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Volume 9 - Número 22
maio / ago. 2014
ISSN 1980-9700
ISSN on-line 2175-2613
Periodicidade quadrimestral
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Biblioteca “Sydnei Antonio Rangel Santos”
Universidade Tuiuti do Paraná
ISSN 1980-9700
ISSN on-line 2175-2613
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Instituto Paulo Freire.
13 Apresentação
Lúcia Schneider Hardt
Neiva Afonso Oliveira
Rosana Silva de Moura
Organizadoras
Entrevista
Boa leitura!
Fausto dos Santos Amaral Filho
Editor
Iêda Vianna
Editor Adjunto
Resumo
O artigo acompanha e descreve a atividade do GT-Filosofia da Educação, da
ANPED analisando sua contribuição para a constituição do campo disciplinar
específico da área. Após resgatar o balanço já feito da produção acumulada
do Grupo, busca demonstrar como essa produção realiza os requisitos
necessários para a constituição do campo disciplinar específico da Filosofia
da Educação e debate os desafios ainda postos à área, argumentando que
tais desafios se concentram na implementação da exigência da teoria para se
pensar a educação. A área disciplinar é proposta então a ser constituída como
abordagem simultaneamente epistemológica, axiológica e antropológica da
educação como prática historicossocial.
3 Com formação básica em Filosofia e Pedagogia, Joel Martins fez o mestrado nos Estados
Unidos e o doutorado em Psicologia no Instituto de Psicologia da USP, voltando aos EUA para
um pós-doutorado na Universidade de Michigan. Passa um período também na França,
tendo frequentado cursos de Merleau-Ponty, dedicando-se então, também à fenomenologia.
No seu retorno definitivo ao Brasil, atua no CRPE, com Fernando de Azevedo, a convite de
Anísio Teixeira. Tem assim a oportunidade de vivenciar as iniciativas pioneiras da pesquisa
educacional no Brasil, formando uma visão abrangente da problemática da educação
nacional. Ao vincular-se, posteriormente, à PUC-SP, após o estágio na Europa, Joel Martins
vai exercer um papel de grande relevância na consolidação do projeto acadêmico dessa
Universidade, atuando na vida universitária como docente do curso de Psicologia, como
fundador e coordenador do Setor de Estudos Pós-Graduados e, finalmente, como Reitor
da Universidade, função na qual veio a falecer em 1993.
22 Cadernos de Pesquisa: Pensamento Educacional, Curitiba, v. 9, n. 22, p.21-42 maio/ago. 2014.
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A constituição do campo ... - Antônio Joaquim Severino
O balanço já feito
Preocupadas fundamentalmente com “as questões que
atravessam o campo da Filosofia da Educação, sobretudo as que
dizem respeito à dimensão do ensino e da identidade desta área
de conhecimento, as autoras do primeiro documento fazem um
levantamento da produção científica do GT, ao longo dos seus
primeiros onze anos de atuação e procuram caracterizar os trabalhos
pela vinculação de seus autores e pelas temáticas presentes,
ausentes e emergentes bem como pelos filósofos mais referidos
nesses trabalhos. Mas as análises e reflexões das autoras vão além
da abordagem dos trabalhos em si do GT, expandindo-as para uma
discussão mais ampla sobre a situação do conhecimento da Filosofia
da Educação em nosso contexto nacional, destacando os embates e
debates que povoam o universo da produção específica da área.
Destacam as autoras que as temáticas mais enfatizadas entre
os 155 trabalhos analisados foram aquelas “que procuram fazer uma
articulação entre os campos da filosofia e da educação, sobretudo,
a partir da ótica de um pensador ou filósofo (...)” de tal modo que “
a filosofia é menos entendida como forma de abordagem ou modo
específico de pensar, do que como a explanação das ideias de um
determinado pensador” ( p. 69). As temáticas que sobressaem em
seguida são aquelas “ligadas à dimensão epistemológica da educação,
evidenciando uma preocupação com a produção do conhecimento,
sobretudo com o debate acerca do pensamento científico moderno e
pós-moderno, seguidas de temáticas ético-antropológica e político-
social, que tratam de questões relativas ao indivíduo e à sociedade”
(p. 70). Quanto às temáticas ausentes, as autoras referem-se às
relações entre estética e educação, à filosofia analítica e à lógica
e ao pensamento filosófico brasileiro e latino-americano. Já como
temáticas emergentes, assinalam a questão do ensino da filosofia
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A constituição do campo ... - Antônio Joaquim Severino
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A constituição do campo ... - Antônio Joaquim Severino
Resumo
O artigo discute as correntes pedagógicas atuais que sobrevalorizam
as questões prático-empíricas da Educação em detrimento da reflexão
teórica. Aponta o modo como a Educação foi se deixando conduzir por
uma mentalidade científico-objetiva e em prol de uma tendência de separar
o espaço de reflexão da prática educativa e sugere uma reorientação da
práxis pedagógica em direção a uma hermenêutica pedagógica. A Filosofia
da Educação, por meio das filosofias clássicas, com a de Sócrates, Platão e
Kant é o fio condutor de argumentação principal do texto.
