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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Uma Análise Institucional do Projeto


Guarda-Chuva Medos Corriqueiros
GREM Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções/UFPB

Williane Juvêncio Pontes

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Ciências Sociais,
do Centro de Ciências Humanas, Letras e
Artes da Universidade Federal da Paraíba,
em cumprimento das exigências para
obtenção do grau de Bacharel em Ciências
Sociais, sob a orientação do Prof. Dr.
Mauro Guilherme Pinheiro Koury.

João Pessoa,
Maio de 2017

1
UNIVERISIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
GRUPO DE PESQUISA EM ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA DAS EMOÇÕES

Uma Análise Institucional do Projeto


Guarda-Chuva Medos Corriqueiros
GREM Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções/UFPB

Williane Juvêncio Pontes

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Ciências Sociais,
do Centro de Ciências Humanas, Letras e
Artes da Universidade Federal da Paraíba,
em cumprimento das exigências para
obtenção do grau de Bacharel em Ciências
Sociais, sob a orientação do Prof. Dr.
Mauro Guilherme Pinheiro Koury.
.

João Pessoa,
Maio de 2017

2
Catalogação da Publicação na Fonte.
Universidade Federal da Paraíba.
Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA).

Pontes, Williane Juvêncio.

Uma Análise Institucional do Projeto Guarda-Chuva Medos


Corriqueiros: GREM Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia
das Emoções/UFPB. / Williane Juvêncio Pontes. - João Pessoa,
2017.
137f.:il.
Monografia (Graduação em Ciências Sociais) – Universidade
Federal da Paraíba - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.
Orientador: Prof. Dr. Mauro Guilherme Pinheiro Koury.
1. Análise e memória institucional. 2. GREM (Grupo de Pesquisa
em Antropologia e Sociologia das Emoções). 3. Medos
corriqueiros. I. Título.

BSE-CCHLA CDU 3

3
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus e a minha família, pelo suporte e conforto que
me concederam nesta etapa da minha vida, longe de casa. Aos meus pais, Maria
Aparecida e Francisco Alexsandro, a minha irmã, Adrya Madalena e aos meus avós,
Margarida Pontes e Manoel Neves; sou infinitamente grata por todo o apoio, amor e
dedicação. Sem vocês nada disso seria possível. Muito obrigada, eu amo vocês!
Gratidão à tia Helena, Seu Severino e família, que me acolheram em sua casa e
possibilitaram que esse sonho fosse realizado.
A Natanael, meu namorado, que acompanhou minha jornada acadêmica desde o
começo do curso. Que comemorou comigo as vitorias, ouviu meus desabafos e apoiou
minhas decisões, sempre dando incentivo.
A Mauro Koury, meu orientador, que foi fundamental para a realização deste
trabalho. Agradeço pela amizade, orientação, incentivos e puxões de orelha, e por ter
contribuído muito para o meu amadurecimento profissional e pessoal.
A equipe GREM, pelas discussões teórico-metodológicas e pelas relações
fraternas ao longo desses anos. Em especial, a Raoni, que acompanhou, desde o
começo, meu desenvolvimento na pesquisa e pela sua assistência.
Aos professores do Departamento de Ciências Sociais, pela transmissão de
conhecimento e pelo aprendizado que me proporcionaram, fazendo com que, a cada
semestre, eu tivesse mais certeza que queria ser uma Cientista Social.
Aos amigos que o curso pôde proporcionar e pelas nossas trocas de experiências
nas salas de aula, nas bibliotecas, nos corredores, nas lanchonetes, na praça da alegria e
nos ambientes fora da UFPB. Essas trocas foram fundamentais para a minha construção
pessoal e profissional.
A banca examinadora, pela disponibilidade e dedicação em avaliar este trabalho,
trazendo contribuições para a sua configuração final. Deixo, assim, meu muito obrigado
pela colaboração ao Prof. Dr. Mauro Koury, a Profa. Dra. Simone Brito e ao Prof.
Drando. Raoni Barbosa.
Por fim, A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste
trabalho e para a minha formação acadêmica e pessoal. Gratidão a todos. Levo vocês no
meu coração!

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RESUMO

O presente trabalho realiza uma análise institucional do GREM – Grupo de Pesquisa em


Antropologia e Sociologia das Emoções, sobre a cidade de João Pessoa-PB, com base
no projeto de pesquisa Medos Corriqueiros: A construção social da semelhança e da
dessemelhança entre os habitantes urbanos das cidades brasileiras na
contemporaneidade. Busca discutir a trajetória teórico-metodológica deste projeto em
17 anos de atividade acadêmica, de 1999 a 2016, com o objetivo de situar sua base
conceitual e teórico-metodológica. Este trabalho se insere em uma proposta de análise
da memória institucional do GREM, de modo a desenvolver uma análise compreensiva
da produção acadêmica do projeto de pesquisa Medos Corriqueiros, e, a partir deste,
acessar o mosaico científico e os mapas simbólicos sobre a cultura emotiva da cidade de
João Pessoa.

PALAVRAS-CHAVE: análise institucional, memória institucional, GREM, medos


corriqueiros, João Pessoa

6
ABSTRACT

This work performs an institutional analysis of the Research Group on Anthropology


and Sociology of Emotions (GREM), about the city of João Pessoa based on the
research project Common Fears: The social construction of similarity and dissimilarity
among urban dwellers of contemporary brazilians cities. This work seeks to discuss
GREM’s theoretical-methodological trajectory following its 17 years of academic
activity, from 1999 to 2016, aiming to situate its conceptual, theoretical and
methodological elements. This work is part of a proposal memory analysis of GREM; it
develops a comprehensive analysis of the Common Fears Project’s academic
production and the “scientific tessellate” and the symbolic maps of the city of João
Pessoa.

KEYWORDS: analysis institutional, institutional memory; GREM; common fears;


João Pessoa-PB

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráficos:
Gráfico 1 – Distribuição da Produção Acadêmica do projeto MC, de 1983-2016
..................................................................................................................................................................... 15

Figuras:
Figura 1 – Esquema conceitual do projeto MC, de 1999-2016 ................................................................. 42
Figura 2 – Esquema conceitual da Fase I da pesquisa, de 1983-1994 ................................................... 53
Figura 3 – Esquema conceitual da Fase II da pesquisa, de 1994-1999 ..................................................... 62
Figura 4 – Subprojetos que compõem o projeto guarda-chuva MC .......................................................... 68

8
Sumário

Introdução ....................................................................................................................... 10
Capítulo 1 – O GREM - Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções
........................................................................................................................................ 28
Parte I.............................................................................................................................. 38
Capítulo 2 – O projeto de Pesquisa Medos Corriqueiros ............................................... 40
Capítulo 3 – No campo da subjetividade: a trajetória teórico-metodológica da Fase I da
pesquisa .......................................................................................................................... 48
Capítulo 4 – No campo das emoções: análise da trajetória temática, teórica e
metodológica da Fase II da pesquisa .............................................................................. 55
Parte II ............................................................................................................................ 65
Capítulo 5 – Medos Corriqueiros: construindo um projeto de pesquisa ........................ 67
Capítulo 6 – A produção do projeto Medos Corriqueiros sobre a cidade de João Pessoa
........................................................................................................................................ 93
Conclusão ..................................................................................................................... 118
Referências ................................................................................................................... 123

9
Introdução

Este Trabalho de Conclusão de Curso – TCC é pré-requisito parcial para a


obtenção do grau de bacharel no Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal da
Paraíba, Campus I. Ele é resultado de três anos de pesquisa desenvolvida no âmbito do
GREM - Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções, na condição
de bolsista de iniciação científica do PIBIC/CNPq/UFPB1, sob a orientação do
Professor Doutor Mauro Guilherme Pinheiro Koury.
Este TCC, portanto, integra a pesquisa Balanço comparativo da produção da
UFPB, Campus I, sobre a cidade de João Pessoa, Paraíba, de 1992-2012 (KOURY,
2012), que objetiva compreender os campos de saberes produzidos sobre a cidade de
João Pessoa e busca incluir a produção acadêmica a uma política de trocas e de
visibilidade através da construção de um banco de dados sobre cidade. A pesquisa se
insere no campo da memória institucional (AYELLO et al, 2008) e objetiva analisar o
que vem sendo produzido na e sobre a cidade, de modo a desvendar as diversas formas
de olhares que existem sobre ela, além de fomentar o diálogo entre esses olhares.
Nesta pesquisa, desenvolvi um subprojeto que realizou uma análise compreensiva
e histórica do GREM a partir do projeto Medos Corriqueiros: a construção social da
semelhança e da dessemelhança entre os habitantes urbanos das cidades brasileiras na
contemporaneidade2. Foi desenvolvida, destarte, uma análise da análise, isto é, um
balanço compreensivo da produção acadêmica do projeto. Este TCC, deste modo, faz
uma espécie de sociologia e antropologia da sociologia e antropologia desenvolvida
pelo GREM, através do balanço compreensivo das etapas por que tem passado o projeto
guarda-chuva MC. Realiza, portanto, um balanço das análises e dos resultados da
pesquisa MC do GREM.
Este TCC faz parte de uma pesquisa maior que analisa e, ao mesmo tempo,
integra o projeto MC. Neste sentido, faz-se necessário o constante exercício de
estranhamento (VELHO, 1978; DAMATTA, 1978) e de busca pela neutralidade
1
Ingressei na pesquisa na vigência 2014-2015 do PIBIC, com o subprojeto da pesquisa Análise
compreensiva e histórica de dois grupos de pesquisa antigos e ainda em atuação no CCHLA – Centro de
Ciências Humanas, Letras e Artes da UFPB-Universidade Federal da Paraíba, Campus I. Na vigência
2015-2016 há um afunilamento da pesquisa que se concentra em uma análise compreensiva e histórica do
GREM. Na vigência 2016-2017, há um novo recorte tendo como eixo analítico a produção da pesquisa
Medos Corriqueiros do GREM, entre 1992-2016. Estes três anos de atividade de pesquisa conformam a
análise deste TCC.
2
De agora em diante, denominado de Medos Corriqueiros ou MC.

10
axiológica (WEBER, 2008), de modo a se posicionar, a todo o momento, dentro e fora
da pesquisa, e, assim, distinguir entre o julgamento de valor e o saber empírico. Esse
exercício de estranhamento e neutralidade axiológica permite sistematizar os dados e
desenvolver uma análise compreensiva do registro dos fatos com o controle das
avaliações valorativas do pesquisador, em constante estranhamento analítico (WEBER,
2008). Com o estranhamento do familiar é possível confrontar intelectual e
emocionalmente as visões, compreensões e interpretações sobre os indivíduos, os
grupos ou as situações analisadas (VELHO, 1978; DAMATTA, 1978). No caso deste
TCC, a produção acadêmica do GREM no projeto MC.
Com o estranhamento e a neutralidade axiológica se torna cientificamente
possível realizar uma análise da memória institucional do GREM e desvendar a sua
trajetória acadêmica, se debruçando na produção do projeto Medos Corriqueiros sobre a
cidade de João Pessoa. Este TCC busca compreender a trajetória conceitual e teórico-
metodológica do projeto MC, e como este constrói a imagem de um mosaico da cidade,
sob a ótica dos medos corriqueiros, conformando o objetivo central deste trabalho.
O GREM é o grupo mais antigo na área da Sociologia e da Antropologia das
Emoções no Brasil. Foi fundado no ano de 1994 com o objetivo de analisar a
“emergência da individualidade e do individualismo no Brasil urbano contemporâneo,
enfatizando a questão da formação das emoções, enquanto cultura emocional”
(KOURY, 2014, p.847). O seu trabalho vem contribuindo ativamente para a
consolidação das Emoções como subárea da Sociologia e da Antropologia na acadêmica
brasileira.
A escolha deste grupo de pesquisa para análise, nesta monografia, se deve ao
envolvimento da autora na pesquisa Balanço Comparativo como bolsista PIBIC –
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica. Esta pesquisa busca
compreender como a cidade de João Pessoa é trabalhada nos vários campos de
conhecimento na Universidade Federal da Paraíba, Campus I. Coube a autora o
desenvolvimento, na pesquisa mencionada, do balanço da produção acadêmica do
GREM, entre 1994-20163.
A produção do grupo, em sua totalidade, possui caminhos teóricos e
metodológicos que se conectam, mas que, também, se singularizam na performance de

3
A escolha de analisar o GREM também se deu pelo fato do grupo possuir um grande volume de
produção acadêmica em suas linhas de pesquisa, bem como de formação de alunos nas áreas da
Sociologia e da Antropologia das Emoções, em termos comparativos, no CCHLA.

11
cada trabalho específico analisado e nos olhares situados a partir das suas linhas de
pesquisa4. Este TCC, em particular, faz uma análise do GREM sobre a cidade de João
Pessoa, a partir de uma linha de pesquisa, Emoções e Sociabilidade Urbana, e de um
projeto, Medos Corriqueiros (KOURY, 2002), específicos.
A linha de pesquisa Emoções e Sociabilidade Urbana foi eleita para a análise
devido ao seu fluxo significativo de produção sobre a cidade de João Pessoa. Do mesmo
modo, o projeto Medos Corriqueiros foi selecionado para ser estudado por ser a
pesquisa do GREM com maior produção, e por possuir a maior quantidade de trabalhos
orientados sobre a capital paraibana.
O projeto de pesquisa Medos Corriqueiros, em desenvolvimento no GREM desde
o ano de 1999, inaugura um novo campo de pesquisa no grupo, através dos estudos
sobre a emoção medo. O projeto, além de criar uma nova esfera de investigação no
GREM, aprofunda temas já discutidos no interior do mesmo, como a emergência de
uma nova cultura emotiva na contemporaneidade brasileira, a partir do impacto da
modernidade na formação identitária do indivíduo.
A pesquisa parte da hipótese central de que o medo é uma construção social
significativa (KOURY, 2002, p. 6), e aborda a discussão acerca da relação Medo e
Sociedade a partir do cotidiano dos moradores das cidades brasileiras na
contemporaneidade, em especial a cidade de João Pessoa, tomada por universo
sistemático de análise. O projeto de pesquisa se propõe, com o objetivo de compreender
a construção do imaginário social do medo no homem comum, analisar o medo e os
medos corriqueiros, e os processos desencadeados por eles, na emergência de uma nova
sociabilidade no Brasil. Descortina, assim, as transformações na construção social da
semelhança e da dessemelhança nas relações interacionais dos habitantes citadinos das
capitais brasileiras e paraibana, particularmente.
O medo, na pesquisa, é entendido como um elemento social significativo para a
configuração e reconfiguração das formações societárias, encontrando-se presente em
toda relação social e se mostrando como uma força motivadora desse social, afirmando
ou refazendo novas possibilidades de relações sociais (KOURY, 2002, p. 2). O medo é
visto como organizador do social por possuir um duplo caráter: pode se expressar
enquanto elemento de subordinação, de retraimento e de repulsa, fomentando estigmas,

4
O GREM possui, atualmente, quatro linhas de pesquisa: Emoções e Consumo, Emoções e Sociabilidade
Urbana, Emoções, Moralidade e Gênero e Estudo Teórico em Antropologia e Sociologia das Emoções. É
na linha de pesquisa Emoções e Sociabilidade Urbana que se encontra inserido o projeto Medos
Corriqueiros, objeto de análise desta monografia.

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estranhamento, individualização e hierarquização grupal e/ou individual (KOURY,
2002a, 2002b).
Revela, também, o outro aspecto do seu caráter. Neste estado o medo se expressa
em seu sentido transgressor, inovador, organizador e criador de novas formas de
sociabilidade. O que causa estranhamento e tensão e provoca, de forma simultânea,
possibilidades de reações de proximidade que traçam relações baseadas em laços
afetivos de amizade, segredo, pessoalidade e semelhança. Deste modo, o medo é
entendido e analisado no projeto como uma das emoções centrais para a construção
social.
O projeto Medos Corriqueiros não tem o intuito de analisar a configuração de um
medo específico, ao contrário, objetiva
a compreensão do imaginário sobre o medo, enquanto assentado em
formulações banais e corriqueiras da ação social comum ou qualquer uma
que informa e fundamente as possibilidades de conformação de um conjunto
societário específico (KOURY, 2002a, p. 121).
Assim, os medos, enquanto medos corriqueiros se apresentam como um sentimento que
rege o comportamento humano em toda e qualquer forma de sociabilidade, fazendo
parte da experiência social de uma determinada situação5 (KOURY, 2008, p. 14).
É a partir da análise da cidade e através dos seus bairros, ruas e parques que a
pesquisa se desenvolve. No seu desenrolar, busca compreender, sob a ótica dos medos
corriqueiros, o processo de conformação da cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, e
dos seus habitantes, cujos caminhos compreensivos serão objeto de análise desta
monografia.
A análise da produção acadêmica permitirá compreender como a cidade tem sido
apreendida pelo projeto de pesquisa MC. Isso, através da verificação sistemática de
como a cidade de João Pessoa tem sido recordada, analisada e exposta pelo grupo de
pesquisa, e os caminhos teórico-metodológicos desenvolvidos para a compreensão
singular da cidade, em seu todo, e nos recortes a que tem sido submetida no
desenvolvimento do projeto. Esse será o caminho trabalhado nesta monografia, ou seja,
como o projeto Medos Corriqueiros vem esmiuçando a cidade de João Pessoa e quais
planos de compreensão e percepção têm emergido desse envolvimento, que
singularizam a perspectiva de análise do GREM sobre João Pessoa.

5
O conceito de situação no projeto MC é entendido através da definição interacionista dada por Thomas
(apud Berger, 2001, p. 107) de uma moralidade estipulada segundo os moldes acordados entre aqueles
que dele participam e entre os que a definem.

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Esta monografia visa apresentar a cidade de João Pessoa mediante a análise da
produção acadêmica do grupo, buscando entender os caminhos teórico-metodológicos
referidos e orientadores do trabalho no grupo de pesquisa para a análise da cidade. Este
TCC, portanto, persegue a trajetória do projeto MC através da relação teórico-
metodológica proposta pelo GREM, que vincula as relações entre cultura emotiva e
moralidade na conformação de uma dada sociabilidade urbana, tomando os medos
corriqueiros como eixo analítico central.
Importa para esta monografia, enfim, compreender o projeto de pesquisa Medos
Corriqueiros a partir de sua trajetória teórico-metodológica e dos diversos subprojetos
nele e através dele constituídos, dos recortes singulares e das suas conexões com o todo,
informada pela produção acadêmica desses quase 18 anos de atividade desta linha de
pesquisa, Emoções e Sociabilidade Urbana, onde o projeto Medos Corriqueiros se
constitui e se desenvolve.

A produção acadêmica
O projeto de pesquisa Medos Corriqueiros possui uma vasta produção acadêmica.
No seu interior se encontram os livros Medos Corriqueiros e Sociabilidade (KOURY,
2005), O Vínculo Ritual: Um estudo sobre sociabilidade entre jovens no urbano
brasileiro contemporâneo (KOURY, 2006), De que João Pessoa tem medo? Uma
abordagem em Antropologia das Emoções (KOURY, 2008) e Quebra de Confiança e
Conflito entre Iguais: cultura emotiva e moralidade em um bairro popular (KOURY,
2016a). Esses livros analisam e discutem os resultados obtidos no desenvolvimento da
pesquisa, publicizando os trabalhos desenvolvidos no âmbito do projeto, da linha de
pesquisa e do GREM, aqui em análise.
A pesquisa tem produzido, além de livros e coletâneas, artigos em periódicos,
artigos em anais de congressos e capítulos de livros. Esta produção se apresenta como
mecanismo cotidiano do trabalho de pesquisa desenvolvido. Mecanismo este que
viabiliza as análises e reflexões em andamento e permitem pensar, repensar e discutir os
conceitos e as categorias já trabalhadas, ou novas, possibilitando aprimorá-las até
chegar a uma complexificação analítica, tendo em vista o prosseguir e o
desenvolvimento do projeto como um todo e entre as suas partes, seja como
subprojetos, ou como argumento central de análise para o todo que o compõe.
No decorrer do projeto MC vários subprojetos têm se desenvolvido no seu
interior. Seja no formato de estágios voluntários de graduandos e pós-graduados, seja no

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formato PIBIC e PIVIC, ou ainda como orientação de TCCs, de dissertações e teses6,
que apontam para uma complefixicação analítica da pesquisa, e indicam uma
possibilidade de averiguação das diversas fases teórico-metodológicas pelo qual o
projeto tem passado no decorrer do seu desenvolvimento.
Pensando em números, o conjunto atual de sua produção, até o ano de 2016, é de
128 produções acadêmicas elaboradas, apenas, no interior do projeto de pesquisa MC.
Esta produção se distribui entre artigos em periódicos, trabalhos completos em anais de
congressos, livros, capítulos de livros, monografias de conclusão de curso e
dissertações, compondo o conjunto da produção do projeto Medos Corriqueiros.
No gráfico abaixo é possível ver a sistematização da produção acadêmica do
projeto MC de acordo com a quantidade de publicações e defesas:

6
Entre os TCCs se encontram: Medo na cidade: Uma experiência no Porto do Capim (VILAR, 2001),
Tambiá – medo, cultura e sociabilidade: Um estudo sobre o bairro de Tambiá, João Pessoa-PB (SILVA,
2003), Uma Análise do Bairro de Cruz das Armas Sob a Ótica do Medo (SOUZA, 2003), Tambaú:
Pertença e fragmentação sob uma ótica do medo (SOUSA, 2004), Sob a ótica do medo: Um estudo de
caso no bairro dos Estados, João Pessoa-PB (SILVA, 2004), Convívio e interação social: os códigos de
afeição e de estranhamento, os medos corriqueiros e a sociabilidade em uma rua (CAVALCANTE
FILHO, 2005), Sociabilidade, pertença e medos corriqueiros: Estudo de uma rua no bairro de Valentina
de Figueiredo, João Pessoa – Paraíba (ALMEIDA, 2005), João Pessoa à noite: Um estudo sobre vida
noturna e sociabilidade, 1920 a 1980 (SOUZA, 2005), Memória social e sentimento de pertença: Um
estudo sobre o Parque Solon de Lucena, João Pessoa – PB (SILVA, 2006), Sociabilidade, Medo e
Estigma no contexto urbano contemporâneo: o bairro do Roger na cidade de João Pessoa – PB
(CAMPOS, 2008) e Análise Institucional do Projeto Guarda-Chuva Medos Corriqueiros, do GREM –
Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções (PONTES, 2017). Enquanto que as
Dissertações de Mestrado em análise são compostas pelos seguintes trabalhos: Conselho Comunitário:
estudo de caso de um movimento popular na periferia de João Pessoa - PB (SILVA, 1984), Imagens da
Cidade: A ideia de progresso nas fotografias da cidade da Parahyba (1870-1930) (BARRETO, 1996),
Fotografia na Paraíba: Um inventário dos fotógrafos através do retrato (1850-1950) (LIRA, 1997), Se
essa cidade fosse minha... A experiência urbana na perspectiva dos produtores culturais de João Pessoa
(HONORATO, 1999) e Medos Corriqueiros e Vergonha Cotidiana: uma análise compreensiva do bairro
do Varjão/Rangel, João Pessoa, PB (BARBOSA, 2015). Encontra-se em desenvolvimento o projeto de
pesquisa sobre A Produção Acadêmica sobre a cidade de João Pessoa desenvolvida no Campus I da
UFPB (2001-atual) e uma co-orientação de doutorado, no PPGA-UFPE, sobre a Chacina do Rangel
através dos Empreendedores Morais da Cidade de João Pessoa, ambas, subprojetos da pesquisa Medos
Corriqueiros em sua atual fase.

15
Dos 128 trabalhos produzidos no projeto de pesquisa, durante os anos de 1983 a
2016, 60 equivalem a artigos publicados em periódicos, que abordam reflexões acerca
da teoria, da metodologia e dos conceitos utilizados no desenvolvimento da pesquisa em
suas diversas fases. Neles estão expostas as transformações dos seus conceitos e
análises, em um constante processo de reflexão e modulações, até chegar a sua fase
atual. São 07 livros, 11 monografias concluídas e 05 dissertações7, que abordam a
cidade de João Pessoa como um todo ou que se debruçam em partes específicas deste
universo, montando um mosaico da capital paraibana e ampliando a análise sobre a
mesma.
Os trabalhos completos em anais de congresso correspondem a 34 produções
acadêmicas. O que indica o esforço analítico das diversas fases do projeto, ou dos
subprojetos, na busca do amadurecimento conceitual e teórico-metodológico e na
procura de ampliação de um diálogo mais amplo, com outros pesquisadores, em
diversos congressos regionais, nacionais e internacionais, ampliando as redes interativas
de debate e enriquecendo o campo das Antropologia e Sociologia das Emoções.
Os capítulos de livros, por sua vez, somam 11 dos 128 trabalhos científicos e
apontam para a política de visibilidade da produção do grupo na ampliação da rede de
diálogos no Brasil e na América Latina. Está-se considerando, apenas e
especificamente, a produção relacionada ao projeto MC. O conjunto da produção do
GREM, no entanto, se encontra em constante interrelação e debate no interior de suas
linhas de pesquisa e no grupo como um todo. O que amplia os espaços de diálogo em
torno das temáticas trabalhadas, tanto teórica, quanto metodologicamente, e serve como
pano de fundo para o desenvolvimento dos projetos, especificamente o de MC objeto
desta monografia.
7
Vale salientar que das 05 dissertações, 04 fazem parte da fase pré-organizativa do projeto Medos
Corriqueiros: a de Silva (1984), de Barreto (1996), de Lira (1997) e de Honorato (1999). Estas
dissertações levantam a discussão sobre um concelho comunitário em um bairro popular da cidade de
João Pessoa, o Varjão/Rangel (SILVA, 1984), bem como sobre cidade e sociabilidade a partir dos ideais
de progresso e desenvolvimento urbano mediante as fotografias de 1970 a 1930 (BARRETO, 1996 e
LIRA, 1997), e da percepção da cidade de João Pessoa pelos seus produtores culturais, dos anos de 1980
a 1990 (HONORATO, 1999). Acompanham assim os estudos sobre subjetividade e cidade de Koury, no
seu caminhar para a formação do GREM, em 1994 (ver, KOURY, 1986, 1988, 1991, entre outros). Essa
fase antecede a formação do GREM, que se encaminha, perto de sua criação, para o estudo sobre o luto e
a sociabilidade urbana no Brasil, em uma análise sobre a mudança da sensibilidade do homem comum
no Brasil urbano contemporâneo, e que é prosseguida enquanto discussão e busca de compreensão do
processo de individualidade no Brasil através do projeto Medos Corriqueiros, como será discutido nos
próximos capítulos. A terceira dissertação, de Barbosa (2015) é fruto da fase atual da pesquisa Medos
Corriqueiros. As três são consideradas, nesta monografia, enquanto conjunto, pois são importantes para a
compreensão do processo formativo e do desenvolvimento do projeto de pesquisa Medos Corriqueiros. É
bom salientar que tanto o trabalho de Honorato (1999) quanto o de Barbosa (2015) foram transformados
em livros, logo a seguir às suas defesas.

16
A publicação desses trabalhos incorpora a política de acessibilidade e visibilidade
que se desenvolve no interior do GREM. Abre caminho para o diálogo com outros
pesquisadores de áreas próximas ou de outros campos acadêmicos que lidam com a
cidade de João Pessoa como universo de pesquisa. O que contribui para a discussão da
relação entre emoções e cidade na academia nacional e internacional, bem como para a
eficácia, eficiência e efetividade do fazer científico local.
A produção acadêmica do projeto mergulha na cidade de João Pessoa como
universo sistemático de pesquisa, tendo o medo como conceito central de análise. A
análise dessa produção, agora em processo, permite compreender os caminhos teóricos
e metodológicos da pesquisa, as suas transformações no decorrer do tempo e os recortes
a que a cidade tem sido submetida, apreendendo o seu cotidiano e os mapas simbólicos
que foram traçados sobre ela.
A pesquisa Medos Corriqueiros se desenvolve e se abrange em vários outros
projetos a ela ligados, tais como: O Vínculo Ritual: Um estudo sobre sociabilidade e
modos de vida entre jovens no urbano brasileiro contemporâneo, com primeiras
publicações de artigos em periódicos no ano de 2002, sendo concluído no ano de 2006,
com a publicação de um livro do mesmo nome (KOURY, 2006). O Parque Solon de
Lucena: Espaço Público, potencial de urbanidade e desenvolvimento da cidade, com
início em 2005 e término em 2006. Projeto de extensão com vínculo ao PROBEX –
Programa de Bolsas de Extensão da UFPB que resultou em dois artigos de KOURY,
(2005; 2005a), e em uma monografia (SILVA, 2006). Outro subprojeto da pesquisa
Medos Corriqueiros, que ganhou vínculo PROBEX, tendo início no ano de 2007 com
término em 2008, foi O Bairro do Roger: História, memória e estigma, finalizando com
uma monografia de final de curso (CAMPOS, 2008).
Outro subprojeto vinculado a Medos Corriqueiros foi o de Sujeira e Imaginário
Urbano. Este subprojeto teve início no ano de 2009, com término no ano de 2011.
Contemplou um estudo em cinco capitais de estados brasileiro: as cidades de João
Pessoa-PB, de Recife-PE, de Belém-PA, de São Paulo-SP, de Curitiba-PR e de Brasília-
DF, com a produção de artigos em periódicos e coletâneas, e discussões analíticas no
blog do GREM (KOURY, 2009, 2011, 2016; KOURY e BARBOSA, 2012, 2015).
O subprojeto Confiança e Vergonha: Uma análise do cotidiano da moralidade,
teve início em ano de 2010, com término no ano de 2011, e buscou compreender as
relações sociais que se desenvolvem no cotidiano do bairro do Varjão/Rangel a partir de
um caso específico que aconteceu no bairro e ficou conhecido no imaginário da cidade

17
como “a chacina do Rangel”. Este subprojeto discute a sociabilidade no bairro e os
processos de justificação que apóiam as novas formas de solidariedade e conflito. Teve
como conclusão a elaboração de artigos em periódicos (KOURY, ZAMBONI e BRITO,
2013) e trabalhos completos em anais de eventos (KOURY, BRITO e ZAMOBINI,
2010; KOURY, 2013). O subprojeto Sociabilidade e conflito nos processos de
interação cotidiana sob intensa pessoalidade, com início no ano de 2012 e ainda em
desenvolvimento, com produção de livros (KOURY, 2016a; BARBOSA, 2015a),
artigos em livros e em periódicos, trabalhos completos em anais e uma dissertação
(BARBOSA, 2015).
O subprojeto Observatório sobre Medo, por último, com início no ano de 2012 e
desenvolvimento até os dias atuais, realiza um balanço compreensivo da produção do
projeto Medos Corriqueiros, bem como tem o intuito de mapear e levantar os estudos
sobre a relação entre medo e sociedade no Brasil urbano contemporâneo.
Esses sete subprojetos compõem a pesquisa Medos Corriqueiros em seu todo,
desde sua fundação em 1999 até o ano de 2016, evocando especificidades dentro do
projeto guarda-chuva, a cada novo recorte ou ênfase temática no seu interior. Cada
subprojeto traz uma análise singular sobre um determinado objeto e objetivos
sistemáticos de pesquisa. Apesar de trabalharem um caminho teórico-metodológico
comum, cada subprojeto se defronta, às vezes, com necessidades singulares e
específicas para sua realização, traçando caminhos próprios e, ao mesmo tempo,
interligados.
Juntos, portanto, vão constituindo um mosaico8 amplo, através do qual a cidade de
João Pessoa vai sendo delineada, demarcada, e por onde se apreende João Pessoa em
seu todo, ao mesmo tempo em que se visualiza a montagem do projeto maior como uma
instância interdependente de suas partes, que se desenvolvem em forma coligada e
compõem um cenário possível de interpretação e desenho teórico-metodológico da
cidade e da pesquisa como um todo, em si. Apesar de singulares, os subprojetos se
encontram em constante diálogo. O que indica as particularidades e as semelhanças de
cada produção, conformando o conjunto da pesquisa.

8
A ideia de mosaico, enquanto esforço conjunto de um grupo de pesquisadores e formandos de captação
de uma cidade foi pensado por Becker (1993) ao falar da particularidade e riqueza de um esforço coletivo
desenvolvido pela Escola de Chicago. Ver também Hannerz (2015, p. 63-68) quando discute a ideia de
um mosaico e de pesquisa cooperativa ao retratar a Escola de Chicago, se referindo à categorização de
Howard Becker.

18
O projeto de pesquisa Medos Corriqueiros pode ser considerado, desta maneira,
um projeto guarda-chuva. Entende-se aqui por projeto guarda-chuva um projeto amplo
que tem, em si, a possibilidade de aninhar em seu interior vários projetos específicos
que, ao mesmo tempo em que permitem o desenvolvimento autônomo, mas
interdependente de cada tema singular, permite uma constante verificação de uma
totalidade imersa nos cruzamentos das diversas facetas dos subprojetos entre si, e no
interior do projeto maior.
O projeto MC abriga subprojetos sobre a cidade de João Pessoa através da emoção
medo/medos corriqueiros. Estes vários subprojetos, no seu fazer-se, se somam na
configuração de um todo analítico, compondo um mosaico beckeriano e uma ideia de
pesquisa solidária, que convoca e provoca vários pesquisadores em busca de uma
composição temática mais ampla, a partir de suas especificidades de universo ou
subtemas pesquisados.
A produção de um projeto guarda-chuva enseja o esforço de cooperação para
análise de João Pessoa, a partir de voos compreensivos da cidade em seu todo, tanto
quanto de seus bairros, ruas, parques, ou situações específicas – a cidade à noite;
empreendedores morais; violência; solidariedade e quebra de confiança; estigmatizações
intra e interbairros e a cidade; mudanças nos hábitos de velar os mortos na cidade, entre
tantos outros – tendo em comum a perspectiva analítica dos medos corriqueiros. Cada
produção que compõe o projeto colabora para a compreensão do universo pesquisado e
de como o GREM apreende a cidade a partir a noção de medos corriqueiros.
O processo de pesquisa desenvolvido pelo GREM, como um todo, e na pesquisa
MC, em específico, pode ser comparado como próximo ao que Ulf Hannerz (2015, p.
63-68) intitula de “etnografia cooperativa”. Por etnografia cooperativa se entende o
processo no qual os subprojetos e seus diversos pesquisadores vão se vinculando e se
modulando em uma rede compreensiva sobre a cidade, através de uma ótica ou
perspectiva comum, mas sempre aberta ao diálogo compreensivo a cada novo achado.
Subprojetos que promovem autonomia, mas também, como num entrelaçar de uma
rede, sempre interdependentes ao projeto maior, guarda-chuva, MC.
As noções de “mosaico científico” e de “etnografia cooperativa”, de Becker e de
Hannerz, aqui expostas servem como um espelho por onde se desenvolverá a análise
compreensiva dos trabalhos desenvolvidos pelo GREM. Nele, pesquisadores e alunos se
colocam em atividades perceptivas de apreensão coletiva da cidade de João Pessoa

19
como um todo, ou em universos e temáticos singulares, mas que, juntos, formam um
quadro geral do guarda-chuva estudado.
A relação entre os trabalhos acadêmicos realizados no GREM traçam conexões
acerca da cidade, tomada como universo sistemático de pesquisa, e constituem uma rede
de conhecimentos, que cria possibilidades a uma composição analítica do universo
pesquisado como um todo, e não apenas isoladamente. Constitui um mosaico científico
(BECKER, 1993) onde a cidade de João Pessoa aparece em uma totalidade e, ao mesmo
tempo, em singularidades específicas a cada recorte realizado pelos subprojetos.
A ideia de mosaico científico proposta por Becker, – para análise da experiência
de pesquisa pela Escola de Chicago, tendo a cidade de Chicago como universo
sistemático de análise, – parte da noção da imagem de um mosaico, onde cada trabalho
desenvolvido contribui para a compreensão do quadro analisado como um todo. O
conjunto de produção acadêmica que constitui o projeto Medos Corriqueiros se
apresenta enquanto peças singulares que compõem a pesquisa, e indicam o seu contexto
geral e, ao mesmo tempo, dentro deste contexto, se assentam as suas descobertas
singulares e específicas do seu recorte analítico.
Na discussão traçada por Becker, é salientado o acúmulo de conhecimento sobre
um determinado lugar, de modo a indicar as suas singularidades e conexões no processo
formativo do mosaico científico, que implicaria em uma condensação de experiência
solidária e produtiva do fazer social. Ao se partir da ideia de mosaico enseja-se o
pressuposto analítico de que a produção acadêmica do projeto guarda-chuva MC possui
um acúmulo de conhecimento sobre a relação entre emoções, cultura emotiva,
moralidades e sociabilidade urbana na cidade de João Pessoa, com ênfase nos medos e
os medos corriqueiros. Este conhecimento acumulado forma um mosaico da e sobre a
cidade, apreendendo-a a luz dos medos corriqueiros.
No mosaico científico que compõe a apreensão greameana sobre João Pessoa, sob
a ótica dos medos/medos corriqueiros, vê-se a cada momento, cada nova produção se
conectar e dialogar com as já existentes e as que estão em processo. O que permite
múltiplas comparações e integrações do projeto mais amplo, que redesenha, a todo
instante, o mosaico em sua complexidade de formas, seja em relação à teoria, a
metodologia, ou a novas e antigas temáticas que se remolduram a cada movimento,
ampliando o conhecimento da cidade e se autorreformulando enquanto possibilidades
projetivas de inserção novas na cidade e sobre a cidade, permanentemente.

