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61 Portugués do Século XVI eSéculo XVII José Pereira da Silva Resumo: This paper intends to make a reflexion about the Portuguese of XVI™ and XVII" centuries and its influences. On one hand, the influences from Latin, on the other hand, the influences from other languages and circumstances that make this period difficult to define, because it presents classical and popular characteristics, at the same time. Palavras-chave: Histéria da Lingua Portuguesa, Portugués Renascentista, Por- tugués Medieval, Portugués Moderno. A partir de meados do século XVI ou um pouco antes a lingua portuguesa passa por grandes transformagées, enriquecendo o seu acervo lexical, discipli- nando as suas estruturas, através de suas primeira gramiticas, competindo com © espanhol e expandindo-se para fora do seu dominio continental, a partir das conquistas ultramarinas. Enriquecimento, disciplina gramatical, emulacao com 0 castelhano e expansao da lingua, principalmente a falada, para os povos con- quistados — eis a fisionomia do portugués nessa época. Isso nao significa dizer que o portugues tradicional, hé dois séculos separado do galego, nao permane- cesse como lingua viva, falada e inclusive escrita. A prosa diddtica dos reinados de D, Jodo I (1357-1433) e D, Duarte (1391-1438), grande parte da poesia José Pereira da Silva é professor de Filologia Romanica na UERJ. Organon, Porto Alegre, n* 44/45, janciro-dezembro, 2008, p. 61-73 62 José Pereira da Silva palaciana compilada no Cancioneiro, geral de Garcia de Resende (1516), 0 teatro de Gil Vicente, a prosa, a poesia ea dramaturgia de $4 de Miranda (1481- 1558) ¢ Bernardim Ribeiro (1482? - 15522) so testemunhos de uma linguagem arcaizante, embora literdria ¢ j4 sob as auras do Renascimento. $4 de Miranda, considerado o introdutor das novidades literdrias do renascimento italiano e espanhol apés o seu regresso da Itélia em 1527, se por um lado revelou em Portugal as formas importadas, por outro manteve-se muito fiel as velhas es- truturas poéticas em metro curto e a uma linguagem que vinha dos fins da Idade Média. Tanto que os historiadores da lingua sentem certa perplexidade na caracte- rizagio do portugués do século XVI: Leite de Vasconcelos entende que “até meados do século XVI (com Gil Vicente, $4 de Miranda) a lingua apresenta caracteres gramaticais, estilisticos lexicolégicos que a separam dos tempos subseqiientes” (Textos Arcaicos, p. 117); Epifanio da Silva Dias, que na sua Sin- taxe hist6rica portuguesa, fala num “portugues arcaico médio”, na sua Grama ca portuguesa elementar afirma que “o periodo arcaico da lingua portuguesa vai até cerca dos fins da primeira metade do século XVI”. E bem possivel que a denominagao “arcaico médio” nao constituisse propriamente uma fase, mas tum longo perfodo paralelo ao portugués classico, do século XVI a0 século XVII, em que certos termos e certas estruturas lingiifsticas do portugués antigo se mantiveram vivos. O proprio Said Ali, em sua Gramdtica histérica da lingua portuguesa, contrariamente a muitos outros, ndo considera Camées o criador do portugués moderno “porque essa nova linguagem ja vinha empregada por outros escritores”, Sem denunciar o pioneiro da nova linguagem, 0 autor parece insinuar que o portugues moderno tem inicio com as Décadas de Joao de Bar- ros (1496-1570)', publicada entre 1552 ¢ 1563, nas quais se inspirou Camées para a composigio do seu poema. A matéria hist6rica que envolve a viagem de Vasco da Gama as Indias foi Camées buscé-la na obra de Joao de Barros ena de Fernao Lopes de Castanheda (Histéria do descobrimento e conquista da India pelos portugueses, 1551-1561). Entretanto, se este historiador se sobreleva a Joao de Barros pela minticia descritiva dos fatos e da geografia ultramarina, baseado na observacao direta e em fontes documentais, o seu estilo distancia-se das Décadas pela secura da linguagem, marcada ainda por uma sintaxe t{pica da prosa medieval. O que demonstra a coexisténcia dos dois tipos de linguagem nos meados do século XVI. (Os descobrimentos maritimos realizados pelos portugueses desde princfpi- 9s do século XV com o Infante D. Henrique (1394-1460), até a morte de D. Joao TIT em 1557 (quando o império ultramarino j4 apresenta os primeiros sinto- ‘Jodo de Barros foi o donatdrio das capitanias hereditarias