Terceiro: quem não deseja poder contar com o solo firme de um saber
bem fundamentado em sua atuação profissional? Essa questão
retórica aponta para uma tensão intrínseca às Ciências Sociais
e Humanas, caracterizadas pelo fato de o próprio pesquisador
fazer parte integral do tema a ser investigado, embora o objetivo
a alcançar – que é o de chegar a resultados de validade geral –
deva manter-se inteiramente independente da individualidade de
sua pessoa. Tal como o historiador em relação à história por ele
interpretada, ou o jurista, que pertence ao contexto institucional
que delimita o seu julgamento, o pedagogo também faz parte
do ambiente social de sua área de atuação, sendo-lhe impossível
distanciar-se dele. Devido a essa dificuldade e como cada atuação
pedagógica implica sempre em uma intervenção social, eis que,
para garantir uma postura epistemológica dita ‘objetiva’ que
anule os fatores de influência pessoal, a maioria dos pedagogos
prefere recorrer aos fenômenos empíricos, tomando-os como
material de seu trabalho. Assim procedendo, pensam estar
ganhando o solo firme onde colocarão o fundamento de sua
atuação pedagógica, além do consequente reconhecimento da
comunidade científica. É essa adesão ao ideal de objetividade,
que vem há muito reforçando a tendência prático-empirista na
Pedagogia, que se verifica, infelizmente, entre a maioria dos
pedagogos e que nociva é, uma vez que distorce o acesso desses
profissionais ao seu campo de atuação.
3 No Brasil, vale mencionar, em primeira linha, o ENEM, cujos resultados tornam-se uma
porta de entrada no ensino do 3º grau.
4 Quem conhece as avaliações feitas pela CAPES, um órgão do Ministério da Educação,
entende perfeitamente as reservas que método de avaliação está causando, pois abre
caminhos para “politicagens científicas”.
Cadernos de Pesquisa: Pensamento Educacional, Curitiba, v. 9, n. 22, p.43-64 maio/ago. 2014.
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Na contramão das atuais correntes... - Hans-Georg Fickinger
9 Sua origem com Jeremy Bentham e John Stuart Mill evidencia o vínculo dessa ética com
o surgimento da classe burguesa na época do desdobramento do capitalismo da primeira
fase.
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Na contramão das atuais correntes... - Hans-Georg Fickinger
Abstract
The text discusses contemporary pedagogical currents that overestimate
practical-empirical questions of Education in favour of theoretical reflections.
Indicates the way how Education let itself be guided by a cientifical and
objective mentality and on behalf of a tendency of aparting reflection’s
space from educative practice. The text suggests a shift in the direction
of pedagogical praxis toward a pedagogical hermeneutics. Philosophy of
Education by means of classical philosophies, such as Socrates’, Plato’ and
Kant’s philosophies is the text’s main argumentation connection.
Resumen
El artículo trata de una posible interpretación de la filosofía de la educación
a partir de la lectura de la Filosofía antigua del último Foucault. Sobre todo
de la carta séptima y el Alcibíades I de Platón, siendo un concepto central
en este intento, el de ejercicio espiritual.
Sócrates con sus discípulos), muy adecuada para aplicar a los tiranos
o todas las personas que creen ser filósofos pero no lo son. A estas
personas precisamente, nos dice Platón, hay que explicares en toda
su extensión lo que implica una obra filosófica (340 c-e). La vida
filosófica, deberíamos decir, es un modo de vida que abarca desde
el mundo de las ideas, los conceptos, hasta la transformación en
relación a las cosas más cotidianas. Todo se refleja en un sujeto que
ha buscado y trabajado para ser un filósofo y no en una persona
común. Y esto requiere mucha autodisciplina, esfuerzo, elecciones y
un “sistema de vida cotidiana”. Ocurre que los tiranos (y los filósofos
“no verdaderos”), cuando ven que hay tanto para aprender, tanto
esfuerzo para hacer, tanta moderación que se exige para la vida
cotidiana, entonces rechazan esta clase de vida y se autoconvencen
de que ya han aprendido demasiado y no necesitan más esfuerzos.
La filosofía implica, y es, ejercicio espiritual. No se accede a la
filosofía sólo por tener una actividad intelectual, aunque también la
implica esto. La filosofía supone ciertas prácticas que los tiranos y otros
no son capaces de llevar a cabo para entrar en su camino que es una
forma de vida, una manera de ser y estar en el mundo. La Filosofía
como ejercicio espiritual es a prueba de tiranos y de no verdaderos
filósofos o es donde no penetra el barniz filosófico de ellos.
Dice Platón: “Ésta es una prueba evidente e infalible cuando se
trata de personas dadas a los placeres e incapaces de hacer esfuerzos,
de modo que no pueden acusar al maestro, sino a sí mismos, cuando
no son capaces de seguir todas las prácticas necesarias para la
actividad filosófica” (341e). El tipo de enseñanza y aprendizaje
filosófico no es susceptible de ser enseñado como otras ciencias.
Ya lo decía Sócrates en relación a Alcibíades en Alcibíades I, no se
trata de desparramar el contenido del saber en un recipiente vacío
(se parece al concepto de educación bancaria de Freire). En este
momento de la carta VII aparece un texto maravilloso donde se da
el encuentro del sujeto con la comprensión de tipo filosófico a partir
de una vida filosófica:
Desde luego, no hay ni habrá una obra mía que trata de estos
temas; no se pueden, en efecto precisar como se hace en otras
ciencias, sino que después de una larga convivencia con el problema
y después de haber intimado con él, de repente, como la luz que salta
de la chispa, surge la verdad en el alma y crece ya espontáneamente
(341d).
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La filosofia de la educación como ejercicio... - Andrea Díaz Genis
algo que nos parezca podamos afirmar sin más. Por otra parte,
suponer que las transformaciones intelectuales no inciden en nuestra
voluntad, sentimientos, emociones, que no transforman nuestra
vida, es suponer una idea de lo “intelectual” muy reduccionista.
Encontramos y seguiremos encontrando muchas personas que hacen
de su profesión un modo de vida. Hay muchos ejemplos de existencia,
que a partir de una fuerte pasión o vocación literaria, filosófica,
artística, científica, etc. han transformado su vida en cierto sentido.
Más allá de esto, prestar más atención a la educación del sí mismo,
o pensar más profundamente en las implicancias que toda educación
produce en la subjetividad y en la vida de los sujetos, es una cuestión
más que importante. Pensar también la relevancia de introducir la
educación en la vida y la vida en la educación, generar hábitos,
disposiciones subjetivas, formas de mirar el mundo y mirarnos a
nosotros mismos, que tengan como finalidad un ethos, es también
una cuestión más que importante para hacernos concientes.