20
Em diálogo com Howard Becker, Hannerz (2015) desenvolve a ideia de uma
etnografia cooperativa. Ideia esta que contribui para uma leitura contextual da totalidade
analítica do projeto e da cidade, universo de pesquisa maior do GREM. Os trabalhos
etnográficos, portanto, enquanto elementos cooperativos estão em constante
colaboração interna entre seus pesquisadores e formandos, levando a uma compreensão
ampla sobre um determinado lugar, temática, teoria ou metodologia, de uma forma
singular. Forma singular esta onde cada um usa o conjunto de achados de todos e, ao
mesmo tempo, amplia o conhecimento comum, e a singularidade do seu próprio
universo e tema trabalhados.
Nas palavras de Hannerz,
mesmo que o mosaico não forme um retrato de Chicago como um todo, pelo
menos podemos obter um quadro mais amplo do ambiente urbano de
qualquer grupo ou instituição específicos do que aquele que normalmente
podemos encontrar em um único estudo (HANNERZ, 2015, p. 64).
Hannerz vê os trabalhos desenvolvidos na Escola de Chicago como etnografias
cooperativas. Etnografias que integravam um conjunto de estudos de pesquisadores que
possuíam um fim comum, ou seja, a análise da cidade. Assim, cada trabalho se
apresentava enquanto cooperativo para a compreensão da cidade de Chicago e, ao
mesmo tempo, usufruíam o todo acumulado para suas próprias análises.
A noção de etnografia cooperativa, junto com a de mosaico científico, mostra-se
como um elemento importante e básico para o espírito de corpo em desenvolvimento no
GREM, entre seus pesquisadores e formandos, na análise do projeto de pesquisa MC.
Este espírito de corpo leva em consideração que, cada produção, traz uma
particularidade que coopera para a compreensão do todo. E este todo espelha novas
matrizes e caminhos para o prosseguimento de cada trabalho específico nele.
Compreender o projeto de pesquisa Medos Corriqueiros é analisar a sua produção
de modo singular e coletivo. Os trabalhos se encontram interligados e em constante
diálogo, o que permite a sua complexificação e o seu aprofundamento teórico-
metodológico. A produção, neste aspecto, está mergulhada na dinâmica incessante de
aproximações de particularidade e de semelhanças, bem como atenta às tensões e
conflitos no seu interior, ampliando às margens de diálogos dentro de cada
singularidade e nas conexões à coletividade do projeto9.

9
Notar que o subprojeto de pesquisa Balanço Comparativo (KOURY, 2016d), no interior da pesquisa
guarda-chuva MC, busca realizar uma análise da produção acadêmica do campus I da UFPB, sobre João
Pessoa, visando encontrar as categorias centrais de análise e as formas de apreensão feitas pelas diversas

21
Através da análise do projeto MC se busca desenvolver a ideia de constituição de
um mosaico e de uma etnografia cooperativa, abordada por Becker e por Hannerz; e, de
como essas noções auxiliam na leitura deste conjunto de produção acadêmica do
GREM. Especificamente, na compreensão do olhar deste grupo, através do projeto
guarda-chuva MC, apresentando como a cidade de João Pessoa é nele e por ele
apreendida.
Ao levar em consideração a noção de etnografia cooperativa, onde a produção
acadêmica de um auxilia a compreensão do contexto geral da pesquisa, faz-se
necessário o constante exercício de estranhamento (VELHO, 1978 e DA MATTA,
1978) em relação à produção, aos subprojetos e ao projeto de pesquisa, para que se
possa identificar e traçar as redes de particularidades, de semelhanças e diálogos que
entrelaçam a produção. De modo que cada produção e cada subprojeto sejam
interpretados sempre como possibilidades, como algo novo que pode levantar novas
questões em relação ao exercício reflexivo de analisar e compreender o projeto de
pesquisa MC. Análise esta que permite entender como os diálogos se estabelecem no
interior da pesquisa MC e do GREM, e como se constituem as particularidades da
produção e dos subprojetos, e, qual e como o sentido de cidade é construído nesta
trajetória.

Recorte analítico e metodológico


Este TCC realiza uma análise compreensiva do GREM sobre a cidade de João
Pessoa a partir da produção acadêmica do projeto MC, que desenvolve uma discussão
sobre a sociabilidade urbana através da perspectiva do medo e dos medos corriqueiros.
Ao tomar a cidade de João Pessoa como universo de pesquisa, o projeto MC busca
analisar o imaginário social sobre o medo do homem comum urbano e a dinâmica
interna da cidade refletida nos seus bairros, ruas e parques.
A análise do projeto MC foi realizada a partir da produção acadêmica do projeto.
Produção que constrói e corporifica o olhar teórico, metodológico e temático, e compõe
a sua trajetória acadêmica e a sua forma de apreensão da cidade de João Pessoa. Deste

áreas acadêmicas que se dedicam a tal tarefa, desde as Ciências Sociais, a Geografia, a Educação, a
Arquitetura e Urbanismo, etc.. O subprojeto Balanço Comparativo, assim, tem por objetivo ampliar o
leque de discussões e a rede de composição dos diversos mosaicos sobre a cidade de João Pessoa, agora
estendido ao campus I da UFPB, ampliando o debate e o sentido compartilhado necessário para a
realização de discussões e debates, e mesmo pesquisas comuns, contudo, não com a ideia de
interdisciplinaridade, mas de trocas de experiências sobre a cidade, a partir do lugar de fala de cada área
disciplinar em particular.

22
modo, a sua produção acadêmica expressa às fases de desenvolvimento e
amadurecimento teórico-metodológico do projeto guarda-chuva, MC.
A produção acadêmica mapeia a dinâmica interna do projeto MC, aponta para o
início das suas preocupações analíticas e para o processo de transformação teórico-
metodológica em seu interior. A análise desta produção permite desvendar as
inquietações e considerações do projeto sobre a relação entre emoções e sociabilidade
urbana na cidade de João Pessoa.
Analisar a produção acadêmica do projeto significa compreender um olhar
específico do GREM a partir da ótica dos medos corriqueiros. Permite, assim,
identificar e discutir o arcabouço conceitual do projeto e descortinar a maneira de como
a cidade de João Pessoa vem sendo apreendida no e pelo projeto guarda-chuva MC. Esta
análise permite entender a dinâmica reflexiva da cidade no interior do GREM,
desvendando as formas de sociabilidade que se desenvolve no cotidiano do homem
comum urbano.
O caminho metodológico realizado neste TCC para chegar até a análise do projeto
Medos Corriqueiros percorreu três etapas: 1) A realização de um mapeamento da
produção acadêmica do GREM; 2) a separação, no interior desta produção geral, da
produção sobre a cidade de João Pessoa; e 3) a leitura, fichamento e balanço dessa
produção. Na primeira etapa foi feito um mapeamento do GREM10 que levantou a
quantidade de pesquisadores, de alunos e da produção acadêmica, com o objetivo de
analisar a composição e a dinâmica do grupo no decorrer dos seus 22 anos de atuação,
de 1994 a 2016. Esta etapa possibilitou a construção de uma pequena história do
processo de formação e consolidação do grupo de pesquisa.
A segunda etapa da pesquisa se dedicou a sistematização da produção através da
separação dos trabalhos que tomam a cidade de João Pessoa como universo sistemático
de pesquisa. Esta atividade permitiu identificar a linha de pesquisa do grupo que mais
possui estudos sobre a cidade de João Pessoa: a linha Emoções e Sociabilidade Urbana,
com ênfase para o projeto MC.
Na terceira etapa foi realizada a leitura, o fichamento e o balanço da produção do
projeto guarda-chuva, Medos Corriqueiros. Esta etapa objetivou compreender a
trajetória teórico-metodológica do projeto, seu arcabouço conceitual e as transformações

10
O mapeamento deste grupo foi realizado através do Diretório de Grupos de Pesquisas da Plataforma
Lattes CNPq, que comporta as informações sobre as linhas de pesquisa, os pesquisadores e os alunos que
integram o GREM. Com a identificação dos membros do grupo, o mapeamento passa a englobar o
Currículo Lattes dos pesquisadores e alunos, de modo a levantar e listar a produção acadêmica.

23
sofridas no decorrer dos anos, de 1999 a 2016. O balanço da produção possibilitou,
deste modo, entender os objetivos, a trajetória e as conclusões básicas do projeto de
pesquisa MC, bem como informou sobre as formas como a cidade de João Pessoa tem
sido estudada pelo projeto, desvendando os recortes analíticos a que a cidade foi
submetida. Este procedimento metodológico permitiu a autora mapear, organizar e
sistematizar a produção acadêmica do GREM11, sobre a cidade de João Pessoa a partir
da perspectiva dos medos corriqueiros, no campo de estudo das emoções, da moralidade
e da sociabilidade urbana.
Este trabalho integra uma pesquisa que se insere no campo da pesquisa e memória
institucional (AYELLO et al, 2008; BOSI, 1993; NORA, 1993; SANTOS, 2009) da
UFPB Campus I, com o objetivo de catalogá-la, organizá-la, preservá-la e viabilizá-la à
comunidade acadêmica através da criação de um banco de dados. Com o intuito de
tornar mais eficiente, eficaz e efetivo o fazer científico através do diálogo entre os
pesquisadores, seja na academia local, regional ou nacional12. Esta monografia,

11
Do qual a autora foi bolsista PIBIC UFPB/CNPq, entre os anos de 2014-2015, 2015-2016 e 2016-2017.
12
A UFPB entre os anos de 1986 a 1994 tem um excelente desempenho de pesquisa e ensino em seus
diversos campi, e aqui, especificamente, junto ao campus de João Pessoa. Estes anos formam um período
de administração saudável de estímulo à pesquisa e a criação da pós-graduação na UFPB como um todo e
no campus I de modo especial. Os anos de 1990 são anos de afirmação das bases de grupos de pesquisa
junto ao CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e as universidades
brasileiras e a UFPB tem um excelente desempenho comparativo em relação às demais universidades no
Brasil. Os anos de 1995 a 1998 e de 1999 a 2003 são anos da presença de FHC - Fernando Henrique
Cardoso na presidência da República, e anos de uma turbulência e maus-tratos com o ensino e a pesquisa
universitária nacional e, principalmente, das IES Instituições de Ensino Superior federais no país. Corte
de financiamentos de pesquisa, incentivo à aposentadoria, não reposição dos quadros docentes nas
instituições, dentro de um projeto neoliberal. São anos de desmonte da universidade pública no Brasil e
de ampliação para um mercado privado caça-níqueis de ensino superior. Todas as IES públicas sofrem a
perda de pessoal qualificado e programas de pós-graduação e os grupos de pesquisa entram em um
processo de fragmentação, muitos chegando ao fim com as aposentadorias dos seus líderes. O ano de
2002, ano final do governo FHC, é um ano importante nesse processo de esgotamento que vive as IES
públicas no Brasil e a UFPB em particular. 2002 é o ano do desmembramento da UFPB em duas
universidades: a partir dela é criada a UFCG - Universidade Federal de Campina Grande. Este
desmembramento, junto ao desmantelamento das IES públicas do governo FHC ocasionou um óbice na
participação dos grupos de pesquisa desta universidade, não apenas com a falta de pessoal qualificado,
aposentados e sem nova alocação de outros pesquisadores, e a divisão dos campi da UFPB em dois, que
agora passam a ser divididos com a recém-formada UFCG que já nasce em crise. Esta divisão de uma
universidade em duas causa um óbice na UFPB: até o ano do desmembramento da UFPB em duas
Instituições de ensino superior, o ano de 2002, a UFPB registrava junto ao CNPq o total de 265 GPs em
funcionamento. Entre os anos de 2002 a 2008 a UFPB atravessa um intenso período de diminuição de
quadros especializados com uma intensidade na diminuição de GPs, chegando os mesmos a cair para 179
grupos, com uma produção científica acanhada em relação aos quadros nacionais. Com chegada de Luis
Inácio Lula da Silva a presidência da república em 2009, começa a haver uma atenção especial ao ensino
universitário e a busca de diminuir os estragos feitos nas IES federais pelos governos de FHC. Uma nova
retomada de contratação de pessoal especializado faz com que as universidades federais entrem em um
ritmo novo de ampliação da pós-graduação e pesquisa. por exemplo, em 2010 a UFPB chega a 352 GPs.
Porém, esse novo crescimento sofreu ainda o impacto do esvaziamento causado pela política FHC,
principalmente na UFPB, pois a contratação de quadros novos, mesmo que excelentes, não detinham a
experiência dos que foram jogados para fora da universidade, assim, os cursos de pós-graduação

24
portanto, se apresenta como um estudo que busca realizar uma análise institucional de
um grupo de pesquisa específico, o GREM, no contexto institucional da UFPB entre os
anos de 1983 a 2016. Os quadros e esquemas analíticos sobre esta memória acadêmica
torna acessível para a comunidade científica e em geral os diversos olhares que a
Instituição tem desenvolvido sobre a sociabilidade urbana, as culturas emotivas, os
códigos de moralidade os processos de transformação da paisagem humana e urbana na
cidade de João Pessoa ao longo do tempo.
A pesquisa Balanço Comparativo realiza um exercício de construção da memória
institucional (AYELLO et al, 2008) do GREM e da UFPB, de modo a torna-la acessível
através da criação de um banco de dados da produção sobre a cidade de João Pessoa.
Assim como Ayello (2008), a pesquisa Balanço Comparativo entende que é necessário
que a produção acadêmica tenha acessibilidade, para que aumente o grau de visibilidade
da pesquisa e traga grandes chances do estudo ser lido, avaliado e citado por outros
pesquisadores, estabelecendo diálogos.
A memória institucional é o elemento investigativo que identifica os estudos e
análises desenvolvidos por um determinado grupo ou instituição (SANTOS, 2009), e
que constitui a história do grupo ou instituição. É esta memória que fortalece a base do

continuaram em declínio, e os GPs apenas timidamente iniciavam pesquisas. Muitos dos antigos quadros
da UFPB tinham sido realocados em outras IES do sudeste, e nesse processo o declínio proporcional dos
GPs locais, apesar do crescimento interno nesses anos de 2010, foi aumentando progressivamente, com a
participação da UFPB cada vez menos visível na política acadêmica nacional. Apenas a partir do segundo
governo Lula é que começa a haver uma estabilidade e um novo impulso da UFPB a nível nacional.
Mesmo assim, a UFPB mantém a liderança de grupos de pesquisa entre as universidades públicas e
privadas no Estado da Paraíba, apesar de sua decaída no plano nacional. Em comparação com outras
Instituições da Paraíba, levando em consideração o ano base de 2010, a UFPB ocupa o 20º lugar no
ranking de GPs, ficando à frente da UFCG (em 38º) e da UEPB (em 67º), que juntas compõem o quadro
de Instituições Superiores de Ensino público da Paraíba. Naquele ano de 2010, a UFPB possuía 352
grupos de pesquisa dos 662 em atuação na Paraíba, dos 5.044 no Nordeste e dos 27.523 no Brasil. A
UFPB, em 2010, representa apenas 53% dos GPs na Paraíba, 6,97% no Nordeste e 1,3% no Brasil, um
processo difícil de sair. A competição entre programas de pós-graduação e universidades no país aumenta
significativamente, e os recursos de pesquisa não têm sido ampliados e os escassos recursos disputados
ferreamente a nível nacional. A UFPB tem nos últimos anos buscado reergue-se desse quadro angustiante,
mas ainda os óbices são muitos (KOURY, 2014f). Este quadro de desmonte e busca de recuperação da
UFPB têm sido objeto de reflexão local e têm servido para organizar o fazer científico desta Instituição.
No entanto, a inexistência de políticas acadêmicas no nível da reitoria e dos centros de ensino e pesquisa
da UFPB tem dificultado ainda mais a tímida retomada, isso somado a não existência de, uma memória
institucional organizada e acessível ao pesquisador que possa viabilizar a produção solidária e
cooperativa, e os óbices em uma política de pesquisa institucional que amplie às margens de
desenvolvimento dos pesquisadores. Com efeito, a integração da produção acadêmica dos diversos
centros da UFPB conforme uma política de visibilidade e de trocas, com um banco de dados e com fóruns
de discussão e publicização de debates, tornaria a Instituição mais acessível para a comunidade e
potencializaria a eficácia e eficiência da pesquisa. Neste sentido, é preciso uma montagem de uma nova
política institucional que priorize a memória acadêmica da UFPB, no sentido de permitir a compreensão
de sua trajetória temática e teórico-metodológica.

25
fazer científico, pois possibilita que ela seja retomada, através da produção, como um
exercício de práxis do fazer ciência. A memória institucional se coloca como uma
possibilidade de diálogo entre os pesquisadores em relação a uma temática, teoria e/ou
metodologia, o que complexifica as análises na academia.
Ao se inserir na memória institucional do GREM, este TCC constrói uma pequena
história do grupo com ênfase para uma linha de pesquisa, Emoções e Sociabilidade
Urbana, e para um projeto, MC. A análise da memória institucional do GREM permite
realizar um balanço compreensivo da sua produção acadêmica sobre a cidade,
desvendar as suas mudanças no decorrer dos anos, de 1999 a 2016, e identificar os
mapas simbólicos construídos sobre João Pessoa. Bem como descortinar a cultura
emotiva e os códigos de moralidade que se desenvolvem na cidade.
Este TCC, portanto, é composto por 06 capítulos, divididos em 02 partes, que
constroem a análise institucional do GREM, a partir do projeto guarda-chuva MC, de
modo a compreender a sua trajetória temática, teórica e metodológica e compor um
mosaico científico da cidade de João Pessoa, através da produção acadêmica medos
corriqueiros.
O capítulo 01, intitulado O GREM - Grupo de Pesquisa em Antropologia e
Sociologia das Emoções aborda uma análise compreensiva sobre o GREM, seu
processo de formação e desenvolvimento nesses 22 anos de atuação acadêmica, do ano
de 1994 a 2016. Discute-se a trajetória de pesquisa do grupo, identificando as suas
linhas de pesquisa, os seus pesquisadores e estudantes, e a sua produção acadêmica.
Depois de situar o grupo, a análise se afunila para o projeto guarda-chuva, que é
discutido, neste TCC, em 02 partes.
A Parte I compreende 03 capítulos realiza uma discussão do projeto MC e das
suas fases pré-organizativas que levaram ao surgimento do projeto guarda-chuva. O
capítulo 2, O projeto de pesquisa Medos Corriqueiros, busca apresentar o projeto em
análise, de modo a identificar os seus objetivos, o recorte analítico e metodológico, as
hipóteses e a sua contribuição na academia.
O capítulo 3, Análise da trajetória teórico-metodológica da Fase I da pesquisa,
realiza uma análise compreensiva sobre uma das fases pré-organizativas do projeto MC,
que compreende os anos de 1983 a 1994. Esta fase apreende uma discussão das
pesquisas e da produção acadêmica de Koury, desvendando o caminho teórico e
metodológico que levou a criação do GREM.

26
No capítulo 4, Análise da trajetória teórico-metodológica da Fase II da pesquisa,
é analisada o recorte temporal dos anos de 1994 a 1999. Nesta fase acompanha o
surgimento do GREM e seu desenvolvimento até final dos anos 90, tomando duas
linhas de pesquisa como pontos principais de discussão teórico-metodológica que mais
tarde resultaria no projeto MC, em 1999.
A Parte II é composta pelos capítulos 5 e 6, e se debruça sobre a discussão da
produção acadêmica do projeto MC e a análise da cidade de João Pessoa sob a ótica dos
medos corriqueiros. O capítulo 5, Medos Corriqueiros: Construindo um projeto de
pesquisa, realiza uma análise da trajetória teórico-metodológica do projeto MC, do ano
de 1999 a 2016.
O capítulo 6, A produção do projeto Medos Corriqueiros sobre a cidade de João
Pessoa, objetiva construir um mosaico científico sobre a cidade de João Pessoa, a partir
da produção do projeto MC. Busca discutir como o projeto apreende a cidade e quais os
recortes que ela foi submetida em suas análises, elaborando um mosaico da capital sob a
ótica dos medos e dos medos corriqueiros.
A análise é concluída com um balanço analítico do que foi discutido neste TCC.
Apoia-se na discussão da questão da análise institucional, da etnografia cooperativa
(HANNERZ, 2015), da construção do mosaico científico (BECKER, 1993) sobre a
cidade de João Pessoa e da contribuição teórico-metodológica deste estudo para a
constituição, inicial, de uma memória acadêmica.

27
Capítulo 1 – O GREM - Grupo de Pesquisa em Antropologia e
Sociologia das Emoções

Este capítulo realiza uma análise compreensiva e histórica do GREM, com o


objetivo de compreender a trajetória temática, teórica e metodológica deste grupo de
pesquisa. É discutido o processo de formação do grupo e o seu desenvolvimento
acadêmico, tomando 2016 como ano base de pesquisa13.
Busca identificar as linhas de pesquisas que se desenvolvem no seu interior, os
pesquisadores e formandos que compõe este grupo e como eles se distribuem dentro das
linhas de pesquisa, de modo a compreender as temáticas que orientam a produção
acadêmica do grupo de pesquisa. Esta análise compreensiva do GREM constrói uma
pequena história do grupo de pesquisa e de sua contribuição para a academia, bem como
de sua colaboração à discussão e analise sobre a cidade de João Pessoa – Paraíba14.
O GREM foi formado em 1994 com interesse voltado para o campo da
Antropologia e da Sociologia das Emoções. Estes novos campos surgiram como subárea
da Antropologia e da Sociologia nos anos de 1970, nos Estados Unidos, propondo situar
as emoções como foco analítico central para o estudo sobre a relação indivíduo e
sociedade (KOURY, 2014)15. O GREM foi o primeiro grupo de pesquisa a adentrar
neste campo de estudo na academia brasileira e latino-americana.
As discussões sobre a composição das Emoções, enquanto subárea da
Antropologia e da Sociologia tem início no Brasil nos anos de 199016. Nesta época, os

13
Balanços analíticos sobre o processo de formação e a trajetória acadêmica do GREM foram realizados
em Pontes & Koury (2014) e Pontes (2015).
14
A escolha em analisar o GREM se deu por ser o grupo de pesquisa mais antigo e ainda em atuação no
CCHLA da UFPB I, e por possuir uma vasta produção acadêmica sobre a cidade de João Pessoa – PB.
Este grupo atua na formação de alunos nas áreas da Antropologia e da Sociologia das Emoções. A sua
produção acadêmica possui caminhos teóricos e metodológicos que se conectam e se singularizam,
elaborando as suas linhas de pesquisas e a sua dinâmica acadêmica. No interior do grupo os pesquisadores
desenvolvem trabalhos em conjunto, dialogando entre as diferentes linhas de pesquisa e ampliando a
perspectiva analítica grupal. O GREM é um coletivo, é um grupo de pesquisa que dialoga entre os
pesquisadores e alunos, aprimorando a análise e contribuindo para um fazer científico mais efetivo e
eficiente a partir da troca e do refinamento teórico-metodológico. O grupo também se apresenta como
singular a partir da perspectiva de cada linha de pesquisa e de pesquisador, constituindo olhares
específicos de análise em seu interior.
15
Ler Koury (2014) para uma discussão refinada sobre a consolidação da Antropologia e da Sociologia
das Emoções no Brasil. Koury traça um panorama sobre a consolidação das emoções na academia
brasileira e disponibiliza um mapeamento analítico dos pesquisadores e grupos de pesquisa que vem
produzindo na área nos últimos vinte anos.
16
De acordo com Koury (2014), as emoções já se apresentavam, na academia brasileira, nas análises
sobre a construção social, entretanto, a categoria emoção se encontrava subsumidas netas análises. Como

28
trabalhos de Koury passam a adentrar em análises onde a subjetividade adquire um
esforço analítico acentuado, deixando em segundo plano os estudos voltados para a
temática de trabalho e sindicalismo, onde atuava.
De acordo com Koury,
a constituição dessas novas áreas se deu como um processo de busca de
rejuvenescimento da teoria social, através de uma releitura da tradição
sociológica e antropológica, desde os clássicos (KOURY, 2014, p. 841).

A sociologia e a antropologia das emoções espalharam-se pelo mundo, com


construções teórico-metodológicas diversas, e até mesmo conflitantes, na
busca de situar as emoções como categoria central para se pensar a inter-
relação entre indivíduo e sociedade: fundamento da constituição das ciências
sociais (Koury, 2014, p. 841).
O fenômeno das emoções aparece como o fato social total para a compreensão do
espaço societal a partir da análise dos sentimentos de luto, de medos, de vergonha, de
gratidão, de pertença, dos constrangimentos, dos segredos, da confiança e da
confiabilidade, de lealdade, de solidariedade e outros. A categoria analítica das emoções
é entendida como a teia de sentimentos gerados nos processos intersubjetivos,
cristalizados como cultura objetiva e formas sociais, mas também expressos e
atualizados enquanto cultura subjetiva e conteúdos sociais (KOURY, 2014).
O GREM foi o primeiro grupo de pesquisa do Brasil que tomou as emoções como
foco central de análise sociológica e antropológica, objetivando a
compreensão e análise da emergência da individualidade e do individualismo
no Brasil urbano contemporâneo, enfatizando a questão da formação das
emoções, enquanto cultura emocional, e desenvolvendo estudos e pesquisas
sobre processos de formação e experiência de emoções específica nos planos
societal e cultural: como o processo de luto, da morte e do morrer; dos
medos; das formas de sociabilidades e das etiquetas sociais que envolvem as
relações de amizade; dos processos de ressentimento e humilhação; e das
formas de estabelecimento de laços de confiança e desconfiança entre as
camadas médias urbanas no país (KOURY, 2014, p. 847).
O GREM realiza pesquisas, consultorias e orientações, contribuindo com a
formação de pesquisadores na área das Emoções e participando da luta pela
consolidação das Emoções como subárea da Sociologia e da Antropologia na academia
brasileira17. O grupo desenvolve estudos que buscam analisar e compreender os modos

exemplo pode-se citar as obras de autores como Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda, Paulo Prado
e Oracy Nogueira.
17
Fundado no ano de 1994, o grupo de pesquisa é ligado, hoje, ao Departamento de Ciências Sociais e ao
Programa de Pós-Graduação em Antropologia do CCHLA da UFPB, Campus I. O GREM publica a
RBSE – Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, editada por Koury, e por Koury e Barbosa a partir

29
e estilos de vida, bem como as representações e o imaginário social constituído pelas
formas de sociabilidade emergentes no urbano contemporâneo brasileiro e ocidental
(KOURY, 2016a). Neste sentido, agrega pesquisadores e estudantes de graduação e de
pós-graduação18 que tem o interesse de estudar a relação entre Emoções, Sociedade e
Cultura19.
A produção acadêmica desenvolvida integra as suas linhas de pesquisa, assim
como cada pesquisador e estudante nele atuantes. O grupo possui, atualmente, 04 linhas
de pesquisa, a saber: Estudos Teóricos em Antropologia e Sociologia das Emoções,
Emoções e Consumo, Emoções, Moralidade e Gênero e Emoções e Sociabilidade
Urbana.
A linha de pesquisa Estudos Teóricos em Antropologia e Sociologia das Emoções
intenta desenvolver estudos teóricos sobre a relação Emoções, Cultura e Sociedade, e
divulgar, aprofundar e refinar o campo analítico da Antropologia e da Sociologia das
Emoções na academia brasileira, contribuindo para o debate e para a luta pela
consolidação das Emoções como subárea da Antropologia e da Sociologia nas Ciências
Sociais mundial. Esta linha de pesquisa engloba 12 pesquisadores e 04 estudantes que
desenvolvem trabalhos baseados nas discussões e análises sobre questões de cultura e

do volume 16. Conta com um conselho editorial de vinte e um pesquisadores, sendo dezesseis nacionais e
cinco internacionais. A RBSE pode ser acessada no endereço eletrônico: http://zip.net/bjtH8H . Como
elemento de continuidade, o GREM fundou recentemente uma nova revista, Sociabilidades Urbanas –
Revista de Antropologia e Sociologia. É uma revista que tem o objetivo de ser um espaço de discussão e
reflexão sobre o urbano contemporâneo, trazendo análises sobre cidade, urbanismos e urbanidades.
Sociabilidades Urbanas foi fundada no ano de 2017 e teve sua primeira publicação no mês de março.
Pode ser acessada no endereço eletrônico: http://zip.net/bbtH6H . O GREM também publica a Coleção
Cadernos do GREM, com 10 números editados: N. 01 As teorias do desenvolvimento social e a América
Latina (KOURY, 2002d), N. 02 Uma fotografia desbotada. Atitudes e rituais do luto e o objeto
fotográfico (KOURY, 2002e), N. 03 Introdução à Sociologia da Emoção (KOURY, 2004c), N. 03
Sofrimento social. Movimentos sociais na Paraíba através da imprensa (KOURY, 2007a), N. 04 Rasguei
o teu retrato. A ação destrutiva de fotografias no trabalho de luto (KOURY, 2007b), N. 05 De quê João
Pessoa tem medo? Uma abordagem em antropologia das emoções (KOURY, 2008), N. 07 Da
Subjetividade às Emoções. A Antropologia e a Sociologia das Emoções no Brasil (KOURY e
BARBOSA, 2015b), N. 08 Medos Corriqueiros e Vergonha Cotidiana. Um estudo em Antropologia das
Emoções (BARBOSA, 2015a), N. 09 Quebra de Confiança e conflito entre iguais: cultura emotiva e
moralidade em um bairro popular (KOURY, 2016a) e N. 10 A Vergonha no Self e na Sociedade. A
Sociologia e a Antropologia das Emoções de Thomas Scheff (KOURY e BARBOSA, 2016b).
18
O GREM possui 17 pesquisadores, estes, nesta monografia, estão divididos em duas categorias: os
pesquisadores internos (05), aqueles que integram o Departamento de Ciências Sociais e o Programa de
Pós-Graduação em Antropologia da UFPB I, e os pesquisadores associados (12), que se distribuem em
dois subgrupos: aqueles que integram outros Departamentos da UFPB I (02) e aqueles que pertencem a
outras Instituições de Ensino Superior (10). Nesta monografia a análise se debruça sobre os pesquisadores
e estudantes internos do GREM.
19
O GREM tem duas fases de desenvolvimento em sua trajetória acadêmica: a primeira data de sua
formação, em 1994, até o ano de 2009. Durante esse período o grupo possuía um único pesquisador, o
professor Mauro Koury, concentrado a produção acadêmica sobre Koury e seus orientandos. A segunda
fase tem início no ano de 2010, quando há uma abertura do grupo para novos pesquisadores e estudantes,
ampliando as perspectivas analíticas, os diálogos acadêmicos e o desenvolvimento de trabalhos coletivos.

30
subjetividade, de memória e sociedade, da formação social da pessoa e da relação entre
emoções, cultura e sociedade.
A linha de pesquisa Emoções e Consumo tem a preocupação de analisar como o
consumo, entendido enquanto espaço de produção cultural e simbólica, tornou-se uma
esfera de configuração e reconfiguração das formas de expressão de emoções,
identidades e subjetividades dos agentes sociais na contemporaneidade. Esta linha de
pesquisa atua com 01 pesquisador e 04 estudantes, desenvolvendo trabalhos sobre o
consumo, a subjetividade, as emoções e a cultura.
Emoções, Moralidade e Gênero é uma linha de pesquisa do GREM que objetiva
analisar e compreender a cultura emotiva e suas relações com a produção de moralidade
em uma dada sociabilidade, o comportamento desviantes nos homens comuns no
urbano brasileiro e as implicações morais nas relações de gênero. Esta linha de pesquisa
possui 08 pesquisadores e 01 estudante de pós-graduação que atuam na realização de
pesquisas e na produção e trabalhos sobre moralidade, emoções e cultura emotiva,
vulnerabilidade social e gênero e violência.
Outra linha de pesquisa do GREM é a de Emoções e Sociabilidade Urbana, que
tem a finalidade analisar a emergência de uma nova cultura emotiva no urbano
contemporâneo brasileiro, principalmente a partir da década de 1970, quando o Brasil
ganha uma predominância urbana. Nesta linha se desenvolvem discussões sobre os
processos interacionais na cidade, os modos e estilos de vida e as formas de viver, sentir
e narrar à cidade. Esta linha engloba 09 pesquisadores e 06 estudantes que realizam
estudos sobre os processos sociais e interacionais, discutindo conceitos de cultura
emotiva, de medos corriqueiros, de vergonha, de pertença, estratégias de evitação e
outros.
Emoções e Sociabilidade Urbana é a linha de pesquisa do GREM que mais
produziu trabalhos sobre a cidade de João Pessoa como universo sistemático de
pesquisa. Esta linha surge nos primeiros anos de atuação acadêmica do grupo de
pesquisa e desenvolve estudos sobre a sociabilidade urbana, o ideal de progresso, as
fotografias do urbano e o sentimento de pertença. Bem como sobre a emoção luto, o
sentimento de perda, a noção de morte e de morrer, a emoção medo 20, constituindo a
cidade de João Pessoa sob a perspectiva da relação entre emoções e sociabilidade
urbana na contemporaneidade brasileira.

20
A discussão conceitual da produção será abordada no capítulo 5 desta monografia.

31
Das 04 linhas de pesquisa do GREM a Emoções e Sociabilidade Urbana foi a
escolhida para análise nesta monografia. A escolha se deu pelo fato desta linha de
pesquisa possuir o maior fluxo de produção acadêmica sobre a cidade de João Pessoa,
além de ser a linha de pesquisa mais antiga do GREM.

A linha de pesquisa Emoções e Sociabilidade Urbana


Três projetos foram acolhidos na linha Emoções e Sociabilidade Urbana, que se
debruçam sobre a análise da capital paraibana. São eles: Fotografia, pobreza, cidade e a
percepção dos produtores culturais da cidade (1994-2000), Luto e Sociedade no Brasil
(1994-2003) e Medos Corriqueiros: A construção social da semelhança e da
dessemelhança entre os habitantes urbanos das cidades brasileiras na
contemporaneidade (1999-atual).
Fotografia, pobreza, cidade e a percepção dos produtores culturais da cidade foi
um projeto de pesquisa que buscou discutir o homem comum pobre na cidade da
Parahyba, atual João Pessoa, entre os anos de1890 a 1920 (KOURY, 1986, 1988,
2003a), e os ideais de progresso e de desenvolvimento urbano na cidade da Parahyba,
através das fotografias dos anos de 1870 a 1930 (BARRETO, 1996). Bem como
analisou a fotografia na cidade, de 1850 a 1950 (LIRA, 1997), com o intuito de
acompanhar o itinerário dos fotógrafos que ali atuavam e de entender como a cidade foi
construída a partir do olhar fotográfico da época. O projeto levantou, ainda, a discussão
sobre a percepção da cidade de João Pessoa pelos seus produtores culturais, nos anos de
1980 a 1990 (HONORATO, 1999).
Este projeto esteve em desenvolvimento no GREM dos anos de 1994 a 2000 e
produziu trabalhos que se debruçam sobre fotografia, cidade, modernização,
sociabilidade urbana e sentimento de pertença, trazendo os primeiros apontamentos
sobre a emoção medo e sua influência nas configurações urbanas e nas formas de
sociabilidade. O projeto serviu como uma pré-fase organizativa do que veio a se tornar
mais tarde o projeto Medos Corriqueiros.
Luto e Sociedade no Brasil foi o projeto que marcou a transição do grupo para o
campo analítico das Emoções, na Antropologia e na Sociologia. Foi o período da
criação e consolidação do GREM. Este foi um dos primeiros projetos do grupo de
pesquisa e teve por objetivo analisar e compreender as transformações no
comportamento urbano de classe média, na contemporaneidade brasileira, a partir do
processo de luto.