do Ceard ¢ do Pard, para onde man- dou quase um mil colonos. Onganon, Porto Alegre, nt 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p. 61-73 Portugués do Século XVI e Século XVIL 63 mas de decadéncia), nado conseguiram abalar a vitalidade da lingua tradicional, aia tivera com Fernao Lopes (1380-1459) um dos seus mais lidimos represen- antes. Nao ha diivida, portanto, em que as transformagées por que passou a lin- gua portuguesa nessa época estao ligadas 4 grande revolugio social, econdmica, artistica eliterdria que se conhece sob a denominagio de Renascimento. Ao lado da admiragao pela antiguidade cléssica greco-latina, que levou os escritores do Renascimento a tradugao, a imitagao e a assimilacao dos Antigos, Portugal abriu as portas do mundo moderno com o descobrimento da India, contornando 0 continente africano, colocando assim o homem em contato com novos mun- dos, novos povos ¢ novas linguas. 1.1. Latinizagao da lingua oO deslumbramento da cultura classica, suscitado pelo movimento humanistico da segunda metade do século XV, criou nao sé uma elite de erudi- tos, como propiciou o aparecimento das primeiras gramaticas da lingua portu- guesa: debrucado na leitura dos modelos classicos, sobretudo latinos, os escri- tores portugueses foram naturalmente levados a introduzir na lingua intime- ros latinismos, aportuguesando as formas importadas e refazendo as formas arcaicas. Sousa da Silveira nos da uma sintese dos tipos de latinismos introdu- zidos nessa época na lingua portuguesa: latinismos: gréficos, complicando a escrita mais singelas dos primeiros tempos; fonéticos, Groximanda formas populares; muita altéradas das formas clissicas conheci- das; morfolégicos, com a adogao de sufixos, prefixos e radicais da lingua mae; sintdticos, com a transplanta¢ao para o verndculo de construg6es latinas nao usadas em Portugués, e, finalmente, léxicos, constituidos pela introdugaéo de oo vocilicos denominados eruditos ou literdrios (Ligdes de portugués, p. N’Os Lusiadas, por exemplo, se encontram exemplos de todos os tipos de latinismos apontados: a) grdficos: octavo (oitavo), precepto (preceito), doctor (doutor), nunqua (nun- ca), epse (por esse), cuja promtincia nao correspondia a lingua viva e acabaram desaparecendo; b) fonéticos: defensa (por defesa); urso (por usso); drbores (por arvores), nido (por ninho). , o morfoldgicos: os casos de superlativos eruditos em -érrimo, -ilimo e -issimo; os plurais estériles, fértiles, indbiles, faciles, felices, falaces; as formas nominativas Plato, Estrabo, Varro etc. (por Platao, Estrabao, Varrao; os adjetivos em -bil: visibil, imébil, implacdbil etc; : d) _sintéticos: casos de aposto — cidade Beja, reino Melinde, cidade Calecut etc.; Organon, Porto Alegre, n# 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p. 61-73 José Pereira da Silva 64 mas porém, mas contudo; a correlacao qual... tal (lat. qualis... talis) etc. e) Iéxicos: avena (flauta), flama (chama), incola (habitante), sumo (gnpremo), poto (mar), prisco, dive, cépia (abundancia); os adjetivos em -e0: ate is etc.; os adjetivos em -fero em aurifero, mortifero, odorifero e tantos outros. i. ‘Ao lado desses tipos, precisamos acrescentar 0s latinismos Se 7 de (vida), parentes (pais), partes (regides), claro (ilustre), levar events) ‘ en as Ancoras), numerosos (cadenciado, melodioso) e o emprego do verbo se a acepgao de “haver”. oo imitacao do latim, no plano sintatico, n é Papaicie na oleeagdo dos termos da oragao, na grsonintnets a estruturagao hipotitica, no gosto pela colocagao dos verbos nos finais oe ae bros do perfodo. A riqueza de subordinadas tornou, enifretanto, 0 per! [0% = polado, fatigante, as vezes confuso, atropelado pelos qués (conjungo e » et me relativo). A prosa narrativa, sobretudo, torna muito evidente esse tip organizagao do perfodo. estendeu-se também na regéncia 1.2. O deslumbramento da cultura cldssica Imente o ensino do latim e do grego, O gosto pelos estudos classicos, especial D d ee atrocinio dos reis portugueses, que rincipios do século XVI teve 0 pi Sara lustres humanistas estrangeiros como mestres de seus filhos. ; ‘A Infanta D. Maria, filha de D. Manuel, falavae redigia em Jatin a ee corte ficou conhecida no seu tempo como a “universidade feminina’, tal 0 7 ie de cultura classica que ai se respirava. No Colégio de Santa Cruz ns cimmbra na