Si se forman seres humanos, tenemos que pensar para qué los
formamos y no los formamos solo para un mercado de trabajo, sino
para ser humanos en un cosmos, en una comunidad, para ser seres
humanos consigo mismos y con los otros. Si decimos que queremos
sujetos libres, autónomos, “felices” entonces debemos pensar
seriamente para qué tipo de subjetividades y formas de estar en el
mundo educamos, para qué relación de los sujetos consigo mismos
y con los otros educamos.
¿Qué tipo de subjetividad promovemos?, pues siempre
promovemos algún tipo de subjetividad, cuando formamos por ejemplo,
para la competencia y no para la colaboración o solidaridad ¿Qué valor
le damos al error sobre el acierto en la educación?, cuando formamos
para la autocorrección y evaluación continua, y no para descartar sujetos
exitosos que acierten y se separen de sujetos que supuestamente fallan
o se equivocan o simplemente no saben. Ya sea como curriculum oculto
o como tema transversal pero invisibilizado, en todo estilo de educación
se forman sujetos y se forjan parámetros que transforman modos de
vida. Pensar para qué sujetos y para qué forma de vida educamos,
implica también repensar nuestra filosofía educativa para un ethos
determinado. No se trata de replicar las formas antiguas, sino de pensar
más profundamente la formación humana. Pensar cómo transformamos
la subjetividad a través de la educación, cómo toda educación implica
una formación de sí mismo a través de ejercicios y prácticas que nunca
Cadernos de Pesquisa: Pensamento Educacional, Curitiba, v. 9, n. 22, p.65-78 maio/ago. 2014.
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La filosofia de la educación como ejercicio... - Andrea Díaz Genis
Abstract
The article is about a possible interpretation of the philosophy of education
from reading the old philosophy of the last Foucault. Especially the seventh
letter and Alcibiades I of Plato, being a central concept the formation of
mankind, psychgogy, the spiritual exercise.
Referências
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Siruela, 2006.
FOUCAUT, M. La hermenéutica del sujeto, México, FCE, 2006.
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______. Alcibíades I. Madrid: Gredos, 1992.
Resumo
O presente artigo trata da escola, grande máquina de vigilância da
modernidade, produto de um longo processo histórico que a coloca como
o lugar privilegiado, exclusivo e legitimado de saber. É o local onde, através
do ato de educar, os sujeitos são tirados de seu estado de selvageria.
Num primeiro momento, o artigo analisa a escola enquanto instituição
disciplinar, principalmente quando surgem, nos séculos XVII e XVIII, as
chamadas disciplinas, cujo objetivo era tornar a criança um corpo dócil e
útil ao corpo social, e a forma como estas vêm sendo utilizadas no campo
da Educação. Num segundo momento, trata da transição da sociedade
disciplinar para a sociedade de controle. Por fim, defende que a solidez
moderna está dando lugar à liquidez pós-moderna. A sociedade disciplinar,
que buscava a estabilidade através da disciplina e da docilidade dos corpos,
está dando lugar à sociedade de controle, de modo que a escola está cada
vez menos preocupada com a produção de corpos dóceis e mais ocupada
com a fabricação de corpos flexíveis, corpos que saibam jogar o jogo do
livre-mercado.
Introdução3
— “Que menino sem educação! Não tem respeito por
ninguém.”
— “Seu mal-educado, onde já se viu comportar-se dessa
maneira? É essa a educação que trazes do colégio?
Acaso é isso que te ensinam lá?”
— “Faço das tripas coração, mas hei de matricular meus
filhos naquela escola. Lá a disciplina é rígida e eles vão
ser alguém na vida.”
escola age como dispositivo para instituir o que pode ser dito,
feito ou pensado. Segundo Foucault (1995), resulta também das
disposições disciplinares o sujeito ser dividido no seu interior
e em relação aos outros. Nessa perspectiva, o processo de
disciplinarização transmitido pelas escolas objetiva assegurar a
ordenação das multiplicidades humanas.
No seu estudo genealógico,ao tratar do nascimento das
sociedades disciplinaresnos séculos XVII e XVIII, Foucault
demonstra as profundas conexões dos saberes (especialmente
aqueles das ciências humanas) com o poder;nesse mesmo
contexto, argumenta que as disciplinas estão ligadas aos regimes
de verdade, ou seja, as disciplinas não apenas engendram
determinadas maneiras de perceber o mundo e de atuar sobre ele,
mas, sobretudo, separam o que é considerado verdadeiro daquilo
que não o é.O objetivo do poder disciplinar não é apropriar-se
violentamente de um corpo para dele extrair energia, afeto,
submissão e trabalho, mas é, sim, adestrá-lo, tornando-o dócil
e útil para o corpo social. Logo, o poder disciplinar faz de uma
punição uma ação racional, calculada e, por isso, econômica.
A escola, máquina de governamentalidade, constitui-se em
um espaço de governo da alma dos sujeitos, operando a partir de
sua subjetividade, amparadano poder que a sustenta. As teorias
psicológicas, fortemente presentes na escola, administram e
governam a alma das crianças de uma forma aparentemente
livre, mas que não a separa das mais profundas relações de poder.
Além disso, a escola foi inventada para disciplinar e governar os
sujeitos modernos, dispensando o uso da violência, valendo-se de
métodos sutis de persuasão, que agem de forma indireta sobre
suas escolhas, seus desejos e sua conduta, deixando o sujeito
“livre para escolher”, mesmo que constantemente envolvido por
normas que o aprisionam à própria consciência.
