno © nado forums poténcia specie -na | Horkheimer, o maximo de diferenca 5, Imaiorio des vezes 0 propnin indtistria | de acarda com a ideologia capitalista, ao ddoprazer.queéincessartementeapre- | ieearvn tempo o mixed imidleate ‘seniada como estando em busca dessa coms de igualdad ‘A ldvologia 90 asconde no ealelo de> eee eee ae reread | os ricos.efamasos (mostrados pela indis- Peloscagadomedotaion. | Wit eultura) cca, na bierarqua so Tosedepoislangadasem | al, um Lugar totalmente distinto das po- rondeescalapelosesti- | bros © descoahecidos; no entanto, 08 ‘os sto tipos ideais da | ricos e famosos slo iguais aos pobres # Nao hé cainctléncia wo cee uae te eeseoabosies, posto qu ets poten veils areate | s0rticos © famopos so tivorom sort, ot ene o mundo mas- deosertério,masdotal | soja, se estiverom na “hora costa e no lu ee sorteque,diferontemene | gar conto". A rodugao da desig ‘redo pel indlistra indaariatncogane. | Sciam edleate do probabiiages ia oveatidod notojipe- “ cola ea reeigade tooulhadoporola.ae- | 0% mecanismo essencial da ideologi rreotalindopamcla. $e | cspitalista, posto om prética colidiana- fiuua,niopenasaper | monte pela inddstria cultural e desven- Siliadedetaniinvis | dado pela abordagem de Adorno & asomostarna oa, uas | Horkheimer Ainda maisentatiearen tea disténcta entre elas, 86 uma pode lirarasorte grande, s6 uma podu se tor ‘nar célebze, © mesmo se todos Lom a | A critica, de senso comum, do concei- to de indiistele cultural, argumenta que ‘Adomo ¢ Horsheimer afirmam a impos- sitilidade de questionamento do poder dos grandes conglomerados comunicacionais. sta critica seria vélida se dirigida a Baudrillard. Para osse autor, © poder (om todas as suas formas) implodiu junto com rmosma probalidade, esa 6 para cada tim tho minima quo 6 melhor risetla dda vere rogorijar-se com a flicidace lo outro, que poder ser ele préprioe que, no entanto, jamais 6. Mesmo quando a industeia cultural ainda con m Vidvauma dentificagés imgenun-esta 0 Social: a sesisténcia das massas (a "mai- sevéimediatamentedesmentida. Nis | oria silenciosa”) venceu, nao faz sentido ssuém podu mats so porder de st ms qualquer questionamento. Adorno © mo, Outvora, © ospectador via no fi me, nocasamentorepresentado no fle | me, o seu pr6prio cassmento. Agora ‘sfolizardesexibidas natelasaoexom- | plares, pstoncendo ao mesmo gbnere {qqo portonco cada possoa do publ co, mas esta igualdado implica aso 7 W.Adomo. Adorn, p. 66. 2 bids, p08. STW Adomo & M.Hoxkholne. Dlatica do exclave. ont, 2.0. "ibid, p. 195-196. Horkheimer argumentam favoravelmente ‘20 reconhecimento do poder oxerciddo pe- Hor-khoimer ¢ eu dissemos, a tes rnd conglomradoscrmuncncio. | nals, mas afirmam taméan que esse po- der nio 6 total: no hd enincidéncia entre © mundo mostrado pela indistria cultural a realidad, 0 consumidor dos produtos da indiistria cultural nfo acoitatotalmen: Todavie, tomow-so cada vor mas diff €l peri as pasos a colaboras revs da attic ado pod ‘arated do roped teligénca. Naor da attics, as mae- eestor pre ‘fear com o miliondrio a tla, Imuto embers par ede an tilimetro soqur da le do grande mi thar. A idooigin a esconde no cal Jo do probated” Somente sua desconfianca profunda- ‘mente inconsciente, o timo res{duo fm sou spirit da diferencanizeaarta ‘a walidado emptrica, explice por que 435 massas nto vom e aceitam de hi ‘ito © mundo tal con Tes 6 propa ‘ado pel indstia eoltaral™ (© uso da racionatidado para fins de do- tminagao criou as condigSes para a emanci pacéo humana. A industria cultural no pode ser compreendida fora do processo de ‘desenvolvimento dialético do esclarecimen- to. 0 desenvolvimento tecnolégico que pos- lita, por exemplo, a induscializagao/ comercializagio da producio cultural, per mite também ~ desde que redirecionado ~ ‘@ emancipacio humana da situacdo de es- assez, geradora da subordinagao das agBes sociais is atividades necessérias para a sa- tisfagdo das necessidades humanas bésicas. Este redirecionamento significaria a cconcretizagao da pritica da biberdade (pro- :etida pelo esclarecimento}, mas é bloque- ado pola atuagio da indistra cultural, que dificulta a conscientizacao de que a eman-

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