32
Este projeto realizou coleta de dados nas 27 capitais do Brasil com a finalidade de
compreender o imaginário social em relação ao luto e a dor da perda, onde os indivíduos
elaboram definições sobre o sentimento de luto, da perda, da dor e identificam as
mudanças e as permanências nos costumes e nos rituais da morte e do morrer. E fez um
balanço das percepções sociais sobre o trabalho de luto no urbano contemporâneo
brasileiro.
A projeto Luto e Sociedade no Brasil analisou as atitudes em relação ao fenômeno
do luto no Brasil urbano contemporâneo. Teve por objetivo entender o significado
social do luto e o processo de individuação daquele que o sofre, de modo a desvendar os
processos de mudança de valores e mentalidades em relação ao luto e à morte,
apontando para a emergência de uma nova sensibilidade na sociedade brasileira urbana
(KOURY, 2010b).
O projeto MC, por último, foi construído através da transformação analítica de
questões levantadas em ambos os projetos anteriores21. O projeto MC busca analisar a
construção do imaginário social sobre o medo do homem comum urbano na
contemporaneidade brasileira, a fim de compreender as transformações na construção
social da semelhança e da dessemelhança entre os habitantes da cidade, orientando as
formas de sociabilidade urbana.
No projeto MC, os medos, - enquanto medos corriqueiros, - são entendidos como
emoções fundamentais para a elaboração do cotidiano do homem comum urbano. O
medo é compreendido enquanto elemento que pode paralisar, aprimorar ou transformar
as trocas materiais e simbólicas dos indivíduos no processo de interação social. O medo
é entendido, assim, como um elemento social significativo para a configuração e
reconfiguração das formações societárias, pois é uma emoção que está presente em toda
e qualquer relação social, se apresentando como uma força motivadora desse social.
O projeto MC se encontra em desenvolvimento desde o ano de 1999. Desde então,
vem colaborando com a discussão teórico-metodológica sobre a relação entre medo e
sociedade no Brasil e no ocidente, enfatizando a construção do imaginário social sobre o
medo, e os medos corriqueiros, no homem comum urbano das cidades brasileiras na
contemporaneidade.

21
Em diálogo com o projeto Fotografia, pobreza, cidade e a percepção dos produtores culturais da
cidade, por exemplo, tem-se a discussão sobre relação entre emoções e sociabilidade urbana na cidade de
João Pessoa.

33
Este projeto de pesquisa se preocupa em analisar e compreender as formas de
sociabilidade que se desenvolvem sob a ótica dos medos corriqueiros na cidade de João
Pessoa. O projeto MC traça um mapa simbólico sobre a cidade, constituindo uma
análise compreensiva sobre o seu desenvolvimento, suas transformações urbanas e as
formas de sociabilidade a partir da perspectiva analítica dos medos corriqueiros.
Os 03 projetos apresentados – Luto e Sociedade no Brasil, Fotografia, cidade e a
percepção dos produtores culturais da cidade e Medos Corriqueiros – da linha de
pesquisa Emoções e Sociabilidade Urbana se debruçam sobre a cidade de João Pessoa
como universo sistemático de pesquisa22. Estes subprojetos discutem o urbano através
da relação entre Fotografia, Emoções e Cidade.
Apesar de suas singularidades teórico-metodológicas, os três projetos de pesquisa
que compõem a linha Emoções e Sociabilidades Urbanas traçam diálogos sobre o
urbano, a pobreza, a cidade, o progresso, as emoções, a semelhança e a dessemelhança,
identificando as transformações na organização societal da sociedade brasileira, com a
emergência de uma nova sensibilidade que influencia as formas de sociabilidade urbana
do país, a partir da década de 1970. Esta linha de pesquisa pressupõe um olhar
específico do GREM sobre a cidade de João Pessoa. Olhar este configurado a partir da
discussão sobre a relação entre emoções e sociabilidade urbana.
Neste trabalho monográfico busca-se analisar este olhar do grupo de pesquisa
sobre a cidade através da emoção medo/medos corriqueiros. Dialoga com as questões
identificadas no projeto Fotografia, pobreza, cidade e a percepção dos produtores
culturais da cidade, nas discussões sobre modernização do espaço urbano na cidade e
os sentimentos de segregação, pertença e medos nele proposto; assim como no projeto
Luto e Sociedade no Brasil, com a noção de uma nova sensibilidade urbana no Brasil.

O olhar teórico-metodológico do GREM


Cada linha de pesquisa do GREM constitui um olhar teórico-metodológico
específico. O grupo de pesquisa elabora caminhos analíticos singulares para estudar
João Pessoa, traçando diversos mapas simbólicos, a depender do recorte a que a cidade
foi submetida na pesquisa.

22
Entre os três projetos de pesquisa da linha Emoções e Sociabilidade Urbana, foi escolhido para análise
nesta monografia o projeto Medos Corriqueiros devido a sua quantidade de produção acadêmica sobre a
cidade de João Pessoa, com cerca de 128 trabalhos científicos, até o ano de 2016, que se distribuem em
Dissertações, em Monografias, em livros e em artigos em livros, em periódicos e em anais de eventos.
Vale salientar que o projeto Fotografia, cidade e a percepção dos produtores culturais da cidade é
considerado uma pré-fase de organização do projeto MC, por isso a produção de dissertações deste
projeto pré-fase também é analisada, sendo considerada parte da produção medos corriqueiros.

34
Os mapas simbólicos são formas específicas de analisar e compreender o campo
de estudo, estas formas são elaboradas através de uma determinada temática, teoria e
metodologia que orienta o caminho analítico da pesquisa. A cidade é estudada a partir
de um sistema simbólico que é identificado de acordo com a trajetória teórico-
metodológica da produção, no interior de cada pesquisa, compondo os olhares do
GREM, que se corporificam nas linhas de pesquisa.
Os diversos olhares do grupo de pesquisa se somam na constituição de um olhar
maior, que é orientado pela discussão analítica sobre a relação entre Emoções, Cultura e
Sociedade. O olhar do GREM é identificado a partir de sua trajetória temática e teórico-
metodológica, o que permite compreender o desenvolvimento e a dinâmica interna do
grupo, construindo a história deste grupo de pesquisa e da sua contribuição acadêmica23.
Entre os diversos olhares do GREM, interessa a esta monografia aquele que é
norteado pela perspectiva analítica dos medos corriqueiros. Este olhar do grupo é
percebido a partir dos mapas simbólicos construídos sobre a cidade através da ótica dos
medos, apresentando uma cidade de João Pessoa singular, que é analisada com base na
relação entre a emoção medo e a sociabilidade urbana local.
Analisar uma produção acadêmica é entender a dinâmica reflexiva de um grupo
ou de uma instituição, de modo a desvendar a dimensão do grupo ou da instituição
estudada, aqui, o GREM e a UFPB, a partir do seu universo de pesquisa, a cidade de
João Pessoa. Esta análise do projeto MC do GREM permite compreender o processo de
sociabilidade no urbano contemporâneo e o imaginário social sobre o medo e as
relações sociais no cotidiano do homem comum da cidade de João Pessoa.
O GREM desenvolve seus estudos sobre a lógica do cotidiano, da cidade, da
pertença e das emoções. Estes são elementos conceituais e analíticos que marcam o seu
surgimento e desenvolvimento, e apreendem e constroem a cidade a partir de um olhar
científico específico, do campo da Antropologia e da Sociologia das Emoções.
A produção acadêmica do GREM se apresenta como um acervo de conhecimento
científico sobre a cidade de João Pessoa, indicando elementos presentes e perdidos na
memória da/na cidade. Estes elementos que caracterizam a cidade estão contidos na

23
A produção acadêmica do GREM permite compreender o surgimento e o desenvolvimento deste grupo
de pesquisa, pois traça o início das suas preocupações analíticas, bem como a complexificação teórica e
metodológica do grupo no decorrer dos anos. Esta complexificação analítica ocorre mediante a realização
de trabalhos que são publicizados e possibilitam o diálogo na academia sobre as reflexões do grupo. A
produção conforma a trajetória do GREM, indicando a sua contribuição acadêmica, desvendando suas
inquietações e consideração acerca das emoções na sociedade brasileira urbana contemporânea, com
ênfase para a cidade de João Pessoa – PB.

35
produção do grupo, que guarda acontecimentos, circunstâncias, personagens, lugares
(PESAVENTO, 2002) e tantos outros componentes que particularizam a cidade de João
Pessoa, mas que foram se perdendo ou se modificando com o advento da modernidade.
Cristalizados na produção acadêmica do GREM, esses elementos que caracterizam a
cidade se encontram presentes, mesmo que de forma ideologizada, na memória dos
habitantes da cidade.
A cidade de João Pessoa, de acordo com a produção do GREM, vem sofrendo um
processo de urbanização, que tece reconfigurações sócio-espaciais e culturais, e constroem
novas formas de sociabilidade, com surtos nas décadas de 1920 e 1930 (KOURY, 1986), e
com intensidade a partir da década de 1970. Novas formas de sociabilidades estas pautadas
em uma crescente individualização e anonimato, elementos que vivem em ambivalência
com os processos de pessoalidade e semelhança que se desenvolvem na cidade.
O medo, como medos corriqueiros, norteia a vida cotidiana do homem comum
urbano. Estabelece e restabelece relações sociais interindividuais e tecem novas formas de
sociabilidades, criando, adaptando ou rompendo outras24.
A produção do GREM traça um mapa simbólico sobre a cidade de João Pessoa. Mapa
simbólico que permite compreender como o grupo de pesquisa apreende a cidade e o seu
cotidiano. E, ao mesmo tempo, permite desvendar os recortes analíticos a que a cidade foi
submetida na trajetória teórico-metodológica do projeto MC.
Nesta perspectiva o grupo de pesquisa estuda a problemática dos medos e dos medos
corriqueiros na modernidade, discutindo o papel da mídia, da violência, da semelhança e
dessemelhança, do sentimento de pertença, da vergonha, da fofoca, do segredo, da
confiança, da confiabilidade, da amizade, da individualidade, da cultura emotiva e dos
códigos de moralidade, entre outros. É elaborada uma ampla visão da cidade que permite
compreender as formas de sociabilidade que nela se desenvolvem, tendo como pano de
fundo as representações sociais sobre a cidade de João Pessoa e os medos corriqueiros do
homem urbano contemporâneo local.
Este capítulo buscou discutir a trajetória acadêmica do GREM, levando em
consideração o processo de sua criação. Objetivou identificar as linhas de pesquisa e os
pesquisadores que atuam no grupo. Discutiu-se a trajetória deste grupo de pesquisa a partir
de uma linha de pesquisa específica, a Emoções e Sociabilidade Urbana, tanto por ênfase o
projeto guarda-chuva MC. Para tal, analisou os estudos deste grupo sobre a relação medo e

24
Uma discussão mais refinada sobre a forma como o GREM apreende a cidade de João Pessoa a partir
da ótica dos medos corriqueiros e do esquema conceitual do projeto MC será trabalhada no capítulo 6.

36
sociedade, se debruçando na discussão da constituição do imaginário social sobre o medo
do homem comum da cidade de João Pessoa.
A análise da produção acadêmica do GREM possibilita a inserção na sua memória
institucional (ABREU, 2005; AYELLO et al, 2008; BOSI, 1993; DOBEDEI, 2005;
GONDAR, 2005; NORA, 1993; PESAVENTO, 2008; SANTOS, 2009), de modo a
perceber as mudanças teórico-metodológicas nele ocorridas durante a sua trajetória
acadêmica, de 1994 a 2016. O mapeamento e a análise do grupo de pesquisa permitiu
construir essa pequena história sobre o processo de formação e o desenvolvimento do
grupo no decorrer dos anos.

37
Parte I

38
Esta primeira parte25 levanta uma discussão sobre a fase pré organizativa do
projeto de pesquisa MC, com o intuito de analisar o surgimento, o desenvolvimento e os
principais conceitos que norteiam a fase pré-organizativa deste projeto de pesquisa.
Busca apresentar e situar o projeto MC e analisar os caminhos que levaram a sua
organização e desenvolvimento.
O recorte temporal de análise, nesta Parte I, apreende os anos de pré-fase do
projeto, isto é, o período aproximativo com a temática dos medos/medos corriqueiros e
dos estudos sobre a cidade de João Pessoa como universo de pesquisa. Fase pré-
organizativa que se situava entre os anos de 1983 a 1999, que deu margem ao
desenvolvimento do projeto MC, entre os anos de 1999 à atualidade. Por questões de
recorte temporal para o desenvolvimento deste TCC, se analisa o projeto MC até o ano
de 201626.
A Parte I está organizada em 03 capítulos: O capítulo 2, “O projeto de Pesquisa
Medos Corriqueiros”, apreende uma discussão analítica do projeto MC, com o intuito
de apresentar as problemáticas e os objetivos que o norteiam. O capítulo 3, “Análise da
trajetória teórico-metodológica da Fase I da pesquisa”, por sua vez, compreende o
recorte temporal de 1983 a 1994, tem por objetivo analisar a trajetória acadêmica de
Koury até a sua entrada no campo das emoções, período que compõe uma das fases pré-
organizativas do projeto MC. O capítulo 4, “Análise da trajetória teórico-metodológica
da Fase II da pesquisa”, por fim, aborda o recorte temporal de 1994 a 1999. Este
capítulo discute o processo de consolidação do GREM na área das emoções e analisa os
caminhos teórico-metodológicos para o surgimento do projeto MC.

25
Devido à quantidade de informações que o projeto Medos Corriqueiros resultou, optou-se por dividir
este TCC em duas partes. A Parte I aborda uma apresentação do projeto MC (cap. 2) e as discussões
analíticas das fases 1 e 2 (cap. 3 e 4) da pesquisa que levou a criação do GREM e ao surgimento do
projeto MC. A Parte II, por sua vez, é composta por uma análise da fase 3 da pesquisa, isto é, da trajetória
teórico-metodológica do projeto Medos Corriqueiros (cap. 5), e por uma discussão compreensiva sobre
como a cidade de João Pessoa-PB é estudada e apreendida pelo GREM sob a ótica dos medos
corriqueiros (cap. 6).
26
O projeto de pesquisa Medos Corriqueiros tem início no ano de 1999, mas os caminhos para o seu
desenvolvimento já são identificados a partir do ano de 1983, tanto na produção do principal pesquisador,
quanto dos seus alunos.

39
Capítulo 2 – O projeto de Pesquisa Medos Corriqueiros

Este capítulo busca apresentar o projeto de pesquisa MC, levando em


consideração os seus objetivos, hipóteses e as discussões nele levantadas, bem como sua
contribuição à academia para a consolidação da área das Emoções como subárea da
Antropologia e da Sociologia nas Ciências Sociais brasileira. Realiza uma análise
compreensiva do projeto com o intuito de identificar como a emoção medo é estudada
no projeto e as suas relações com a sociabilidade urbana na cidade de João Pessoa,
Paraíba. Pretende analisar como a produção acadêmica do projeto MC vem contribuindo
para a apreensão analítica da cidade de João Pessoa, sob a perspectiva dos medos
corriqueiros.
A análise busca descortinar como o projeto tem colaborado para a discussão
acadêmica dos estudos sobre as emoções, a cidade e o urbano, enfatizando a relação
entre emoções e sociabilidade urbana na cidade de João Pessoa. O projeto é analisado a
partir das suas particularidades em relação ao estudo sobre Emoções, Cultura e
Sociedade, com ênfase para a relação Medo e Sociedade no urbano brasileiro
contemporâneo. E procura entender como a emoção medo adquire um papel
significativo na construção e organização do social, sendo considerado um elemento que
configura e reconfigura as formas de sociabilidades urbanas.
Este projeto se debruça sobre a análise do cotidiano do habitante comum das
cidades brasileiras na contemporaneidade, em especial sobre a cidade de João Pessoa27.

27
O projeto de pesquisa Medos Corriqueiros possui uma ampla produção acadêmica, entre elas
encontram-se os livros Medos Corriqueiros e Sociabilidade (KOURY, 2005), O Vínculo Ritual: Um
estudo sobre sociabilidade entre jovens no urbano brasileiro contemporâneo, (KOURY, 2006) e De que
João Pessoa tem medo? Uma abordagem em Antropologia das Emoções, (KOURY, 2008). Esses livros
analisam e discutem os resultados obtidos no desenvolvimento da pesquisa, publicizando os trabalhos
desenvolvidos no âmbito do GREM. A pesquisa também produz artigos em periódicos, capítulos de
livros, artigos e resumos em anais de congressos, entre outros. Estes trabalhos apresentam-se como
mecanismos que viabilizam as análises e reflexões desenvolvidas no grupo e que permitem pensar e
discutir os conceitos e as categorias trabalhadas, possibilitando aprimorá-las. Além disso, a publicação
desses trabalhos incorpora a política de visibilidade e acessibilidade que se desenvolve no interior do
grupo, abrindo caminho para o diálogo com outros pesquisadores, contribuindo para a discussão acerca
do tema na academia e para a eficiência e efetividade do fazer científico. É importante salientar que a
produção acadêmica do projeto Medos Corriqueiros selecionada para análise nesta monografia se divide,
ainda, em Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) e Dissertações de Mestrado. Entre os TCCs se
encontram: Medo na cidade: Uma experiência no Proto do Capim (VILAR, 2001), Tambiá – medo,
cultura e sociabilidade: Um estudo sobre o bairro de Tambiá, João Pessoa-PB (SILVA, 2003), Uma
Análise do Bairro de Cruz das Armas Sob a Ótica do Medo (SOUZA, 2003), Tambaú: Pertença e
fragmentação sob uma ótica do medo (SOUSA, 2004), Sob a ótica do medo: Um estudo de caso no
bairro dos Estados, João Pessoa-PB (SILVA, 2004), Convívio e interação social: os códigos de afeição e
de estranhamento, os medos corriqueiros e a sociabilidade em uma rua (CAVALCANTE FILHO, 2005),

40
O projeto de pesquisa MC busca compreender a construção do imaginário social do
medo no homem comum habitante da cidade de João Pessoa, com o intuito de
desvendar esta emoção no cotidiano dos habitantes urbanos na contemporaneidade. O
projeto parte da hipótese central de que o medo é uma construção social significativa
para a configuração e reconfiguração das formações societárias, encontrando-se
presente em toda e qualquer relação social e se mostrando uma força motivadora desse
social.
O medo é apreendido a partir de um caráter ambivalente, pois estimula tanto a
semelhança como a dessemelhança nas relações sociais do habitante comum urbano.
Assim, o medo não é visto apenas como um elemento de subordinação, retraimento e
repulsa, fomentando estigmas, estranhamento, individualização e hierarquização grupal
e/ou individual. Esta emoção também assume um aspecto transgressor, inovador,
organizador e criador de novas sociabilidades, causando estranhamento e provocando
reações de proximidade, refazendo novas possibilidades de relações sociais.
O projeto MC não pretende analisar a configuração de um medo específico, mas
sim a conformação dos medos corriqueiros nas formas de sociabilidade urbana. Busca
compreender as
formulações banais e corriqueiras da ação social comum, ou qualquer, que
informa e fundamenta as possibilidades de conformação de um conjunto
societário específico (KOURY, 2002a, p. 121).
Os medos corriqueiros se apresentam como um sentimento que rege o
comportamento humano em toda e qualquer forma de sociabilidade, fazendo parte da
experiência social de uma determinada situação (KOURY, 2008, p. 14). Neste sentido,
o projeto MC objetiva analisar e compreender as formas de sociabilidade sob a ótica do
medo e dos medos corriqueiros no urbano contemporâneo brasileiro.
Este projeto propõe a cidade de João Pessoa como universo sistemático de análise.
A cidade nele é apreendida sob diversos aspectos e ângulos peculiares que comportam

Sociabilidade, pertença e medos corriqueiros: Estudo de uma rua no bairro de Valentina de Figueiredo,
João Pessoa – Paraíba (ALMEIDA, 2005), João Pessoa à noite: Um estudo sobre vida noturna e
sociabilidade, 1920 a 1980 (SOUZA, 2005), Memória social e sentimento de pertença: Um estudo sobre
o Parque Solon de Lucena, João Pessoa – PB (SILVA, 2006) e Sociabilidade, Medo e Estigma no
contexto urbano contemporâneo: o bairro do Roger na cidade de João Pessoa – PB (CAMPOS, 2008).
Enquanto que as Dissertações de Mestrado em análise são compostas pelos seguintes trabalhos: Imagens
da Cidade: A ideia de progresso nas fotografias da cidade da Parahyba (1870-1930) (BARRETO, 1996),
Fotografia na Paraíba: Um inventário dos fotógrafos através do retrato (1850-1950) (LIRA, 1997), Se
essa cidade fosse minha... A experiência urbana na perspectiva dos produtores culturais de João Pessoa
(HONORATO, 1999) e Medos Corriqueiros e Vergonha Cotidiana: uma análise compreensiva do bairro
do Varjão/Rangel, João Pessoa, PB (BARBOSA, 2015).

41
histórias e vivências específicas em cada lugar, sejam as ruas, os bairros e/ou os
parques. O objetivo do projeto, portanto, é compreender as bases de formação da cidade
de João Pessoa e a as formas de sociabilidade que nela se desenvolvem sob a ótica dos
medos corriqueiros.
Neste projeto há a preocupação em analisar os laços afetivos de pessoalidade e de
solidariedade entre os habitantes, os sentimentos de pertença e de segurança, a
confiança e a confiabilidade, assim como, os laços de discórdia, de ressentimento e de
estigma, as estratégias de evitação, o individualismo, a impessoalidade, os códigos de
conduta, os segredos, o sentimento de traição, a fofoca, a vergonha, a humilhação, o
sentimento de perda e outros elementos que configuram o imaginário social da cidade.
O medo, como medos corriqueiros, nos dois casos, atua como articulador da análise, de
modo a desvendar a cultura emotiva da cidade de João Pessoa.
Estes conceitos, juntos com outros, fazem parte dos recortes teórico-
metodológicos do projeto guarda-chuva MC e seus subprojetos28. O seu repertório
conceitual é amplo e possui particularidades e semelhanças de acordo com os
subprojetos29, sendo configurado com as preocupações analíticas dos subprojetos
aninhados no projeto guarda-chuva MC. No esquema abaixo se tem uma sistematização
do leque conceitual utilizado pelo projeto de 1999 a 2016.

28
Os conceitos e a trajetória conceitual do projeto MC serão discutidos no capítulo 5.
29
O projeto Medos Corriqueiros é composto por sete subprojetos: O Vínculo Ritual. Um estudo sobre
sociabilidade e modos de vida entre jovens no urbano brasileiro contemporâneo (2002-2006), Parque
Solon de Lucena: Espaço público, potencial de urbanidade e desenvolvimento da cidade (2005-2006),
Bairro do Roger: História, memória e estigma (2007-2008), Sujeira e imaginário urbano (2009-2011),
Confiança e Vergonha: Uma análise do cotidiano da moralidade (2010-2011), Sociabilidade e conflito
nos processos de interação cotidiana sob intensa pessoalidade (2012-atual) e Observatório sobre Medos
(2012-atual).

42
Este esquema ilustra o arcabouço conceitual que norteia as análises do projeto
MC. Até a sua composição atual, o esquema conceitual do projeto passou por uma
transformação teórico-metodológica proporcionada pelo desenvolvimento dos
subprojetos e pela produção de trabalhos que realizam um balanço crítico dos achados
da pesquisa.
Alguns desses conceitos acompanham o projeto guarda-chuva desde o seu
surgimento, como: medos, medos corriqueiros, pertença, segredo, traição, estigma,
confiança e confiabilidade, pessoalidade, individualismo, homem comum, entre outros.
Estes conceitos vão se afunilando e complexificando de acordo com o desenvolvimento
analítico e teórico-metodológico do projeto e de seus subprojetos. Nesse caminhar
surgem outros conceitos analíticos, como: cultura emotiva, embaraço, vergonha,
constrangimento, ressentimento, estratégias de evitação, esvaziamento do espaço
públicos e outros30.
O projeto MC, a partir desses conceitos, discute a constituição do indivíduo e de
seus medos no urbano contemporâneo brasileiro, e analisa a constituição do imaginário
social sobre o medo presente nos habitantes da cidade de João Pessoa. O projeto MC,
como supracitado, parte do princípio compreensivo de que o medo norteia as práticas
sociais, e (re)configuram as formas de sociabilidade na cidade e nos bairros, ruas e
parques, entre outros recortes nele submetido.
O medo, como medos corriqueiros, enfim, de acordo com o projeto em análise, é
um elemento presente em toda e qualquer forma de sociabilidade, apenas variando nas
suas formas e práticas de acordo com os lugares, caracterizando, assim, os espaços
sociais em lugares (CERTEAU, 1998a)31. Lugares estes pessoalizados ou
individualizados, a depender dos laços de semelhança ou dessemelhança que se
desenvolvem na rua, no bairro e/ou no parque, entre outros lugares e situações sociais.

30
A discussão dos conceitos que norteiam a análise do projeto Medos Corriqueiros será realizada no
capítulo 5.
31
Michel de Certeau (1998a) compreende o lugar como um espaço simbólico vivido, isto é, o lugar é
identificado e possui um bem simbólico. O lugar permite uma memória e um sentido de pertencimento e
reconhecimento, e sua história está impregnada por aqueles que o fazem e vivenciam o lugar. O lugar é
uma configuração instantânea de posições que implica uma indicação de estabilidade, imperando a lei do
próprio. Deste modo, para o autor, a pertença é o que possibilita a construção do lugar. Enquanto que a
noção de espaço, segundo Certeau, possui um sentido específico, que tem movimento, onde o seu
cruzamento cria o lugar. Assim, cada espaço é preenchido por lugares. O espaço é entendido como um
lugar praticado, e neste caso existe lugar, que leva em consideração os vetores de direção, da quantidade e
velocidade e da variável tempo, não possuindo uma univocidade nem a estabilidade de um próprio. Já o
espaço não praticado implica na não existência do lugar.

43
O projeto Medos Corriqueiros como uma rede de conhecimento sobre a cidade de
João Pessoa
A produção acadêmica do projeto MC disponibiliza um acúmulo de conhecimento
sobre a cidade de João Pessoa, apreendida a partir da emoção medo. A produção
constrói diálogos e cria uma rede de conhecimento sobre o universo analisado.
O acúmulo de conhecimento da produção do projeto MC sobre João Pessoa
contribui para a composição de um mosaico da cidade (BECKER, 1993). A produção
acadêmica colabora para a compreensão do contexto analítico da cidade de João Pessoa,
em que cada estudo é visto como uma peça que constitui este mosaico de onde a cidade
é apreendida para análise.
Esta visão geral é possibilitada pela conexão das particularidades, isto é, de cada
produção que se debruça sobre um recorte teórico-metodológico específico. A leitura
deste conjunto de produção acadêmica conforma a compreensão contextual do universo
de estudo, elaborando um mosaico sobre o mesmo.
O mosaico comporta a produção de estudos que se conectam e dialogam,
permitindo múltiplas comparações de um determinado universo de pesquisa. No
mosaico, os estudos que nele se desenvolvem trabalham de forma cooperativa
(HANNERZ, 2015), permitindo, ao mesmo tempo, uma leitura e análise contextual do
todo e de suas partes. O mapa simbólico apreende os estudos específicos, em
cooperação analítica, para a constituição de uma rede de significados sobre a cidade,
universo de pesquisa, elaborando uma visão geral que condensa as conexões da
produção acadêmica, e as interdependentizam em suas particularidades.
A etnografia cooperativa (HANNERZ, 2015) se apresenta como um elemento
essencial para a compreensão e para a composição de um mosaico sobre um dado
universo de pesquisa. Ulf Hannerz (2015) compreende que os trabalhos etnográficos
cooperativos são importantes para análise contextual de uma totalidade, sem
invisibilizar as suas particularidades.
O GREM trabalha com a ideia de etnografia cooperativa no desenvolvimento de
suas pesquisas. A pesquisa MC é um projeto guarda-chuva que colabora com a
construção de um mosaico da cidade de João Pessoa sob a ótica dos medos corriqueiros,
sendo sustentado por uma etnografia cooperativa. Cooperar significa que a produção
acadêmica do projeto MC atua em diálogo. Diálogo configurado no uso comum do
acervo de pesquisa por todos os seus subprojetos, e ao mesmo tempo, na conformação
de uma imagem de João Pessoa constituída pelas especificidades das temáticas e

44
interesses dos subprojetos. Os subprojetos em diálogo contribuem para um mesmo fim,
isto é, produzem esforços cooperativos para a constituição de um contexto analítico: a
compreensão do imaginário social sobre os medos dos homens comuns no urbano e a
relação com as formas de sociabilidade que se desenvolvem na cidade.
O projeto Medos Corriqueiros, portanto, é uma pesquisa compartilhada. Pesquisa
que se apoia no fazer científico coletivo, constituindo um esforço cooperativo ao
conhecimento a partir de análises singulares sobre determinados bairros, ruas e parques,
em dialogo configurando a compreensão analítica sobre a cidade de João Pessoa.
Cada produção do projeto Medos Corriqueiros, portanto, se apresenta como uma
etnografia cooperativa (HANNERZ, 2015), onde os trabalhos cooperam uns com os
outros na composição do projeto maior e na constituição de um mosaico sobre a cidade.
Esta produção específica de cada subprojeto, apesar de compartilharem a metodologia
geral do projeto MC, possui uma trajetória teórico-metodológica singular, que, mesmo
com sua particularidade no interior do projeto guarda-chuva, mantêm conexões com os
outros subprojetos.
A produção acadêmica compartilha e singulariza a metodologia do projeto MC,
compondo simultaneamente a coletividade do projeto. Configura, assim, uma rede de
conhecimento sobre a cidade, onde cada produção coopera para a constituição da
pesquisa maior, Medos Corriqueiros.
Analisar a cidade de João Pessoa sob a ótica dos medos corriqueiros é
compreender os contornos que a cidade pode assumir através de suas formas de
sociabilidade e cultura emotiva. Formas de sociabilidade e cultura emotiva estas que
caracterizam os lugares e a cidade como um todo: entrecruzando lugares e espaços
sociais, como os bairros, as ruas e os parques, configurando-os em um ambiente de
tensão e pertença que caracterizam os lugares em si e os lugares no interior da cidade.
As análises desenvolvidas no interior do projeto MC identificou a emergência de
uma nova sensibilidade no urbano contemporâneo brasileiro com ênfase para a cidade
de João Pessoa (KOURY, 2009a). Nova sensibilidade que vem se desenvolvendo a
partir da década de 1970. Esta emergência de uma nova sensibilidade se dá de forma
simultânea com o crescimento do processo de individualidade e individualismo na
sociabilidade brasileira urbana, rompendo ou transformando as formas de sociabilidades
baseadas em laços tradicionais de pessoalidade e semelhança.
A cidade de João Pessoa vive um processo de individualização crescente,
principalmente nos bairros de classe média e média alta, o que parece ter aumentando a

45
solidão, a dessemelhança, a indiferença e a ocorrência de uma valorização do espaço
privado em detrimento do espaço público (KOURY, 2008). No entanto, a cidade
também vivencia formas de sociabilidades pautadas em modelos de solidariedade
afetivas que se baseiam na pessoalidade e na semelhança, com intensa interação
relacional no ambiente público, principalmente nos bairros populares (BARBOSA,
2015; KOURY, 2016b).
As formas de sociabilidade da cidade de João Pessoa mesclam elementos
tradicionais e modernos, que se apresentam de forma dentro de uma tensão e
inadequação em relação as novas configurações que se formam. Nos bairros de classe
média e média alta se desenvolve uma crescente individualização, enquanto que nos
bairros populares as relações são pautadas em certa solidariedade, sem escaparem,
também, da emergência de relações baseadas na impessoalidade, mas em um grau
menor do que nos lugares que as classes abastadas residem. O processo de
modernização na cidade de João Pessoa parece fomentar relações baseadas no medo do
outro, agora estranho, que começa compartilhar os espaços que os habitantes que se
consideram tradicionais na cidade (KOURY, 2008).
O projeto MC analisa o imaginário social dos habitantes da cidade de João Pessoa
a partir do seu lugar de fala, que norteia a sua experiência. Os sujeitos figuram o seu
imaginário sobre medo na cidade de acordo com o bairro onde moram e o lugar que
frequentam, de modo a possibilitar várias visões sobre a cidade, e imersões no seu
interior.
Há várias experiências sobre medos e medos corriqueiros de acordo com o lugar
analisado, onde o imaginário social do sujeito é configurado seja como de vítima
potencial da violência crescente na cidade, devido ao crescimento urbano desordenado,
seja a partir dos aglomerados subnormais na cidade. Seja, ainda, como vítima direta do
imaginário social da cidade sobre o bairro em que moram, sendo categorizados como
mais ou menos violento, fomentando estratégias de salvaguardar a face do bairro e de
seus moradores, e indicando o outro como a fonte do caos (KOURY, 2010).
Analisar as representações sociais sobre o imaginário do medo dos habitantes da
cidade de João Pessoa permite, assim, compreender a sua configuração e reconfiguração na
sociedade local, de modo a desvendar como são construídos os significados de
pertencimento e exclusão, as transformações dos lugares e as formas de sociabilidade e
interação entre os indivíduos neles inseridos, o que leva a análise da conformação tensa de

46
cada lugar e de como os indivíduos e grupos foram afetados pelas transformações sofridas
no urbano contemporâneo da cidade.
O projeto Medos Corriqueiros faz uma ampla análise sobre a cidade de João Pessoa a
partir da ótica dos medos corriqueiros. Para isso faz uso de um leque conceitual
imprescindível para a análise das formas de sociabilidade pautadas nos medos corriqueiros
que se desenvolvem na cidade. A trajetória conceitual do projeto de pesquisa é essencial
para o seu desenvolvimento, bem como para a compreensão do mapa simbólico traçado
pelo projeto, de modo a desvendar a cultura emotiva da cidade e seus códigos de
moralidade. O mapa simbólico é a síntese das reflexões do GREM sobre João Pessoa,
apreendida, recortada e estudada, pelo projeto em análise nesta monografia, a partir da
ótica dos medos corriqueiros.
Através do projeto Medos Corriqueiros se apreende a cidade de João Pessoa a
partir dos pequenos enfretamentos cotidianos dos seus habitantes, seja entre os
moradores do próprio bairro ou rua, de outros bairros ou da cidade como um todo
(KOURY, 2016a). A análise do projeto MC permite compreender como os medos e os
medos corriqueiros se propagam no cotidiano dos habitantes da cidade de João Pessoa.
A cidade de João Pessoa é composta por lugares singulares que interagem entre si e com
outros no cotidiano da cidade, e onde os habitantes configuram o jogo de interações
individuais e grupais que tecem as formas de sociabilidade, de memória e de história.
A produção acadêmica do projeto MC compõe uma rede de significados sobre a
cidade de João Pessoa, apresentando um acúmulo de conhecimento sobre ela. A partir
da análise desta produção acadêmica, esta monografia busca compreender a forma como
a cidade de João Pessoa é apreendida pelo grupo de pesquisa, a fim de identificar as
mudanças sócioespaciais da cidade, principalmente a partir da década de 1970, e a
constituição do imaginário social sobre o medo do homem comum urbano, bem como
sua relação com as formas de sociabilidade que se desenvolvem na capital paraibana.