Como sabemos, a partir do século XVII, a escola constituiu-
se como a mais eficiente maquinaria encarregada de fabricar
as subjetividades. Hoje, no entanto, boa parte da subjetividade
operada na e pela escola deslocou-se para o espaço social mais
amplo ou, mesmo ainda ocorrendo no espaço escolar, deixou
de contar com aquele tipo de poder e aquelas práticas (ou
tecnologias) para a fabricação de sujeitos. Convém, pois, que
acompanhemos mais atentamente esse deslocamento.
Cadernos de Pesquisa: Pensamento Educacional, Curitiba, v. 9, n. 22, p.79-94 maio/ago. 2014.
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A microfísica dos... - Kelin Valeirão e Avelino da Rosa Oliveira
4 Comenius é a forma latina do nome checo (Jan Amos) Komenský. Comenius foi um
bispo protestante, pertencente à seita Unidade de Irmãos Moravos. Embora tendo sido
influenciado por autores representantes do mais avançado luteranismo alemão, não era
completamente de acordo com todas as suas teses: absorveu do luteranismo a consciência
quanto à necessidade de reformar profundamente o ensino, no entanto, divergia no tocante
às suas soluções políticas, bem como em relação a seu profundo pessimismo quanto à
natureza humana. Imbuído de um ideal do tipo pansófico, é considerado o fundador da
Didática Moderna e um dos maiores educadores do século XVII.
5 A expressão “bom selvagem”, aqui empregada, distancia-se da concepção corrente entre
os estudiosos de Rousseau para quem o bom selvagem é o indivíduo ainda naturalmente
livre das obrigações civis, às quais, cedo ou tarde, terá de submeter-se. O selvagem de
Rousseau é dotado de características essencialmente positivas e possui módicas necessidades.
Sua educação para a civilidade deve ser retardada o mais possível uma vez que o estado
civil há de lhe trazer inúmeros infortúnios.
82 Cadernos de Pesquisa: Pensamento Educacional, Curitiba, v. 9, n. 22, p.79-94 maio/ago. 2014.
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A microfísica dos... - Kelin Valeirão e Avelino da Rosa Oliveira
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Resumo
O texto é uma tentativa de, a partir de algumas categorias de análise,
oriundas do pensamento de Theodor Adorno, refletir sobre o que se
compreende por educação e/ou processos formativos, no contexto da
sociedade hodierna. O caminho do negativo, que caracterizou o que Adorno
entendia como arte autêntica, pela sua negação aos modelos vigentes, pode
se constituir numa brecha de preservar a percepção dos sentidos embotados
pela excitação ininterrupta da mídia, com intuito de resgatar resquícios da
experiência danificada. A educação e a filosofia, à maneira da arte, podem
explorar caminhos no sentido de despertar, no interior de cada indivíduo, uma
região ainda não domesticada pelos modelos incutidos pela racionalidade
instrumental vigente na sociedade hoje.
8 Para citar alguns autores: JAY (1988), TÜRCKE (2004), PUCCI (2003), DUARTE (1997),
etc. Segundo Jay, Adorno não só escreveu sobre música, tanto popular como clássica, mas
os princípios da composição musical e as revolucionárias técnicas atonais da escola de
música moderna de Schönberg, que estudou com profundidade em Viena na década de
20, influenciaram a própria construção de seu pensamento (JAY, 1988, p. 6-7). Christoph
Türcke, que defende que há um procedimento musical na dialética negativa, que “é um
tema com inúmeras variações.” (TÜRCKE, 2004, p.51)
9 Palavra grega Organon é o nome tradicionalmente dado ao conjunto das obras de lógica
100 Cadernos de Pesquisa: Pensamento Educacional, Curitiba, v. 9, n. 22, p.95-108 maio/ago. 2014.
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Educação, filosofia... - Belkis S. Bandeira e Neiva A. Oliveira
Assim, embora ambas visem algo que não pode ser exposto
nelas próprias, enquanto “vestígios do não-idêntico”, a aproximação
entre coisa e expressão na investigação filosófica, rege a atividade
da filosofia e a distingue da arte, o que permite a Adorno concluir
que é pela sua contraposição que se mantém leal a si própria. Se no
Prefácio da Dialética Negativa diz que a referida obra “se mantém
distante de todos os temas estéticos” (ADORNO, 2009, p.8), esta
distância aponta para esta lealdade ao que lhe é próprio, ou seja,
sua referência aos conceitos; mas também exige que essa referência
seja negada, enquanto possibilidade de ir além, mesmo que através
dele mesmo, o que é próprio da filosofia e que na estética é possível
pela crítica.
Uma referência clara de Adorno acerca da relação entre filosofia
e arte está nos Três estudos sobre Hegel (1969), quando observa:
Abstract
The text is an experiment of, from some categories of analysis originating from
Theodor Adorno’s theory, thinking about what we understand by education or
formative processes, in modern society context. The way of negative – which
characterized that what Adorno understood as authentical art, because of his
negation to current models – may constitute a breach of preserving perception
of senses blunt by media continuous excitement, with the purpose of rescuing
residuals of damaged experience. Education and philosophy, as art does,
may explore ways of awakening, in the inner of each individual, a not yet
domesticated (by the inspired models) region. Such models are the result of
an instrumental rationality present nowadays in society.
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Resumo
Entre os temas que foram comuns a Walter Benjamin e Theodor W. Adorno
no diagnóstico do espírito do tempo em que viveram, ganha destaque
o conceito de experiência e suas implicações. Mais especificamente, a
experiência no quadro de seu declínio que é também o do decaimento da
narrativa. Sintoma da modernidade e de uma dialética do esclarecimento,
esse movimento é exemplarmente interpretado por Benjamin nos marcos das
mudanças qualitativas do contemporâneo, e é retomado por Adorno em sua
crítica radical à danificação do sujeito. O presente texto comenta a presença
do conceito de experiência em ambos autores, demarcando sua passagem
de categoria analítica do moderno em Benjamin para conceito crítico, em
seu reverso, na obra de Adorno, em especial em Minima Moralia. Com isso,
procura contextualizar aspectos da formação no contexto do declínio da
subjetividade e das contradições do tédio, do tempo livre e da compaixão.