Universidade e no Colégio das Artes, o latim se impunha como lingua obrt gatéria entre os estudantes. & talvez por essa razéo que cultos de seu tempo, pois além d muito proximo da fala corrente. Gil Vicente nao gozou de estima dos homens e lavrar suas pecas em portugués, manteve-o 2, As primeiras graméticas de lingua portuguesa Como decorréncia desse gosto pela cultura clissica nasce 0 desejo ee ici plinar e aprimorar a lingua portuguesa, numa tentativa de aproximis la oe tim, Surgem assim as primeiras gramaticas e 0s primeiros dicionétios. Em Ferndo de Oliveira publica a sua Grammatica da lingoagem portuguesa; = ei sai a Grammatica da lingua portuguesa de Joao de Barros e, em. apenpss 0 Dialo- go.em louvor de nossa linguagem; em 1574 Pero de Magalhaes de Gandavo pu- blica as suas Regras que ensinam a maneira de escrever a ortografia portuguesa Organon, Porto Alegre, nt 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p. 61-73 Portugués do Século XVI e Século XVII 65 com um Didlogo que adiante se segue em defenstio da mesma lingua; dois anos depois Duarte Nunes de Ledo pée a luz a Orthographia da Lingoa Portuguesa, embora escrita muito antes; em 1606 0 mesmo autor sai com a sua Origem da lingua portuguesa. Trés foram os diciondrios aparecidos nos séculos XVI e XVII: o do Jerénimo Cardoso, Dictionarium Latino-Lusitanicum et vice-versa Lusitanico-Latino, em 1570; 0 de Agostinho Barbosa, Dictionarium Lusitanico- Latinum, aparecido em Braga em 1611; ¢ o Thesouro da Lingua Portuguesa, do jesuita Bento Pereira, saido em Lisboa em 1647. Se os dois primeiros registram aproximadamente doze mil vocdbulos portugueses, 0 terceiro é mais completo, com cerca de vinte mil, e com pretens6es a um rico elenco de obras e autores, entre eles Diogo Bernardes, Joao de Lucena, Joao de Barros, Trancoso, Frei Hei- tor Pinto e as obras todas de Camoes. O aparecimento dessas gramiticas, que tinham como antecedente e até modelo a Gramadtica de la lengua castellana de Antonio de Nebrija saida em Salamanca em 1492, e por base as préprias gramiaticas latinas, explica-se pelo afi de se tentar impor o estudo sistematico das linguas modernas em substitui- ¢40 ao latim, que ainda permanecia a lingua defendida pelos humanistas. O elogio e a defesa das linguas nacionais foi unanime na Europa roménica. A defesa da lingua portuguesa se fazia no sé em relacao A latina, mas ainda em face da moda vigente do castelhano, que as vezes competia com o idioma naci- onal — como se pode ver em muitos poetas do Cancioneiro geral, na obra teatral de Gil Vicente, em Sa de Miranda, no préprio CamGes, em Rodrigues Lobo, mania que se prolongou até meados do século XVII com a dominagio filipina: a obra poética de D, Francisco Manuel de Melo, Obras métricas, aparecida em 1665, compreende apenas um ter¢o da lingua portuguesa; um autor portugués como Jorge de Montemor compés a sua obra poética Diana em lingua espa- nhola. Neste seu poema, que é obra-prima da literatura castelhana, inclui ape- nas uma fala e duas poesias em lingua portuguesa. Tanto Fernao de Oliveira como Joao de Barros defenderam as exceléncias da Iingua portuguesa, censurada de pobreza vocabular pelos homens doutos da época. E tao extremado o nacionalismo de Ferndo de Oliveira, que para ele a fala portu- guesa “tem de seu a perfeycao da arte que outras nagdes aquirem com muyto trabalho” (prdlogo); e mais adiante: “..e com tudo apliquemos nosso trabalho a nossa lingua e gente... e nam trabalhemos em lingua estrangeira” (Cap. V). Joao de Barros enumera seis motivos fundamentais para o seu louvor da Ingua portuguesa: riqueza vocabular, conformidade com a lingua latina e filiagao nela, gravidade e majestade, sonoridade agradavel, cardter abstrato, e possibili- dade de enriquecer 0 seu vocabuldrio por meio de adogées e adaptacées (sobre- tudo de latinismos), embora em sua Gramdtica ridicularize a utilizagao de dois latinismos sintaticos. E curioso aludir a um conceito de Fernao de Oliveira, que se tornou lugar-comum, sendo até reproduzido por Jorge Ferreira de Vascon- celos em sua comédia Eufrosina (1555), que também faz de sua pega uma Organon, Porto Alegre, n® 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p. 61-73 66 José Pereira da Silva verdadeira Defesa e Iustragio da lingua nacional: “os homens fazem a lingua e nao a lingua os homens” (Cap. IV). 