47
Capítulo 3 – No campo da subjetividade: a trajetória teórico-
metodológica da Fase I da pesquisa

Este capítulo objetiva discutir a fase I do projeto de pesquisa Medos Corriqueiros,


que apreende os anos de 1983 a 1994. Este período foi compreendido como a primeira
fase da pesquisa por compor o caminho teórico-metodológico que mais tarde dará
surgimento ao projeto guarda-chuva. Busca identificar conceitos e questões trabalhadas
por Koury e seus orientandos, durante este período, que foram importantes para a
constituição do GREM.
A trajetória acadêmica de Koury é essencial para a compreensão contextual do
projeto MC e do GREM. O contexto histórico em que este pesquisador está situado é
fundamental para compreender a trajetória teórico-metodológica e as transformações
que se sucederam no decorrer dos anos.
No início de sua carreira acadêmica Koury desenvolveu estudos voltados para
questão de classe, do sindicalismo e dos movimentos sociais. A sua preocupação esteve
voltada à problemática do trabalhador sob o capital, da cidadania, das greves rurais e do
Estado autoritário. Neste primeiro recorte temporal, de 1983 a 1994, a principal
pesquisa desenvolvida por Koury, com apoio de pesquisadores associados32, foi o
projeto Fontes para a História da Industrialização do Nordeste: 1889-1980, do qual foi
coordenador. Este pesquisa, - realizada pelo NDIHR – Núcleo de Documentação e
Informação Histórica Regional33, - objetivava resgatar e preservar a memória e a
produção do conhecimento científico sobre o Nordeste brasileiro, com relação ao
trabalho e a indústria.
A pesquisa Fontes para a História da Industrialização do Nordeste34 objetivou
construir um acervo documental sobre a história regional, com base no período temporal
de 1889 a 1980. Buscou-se compreender a evolução do trabalho e da indústria na região
Nordeste e a sua relação com a urbanidade, as manifestações políticas do empresariado
e o papel que o Estado tomava em relação a este empresariado, bem como, a formação

32
Entre eles Sílvio Frank Alem, Cláudio Egler, Tamara Tania Cohen, José Arlindo Soares, Neiliane
Maia, Joana Neves, Maria do Céu Medeiros, Jacob Carlos Lima e Eliana Monteiro Moreira.
33
O NDIHR é um órgão suplementar ligado a Reitoria da UFPB, na cidade de João Pessoa.
34
Financiada pela FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos, com início no ano de 1983 e conclusão
em 1986.

48
da classe trabalhadora na região, levando em consideração suas condições de vida e de
trabalho e suas manifestações de reivindicação e política.
Foi uma pesquisa ampla e abrangeu três elementos essenciais para a realização
dos seus objetivos: a indústria na região, o empresariado e a classe trabalhadora. A
análise destes três elementos foi importante para a implementação do objetivo central da
pesquisa, com o intuito de documentar e preservar a história regional.
Nesta pesquisa Koury produziu diversos artigos em periódicos, em anais de
congresso e em livros, discutindo a formação da classe trabalhadora a partir de uma
noção chave para a sua análise: o homem comum pobre. O conceito de homem comum
pobre foi um grande peso analítico em direção ao estudo das subjetividades dos
trabalhadores enquanto cidadãos dispostos em situações específicas, deixando, assim,
de serem vistos e entendidos, apenas, através das classes sociais.
A partir do ano de 1983 os estudos desenvolvidos por Koury apontavam para a
questão da subjetividade como eixo central de análise35, concentrando, cada vez mais,
seus estudos sobre a cidade de João Pessoa. Nesta perspectiva começou a se interessar
pela categoria analítica do homem comum pobre no cotidiano de sua existência
(KOURY, 1986a).
A noção de homem comum pobre percorre a produção de Koury até o projeto
MC, que busca analisar as formas de sociabilidade deste homem comum no cotidiano da
cidade de João Pessoa a partir da perspectiva dos medos corriqueiros. Por homem
comum pobre Koury (1986a) entende aquele “homem livre, vivendo ou recém-chegado
nas cidades, despossuído de bens e proprietário, apenas, de sua força de trabalho” (idem,
p. 134).
O homem comum pobre é aquele homem qualquer, sem qualitativos, que possui
uma profissão ou vínculo empregatício, ou que se encontre desempregado e sem
profissão, ou que vive de ganhos avulsos ou pequeno comércio, além de mendigos,

35
De 1983 a 1994/5 Koury publicou diversos artigos em periódicos, tais como: Movimentos Sociais no
Campo (KOURY, 1986), Formas de organização popular no nordeste: um debate (KOURY, 1987),
Pobreza e cidade: as tentativas de regulamentação dos homens pobres no Nordeste, 1889-1920
(KOURY, 1987), A Imagem do Pobre Perigoso (KOURY, 1989), A República dos Excluídos (KOURY,
1989a), O tempo estilhaçado em instantes (KOURY, 1992), Pobreza e Luto: Ensaio sobre cidadania e
exclusão social (KOURY, 1993), As violências invisíveis: Paraíba 1993 (KOURY, 1994a), O tempo
estilhaçado em instantes: um inventário sobre as representações sindicais da relação entre trabalho e
técnica (KOURY, 1995), Paraíba: Organização do Trabalho e Tecnologia (KOURY, 1995a) e outros.
Além de artigos em anais de congressos, entre eles: Comunicação sobre o projeto fontes para a história
da industrialização do Nordeste, 1889-1980 (KOURY, 1983), Trabalho e Disciplina (Os Homens Pobres
nas Cidades do Nordeste: 1889-1920) (KOURY, 1986a), Formas de organização popular no nordeste:
um debate (KOURY, 1986b), Diferenciação entre o bem e o mal: pobreza, violência e justiça (KOURY,
1988) e Organização dos trabalhadores, sindicatos e técnica (KOURY, 1991).

49
contraventores e outros (KOURY, 1986a). A noção de homem comum pobre aponta
para a diversidade cotidiana que é vivenciada pelos indivíduos em situações singulares,
em suas interações com outros e em lugares específicos, seja em uma determinada rua,
bairro, parque e cidade, e outros lugares mais.
Para Koury, citando Marglin (1973),
A utilização do conceito de homem comum pobre busca quebrar o
estereótipo da visão da classe trabalhadora como formulada unicamente por
operários assalariados (fabris), optando pelo entendimento desta classe em
um contexto de heterogeneidade, vivenciada por todos os trabalhadores,
potenciais ou não, de forma direta, individualizada, ou indireta, através de
seus filhos, mulheres, parentes. Esta heterogeneidade vivida permite perceber
a diversidade das situações enfrentadas pelo conjunto da população pobre na
sua luta pela sobrevivência, bem como as estratégias dominantes de definição
do pobre como vagabundo e escória social, e do trabalho assalariado como
disciplinados e como o elemento de positividade e inclusão deste homem
comum pobre na sociedade (MARGLIN, 1973 apud KOURY, 1986a, p.
138).
Nesta primeira fase da pesquisa Koury discute, principalmente, o homem comum pobre
no interior dos discursos de caráter modernizador das cidades, com ênfase na cidade da
Parahyba, atual João Pessoa. Entre outros será utilizado como apoio analítico o trabalho
de Koury (1986a).
As duas grandes categorias analíticas nesta primeira fase é a do homem comum
pobre e a do discurso modernizador. Este discurso modernizador da cidade, para Koury,
ganha forças na década de 1920 e é realizado através de duas vertentes básicas: a
estética e a econômica, ambas atingem diretamente do homem comum pobre habitante
da cidade. Isso porque o discurso modernizador traz em si as noções de higienização
urbana e de habitação, bem como o aumento populacional, que se reflete nas condições
de vida e de trabalho dos homens pobres.
Neste período, nos anos de 1920, há uma transformação urbana na cidade da
Parahyba, com a expulsão e o deslocamento progressivo dos homens comuns pobres,
que antes habitavam os bairros centrais e mais antigos da cidade, para os bairros mais
periféricos, com a pretensão de higienizar, embelezar e sanear a cidade dentro deste
discurso de modernização. O trabalho aparece como o elemento disciplinador destes
homens comuns pobres, pois é visto como o elemento que concebe a ordem e possibilita
o progresso (KOURY, 1986a, 1987a).
O homem comum pobre, neste discurso modernizador, quando não produtivo,
preocupa as elites locais, que procuram soluções. Segundo a ótica destas elites, este

50
homem comum pobre, desempregado, suja e enfeia a cidade, incomodando tanto os
moradores quanto os visitantes, causando repulsa.
Neste sentido dá-se a criação de asilos, prisões, orfanatos e instituições de
caridade que objetivam sanear a cidade e torna-la mais aprazível, sem a presença deste
homem comum pobre que a enfeia. Estas instituições tinham a pretensão de maquiar a
pobreza, colocando-a longe dos olhos urbanos. Buscavam (re)educar estes homens e
crianças para a moral disciplinar que o trabalho oferecia, “moral esta que faz com que o
homem comum pobre seja recatado, tenha vergonha de sua pobreza para vir a expô-la a
luz do dia, embora se sinta honrado com ela, porque honesto” (KOURY, 1986a, p. 141).
A discussão analítica traçada na produção acadêmica de Koury até os anos de
1990 se dedicava, principalmente, às questões sobre o homem comum pobre, sobre o
discurso modernizador e sobre o trabalho, relacionado com o sindicalismo, movimentos
sociais, política e cidade. Neste primeiro momento a subjetividade do trabalhador, a
partir da noção de homem comum pobre, adquire um esforço analítico acentuado na sua
produção.
A partir da década de 1990 os estudos desenvolvidos por Koury iniciam um
diálogo entre a subjetividade e as emoções, com as emoções subsumidas no contexto
mais amplo da subjetividade, tomada como eixo central de análise36. Dá-se início, neste
momento, a discussão sobre luto e sociedade no Brasil urbano. Estudos ainda
relacionados às questões de trabalho e associativismo, com a problemática da morte e da
dor da perda.
Nesta direção se estendem 03 trabalhos, que podem ser considerados de
introdução para o estudo das emoções, são estes: “O fim é igual a todo dia: luto e
representações da morte” (KOURY, 1992), “Pobreza e Luto: Ensaios sobre cidadania e
exclusão social” (KOURY, 1993) e “Sofrimento social, exclusão, pobreza e trabalho de
luto no Brasil urbano” (KOURY, 2003b). Estes trabalhos discutem a exclusão social no
cotidiano do homem comum pobre e toma o luto como elemento analítico para
compreender as questões da exclusão e da pobreza na contemporaneidade brasileira
(KOURY, 2003). Estas análises percorrem dois casos de estudos, o de um grupo de
mendigos que sofre pela morte de um membro morto por atropelamento (KOURY,
1992), e o caso de uma família onde o pai de família desaparece de uma prisão
brasileira (KOURY, 1993).

36
Ver Koury e Barbosa (2015b) sobre essa questão.

51
Os processos de luto e da morte trabalhados são vistos como elementos que
situam a dor da perda, imaginário social e realidade dos indivíduos. O luto é
compreendido, ainda, como subjetividade. Como um momento social e individual entre
os homens comuns pobres no urbano. O luto se apresenta como um processo conflitual
que provoca a renúncia de si pelo coletivo, e a morte traça o caminho para a memória.
Nestes trabalhos, Koury analisa as relações entre a ausência de cidadania e o luto,
através do trabalho de luto dos excluídos sociais que vivem de mendicância (KOURY,
1992) e do luto impossível de uma família devido o desaparecimento do seu pai e
marido (KOURY, 1993).
As análises discutem a problemática da exclusão social da pobreza em relação aos
processos de cidadania a partir da vivência de luto no urbano brasileiro contemporâneo.
Em seus estudos, Koury se interessa cada vez mais pelo processo de individualização
pela qual a sociedade brasileira vem passando. Processo esse que, além de referenciar a
tensa relação entre os costumes tradicionais e as novas formas de sociabilidades
urbanas, também indicam a “prática autoritária e de exclusão social que marcam a
sociabilidade brasileira, em sua manifestação econômica, política e ideológica”
(KOURY, 2003, p. 378).
Estes três estudos são análises que abordam a problemática do luto dentro de um
panorama de passagem, onde a subjetividade é enfatizada como categoria analítica e as
emoções como elemento de diálogo no estudo sobre o trabalho e a classe trabalhadora.
É a partir dessas análises que o estudo das emoções passa a se introduzir nos problemas
de pesquisa de Koury, dando início a um olhar teórico-metodológico que resultará na
fase II da pesquisa, com a criação do GREM.
No início dos anos de 1990 Koury recebe influencia dos estudos voltados para o
campo das emoções enquanto subárea da Antropologia e da Sociologia, remodelando,
aos poucos, seus problemas de pesquisa e seu arcabouço teórico-metodológico. No
processo de passagem das análises sobre subjetividade para as análises sobre as
emoções, trazendo o aprofundamento de algumas noções trabalhadas nesta primeira fase
de pesquisa, como a noção de homem comum pobre e do discurso modernizador,
baseando seus estudos cada vez mais na cidade de João Pessoa como universo de
pesquisa.
A noção de homem comum pobre dá espaço para a de homem comum, isto é, o
homem ordinário imerso em seu cotidiano. A noção de homem comum apreende os
indivíduos enquanto desprovidos de cargos, representações sociais, religiosas, políticas

52
e econômicas, constituindo o homem comum como inserido na vivência corriqueira.
Com indivíduos que se apropriam e reapropriam dos elementos sociais de uma
determinada sociabilidade, constituindo e remodelando cotidianamente as experiências
e as formas de sociabilidade (KOURY, 2014a).
O discurso modernizador se configura dentro de uma ideologia de progresso
pautada nos ideais de urbanização, de higienização, de embelezamento, de saneamento,
de disciplinamento e de transformação urbana. O ideal de progresso traz uma nova
apropriação do espaço pela cidade, como valorização econômica e estética, constituindo
um esforço de compor uma autoimagem da cidade identificada com a modernidade
(KOURY, 1998; BARRETO, 1996, 1998).
O ideal de progresso traz o conflito entre o novo e o velho, com a implantação de
uma modernização conservadora e estimulada, que exclui os pobres e a pobreza,
considerados como sujos, feios e pitorescos, e por isso eram maquiados na malha
urbana, considerados honrados e disciplinados a partir do trabalho.
O aprimoramento dessas duas categorias, de homem comum e de ideal de
progresso, leva a constituição teórico-metodológica da fase II da pesquisa, com a
entrada no campo analítico das emoções como problema de pesquisa e com a realização
de estudos cada vez mais voltados para a sociabilidade urbana.
Esta fase I da pesquisa, portanto, marca a trajetória acadêmica de Koury nos
estudos sobre os trabalhadores urbanos no Nordeste, com a preocupação de analisar a
formação da classe trabalhadora nesta região brasileira, tomando a noção de homem
comum pobre como conceito chave de pesquisa. Neste primeiro momento Koury se
insere no campo da subjetividade para analisar questões do trabalho, da classe
trabalhadora, da organização dos trabalhadores, da disciplina e do discurso
modernizador. Conforme pode ser visto no esquema conceitual abaixo.

53
A introdução das emoções no desenvolvimento nos estudos acadêmicos de Koury,
no início dos anos de 1990 serve de ponte para a segunda fase da pesquisa, inserindo a
preocupação analítica na relação Emoções, Cultura e Sociedade, com ênfase para as
emoções e a sociabilidade urbana na cidade de João Pessoa. Nesta nova fase, os estudos
de Koury (2003) sobre luto passam a compreender este sentimento como uma emoção
singular que se conforma no processo interativo em que se processa uma cultura
emotiva. Discute as mudanças aceleradas que ocorreram na sociedade brasileira a partir
dos anos de 1970, e os impasses na vivência e percepção do luto entre os homens
comuns. Para ele,
a dor experimentada no lento processo de testar a realidade no trabalho de
luto parece dever-se, assim, em parte, à necessidade não apenas de renovar os
laços com o mundo externo e, desse modo, reviver continuamente a perda,
mas, ao mesmo tempo e por sua mediação, de reconstruir penosamente o
mundo interno, que se considera ameaçado de deterioração e colapso. O
inventário da perda parte do empobrecimento pessoal de quem fica e de uma
idealização do falecido, e se expressa na saudade e na recusa da recordação
de uma relação real. É parte, porém, do processo de interiorização do morto,
onde a pessoa acolhe dentro de si o ente querido que se foi, incorporando-o
com parte do seu eu interior (KOURY, 2003, p. 359).
Essa discussão leva Koury a perceber a constituição de uma nova sensibilidade no
homem comum brasileiro contemporâneo em processo acelerado de individualização.
Noção que é cara ao projeto futuro sobre Medos Corriqueiros.

54
Capítulo 4 – No campo das emoções: análise da trajetória
temática, teórica e metodológica da Fase II da pesquisa

Este capítulo se dedica a análise do recorte temporal dos anos de 1994 a 1999,
considerada a segunda fase temática, teórica e metodológica que vai resultar na criação
do GREM e, posteriormente, no surgimento do projeto MC, que marca a passagem para
a terceira fase da pesquisa.
Nesta fase II é discutida a trajetória acadêmica de Koury com ênfase na influência
da Antropologia e da Sociologia das Emoções, analisando os caminhos teórico-
metodológicos que organizaram a pré-fase analítica do projeto MC, que tem início no
ano de 1999. Busca, assim, traçar um panorama dos aspectos temáticos, teóricos e
metodológicos que influenciaram os estudos de Koury, levando a criação do GREM.
Em meados dos anos de 1990 Koury começa a se interessar por estudos voltados
para análise das emoções, iniciando estudos sobre a questão do luto, e tomando a
subjetividade como foco analítico. É no ano de 1994 que migra dos estudos sobre
trabalho e sindicalismo e adentra o campo das emoções, considerando-a como eixo
central de análise. Neste período de transição teórico-metodológica funda o GREM, em
1994. O grupo de pesquisa configura o olhar temático, teórico e metodológico dos
estudos desenvolvidos por Koury, constituindo o próprio olhar do grupo dentro do
campo das emoções.
A fundação do GREM marca a fase II da pesquisa MC, entre os anos de 1994 a
1999, e complexifica o caminho organizativo que resultará na pré-fase do projeto MC.
Este grupo toma as emoções como eixo analítico central e “tem por objetivo a
compreensão e análise da emergência da individualidade e do individualismo no Brasil
urbano contemporâneo, enfatizando a questão da formação das emoções, enquanto
cultura emocional” (KOURY, 2014, p. 847).
O grupo de pesquisa, dos anos de 1994 a 1999, desenvolve seus estudos dentro de
duas grandes linhas de pesquisa que se relacionam com a problemática da formação do
indivíduo e da individualidade no urbano contemporâneo brasileiro, são elas: os estudos
que discutem a relação entre o processo de morte e do morrer e o sentimento de luto, e

55
os estudos que discutem as questões sobre imagens, cidade e a problemática das
emoções37.
Os estudos realizados no interior dessas duas linhas de pesquisa do GREM
comportam a análise da segunda fase da pesquisa MC, configurando o caminho
temático, teórico e metodológico que dará base à constituição do projeto MC38. Trazem
uma complexificação analítica para os estudos do grupo sobre a emoção medo.

Linha de pesquisa sobre Fotografia, Cidade e Pertença


Nesta linha de pesquisa o olhar do GREM se volta para a reflexão sobre questões
relacionadas à cidade e fotografia, conformando as preocupações analíticas do projeto
Fotografia, pobreza, cidade e a percepção dos produtores culturais da cidade,
coordenado por Koury. Este projeto teve início no ano de 1994 e se desenvolveu até o
ano 2000, quando foi concluído.
Neste projeto foram produzidos artigos, livros e capítulos de livros39, além de três
dissertações: a de Barreto (1996), que analisa a cidade de João Pessoa, então Parahyba,
no período de 1870 a 1930, sobre a noção de progresso e desenvolvimento urbano. A de
Lira (1997), sobre o desenvolvimento da fotografia na cidade de João Pessoa e no
Estado da Paraíba nos anos de 1890 a 1980. E a de Honorato (1999) sobre a cidade de
João Pessoa vista através do olhar dos produtores culturais locais, entre os anos de 1980

37
Em 1995 se dá a criação e consolidação do GREI – Grupo Interdisciplinar de Estudos em Imagem, que,
a partir de então, trabalha associado ao GREM.
38
Vale salientar, aqui, a diferença entre a Pesquisa Projeto MC, que dá corpo a este TCC, e o Projeto
MC, projeto analisado neste trabalho. Neste sentido, a Pesquisa Projeto MC é um subprojeto de uma
pesquisa maior, Balanço Comparativo, que tem por objetivo analisar a trajetória teórico-metodológica do
Projeto MC e compreender como a cidade de João Pessoa é apreendida no seu interior. A Pesquisa
Projeto MC se preocupa em levantar a discussão sobre a relação entre medo e sociedade no Brasil urbano
contemporâneo, com ênfase nas análises realizadas pelo Projeto MC. Este projeto, por sua vez, teve início
no ano de 1999 e se propõe a analisar o imaginário social do medo do homem comum urbano na
contemporaneidade brasileira, de modo a compreender as formas de sociabilidade que se desenvolvem na
cidade de João Pessoa sob a ótica dos medos e dos medos corriqueiros. A Pesquisa Projeto MC pois,
desenvolve uma análise sobre o Projeto MC e suas questões/problemáticas teórico-metodológicas.
39
Entre os artigos publicados pelo projeto Fotografia, cidade e a percepção dos produtores culturais da
cidade estão: Fotografia e Pintura na Paraíba: ligações proveitosas (LIRA, 2014), Breve leitura da ideia
de progresso através das fotografias da cidade da Parahyba (BARRETO, 2000), A realidade brasileira
na mira dos fotógrafos (LIRA, 1997a), Para’iwa - Identidade e Política Cultural em João Pessoa
(HONORATO, 1997), Reflexões sobre o uso da imagem (LIRA, 1997b), A propósito da pose na
fotografia de Diane Arbus (LIRA, 1996) e Retratos da Cidade: A Construção da memória Urbana
através da Fotografia - Caminhos Metodológicos (BARRETO, 1994). Também foram publicados
capítulos de livros, tais como: Primeiras imagens do urbanismo moderno na Parahyba do século XX
(BARRETO, 2014), A cidade da Parahyba nos anos 20 - Imagens da revista era nova (BARRETO,
1998) e A fotografia na apreensão do real (LIRA, 1998). Já entre os livros produzidos por este projeto
estão: Fotografia na Paraíba: um inventário dos fotógrafos através do retrato (1850-1950) (LIRA,
1997c), Se essa cidade fosse minha. A experiência urbana na perspectiva dos produtores culturais de
João Pessoa (HONORTATO, 1999) e A cidade entrevista (HONORATO, 1999b).

56
a 199040. Os trabalhos de Cristina Barreto (1996), Bertrand Lira (1997) e Rossana
Honorato (1998) compõem as dissertações concluídas neste projeto maior, realizando
análises sobre o desenvolvimento urbano da cidade de João Pessoa, e acentuando uma
análise compreensiva e histórica da modernização da cidade, que modificou os espaços
urbanos e as formas de sociabilidade41.
O trabalho de Barreto traz uma análise das fotografias sobre a cidade da Parahyba,
atual João Pessoa, com a pretensão de realizar uma redescoberta da história, que se
renova através do tempo, vivida pela cidade dentro de uma ideologia de progresso e
modernização urbana. Busca compreender o olhar fotográfico da época, que trazia uma
exposição do padrão estético, daquilo que era considerado belo e moderno. Padrão que
era construído de acordo com os interesses das elites da cidade (BARRETO, 1996).
O trabalho de Barreto (1996, 1998) discute, principalmente, o ideal de progresso e
modernização urbana, com a pretensão de analisar o tipo de imagem da cidade da
Parahyba que é transmitida através das fotografias no período em que se visava o
progresso e as reformas urbanas, de 1870 a 1930. A fim de identificar como o ideal de
progresso e transformação urbana contrastava com a realidade da cidade, que era
varrida pela pobreza e pelas más condições de vida.
Existe um deslumbramento em relação ao progresso, como um ideal que se almeja
alcançar. O olhar fotográfico é influenciado pelo ideal de progresso e modernização
urbana, indicando os elementos que devem ser valorizados e fotografados (KOURY,
1998). A pobreza e a sujeira (KOURY, 1998) são questões ignoradas, pois não
pertencem ao padrão estético de progresso desejado pelas elites paraibanas. O discurso
que é passado através das fotografias é uma construção de progresso que as elites locais
defendiam, onde a fotografia se apresenta como uma grande aliada para “vender” o
ideal de progresso à população da cidade.

40
Neste momento Koury, o GREM e o GREI, participam do processo de consolidação do campo sobre
imagens na ANPOCS, ABA, RAM, REA/ABANNE, CISO e outros congressos nacionais e regionais.
São desta época as coletâneas sobre Imagens e Ciências Sociais (KOURY, 1998), Imagem e Memória
(KOURY, 2001) e um mapeamento, a pedido da área de imagem da ANPOCS, sobre os pesquisadores
brasileiros na área de imagem (KOURY, 1997). Além de inúmeros artigos sobre a temática, como, por
exemplo, “A imagem nas Ciências Sociais do Brasil: um balanço crítico” (KOURY, 1999).
41
Nesta monografia a análise da fase II da pesquisa será realizada com base, principalmente, nos trabalho
de Barreto (1996) e Honorato (1999), por desenvolverem análises sobre a relação entre fotografia, cidade,
pertença e sociabilidade. O trabalho de Lira (1997), por outro lado, realiza uma análise sobre a questão da
fotografia na Parahyba, voltado mais para o trabalho dos fotógrafos e seus itinerários. Este trabalhado é
citado nesta análise enquanto composição de um projeto de pesquisa, não participando da análise mais
aprofundada sobre a fase II.

57
A cidade da Parahyba sofre um processo de modernização acelerado a partir da
década de 1920 (KOURY, 1986), com mudanças na infraestrutura e nas noções de
estética urbana, com remodelações arquitetônicas e uma ampliação de medidas de
higienização e embelezamento da cidade, deslocando e expulsando a população pobre
do centro da cidade, para dar lugar à construção de praças, ao alinhamento e abertura
das ruas e ao saneamento da cidade (BARRETO, 1996, 1998).
A cidade começa a se modificar em sua aparência e também em sua mentalidade,
com o início de formas de sociabilidade mais individualizadas e com o crescente
estranhamento do outro enquanto gerador de repulsa e medo, principalmente da figura
do homem pobre. Esta produção desperta análises sobre como a modernização urbana
transformou códigos sociais baseados em laços afetivos, proporcionando um
afrouxamento das relações pautadas em laços tracionais de pessoalidade.
A análise das fotografias da cidade da Parahyba possibilita desvendar a
construção de “uma narrativa da vida e das transformações por que passam o espaço
urbano, os costumes, as pessoas, seus gostos e preferências, sendo uma fonte de
fundamental importância para a compreensão da sociedade” (BARRETO, 1996, p. 166).
Elabora um panorama do desenvolvimento urbano da cidade, levando em consideração
as transformações estruturais, sociais e culturais.
Esta pesquisa aponta para elementos importantes que configuram o caminho
analítico do projeto MC, como o ideal de progresso, o desenvolvimento urbano da
cidade, a memória, a mudança na sociabilidade e suas conexões com a emoção medo e
outros sentimentos, como o saudosismo para com os lugares e as relações baseadas em
laços tracionais. Mas também mantendo o entusiasmo e a admiração pelo novo que a
ideologia de progresso promete.
Além do estudo de Barreto (1996, 1998), o trabalho de Honorato (1999) também
compõe a pré-fase organizativa do projeto MC. Honorato discute a relação entre o
sentimento de pertença e a cidade, na constituição de uma percepção contemporânea da
cidade de João Pessoa a partir das construções imaginárias dos produtores culturais da
cidade.
A interação entre os produtores culturais e a cidade em que vivem e trabalham é
analisada com o objetivo de refletir sobre o imaginário dos produtores em relação à
formulação desejada sobre a cidade de João Pessoa. Indica caminhos de compreensão
de mapas simbólicos da cidade, realizada através da seleção, feita pelos produtores, de
lugares da cidade que possuem significado pessoal e coletivo (HONORATO, 1999).

58
Ao pensar a cidade os produtores traçam mapas simbólicos sobre ela. Mapas estes
construídos mediante a memória individual e coletiva, erguidas através da relação entre
recordações e pertença. Nas análises de Honorato, o primeiro sentimento de
autorrepresentação no cotidiano da cidade de João Pessoa, que os produtores culturais
expressam, é uma mistura de prazer e orgulho por viver em uma cidade com verde
abundante, com construções históricas, com uma bela faixa litorânea e por conter o
extremo oriental das Américas.
Selecionar os lugares da cidade evoca, enquanto símbolos urbanos, a perspectiva
do viver cotidiano, expressando os conflitos mais presentes nesta relação de viver a
cidade e na construção da identidade. A memória passa a ser o suporte para a busca da
identidade, e a preservação do passado é posta como uma tentativa de preservação do
próprio eu.
A ideia de pertencer a um lugar elabora uma rede de relações que proporciona
sentido à vida do homem comum em seu cotidiano. O sentimento de pertença e a
memória, assim, são elementos básicos para o enraizamento, cujas expressões se
manifestam através do exercício cotidiano do viver. A pertença se apresenta como um
elemento fundamental para o processo de evolução urbana, pois se ampara na memória
dos sujeitos em relação à experimentação do lugar onde trabalham e moram, bem como
evocam os conflitos, as tensões e os prazeres do viver a cidade.
Neste trabalho, Honorato retrata a cidade através do sentimento de pertença e da
memória dos produtores, analisando a interação entre a produção cultural, a gestão
urbana e o urbanismo local que constroem o imaginário do urbano vivido por estes
produtores culturais. O reconhecimento que estes produtores constroem com a cidade
deriva de um sentimento tenso e estranhado de pertença, que reflete e estimula a
memória e a evocação de raízes simbólicas.
Este trabalho contribui de forma significativa para a discussão sobre o viver a
cidade, trazendo para análise o sentimento de pertença, o sentido de perda, o elemento
da memória e a construção da identidade local. A análise de Honorato produz uma
construção da cidade de João Pessoa a partir das emoções pertença e medo. Medos e
pertença estes do processo em andamento de descaracterização da cidade por uma
ideologia de progresso que afrouxa as relações com os outros e com a cidade.
Os trabalhos de Barreto (1996) e de Honorato (1999) constroem análises
essenciais para o processo de maturação e organização do projeto MC. O projeto MC
discute sobre questões trabalhadas nesta segunda fase da pesquisa, aprimorando um

59
novo caminho teórico e metodológico desses estudos, dando ênfase na relação entre
emoções e sociabilidades urbanas na cidade de João Pessoa, tomando os medos
corriqueiros como eixo central que norteia a análise.
Além do projeto Fotografia, pobreza, cidade e a percepção dos produtores
culturais da cidade, a pesquisa Luto e Sociedade no Brasil faz parte da pré-fase do
projeto MC. Esta contribui para o caminho teórico-metodológico que conformará a
pesquisa guarda-chuva. A pesquisa, Luto e Sociedade, inaugura a segunda linha de
pesquisa analisada nesta fase II, sobre o sentimento de luto, de morte e de morrer na
contemporaneidade brasileira.

Linha de pesquisa sobre o Processo de Luto e Morte no Brasil Urbano


Contemporâneo
Com a fundação do GREM teve início à consolidação de uma linha de pesquisa
que trabalha sobre o processo de luto e morte no Brasil urbano contemporâneo. Esta
linha de pesquisa originou o projeto guarda-chuva sobre Luto e Sociedade no Brasil42,
com início no ano de 1994 e conclusão em 200343.
A pesquisa Luto e Sociedade no Brasil objetivou levantar e compreender as
atitudes em relação ao fenômeno do luto, onde o ritual da dor foi o ponto crucial de
reflexão. Buscou compreender, assim, o significado social do luto e o processo de
individuação de quem sofre uma perda, partindo da hipótese de que a morte e sua
relação com o mundo dos vivos, no Brasil, parece ter sido capturada por códigos outros
que não os de uma sociedade relacional, estudada por Roberto DaMatta no início dos
anos oitenta (KOURY, 2009b, p. 01).
Esta pesquisa trabalha com as noções de luto, de dor, de perda, de morte e de
morrer, analisando a relação entre luto e sociedade no Brasil urbano contemporâneo.
Tem por objetivo identificar as mudanças sociais e culturais que configuraram o

42
No início dos anos de 1990 Koury começou a trabalhar sobre a relação luto e sociedade no Brasil
urbano, utilizando a noção de homem comum, ainda relacionando questões de trabalho com a
problemática da morte e da dor da perda. Nesta direção se estendem dois trabalhos de sua autoria que
podem ser considerados de passagem para o estudo das emoções, são estes: O tempo estilhaçado em
instantes (KOURY, 1992), Pobreza e Luto: Ensaio sobre cidade e exclusão social (KOURY, 1993) e
Sofrimento social, exclusão, pobreza e trabalho de luto no Brasil urbano (KOURY, 2003). Estes estudos
desenvolveram análises que abordam a problemática do luto ainda dentro de um panorama de passagem,
onde a questão da subjetividade era enfatizada como categoria analítica central e as emoções se
encontravam nela subsumidas.
43
No ano de 2001 foi apresentado o relatório geral da pesquisa, intitulado Ser Discreto Um Estudo do
Brasil Urbano Atual sob a Ótica do Luto. (KOURY 2001a). Este relatório foi publicado em formato de
livro no ano de 2003, com o título Sociologia da Emoção. O Brasil urbano sob a ótica do luto (KOURY,
2003).

60
comportamento do homem comum urbano, principalmente a partir da década de 1970,
quando parece emergir uma nova sensibilidade no urbano contemporâneo brasileiro.
O distanciamento em relação ao morto e aos que o perdem parece ser a
característica principal da nova sensibilidade que começa a se formar, tornando-se cada
vez mais nítida na sociedade brasileira urbana dos últimos 47 anos (KOURY 2003). A
manifestação pública da dor individual parece ter-se tornado estranha ao cotidiano do
homem comum, mesmo que este homem ainda conviva com a indignação por esse
estranhamento (KOURY, 2009b).
A pesquisa Luto e Sociedade no Brasil inicia não só a entrada de Koury no âmbito
das emoções como categoria analítica principal para análise da cultura e da sociedade,
mas também abre um campo de formação nas Ciências Sociais em Antropologia e
Sociologia das Emoções. Conforma um espaço para estudantes de graduação e pós-
graduação desenvolverem trabalhos de pesquisa dentro do campo teórico e
metodológico das emoções. Nesta linha, e no interior do projeto, foram desenvolvidas
várias Dissertações, Monografias e PIBICs44. Esta produção constitui hoje um marco
nos estudos sobre o luto no Brasil. Descreve um conjunto de mudanças na sensibilidade
do homem comum e na cultura emotiva do Brasil urbano contemporâneo a partir dos
anos de 1970. O luto é tomado como categoria analítica, e ponto de partida para o
entendimento das mudanças no social e na cultura brasileira, revelando as novas
configurações nas relações entre indivíduo e sociedade, com o surgimento de códigos
mais individualistas e impessoais na sociabilidade urbana.
A pesquisa Luto e Sociedade no Brasil desenvolve seu estudo sobre o homem
comum urbano, uma noção que surge do conceito de homem comum pobre, trabalhado
na fase I da pesquisa. É a partir do homem comum urbano que a pesquisa busca analisar
44
Entre as Dissertações estão: Um espaço relacional? Rituais da morte no bairro da Ilha do Bispo, João
Pessoa, Paraíba (SANTOS, 2002) e Imagem fotográfica e memória: Templo de Angola Xangô Catulho
Onicá no Zambe através de um acervo particular de fotografias (CORREIA, 2002). Já as Monografias
são: Tamain chamou nosso Cacique. A morte do Cacique Xicão e a (re)construção da identidade entre os
Xucuru do Orubá (PALITOT, 2003), Fotojornalismo de homicídio: Uma leitura compreensiva - Folha de
Pernambuco 1999/2000 (FARIAS JÚNIOR, 2001), A Morte e os Rituais Fúnebres do Bairro do Roger
(SANTOS, 2001) e O luto e a representação da morte na cidade de João Pessoa (SANTOS 2000). No
interior deste projeto também foram produzidos quatro livros: Amor e Dor: Ensaios em Antropologia
Simbólica (KOURY, 2005g), Sociologia da Emoção: O Brasil Urbano sob a Ótica do Luto (KOURY,
2003), Uma fotografia desbotada: Atitudes e rituais do luto e o objeto fotográfico (KOURY, 2002e) e
Cultura e Subjetividade (KOURY, LIMA e RIFÓTIS, 1996). Além de três capítulos de livros e vinte e
quatro artigos, entre eles: Fotografia e sociedade: representações sociais sobre a fotografia mortuária em
João Pessoa-PB (KOURY, 2016c), Ser Discreto: Um estudo sobre o processo de luto no Brasil urbano
no final do século XX (KOURY, 2010b), Uma breve análise sobre o sentimento de luto na cidade de João
Pessoa, PB (KOURY, 2009d), Luto e Sociedade no Brasil: Reflexões Metodológicas sobre uma Pesquisa
(KOURY, 2000), O Luto na cidade de João Pessoa (SANTOS, 2000a) e A Formação do Homem
Melancólico: Luto e Sociedade no Brasil (KOURY, 1996).