2. Experiência e narrativa
(Körper) não pode mais ser reconvertido em corpo vivo (Leib), como
prega de modo regressivo certa tradição vitalista e romântica, cuja
representação contemporânea pode ser encontrada nos campos
de nudismo e na sedução de várias terapias alternativas. Sua
reconversão seria impossível, porque a reificação do corpo, sua
transformação em algo de morto, foi parte do processo perene
que transformou a natureza em matéria bruta, em material. A
própria linguagem estaria entronizada com a cadaverização do
corpo: “ela [a linguagem] transformou o passeio em movimento
e os alimentos em calorias, de maneira análoga à designação da
floresta viva [lebendige Wald] na língua inglesa e francesa pelo
mesmo nome que significa também ‘madeira’ [Holz].” (ADORNO;
HORKHEIMER, 1985, p. 219).
Assim, a impossibilidade da experiência acaba por ser também
uma ausência de expressão, do acesso ao corpo por meio da linguagem
e da própria história, pois tampouco a memória e a narração são
conservadas nesse processo de danificação da subjetividade. É nesse
sentido que se pode compreender o conceito de “experiência” que
aparece em Teoria da Semiformação, de Adorno:
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Experiência e vida danificada... - Franciele Bete Petry et al.
Referências
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Ética e estética: confrontos entre a Teoria
Crítica da Sociedade e o pós-moderno
Robson Loureiro1
Sandra S. Della Fonte2
Luciana M. Queiroz 3
Resumo
O escopo do artigo é analisar a relação entre ética e estética na proposição
pós-moderna. A indagação refere-se ao papel da sensibilidade estética na
constituição de um juízo prático atribuído por Lyotard e às consequências
de uma estetização do mundo e do conhecimento, nos termos lyotardianos,
para a formação ética e estética. O referencial teórico fundamenta-se nas
reflexões de Walter Benjamin, Herbert Marcuse e Theodor W. Adorno. Embora
suas análises da vida contemporânea apresentem inúmeros aspectos em
comum, tais como a influência do mercado na arte e a superestimulação
da vida urbana, diferentemente de Lyotard, a Teoria Crítica argumenta que
o ideal de emancipação ainda deve ser mantido. A partir da ideia de que o
homem moderno pode ser descrito como formado por uma cultura de massa,
a investigação dos filósofos frankfurtianos demonstra haver a possibilidade
de outra forma de ver e intervir na contemporaneidade.
Introdução
mas não pode ser ele próprio visível. Tornar visível o invisível expressa,
para Lyotard, uma presença negativa, o que, por sua vez, indicaria a
incomesurabilidade da realidade em relação ao conceito e o fracasso
do realismo. No entanto, para ele, há na estética moderna uma
nostalgia da presença sentida na qual o irrepresentável aparece
como algo perdido para o sujeito. O pós-moderno é aquilo que,
no moderno, reforça o sentido do irrepresentável, mas sem esse
ressentimento nostálgico.
O século XIX e o século XX nos deram tanto terror quanto
podemos suportar. Nós já pagamos um preço alto suficiente pela
nostalgia do Todo e do uno, pela reconciliação do conceito e
do sensível, pela experiência transparente e comunicável. Sob a
demanda geral de relaxamento e de apaziguamento, nós podemos
ouvir os murmúrios do desejo de um retorno do terror, da realização
da fantasia de apreender a realidade. A resposta é: travemos uma
guerra contra a totalidade; testemunhemos o não apresentável;
ativemos as diferenças e salvemos a honra do nome (LYOTARD,
1993a, p. 46).
O que era algo pontual na teoria kantiana torna-se, nas mãos
de Lyotard, a referência para toda produção do conhecimento em
face do que ele considera ser o caráter irrepresentável da realidade
e o terrorismo da noção de totalidade. Cabe notar também que,
por um caminho bastante peculiar e curioso de denúncia das
promessas não cumpridas do projeto moderno, o filósofo francês
deseja salvar e louvar, a seu modo, a força revolucionária original
do modernismo. No entanto, essa compreensão desenvolvida por ele
após A condição pós-moderna não alcançou a popularidade daquela
presente nesse livro que, ao combinar termos como “sociedade pós-
industrial” e “era pós-moderna”, acabou por abraçar aquilo que ele
denunciou: uma grande narrativa de anúncio de uma ruptura radical
e de emergência de um novo tipo de conhecimento e de uma nova
condição histórica – como sugere o título do livro. Registra-se que, em
toda essa trajetória, todas as formas de conhecimento são avaliadas
a partir do âmbito estético (como narrativas que reforçam o sentido
artístico da irrepresentabilidade da realidade). Acrescenta-se a isso
uma defesa da guerra contra a totalidade, contra os metarrelatos
e contra “o desejo de unidade, de identidade” (LYOTARD, 1993a,
p. 40). Em contrapartida, há o enaltecimento dos posicionamentos
éticos a favor dos determinismos locais, do “pequeno relato”, da
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Ética e estética: confrontos.. - Robson Loureiro et al.
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Ética e estética: confrontos.. - Robson Loureiro et al.
Considerações finais
Este artigo teve como objeto de análise a relação entre ética
e estética na obra do filósofo francês Jean-François Lyotard, tendo
em vista sua importância e pioneirismo dentro do pensamento
pós-moderno. Contudo, em consonância com Wood (1999), o pós-
moderno representa uma “agenda”, composta por uma vasta gama
de tendências intelectuais e políticas que surgiram após a segunda
metade do século XX e que têm como eixo comum a impossibilidade
de o conhecimento dizer algo sobre a realidade objetiva, tendo em
vista que ele seria apenas um produto do sistema de crenças de
uma comunidade. Ao compreender a atmosfera intelectual e política
como uma agenda, os aspectos problematizados na obra de Lyotard
podem ser também estendidos, mesmo que dentro de alguns limites,
a outros discursos teóricos que compõem essa tradição.
