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Novos RUMOS A ILINTERNACIONAL E SEUS CONGRESSOS (1889-1891) O conhecido historiador penetra na hist6ria e nas conquistas dos trabalhadores em fins do século passado, ‘mostrando seu processo de conscientizagao ¢ organizacdo 0 surgimento da II Internacional, acompa- nhando sua trajetéria e as realizagdes de seus congressos entre 1889-1891 Entre 1880 € 1890, 0 movimen- to operério, na Europa, volta a se a tee 0. burguesa nao consegue mais abafar a sua forca crescente, pois, reag#o que se dera durante @ revoluedo europtia de 1848, 0 rei- nado de Napoledo II e 0s acon- tecimentos trégicos da Comuna de Paris estavam em declinio. Pouco @ pouco, como nuim process. de ‘moto continuo, a classe trabelha- dora recupera’ seus valores, uta Por novas conquistas, pretende ‘ccupar seu espaco na’ sociedade. © esforco € constante, mas sua presenga e importincia se dio em niveis diferenciados conforme 0 pais € 0 momento histérico, que vai de 1880 a 1914. Em alguns paises, a formagao partidéria pre- domina como forca mais dindmi ca, em outros, € 0 sindicato; em alguns, 6 expontaneismo (no de cardter anarquista) ainda persiste Este conjunto de fatores, muitas vezes, coexiste em muitas regides da Europa, 0 que mostra a com: plexidade do processo porque pas saa classe trabalhadora, ainda mais que ideologicamente, aner- quistes ¢ marxistas, socialistas ¢ anarquistas revivem a luta entre si, como se dera durante a I? Internacional; nesta _divisio do quadro ideolégico, nao podemos esquecer dos ataques feitos a ten: déncia caidlica, ataques do qual participam todas as tendéncias de esquerda — marxistas, modera- dos, anarquistas —, e que € um dos fatores para a andlise do com- portamento trabalhista da época. Todos esses problemas serio le- vantados por nés nesta série de artigos, porque fazem parte do quadro da existéncia da II." Inter- nacional 49 Uma conquista anterior, concre- tizada pelos trabalhadores, € a formacio da I Internacional. Ela é fundada em’ 1864, quando ope- ratios franceses entram em con- tacto com seus colegas ingleses refugiados politicos de diversas nacionalidades, durante a Exposi- 0 Universal ‘deste ano, em Lon: dres. O organismo realiza diversos Congressos, mas, apesar da predo- minfincia dos marxistas, a luta contra Bakounine ¢ os anarquistas € fatal & entidade: depois do Con- agresso de Lausanne, em 1872, € a transferéncia de sede para. New York, a 1.” Internacional deixa de existit praticamente, até que em 1878, desaparece definitivamente, A lembranca do pasado per- siste, pois um dos avancos mais dead Crone ¢horado, ‘a Un importantes € a concretizacio do ideal intcrnacionalista. Karl Marx sublinha em 1848, no Manifesto do Partido Comunista, que 0s tra- balhadores do mundo tinham uma tinica patria e que eles deviam se unir, de maneira unissona contra a classe dominante, isto é, a bur- guesia, Assim, a idéia do interna- cionalismo € uma conquista bési- ea no proceso de conscitncia e de organizacéo da classe, soma do amadurecimento porque ela pas- sou em momentos de suas batalhas afirmativas anteriores. E é exate- mente o fermento provocado pela I Internacional que vai gerar 0 aparecimento de sua congénere, a IL Internacional A extingiio da 1 Internacional no desanima determinadas lide- rangas operérias. Notadamente, em 1883, militantes socialistas belgas e suicos e 0 de outras nacionali- dades se retinem em Paris com 0 fim de iniciar um processo de for- mago de um novo organismo, Neste tiltimo ano, ha sugestdo para a realizagao de um futuro Con- gresso, que se daria nesta capital, fem 1889, isto , no centendrio da Revolucdo Francesa ¢ no momen- to da Exposicfo Universal reali- zada na Capital do Mundo. O 6rgio encarregado da coordenagao seria o Partido Operério Socialista Revolucionério (Federacdo _ dos ‘Trabalhadores Socialistas da Fran- ga), partido esse que se ve con- firmado por entidades de outros paises, No entanto, 0 movimento socia- lista francés ‘encontra-se dividido profundamente em duas correntes, que se acentuam com # questo do General Boulanger. De um ado estio as coletivistas ou mar- xistas, com Jules Guesde, Paul La- fargue e Gabriel Deville; do outro, os possibilistas, com Brousse e Allemane: 0s primeiros, isto é, os guedistas, si0 0s revoluciondrios, os outros, reformistas. A rixa € velha, mas durante a crise do bou- Tangismo, a tética de ambas as partes entra em choque agudo. Nenhum dos dois € favorével a0 General