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Secundas de luta
movimento, linguagem e etnografia das juventudes
Curitiba
2020
Carusa Gabriela Dutra Biliatto
Secundas de luta
movimento, linguagem e etnografia das juventudes
Banca examinadora:
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Prof. Dr. Lorenzo Gustavo Macagno (orientador)
Universidade Federal do Paraná
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[apenas: sugestão] Prof. Dra. Leila Sollberger Jeolás
Universidade Estadual de Londrina
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[apenas: sugestão] Prof. Dra. Ciméa Barbato Bevilaqua
Universidade Federal do Paraná
Curitiba
2020
À memória de
Assim, foi pela vivacidade nas conversas, inclusive, concentradas com o auxílio de
gravador tanto quanto, diferentemente, pela série de caminhadas até à lanchonete das gigantes
coxinhas. Neste espaço, pude experimentar momentos em que o pessoal se dava a conhecer
desde uma particular alegria. Alegria dita em simples frases e com ternura por B ao referir aquele
espaço de tempo (“quando a gente está [na lanchonete das gigantes coxinhas] sendo mais nós,
quando não tem a pressão que a sociedade faz sobre nós por causa da luta”). Então, quero
agradecer por tudo isso e mais um bocado que aqui não caberia em palavra alguma tal qual “o
Isso” (das Ding an sich) de Kant. Assim, cada letra erguida na face dessa tese pronuncia também
este agradecimento aos secundas de luta e não só.
Irredutivelmente, cada letra aqui fixada constituiu-se como brota do solo a água. Por
evidência dessa ordem, longe do trabalho antropológico nada disso deviria. Este “solo” é o que –
simplificadamente – a antropologia designa “campo etnográfico”. Não obstante, a “cidade
etnográfica”, talvez, deviria mais condizente do que “campo” em relação ao referente nomeado.
Isso porque, ser formos um passinho adiante com essa metáfora (“cidade etnográfica”) e mesmo
se sequer canalizarmos a atenção para o conceito de “cidade” (na filosofia de matriz grega, por
exemplo), apesar disso, ainda assim, faz vivaz sentido dizer: canteiros sucessivos de obras foram
construídos junto com o pessoal. O pessoal que – simplificadamente – evoco agora pelo vocativo
tantas vezes presenciado ao longo dos jograis que pude conhecer in loco. Todo jogral iniciava
assim: “Pessoal, jogral! Nós, estudantes secundaristas, (...)”. Ao pessoal esteve associado o “nós”
existente in loco se assim conferirmos sentido à escuta da voz daquelas juventudes em
“entusiasmos coletivos” (no dizer de Alfred North Whitehead).
Por sua vez, qual seria a história desse “nós” brotando sempre repetidamente associado
ao primeiro verbo de ação de cada um dos jograis? Procurei saber junto com o pessoal. Se algo
pude manter descoberto nesta investigação, então, quem sabe seja a factibilidade do pessoal
como um modo próprio de convivência cujo cariz de transgressão coincide com sua constante
combustão. Uma constância que se poderia “chamar pelo nome”: o processo Secundaristas em
Luta de São Paulo (SP). Por isso, quero iniciar essa tese “chamando pelo nome”: Pessoal, muito
obrigada por tudo e mais um pouco! Esse é o meu jogral, a tese.
Por fim, a mensagem deste texto está redigida por mim, todavia, para quem quer que
venha praticar a leitura desse texto, inexplicavelmente, preciso não deixar de dizer: sem o pessoal
nesta pesquisa eu não seria uma estudante como sou hoje. Não ouso dizer que sou uma pós-
graduanda de luta, como o pessoal é secunda de luta – pois isso seria mais non-sense do que eu
poderia imaginar em conjunção com a luta que conheci com vocês. Uma luta que apenas vivi “na
própria pele”, em um sentido científico.
Por último, porém não menos importante, à CAPES quero agradecer pela parcial e
intermitente disponibilidade de bolsa de estudos sem a qual, não obstante, dificilmente este
trabalho seria possível.
Os pais estavam deitados, dormiam. O relógio de parede cadenciava com
monotonia, diante das janelas sacudidas pelo vento a uivar, o luar alternava com
o claro-escuro do quarto. Deitado no seu leito, mergulhado numa profunda
agitação, o jovem recordava aquele estranho e suas histórias.
– Não são os tesouros que em mim despertam uma inconfessável avidez –
pensava ele; – longe de mim qualquer cobiça... Mas anseio contemplar a flor azul.
Pesa tanto no meu espírito e não consigo evocar outra coisa. Nada me inspira.
Nunca me senti assim: é como se já tivesse sonhado ou penetrado noutro mundo
enquanto adormecia; no mundo em que vivemos, quem se preocupa com as
flores?
Novalis, A flor azul
GABRIELA, Carusa. Secundas de luta: movimento, linguagem e etnografia das juventudes. Tese de
Doutorado em Antropologia. Universidade Federal do Paraná: Curitiba, 2020.