2.1 O carder arcaizante e popular da lingua ‘Todo esse movimento de ordem doutrinaria na sistematizagao e aprimora- mento da lingua nao impediu que os escritores portugueses dos séculos XVIe XVII mantivessem em sua linguagem as formas arcaicas e populares, € até pro duzissem em algumas de suas obras linguagem vivae cha de seu tempo. Como 0s escritores classicos nao deixaram de cultivar as formas literarias tradi jonais (com excegao de Antonio Ferreira), é explicavel que a lingua que serviu de - pressao a literatura medieval permanecesse viva durante ° século XVIe princi- pios do século XVII. Ao lado das formas eruditas, literdrias, continuaram fluen- tes na sua realidade fonica e morfol6gica as formas da tradicao medieval, em bora com sua feisio arcaizante e popular. As composigdes dramiticas de C Vicente sio um testemunho da linguagem corrente no seu tempo; 0 proprio Camies reproduza fala de meados do século XVI no seu teatro e nas suas car- tas, como faz sempre um testemunho da linguagem viva e falada na sua €poca, Lendo os autores classicos do século XVI e século XVII encontramos formas 5 € arcaicas a todo momento. u : Seine ‘uma relagdo de arcaismos e formas populares colhida nos classicos desses séculos, Como nem sempre € facil distinguir a forma arcaica da popular, rrola-las conjuntamente: , ) fenbticas conn (quaresma), reziio, quinta (quinta), dixe (disse), ae (astro), fruito, geotho, devagao (devogao), almorgo (almogo), marteiro (marti rio), tromento (tormento), antre (entre), rte (ena estrumento (instrumen- . fantesia, fogir, seo (seio), riquo, quomo (como), fame; in Se aremnaput sam (sou), sento (sinto), dezia, poer, impida Gmpers . acude (acode), aro (ardo), trager (¢ as flexes trouvesse, trouguera, yee fiz > pugeste (puseste), sondes e sodes (sois), i, is (ide, ides), {fuge; dexo (deixo); os verbos em -ear: ondeo, semeo, etc.; ; c) morfolégicos: imos (vamos), comua (fem. de comum), fim, guia, Prania (femininos); 0s participios irregulares: absolto (absolvido), encolheito (ence i do); adjetivos em -és, -or uniformes quanto ao género: nagao portugues, gente erturbador; ath 5) sintdticos: a regéncia de certos verbos — atrever-se + infinitivo sem Prepo- sicdo: “nao se atreveu passar Trajano” (Camoes); 0 verbo desejar em perifrase com o infinitivo, ligadas pela preposigao de: “deseja de comprar-vos pera genro ‘Camées); 5 léxicos: asinha (depressa), aosadas (por certo), bofé (boa fé), ca (porque), samica, samticas (talver), filhar (agarrar, obter), ca (do que, do lat. quam), solaz Organon, Porto Alegre, né 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p. 61-73 Portugués do Século XVI ¢ Século XVII o7 (consolagao), guarecer (curar), compridam (comprimento), escontra (em diregao a), aderéncia (arrimo, prote¢ao) derrota (rumo) etc. Certas preposicées e conjungées, além das acep¢ées normais, assumiam freqiientemente outras: como (logo que, assim que, contanto que, conquanto); contra (em diregao a, na diregao de, para); tanto que (logo que); muito freqiiente também des i (em seguida); acerca (perto), al de menos (ao menos, quanto muito), mas que (embora), pero que (posto que), por em (por isso), em que (ainda que). Do ponto de vista fonético, finalmente, o que se observa na lingua dos es- critores dessa época, é a freqiiente alternancia i/e: homecidio, gingiva, missilhao, vertude etc.; a alternancia e/a, e/o: jentar, salvagem, somana etc.; a redugao de ditongos: bax, bejar, otono, contino. No entanto surgem formas como cereija, bautizar, oucioso etc.;a troca do | pelo r nos grupos consonantais br, cr, fr, gr, pr: sembrante, pubrico (ptiblico), brasfemar, craro, concrudir (concluir), framengo, frol, resprandecer etc.; as formas protéicas: alevantar, assossego etc.; formas sincopadas como exprimentar, esprito etc. 3. A projegao da lingua com os grandes descobrimentos Como conseqiiéncia da expansio navegatéria, da colonizacao e do comér- cio com os povos conquistados, da catequese das comunidades gentias, a lingua portuguesa nao sé se espalhou pelo mundo descoberto, como se tornou sus- ceptivel a influéncia das linguas exdticas. O intercambio com as populagées africanas e os povos orientais resultou num enriquecimento consideravel da Ingua portuguesa, visivel na inguagem dos historiadores, que ampliaram consi- deravelmente 0 nosso acervo lexical. Todo um glossdrio de termos nduticos, de denominagées referentes a oficios, cargos, titulos, profissdes, moedas, tecidos e medidas, invadiu o territério vocabular dos conquistadores. O proprio Jodo de Barros, no Didlogo em louvor da nossa linguagem, prestigiando 0 arcaismo e censurando 0 neologismo, oferece um testemunho dessas infiltragdes. Quem 18, por exemplo, as Décadas de Joao de Barros (1552-1553), as Décadas de Diogo do Couto (1615), os Anais de D. Joao III de Frei Luis de Sousa (1632), tropeca a todo instante com vocabulos oriundos dessas linguas. 