61
o processo de morte e de morrer e o sentimento de luto e da dor da perda, a fim de
identificar as transformações sofridas pelo processo de luto nas últimas três décadas dos
anos noventa.
Esta pesquisa abriu caminhos analíticos para a configuração do projeto MC,
traçando conexões entre medo, medos corriqueiros, individualismo, a individualização e
individualidade, e luto. A questão da emergência de uma nova sensibilidade,
identificada nos estudos sobre luto, perpassa a produção do projeto MC, e aponta para
novas formas de sociabilidade do homem comum no urbano contemporâneo.
A pesquisa MC elabora um aprofundamento analítico teórico-metodológico de
elementos que surgiram no desenvolvimento dos estudos sobre o processo de luto e
morte, como o caso da emergência de uma nova sensibilidade, agora analisada sob a
ótica dos medos corriqueiros. Os estudos realizados pelo GREM, nesta fase II da
pesquisa, se debruçam sobre a compreensão do sentimento de luto e sobre o processo de
modernização urbana da cidade de João Pessoa (KOURY, 2002f, 2003b, 2009c, 2009d).
O grupo desenvolve seus estudos sobre questões do Brasil urbano contemporâneo, no
Brasil como um todo, mas, também, tomando a cidade de João Pessoa como universo
sistemático de pesquisa.
Como a linha de pesquisa do GREM sobre o Processo de Luto e Morte no Brasil
Urbano Contemporâneo, o projeto MC também dialoga com estudos da linha de
pesquisa sobre fotografia, cidade e sentimento de pertença, a partir do projeto
Fotografia, pobreza, cidade e a percepção dos produtores culturais da cidade. Com
análises sobre fotografia, cidade e sociabilidade urbana, com ênfase para a cidade de
João Pessoa. Confira o esquema conceitual abaixo que norteia essa fase II da pesquisa.

62
Este esquema conceitual integra as análises dos estudos dessa fase II, discutindo
sobre o urbano e a cidade a partir do ideal de progresso, da pertença, do sentimento de
perda, da pobreza, do luto e da morte. A memória surge como uma categoria
fundamental para analisar a questão do luto e da modernização urbana. Os conceitos de
pertença, homem comum, ideal de progresso e nova sensibilidade urbana são
importantes para a composição do projeto MC, que marca a fase III e atual. O esquema
conceitual da fase II, portanto, adquire uma maior complexidade analítica e teórico-
metodológica na construção e no desenvolvimento do projeto de pesquisa MC, em
análise no próximo capítulo.

Considerações finais
O projeto de pesquisa MC constitui a fase III e atual da pesquisa guarda-chuva
MC. Tem início no ano de 1999. Este projeto inaugura uma nova esfera analítica no
GREM a partir das emoções medo e medos corriqueiros, além de consolidar a linha de
pesquisa Emoções e Sociabilidade Urbana.
A sua conformação teve início com três projetos anteriores, já analisados. O
primeiro, o projeto Fontes para a História da Industrialização do Nordeste (1983-
1986), foi analisado no capítulo 3. Projeto que abriu a discussão sobre o processo de
formação da classe trabalhadora a partir da noção de homem comum pobre. Noção esta
retrabalhada em estudos posteriores.
O aprimoramento analítico deste projeto de pesquisa, junto com a influência do
fenômeno das emoções na acadêmica brasileira, leva o GREM a estudos sobre o
processo de luto, de morte e de morrer no imaginário do homem comum urbano
contemporâneo. Desses estudos surge o projeto Luto e Sociedade no Brasil (1994-
2003), através da hipótese de emergência de uma nova sensibilidade que emerge no
urbano brasileiro.
A discussão sobre o urbano brasileiro contemporâneo se debruça na discussão
sobre o ideal de progresso e modernização urbana a partir da fotografia; do mesmo
modo que evoca em suas análises o sentimento de pertença, o viver e a construção da
cidade de João Pessoa. Este interesse configura o projeto Fotografia, pobreza, cidade e
a percepção dos produtores culturais da cidade (1994-2000), que se apresenta como
uma pré-fase de organização do projeto MC.
O processo de amadurecimento temático, teórico e metodológico do GREM
conforma as fases de pesquisa e a construção do projeto MC. Este projeto tem a

63
pretensão de traçar um mapa dos medos no Brasil urbano contemporâneo, tomando a
cidade de João Pessoa como laboratório de análise para a compreensão do imaginário
do medo/medos corriqueiros na formação e no desenvolvimento do urbano brasileiro.
Tem se debruçado sobre bairros, ruas e parques e a cidade de João Pessoa como um
todo.
Este projeto realiza um aprimoramento teórico-metodológico constante de noções
e conceitos estudados pelo GREM, discutindo a emergência de uma nova sensibilidade
urbana sob a ótica dos medos corriqueiros, dialogando com o ideal de progresso, de
transformação urbana da cidade de João Pessoa, com o saudosismo, com o sentimento
de pertença (KOURY, 2003a) e com a categoria de memória. Debruça-se sobre o
imaginário social do medo do homem comum urbano – a noção de homem comum
urbana.
O projeto é erguido através da complexificação temática, teórica e metodológica
dos estudos realizados pelo GREM na fase I e II da pesquisa. Cada projeto desenvolvido
pelo GREM, de 1983 a 1999, resultou em interesses analíticos que abrem e organizam
os caminhos para novas problemáticas de pesquisa, que redunda na composição do
projeto guarda-chuva MC.

64
Parte II

65
A parte II discute a fase III da pesquisa MC, de um lado. Do outro, faz um balanço
comparativo da produção acadêmica do projeto sobre a cidade de João Pessoa-PB, com
ênfase em um recorte temporal dos anos de 1999 a 2016, compreendendo o
desenvolvimento do projeto guarda-chuva MC.
A fase III analisa a trajetória teórico-metodológica do projeto de pesquisa MC, e
identifica suas transformações analíticas no decorrer dos seus últimos 17 anos (1999-
2016), além de desvendar o esquema conceitual que norteia a pesquisa. Tem o propósito
explicativo de discutir a complexificação dos conceitos analíticos no desenvolvimento
do projeto. Realiza, ainda, um balanço compreensivo da sua produção acadêmica sobre
a cidade de João Pessoa, a partir da relação entre emoções e sociabilidade urbana, com o
objetivo de analisar como a cidade tem sido apreendida pelo projeto guarda-chuva,
através dos recortes a que foi submetida no interior da pesquisa e dos seus subprojetos.
A parte II se organizada em 02 capítulos: o capítulo 5, “Medos Corriqueiros:
construindo um projeto de pesquisa”, que discute a trajetória conceitual e teórico-
metodológica do projeto guarda-chuva MC, dos anos de 1999 a 2016, aqui considerada
a terceira fase de pesquisa. No capítulo 6, “A produção do projeto Medos Corriqueiros
sobre a cidade de João Pessoa”, se faz uma abordagem sobre a cidade de João Pessoa,
sob a ótica dos medos corriqueiros, como proposta pelo conjunto das pesquisas que
compõem o projeto estudado, MC.

66
Capítulo 5 – Medos Corriqueiros: construindo um projeto de
pesquisa

Neste capítulo é analisada a trajetória conceitual e teórico-metodológica do


projeto guarda-chuva MC, de modo a discutir as transformações ocorridas durante o seu
desenvolvimento, nos anos de 1999 a 2016. Pretende identificar os conceitos centrais de
análise e desvendar o seu processo de aplicação. Busca, portanto, realizar uma análise
compreensiva do projeto MC, em sua fase III e atual da pesquisa. Esta análise
compreendeu como foi se construindo um projeto de pesquisa, ao se debruçar sobre os
caminhos teórico-metodológicos que o projeto percorreu no seu amadurecimento e
complexificação analítica.
O projeto MC teve início no ano de 1999, e nesses 17 anos de atuação acadêmica
(1999-2016) se desenvolveu e se refinou temática, teórica e metodologicamente. Possui
um amplo e denso arcabouço conceitual que norteia as análises e aponta para as
transformações, os usos e os desusos dos conceitos em sua trajetória teórico-
metodológica.
O arcabouço conceitual do projeto MC é composto por um conjunto de noções
que indicam as particularidades, as semelhanças e os diálogos no interior do projeto
guarda-chuva e de seus subprojetos. A saber, são conceitos como medos, medos
corriqueiros, pertença, homem comum, pessoalidade, individualismo, individualidade,
nova sensibilidade urbana, confiança, confiabilidade, lealdade, fidelidade, fronteira,
segredo, traição, coragem, semelhança, dessemelhança, controle social, sujeira,
sentimento de segurança, amizade, estranhamento, estigma, fofoca, embaraço,
constrangimento, ressentimento, estratégias de evitação, pânico moral, vergonha,
códigos de moralidade e cultura emotiva, que integram as análises do projeto sobre a
relação entre emoções e sociabilidades urbanas45.
Estes conceitos integram e formam o projeto MC, mas se apresentam de maneira
singular com relação a cada subprojeto e análise em que é utilizado. Alguns conceitos
nascem com o início do projeto e vão se modificando durante o seu desenvolvimento,
como o conceito de medo, de medos corriqueiros, de homem comum, de pertença, de
segredo, de traição, de estranhamento e pessoalidade e de individualismo.

45
Estes conceitos serão discutidos no decorrer deste capítulo.

67
Outros conceitos surgem de acordo com as fases teórico-metodológicas do projeto
guarda-chuva e de seus subprojetos, de modo a traçar o seu estágio de desenvolvimento
analítico e indicar as fases de complexificação e afunilamento conceitual, teórico e
metodológico. É o caso dos conceitos de fronteira, de sujeira, de constrangimento, de
embaraço, de vergonha, de códigos morais e de cultura emotiva. Estes conceitos
demarcam olhares dos subprojetos, e conformam a tecedura da cidade do projeto maior
em um sobrepujar de peças de um mosaico, e abalizam, ao mesmo tempo, as fases
teórico-metodológicas do projeto MC.
Cada subprojeto, que compõe o projeto MC, sinaliza para o estágio analítico em
que a pesquisa se encontra. Estes subprojetos, assim, indicam o processo teórico-
metodológico de desenvolvimento e de complexificação analítica e conceitual da
pesquisa, de modo a demarcar a trajetória do projeto MC, suas transformações e
desenvolvimento no decorrer dos anos de 1999 a 2016.
O projeto MC possui 07 subprojetos, como mostra a figura abaixo:

Estes subprojetos se debruçam sobre uma análise específica da cidade de João


Pessoa e delimitam um recorte temático específico, ao mesmo tempo em que se
apropriam do arcabouço geral do projeto guarda-chuva, - o enriquecem conceitual e
teórico-metodológicamente, - e demarcam e indicam as singularidades dos subprojetos
no interior do projeto maior e entre cada um deles. Cada subprojeto constitui um olhar

68
sobre a cidade, que em diálogo com os demais subprojetos, elaboram a forma como o
projeto MC apreende João Pessoa.
Cada subprojeto elabora um caminho teórico-metodológico singular para a análise
da cidade de João Pessoa, a partir de seu universo e unidade temática - bairros, ruas,
parques e/ou circuitos de lazer, entre outros. Neste sentido, os conceitos são trabalhados
de forma específica em cada subprojeto, que, embora se coloquem em diálogo
constante, aponta para as particularidades analíticas de cada subprojeto no interior do
projeto MC.
A produção acadêmica do projeto MC, deste modo, se distribui de acordo com os
subprojetos. Os trabalhos integram o projeto guarda-chuva e pertencem a um dos
momentos dos subprojetos desenvolvidos em seu interior. Esta produção diz respeito a
um conjunto de trabalhos de conclusão de curso46 desenvolvidos no seu interior e que
integram um dos seus subprojetos e momentos da pesquisa MC, e dialogam diretamente
com o conjunto da produção do projeto guarda-chuva e de cada subprojeto nele situado,
na constituição de uma análise sobre emoções e sociabilidade urbana. A produção do
projeto expressa as suas especificidades e semelhanças, e tece uma rede onde a
produção acadêmica, os subprojetos, e os trabalhos nele e a partir deles orientados
colaboram mutuamente para a construção de um olhar sobre a cidade de João Pessoa
através da perspectiva analítica dos medos corriqueiros.
O projeto MC, por sua vez, possui fases de desenvolvimento analítico que
demarcam a sua trajetória teórico-metodológica nesses 17 anos de atuação acadêmica.
Estas fases indicam o estágio analítico e conceitual em que se encontra, e assinalam os
usos, os sentidos e os desusos no/do arcabouço conceitual que norteia o projeto de
pesquisa como um todo.
As fases do projeto se configuram em 03 momentos analíticos:
O primeiro momento é demarcado pelos anos de 1999 a 2008, e aborda o
início do projeto MC. Esta fase apreende a produção de monografias e 03
subprojetos. Neste primeiro momento é constituído o arcabouço conceitual

46
São estes: Medo na cidade: Uma experiência no Porto do Capim (VILAR, 2001), Tambiá – medo,
cultura e sociabilidade: Um estudo sobre o bairro de Tambiá, João Pessoa-PB (SILVA, 2003), Uma
Análise do Bairro de Cruz das Armas Sob a Ótica do Medo (SOUZA, 2003), Tambaú: Pertença e
fragmentação sob uma ótica do medo (SOUSA, 2004), Sob a ótica do medo: Um estudo de caso no
bairro dos Estados, João Pessoa-PB (SILVA, 2004), Convívio e interação social: os códigos de afeição e
de estranhamento, os medos corriqueiros e a sociabilidade em uma rua (CAVALCANTE FILHO, 2005),
Sociabilidade, pertença e medos corriqueiros: Estudo de uma rua no bairro de Valentina de Figueiredo,
João Pessoa – Paraíba (ALMEIDA, 2005) e João Pessoa à noite: Um estudo sobre vida noturna e
sociabilidade, 1920 a 1980 (SOUZA, 2005).

69
do projeto, a partir dos já lançados anteriormente, que orientam o GREM
para a análise dos medos corriqueiros e cidade (de João Pessoa);

O segundo momento tem início no ano de 2009 e se desenvolve até hoje.


Compreende uma fase de complexificação analítica e conceitual que indica
transformações e desusos de conceitos. Este segundo momento é composto
por 03 subprojetos;

O terceiro momento, ainda está em andamento, tem início no ano de 2012, e


introduz um novo objetivo analítico, que é a necessidade de realizar um
balanço da produção MC. Esta fase abarca o subprojeto da Produção
Acadêmica, onde este TCC está inserido.
A análise da trajetória teórico-metodológica do projeto MC neste capítulo será
realizada a partir das suas 03 fases de desenvolvimento analítico. Esta configuração
permitirá desvendar os caminhos percorridos pelo projeto e analisar os seus subprojetos,
de modo a constituir uma compreensão densa do projeto guarda-chuva.

Fase 01 do projeto
A fase 01 do projeto MC marca o seu surgimento, no ano de 1999, e
desenvolvimento até o ano de 2008. Nesta fase inicial é analisado o processo de
aproximação metodológica para a constituição de um campo de pesquisa das emoções,
com enfoque para os medos e os medos corriqueiros. A análise apreende, ainda, a
consolidação do projeto guarda-chuva e a composição do seu arcabouço conceitual.
Esta fase é constituída por 03 subprojetos e pela produção acadêmica MC que não
integra estes subprojetos. A análise se apoiará primeiramente em uma discussão da
produção que integra cada subprojeto, que é a produção de monografias de conclusão de
curso orientadas em seu interior, e, em um segundo momento, na abordagem dos
subprojetos. Deste modo, pretende traçar um panorama analítico e conceitual da fase 01
do projeto de pesquisa.
A produção MC é conformada por um conjunto de 08 monografias (VILAR,
2001; SILVA, 2003; SOUZA, 2003; SOUSA, 2004; SILVA, 2004; CAVALCANTE
FILHO, 2005; ALMEIDA, 2005 e SOUZA, 2005), 15 artigos em periódicos (Entre eles:
KOURY, 2002a; 2004d; 2005c; 2005d; 2007 e 2007c), 11 artigos em anais (Tais como:
SILVA, 2003a; SOUZA, 2004 e SOUSA, 2007), 08 capítulos de livros (KOURY,
2005h, 2003a; CAVANCANTE FILHO, 2005a; ALMEIDA, 2005a; SILVA, 2005;
SOUSA, 2005; SOUZA, 2005) e 02 livros (KOURY, 2005 e 2008). A análise dessa
produção se apoiará, principalmente, nas monografias e nos livros, que abordam um
balanço analítico mais denso e finalizado dos resultados da pesquisa.

70
O trabalho de Márcio Vilar (2001), Medos na cidade: Uma experiência no Porto
do Capim foi a primeira monografia produzida pelo projeto MC, e teve o objetivo de
investigar a relação entre medo e cidade, explorando uma dimensão social do medo na
cidade através de uma descrição densa sobre a comunidade do Porto do Capim, no
bairro do Varadouro da capital, com o intuito de construir uma compreensão crítica da
vivência do medo na contemporaneidade brasileira. Esta produção aponta as primeiras
experiências analíticas no campo de pesquisa da emoção medo. Neste primeiro
momento se busca delimitar, teórico e metodologicamente, um campo de estudos
científicos voltados para as emoções medo e medos corriqueiros (KOURY, 2002a e
2002b).
Vilar (2001) discute a questão do medo, do controle social, da pobreza, da
memória, da violência urbana, da decadência do bairro e do receio da comunidade de
ser expulsa do local que habita há anos pelas novas redefinições do Plano Diretor da
cidade de João Pessoa, na época, e o papel da mídia na composição do imaginário social
da cidade. A noção de medo é analisada como uma realidade político-social e histórica
que possui um caráter ideológico, pois a ideologia formata o medo e é sua base se
sustentação. A emoção medo é discutida no seu sentido mais amplo, sem a delimitação
dos medos corriqueiros. O medo possui duas características fundamentais: a memória e
a representação social. Isso porque a vivência do medo é abordada como uma memória
comum que cria um elo identificatório entre indivíduo e coletividade, e o indivíduo
carrega consigo uma sociedade, que canaliza as singularidades comuns de sua
coletividade, elaborando representações sociais.
Nessa perspectiva, de acordo com Vilar,
O medo, dialeticamente, é um elemento fundamental no processo de
estruturação da própria sociedade e é por ele estruturado. O medo se torna,
então, elemento chave na compreensão da formação dos sujeitos sociais e,
reciprocamente, de como estes agem em sociedade, configurando o próprio
medo de acordo com suas realidades específicas (VILAR, 2001, p. 18).
O medo é entendido como um fenômeno que possui variações de acordo com as
condições e os contextos socioculturais em que é condicionado.
As questões da pobreza, da violência urbana e do controle social se encontram
interligadas. Os bairros pobres da cidade, no caso do estudo de Vilar, o bairro do
Varadouro, já em processo de deterioração, com favelas no seu interior, são
considerados como locais sujos e feios. Essas áreas de pobreza são apontadas como o
foco do aumento da violência urbana na cidade, sendo um ambiente que precisa ser

71
higienizado através de reformas que visam o paisagismo e a ocupação pelo comércio, de
modo a tornar o local mais seguro e circulável, conforme o Plano Diretor da Cidade
analisado na monografia de Vilar.
Neste contexto de controle social da pobreza se projetam as reformas urbanísticas
do Centro Histórico da cidade, que abrange o bairro do Varadouro e o Porto do Capim.
Estas reformas buscam desapropriar os moradores do Porto e restaurar os prédios
históricos para a iniciativa privada, de modo a higienizar neste ambiente e torná-lo mais
“habitável” para a cidade. Isso porque a cidade nutre um imaginário social
estigmatizado sobre o Porto do Capim, como um local de pobreza e marginalidade. A
mídia, por sua vez, possui um papel importante na afirmação desse imaginário social
sobre o bairro e o Porto, vinculando notícias corriqueiras sobre a criminalidade nesta
localidade.
No ano de 2002, Koury (2002, 2002a e 2002b) demarca uma aproximação
metodológica do campo analítico do medo, enquanto medos corriqueiros. Nesta
perspectiva, o medo é considerado uma das principais forças motivadoras do social,
encontrando-se presente em todas as formas de sociabilidade. O medo, como medos
corriqueiros, possui um caráter ambivalente: tanto pode se manifestar como o elemento
que fomenta os estigmas e o estranhamento do outro, causando repulsa,
individualização e hierarquização grupal e individual. Como também se apresenta como
o elemento de aspecto transgressor e inovador, lançando formas de solidariedade
baseadas em laços afetivos de amizade, segredo, pessoalidade e semelhança (KOURY,
2002).
Os medos corriqueiros são entendidos como emoções fundamentais à elaboração
do cotidiano do homem comum urbano, podendo paralisar, aprimorar ou transformar as
trocas materiais e simbólicas dos indivíduos no processo de interação social. São vistos
como pequenos enfrentamentos cotidianos que manifestam o conflito e a tensão da vida
coletiva, configurando as formas de sociabilidade urbana (KOURY, 2016a). Este
conceito se aplica para toda a produção acadêmica posterior do projeto MC.
A partir dessa demarcação do medo enquanto medos corriqueiros, as demais
produções acadêmicas, no interior do projeto guarda-chuva, passam a realizar suas
análises dentro desta perspectiva. Nessa direção se colocam os trabalhos de Rivamar
Silva (2003), Tambiá – medo, cultura e sociabilidade: um estudo sobre o bairro de
Tambiá, João Pessoa-PB, de Alessa Souza (2003), Uma análise do bairro de Cruz das
Armas sob a ótica do medo, de Andréia Silva (2004), Sob a ótica do medo: Um estudo

72
de caso no bairro dos Estados, João Pessoa-PB, e de Anne Gabriele Souza (2004),
Tambaú: Pertença e fragmentação sob uma ótica do medo.
Estes trabalhos buscaram analisar a construção do imaginário social sobre o medo
nos moradores de cada bairro: Tambiá, Cruz das Armas, Estados e Tambaú. Com o
objetivo de compreender as formas de sociabilidade, sob a ótica dos medos corriqueiros,
que se desenvolve em cada bairro, de modo a descortinar as mudanças ocorridas no
decorrer dos anos. Estes trabalhos discutem os seus universos dentro de um mesmo
esquema conceitual. Esquema este composto pelos conceitos de medo, medos
corriqueiros, pertença, pessoalidade, individualismo, amizade, confiança, segredo,
estranhamento, estigma, racionalização e advento da modernidade. Dialogando, ainda,
com as categorias de memória, mídia e violência urbana.
O conceito de pertença, caro ao projeto MC, é compreendido através da ideia de
pertencer a um lugar, que envolve uma rede de ralações que proporciona sentido a vida
do homem comum no seu cotidiano. A pertença se desenvolve em razão a sua relação
com o lugar.
Uma relação que evoca simbolicamente o espaço geográfico continente de
memória. Uma naturalidade construída conjugando relações afetivas e
efetivas, desenvolvidas e em desenvolvimento, nas quais uma pessoa é
fundada, funda-se e funde-se em tensas intersecções com os grupos aos quais
pertence (HONORATO, 1999, p. 39).
A compreensão social das relações humanas é sentida através das situações
construídas nas interações, constituindo lugares, enquanto expressão de um sentimento
comum partilhado, de pertença. Enfim, como diz Koury (2003a), o lugar enquanto
elemento intrínseco de pertença.
Para Koury (2003a, p. 78), deste modo,
“pertencer, [...] não é apenas ser, mas estar no mundo. Ou melhor, é ser e
estar em um mundo específico, que se reconhece como lugar seu de origem e
a partir do qual se pode reconhecer a si mesmo, enquanto pessoa, e aos
outros”.
As noções de pessoalidade e individualismo, por sua vez, são discutidas de acordo
com as formas de sociabilidade que se desenvolvem em determinadas localidades da
cidade. A pessoalidade se assenta no exercício da semelhança, de modo a fomentar
formas de sociabilidade baseadas em uma cultura emotiva onde laços de afetividade,
amizade, vizinhança e estreitos vínculos sociais e códigos de moralidades a tornam
relações prazerosas, mas, também, tensas. Esta pessoalidade surge e se desenvolve a

73
partir de relações de proximidade pautadas em elementos de afinidade, amizade,
vizinhança e parentesco.
O individualismo, por outro lado, tem ligação com o advento da modernidade e a
racionalização, que desencadeia o processo de individualização em algumas
sociabilidades da cidade de João Pessoa. Esta individualização gera uma cultura
emotiva em que o resfriamento das relações e o crescimento de sociabilidades pautadas
no anonimato, no distanciamento, na impessoalidade e no estranhamento, são nutridos
através do exercício da dessemelhança entre os homens comuns urbanos, que se voltam
cada vez mais para o espaço privado.
O estranhamento é um elemento formador da prática ambivalente do medo e dos
medos corriqueiros. A semelhança ou a dessemelhança em relação ao estranho pode
desempenhar certa supressão, desprezo e repulsão, e, do mesmo modo, pode exercer
certa familiaridade e pessoalidade ao/pelo outro relacional. A problemática do
estranhamento se apresenta como um fator dúbio à ação do medo nos habitantes
urbanos, além de ser inerente a toda e qualquer forma de sociabilidade. O outro da
relação se apresenta como uma fonte constante de medo que necessita ser configurada e
reconfigurada cotidianamente (KOURY, 2002).
Outros conceitos também discutidos nesse arcabouço teórico-metodológico foram
os de confiança e segredo. A noção de confiança remete a um lugar de familiaridade,
sendo uma ação que concede uma espécie de segurança íntima de procedimento, onde o
outro da relação é visto como uma extensão ou um prolongamento do eu (KOURY,
2002c). A confiança, assim, apreende e dialoga com o segredo.
O segredo é visto como um bem simbólico que une determinados indivíduos e
grupos. Para manter sua eficácia simbólica, o segredo possui estratégias de
disciplinamento de si e do outro, visto que este elemento está recheado de inseguranças
e medo de traição. O segredo se
apresenta como uma relação sempre tensa entre os indivíduos, onde a
discrição é um elemento importante na configuração de uma formação social
(KOURY, 2002c, p. 170).
O segredo, ainda, pressupõe a insegurança e o medo da traição, de que o segredo
possa vir a ser revelado, causando o rompimento de uma determinada comunidade de
segredo. Nesta perspectiva, o segredo abre a possibilidade de traição, que,
antes de anestesiar apenas, parece provocar a centralização e busca de
eficácia do controle dos membros internos de uma comunidade de segredo à
guarda e manutenção do mesmo (idem, 2002c, p. 171).

74
Estes conceitos, portanto, condicionam os primeiros trabalhos acadêmicos do
projeto MC, e elaboram um arcabouço conceitual e teórico-metodológico para análise
da relação entre emoções e sociabilidade urbana na cidade de João Pessoa, sob a ótica
dos medos corriqueiros.
A segunda etapa da produção é aberta com os trabalhos de Alexandre Almeida
(2005), Sociabilidade, pertença e medos corriqueiros: estudo de uma rua no bairro de
Valentina de Figueiredo, João Pessoa-PB, e de Francisco Cavalcante Filho (2005),
Convívio e interação social: os códigos de afeição e de estranhamento, os medos
corriqueiros e a sociabilidade em uma rua. Estas monografias inauguram um novo
recorte analítico na cidade de João Pessoa: a rua. As duas TCCs buscaram identificar e
compreender as formas de sociabilidade que se desenvolvem na rua, sob a perspectiva
dos medos corriqueiros. Os dois trabalhos dialogam entre si e com a pesquisa MC a
partir de um mesmo aparato conceitual, as saber: o conceito de medo, de medos
corriqueiros, de pertença, de confiança, de segredo, de pessoalidade, de impessoalidade,
de individualização e de estigma.
A rua é analisada enquanto espaço público, que proporciona o contato direto entre
os indivíduos que lá moram, mas também com os transeuntes que por lá trafegam. A rua
aparece como lugar de pertença, como suporte da sociabilidade urbana local, e onde se
desenvolvem as relações constituintes de laços de proximidade e de semelhança entre os
homens comuns. Mas a rua também é um lugar de estranhamento do outro: um lugar de
repulsa, de distância e da dessemelhança.
A rua assume um caráter ambivalente. É vista como um lugar utilizado pelos
indivíduos no cotidiano, e um lugar sentido como de pertencimento aos que nela
habitam, mas também um lugar onde não se reconhece o estranho. Nas palavras de
Cavalcante Filho (2005, p. 6) a rua por ele trabalhada é um
espaço compartilhado pelos considerados próximos [e], ao mesmo tempo,
enquanto lócus que permite descobrir o outro, indivíduo ou grupo [...] que
[dela] não [...] faça parte.
Na rua se constituem códigos de proximidade e de pertença, ou códigos de
indiferença e de repulsa, que provocam no morador distanciamento e medo, deste outro
que por lá passa ou por lá faz parada. Este lugar dispõe uma constante tensão entre o
próximo, conhecido, e o distante, desconhecido. A rua também é analisada dentro do
contexto mais amplo do bairro em que está situada. Os cenários – a rua e o bairro – se
mesclam na constituição de formas de sociabilidades específicas de cada localidade,

75
elaborando os sentimentos de pertença, de semelhança, de medos e de dessemelhanças
(ALMEIDA, 2005).
Além do recorte analítico da rua, a produção desta fase 01 também analisa a
cidade de João Pessoa em sua totalidade, a partir dos circuitos de lazer. Neste sentido, se
tem o trabalho de Leandro Souza (2005), João Pessoa à noite: um estudo sobre vida
noturna e sociabilidade, de 1920 a 1980. Esta monografia objetivou analisar o
crescimento e desenvolvimento da cidade através do seu lazer noturno, com o intuito de
discutir as formas de sociabilidade existentes em João Pessoa durante as décadas de
1920 a 1980.
Além de dialogar com o arcabouço conceitual dos demais trabalhos do projeto
MC, este trabalho levanta questões sobre a urbanização da cidade, a sociabilidade
noturna, a boemia, as festas populares, o lazer noturno e a memória social. A sua análise
traça uma rota de João Pessoa a partir da urbanização da cidade, com o circuito de lazer
noturno como o recorte teórico-metodológico.
Esta análise permitiu desvendar o surgimento e a falência dos principais lugares,
restaurantes e bares frequentados pelas classes mais abastadas, pelos boêmios e pelos
estudantes da cidade. Lugares que tiveram seu fim com o crescimento urbano, que se
pautava no discurso modernizador da cidade, e acabou por transformar as formas de
lazer.
O novo lazer noturno, que foi se estabelecendo com a urbanização, segundo Souza
(2005), tinha aspectos impessoais e individualizados. Novos modos de organização que
levariam a uma fragmentação da boemia pessoense e desenvolveria novas formas de
sociabilidade no circuito noturno local.
A boemia esteve presente na cidade até os anos de 1970. Esta boemia era coletiva
e grupal “compost[a] por poetas, artistas, pessoas que bebiam muito e faziam dos bares
a extensão de sua casa” (SOUZA, 2005, p. 65). Este grupo vai sumindo no lazer noturno
de acordo com o fim dos bares tradicionais e a decadência do centro em relação à orla
marítima, para onde o lazer migra e se fragmenta, individualizando a ação do sair à
noite.
Os lugares, festas e bares tradicionais que se perderam com o processo de
urbanização da cidade, sobrevivem, de acordo com Souza, na memória dos antigos
frequentadores dos circuitos de lazer noturno, que guardam um saudosismo daquele
período, e associam em suas lembranças os antigos lugares noturnos a um tipo de
sociabilidade baseada em laços de pessoalidade e semelhança. O apelo sentimental da

76
memória possibilita uma análise das recordações de uma João Pessoa “pacata e
provinciana” (SOUZA, 2005), presente apenas na memória e relembrada através das
lentes da saudade.
O trabalho de Souza buscou compreender a modernização e o crescimento urbano
de João Pessoa através do seu lazer sob a ótica da fragmentação dos laços de
pessoalidade e a expansão da individualidade nas relações sociais. Concluindo que o
estranhamento e o medo do outro começou a se sobrepor aos espaços da confiança
residida na pessoalidade que se foi e só restou na memória dos que a viveram.
A fase 01 também se compôs de 03 outros subprojetos. Estes subprojetos são: O
vínculo Ritual. Um estudo sobre sociabilidade e modos de vida entre jovens no urbano
brasileiro contemporâneo (2002-2006), Parque Solon de Lucena: Espaço público,
potencial de urbanidade e desenvolvimento da cidade (2005-2006) e Bairro do Roger:
História, memória e estigma (2007-2008). Cada subprojeto possui uma particularidade
analítica, que os singulariza teórico e metodologicamente. Estes subprojetos dialogam e
compartilham de alguns conceitos, mas lançam outros novos, de acordo com a sua
necessidade analítica.
O Vínculo Ritual foi o primeiro subprojeto desenvolvido no interior do projeto
guarda-chuva MC. Com início no ano de 2002, foi concluído no ano de 2006. Este
subprojeto resultou na publicação de um livro (KOURY, 2006) e vários artigos em
periódicos: Confiança e confiabilidade: uma análise aproximativa da relação entre
medo e pertença (KOURY, 2002c), Uma análise das noções de confiança e traição em
um grupo de jovens (KOURY, 2004) Sistema de nominação, pertença, medos e controle
social: O uso dos apelidos entre um grupo de jovens da cidade de João Pessoa,
Paraíba (KOURY, 2004a), As fronteiras da pertença. Um estudo sobre medos e
sociabilidade entre um grupo de jovens no urbano brasileiro contemporâneo (KOURY,
2004b), Identidade e Pertença: Estilo de vida e disposição morais e estéticas em um
grupo de jovens (KOURY, 2008a) entre outros.
O Vínculo Ritual foi um estudo sobre juventude e sociabilidade no urbano
contemporâneo brasileiro a partir de um grupo que se considera de apoio e afirmação
aos jovens que possuem uma história de vida difícil e conturbada devido a questões
econômicas, familiares ou afetivas. É um grupo de jovens, em sua maioria, de bairros
populares do centro da cidade de João Pessoa, que se autodenominam de Deltas.
O subprojeto procurou compreender a dinâmica da organização interna do grupo,
que possui o discurso e a prática de igualdade e igualitarismo como lógica grupal

77
reinante. Sua produção realizou uma discussão analítica que envolve os conceitos de
medo, medos corriqueiros, pertença, confiança, confiabilidade, lealdade, fidelidade,
segurança, segredo, traição, fronteira, estranhamento e controle social. Este subprojeto
analisa a sociabilidade grupal através das noções de pertença, identidade, códigos
morais e disposições disciplinares experimentados pelos jovens que pertencem aos
Deltas.
As noções de confiança e confiabilidade se colocam como essenciais para a
análise estabelecida por Koury, quando procura compreender os vínculos que envolvem
os membros do grupo em um sentimento de solidariedade, de irmandade e de pertença.
Busca entender o que dá singularidade ao grupo Delta em relação aos outros, sentidos
como de fora e estranhos ao grupo (KOURY, 2002c, 2004 e 2006).
A confiança é uma ação que concede aos que a possuem e a praticam, no interior
do grupo Delta, um sentimento de segurança íntima aos seus membros. Implica em ver
o outro relacional como uma extensão do eu. A confiabilidade, por outro lado, é posta
como a ação que gera confiança, onde o sujeito se coloca e classifica o outro como
confiável (KOURY, 2002c).
O sentimento de pertença, confiança, confiabilidade, lealdade e segurança, são
conceitos-chave, neste estudo, para a compreensão dos laços que conformam um
indivíduo em Delta. Neste mundo simbólico do ser Delta, o conceito de lealdade se
apresenta assim como um fundamento para a proteção, isto é, para o sentimento de
segurança, sentida como certeza de que e do que se pode confiar, de modo que a
segurança e a lealdade, no grupo, portanto, criam condições para a manutenção da
prática social grupal, baseada no ato de reciprocidade e na consideração de similitude e
igualdades dos membros.
Neste subprojeto, a noção de vergonha também é outro conceito básico no estudo
dos Deltas, identificada como um dos sentimentos na sociabilidade Delta. No entanto, A
vergonha, neste momento, é compreendida através da significação de ser um sujeito de
crédito, “alguém a quem se pode confiar e ser considerado leal” (KOURY, 2002c, p.
160). A vergonha é assegurada como um elemento constitutivo do caráter moral, onde
um sujeito de vergonha é posto como uma figura confiável.
O sistema de nominação é outro elemento essencial para a compreensão da
sociabilidade grupal, pois funciona como uma espécie de ressocialização. Este sistema
singulariza os membros e os diferencia daqueles de fora do grupo, sendo fundamental
para a compreensão analítica da dinâmica Delta. A nominação promove o sentimento de

78
pertença e companheirismo ao grupo, que mantém um discurso igualitário em relação
aos membros, que se encontram e se tornam de novo sujeitos no e através do grupo.
Este sistema de nominação também é analisado como uma peça do controle social
dos membros, através da exacerbação dos medos e receios de romper com os princípios
do grupo e de uma recaída aos erros do passado. Neste sentido, na análise, o medo de
ser mal interpretado pelos seus pares e ser submetido aos dispositivos disciplinares do
grupo, como o caldo, o gelo e até mesmo a expulsão, são exemplares da identificação do
controle social interno entre os Deltas. O uso desses dispositivos promove uma
invisibilidade de um membro junto ao outro dentro do grupo, de modo a perder a sua
individualidade no geral, mas, ao mesmo tempo, de instrumentalizá-la nas franjas do
social grupal.
O grupo, de acordo com a análise proposta no Vínculo Ritual, exige dos seus
membros um constante disciplinamento pessoal de suas ações, e desenvolve uma eterna
vigilância de um sobre o outro e do grupo sobre todos, enfatizando as mudanças na vida
do sujeito, ocasionadas através do grupo, e afirmando a possibilidade de existência do
indivíduo apenas no grupo. O controle social é outro conceito básico trabalhado para o
entendimento de como se processa o desenvolvimento do grupo e a administração dos
códigos grupais para a eficácia dos seus valores.
O conceito de fronteira, por sua vez, conclui o esquema conceitual deste
subprojeto. As fronteiras são entendidas como espaço de conflito e tensão, pois
apreendem um ambiente híbrido que impulsiona o medo do contágio e o rompimento
dos ideais e das práticas exigidas pelo grupo.
Na análise de fronteira no subprojeto Vínculo Ritual, o conceito é elaborado de tal
modo que o limite simbólico que a fronteira exige e permite é acolhida pelos Deltas
como reafirmando o sentimento de pertença. Como instituindo e cristalizando o nós
grupal em relação aos outros. A fronteira possui uma ação relacional tensa. De um lado,
aparece como afirmativa, mas, de outro lado, pode ser sentida como negativa para o
grupo, visto que através dela um membro pode romper com o grupo, ao mesmo tempo
em que introduz também a possibilidade de renovação e extensão do universo simbólico
Delta junto aos além da fronteira.