Boulanger, mas, os ‘meiros se negam a tomar posicao Novos RUMOS na luta contra ele, pretendendo voltarse para a ago da luta de classe, ou, enxergando neste caos que sc forma com a agitagéo na- cionalista e boulangista, a ocasido de uma revolucfio ou guerra que poderia se transformar em. re lugdo. Por sua vez, 08 possibilis- fas lutam contra a’ tendéncia na cionalista do movimento. burgués e fazem frente comum, eleitoral- mente, com os radicais © outros elementos da burguesia, na luta a favor da Repéblica ameacada pelo ‘neobonapartismo. Esta luta se desenrola principal- mente entre 1888 © 1889 — quan- do os guedistas recebem apoio dos partidérios de Auguste Blanqui —, e vai ter consegiiénclas graves para os primérdios da II.* Inter- nacional. Em 1888, eles realizam tum Congresso Nacional em Bor- deaux, com grande nimero de sindicalistas e de blanquistas, decidem nao participar do evento determinado pelos possiblistas, isto €, do Congresso marcado para 1889, que fora estipulado pelos acontecimentos descritos. antetior- mente. Eles decidem fezer seu proprio Congresso, na mesma data. Neste fnterim, o importante € con- seguir 0 apoio de forgas operérias estrangeiras, fato que levou a uma série de quiproqud, isto é, a ade- so de alguns no Congresso. dos possibilisias, outros no guedista, alguns nos dois, ou adesio a um deles e, depois, a retirada da inscrigo © a adesdo ao Congresso rival; por sua vez, muitos so fa- vordveis & reunigo dos dois em um Ginico Congreso e até Engels © ‘outros Iideres operérios realizam Conferéneia preliminar em Haye (28.2. 1889), mas os possibilistas se negam a comparecer. Esta incerteza se traduz em de- sfinimo quando da véspera do Congresso. Os delegados da Social Democracia Alema, pela voz de W. Liebknecht, lamentando fra- casso do sonho em “reunir frater~ nalmente os delegados de todos os proletirios, de todos os trabalha- dores do mundo”... € que “nés ‘nfo podiamos, certo, esperar pela divisio que se revela publicamen- E é exatamente o fermento provocado pela I Interna- cional que vai gerar 0 aparecimento de sua congénere, a II? Internacional. te”. Mas, mesmo com este resul- tado, a data marcada para o Con- gresso.seré. mantida, € a Ordem do Dia, cumprida ! ‘Apesar do esforgo de pacifica fo, cada uma das partes realiza © seu Congresso, em local diferen te, porém, na mesma data. Alguns delegados comparccem a ambas, ‘mas, a maioria apdia uma’ outra De qualquer maneira, 0 Congresso guedista inaugura as reunides da I+ Tntemacional, enquanto os possibitistas fracessam. na_convo- cago do. seu segundo Congres- so no mais tentam realiz&la, Enquanto isso, os marxistas, até 1914, realizam as seguintes reu- nides: 1° Congresso Internacio- nal Operdrio Socialista (tendéncia marxista), Paris, 14-21.7. 188 IL® Congresso Internacional Ope- rério Socialista, Bruxelas, 16- 23.8. 1891; IIL Congresso Inter nacional Operdrio Socialista, Zu- ich, 6-12.8.1895; IV° Congtesso Internacional Socialista dos Traba- Thadores © das Camaras Sindicais Operdrias, . Londres, 26.7. — 2.8.1896; V2 Congresso Socia- lista Internacional, Paris, 23- 27.9.1900; VI." Congresso So- cialista Internacional, Amsterdan, 14-20.8.1904; VIT.* Congreso Socialista Internacional, Stuttgard, 16-24.8.1907; VIII.” Congresso Socialista Internacional, Copenha- gue, 28.8 — 5.9.1910; IX.° Con- gresso Internacional Extraordiné rio, Bale, 24-25. 11.1912; Congresso Socialista Intern 1s ‘es ose Senyver 1b ps 18-15. No fim do século XIX, com co crescimento da Social-Democracia em varios paises, a questo da alianca politica com outras forcas progressistas iré aparecer, como haverd de surgir 0 problema da articipaao socialista na formagao de gabinetes ministeriais. nal, 25-28.8. 1914 (ndo se realiza, impedido pela guerra). Neste trabalho vamos nos res- tringir aos Congressos de 1889 ¢ 1891, isto por razdes de economia; em outros artigos continvaremos f anélise dos posteriores. O fracio- namento prejudica em parte 0 estudo, no entanto, cada um dos Congressos tém autonomia pré- ria, © que nos permite encaré-los individualmente. Por essa razio, uusamos indistintamente duas abor- dagens — 0 da totalidade ¢ 0 da atticularidade —, 0 que nos per- mite enearar cada uma das reu- nides © scus tomas préprios, ou, de outro lado, vermos certas ques tes que néo so resolvidas defini- tivamente e que continuam sendo debatidas postcriormente. Os guedistas, durante 0 debate anterior & data da reunio do 1° Congresso, afirmam que a Ordem do Dia deve ser