3.1. O portugués do Brasil: a contribuigdo nativa E quem ler os escritores brasileiros do século XVI e XVII - informantes, cronistas, missionarios, naturalistas etc. — encontra em suas obras um documentério riquissimo de vocabulos de origem tupi e de procedéncia africa- Organon, Porto Alegre, n¢ 44/45, janeiro-dezembro, 2008, . 61-73 68 José Pereira da Silva na, que se incorporaram ao léxico da Kingua portuguesa. Dentre intimeras lin- aguas indigenas faladas na Terra de Santa Cruz, preponderava 0 tupi, do qual apareceram as primeiras gramaticas, como a Arte de ‘grammatica de lingoa mais falada na costa do Brasil, do padre Anchieta, saida em Coimbra em1595. Na costa brasileira o portugués competiu minoritdria com 0 idioma nativo até o como caju, cutia, jurubeba, século XVIII. Nessa época j4 aparecem termos curupira, acaua, tapera, tatu, capim, maracujd, arara, pajé, capivara, araponga, rmingau, jacarandd, peroba, pitanga, jacaré, taboca, cipé, anti aragd, mandioca, jararaca etc. Tr auto obstante & época do aparecimento de sua obra O selvagem (Rio de Janeiro, 1876), Couto de Magalhaes procurasse testemunhar @ vitalidade do tupi ou nheengatu como lingua falada por pessoas ilustres € muito viva ainda o certo é que jé em fins do século XVIII 0 em certas regides do norte do pats, idioma luso havia suplantado o seu competidor. Intimeras modificagoes foné- ticas, operadas no portugues dos séculos XVI e XVII, curiosamente poderao até ser explicadas pela influéncia simultanea da lingua tupi e dos falares trazidos pelos escravos afticanos, segundo alguns lingiistas como Plinio Ayrosae Rena- to Mendonca. 3.2. O afluente africano Se as Kinguas indigenas deixaram marcas evidentes no portugues, especial- mente no rol de denominagées relativas a acidentes geograficos (montanhas, rios, bafas), cidades, estados, & flora e A fauna, o negro contribui com denomi- nagdes pertinentes & culinaria, as suas crengas, miisica eA farmacologia. Des- de meados do século XV 0 afluxo de negros escravos para reino era ume realidade. Poetas do Cancioneiro geral e varias pegas de Gil Vicente atestam a vigencia de uma fala tipica, que se caracterizava por profundas modificagdes lingiiisticas no portugués de entao. E certos fenémenos fonéticos observados aqui se reproduziram também no portugues falado no Brasil —-como a dissolu- do de grupos consonantais (purugunta, por pergunta; puruque, por porque; Furunando, por Fernando; a apécope do r: cassd (casar); a redugao do uiem muto (muito), de ei em e: dexa, deradera, carera (deixa, derradeira, carreira); a vocalizacao do grupo Ih: muyere, por mulher oye, por olhos mores Pot melhor; a apécope do s, jé vista hé pouco como influéncia concomitante do tupi e do africano na fala brasileira: vamo, temo, quatro dia etc. ‘Alids a interposigao de uma vogal para dissolugdo de grupos consonanticos tornou-se fendmeno vigente até os nossos dias: adevogado, indiguinado, abissoluto, obiter. A migragio negra p: correspondentes aos dois gran ara o Brasil teve dois focos principais de procedéncia, des grupos: os sudaneses, oriundos da regio com- Organon, Porto Alegre, n® 44/45, janeiro-dezembro,2008,p, 61-73 Portugués do Século XVI e Século XVI 6 preendida entre o Golfo da Guiné, o Senegal e a Nigéria; e 0s baintus, origindri- 0s do Congo, de Angola, de Mocambique e parte do sul afticano. Deimupe sudanés as tribos maisimportantes foram os jorubas (ou nagés), 08 gee sects datiamente os hausss, 0s minas, 0s tapas, os bornus eos gruncis;o grupo bantu compreendia os angolas, os congos, os cabindas e os negros mocambicanos. Os sudaneses foram introduzidos nos mezcados escravos da Bahia, dat espalhan- do-se para o Recincavo e outros pontos; os bantus, levados para Pernambuco, estenderam-se dai para Alagoas, Minas, So Paulo e Rio de Janeiro. A lavoura da