79
O segundo subprojeto é o Parque Solon de Lucena.47 A conclusão deste
subprojeto rendeu uma monografia de conclusão de curso de Patrick Cézar da Silva,
bolsista PROBEX do projeto intitulada Memória social e sentimento de pertença: Um
estudo sobre o Parque Solon de Lucena, João Pessoa – PB (SILVA, 2006), e a
publicação de artigos em periódicos, a saber: Um passeio através do Parque Solon de
Lucena: uma narrativa sobre a emoção de pertencer e uso do espaço público (KOURY,
2005a) e Pertença e uso do espaço público: Um passeio através do Parque Solon de
Lucena (KOURY, 2005b). Além de publicações de artigos em anais de eventos, como A
importância do Parque Solon de Lucena para a cidade de João Pessoa na visão dos
usuários e frequentadores (SILVA, 2004) e Parque Solon de Lucena: memória e
pertença (SILVA, 2005).
Este subprojeto discutiu o processo de urbanização da cidade de João Pessoa com
ênfase para o Parque Solon de Lucena, mais conhecido como Lagoa, com o objetivo de
analisar a sua importância na e para a cidade e seus frequentadores. A Lagoa é vista na
pesquisa como um dos lugares mais importantes, conhecidos e visitados da cidade de
João Pessoa, e, durante o desenvolvimento da cidade, apreendeu uma carga simbólica
por parte de seus frequentadores, tornando-se um dos patrimônios da cidade e seu cartão
postal.
Analisou também a memória social e o sentimento de pertença dos frequentadores
da Lagoa, e buscou compreender as formas de ocupação do espaço urbano, a
visibilidade e a importância local para os habitantes da cidade, as formas de
sociabilidade e a memória visual, espacial, temporal e afetiva que o lugar possui na
visão de seus usuários e frequentadores. Utilizou em sua análise os conceitos de medo,
medos corriqueiros, pertença, relação amor e ódio, espaço público, memória social e
estigma. Os trabalhos nele desenvolvidos analisaram as formas de sociabilidade que se
desenvolvem no Parque Solon de Lucena, levando em consideração o processo de
urbanização, a memória, a pertença, a identidade e a violência (principalmente,
noturna).
Este subprojeto se debruçou, principalmente, sobre os conceitos de medos
corriqueiros e pertença. O Parque Solon de Lucena, assim, é compreendido como o
espaço público que representa e apresenta uma ambivalência de sentimentos na cidade,

47
Este subprojeto, com início em 2005 e término em 2006, foi elaborado como uma pesquisa de extensão
com vínculo ao PROBEX – Programa de Bolsas de Extensão da UFPB. Neste projeto PROBEX, Patrick
Cézar da Silva atuou como bolsista e concluiu sua TCC sob a orientação do Professor Koury.

80
de amor e ódio. O subprojeto observou que a Lagoa é, ao mesmo tempo, olhada com
amor, e vista pelos seus frequentadores como patrimônio da cidade e o seu cartão
postal; e encarada com um misto de ódio e mal-estar por parte dos usuários, que veem
nele um abandono e descaso das autoridades públicas com seus patrimônios e bens
públicos, e antro de ‘marginais’.
O sentimento de pertença é o eixo central de análise, dialogando com os medos
corriqueiros enquanto relação de amor e ódio com o lugar, conhecido carinhosamente
por Lagoa. O sentimento de
pertença está relacionada à aproximação e à ligação com o local de origem. É
uma ideia de enraizamento, em que o indivíduo constrói e é construído,
planeja e se sente parte de um projeto, modifica e é por ele modificado
(KOURY, 2005b, página III).
A pertença se coloca em constante tensão com o desamor e a indiferença para com
o Parque, que possui outra configuração no período da noite, quando passa a ser
frequentado por boêmios, prostitutas, travestis, mendigos e “pequenos meliantes”. Esta
configuração noturna é vista, a partir dos medos corriqueiros, sob os signos da suspeita
e da repulsa, que fomentam a indiferença e o desamor devido a tais usos da Lagoa,
vistos pelos frequentadores como mau-usos. Em contraste com a visão dos usuários
sobre a apropriação deste lugar durante o dia, que, segundo eles, se dá através da
caminhada, do passeio, do trabalho, das compras, dos estudos ou da passagem para
outras localidades da cidade.
O Bairro do Roger: História, memória e estigma, por sua vez, foi o terceiro
subprojeto, também com vínculo PROBEX. Este subprojeto teve início no ano de 2007
e término no ano de 2008. Contou com um bolsista, Ricardo Bruno Cunha Campos, que
realizou a sua TCC no âmbito desta pesquisa, sob a orientação de Koury (CAMPOS,
2008). Campos (2007 e 2007a) também apresentou os resultados de sua pesquisa em
anais de eventos.
Este subprojeto se debruçou sobre a análise da sociabilidade urbana no bairro
popular do Roger, analisado com o objetivo de compreender as relações entre os seus
moradores através da constituição do processo histórico do bairro, da memória e da
análise do medo, enquanto medos corriqueiros, no imaginário social dos moradores.
Levantou a discussão sobre um bairro que detém uma particularidade em relação aos
demais bairros da cidade de João Pessoa. Isso porque o bairro do Roger possui uma
divisão hierárquica construída no imaginário dos seus moradores, que separa o bairro

81
em duas áreas: o alto Roger e o baixo Roger. Esta separação é demarcada pela
característica geográfica do bairro, e aponta para as questões identitárias e as formas de
sociabilidades em cada área, conformando o imaginário social do bairro.
O bairro do Roger apresenta padrões de baixa renda na maior parte de seus
domínios, sendo um dos bairros mais antigos da cidade. É um bairro estigmatizado pela
cidade, sendo divulgado pela mídia local a partir de aspectos negativos que o
caracterizam como perigoso, violento e de más condições de vida.
Este subprojeto objetivou analisar a construção do imaginário social sobre o medo
dos moradores do Roger, com o intuito de compreender as formas de sociabilidade que
ali se desenvolvem sob a perspectiva dos medos corriqueiros. Desenvolveu sua análise a
partir dos conceitos de medo, medos corriqueiros, pertença, estigma, pessoalidade,
impessoalidade, individualismo, segredo e traição, dialogando com as categorias de
violência urbana, de mídia, de memória e de pobreza.
A cidade, para Campos (2008), nutre um imaginário social estigmatizado sobre o
bairro, que, por sua vez, configura as relações e o imaginário dos habitantes das duas
partes simbólicas do bairro: o alto e o baixo Roger. Divisões imaginárias, simbólicas e
estigmatizantes criadas pelos moradores locais do bairro do Roger, em duas partes, a
primeira, o Roger de cima, representando o bairro civilizado e que se quer, e a segunda,
o Roger de baixo, representando a escória, o lixo e a violência, associada à barbárie e ao
bairro que não se quer. O conceito de estigma se mostra presente no bairro em análise,
sendo estudado na relação entre bairro e cidade, e intrabairro, com o intuito de
desvendar como o estigma atua e influencia as vidas e ações sociais dos moradores.
O estigma, como processo depreciativo, é identificado como elemento que recai,
principalmente, sobre o baixo Roger, considerado um lugar perigoso, violento e pobre.
A mídia possui um papel importante na estigmatização deste lugar e na constituição do
imaginário social sobre o medo, em relação ao Roger ‘de baixo’, pois o aponta como
simbólico de um conjunto violento e próximo à barbárie. Nele estando presentes, no
momento da pesquisa, o lixão do Roger, os conglomerados subnormais e o presídio do
Roger como elementos que fomentam a violência e o caos no bairro como um todo, e,
consequentemente, se amplia na cidade.
O subprojeto Bairro do Roger, apesar de utilizar o mesmo arcabouço conceitual
que os subprojetos anteriores, desenvolve uma nova análise em um bairro singular da
cidade, fragmentado pelos próprios moradores, que construíram uma divisão imaginária
que influencia a sociabilidade local. O bairro é, sobretudo, estigmatizado pelo

82
imaginário social da cidade. Este novo desenvolvimento analítico aponta para a
finalização desta fase 01 de pesquisa, que passa por um processo de renovação
conceitual, dando início a fase teórico-metodológica seguinte. Este subprojeto sinaliza
para um período de transição pelo qual passará o projeto MC.
A fase 01, no entanto, é concluída com um balanço analítico dos resultados de
pesquisa deste primeiro momento, que deram corpo ao livro De que João Pessoa tem
medo? Uma abordagem em Antropologia das Emoções (KOURY, 2008). Este livro
discute o que é medo e do que os habitantes da cidade sentem medo, de modo a
compreender o imaginário social sobre medo e medos corriqueiros nas formas de
sociabilidade e no uso do espaço no urbano local.
Este balanço analítico realizado neste capítulo trabalhou sobre o arcabouço
conceitual discutido no decorrer deste tópico. As análises expressam a noção de medo,
para o homem comum urbano de João Pessoa, a partir de três categorias: a falta de fé, a
falta de confiança e receio de errar e a falta de segurança pessoal ou familiar (KOURY,
2007, 2007c e 2008). O sentimento de medo, dentro destas três categorias, é sentido
como deslealdade, castigo de Deus, velhice e solidão (associado a padrões éticos e
religiosos), ou como instabilidade do futuro e medo do desconhecido (associado a
receio e temor sobre o presente e o futuro), ou, ainda, como violência (associado à
violência urbana).
Estes medos são analisados como
temores reais e imaginários, vivenciados e expressos por uma população de
forma individual ou social. São medos que afetam o seu cotidiano de forma
direta ou indireta, interferindo na organização do seu dia a dia, ou criando
obstáculos à reprodução simbólica ou prática dos arranjos possíveis à
movimentação espaço-temporal dos modos de vida e projetos pessoais e
institucionais no interior das sociabilidades em que estão situados (KOURY,
2007).
O balanço analítico dessa fase 01, além de apreender a constituição social do
medo no imaginário da cidade, também discute o processo de transformação urbana
pela qual a cidade de João Pessoa passou (KOURY, 2008). Esta fase 01, no seu todo,
compreendeu, sob a ótica dos medos corriqueiros, as formas de sociabilidade que se
desenvolvem na cidade de João Pessoa e, consequentemente, o modo como o homem
comum urbano vive a cidade na contemporaneidade brasileira. Compôs um mosaico
significativo da cidade, elaborado dos recortes e olhares porque foi observada nos
diversos subprojetos e nas pesquisas individuais neles situadas.

83
Fase 02 do projeto
A fase 02 do projeto MC marca uma complexificação conceitual48, temática,
teórica e metodológica da pesquisa, e indica o surgimento de novos conceitos e inaugura
um novo recorte metodológico de análise. Esta fase tem início no ano de 2009 e
prossegue até os dias atuais, com o ano de 2016 como delimitação analítica desta
análise neste TCC. Nesta nova etapa, o projeto MC desenvolve novos subprojetos, entre
eles, Sujeira e Imaginário Urbano (2009-2011), Confiança e Vergonha: Uma análise
do cotidiano da moralidade (2010-2011) e Sociabilidade e conflito nos processo de
interação cotidiana sob intensa pessoalidade (2012-atual).
O subprojeto Sujeira e Imaginário Urbano marca o começo desta fase 02.
Iniciado no ano de 2009 e concluído em 2011 teve o objetivo de compreender a
categoria sujeira através do imaginário urbano brasileiro49. Os resultados de pesquisa
deste subprojeto foram publicados no Blog do GREM50, e em publicações em
periódicos51. Este subprojeto traçou um panorama sobre os medos, os receios, os
comportamentos, os costumes e o modo de vida dos habitantes urbanos das grandes
cidades brasileiras na contemporaneidade. Debruçou-se sobre a compreensão do
conceito de sujeira, como eixo central de análise, a partir das vivências, das ansiedades,
das reflexões e das comparações que os diversos informantes traçaram para elaborar
uma noção sobre o que é sujo e sujeira.
Sujeira e Imaginário Urbano discutiu o que é entendido como sujo para os
habitantes das cidades brasileiras, com o intuito de realizar uma análise comparativa
sobre as singularidades e semelhanças de cada cidade. O subprojeto trabalhou com os
conceitos de sujo, de sujeira, de medo, de receio, de pertença, de estigma, de fronteira e
de estranhamento. Neste subprojeto se desenvolve também uma discussão sobre a noção
de imaginário social, compreendido como
pertencente ao campo das representações sociais, e que atua na forma de uma
rede de significados, de percepções e de sensações por onde se interpenetram

48
Os conceitos serão situados no interior de cada subprojeto, no entanto, como já foram discutidos
anteriormente, apenas serão analisados novamente se tiverem passado por alguma transformação teórico-
metodológica.
49
Este subprojeto contemplou seis capitais brasileiras: João Pessoa-PB, Recife-PE, Belém-PA, São
Paulo-SP, Curitiba-PR e Brasília-DF.
50
O Blog do GREM pode ser acessado no endereço eletrônico: http://encurtador.com.br/wCQS4.
51
“Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil” (KOURY, 2009), “Pertencimento, Fronteiras e
Estranhamento: sobre a noção de sujeira” (KOURY, 2011) e “Sobre a sujeira: Reflexões etnográficas
sobre a cultura emotiva e os códigos de moralidade da cidade de João Pessoa – PB” (KOURY e
BARBOSA, 2015). Além de artigos em anais de eventos, como “Apreensões do cotidiano: a noção de
Sujeira em João Pessoa, Paraíba, Brasil” (KOURY e BARBOSA, 2012).

84
e se autodefinem, - em movimentos permanentes de tensões, - valores,
crenças, símbolos, mitos, aspirações, medos e receios, esperanças e
ideologias que asseguram um modo de viver social [...]. É através do
imaginário que as sociedades delineiam suas identidades e objetivos,
detectam suas afinidades e desafetos, suas noções de semelhança e de
dessemelhança (KOURY, 2011, p. 219).
Os conceitos de sujo e de sujeira foram compreendidos a partir das significações
dadas pelos informantes, definidas através de 03 categorias gerais: 1) a moralidade, que
aborda os indicativos de falta de higiene, fluidos, imoralidade, estigmatizações e
preconceitos, falta de confiança e gente fraca; 2) a violência urbana e 3) a ética, política
e cidadania, que abrange a falta de consciência ecológica, o desrespeito ao cidadão e a
falta de zelo com a Coisa Pública. Aquilo que é considerado sujo, pelos informantes,
portanto, coloca em ameaça a vivência cotidiana.
O subprojeto Confiança e Vergonha: Uma análise do cotidiano da moralidade,
por outro lado, foi iniciado no ano de 2010 e concluído em 2011. Buscou compreender
as relações sociais que se desenvolvem no cotidiano do bairro do Varjão/Rangel, lugar
de intensa pessoalidade e considerado um dos dez bairros mais violentos da cidade de
João Pessoa. Este projeto foi realizado sob a coordenação de Koury, com participação
das pesquisadoras Simone Magalhães Brito e Marcela Zamboni Lucena.
Este subprojeto rendeu a publicação de 01 artigo em periódico, Como se
articulam vergonha e quebra da confiança na justificação da ação moral (KOURY,
ZAMBONI e BRITO, 2013), e de 02 artigos em anais de eventos, tais como: Confiança
e vergonha: uma análise do cotidiano da moralidade (KOURY, BRITO e ZAMBONI,
2010) e Chacina do Rangel: uma análise sobre os processos de ressentimento,
estigmatização, medos e vergonha em um bairro popular da cidade de João Pessoa,
Paraíba, Brasil (KOURY, 2013).
Confiança e Vergonha discutiu as formas de sociabilidade no bairro
Varjão/Rangel e os processos de justificação e conflito que apoiam a solidariedade
local. A análise partiu de um caso específico que aconteceu no bairro e ficou conhecido
no imaginário da cidade como “a chacina do Rangel”. Este episódio provocou um “forte
sentimento de vergonha, de estigmatização e de medo na população do bairro e da
cidade” (KOURY, ZAMBONI e BRITO, 2013, p. 252).
A relação entre medos e cotidiano, neste subprojeto, foi analisada a partir dos
medos corriqueiros, enquanto elemento organizador das relações sociais do cotidiano.
Procurou desvendar como se articulam as emoções medo e vergonha, bem como a

85
confiança e a quebra de confiança na sociabilidade local, com o intuito de compreender
como se organizam as justificações da ação moral. As análises desse subprojeto se
debruçam sobre os conceitos de medo, medos corriqueiros, vergonha, confiança,
confiabilidade, lealdade, pessoalidade, gratidão, justificação moral, estigma, e pânico
moral.
A vergonha é compreendida como um sentimento social e moral. O subprojeto
trabalha com o sentimento de vergonha social,
que povoa e sedimenta a moral grupal, assim como aponta para as possíveis
falhas e leva a desavenças e a sentimentos de raiva e endurecimento de ações
caso uma das partes se sinta lesada por um acontecimento ou uma ação
provocada pela outra parte (KOURY, ZAMBONI, BRITO, 2013, p. 258).
A justificação dos atores sociais é posta em análise com o intuito de compreender
como estes sujeitos articulam e fundamentam os sentidos da ação através das
conotações morais. Esta justificação da ação moral é composta pelo sentimento de
vergonha e de quebra de confiança (idem, 2013), configurada pela extrema violência e
banalidade do crime52. Este crime e o papel da mídia na sua espetacularização provocam
o pânico moral no bairro do Varjão/Rangel e na cidade de João Pessoa. O pânico moral
aponta para a maneira como os indivíduos vivenciam, compreendem e atribuem
sentidos moral para as ações, em um determinado momento cultural e social (idibem,
2013, p. 252).
O subprojeto Sociabilidade e conflito nos processos de interação cotidiana sob
intensa pessoalidade também realiza análises sobre o bairro do Varjão/Rangel,
enquanto universo de pesquisa. Este subprojeto teve início no ano de 2012 e se encontra
em desenvolvimento, sendo realizado sob a coordenação de Koury, com participação do
pesquisador e então orientando de Koury, Raoni Borges Barbosa.
O subprojeto busca compreender as relações sociais no cotidiano do bairro do
Varjão/Rangel, a fim de discutir os processos de sociabilidade local, envolvido por uma
intensa pessoalidade e baseado nos laços de confiança, lealdade e gratidão enquanto
resultado de uma rede de solidariedade. O Varjão/Rangel é um bairro popular que se

52
Este subprojeto tem sido continuado de 2015 em diante através da pesquisa de doutorado do
pesquisador Raoni Borges Barbosa, que analisa as apreensões morais da chacina do Rangel sete anos após
o acontecimento deste evento trágico. Este trabalho tem sido co-orientado pelo Professor Koury e
orientado pela Professora Roberta Bivar Carneiro Campos, do PPGA-UFPE e pesquisadora do GREM.
Neste novo andamento deste subprojeto já foram publicados, entre outros, artigos em periódicos e em
anais de eventos. Ver, a este respeito, Koury & Barbosa (2015c); Koury & Barbosa (2016a), entre outros.

86
localiza próximo ao centro da cidade de João Pessoa, considerado um dos bairros mais
violentos da capital.
Este subprojeto, até o ano de 2016, já resultou na elaboração de 01 dissertação de
mestrado (BARBOSA, 2015), na publicação de 02 livros (BARBOSA, 2015a e
KOURY, 2016a) e de artigos em livros, como: “Medos, redes de solidariedade e
sentimento de pertencimento: os moradores falam do seu bairro” (KOURY, 2014a) e
“Reflexões sobre medos e vergonha em um bairro periférico de João Pessoa, PB: Uma
abordagem através da Antropologia das Emoções” (BARBOSA, 2014).
O subprojeto possui publicações de vários artigos em periódicos, como: “Relações
sociais no cotidiano: processos de sociabilidade e de justificação como formas
renovadas de solidariedade e conflito” (KOURY, 2014b), “Ressentimento e regras
morais de conduta em um bairro popular da cidade de João Pessoa, Paraíba, Brasil”
(KOURY, 2015a), “Sobre cultura emotiva e moralidade nos processos cotidianos de
resolução de conflitos em um bairro popular: resenha de uma reflexão etnográfica”
(BARBOSA, 2016), “Vergonha cotidiana, ofensa moral e ressentimento: as dimensões
emocionais e morais dos rituais cotidianos de interação” (BARBOSA, 2016a) e
“Cultura emotiva e processo social: medos corriqueiros, risco e sociabilidade”
(KOURY, 2016b), entre outros. Foram também publicados artigos em anais de eventos,
tais como: “Medos e Vergonha em um bairro periférico da cidade de João Pessoa,
Paraíba, Brasil” (BARBOSA, 2013), “Ressentimento e regras morais de conduta em um
bairro popular da cidade de João Pessoa, Paraíba, Brasil” (KOURY, 2014b), “Insulto
moral e quebra de confiança em situações de intensa pessoalidade” (BARBOSA,
2014a), “Sob os olhos da vizinhança: uma reflexão etnográfica sobre formas de controle
e administração das tensões em um bairro popular” (KOURY e BARBOSA, 2015a) e
“Ação violenta entre amigos: reflexão etnográfica sobre processos de percepções e
justificações morais e emocionais de condutas” (KOURY e BARBOSA, 2016).
O subprojeto organiza uma discussão dos conceitos de medo, medos corriqueiros,
vergonha, intensa pessoalidade, amizade, coragem, confiança, confiabilidade, pertença,
lealdade, segredo, traição, fofoca, hierarquias simbólicas, disputas morais,
ressentimento, cultura emotiva, quebra de confiança, códigos morais, controle social e
estigma. Busca compreender a rede de solidariedade local, e, para tal, têm por base duas
emoções centrais para a discussão analítica: a vergonha e os medos corriqueiros. A
análise da vergonha direciona o estudo para as configurações de fronteiras e hierarquias
construídas pelos atores sociais. As hierarquias simbólicas são responsáveis por

87
organizar e elaborar o discurso sobre si e sobre o outro, indicando as diferenças entre os
bons e maus sujeitos, entre o Rangel e o Varjão (BARBOSA, 2015, 2015a).
A discussão de hierarquias simbólicas traça diálogos com a noção de disputas
morais, compreendida como enfrentamento entre os atores sociais, onde são definidas as
situações através de valores, de perspectivas e de projetos distintos. Os indivíduos na
elaboração cotidiana de discursos proferem acusações e desculpas sobre as suas práticas
e a dos outros, bem como sobre processos de injustiça, desorganização social, processos
de hierarquização, envergonhamento, medo do outro e estratégias de evitação (idem,
20015, p. 76).
As estratégias de evitação são compreendidas como práticas de salvaguardar a
face, e se apresentam como um aspecto que possibilita a preservação dos vínculos
sociais. Isso porque amenizam os constrangimentos e embaraços cotidianos da
sociabilidade sob intensa pessoalidade. Intensa pessoalidade esta onde
processos de sociabilidade estão amplamente vinculados ao parentesco, à
amizade, aos laços de gratidão, de confiança e confiabilidade, é um dado
central para a compreensão de como se articulam a administração dos medos,
rancores, iras, dissensos, pontos de evitação, dos insultos morais, das
estigmatizações e hierarquias e das narrativas em torno do legítimo e
ilegítimo, das disputas intrabairros, da explicação do universo trabalhado em
relação a si e em referência aos estigmas sentidos da cidade (ibidem, 2015, p.
18).
As relações sociais que se desenvolvem no bairro do Varjão/Rangel configuram e
são configuradas por códigos morais, isto é, normas e regras de conduta que se baseiam
na moral, fundamentando os laços comunitários. A quebra de confiança, por outro lado,
também é discutida neste subprojeto. Esta quebra de confiança rompe com a
confiabilidade e os laços de lealdade, fidelidade e segurança, revelando uma relação
tensa que é envolvida por ressentimento e sentimento de traição. Ao quebrar a confiança
se estabelece um rompimento com uma comunidade de valores morais, anteriormente
elaboradas (KOURY, 2016a).
Outro conceito analítico que condensa as análises sobre a relação entre emoções e
sociabilidade, desenvolvido neste subprojeto é o de cultura emotiva, que se configura
dentro de um jogo tenso que condiciona a cultura subjetiva e a cultura objetiva. De
acordo com Barbosa (2015b), a cultura emotiva, deste modo, é compreendida como
um repertório de conceitos simbólicos, linguísticos e comportamentais que
orienta a ação social. Nesta matriz axiológica em constante rearranjo, a
interação assume contornos processuais e as emoções se organizam no jogo

88
relacional entre indivíduos e entre indivíduos, sociedade e cultura (idem, p.
2).
Estes 03 subprojetos – Sujeira e Imaginário, Confiança e Vergonha e
Sociabilidade e conflito – contemplam a segunda fase teórico-metodológica do projeto
guarda-chuva MC. Nesta fase 02 do projeto há também o surgimento de novos
conceitos e uma ampliação do recorte metodológico, englobando outros universos de
pesquisa, além da cidade de João Pessoa. Esta fase constitui o caminho para a fase 03 da
pesquisa, afirmando a necessidade de um balanço analítico da produção acadêmica do
projeto MC.

Fase 03 do projeto
A fase 03 da trajetória teórico-metodológica do projeto MC tem início no ano de
2012, e se encontra em andamento. Esta fase surge da necessidade de um balanço
compreensivo da produção MC, com o objetivo de analisar o mapa simbólico
construído, pelo projeto guarda-chuva, sobre a cidade de João Pessoa-PB, sob a ótica
dos medos corriqueiros. Nesta fase teórico-metodológica se desenvolve o subprojeto
Observatório sobre Medo, que situa o campo de pesquisa das emoções, com ênfase para
a relação entre medo e sociedade no urbano contemporâneo brasileiro. Este subprojeto
realiza um mapeamento e um balanço compreensivo da produção acadêmica sobre a
cidade de João Pessoa.
Observatório sobre Medo, do GREM, teve a primeira fase de planejamento no
ano de 2010, com início no ano de 2012. Este subprojeto partiu da necessidade de
realização e manutenção de um balanço compreensivo da produção acadêmica sobre a
cidade de João Pessoa e também de um mapeamento sobre a emoção medo no cotidiano
da cidade. De acordo com Koury,
o objetivo principal da criação de um Observatório sobre Medos seria o de
acompanhar o cotidiano das conformações urbanas no Brasil contemporâneo
e estudar o processo crescente de individualização do homem comum na
complexificação crescente das redes urbanas no Brasil (KOURY, 2010a, p.
4-5).
O subprojeto busca mapear os medos reais e imaginários que percorrem o
processo de urbanização brasileira e influencia na sociabilidade do homem comum;
além de analisar e compreender o papel da mídia na configuração do imaginário social
sobre o medo (KOURY, 2010a). Este subprojeto teve como fruto a pesquisa Balanço
Comparativo, que procura compreender a produção da UFPB, Campus I, sobre a cidade
de João Pessoa, Paraíba, e sobre o GREM onde a pesquisa MC e este TCC se situam.

89
Na pesquisa Balanço Comparativo já foram publicados diversos resumos em
anais de evento, tais como: Balanço Comparativo da Produção da UFPB I: Caso
CCHLA (MEDEIRO, 2013), A categoria medo na Sociologia e Antropologia das
Emoções (DUARTE e KOURY, 2013), A produção acadêmica da UFPB nos últimos
20 anos: caso Centro de Ciências Sociais Aplicada (DUARTE e KOURY, 2013a),
Mapeamento da produção do Centro de Educação (CE) e do Centro de Ciências
Sociais Aplicadas (CCSA), nos últimos vinte anos, sobre a cidade de João Pessoa,
Paraíba (DUARTE e KOURY, 2013b), Análise compreensiva e histórica de dois
grupos de pesquisa antigos e ainda em atuação no CCHLA – Centro de Ciências
Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba, Campus I (PONTES,
2015), Análise compreensiva e histórica do GREM sobre a cidade de João Pessoa, de
1992 a 2016 (PONTES, 2016), e outros.
Além das publicações de artigos em anais de congresso e eventos, entre eles:
“Produção Acadêmica UFPB I: Caso CE” (BARBOSA, 2013b), “Mapeamento da
Produção da UFPB I: Caso Centro de Ciências Sociais Aplicadas” (DUARTE, 2013),
“Memória e formação de uma cultura emotiva da produção docente e discente da
UFPB: O caso do GREM e GREI” (PONTES e KOURY, 2014), “Memória,
sociabilidade urbana e cultura emotiva: Uma análise das pesquisas sobre João Pessoa,
PB, na UFPB Campus I, 1992-2012” (SEVERINO, 2014), “Análise compreensiva e
histórica do GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções”
(PONTES, KOURY e BARBOSA, 2015), “Análise compreensiva da produção
acadêmica do projeto MC sobre a cidade de João Pessoa-PB” (PONTES, 2016a),
“Análise compreensiva sobre a produção do PPGAU e a importância da
interdisciplinaridade na construção de novos olhares sobre a cidade e João Pessoa-PB”
(SANTOS, 2016), “Uma análise do olhar do Programa de Pós-Graduação em Geografia
da UFPB, Campus I, sobre a cidade de João Pessoa” (SANTOS, 2016), “A cidade de
João Pessoa sob a ótica dos medos corriqueiros: uma análise através da produção
acadêmica do GREM” (PONTES, 2016b) e outros.
Este subprojeto, a partir da pesquisa Balanço Comparativo, discute, além do
arcabouço conceitual e teórico-metodológico do projeto MC, as noções de mapa
simbólico, de etnografia cooperativa (HANNERZ, 2015), de mosaico científico

90
(BECKER, 1993), de memória institucional (AYELLO et al, 2008; BOSI, 1993;
NORA, 1993; SANTOS, 2009)53 e de pesquisa de “estado da arte” (FERREIRA, 2002).
A noção de mapa simbólico diz respeito a uma forma específica de estudar o
campo, seja através de uma teoria, metodologia ou temática. O mapa simbólico constitui
um olhar teórico-metodológico específico sobre um determinado universo de pesquisa.
No interior deste subprojeto Produção Acadêmica da UFPB campus I sobre a
cidade de João Pessoa, este TCC, – que dele faz parte e trabalha a produção de um
projeto de pesquisa o MC, de um grupo de pesquisa, o GREM, – realiza um balanço
analítico da produção sobre a emoção medo, que condensa um acúmulo de
conhecimento teórico-metodológico. A pesquisa em seu todo, isto é, Produção
Acadêmica da UFPB campus I sobre a cidade de João Pessoa, se configura enquanto
um estudo de estado da arte, que possui um caráter bibliográfico e se debruça sobre o
desafio de mapear e analisar uma determinada produção acadêmica (FERREIRA, 2002).
As pesquisas de estado da arte são motivadas pela necessidade de realizar um
balanço analítico de um campo de pesquisa, sendo movidas pelo desafio de conhecer o
que já foi produzido para dialogar e divulgar com essa produção, de modo a tornar mais
eficaz, efetivo e eficiente o fazer científico sobre o determinado objeto de pesquisa. Esta
monografia de final de curso faz parte deste esforço analítico de memória institucional,
trabalhando a cidade de João Pessoa na perspectiva do GREM, no projeto guarda-chuva
MC. Realiza um esforço de construir uma análise da análise sobre a produção do projeto
MC, e compreende assim o desafio de realizar um trabalho sobre o pensamento social
brasileiro, na área de antropologia e sociologia, a partir dos medos corriqueiros e dos
modos em que foram apreendidos no GREM e seus pesquisadores e formandos.

Considerações finais
O projeto guarda-chuva MC possui 03 fases de desenvolvimento analítico: 1) a
construção e consolidação de um arcabouço conceitual para análise, demarcando a
primeira fase acadêmica, de 1999 a 2008; 2) a complexificação temática, teórica e
metodológica da pesquisa, com o surgimento de novos conceitos e subprojetos, que
identificam a segunda fase, de 2009 até os dias atuais; 3) e a necessidade de
sistematização dos resultados do projeto, através de um balanço analítico, na
composição de um observatório sobre medos e cidade, compondo a terceira fase, de
2012 até os dias de hoje.

53
As noções de etnografia cooperativa, mosaico científico e memória institucional já foram amplamente
discutidas na parte introdutória deste TCC.

91
O conceito de medo é, enquanto medos corriqueiros, o eixo central de análise no
Projeto MC e dialoga com outros conceitos e categorias que se apresentam como
importantes na e para a sociabilidade urbana contemporânea e o imaginário social dos
habitantes da cidade de João Pessoa-PB. A partir dele as categorias de memória, de
mídia (online, impressa ou televisiva), de violência, as estatísticas policiais e a
juventude são discutidas no interior da sua produção.
O arcabouço conceitual do projeto MC indica o seu desenvolvimento teórico-
metodológico e aponta para as suas transformações e para a sua complexificação
analítica durante a sua trajetória acadêmica. Consolidando-se, na sua fase 01, com os
conceitos de medo, medos corriqueiros, pertença, urbanização da cidade,
estranhamento, confiança, confiabilidade, lealdade, segurança, fidelidade, pessoalidade,
individualismo, semelhança, dessemelhança, segredo, traição e controle social.
O surgimento de novos conceitos indica um processo de aprofundamento analítico
e teórico-metodológico do projeto. Neste sentido, surgiram os conceitos de vergonha,
sujo e sujeira, justificação da ação moral, pânico moral, hierarquias simbólicas, disputas
morais, estratégias de evitação, intensa pessoalidade, quebra de confiança, cultura
emotiva e códigos morais. Estes conceitos, que sinalizam a fase 02, passam a compor o
arcabouço do projeto MC deste então.
Neste processo de maturação novas possibilidades de análise foram abertas, como,
por exemplo, o balanço comparativo realizado pelo subprojeto Sujeira e Imaginário
Social, que amplia o recorte metodológico para 05 capitais brasileiras e 01 Distrito
Federal. Cada subprojeto indica uma particularidade analítica do projeto MC, com o
qual alimenta um constante diálogo teórico-metodológico.
Em síntese, este capítulo buscou discutir a trajetória teórico-metodológica do
projeto MC a partir de suas 03 fases de desenvolvimento analítico. Enfatizou os seus
percursos durante esses 17 anos de produção e pesquisa acadêmica.