Ao não identificar o período atual como moderno, Lyotard
parece querer se desvencilhar não da descrição da modernidade,
mas antes das preocupações típicas desse período histórico. O
pós-moderno de Lyotard só é efetivamente “pós” em sua tentativa
– nem sempre confessada – de abandonar a filosofia moderna.
Nesse sentido, na visão de Lyotard, são as “ideias” modernas os
males sociais, posto que seriam elas as causas da extinção da
pluralidade.
Ao negligenciar o cunho opressor da própria contemporaneidade,
Lyotard descreve a pós-modernidade como o momento em que
a estética se generaliza e os indivíduos se tornam sensíveis às
múltiplas moralidades existentes. O caráter autolegitimante que
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Do conceito de formação humana:
tensões entre natureza e cultura
Resumo
O artigo apresenta a filosofia da educação a partir de três pesquisas que
articulam o conceito de formação humana mediante a tensão entre natureza
e cultura. Metodologicamente, procuramos discutir o conceito tendo em vista
esta tensão, considerando as perspectivas filosóficas de Friedrich Nietzsche e
Jean-Jacques Rousseau, hermeneutas da cultura, da natureza e da formação
humana. Inspiradas nestes horizontes estético-filosóficos, propomos uma
filosofia da educação como uma experiência estético-cognitiva a partir da
qual o humano possa fabricar-se.
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Do conceito de formação humana... - Lúcia Schneider Hardt et al.
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Do conceito de formação humana... - Lúcia Schneider Hardt et al.
Abstract
This paper presents the philosophy of education from three studies that
articulate the concept of human development through the tension between
nature and culture. Methodologically, the text seeks to discuss the concept
in view of this tension, considering the philosophical perspectives of Friedrich
Nietzsche and Jean-Jacques Rousseau, interpreters of culture, nature and
human formation. Inspired in these aesthetic-philosophical horizons, we
propose a philosophy of education as an aesthetic-cognitive experience from
which human can make his experience of self-making.
Referências
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Ética, educação e desafios contemporâneos
Divino José da Silva1
Resumo
Para que evitemos os idealismos, ao tratar dos vínculos entre ética e
educação, acreditamos que seja necessário focalizar alguns aspectos
presentes em nossa cultura, na atualidade, que parecem marcar de forma
incisiva os nossos valores. São eles: cinismo, delinquência, narcisismo,
competitividade e hedonismo. Abordaremos esses aspectos recorrendo,
sobretudo, às análises que Jurandir Freire Costa e Yves de La Taille fazem
da cultura brasileira contemporânea. O nosso intuito será explicitar que
pensar a relação entre educação e a formação ética requer mais do que
boas intenções e discursos idealizados, mas passa fundamentalmente pela
compreensão de aspectos da nossa cultura que têm força incisiva sobre as
práticas educativas. Reivindicamos, no final, que uma educação que tenha
como preocupação a formação ética deve privilegiar o cuidado do outro
mediado pelo “tato pedagógico” e pela “conversação”, os quais se expressam
por meio da linguagem poética.
Introdução
4 Com isso, não estamos defendendo a criação desordenada de leis, pois, segundo La Taille
(2009), o excesso de leis revela os limites do bom senso moral de uma sociedade. Mais leis,
nesse caso, não significariam mais moralidade.
178 Cadernos de Pesquisa: Pensamento Educacional, Curitiba, v. 9, n. 22, p.175-192 maio/ago. 2014.
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Ética, educação e desafios contemporâneos - Divino José da Silva
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Ética, educação e desafios contemporâneos - Divino José da Silva
qualquer que pode dizer qualquer coisa de qualquer lugar: por essa
razão, produzem a intimidação, ao mesmo tempo em que fazem
circular formas de dominação.
Na sociedade do espetáculo, ressalta Kehl (2004), o indivíduo
ficou refém das imagens que o mercado produziu dele, com base
nas quais se representa e se relaciona com os demais. Imagens
fetichizadas, cuja lógica se expressa no argumento seguinte: “o
que aparece é bom; o que é bom aparece” (p. 49). O que significa
dizer que o reconhecimento do indivíduo pelos outros depende da
visibilidade, enfim, do espetáculo que ele dá de si mesmo. Assim,
segundo Costa (2006, p. 231), o dilema moral vivido na atualidade
já não passaria pela “escolha entre ter e ser”, mas pela “escolha
entre ser e parecer”, que representa a “faceta mais dura e alienante
da felicidade das sensações.” Ao agir orientado pela lógica da
visibilidade, o sujeito perde sua capacidade de julgamento, já que é
regido pelo desejo e a fantasia de pertencer à realidade-espetáculo.
Essa imagem-espetáculo, a qual porta em si formas de dominação
e subjugação, se sustenta em preferências, afetos e simpatia, pois a
publicidade, explica Khel (2004, p.61), desperta sentimentos, desejos
e vende sonhos, atitudes e valores mobilizando no nosso inconsciente
“objetos imaginários de satisfação do desejo”.
Nesse sentido, parece que estamos mergulhados na cultura do
narcisismo5, que se alimenta da cultura do consumismo. De acordo
com Costa (2004), um dos suportes sobre o qual os indivíduos baseiam
seu sentimento de identidade é o narcisismo. Esse sentimento de
identidade teria se deslocado do controle de instituições, como a
família, o trabalho, a religião, para o próprio indivíduo: “Basear a
identidade no narcisismo significa dizer que o sujeito é o ponto de
partida e chegada do cuidado de si. Ou seja, o ‘que se é’ e o ‘que se
pretende ser’ devem caber no espaço da preocupação consigo.” (p.