cana-de-agtcar fixou-os no ltora; as minas fizeram-nos adentrar para 0 interiorso plentio do eaféatrafu-os para Sto Paulo, como aindtria do gado para Mato Grosso. A influéncia lingistica do negro foi mais profunda fee i indies Da lingnds ian pels ebetived dt ares as co tons ior tantes do ponto de vista lingiifstico em razao de sua influéncia na lingua pach guesa: 0 iorubé, do grupo sudanés;e 0 quimbundo, lo grupo bantu. Este timo contribuiu com um vocabulério mais geral, ao passo que o primeiro, que dei- Errdeas indelévei toa flater ca Boba, couieereck on teins feb reated candomblé e A culinéria, atingindo cerca de 250 vocabulos. a ‘Ao negro se atribuem influénciasfonéticas de vaiada espécie, como a dis- solusio de grupos consonantais, a vocalizasao do fonema linguopalatal Ih (js vistos)aféreses — como td (por ests), act (voce), es (professor, Bastia (Se- bastiio); apécopes — como cafeed, mé, dizé, sinhd; metdteses — como sicova (es- oan (escola), oriundas da dissolucao do grupo consonantico: suarabéctis (i vistos eduto dos dtongos et em eo em como br, dex oid, O vocabulério éexpressivo: babalaé, iemanj, exu, muamba, relativoao cul- to; bobé, acarajé, vatapd, xinxim, farofa, culindria; os adjetivos cagula, bangue- la, macambrizi, bambambat os nomes relativos a plantas: dendé, Weiabo,furicse inimeros outros termos como marimbondo,lundu,caximbo, uilombo, quitan- da, marimba, molambo, moleque et. inclusive termos da linguagem infantil: Pipi, nené, tatd, bumbum etc. , 4. A revolugao da linguagem no século XVII "pea os problemas da expansdo da lingua portuguesa e das influéncias ce idas através do contacto com as linguas exéticas, voltemos ao plano da gua escrita, no transito do século XVI para o XVII fe es ce Pi e durante o periodo A posta do século XVII, muito mais do que a prosa, foi uma tentativa de Becriio a Jinguagem renascentista, que acusava no tempo uma “fadiga da sensibilidade”. As palavras se vinham gastando e se tornando inexpressivas: nao Organon, Porto Alegre, n? 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p. 61-73 70 José Pereira da Silva exprimiam nada, e quando resvalavam na sensibilidade nado provocavam “des- cargas elétricas suficientes”, Era necessirio revolucionar tecnicamente a lingua- gem para reconquistar 0 poder expressive da palavra. ‘As grandes modificagoes ocorridas na linguagem do século XVII em rela- gao ado século precedente sao, entretanto, mais sensiveis na esfera lexical e na organizacao da frase. Na esfera lexical, queremos dizer, quando falamos em “termos de época” e nas violentagdes semanticas com vista A criagao da surpre- sa; na estruturagao frasal, quando pensamos nos diferentes tipos de organiza- cdo sintética que vieram subverter a estrutura fechada, periddica, da chamada cldusula ciceroniana. Se a linguagem dos escritores barrocos & culta, de cardter aristocratic e estetizante, nao é classica. As duas tendéncias estéticas do movimento barroco, que representam uma ruptura do equilibrio, da clareza e da serenidade classi- cas (0 Cultismo com 0 predominio da imaginagio, ¢ 0 Conceptismo com 0 predominio da inteligencia), cada qual subverteu a seu modo os padres da lingua classic. ‘© Cultismo, que atingiu sobretudo a esfera da poesia, é uma estética da representagao sensivel; 0 Conceptismo, mais afeito & prosa, é uma estética do entendimento. Como estética imaginativa, 0 Cultismo criou um vocabulario proprio através de varias vias: mudando a acepgao normal dos termos corren- tes (dilatar = arremeter; beber = nadar; desatar = desvanecer-se; mentir = fingir etc.); reabilitando as acepgbes cultas latinas (traduzir = levar, transportar; de- signio = desenho; reduzir = voltar a levar, recolocar; absolver = terminar etc.); tornando léxico corrente termos cultos, notadamente adjetivos, de emprego restrito no século XVI (fgneo, certleo, purpiireo, herciileo, flamigero, dspide, in- culcar, intonso etc.); Ou utilizando-se de termos, denominados “termos de €po- ca”, que caracterizam a mentalidade barroca (breve = efémero, pequeno; fireza, cinza, desengano, caduco, caducar = encanecer etc.), e até certo ponto uma vo- cacao para os esdraxulos. Como estética da fantasia, 0 Cultismo apelou Sbusivamente para a descrigao alegorica, para a metéfora mitol6gica, para as imagens sonoras e cromaticas. Na esfera da sintaxe operou inovagées que sera vistas