92
Capítulo 6 – A produção do projeto Medos Corriqueiros sobre a
cidade de João Pessoa

Este capítulo objetiva descortinar o mosaico científico (BECKER, 1993) que o


projeto MC construiu sobre a cidade de João Pessoa, na perspectiva dos medos e dos
medos corriqueiros. Busca compreender como a cultura emotiva da cidade é percebida e
apresentada pelo projeto MC, tendo os medos corriqueiros como foco central, enquanto
fenômeno que organiza as formas de sociabilidade urbana.
Cultura emotiva esta elaborada a partir das vivências emocionais dos sujeitos em
uma determinada situação social em que estão inseridos, de modo a expressar um
conjunto de conceitos linguísticos, comportamentais e simbólicos que conduz à ação
social (BARBOSA, 2015, 2015a). Pretende identificar e discutir os mapas simbólicos
construídos sobre a cidade e desvendar os recortes a que João Pessoa foi submetida na
trajetória do projeto MC.
A produção acadêmica do projeto guarda-chuva MC, integrada na memória
institucional e no acervo de conhecimento do GREM, se apresenta como um conjunto
de etnografia cooperativa (HANNERZ, 2015) para a compreensão e leitura contextual
da cidade de João Pessoa. Esta produção disponibiliza um mosaico científico sobre a
cidade e seu desenvolvimento urbano contemporâneo.
A cidade é percebida para além de seu ambiente físico, de modo a compreender
espaços e lugares sociais de interações individuais e grupais que tecem formas de
sociabilidades, memórias e histórias. A cidade é vista como o ambiente - bairros, ruas e
parques, - onde se processam, permeadas pelas emoções, as trocas materiais e
simbólicas do jogo interacional, mostrando-se como uma rede de solidariedade e
conflito, com configurações sempre tensas de estranhamento, pertença, semelhança e
dessemelhança, ordem e desordem, entre outros (BARBOSA, 2014a).
O projeto guarda-chuva MC, desta forma, apreende a cidade
como espaço de disputas morais, de uma cultura emotiva sempre em
construção, a partir da problematização dos fenômenos da solidariedade e
conflito entre iguais em situação de pessoalidade, estigma, pobreza e
violência física e simbólica no urbano contemporâneo brasileiro
(BARBOSA, 2015b, p.18).
A cidade de João Pessoa é estudada, pelo GREM, a partir das relações cotidianas
do homem comum, que se conectam ou se excluem de acordo com a constituição do

93
imaginário social do medo em cada lugar e na cidade como um todo. O medo se
apresenta, enquanto medos corriqueiros, como elemento significativo na configuração
das formas de sociabilidade na capital paraibana.

A cidade de João Pessoa sob a ótica dos medos corriqueiros: configurações


urbanas, sociais e emocionais
A cidade na história
A cidade de João Pessoa surgiu durante o antigo Sistema Colonial e foi fundada
em 1585. É uma das mais antigas cidades do país e possui uma peculiaridade à parte,
pois detêm uma variedade de nomes, até sua atual denominação54. Esta cidade tinha o
objetivo de defender a costa e o controle político e social desta região (KOURY,
2005d). Encontrava-se dividida em duas áreas, a cidade baixa e a cidade alta.
Na fronteira com o rio Sanhauá se situava o Porto do Capim e a cidade baixa,
onde funcionavam as atividades comerciais. Na cidade alta, por outro lado, localizada
na colina, se processavam as atividades administrativas e religiosas, e a maior parte das
habitações residenciais, estas pertencentes às classes abastadas da cidade. Neste
período, a cidade se configurava a partir dos três grandes bairros da época: Trincheiras e
Tambiá, localizados na parte alta da cidade, e o bairro do Varadouro, que comportava a
parte baixa (MAIA, 2000 apud KOURY, 2005d, p, 174).
Esta cidade com forte característica colonial sofre um lento processo de evolução
urbana e desenvolvimento econômico, devido à cultura algodoeira, que foi,
gradualmente, modificando a sensação de calma e monotonia por uma crescente
movimentação e o aumento do ritmo das transformações urbanas. Essas mudanças só se
apresentam de forma mais expressiva a partir da década de 1920, e, principalmente, na
década de 1970. Neste período se inicia o processo de maquiamento urbano,
higienização, reconfiguração estética e arquitetônica da cidade, com destaque aos
interesses econômicos envolvidos no crescimento vertiginoso da capital, que deu rumo
à expansão e modernização dos seus espaços urbanos (BARRETO, 1996; VILAR,
2001).
A cidade vai se projetando sobre a imagem de uma cidade ordenada, desenvolvida
e higienizada, com representações ideais de progresso que demonstram as
transformações de uma urbe calma e monótona, com características coloniais, para uma

54
O primeiro nome da capital paraibana foi Nossa Senhora das Neves, em 1585, mas meses depois
passou a ser chamada de Filipéia de Nossa Senhora das Neves. Em 1634 recebeu o nome de Frederica, e,
novamente, mudou de nome em 1654, chamando-se Parahyba. Em 1930 ganhou sua nomeação atual, em
homenagem ao presidente do Estado, João Pessoa.

94
cidade moderna e com crescimento econômico, encobrindo aspectos que pudessem
evidenciar atraso, pobreza, sujeira ou escândalos (BARRETO, 1996). Iniciavam-se
esforços de disciplinamento dos indivíduos através das transformações urbanas, onde a
ideia de progresso delimita novos parâmetros que indicam o que deve ser valorizado e
registrado. A pobreza e a sujeira são questões encobertas e disciplinadas através de
políticas de controle social, de disciplinamento moral, de higienização, de policiamento
e de disciplinamento estético e econômico (KOURY, 1986), pois não pertencem à
estética almejada pela elite local.
Neste sentido,
as ruas passam a ser, também, controladas pelo poder público, não só na
limpeza, embelezamento e ordenamento espacial e abertura e ampliação de
novas ruas, avenidas e bulevares e calçamento das já existentes, mas também
no controle do homem comum pobre, disciplinando o acesso ao uso dos
espaços e costumes até então vigentes dentro de uma legislação severa, no
que diz respeito à questão do trabalho e vida na urbe (KOURY, 2005d, p.
175).
Neste ideal de progresso e discurso modernizador da cidade de João Pessoa, os
esforços foram desempenhados, principalmente, na busca de proteger a cidade dos
pobres, e, com isso, executar melhorias no espaço urbano. Esta melhoria do espaço
urbano foi elaborada dentro de códigos disciplinares e de ordenamento dos sujeitos. É
nessa perspectiva que surgem os asilos, os orfanatos e as prisões, como forma de conter
ou camuflar aqueles que enfeiam e sujam a cidade. A transformação e modernização
urbana do espaço e do modo e estilo de vida da cidade também foi executada a partir do
“signo do medo do outro e da busca de controle social e societal” (KOURY, 2005d, p.
176).
A ideia de progresso afirmava ainda mais a separação entre as classes abastadas e
as classes baixas e reproduzia essa afirmativa espacialmente. A memória da cidade da
Parahyba, por exemplo, construída através das fotografias, na análise de Barreto (1996),
representa o espaço da burguesia e das reformas urbanas. De acordo com esta autora, o
ato fotográfico local, voltou às costas à população mais pobre. Entre 1889 a 1920,
procurou valorizar os conjuntos arquitetônicos e empreendimentos industriais,
comerciais e de serviços considerados símbolos modernos de progresso da cidade,
assim como de servir como um espelho da administração pública local.

95
Delimitações e separações
No seu processo de desenvolvimento e expansão a cidade de João Pessoa, de
acordo com o mosaico montado pelo projeto MC, foi submetida a constantes
delimitações e separações, através de uma reestruturação espacial e societária. Enquanto
alguns espaços urbanos experimentavam uma serie de privilégios e atenções, outros
espaços eram relegados e marginalizados, dividindo a cidade em duas áreas
completamente distintas e contrastantes: uma elitizada e outra periférica (SOUSA,
2004).
Na década de 1970 essas delimitações ganham um tom mais eloquente, pois o
processo de crescimento da cidade culminou no surgimento de novos bairros que
diluíram a importância do centro, refletindo no apogeu da orla marítima. Com o
descobrimento da orla enquanto ambiente residencial, de turismo, lazer, consumo e
outros, a cidade sofre uma nova reestruturação espacial e, principalmente, social,
fazendo emergir uma nova sensibilidade nos habitantes de João Pessoa, revelando-se
cada vez mais impessoal e dessemelhante ao outro relacional.
A cidade começa a incorporar uma natureza mais dinâmica e frenética, e muda,
também, o conteúdo e a vivência do lazer, perdendo seus bares tradicionais que
movimentavam a boemia de João Pessoa (SOUZA, 2005). Deste modo, a modernização
da cidade conduziu outro caráter de lazer em que a boêmia tradicional não se encaixava,
devido a um conjunto de etiquetas que configura o lazer atual, sendo mais
individualizado, impessoal e exaltando o consumo, emergindo novas formas de
comportamento e sociabilidade adaptadas aos novos tempos de urbanização da cidade.
O advento crescente do turismo em João Pessoa marca as mudanças que a cidade
sofreu e vem sofrendo com as remodelações e padronizações do lazer e do espaço.
Preocupa-se com a infraestrutura nas áreas centrais para a movimentação desse mercado
de turismo, para as melhorias na orla marítima, bem como na restauração do Centro
Histórico da cidade.
Os projetos de reformas do Varadouro, no sentido de remodelações urbanas, têm o
intuito de expropriar os espaços ocupados pelos pobres, residentes no local, - caso, por
exemplo, da Comunidade do Porto do Capim, analisada por Vilar (2001), vistos como
uma “mancha” no desenvolvimento da cidade. Esta modernização traz consigo a ideia
de controle social e mascaramento da pobreza. Dentro do discurso do ideal de
progresso, segundo a ótica do Plano Diretor de Desenvolvimento da Cidade de João
Pessoa, na análise de Vilar (2001), o lugar, tratado como espaço urbanístico, deveria ser

96
recuperado para o paisagismo da cidade, para a ocupação pelo comércio de
entretenimento, para o turismo, e para compor uma noção de lugar seguro, limpo,
habitável e circulável.
A cidade de João Pessoa, durante sua transformação urbana, se dividiu em duas
áreas: os espaços nobres e os espaços populares, ou periféricos. A ideia de progresso
favoreceu aos primeiros em detrimento dos segundos, que possuem uma distribuição
pequena de recursos e se desenvolvem em condições de precariedade. Esta interpretação
de Souza (2004) indica a forma desigual de crescimento pela a qual a cidade vem
passando. Este contexto nutre o imaginário social de estigmatização dos bairros
periféricos, e dos seus moradores, com a criação e difusão de estereótipos que imputam
aos moradores uma negação da condição vivida (SOUSA, 2004; KOURY &
BARBOSA, 2012).
A cidade se mostra como um ambiente heterogêneo, composto por uma
diversidade de indivíduos com vários padrões de vida e níveis sociais que constroem e
reconstroem condutas que hora aproximam hora afastam os moradores da cidade, em
um processo contínuo de semelhança e dessemelhança entre os relacionais, originando
várias formas de sociabilidade (SOUZA, 2004). Condutas estas que vão se
reconfigurando aos poucos sob o anonimato, a insegurança e individualismo, que
caracterizam algumas áreas urbanas, onde existem diferenças socioculturais conflitantes
no contato cotidiano, mesmo que este contato não seja intencionado. A cidade, no
entanto, também vive relações de semelhança, de amizade e de pessoalidade em outras
áreas.
Aos poucos, João Pessoa vai sendo incorporada à lógica de uma cultura do medo,
decorrente do aumento gradativo e da banalização da violência urbana, na mídia, que
assusta a vida cotidiana dos indivíduos. O medo e os medos corriqueiros se colocam,
estrategicamente, como elementos configuradores do cotidiano e do desenvolvimento
urbano de sua contemporaneidade.
A mídia, através das reportagens que veicula cotidianamente, tem contribuído
preponderantemente para a formação social do imaginário sobre o medo entre os
moradores da cidade de João Pessoa (SILVA, 2003). A figura do outro se coloca como
fonte manifesta de perigo constante, de insegurança e medo. Esse outro construído e
caracterizado pela imprensa é apreendido na figura do homem comum pobre (KOURY,
1986), e como causa da desordem urbana.

97
O processo de modernização atinge diretamente o cotidiano do indivíduo, traz
mudanças espaciais, sociais, emocionais e culturais, e constrói novas vivências e
práticas sociais fundadas em novas formas de sociabilidade, via imaginário social sobre
o medo. A urbanidade trouxe inúmeras alterações às relações sociais, onde as
remodelações espaciais condicionam, de forma recíproca, as remodelações sociais.
Ambas se configurando em constante sintonia.

Configuração de uma nova sensibilidade no urbano pessoense


A cidade de João Pessoa, neste processo de transformações urbanas, sociais e
emocionais, principalmente a partir da década de 1970, conforma uma nova forma de
sociabilidade, que emerge no interior de uma esfera racional, comedida e anônima, de
encarceramento do indivíduo moderno à vivência de sua subjetividade na esfera
privada, com uma objetificação das relações na esfera pública. Esta forma de
sociabilidade passa a coexistir e contrastar com as relações sociais baseadas nos laços
tradicionais de afetividade, de vizinhança, de amizade, de semelhança e de
pessoalidade.
Configura-se a emergência de uma nova sensibilidade no urbano contemporâneo
brasileiro, onde se mesclam elementos tradicionais e modernos nas formas de
sociabilidade que se desenvolvem no urbano. Esta nova sensibilidade é composta pela
lógica de uma sociedade em transição, que passa de códigos mais afetivos e tradicionais
para códigos mais impessoais, racionais e individualizados de sociabilidade urbana
(KOURY, 2003; SILVA, 2003; BARBOSA, 2015b).
A nova sensibilidade é marcada pela constituição do indivíduo como
personalidade blasé. Este tipo emerge em uma sociabilidade caracterizada
pela pulverização dos papéis sociais e pelo anonimato e estrangeirice da
cidade como estilo de vida, onde público e privado se tensionam no sentido
da negação da subjetividade como parte do social. [...] A dimensão
emocional da existência é tratada socialmente a partir das regras de etiqueta,
do princípio do desempenho que privatiza as emoções ou as classifica em
oposição à razão e à racionalidade (BARBOSA, 2015b, p. 4).
A sociedade brasileira vem passando por uma reestruturação social decorrente das
transformações inerentes à modernidade, como a interiorização dos sentimentos, a
crescente racionalização, a mercantilização das relações sociais, a expansão da violência
urbana, etc. (SOUZA, 2003, p. 17). A cidade de João Pessoa aparece circunscrita dentro
desta ótica descrita, porém, apresentando formas peculiares de sociabilidades, onde o
tradicional e o moderno se mesclam ou se excluem, a depender do lugar analisado.

98
Os habitantes da cidade convivem com sentimento de amor e ódio, de prazer e
orgulho, de descontentamento e tensões, e de medos e anseios em relação à cidade da
morada e o seu cotidiano, de modo a construir uma identidade urbana nutrida pelo
processo de reflexão racional e sentimental sobre a cidade. O reconhecimento
construído em relação à cidade é derivado de um sentimento tenso de estranhado de
pertença, que reflete e estimula a memória e a evocação de raízes simbólicas
(HONORATO, 1999). A ideia de pertencer a um lugar é elaborada a partir da rede de
relações que proporciona sentido à vida do homem comum urbano no seu cotidiano.
Essas transformações urbanas, motivadas pelo discurso modernizador, são
apreendidas sob uma ótica ambivalente, onde é nutrido um sentimento de ameaça em
relação ao novo, visto diante do risco sentido de perda do próprio lugar e da identidade
local, de modo a assumir a resistência como uma ação à sobrevivência das
características locais, frente às mudanças. Este novo, no entanto, também é um elemento
desejado, sob o elemento eminente do conflito entre a aspiração pelo progresso, o
desconhecido, e o anseio pela preservação das peculiaridades locais, o tradicional (idem,
1999).
Neste sentido, a mudança, por meio do processo de modernização urbana, por
vezes, é encarada como uma possível descaracterização dos valores, dos modos e dos
estilos de vida que são regidos no presente. O progresso é desejado enquanto um
elemento a ser alcançado, no futuro, mas mediante a adequação do desenvolvimento
urbano global à realidade da cidade (ibidem, 1999).
A modernidade, com suas contundentes transformações estruturais, sociais,
emocionais e culturais, tem remodelado as sociabilidades e os diversos aspectos da
constituição da pessoa e da individualidade (KOURY, 2008), baseada no crescente
individualismo e estranhamento. Essa nova configuração emotiva permeia tanto os
bairros populares quanto os bairros de classe média e média alta da cidade.

A dinâmica dos bairros, ruas e parques da cidade


O ideal de progresso urbano reproduzia social e espacialmente a separação entre
as classes abastadas e as classes baixas da cidade. Neste ideário de progresso se nega o
feio, a pobreza e a sujeira e se supervaloriza os espaços arquitetônicos modernos que
transmitem uma imagem do futuro, da mudança e da evolução desejados, com
predominância à disciplina e à ordem (BARRETO, 1996).

99
Na cidade de João Pessoa o discurso do progresso atinge diretamente as classes
menos abastada da cidade, fomentando os esforços de disciplinamento dos indivíduos
através das transformações urbanas. A ideia de progresso delimita novos parâmetros que
indicam o que deve ser valorizado social e espacialmente, o que gera uma relação
tensional na cidade como um todo.
No processo de desenvolvimento e expansão da cidade houve constantes
delimitações e separações, mediante uma reestruturação espacial e societária55.
Enquanto alguns espaços urbanos experimentavam uma serie de privilégios e atenções,
outros espaços eram relegados e marginalizados, dividindo a cidade em duas áreas
distintas e por vezes contrastantes: uma área nobre e outra área popular (SOUSA, 2004).
Os bairros nobres são frequentados e habitados por uma população que se
autoconsidera elitizada e possuem uma dinâmica social própria, de estranhamento do
processo de expansão da cidade, ao mesmo tempo aplaudida, em suas nuances de
progresso e melhoria de infraestrutura, e acusada, enquanto palco de violência crescente
e perda da vida pacata até então (década de 1970) vivida, e hoje considerada perdida. O
que revela um medo crescente do outro, tido como perigoso. Este outro é cristalizado na
figura do homem pobre, residente das zonas periféricas, de modo a indicar a
indissociabilidade da pobreza e da violência no imaginário social.
No caso de Tambaú, onde há a vivência de uma diversidade de atores de
realidades diferentes, por ser um espaço destinado à moradia, ao lazer e ao comércio, o
outro – o não residente no bairro – aparece sempre circunscrito no imaginário do medo,
como ameaça e como o “estrangeiro” que adentra ao bairro para promover a desordem
(SOUSA, 2004; KOURY, 2008). Tambaú é um bairro heterogêneo, habitado por
indivíduos de diversas realidades sociais, compreendendo, também, largos trechos
populares. O bairro, na análise de Sousa (2004), deste modo, pode ser pensado como

55
A cidade de João Pessoa, em seu desenvolvimento, sob a ótica dos medos corriqueiros, como um todo,
foi analisada por Koury (2008), mas também recortada e analisada por várias outras incursões. A área
nobre, por exemplo, com habitações de classes médias e média alta, considerados espaços elitizados, foi
contemplada nas análises desenvolvidas no interior do projeto guarda-chuva MC, através do bairro de
Tambaú (SOUSA, 2004) e bairro dos Estados (SILVA, 2004). A área popular, por outro lado, com
habitações de classe média, média baixa e baixa, foi trabalhada em várias monografias, que se dedicaram
às análises dos bairros de Varadouro, - Comunidade de Porto do Capim (VILAR, 2001), e Varadouro e
Ilha do Bispo (KOURY, 2005i), de Cruz das Armas (SOUZA, 2003), de Tambiá (SILVA, 2003), o bairro
do Roger (CAMPOS, 2008) e o bairro Varjão/Rangel (BARBOSA, 2015, 2015a). Além dos estudos
monográficos sobre ruas em bairros populares, como a Rua Francisco E. de Almeida, no bairro de
Mangabeira (CAVALCANTE FILHO, 2005), e a Rua Vilma Brito Ribeiro, no bairro de Valentina de
Figueiredo (ALMEIDA, 2005).

100
fracionado em três áreas, que comportam diferentes origens socioeconômicas: a área
popular, a área central e área da orla marítima.
A área popular do bairro foge da imagem criada sobre Tambaú, espaço de grande
valorização imobiliária e de habitação elitizada. Este é um lugar de grande pessoalidade,
vigilância mútua e compartilhamento de vida comunitária comum (com casas simples e
sem muros ou mecanismos de segurança). É uma área de pobreza urbana, bastante
estigmatizada e vista pelos moradores das áreas nobres como perigosa e de onde se
origina grande parte da violência que se estabelece no bairro. Imagem esta que dá
origem a diversas reivindicações no sentido de um maior controle policial para
promover a segurança do bairro. E um local visto pela polícia como ‘tomado’ por
gangues e pelo tráfico de droga.
A área central do bairro, por sua vez, concentra a maior extensão, sendo
compostas por prédios, casas grandes e seguras, ambos com mecanismos de proteção, e
com grande movimentação nas ruas, que é utilizada como espaço de passagem. Nesta
área predomina a preservação da esfera privada, contendo maior individualismo e
características dos grandes centros urbanos.
A orla marítima compõe a última área de Tambaú, composta por estabelecimentos
comerciais e com constante movimentação diurna e noturna devido à sua centralidade
em relação à cidade, além de servir como um espaço para passeios e lazer por toda a
cidade. Esta área se destaca como o espaço de lazer do bairro e da cidade, de modo que
é frequentado por diferentes sujeitos dos mais variados lugares da cidade de João
Pessoa.
A orla, de acordo com Sousa (2004), principalmente nos finais de semana, é
geralmente evitada pelos moradores da área central do bairro, pois alegam a frequência
de muitos indivíduos estranhos à realidade socioeconômica daquele lugar. Estes sujeitos
estranhos, na visão dos habitantes locais, causam receio aos moradores, por serem
potencialmente perigosos e sujos, e tidos como farofeiros e bregas. Esta área contém o
espaço mais diversificado do bairro, onde acontece o encontro de diversos modos e
estilos de vidas, pertencentes ou não à Tambaú.
O bairro dos Estados, de maneira semelhante, não possui uma vivência
hegemônica, compreendendo distintas relações sociais, de acordo com o lugar em que
os indivíduos se encontram inseridos. Fundado no ano de 1952, o bairro passou por
várias transformações espaciais até sua atual configuração, situando o medo como uma
das características desse processo de desenvolvimento. O fato de manter fronteiras com

101
bairros populares56 reforça essa imagem do medo do outro, desconhecido (SILVA,
2004).
Os moradores das áreas fronteiriças com bairros populares mantêm laços afetivos
de solidariedade, com uma maior pessoalidade e semelhança nas relações, e são tidos
como perigosos e causadores de temores entre os moradores locais. Nestas áreas, o
privado e o público se mesclam e as calçadas tornam-se espaços de interação social que
intensificam as relações estabelecidas naquelas localidades. Diferentemente dos
moradores das áreas centrais, estes não fazem uso de mecanismos de segurança e
mantêm uma tradição relacional de pessoalidade. O medo também se mostra presente na
sociabilidade desses lugares, provocando reações de proximidade e refazendo novas
possibilidades de relações sociais.
Os espaços centrais do bairro, por outro lado, comportam as áreas elitizadas, onde
ocorre um esfriamento das relações e resulta em um aumento das relações no espaço
privado, em detrimento ao espaço público. Estes indivíduos, assim, na análise de Silva
(2004) se inserem em um cenário crescente de solidão, isolamento e anonimato.
Desde o final dos anos de 1990, o bairro dos Estados vem passando por um
processo de mudança, de um bairro de iguais, no interior de um ambiente considerado
elitizado, para um bairro com crescente ampliação de sua área comercial. O bairro dos
Estados também tem se verticalizado, pois muitos dos moradores têm trocado as suas
casas-mansões por apartamentos, alegando a violência crescente no local, bem como a
transformação do bairro em área comercial, de intensa especulação imobiliária local. Os
moradores das áreas centrais do bairro demonstram um sentimento de pertença e
semelhança com o lugar por considerá-lo um ambiente elitizado, mas, por outro lado, de
acordo com a análise de Silva (2004), de estranhamento com as modificações trazidas
pela ampliação do comércio e verticalização do bairro.
O processo de mudanças no bairro transforma muitas vezes as mansões em
verdadeiras ‘cabeças de porco’, isto é, em divisões das mansões em inúmeros pequenos
quitinetes, que abrigam uma classe média flutuante, composto por alunos das
universidades locais, vindos do interior do Estado ou de outras regiões do país, bem
como estilos de vida considerados diferentes e que não abonam a moral local. O que
torna o ambiente perigoso, aos olhos dos moradores do bairro, e a pertença ao local

56
Como os bairros de Mandacaru, de Padre Zé, de Treze de Maio e dos Ipês (SILVA, 2004).

102
vista sob a ótica de um passado que não volta mais. As interações entre esses indivíduos
de realidades socioeconômicas diferentes são sempre tensas e conflituosas.
Nos bairros da área nobre da cidade há uma trama relacional de práticas
cotidianas, orientadas pela presença constante do imaginário social sobre o medo, posto
como estranhamento do outro. Nestes bairros, analisados pela pesquisa MC, existe um
crescente processo de individualização e individualidade, que ocasiona a interiorização
das emoções e a supervalorização da esfera privada. O processo de racionalismo,
advindo com a urbanização, aflora o individualismo e o anonimato, gestando um
estranhamento comum em relação ao outro, sentido como estranho e usurpador.
Nas áreas populares da cidade de João Pessoa se desenvolve uma forma de
sociabilidade pessoalizada, ainda baseada em relações de compadrio e solidariedade,
que oscila na convivência de elementos afetivos e com a crescente individualização na
modernidade brasileira. Os moradores desses bairros e ruas, ao serem visto sob o prisma
da exclusão social em relação aos moradores dos bairros nobres, reconhecem a
violência que assola o cotidiano do bairro que residem, mas negam esta condição
vivida, de modo a empurrá-la para o outro, aquele que habita as áreas mais
marginalizadas (KOURY, 2005i, 2008; VILAR, 2001; SOUZA, 2003; CAVALCANTE
FILHO, 2005; ALMEIDA, 2005, CAMPOS, 2008 E BARBOSA, 2015).
Existe um processo de construção de identidade para com o espaço habitado e
seus demais moradores, que demonstra o quanto um estigma conferido ecoa
negativamente em sua formação identitária. Há, assim, uma elaboração do discurso
conformado através de elementos positivos sobre os bairros – desde as opções de lazer,
de comércio, às boas relações de vizinhança etc. – com o intuito de amenizar a visão
negativa lançada sobre localidade. Os elementos negativos geralmente são apontados à
figura do outro que está em condições de vulnerabilidade social e econômica, que
residem nos espaços mais periféricos do bairro.
O discurso do progresso atinge diretamente as classes menos abastada da cidade,
fomentando os esforços de disciplinamento dos indivíduos através das transformações
urbanas, assim como a ideia de progresso delimita novos parâmetros que indicam o que
deve ser valorizado. É nesse aspecto que, de acordo com Vilar (2001), os projetos de
reformas do Varadouro ensejam o mascaramento e a recuperação dos pobres. Ao
analisar a Comunidade do Porto do Capim, no bairro do Varadouro, Vilar indaga o
impacto das reformas urbanas previstas para o local, no cotidiano de seus moradores.

103
Os moradores da Comunidade do Porto do Capim são vistos através de um
processo ambivalente, sendo reconhecidos enquanto trabalhadores, mas, ao mesmo
tempo, excluídos enquanto pobres e “sujos”. A percepção de como a cidade os veem é
sentida através da emoção vergonha-cotidiana pelos moradores, que a incorporam, em
uma relação de amor e ódio ao lugar onde residem.
De um lado, lugar de pertença e laços comunitários, e de confiança e
pessoalidade, onde moradores são reconhecidos, e se reconhecem, a partir do lugar em
que estão inseridos; e do outro, lugar de humilhação cotidiana, e imputada aos outros
moradores, ou aos de fora do bairro, mas que o frequentam, como aqueles que sujam o
nome do lugar. No caso, criando hierarquias sociais, onde o eu e os outros do bairro e
no bairro são classificados. Hierarquias que compõem divisões imaginárias, tais como:
Varjão/Rangel, nas análises de Koury (2014e) e Barbosa (2015), Roger de Cima e de
Baixo (CAMPOS, 2008), os de dentro e os de fora (CAVALCANTE FILHO, 2005;
KOURY, 2014), os “de lá” (KOURY, 2010) e outras, de onde se busca preservar o
lugar como de pertencimento, e, ao mesmo tempo, como espaço de reprodução dos
outros que imputam aos lugares a imagem de desordem e violência.
O bairro do Varadouro, por exemplo, onde se localiza a Comunidade de Porto do
Capim, é um dos bairros históricos de João Pessoa, sendo o ponto de referência e o local
de nascimento da cidade (VILAR, 2001). Este bairro, durante o processo de
transformação e modernização urbana da cidade, entrou em um estado de decadência e
sobrevive como ponto de comércio e residência para a população de baixa renda,
abarcando, ainda, o terminal dos ônibus coletivos, a estação rodoviária e a estação
ferroviária da capital (KOURY, 2010, 2014b).
O bairro, como os outros que compõem a área popular da cidade, sofre pelo
estigma e a qualificação de ambiente perigoso, lugar de ladrões e ponto de droga da
cidade, elementos que fomentam o imaginário social da cidade. A mídia local possui um
papel importante na constituição desse imaginário pejorativo e estigmatizado do bairro,
caracterizando-o como uma região problema.
Esta imagem do Varadouro, no entanto, é uma imagem que os seus moradores
rejeitam, pois entendem que é montada por sujeitos de fora do bairro, que buscam
“denegrir ainda mais a imagem do bairro como um todo [...], ficando o bairro sobre
suspeição, por ser pobre e decadente” (KOURY, 2010, p. 296). Os moradores, por outro
lado, veem o bairro como um lugar tranquilo e bom para viver, e a violência é colocada
como ocasionada pelos outros, os de fora do bairro, que denigram a imagem local.

104
O trabalho e o emprego aparecem com elementos norteadores da segurança
interior dos indivíduos, de modo a salvaguardar e diferenciar o sujeito, pobre, morador
do bairro e trabalhador. O trabalho se coloca como gerador de conforto pessoal e
coletivo, que traz a perspectiva de engajamento para uma melhora na qualidade de vida
(KOURY, 2014b). O trabalho, ainda, aparece como elemento disciplinador do homem
comum pobre (KOURY, 1986), e conforma uma discussão moral onde o pobre e o
trabalhador se diferenciam pela sua disposição ao trabalho, o que dá sentido a
afirmações como “sou pobre mais trabalhador”.
No bairro da Ilha do Bispo, por exemplo, há uma hierarquização entre os
moradores, que diferenciam os “de lá”, aqueles mais pobres, bandidos, perigosos,
drogados, sujos e que não se dão respeito (KOURY, 2010). Estes, por sua vez, residem
no Cangote do Urubu, no Conjunto Frei Marcelino e no Condomínio Índio Piragibe,
áreas estigmatizadas dentro do próprio bairro, e da cidade. Há uma espécie de
superioridade dos moradores do bairro, os trabalhadores, pobres e honestos, em relação
aos “de lá”, aqueles mais pobres que habitam as áreas supracitadas. Esta noção afirma o
imaginário social de associação entre pobreza, violência e perigo. É elaborado, pelos
habitantes, um discurso para proteger o bairro e seus moradores dos estigmas e
estereótipos a ele imputados. A hierarquização contribui para a construção desse
discurso, onde o outro é apontado como o problema e o culpado pela imagem suja e
violenta do bairro.
Os moradores do bairro, no entanto, pouco se diferenciam, na situação econômica
e condição precária de vida, daqueles que moram nas áreas estigmatizadas. A
diferenciação se dá, sobretudo, pela ordem de antiguidade, com moradores que residem
no bairro há muito tempo, possuindo uma tradição no lugar (KOURY, 2005i).
O bairro da Ilha do Bispo é um dos mais antigos da cidade. Este bairro nasceu de
um povoamento próximo ao Cruzeiro da Graça, que, mais tarde, recebeu o nome de
Cruz das Almas. A partir desse povoamento se originaram os bairros de Cruz das Armas
e da Ilha do Bispo.
A Ilha é um bairro situado entre o rio Sanhauá e um de seus afluentes, com o
mangue como vegetação característica local. O bairro já passou por diversas
modificações até sua configuração atual, ocasionadas pelas transformações urbanas e
que resultaram na perda da paisagem natural do lugar, com aterros desordenados do
mangue para a construção de casas e vias expressas (idem, 2005i).

105
As transformações urbanas no bairro modificaram a sua feição estrutural natural e
fomentaram vários processos conflituais de perdas e reconstruções dos mapas
simbólicos, bem como de lutas, tensões e medos de novas investidas sobre o bairro, de
modo a modificar ou expulsar os moradores do seu lugar. Neste bairro sobrevêm formas
de sociabilidade baseadas na pessoalidade e vizinhança, com as ruas, as calçadas, os
bares, a praça e as igrejas como lugares de grande interação cotidiana pautada em laços
de solidariedade e amizade. Estes lugares são “pontos de referência comum, que
ampliam e sedimentam os laços de vizinhança, onde todos se conhecem e se sentem
entre iguais” (ibidem, 2005i, p. 5).
O bairro de Cruz das Armas, analisado por Souza (2003), por sua vez, apesar de
deter um forte comércio local que atrai os moradores, frequentadores e trabalhadores,
sejam eles do bairro ou de fora, possui uma imagem carregada de estereótipos e
estigmas diante da cidade devido à crescente onda de violência que assola a localidade e
contribui para o imaginário social do medo. Os moradores do bairro criam novas formas
de sociabilidade, relação e interação social entre si e com os demais bairros, buscando
driblar e amenizar os estigmas sobre a localidade.
Com o progresso e a modernidade, um novo espaço social se constitui, recriando
formas de sociabilidade entre os habitantes de Cruz das Armas. Formas novas de
sociabilidade que os permite conviver com a modernidade, o individualismo, a violência
e o medo que aos poucos vem assolando o cotidiano do bairro, de modo a não romper
totalmente com as relações tradicionais que fundam a sociabilidade local.
O bairro possui indícios de uma tradição relacional baseada na semelhança, no
pertencimento, nos mecanismo de solidariedade, de amizade, de compadrio, de
vizinhança, de reciprocidade e outros. No bairro há lugares heterogêneos onde existem
formas de relações permeadas pela individualização, a violência e o medo do outro
enquanto elemento de repulsa (SOUZA, 2003). Cruz das Armas possui uma realidade
heterogênea, sendo compostas por áreas mais elitizadas, áreas de intermédio e áreas
periféricas, que demonstram diversas formas de sociabilidades.
Na área elitizada do bairro de Cruz das Armas predomina as características do
mundo moderno, com o anonimato, a impessoalidade e o individualismo. É um local
composto por casas grandes com amplos mecanismos de seguranças, cercadas por
muros, câmeras de segurança e cercas elétricas.
Na área intermediária existem casas mais estruturadas, como também casas
simples, com relações sociais que se estabelecem de forma estreita entre os indivíduos.