185). As instituições até podem interessar ao narcisista, mas somente
enquanto meio para a realização de seus interesses vinculados ao
reconhecimento social e à imagem do bem-sucedido, do ponto de
vista econômico e emocional. Alcançar a felicidade tem a ver com
o atendimento das demandas sensoriais. Assim, a virtude moral
5 Seguimos aqui o sentido que Costa (2004, p 185) atribui ao termo narcisismo, o qual “é
entendido como uma vertente do individualismo contemporâneo particularmente insensível
a compromissos com ideais de conduta coletivamente orientados”, distanciando- se,
portanto, do sentido que lhe atribui a psicanálise, enquanto “a condição mental indispensável
à aquisição do sentimento e da consciência de identidade subjetiva.”
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Ética, educação e desafios contemporâneos - Divino José da Silva
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Ética, educação e desafios contemporâneos - Divino José da Silva
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Resumo
Esse texto é o resultado parcial de uma investigação que pretende
analisar criticamente os discursos produzidos pela filosofia da
educação atual e que se propõe servir como meio de orientação para
as atividades educacionais nas escolas. Não estará em questão a
importância da filosofia para a educação, mas sim o uso que se faz de
um determinado tipo de filosofia racionalista e iluminista. Utilizando
principalmente as reflexões de Norbert Elias e Michel Foucault, observo
o esgotamento de um discurso filosófico moderno, através da produção
de uma ordem discursiva circular, que tende a manter as atuais práticas
pedagógicas marcadamente vinculadas às lógicas da modernidade.
Sem pretender julgar, apenas analiso os efeitos práticos dos discursos
modernos para os processos de escolarização das crianças e jovens na
contemporaneidade.
202 Cadernos de Pesquisa: Pensamento Educacional, Curitiba, v. 9, n. 22, p.193-205 maio/ago. 2014.
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A Filosofia da Educação e a maquinaria escolar... - João Paulo Pooli
Abstract
This paper is a partial result of a research that aims to analyze in a critical
way the discourses produced by current philosophy of education and intends
to work as a guide for the educational activities in schools. The importance
of philosophy in education is not a matter of concern, but the use made of
a certain kind of rationalist and enlightenment philosophy. Using mainly the
reflections of Norbert Elias and Michel Foucault, I observe the depletion of
a modern philosophical discourse, through the production of a discursive
circular order, which tend to keep the current teaching practices linked to
the logics of modernity. Without judging, I just analyze the practical effects
204 Cadernos de Pesquisa: Pensamento Educacional, Curitiba, v. 9, n. 22, p.193-205 maio/ago. 2014.
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A Filosofia da Educação e a maquinaria escolar... - João Paulo Pooli
Referências
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Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
_______. Estratégia, Poder-Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
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LYOTARD, Jean-François. O saber já não é um meio de emancipação.
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LIBANEO, José Carlos. As Teorias Pedagógicas Modernas Revisitadas pelo
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VARELA, Julia. & ALVAREZ-URIA, Fernando. A Maquinaria escolar. Teoria &
Educação. São Paulo, n. 6, p.68-96, 1992.
Resumo
Presenciamos, nos contextos atuais, de certo modo, a legitimação da
concepção de infância de corte moderno, se tomarmos por referência os
inúmeros manuais de filosofia e de educação que são produzidos. De um
modo geral, está intrínseca nesses manuais a ideia recorrente de infância
como sinônimo de pureza e inocência. A maioria dos autores, que aponta
para essa concepção metafísica de infância, desconsidera um conjunto
de amplas implicações “nas formas de vida” que dão sustentação à da
racionalidade moderna. O presente texto tem a pretensão de apresentar
como alguns filósofos modernos relacionaram-se com a temática infância
aproximando-a da concepção de subjetividade. Também, o texto descreve
as possíveis decorrências nas concepções contemporâneas de infância
presenciadas em diferentes contextos educativos. Trata-se de uma síntese
de estudos realizados no processo de doutoramento que emergem agora
com uma compreensão mais alargada sobre a temática.
Primeiros Argumentos
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Infância e filosofia... - Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
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Infância e filosofia... - Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
Considerações Finais
Abstract
Witnessed in the current context, in a sense, the legitimacy of the concept of
childhood in modern cut taking as reference many books of philosophy and
education that are produced. Generally, these books are intrinsic to recurrent
idea of childhood as a synonym of naivety and innocence. Most authors,
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Referências
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Entrevista
229
E ntrevista com J osé B arata -M oura
O material, o dialético, a ideia
e a educação em Marx
Resumo
Esta entrevista com o filósofo português José Barata-Moura tem como
tema algumas das questões centrais do pensamento de Karl Marx. As
perguntas e respostas concentram-se, principalmente, sobre os conceitos
de “material”, “dialética”, “ideias” e “educação”. Num clima de conversa
coloquial, revelam-se as posições críticas do filósofo português sobre o que
são esses conceitos e como, com base no pensamento de Marx, devem ser
compreendidas as relações e implicações entre eles. A entrevista cumpre
o objetivo de dar a palavra a um dos principais leitores e intérpretes do
pensamento marxiano na atualidade.
Apresentação
A Entrevista
Antonio Dias (AD) — Professor, o senhor costuma dizer que é
importante compreender como o filósofo pensa. Em sua opinião,
como é que Marx pensa?