mais adiante. Na colocagao dos termos, a poesia cultista caracteriza-se pela subversao da forma, com deslocacdes da palavra para lugares inesperados da frase: sio os hipérbatos e as sinquises; por outro lado, o estilo sentencioso dos conceptistas resulta na eliminagao dos estados transitivos do sistema, tornando a frase con- cisa e sem vascularidade: sao as elipses. ‘A quebra da frase pomposa, solene, fechada (a clausula) se fez mediante a utilizagao da frase curta; a progressio da prépria cléusula para além dos limites fixados pela teoria da frase cixcular ~ em que as conjungées coordenativas € correlativas permitem um. movimento continuo do pensamento: ¢ mas, en- Organon, Porto Alegre, n 4/45,jancizo-denembro, 2008 p 61-73 Portugues do Século XVI e Século XVII 7 uanto, tanto... 5a utilizaga i 7 ya nto. ee etc.; a utilizagao das parentéticas, das oragées reduzidas, em cadeia, da frase em espiral etc. Na poesia:é conhecido 0 caso da lose frei ; 7 di “ . anadiplose, freqiiente nos poetas seiscentistas, em que a mensagem, em espiral, Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade E verdade, Senhor, que hei delinquido, Delingtido vos tenho, e ofendido, Ofendido vos tem minha maldade. (Gregério de Matos) pe ees esfera da sintaxe, os escritores do século XVII se utilizaram do mado “acusativo grego’, do ablativo abs: foes > ‘oluto, do verbo sercom a ‘servir” (através de uma construga pe eae go que lembra o emprego do verbo esse lati com dativo); e finalmente da: ilisti 7 Nosed ett 5 's chaves estilisticas, que Dama: ; / : so Alonso estuda eee bem quando analisa a linguagem poética de Gangora. ae oablativo Heike € corrente na poesia anterior, nao 0 é 0 ablativo que cee na cones em que 0 particfpio é substituido por um substantivo que ica 0 sujeito, funcionando, com rela jeii pod s » G40 a esse sujeito, como predicado: ‘pois ela, mel a boca, 0 rosto flores” fi : Ince flores > :s” (J. Bafa), em que ela é 0 sujei eee oad > ijeito, mel e flores dj ss com valor de particfpios (melada e florido), modificadores do sujeito. Bi ee lexical j4 vimos atrés que a caracterfstica mais evidente da lin- ee ae Se é e horror as denomina¢ées correntes do objeto: daf a fuga 10 proprio, apelando para as distorg6 anti 1 x r ‘Ges semianticas da pal: ; ¢ palavra, para as Hanes cultistas e para os processos mais extravagantes da ESatoraagia oe fe ee excUrso a propésito da lingua literdria do século XVII, Eee eae BS Heat be Poesia, eee que os dois nfveis menos atingidos pelas erdrias s40 0 fonolégico e o morfolégi : ldgico. Entretanto nao pod passar despercebido que os escritores seiscenti ithe r de s seiscentistas abusaram da deriva¢ao i prépria, isto é, da substantivacao de ellecon: propia, outras classes de palavras, i i jungGes e de advérbios. egies | Aine égi il pe a ne ome pone mas por deliberagées de natureza estilistica, rvar os casos freqiientes, no territério d: i : D > la poesia, de permuta d classe: i rltete(odietiva) S OU Categorias, em que o suporte (substantivo) se torna epiteto (adjetivo) e vice-versa: ptirpura nevada (por “neve pt ” r « prateadas”) etc. purpura”), undosa prata (por “ondas 4.1. A metaforizagao Eni ‘ sce Bes no afa caracterfstico de ocultagao do objeto, os escritores s se comprouveram nas criagées mais excéntricas da metaforizacio. Organon, Porto Alegre, n° 44/45, janeiro-dezembro, 208, p. 61-73, 2 José Pereira da Silva Varios séo os tipos de metafora, cujo proceso de formacao difere do utilizado na linguagem do século XVI. Enquanto os escritores renascentistas nao se uti- lizam da chamada “metdfora surrealista” ou descendente (em que 0 segundo clemento da comparagao pertence a0 mundo infra-real) porque 0 objetivo do artista clissico é criar um mundo de beleza absoluta, irreal, os poetas barrocos, especialmente os conceptistas — que exprimiam melhor a ideologia contra-re- formista do seu tempo ou a visio irracional do mundo -, fazem uso dela como fator tipico. £ 0 caso, por exemplo, do “pé da terra” (= o homem), “vibora” (= ondulagoes da 4gua),“paredes” (= coracio) etc. Os poetas clissicos se comprazem na “metifora mistica” ou ascendente (em que o segundo elemento da imagem pertence a um mundo melhor supra-real) — tipo “pérolas” (= dentes), “rosas” = magis do rosto), “guro” (= cabelos) etc. Este tipo de metéfora também se aplica & imagem. Certos verbos, que nada