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NEGROS, MULHERES
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MULHERES, ÍNDIOS
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de fricção interétnica já era apropriada por Bonfil Batalla, em seu debate com
Aguirre Beltrán (Bonfil Batalla, 1972) e que, no Coloquio sobre Friciones Inte-
rétnicas en América del Sur, reunido em Barbados, em 1971, aquela noção era
o centro da cena de discussão antropológica/indigenista; 12 que, um pouco de-
pois, uma jovem aluna de Lévi-Strauss (Carneiro da Cunha, 1973) publicava um
artigo que, segundo um especialista, antecipava “questões só levantadas bem
mais tarde pela antropologia” (Viveiros de Castro, 1999: 141 — na mesma frase,
ele refere DaMatta, 1970) e, para não ampliar demasiado a lista (há outros
exemplos de intervenção na cena internacional ao longo deste texto), que em
1993 a antropologia da Amazônia mereceu um número especial da revista
L’Homme. 13 Ao mencionar esses exemplos não me move nenhum impulso na-
cionalista, mas sim a intenção de indicar instâncias de diálogo, a partir de uma
artigo | mariza corrêa
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ÍNDIOS, BRANCOS
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dagens que são tentadas a analisá-los desde a ótica do Estado ou, o que é pior,
da ótica de uma subcultura dos pobres e marginalizados.
Nesse caso, não haveria como reconhecer na violência um mal a combater, nem como
não estender o conceito de ética particularista a todas as formas de violência existentes
no país: a dos policiais militarizados ou corruptos, a dos grupos de extermínio, a dos
crimes encomendados por fazendeiros, comerciantes e empresários, a que mata ho-
mossexuais, índios, mulheres e crianças. Essa é a principal armadilha do relativismo
cultural radical: não há como não admiti-lo para todas as “éticas” ou “etos” existentes,
todos “particularistas”, inclusive aqueles condenados por serem autoritários, ditato-
riais, despóticos ou, ainda, militarizados (Zaluar, 1999: 37 – 38).
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que já trabalharam sobre Nimuendaju — nem senti falta de não ter conheci-
mento prévio deste ou daquele grupo indígena para entender perfeitamente
o que é que ele estava fazendo ali, no meio do mato, tão longe do asfalto, há
tanto tempo...
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NOTAS
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4 Ver Vogt & Fry (1996) e, para uma avaliação geral da questão,
Arruti (1997), Almeida (1998) e Leite (2000). Deixo de lado a
importante discussão a respeito da política racial no Brasil,
sobre a qual não só antropólogos, mas outros cientistas
sociais frequentemente se manifestam. Para ficar na nossa
seara, ver Fry (1999, 2000).
5 Ver Landes ([1947] 1994); Fry (1982); Birman (1995) e Corrêa
(2000). Ver também Cadernos Pagu (1996), no qual foram pu-
blicados vários trabalhos apresentados na XX Reunião Bra-
sileira de Antropologia, no mesmo ano, na mesa-redonda
Raça e Gênero, organizada por Maria Luiza Heilborn e por
mim, bem como um debate sobre a revista Raça Brasil, or-
ganizado por Suely Kofes.
6 Mas ver Fry (1982) e Pérlongher (1987).
7 Uma área de estudos importante no campo do feminismo, e
no qual a presença de antropólogas tem sido também pree-
minente, é a de estudos sobre a violência. Ver Zaluar (1999),
para uma avaliação geral desses estudos, e Gregori (1993)
— trabalho que teve um importante impacto na reconfigu-
ração teórica da discussão, por abandonar a perspectiva do
“vitimismo” que era até então dominante no debate.
8 Mas ver Silva (1998).
9 Ver o dossiê Mulheres Indígenas, publicado na revista Es-
tudos Feministas (1999). Já num simpósio realizado no Museu
Nacional em 1978, Seeger, DaMatta & Viveiros de Castro,
baseados em suas pesquisas, sugeriam que “a noção de
pessoa e uma consideração do lugar dado ao corpo huma-
no na visão que as sociedades indígenas fazem de si mes-
mas são caminhos básicos para uma compreensão adequa-
sociologia&antropologia | v.01.01: 209 – 229, 2011
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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115 – 144.
Vogt, Carlos & Fry, Peter. Cafundó: a África no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Wagley, Charles & Wagley, Cecilia Roxo. ������������������
Serendipity in Ba-
hia, 1950/70. Universitas, 1970, 6/7, p. 29 – 4 2.
Zaluar, Alba. Condomínio do diabo. Rio de Janeiro: Eduerj/
Revan, 1994.
____. Violência e crime. In: Miceli, Sergio (org.). O que ler na
ciência social brasileira (1970 – 1 995). São Paulo: Sumaré/An-
pocs, 1999, p. 13 – 107 (vol. 1).
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Palavras-chave: Resumo:
História da antropologia; O artigo é um breve apanhado sobre o campo da antropo-
Raça; Gênero; Etnologia; logia no Brasil. Feito originalmente para leitores estrangei-
Diálogos disciplinares e ros, pareceu-me melhor deixá-lo como estava a atualizá-lo,
interdisciplinares. na expectativa de que possa ser útil para jovens iniciantes
nesse campo, já que o texto refere algumas instituições
importantes para a sua formação nos últimos anos — como
os programas de pós-graduação e a Associação Brasileira
de Antropologia (ABA), e seus temas de pesquisa. Propõe-
-se aqui também que não apenas a interdisciplinaridade,
bastante praticada hoje, mas também relações transversais
ao próprio campo da antropologia são desejáveis — isto
é, que os antropólogos “urbanos” levem em conta o que
dizem os etnólogos, que estes dialoguem com os estudos
de gênero etc.
De todo modo, a bibliografia incluída ainda é, e
continuará a sê-lo por um bom tempo, leitura necessá-
ria para pesquisadores que se interessem pela história da
antropologia.
Keywords: Abstract:
History of anthropology; The article is a brief overview on the field of anthropology
Race; Gender; Ethnology; in Brazil. Originally made for foreign readers, it seemed
Disciplinary and best to leave it as it was to update it, in the hope that it
interdisciplinary dialogues. will be useful for young beginners in this field, since the
text mentions some important institutions for their ins-
truction in recent years - as programs of post-graduation
and Brazilian Anthropological Association (ABA), and their
research topics. It is proposed here also that not only inter-
disciplinarity, widely practiced today, but also link-ups to
their own field of anthropology are desirable - that is, that
«urban» anthropologists take into account what ethnolo-
gists say, that the latter discuss with gender studies, etc.
Anyway, the bibliography included still is, and will
remain so for a long time, required reading for researchers
who are interested in the history of anthropology.