fixada antes conhecida por todas as delegacdes. ‘A questio é apresentada durante a Conferéncia de Haya (fevereiro de 1889) ¢ 6 fixada nos termos: Legislagdo Internacional do. Tra balho, Regulamentacio. da Jorna- da de Trabalho, vigilincia dos atelieres da grande © pequena inddstria © da indistria domésti- a; aboligao dos exércitos perma- nentes € armamento do povo. Por sua vez, ¢ marcada a data da realizacio do Congreso (14- 21.7.1889);, seré aberto aos ope- rérios e aos socialistas de todos os Novos RUMOS paises, para que revelem suas’con- digdes politicas; seré soberano nas quesides da verificagao dos man- datos dos delegados ¢ da fixacdo da Ordem do Dia; toda Cimara Sidical ou grupo ‘socialista seré representado por um delegado, © Comité de Organizagao, com- posto de membros sindicais de Paris, do grupo socialista do Con- selho Municipal, das organizacdes socialistes de Paris (Vaillant, Jules Guesde, Gabriel Deville, Paul Le- Fargue € outros) e do grupo socia- lista da Camara dos Deputados, & © responsdvel pela verificagio dos delegados e a organizagéo do Con- ‘gresso. Ele aprova a presenca de 200 delegados, pertencentes a sin- dicatos ou partidos socialistas. O maior nimero de congressistas sao franceses ¢ alemfes, paises onde as respectivas organizagGes estio ‘mais consolidadas: da Alemanha vém Augusto Bebel, Eduardo Bernstein, Clara Zethkin, Vollmar e dezenas de outros." Também comparecem delegados da Alsécia- Lorena, Inglaterra (que se divide entre os dois Congressos). Argen- tina (Grupos Socialistas de Bue- nos Aires), Austria, Bélgica, Boé- mia, Bulgéria, Dinamarca, Espa- EUA, Finléndia, Holanda, . Noruega, Polénia, Rome nia, Réssia (Lavrov, Pleklénov), Suécia e Suica ‘© Congresso Operdrio Intern cional de Paris, depois de dis- ccussdes, onde participam diversas tendéncias — entre elas, os anar- quistas —, conclui por um predim- bulo que seré motivo de graves atritos durante os Congressos de 1891, 1893 e 1896. Depois de de- bates sem grandes divergéncias, ainda em clima antipossibitista, votase a seguinte Resolugao: “de- pois de ter afirmado que a eman- cipagdo do trabalho © da humani- dade nao pode resultar sendo da ago intemacional do proletariado corganizado em partido de classe, se apropriando do poder politico para a expropriagao da classe ca- pitalista € a apropriaci ‘do. social dos meios de produgao" (grifado por nés); j4 que ha rapido desen- volyimento em todos 0s paises; que a "produgao capitalista impli- 51 ca a exploragdo crescente da clas- se operiria pela burguesia”; © que, por conseqiiéncia, temos a ‘opressio politica da classe ope- réria, sua servidao econdmica © sua degenerescéncia fisica © mo- ral”; dai a obrigagao do proleta- riado de lutar, “por todos os melos” contra a organizacdo soci que o esmaga. Dai ser necessétia a luta a favor de 8 horas de tra- alho, interdigo do trabalho de menores de 14 anos, interdigao do trabalho das mulheres nas inds- trias que afetam a sua saide; re- pouso de 36 horas por semana, iguais salérios para o homem ¢ @ mulher. Na parte relativa a ¢ Meios para se Atingir estas Rei Vindicagées, solicita-se que em qualquer reunifio, eleicdes ou pro- gramas_partidérios, acentue-se as reivindicagdes acima ¢ defendam, também, as propostas legislativas sociais levantadas pelo governo suigo, em Berna. Na questo dos Exército Permanente e Armamento Geral do Povo acusase 0 Exército de estar “ao servico da classe rei- nante ou_dominante” € que ele € a ‘negngao de todo regime demo- crético ou republicano, a expres- so militar do regime monérquico ou oligérquico e capitalista, um instrumento de golpes de Estado reacionérios e de opressio social"; a armada permanente € fator que provoca guerras, 20 contrério do cxército “verdadeiramente nacio- nal", onde 0 cidadao “desenvolve suas’ atitudes, suas feculdades’ contra 0 belicismo dos exércitos permanentes, @ afirmagio da paz aparece “como condigées primeira e indispensavel de toda emancipa- go"; a tarefa é que a guerra, “produto fatal das condigées eco nOmicas atuais, desapareceré de! nitivamente com o fim da ordem capitalista, com a emancipacio do trabalho e 0 triunfo internacional do socialismo”. Afinal, em Resol- ees Diversas, acentta-se 0 poder politico da burguesia ¢ a necessi- dade de combatélo e, para isso, todos partidos socialistas devem incentivar’a Iuta politica, “ndo to- Jerando nenhum compromisso com outro partido politico” (€ a critica

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