Resumo [provisório]
Secundas de luta são os Secundaristas em Luta de São Paulo (SP), um conjunto composto pelas
transformações que reúnem componentes do Comando das Escolas Ocupadas (dezembro de
2015), do Comando das Escolas em Luta (abril de 2016), dos Secundaristas em Luta de São Paulo
(abril de 2016 aos dias de hoje). O trabalho de campo foi realizado de modo face-a-face a partir
da ocupação do Centro Paula Souza (abril 2016), que é uma autarquia do governo do estado de
São Paulo vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Particularmente, é esta a
instância responsável pela administração do total de Escolas Técnicas e Faculdades de Tecnologia
nessa unidade da federação. Trata-se de um conjunto integrado não somente pelas pessoas que
ocuparam as primeiras escolas na cidade de São Paulo em novembro de 2015. Bem antes da
primeira escola ocupada receber o raio dos holofotes existiu uma rede de interligação que, por
sua vez, aliás, continua organizada até os dias de hoje (quando jaz o raio dos holofotes). Conforme
ficou conhecida no Brasil, “a luta contra a Reorganização [Escolar]” na cidade de São Paulo, por
seu lado, é aqui examinada enfocando uma centelha: o “pattern que conecta” entre si pessoas,
objetos, ideias em uma organização que devém etnografada no horizonte de uma fundamental
“oscilação”. Uma oscilação sempre novamente reiterada. Brota desse “transe oscilatório” sua
resistência na continuidade. Portanto, resistem pelas razões oscilatórias e não somente apesar
delas. Isso porque, tanto a permanência que conecta quanto a organização que a operacionaliza,
sincronizadamente, conformam uma variação de institucionalidade. O conjunto de pessoas aqui
evocado por secundas de luta, portanto, cultiva um pattern de organização mediante delicadas
interligações vistas na mobilização das ocupações no Brasil entre 2015 e 2017 no Brasil. O
trabalho de campo iniciou em novembro de 2015 e foi interrompido em junho de 2019. Não
obstante, transcorreu de forma contígua entre abril de 2016 e julho de 2018. Neste quadro, a
pesquisa aqui apresentada está situada no campo de antropologia das juventudes, sobretudo,
em seu segmento voltado às interfaces entre juventudes e fazeres políticos. Por sua vez, a
abordagem analítica está orientada por uma literatura em antropologia das emoções. Isso
porque, a intersecção referida (juventudes, política, emoções) constitui um componente que
adquiriu significativo relevo durante a etnografia. Tais conjuntos de nexos vivos formam uma
dinâmica cuja expressão são – propriamente – metáforas de emoções referentes à ocupação e
ao pós-ocupação do Centro Paula Souza. Sugiro interpretar a padronização dessas emoções
interagindo de modo próprio aos secundas de luta. Por consequência, existindo como fonte de
inteligibilidade antropológica sobre o modo de organização política secunda. Nessa trilha,
sintetiza-se o esforço de tomar como objeto de reflexão as contribuições de Gregory Bateson
para apreensão de um modo de organização política desde uma antropologia das emoções.
Finalmente, proponho para o debate emprestar inteligibilidade antropológica a um dos legados
das ocupações: a engenharia institucional de fazer organização de luta por e para as juventudes
contemporâneas. Juventudes, elas mesmas, que se posicionam como interlocutoras no âmbito
do leito institucional da arena política brasileira. Neste caso, a partir da voz dos secundas de luta
em interlocução nesta pesquisa.
Agradecimentos
Capítulo 1 – Da Mooca Baixa à ocupação do CPS: passos para construção do campo etnográfico
Culturas juvenis como formas políticas de cismogênese
Capítulo 4 – Crí(p)ticas das juventudes na cara da sociedade: “Reforma não! Revolução sim!”
Luta pela educação: perímetro institucional ocupado e perímetro corporal barbarizado
Capítulo 6 – “Somos hunos mal eduk2”: um paradigma disciplinar “bom para pensar”
“O Partido Autônomo”, ou Uma Pioiagem Necessária
Referências bibliográficas
Anexos
Anexo A – Cartilha Como ocupar sua escola?
Anexo B – Panfleto Como boicotar o SARESP?
Anexo C – Cartilha Atenção pais e alunos: não caiam em mentiras
Anexo D – Cartilha Agora a aula é na rua! Manual de como travar uma avenida
Anexo E – Três denúncias à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização
dos Estados Americanos (OEA)
Anexo F – A Ponte Jornalismo veicula em primeira mão a emboscada
Caderno de apontamentos
Vídeo 1. “Escola de luta 2015”, por Caio Castor (videographer)
Vídeo 2. A coletivAocupação, por Martha Kiss Perrone (diretora de teatro)
Vídeo 3. “Ocupação do Centro Paula Souza (Completo)”, por Caio Castor (videgrapher)