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No jardim do Éden e na aldeia de Emaús

A primeira vez foi no jardim do Éden, ao sul da Mesopotâmia, logo no início da história do homem
(Gn 3.7). A segunda vez foi na aldeia de Emaús, a cerca de 10 quilômetros de Jerusalém, logo no
início da história da igreja. Diz-se que em ambas as ocasiões os olhos dos quatro personagens
envolvidos abriram-se surpreendentemente para enxergar o que não enxergavam antes.

No primeiro caso, Adão e Eva tiveram seus olhos abertos para o pecado, até então teórica e
experimentalmente desconhecido (Gn 3.7). Ao comer do fruto da árvore do conhecimento do bem
e do mal, invadindo a única área de toda a criação fora de seu domínio, o ser humano perdeu
para sempre a santidade, a naturalidade, a inocência e a espontaneidade, e comprometeu
seriamente seu relacionamento com o Criador.

No segundo caso, os dois discípulos de Emaús, um deles chamado Cleopas, tiveram os olhos
abertos para a realidade da ressurreição de Jesus, na madrugada daquele domingo, até então
não assimilada por eles, mesmo com o testemunho das mulheres da Galiléia e de alguns de seus
companheiros (Lc 24.31). Embora tivessem o coração queimando dentro do peito enquanto Jesus
lhes falava pelo caminho, os dois discípulos só reconheceram que aquele estranho era de fato o
Senhor, quando Ele, à mesa, na casa de um deles, abençoou e partiu o pão na presença deles.

Essas duas experiências, contrárias entre si, acontecem até hoje. O pior de tudo é quando só
acontece a primeira experiência, quando os olhos se abrem para o pecado e os pés descem o
primeiro degrau da contra-rampa. Aí têm lugar a primeira mentira, a primeira maldade, o primeiro
gole, a primeira droga, o primeiro adultério, a primeira desconfiança, o primeiro furto.

A segunda experiência corrige a primeira experiência. É a manifestação da misericórdia de Deus.


Ela se revela de modo simples: num abençoar e num partir de pão, num gesto, numa palavra,
numa manhã chuvosa ou numa manhã ensolarada, numa tristeza, numa melancolia, numa
doença, num enterro, numa decepção, numa amargura. Nessas circunstâncias, os olhos
estranhamente se abrem para o Ressuscitado e os pés sobem o primeiro degrau da rampa. A
partir daí a transformação é “de glória em glória” (2 Co 5.18), até a pessoa se recuperar de todo o
estrago provocado pela desobediência inicial, cometida no Éden. Até assumir de novo a santidade
original. Até restaurar plenamente o relacionamento com o Criador.

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