106
Ocorre uma relação com os moradores das áreas periféricas através do trabalho e até da
amizade, com as ruas como um espaço de interação.
Na área periférica encontram-se as casas mais simples e a falta de infraestrutura
nas ruas. Nestas ruas existe uma intensa circulação e interação dos sujeitos. Esta é a área
mais carente do bairro, onde residem os indivíduos de baixa renda, sendo apontada
como o lugar que traz o estigma para a localidade, pois o outro, que desencadeia a
violência e a desordem, surge daquele ambiente, marginalizado.
Os moradores da área popular enfrentam essa nova realidade da modernidade
através do estreitamento das relações sociais, da busca do reconhecimento e do
compartilhamento dos códigos de pertença e semelhança para com o bairro e seus
habitantes. Estes moradores do bairro temem os marginais, mesmo não reconhecendo
esse temor e julgando estarem seguros no bairro. Preferem manter com os considerados
“marginais” uma estreita relação, para que todos possam conviver em paz, cada qual em
seu lugar.
O advento do progresso na cidade, decorrente da modernidade, sucedeu várias
reconfigurações ao bairro até sua conformação atual, de modo a constituir novos
espaços sociais e recriar novas formas de sociabilidades entre os habitantes do bairro de
Cruz das Armas. Estes sujeitos elaboram técnicas para conviver com a modernidade,
tentando não romper totalmente com as formas de relações tradicionais que fundam a
sociabilidade local baseada no sentimento de pertença e pessoalidade.
O bairro de Tambiá, analisado por Silva (2003), apesar de ser considerado um
lugar tranquilo, com pequenos índices de violência, é temido por ser rodeado por
favelas e ter uma grande concentração de comércio, que, segundo os moradores, atrai os
bandidos para a localidade. O comércio gera certa ambiguidade no bairro, pois é
considerado bom para o seu desenvolvimento econômico, atraindo mais atenção para o
bairro e dando ao mesmo maior visibilidade na cidade, mas, segundo a análise de Silva
(2003), atrai insegurança, devido à valorização imobiliária e à atração dos delinquentes.
Neste bairro existem os “delinquentes domésticos”57, estes são conhecidos pelos
moradores, que evitam relacionamento com eles, mas, também, mantém uma relação de
cordialidade como forma de se prevenirem de seus atos ilícitos (SILVA, 2003). A
violência urbana se mostra como um dos elementos que configura o sentimento de

57
Por delinquentes domésticos, Silva (2003) compreende aqueles sujeitos, em sua maioria jovens e
adolescentes, que residem no bairro e praticam atividades ilícitas. Estes sujeitos são conhecidos no bairro
e mantem uma relação tensa com os demais moradores, que conservam uma convivência cordial com os
delinquentes domésticos como forma de se preservarem dos seus atos ilegais.

107
insegurança e de impessoalidade, que fomenta mecanismos de segurança e estabelece o
imaginário social sobre o medo nos moradores do bairro.
Tambiá é composto por relações de semelhança e pessoalidade, onde parece
emergir, de forma mais lenta, elementos de impessoalidade e anonimato a partir da
chegada dos condomínios. Essa característica se dá, em grande parte, por ser um bairro
constituído por migrantes que vieram do interior do estado da Paraíba, conformando a
sociabilidade pessoalizada entre os moradores, comungando valores tradicionais e
afetivos (SILVA, 2003). Com o crescimento dos residenciais no bairro houve um
aumento da impessoalidade entre os moradores, devido à especulação mobiliária no
espaço que fomenta a racionalização das relações. Estas novas formas de moradia se
tornam uma espécie de prisão que salva da violência, passando uma imagem de
segurança, o que atrai cada vez mais habitantes citadinos.
Diferentemente dessa perspectiva de impessoalidade e individualismo nos
condomínios do bairro do Tambiá, a rua analisada por Cavalcante Filho (2005), – no
bairro de Mangabeira, – é rodeada de relações de amizade, de vizinhança e sentimentos
de pertença. Neste ambiente existem espaços de sociabilidade amplamente aproveitados
pelos seus moradores, sem desconsiderar, portanto, os investimentos em segurança que
modificaram o espaço físico do prédio e sua relação com o espaço público da rua, onde
o não morador é uma fonte constante de insegurança (CAVALCANTE FILHO, 2005).
Na rua analisada, as relações sociais encontram-se marcadas pela ambivalência de
formas de vida individualizadas e formas coletivas de convívio com relações de
vizinhança e de amizade, onde os moradores caracterizam positivamente as relações
entre si. O espaço social da rua toma uma função ambivalente que permite e induz à
convivência com os próximos que a compartilham diariamente, e a descoberta do outro
que não participa daquele cotidiano relacional, mas que se torna presente e provoca
estranhamento, receios e medo, pautando a ação através da tensão e do conflito entre
racionalidade e emoção (CAVALCANTE FILHO, 2005).
O sentimento de medo aumenta entre os moradores da rua nos dias festivos, pois é
quando o outro desconhecido adentra o seu lugar/espaço social para causar uma
desordem temporária, restaurada na tranquilidade dos dias sem festas. Os medos
relacionados com a marginalização e violência não se mostram frequentes nas falas dos
moradores, exceto quando associados aos dias festivos com maior circulação de pessoa
provenientes de outras localidades.

108
As ruas da cidade de João Pessoa, segundo Cavalcante Filho (2005) e Almeida
(2005), possuem duas conotações de uso: 1) um espaço social de convivência, sendo
apreendida como um ambiente de ampla interação entre os indivíduos através das
calçadas ou praças que propiciam o contato e a comunicação; e 2) um espaço
meramente de passagem, sendo utilizada para transitar a pé ou de automóvel com a
intenção de chegar a determinado lugar.
A rua trabalhada por Almeida (2005), no bairro Valentina de Figueiredo, é
utilizada pelos seus moradores e frequentadores como um espaço social de convivência
criando formas de sociabilidade local baseadas nos aspectos de semelhança e afinidade.
A rua é um espaço de intensa interação permeada de pessoalidade e tradição relacional,
que ocasiona um controle social face a face, o que motiva a solidariedade, mas também
o estranhamento e a desconforto em relação ao mecanismo de controle (ALMEIDA,
2005). Os moradores da rua encontram-se inseridos em um ambiente de pessoalidade e
afetividade, contudo a impessoalidade e a indiferença também se fazem presentes,
sendo apresentada, no caso dos inquilinos, que frequentemente alugam uma moradia na
rua, fomentando uma troca de estigmas entre os moradores permanentes e os novos.
Estes últimos são apontados como o outro que, geralmente, vem desordenar as normas
de convívio.
Os moradores desta rua mantêm laços de semelhança e pessoalidade entre os
moradores permanentes, onde o ambiente de pessoalidade indica o elemento da fofoca
como uma ambiguidade, que tanto conduz à sociabilidade, como também denota o
desconforto. O bairro de Valentina de Figueiredo, em seu contexto mais amplo, também
é alvo de estereótipos e estigmas no imaginário social do medo nos habitantes da cidade
como um todo. Isso ocorre porque o bairro abrange espaços considerados perigosos nas
estatísticas policiais e nos programas midiáticos, como as comunidades Torre de Babel
e outras. Os moradores do bairro se preocupam em elaborar um discurso positivo sobre
Valentina, e identificam essas comunidades como a causa para a imagem negativa do
bairro, sendo espaços periféricos que abriga o outro, fonte de perigo e violência.
De acordo com as análises dos estudos no interior da pesquisa MC, a cidade de
João Pessoa elabora cotidianamente – através da mídia impressa e digital e dos
relatórios de polícia – acusações, estereótipos e estigmas sobre seus bairros e ruas,
organizando-os em uma escala de mais ou menos violentos, o que contribui para o
imaginário social sobre o medo. Nesse processo se intensifica o conflito e a tensão nas
relações intrabairros, entre os bairros e com a cidade.

109
A mídia tem contribuído preponderantemente na formação social do imaginário
sobre o medo entre os moradores da cidade de João Pessoa (SILVA, 2003). A figura do
outro se coloca como fonte manifesta de perigo constante, de insegurança e de medo.
Esse outro construído e caracterizado pela imprensa através da figura do homem comum
pobre, como a causa da desordem urbana58.
A cidade de João Pessoa, de acordo com as análises das monografias construídas
no interior da pesquisa MC, está permeada de relações de conflito e estratégias de vidas
diversas que intercalam formas de sociabilidades pessoalizadas, impessoalizadas, de
semelhança e dessemelhança. Os bairros populares da cidade, porém, geralmente
sofrem de desigualdade social e de forte estigmatização em relação a alguns outros
lugares sociais.
Os bairros do Roger, analisado por Campos (2008) e do Varjão/Rangel, analisado
por Barbosa (2015), também sofrem estigmatização perante a cidade. Estes bairros
possuem relações com um grau amplo e profundo de tensão e conflito, sendo que no
Varjão/Rangel as interações e consequências são mais intensas que no Roger. Ambos
também compõem as áreas populares da cidade e sofre com estereótipos negativos que
atingem diretamente a identidade dos moradores dessas localidades.
O bairro do Roger intercala relações conflituosas de disparidade social aguçada,
vivências diferentes e estigmatizadas, imputadas pela cidade. O bairro é dividido no
imaginário dos moradores em “Roger de Cima” e “Roger de Baixo”, que acentua
aspectos infraestruturais, de formação história e de valores identitários, gerados por
estas fronteiras simbólicas (CAMPOS, 2008). A contradição entre Cima e Baixo tem
início, primeiramente, pelo aspecto geográfico do ambiente. Além disso, e, como
elemento mais simbólico, Cima e Baixo são contestados pelo elemento da urbanização

58
Os programas televisivos locais que veiculam notícias sobre a violência urbana na cidade de João
Pessoa possuem grande audiência e repercutem na vida cotidiana dos habitantes da cidade, de acordo com
a monografia de Veloso (2010). O que fomenta a constituição do imaginário sobre o medo. Estes
programas contribuem para o processo de construção de noções morais e da emoção medo nas relações
corriqueiras dos sujeitos, ampliando os sentimentos de medo e insegurança. O bairro de São José, por
exemplo, é um bairro que está, frequentemente, presente nos noticiários locais, sendo alvo de notícias
negativas e de comentários pejorativos sobre seus moradores. O bairro é apresentado, na monografia de
Veloso, bem como em Sousa (2004), como uma ameaça para os moradores de áreas circunvizinhas (como
o bairro de Manaíra e Tambaú) por ser uma comunidade identificada como fonte constante de
criminalidade, violência e perigo, tendo paralelos com o bairro de Mandacaru. Este último também é um
bairro periférico abordado como uma das fontes de perigo da cidade. Os moradores do bairro de São José
interpretam, assim, as notícias veiculadas sobre a localidade baseadas em noções de moralidade, que são
diretamente relacionadas ao medo, acabando por interferir nos valores atribuídos ao outro relacional.
Wanessa Veloso fez o seu TCC sob a orientação da Professora Simone Brito, no Curso de Ciências
Sociais desta universidade. Apesar de não fazer parte, diretamente, da pesquisa guarda-chuva MC, teve
uma interação bastante intensa com o GREM.

110
do bairro. O Roger de Cima é marcado por casas de classe média, cercadas de
mecanismos de segurança, por ruas organizadas e limpas, que revela um bom padrão de
vida, onde existe uma inclinação ao individualismo e anonimato, com relações
permeadas por impessoalidade, retraimento e dessemelhança. Os moradores da parte de
cima do bairro estigmatizam os que residem na parte de baixo, e se dizem possuidores
de um forte vínculo de tradição e pertença com bairro, diferentemente dos moradores da
parte baixa. O Roger de Baixo possui casas simples e uma maior sociabilidade baseada
na pessoalidade e nos laços de solidariedade e afetividade, bem como o
desenvolvimento do sentimento de pertença para com o lugar. A parte baixa do bairro
abrange espaços periféricos e de grandes estereótipos negativos, como a comunidade do
S, o lixão e as proximidades do presídio.
Os moradores subdividiram o bairro em grupos sócio-espaciais, enxergando uns
aos outros como diferentes e pertencentes a outro estrato social ou espaço físico. Esta
estratégia funciona como meio de se salvaguardar em relação aos aspectos e imaginários
negativos do bairro, além de fortalecer a estigmatização de certos espaços e grupos
sociais como causadores da desordem e fonte constante de perigo.
O bairro do Varjão/Rangel também vive este processo de disseminação de um
imaginário negativo imputado pela cidade em relação ao bairro, que causa um forte
estigma aos seus moradores. Este bairro é capturado pela mídia e pelos relatórios
policiais como perigoso, violento e sujo, aspectos que seus moradores tentam esquivar e
amenizar mediante os discursos sobre a positividade da localidade e de seus residentes
(BARBOSA, 2015 e 2015a). O Varjão/Rangel é um bairro que surgiu e cresceu através
do processo de ocupações realizadas através de redes de parentesco, amizade e/ou
vizinhança, que intensificam os laços de gratidão e confiança na solidariedade local.
Este processo tanto refunda laços rompidos como cria novos laços, com o acolhimento
de sujeitos não tão próximos (KOURY, 2016a). O bairro se desenvolve com base em
uma intensa pessoalidade e formas de sociabilidades baseadas na afetividade e
semelhança (KOURY, 2014e).
Existe, no entanto, uma tensão contínua no imaginário, na identidade e no
comportamento dos moradores do bairro, que é, ao mesmo tempo, Varjão e Rangel. O
Varjão é a denominação oficial, mas expressa aspectos negativos e classificados como
perigoso, sujo e de baixa moral, compreendido pelo morador como espaço dos
engraçadinhos e da violência. Enquanto que o Rangel é a denominação oficiosa, que
demarca uma pertença identitária, e integra a luta dos moradores pela sua

111
ressignificação como espaço societal que se agrega à lógica progressiva da cidade
(BARBOSA, 2015). O jogo de nomes e sentidos do bairro, - Varjão e Rangel, -
funciona como
“elementos de acusação ou justificação para narrar o próprio bairro e os
enfrentamentos cotidianos com os estigmas que o marcam [na sociabilidade
Varjão], bem como o seu contrário, o bom viver no bairro [na sociabilidade
Rangel]” (KOURY, 2014e, p. 527).
O uso dos dois nomes expressa as acusações e as justificativas dos moradores no que
diz respeito ao bairro e à sua relação de amor e ódio com o lugar.
Os moradores deste bairro guardam um ressentimento em relação à cidade e à sua
não distinção entre Varjão e Rangel, causando uma profunda humilhação à autoestima,
dignidade e honra daquele habitante. A internalização do estigma pelos moradores
fornece um espaço interacional pautado no medo de ser confundido ou associado com a
sociabilidade Varjão59.
O Varjão/Rangel é um bairro heterogêneo com diferentes padrões de vida e
moradia, mesmo assim os moradores do bairro como um todo revelam uma mesma
cultura emotiva pautada na intensa pessoalidade das relações, na vergonha, no estigma,
nas estratégias de evitação e de salvaguardar a face (BARBOSA, 2015). A confiança e a
confiabilidade se apresentam enquanto elementos significativos para a percepção dos
medos e da vergonha nesta localidade. A sociabilidade tensional do bairro é fruto, na
maioria das vezes, da intensa pessoalidade ali existente, que se articula com a forte
estigmatização.
O outro, na figura do Varjão, está sempre mais à frente e é constantemente
revisitado para explicar a violência, o perigo, a sujeira e os estereótipos que são
lançados sobre o bairro. Utiliza-se de estratégias para salvaguardar a identidade
individual e grupal nas interações com a cidade, bem como de precaver o sentimento de
pertença para com o bairro. O medo corriqueiro e a vergonha cotidiana se apresentam
como emoções basilares que estruturam a sociabilidade local.
Em uma primeira síntese, podemos compreender, - dentro desta análise
comparativa das áreas nobres e populares da cidade de João Pessoa, a partir do mosaico

59
Nesse processo de reconhecimento do nome Rangel, e os sentidos e significados que este carrega para a
imagem do bairro, acontece uma tragédia, conhecida como “chacina do Rangel” que coloca em cheque,
novamente, a imagem do bairro e dos seus moradores. Este caso, que teve grande visibilidade na mídia
local e nacional, traz à tona o extremo das tensões e dos conflitos ocasionados pela intensa pessoalidade
local (KOURY et al, 2010 e 2013). O ocorrido gerou ranhuras nos códigos morais do bairro e da cidade,
que fazem uso de estratégias de justificativas da ação moral.

112
composto pelos trabalhos da pesquisa MC, em processo de análise, - que os moradores
dos bairros populares procuram preservar sua identidade e suas relações sociais dentro
desta nova lógica modernizante, onde surgem novas formas de solidariedade pautadas
no imaginário social sobre o medo, mas tentando conservar certa tradição relacional. O
morador e dos bairros nobres, por outro lado, parece internalizar essa lógica
modernizante de individualismo e anonimato, se tornando um indivíduo melancólico. O
medo em ambos os casos, aparece como norteador das relações interindividuais, tanto
no que equivale à dessemelhança quanto à semelhança entre o homem comum no
urbano de João Pessoa, sendo o elemento organizador das formações societárias.

Análises dos parques e circuitos de lazer


Além dos bairros e ruas, a cidade de João Pessoa também é analisada na produção
MC através dos seus parques, como o Parque Sólon de Lucena, mais conhecido no
imaginário social da cidade como “Lagoa” (SILVA, 2006; KOURY, 2005a e 2005b); e
o Parque Arruda Câmara, mais conhecido como “Bica” (CAMPOS, 2008). Estes
parques são locais conhecidos e visitados da cidade por moradores de todos os bairros.
A Bica é um parque fechado onde funciona um pequeno zoológico da cidade, muito
frequentado pelos moradores da região e da cidade como um todo, localizado nas
proximidades do bairro do Roger, bem junto do Roger de Baixo, cujos moradores
utilizam como lazer, como passagem, como pequeno comércio ambulante.
No caso da Lagoa, ela possui um importante significado e carga simbólica para a
cidade e seus moradores, tendo se tornado um dos patrimônios e cartão postal da cidade.
O Parque Solon de Lucena é compreendido como um lugar que representa e apresenta a
capital paraibana (SILVA, 2006). Há uma relação estreita dos frequentadores com o
parque, de modo a evocar a memória e o sentimento de pertença para falar sobre o lugar
e sobre o viver a cidade.
Historicamente, o Parque Solon de Lucena foi construído na antiga Lagoa dos
Irerês, antiga periferia do centro urbano da capital. Em 1924, o governo municipal
instituiu o local como uma possível área de lazer da cidade, apontando para onde iria se
dirigir um dos primeiros processos de expansão da capital para a zona Sul. Sob um
projeto de Burle Marx, foi instituído o Parque Sólon de Lucena, através do Decreto de
Lei nº 110, de 1924. A sua forma urbanística só foi executada nos anos de 1930, com o
calçamento dos seus anéis internos e externos (KOURY, 2005a). A urbanização da
Lagoa foi realizada dentro de um ideal de disciplinamento, embelezamento e

113
saneamento básico, de modo a compor o discurso modernizador que vem sendo
implementado nas cidades brasileiras contemporâneas60.
O parque se localiza no centro da cidade, apreendendo, diariamente, um grande
tráfego de veículos e fluxo de habitantes, que se deslocam para o centro ou para outros
bairros da cidade. É parada obrigatória para os pedestres, trabalhadores, flanelinhas,
desempregados, a maioria das linhas de transporte coletivo e dos carros. A área possui
um grande e variado comercio formal e informal, serviços públicos e lojas de
departamentos, bem como é um espaço de pequenos delitos (KOURY, 2005a).
O parque é um lugar que possui diversas formas de ocupação e presença, sendo
palco de manifestações culturais, sociais e políticas. Ainda é um espaço de memória
afetiva, de pertença de amor e desamor, considerado um dos ambientes públicos mais
significativos da cidade. O desamor apontado pelos frequentadores se refere
as intervenções municipais que modificaram o projeto original do Parque e a
luta pela manutenção do seu desenho e estrutura ambiental, mesmo após o
tombamento pelo Patrimônio Histórico na década de oitenta do século
passado. Refere-se também ao crescimento acelerado da cidade desde as
últimas três décadas finais do século XX, com o aumento da intensidade do
trânsito no local, bem como a tentativa de desfiguração do local com o
alinhamento dos espaços de estacionamento de veículos e avanço nos
canteiros do Parque modificando o seu aspecto, ou por ter o Parque se
tornado um ponto de prostituição e ação de pequenos roubos. Refere-se
também ao estranhamento que sentem quando veem o Parque sendo utilizado
por pessoas ou grupos que parecem não se reconhecer. Pelo anonimato da
multidão que vaga pela área da Lagoa (idem, 2005a, p. 1).
O desamor se associa, ainda, à decadência do centro e dos equipamentos do
parque, do descaso e da insegurança local. Por outro lado, o amor para com o lugar
conota um sentimento de pertencer à cidade, e de ter em si o lugar, de modo a elaborar a
identidade da cidade e dos seus habitantes. O sentimento de pertencer ultrapassa o
desamor e o desagrado, onde as críticas se colocam como uma espécie de alerta e de
bem querer para com o parque (KOURY, 2005a, 2005b).

Considerações finais
Os bairros, as ruas e os parques da cidade não possuem uma vivência homogênea,
o que confere um papel importante ao conflito social na organização da sociabilidade e
na criação societária. Os bairros nobres possuem trechos e espaços fronteiriços com

60
Em 2015, com entrega em 2016, foi realizada uma nova intervenção urbanística na “Lagoa”, o que
ocasionou uma grande tensão e críticas ao projeto de “revitalização” deste Parque. O que intensificou os
sentimentos de amor e ódio do morador da cidade ao local.

114
áreas populares, em que estabelecem uma relação cotidiana, assim como os bairros
populares possuem áreas mais elitizadas, áreas intermediárias e periféricas. Deste modo,
o imaginário social do medo atinge a todas essas realidades sociais e estabelecem
interações cotidianas diretas ou indiretas envolta de tensão, conflito, mas também de
comunhão e concórdia.
A cidade de João Pessoa, – nessa conformação do mosaico da cidade através do
projeto MC, – no seu processo de transformação e modernização urbana, possibilitou o
contato entre uma diversidade de indivíduos de origens distintas e vindos de outras
partes da Paraíba ou de outros Estados da federação. Este contato originou novas formas
de sociabilidade e sentimentos de apreensão e medo (KOURY, 2005d). A aproximação
entre essas diversas vivências e realidades tem provocado o medo e o estranhamento no
imaginário social do homem comum urbano da cidade.
O medo do outro se revela em todas as formas de sociabilidade no urbano
contemporâneo, responsável por configurar e reconfigurar as formações societárias.
Este outro é geralmente apontado sob a figura do homem comum pobre, que apresenta
uma condição socioeconômica inferior ao ator da fala. O medo parece pouco se
diferenciar entre os moradores da cidade de João Pessoa. O que diferencia, pois, é a
base social, a história e a condição de existência do sujeito, que configura a forma como
cada indivíduo e grupo apreendem o medo e organizam suas relações cotidianas a partir
dele.
O medo da violência urbana se coloca, geralmente, como o mais citado entre os
moradores da cidade, que retornam à memória afetiva e relembram saudosamente o
passado tranquilo, amigável e de cordialidade que existia na vivência pautada nos laços
tradicionais de semelhança e pessoalidade. Laços estes que foram aos poucos
modificados com o processo de modernização e transformação urbana da cidade. O
saudosismo é apresentado em relação ao rompimento de alguns laços fraternos e
relações sociais que hoje se mostram para eles sob o medo constante do outro.
A violência vai tornando-se cada vez mais visível na cidade com o advento da
modernidade, se apresentando como elemento significativo na/para a construção do
imaginário social sobre o medo da cidade de João Pessoa. Neste mosaico científico
sobre a cidade de João Pessoa, a imprensa coloca-se como um instrumento que banaliza,
mas também reforça, através das reportagens, essa violência urbana, além de montar a
figura do outro como fonte manifesta de perigo constante.

115
Essa configuração da cidade provoca no morador o acesso à memória, se apoiando
em uma visão nostálgica e saudosista do bairro onde mora, (re)lembrado como um lugar
de iguais, com laços afetivos baseados nas relações tradicionais de vizinhança, amizade,
consanguinidade e semelhança. Elementos do passado e do presente se apresentam
como comparação permanente na construção, nos desejos e nos anseios do futuro. O
passado é posto como uma vivência idealizada de um momento bom que se perdeu em
relação ao presente. Presente este apreendido através do medo, tanto no hoje como na
projeção do futuro (KOURY, 2007c e 2008).
O homem comum urbano da cidade de João Pessoa conceitua a noção de medos,
enquanto medos corriqueiros. Esta conceituação se faz a partir das suas vivências no
ambiente social em que está situado, por onde enxerga a realidade social da cidade, a
partir dos seus bairros, ruas e parques (KOURY, 2007, 2007c e 2008).
Em um balanço compreensivo da pesquisa MC, apreendendo a totalidade da
cidade, Koury (2008) realizou uma análise comparativa com o objetivo de desvendar De
que João Pessoa tem medo?, como informa o título do livro. Discute os medos,
imaginários ou reais, expressos pelo homem comum urbano habitante da cidade.
Segundo a análise proposta por Koury, (2008, p. 148) “o medo em João Pessoa [...]
parece construir uma cultura de fechamento ao outro, de olhar o estranho com suspeita,
de evitar contatos que não os impessoais”. Ainda de acordo com o autor,
o sentimento da cidade, porém, como um todo, é o de fragmentação das
relações sociais. Principalmente entre os moradores mais antigos de classe
média e média alta que viram os seus bairros ser remodelados e sofrerem
intervenções que, se melhoram a infraestrutura e a circulação, por outro lado,
dificultam as relações entre vizinhos e as relações de proximidade e de
conhecimento que tinham a alguns anos atrás e que relatam em suas
memórias. Mas, os moradores dos bairros populares, antigos da cidade, como
por exemplo, Varadouro e Tambiá, também, se ressentem do abandono (caso
de Varadouro) ou das remodelações recentes (Tambiá) que provocaram e
ainda continuam a provocar rupturas nas redes de relacionamento e de
vizinhança (KOURY, 2008, p. 143).
A cidade de João Pessoa, – de acordo com o mosaico científico traçado pelo
projeto guarda-chuva MC, – vem sofrendo um lento processo de urbanização. Processo
este que foi tecendo reconfigurações socioespaciais, culturais e emocionais, que
constituem as novas formas de sociabilidade local, principalmente a partir da década de
1970. Processo este pautado em um crescente individualismo e anonimato, em
ambivalência com os processos de pessoalidade e semelhança. O medo na cidade de

116
João Pessoa, no mosaico proposto, norteia a vida cotidiana dos habitantes citadinos,
estabelecendo e reestabelecendo às relações sociais interindividuais, tecendo novas
sociabilidades, adaptando e rompendo outras.

117
Conclusão

Este trabalho se buscou apreender a construção teórico-metodológica do GREM,


enquanto esforço analítico de um campo científico no interior das ciências sociais,
especificamente a antropologia e a sociologia das emoções na academia brasileira. Nele
se realizou uma memória e uma análise institucional do GREM com base na produção
acadêmica do projeto MC entre os anos de 1999 a 2016. Projeto que se insere na linha
de pesquisa Emoções e Sociabilidade Urbana e se debruça sobre a cidade de João
Pessoa, enquanto universo sistemático de análise.
A necessidade de desenvolver um balanço compreensivo sobre a produção do
projeto MC caracteriza o objetivo central deste TCC, que busca desvendar a trajetória
temática, teórica e metodológica do projeto, de modo a identificar e discutir como a
cidade de João Pessoa vem sendo apreendida e analisada pelo projeto. Esta discussão
constrói a imagem de um mosaico científico (BECKER, 1993) da cidade de João Pessoa
sob a ótica dos medos e dos medos corriqueiros.
Este trabalho mergulhou na memória institucional (AYELLO et al, 2008) do
GREM como forma de elaborar uma análise compreensiva sobre a totalidade do projeto
MC, e, assim, desenvolver uma avaliação crítica da produção acadêmica do projeto e do
GREM como forma de analisar o processo de surgimento, desenvolvimento e
complexificação teórico-metodológico do projeto de pesquisa MC. A memória
institucional do grupo foi acessada através do levantamento, mapeamento, leitura e
fichamento da produção, em que se corporifica a sua trajetória acadêmica. Esta análise
da memória do GREM foi feita com ênfase no projeto MC, que possibilitou desvendar a
trajetória conceitual e teórico-metodológica do grupo a partir da perspectiva do projeto.
O projeto em análise é uma pesquisa guarda-chuva que apreende vários
subprojetos no seu interior. Subprojetos estes que se desenvolvem em suas
particularidades e caminhos temáticos, teóricos e metodológicos autônomos. Por outro
lado, os subprojetos são interdependentes entre si e compartilham da temática e do
arcabouço teórico-metodológico geral do projeto guarda-chuva. Os subprojetos se
colocam em constantes diálogos e cruzamentos uns com os outros, de modo a constituir
a totalidade do projeto MC.
Estes subprojetos se configuram como uma etnografia cooperativa (HANNERZ,
2015), visto que contribuem para conexões e discussões sobre a totalidade do projeto

118
MC e do universo de pesquisa analisado, a cidade de João Pessoa, assim como com a
totalidade dos estudos e pesquisas em desenvolvimento no GREM. Os trabalhos são
apreendidos enquanto estudos específicos que, em interdependência com os demais,
traçam uma rede de conhecimento e cooperam para a leitura contextual do todo
analisado.
Os subprojetos atuam de forma cooperativa, onde o conjunto da produção integra
uma rede analítica que constitui a trajetória teórico-metodológica do projeto MC, em
sua totalidade. Elaboram a configuração guarda-chuva do projeto, que se consolidou e
se desenvolve em diálogo e em cooperação com os subprojetos, de modo a compor uma
contextualização do projeto e do universo sistemático ao qual ele se debruça, a cidade
de João Pessoa.
Esta etnografia cooperativa (HANNERZ, 2015) que constitui o projeto MC
elabora um mosaico científico (BECKER, 1993) da capital paraibana sob a perspectiva
dos medos corriqueiros. O mosaico da cidade pôde ser construído por ser uma pesquisa
solidária, onde os trabalhos, que são singulares e, ao mesmo tempo, coletivos, cooperam
e compõem uma rede de conhecimento sobre a cidade e o projeto.
O mosaico da cidade de João Pessoa comporta uma leitura contextual analítica da
urbe, ampliando o conhecimento sobre o universo de pesquisa analisado pelo conjunto
da produção do projeto MC. Esta ampliação se dá pelo fato da produção medos
corriqueiros dialogar em sua totalidade, o que expande a análise da e sobre a cidade,
proporcionando uma leitura do todo.
Analisar a produção acadêmica do projeto MC é se inserir na memória
institucional do GREM e compreender a sua dinâmica e trajetória acadêmica, bem como
a maneira como o grupo apreende e recorta a cidade de João Pessoa nos seus estudos.
Este grupo de pesquisa desenvolve seus trabalhos sobre a relação entre emoções, cultura
e sociedade, e se debruça na análise da lógica do cotidiano, da cidade e das emoções. De
modo a entender as formas de sociabilidade no/do urbano contemporâneo e discutir as
relações sociais no/do cotidiano do homem comum urbano brasileiro.
A produção MC, neste sentido, toma como enfoque analítico as formas de
sociabilidades urbanas emergentes na modernidade, sob a problemática do medo na
contemporaneidade, de modo a discutir e compreender a construção do imaginário
social do medo do homem comum urbano brasileiro. O medo, - enquanto medos
corriqueiros, - é visto como uma das forças motivadoras do social que organiza as
formações societárias (KOURY, 2002, 2002a e 2002b).

119
Os medos e os medos corriqueiros se apresentam como elementos organizadores
do espaço societal e demonstram as teias de significados que o homem comum lança à
cidade. Bem como informam os códigos de condutas e as interações interindividuais a
partir do imaginário social do medo (KOURY, 2008). Neste sentido, analisar a cidade
de João Pessoa sob a ótica dos medos corriqueiros significa analisar e discutir as formas
que a cidade pode assumir através do imaginário social do medo, que caracteriza as
formas de sociabilidade urbana.
O projeto MC apreende a cidade em seu aspecto interacional, sendo estudada
através do seu sistema simbólico, como um lugar que compreende espaços sociais de
interações individuais e grupais que tecem formas de sociabilidades, pertença, memórias
e história. A cidade é vista como “uma complexa rede de conflitos e solidariedade onde
se processam as trocas materiais e simbólicas de indivíduos relacionais em jogo
comunicacional” (BARBOSA, 2015b). Este projeto de pesquisa comporta uma visão
contextual da cidade de João Pessoa, identificando as formas de sociabilidade que nela
se desenvolve sob a ótica dos medos corriqueiros.
João Pessoa, na análise do projeto, é uma cidade que sofre um processo de
modernização e transformação urbana que modifica as suas formas de sociabilidade.
Esta modificação se dá devido à emergência de uma nova sensibilidade urbana que
mescla elementos tradicionais e modernos, mas que acaba por romper com alguns laços
afetivos da solidariedade tradicional, aumentando a individualização nas relações
sociais. Ao mesmo tempo, a cidade também vivencia formas de sociabilidade pautadas
em uma solidariedade afetiva, identificadas nos bairros populares, onde se desenvolve a
pessoalidade e a semelhança, com uma intensa interação na esfera pública. Os medos
corriqueiros, portanto, norteiam a vida do homem comum urbano, de modo à
(re)configurar as formas de sociabilidade e uso do espaço público.
A produção acadêmica do projeto MC é um acervo de conhecimento científico
sobre a cidade de João Pessoa. Esta produção apreende elementos do passado e do
presente da cidade, alguns já perdidos, que guardam e acumulam conhecimentos,
circunstâncias, personagens, lugares e tantos outros componentes que foram se
perdendo ou se modificando com o advento da modernidade na cidade. Elementos estes
que sobrevivem na produção e na memória daqueles que os vivenciaram. A análise
desta produção possibilitou a compreensão da trajetória teórico-metodológica do projeto
MC, e a apreensão da cidade de João Pessoa e do seu cotidiano, de modo a construir o
mosaico sobre a cidade.

120
A produção MC produz um mosaico científico da compreensão processual e
contextual da cidade de João Pessoa a partir da perspectiva dos medos e dos medos
corriqueiros, abarcando, com isso, as fronteiras simbólicas no urbano, os sentidos de
estranhamento e de pertença em relação ao outro próximo, as estratégias individuais e
coletivas de evitação de riscos e perigos reais e imaginários, as classificações e
hierarquizações morais e emocionais dos lugares e tipo urbanos, entre outros. Esta
produção em cooperação, de cunho fortemente etnográfico, contribui sociológica e
antropologicamente para a análise da cidade enquanto cotidiano de tensões e disputas
morais, de inadequações e ajustamentos intra e interbairros, de controle social e
constrangimento de indivíduos e grupos, permitindo pensá-la através da conexão dos
seus bairros, ruas e parques como uma sociabilidade urbana integrada e em processo
histórico de produção de projetos, memórias e culturas emotivas.
O mosaico científico que o projeto MC constrói sobre a cidade, assim, se
apresenta como uma contribuição para a Antropologia e a Sociologia Urbana que se
desenvolve na UFPB e na academia em geral. Esta produção elabora um mapa
simbólico das novas sensibilidades emergentes na cidade de João Pessoa durante o
século XX sob a ótica dos medos corriqueiros, enfatizando, assim, a emergência de
novos modos e estilos de vida nos bairros nobres e populares da cidade, em que se
percebe um afrouxamento das tradições provincianas e a consolidação de códigos
morais e de etiquetas mais impessoalizados, pautados na crescente privatização das
emoções. Onde a noção de progresso se apresenta de maneira ambivalente na cidade, de
modo a se apresentar enquanto aspiração de futuro e, ao mesmo tempo, como receio e
envergonhamento dessa modernização, que rompe com alguns códigos morais e
emocionais baseados em uma tradição relacional.
A produção MC, deste modo, compõe um mosaico sociológico e antropológico da
cidade de João Pessoa em processo de modernização da paisagem urbana e de
individualização dos modos e estilos de vida, permitindo compreendê-la a partir das
suas particularidades e da dinâmica da sua constituição contextual. Comporta o processo
de transformação urbana pela qual a cidade passou e vem passando, bem como suas
(re)configurações sociais e emocionais, norteadas pela nova sensibilidade urbana que
emerge, principalmente, nas décadas de 1970.
O mosaico da cidade de João Pessoa, portanto, aponta para uma análise
sociológica e antropológica dos processos de modernização dos espaços, lugares e
relações da cidade conduzida pela elite dominante com o objetivo de controle e

121
enquadramento moral e emocional da pobreza urbana. Processos estes que
transformaram as formas de sociabilidade da cidade. O mosaico da cidade de João
Pessoa produzido pelo GREM nestes 17 anos abarcados pelo projeto de pesquisa MC
contribui, em síntese, para a análise compreensiva da cidade, do urbano e do urbanismo,
principalmente, a partir do campo de estudo das emoções.

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