possuem de poético quando usados jsoladamente, também se prestam @ formagées imagisticas muito do gosto dos poetas maneiristas e barrocos: calgar (em “calgar o vento” = correr com 2 ligei- reza do vento); beber (= nadar):“bebendo muito golfo em poucas horas”; pascer, pisar (= estar entre): “pascer estrelas”, pisar 0 céu’, imagens oriundas da poesia latina; pentear (= sulcar): “a nave montes de cristal penteia’, isto é,anave abre sulcos nas ondas etc. (O sentimento de repullsa que se verificou na Espanha durante o século XVI contra essa linguagem culta, floresceu também em Portugal. Havia uma cons- Gjancia nftida dos niveis de linguagem na época: 20 Jado de uma prosae de uma fala comum a maneira tradicional de Sa de Miranda (como se pode observar na Jinguagem de D. Francisco Manuel de Melo), havia uma linguagem requinta- damente culta, propositadamente procurada, que as vezes derivava até para a fala corrente. O primeiro passo da grande revolugao estética do material expressivo levado a efeito pelos poctas cultistas foi a desumanizagao do vocabulério. Numa expresséo como ladrao cristalino, pot exemplo, com que 0 poeta de- seja simplesmente metaforizar 0 rio, é evidente © desprezo pelo contetido sroraldo primeiro elemento: ladrio ai figura porgue 0 poeta conseguiu com ele criar beleza, dado 0 valor dinamico do termo. ‘Ausente 0 contetido espi- ritual das palavras, estas agora seduzem exclusivamente pelos seus valores sensoriais: sugerem OS diferentes reinos da natureza pelo que possuem de cores, de sons, de formas € de movimentos. Constituem, pois, um delicioso banquete de sentidos. Conquanto 0 yocabulirio possuisse uma hierarquia, os poetas seiscentistas nao desprezaram, dentro de sua tendéncia aristocratica, as formas populares: 0 seu uso esti ligado ao propésito de surpreender 0 leitor pelo imprevisto. Liga- dos ainda a esse intuito estao certos verbos materiais, antiposticos, empregados tm situagdes semanticas estranhas: organiza’ fatigar, vestir, vomitar, desatar, suar, chupar, pisar, beber etc., em formages como vestir luz, calgar 0 vento (ja visto), suar aljofar as estrelas (orvalhat), pascer estrelas, pisar a luz do dia, pisar Organon, Porto Alegre, 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p.61-73 Portugués do Século XVI e Século XVI 73 crepuiscul is i m “ vi 7 Satigar os montes, pentear o cristal (sulcar 0 rio), muro desatad or mmf beber luzes abril organizado etc, Também despertam a ate! : elo inesperado as formages neol6gii i 7 = nespera¢ gic: itico (de vat istoliz x bem como ajtirages chocantes: ceroulas espirituais, Cee x vacabalirn cultista gongorino foi quase integralmente aproveitado poate is Te ha igneo, odorifero, purptireo, discursivo, presume, ‘ sagitifero, ebiirneo, ignifero, purpui / if : ete,, jé usados, na sua maioria, eee meas coral el eae "A semantic 7 . ae : deinarag a foio setor gramatical mais violentado pelos poetas seiscentistas: seo suaiae atrair pelo imprevisto: purpiireo (formoso, lindo); reduzir- Aaa lcdnenn aa ie cones flui); desmentido (desfigurado, desvanect >) , delgado), além d icos,q ‘ penis le outros abusos semanticos, que as vezes Alin i i hous eva potticn do século XVII foi realmente mais uma lingua importad: eo. due fr ° 7 criagdo nacional, com as marcas evidentes da wnfluencla es : vés de uma de suas vertentes dominantes: o Culteranismo. ET Bibliografia ALO i a ‘a Dishes ~ La lengua poética de Géngora. 1. Madrid, CSIC, 1950. a. ot are Carvaliio — Jodo de Barros: Gramética da lingua por 5 . fac-si i ii 6 is “ pie Rel es, leitura, introd. e anotagées. Lisboa, Faculdade Gramdticos portugueses do sécul i i "cir ete pai 7 lo XVI. [Lisboa] Secretaria de Estado da SA, — Historic WEDONCA Renee dela lengua espaniola. 7. ed. [Madrid, Escelicer, 1962]. Mise apse: portugués do Brasil. Rio de Janeiro, Civilizagao Bra- NI a ine: ue oo de lingua nacional. Sao Paulo, Nacional, 1940. —“Questiones gangorinas”. pletas. ce, Ceimes a gorinas”. Em suas Obras completas. [Méxi- SAID ALI, M. — Gramdtica histérica da lin, ‘io Paulo, » M. hi ica da lingua portuguesa. 3. ed., Sao Paulo, SILVA NETO, Serafim da — Introdugéo ao estudo da lingua portuguesa no Brasil. SILVE) ousa : — Ligdes de portugués. 3. ed. : io de Janeiro, Civilizagao IRA, Sousa di i i Brasileira, 1937. 7 VASCONCELOS, J. 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