José Barata-Moura (JB-M) — Essa distinção que eu faço às vezes tem,
digamos, um cunho um pouco pedagógico. Na Filosofia, também
em outras áreas, a atenção fica, de algum modo, centrada em
exclusivo sobre aquilo que são as concepções, as doutrinas, as
teses etc., de um filósofo ou pensador. E não se presta, a meu
ver, o cuidado necessário a procurar compreender como é que
os autores pensam. E isso é, para mim, provavelmente como
experiência pessoal, talvez, das coisas mais gratificantes do
diálogo filosófico, do diálogo na leitura com autores com os quais
nós podemos até nem ter afinidades ou simpatias, do ponto de
vista teórico ou do ponto de vista da aceitação, com aquilo que
corresponde às posições deles. Sobretudo, no caso dos grandes,
nós temos sempre muito a apreender com aquilo que é a maneira
como eles pensam. Claro que nós temos que perceber o que é que
corresponde à mensagem, o que é que corresponde à teoria, aquilo
que, de alguma forma, deliberadamente, nos está a ser comunicado
nestes textos. Mas é também importante nós treinarmos um pouco
a nossa sensibilidade e a nossa capacidade de discernimento para
essa outra coisa que é a maneira como se pensa.
No caso do Marx, digamos, para responder muito rapidamente
— o Marx, que não escreveu muitas páginas e nenhum livro sobre
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José Barata-Moura... - Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
conjunta, que fazemos com outros, e é por isso que são importantes
os Educadores, por isso é que o diálogo é também uma figura
importante. Portanto, no quadro dessa descoberta conjunta do
“mundo da vida” nós vamos, de alguma maneira, dando forma,
como eu gosto de dizer, à condução do nosso viver.
E, portanto, neste sentido, a Educação, que, se calhar, não
corresponde apenas a uma antecâmara da vida, “uma formação
ou preparação para a vida, para o mundo do trabalho”. E há duas
coisas muitos graves que, a meu ver, que se perdem aí. [Primeira:]
é que o espaço da escola é também um tempo do viver; [segunda:]
é que os tempos da vida são o espaço da Educação. Portanto,
no fundo, a Educação é uma coisa que nos cruza — como diria
o Freud, se calhar, já desde a barriga da mãe.
E repare que, vista dessa maneira, a Educação é uma maneira
mais abrangente e mais funda daquilo a que nós poderíamos
chamar, digamos de sistemas institucionalizados, perspectivas
das várias culturas e das civilizações como correspondente a um
processo educativo. Neste sentido, nós não seríamos humanos
fora de um processo educativo que é muito mais rico do que
costumamos perceber. O que não significa que as instituições
não sejam percebidas [como importantes]; o que não significa
que não haja avanços importantes nas etapas do desenvolvimento
das próprias sociedades onde o cuidar do sistema educativo não
desempenhe um papel muito importante. E, se calhar, a gente tem
de se bater com isso, sobretudo nesses momentos atuais sujeitos
a muitas ofensivas contra os objetivos da Educação.
AD — O senhor esteve como Reitor da UL durante 8 anos e,
certamente, tal experiência como gestor proporcionou-lhe um
contato maior com a problemática da Educação formal e da
formação humana em geral. Gostaria que o senhor falasse do seu
principal aprendizado relativamente a estes problemas?
JB-M — São várias questões. Mas, assim, uma delas foi: compreender,
e não é só compreender, como, no quadro das sociedades
contemporâneas, o cultivo científico do saber e a formação
qualificada dos humanos é de uma peculiaridade que, neste caso,
corresponde a uma das linhas estruturantes de uma universidade, e
também se constitui como um pilar da soberania. É evidente que há
outros problemas: da defesa, das ameaças, da segurança, o exército
etc. E há outros [indivíduos] que podem perceber [e dizer]: “bom,
mas se não houver nada para comer, para se alimentar...” etc.
Portanto, do meu ponto de vista, a soberania tem muitos pilares.
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José Barata-Moura... - Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
Apresentação:
a) Apresentação de trabalhos em português, inglês ou espanhol.
b) Título no idioma original do artigo e em inglês.
c) Resumo em português num único parágrafo, com até 20 linhas,
espaço simples, acompanhado de pelo menos três palavras-chave
(entre ponto e maiúsculas).
d) Abstract em inglês, seguindo as mesmas normas do Resumo.
e) Os artigos devem apresentar extensão de 15 a 25 páginas.
f) Texto em formato Word digitado em Times New Roman 12, espaço
1,5 entre linhas; citações em espaço simples e distanciadas da
margem esquerda. Para destaques usar apenas o itálico. O negrito
pode ser usado apenas para destacar os subtítulos ou divisões do
trabalho.
g) Nota de rodapé no final da página em que ela está inserida.
h) Referências no corpo do texto (ex: SAVIANI, 2005, p. 53).
i) Se houver imagens e/ou gráficos devem vir no corpo do texto.
j) Referências: são consideradas referências somente as obras
(livros, artigos, teses, etc.) mencionadas no interior do texto. Devem
ser digitadas de acordo com as normas da ABNT.
k) As referências (bibliográficas ou de fontes eletrônicas) devem
ser listadas ao final do texto em ordem alfabética.
Exemplos:
Livro: NOME DO AUTOR. Título da obra, local de publicação,
editora, ano, total de páginas.
Capítulo de livro: NOME DO AUTOR. Título do capítulo. In: NOME
DO (s) AUTOR(es) DA OBRA. Título da obra, local de publicação,
editora, ano, página inicial e final do capítulo.
Artigo: NOME DO AUTOR. Título do artigo. Título do Periódico,
local e editora, v. (n.), páginas inicial e final do artigo.
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Normas para publicação
Critério de Avaliação:
Os artigos serão avaliados por dois pareceristas com sistema blind
peer review;
O aviso de recebimento e o andamento da submissão do texto
recebido serão comunicados por e-mail.
Contato: pensamentoeducacional@utp.br
R E V I S TA C A D E R N O S D E P E S Q U I S A – P E N S A M E N T O
EDUCACIONAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – MESTRADO E DOUTORADO
EM EDUCAÇÃO – UTP
Rua Sydnei AntonioRangel Santos, 238 – Santo Inácio
CEP 82010-330 – Curitiba – Paraná
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