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rains2018 Estera pbliea ¢ democracia deliberaliva em Habermas: modslolsérco @ discursos evticos -atticles ——— articles search cipLO author | subject | form home) alpha Kriterion: Revista de Fil Services on Demand Print version ISSN 0100-512X Journal Kriterion yol.51 n0.121 Belo Horizonte June 2010 iy SSELO Analytics http://dx.dol.org/10.1590/50100-512x2010000700012 Why Google Scholar HSMS (2017) ARTIGOS Article Portuguese (pat Esfera publica e democracia deliberativa em @ Portuguese cepa Habermas. Modelo teérico e discursos criticos Ey Aticte in xm! format > Article references ] How to cite this article Why SELO Analytics Jorge Adriano Lubenow Curriculum ScienTI Professor do Departamento de Filosofia da UFPI. lubenow@ufpi.edu.br 2 P Automatic translation Indicators Related links RESUMO Shere Os argumentos a favor da concepgdo deliberativa de esfera piiblica e Morell democracia tém sido alvos de muitas criticas, Muitos teéricos que se ocupam More com teorias democréticas tém questionado as assungGes basicas da teoria politica deliberativa que resulta da obra sobre Faktizitat und Geltung (1992), apontando pontos fragels, sobre as implicacées praticas, possibilidades de efetividade, entre outros. Embora nao seja possivel acompanhar em toda sua amplitude a bibliografia critica sobre o tema, para nossos propésitos, vamos aqui nos limitar a apresentar alguns comentérios acerca das controvérsias envolvendo as concepgées de esfera publica e democracia deliberativa que resultam da obra sobre direito e democracia; questdes que se tornaram problematicas para a literatura e que poderiam ser melhor investigadas. Permalink Palavras-Chave: Jirgen Habermas, Esfera publica, Democracia deliberativa, Discursos criticos ABSTRACT ‘The arguments about the deliberative conception of democracy and public sphere have been largely criticized Many theorists who deal with democratic theories have questioned the basic assumptions of the deliberative policy theory, which results from Habermas’ work Faktizitat und Geltung (1992), pointing some weakness of practical implications, opportunities of effectiveness, among others. Although it is almost impossible following the critical literature about the theme in its whole extent, for our purposes, we will just present a few comments about the controversies involving the conceptions of public sphere and deliberative democracy, which stem from works related to democracy and the law; issues that have become not just problematic for literature but that could also be better investigated. Keywords: Jirgen Habermas, Public sphere, Deliberative democracy, Critical comments hitputwwwscieo.briscielo.php7script=sci_arttext&pid=S0100-512X2010000100012 a8 rains2018 Estera pbliea ¢ democracia deliberaliva em Habermas: modslolsérco @ discursos evticos 1 A concepgao de democracia deliberativa Na obra de Habermas Faktizitat und Geltung,1 os desdobramentos acerca da concepcao de democracia recebem um detalhamento mais apurado do papel da esfera publica e sua penetragao mais efetiva sobre o politico, traduzido numa énfase na institucionalizagao. O exame dos processos institucionais também é uma investigacdo mais sistematica acerca do potencial politico do discurso, e uma outra tentativa, mais realista, de responder a questdo sobre a ago reciproca entre solidariedade sociointegrativa do mundo da vida com os procedimentos no nivel politico e administrativo, Esta investigacdo mals sistemética é também uma estratégia habermasiana de responder as criticas e mostrar que a Theorie des kommunikativen Handelns2 nao é cega para a realidade das instituicdes.2 A reformulagdo da relacdo entre sistema e mundo da vida prepara o caminho para um novo modelo de circulacdo do poder politico (1.1) que tem como central a concepsao procedimental deliberativa de democracia (1.2) 1.1 Mundo da vida e sistema: novo modelo de circulagéo do poder As criticas 8 imprecisio das implicagdes institucionais da concepgo habermasiana de esfera publica da Theorie. levam Habermas a sinalizar para uma reformulacdo da relagdo sistema-mundo da vida, com a necessidade de um “duplo fluxo", capaz de revigorar as instituigdes. A ideia de “sitiamento” fragiliza a concepso de politica que resulta do quadro tedrico da Theorie. A concepcéo de politica que resulta da obra sobre a aco comunicativa ndo permitia uma autodemocratizacdo interna do sistema, Por isso, a pergunta-chave aqui para Habermas é: "quem revigora as instituigdes?" Impasse conceitual que obriga Habermas a repensar a articulacdo entre espontaneidade social e complexidade funcional, o nexo entre poder comunicative gerado comunicativamente e 0 poder administrativo formalmente organizado no sistema politico. A partir da segunda metade da década de 80, Habermas introduz mudancas significativas no curso de suas investigacdes sobre a esfera piiblica ao voltar a colocar énfase na questo da institucionalizaco 4 Nesse caminho, reformula a relaco sistema-mundo da vida e altera as caracteristicas da esfera publica, redimensionando-a dentro de um sistema de "eclusas". Em Theorie des kommunikativen Handeins, Habermas tematiza a esfera publica como constitutiva do mundo da vida, responsavel por garantir sua autonomia protegé-lo frente ao sistema administrado. Uma esfera de cardter "defensivo" que, no maximo, poderia “sitiar" o sistema, mas sem grandes pretensées de conquista. J4 em Faktizitat und Geltung, Habermas confere a esfera publica um caréter mais “ofensivo", abandona a metéfora do "sitiamento" e a substitui adotando o modelo das “eclusas".® Ao reformular a relacdo entre sistema e mundo da vida, acaba também modificando, nao tanto a posicSo, mas 0 cardter ofensivo da esfera piiblica. Sendo assim, onde se localiza e que funcdo desempenha a esfera publica modificada nesse novo modo de ver a ago reciproca entre sistema e mundo da vida? Na contrapartida ofensiva do novo modelo de circulacao do poder politico, a categoria de esfera publica é redimensionada dentro deste novo modelo de eclusas e assume um papel mais amplo e mais ativo junto aos processos formais mediados institucionalmente. Com o novo modelo de acoplamento, os processos de comunicagéo € deciséo do sistema politico so estruturados através de um sistema de eclusas, no qual os processos de comunicacao e decisao ja estdo ancorados no mundo da vida por uma "abertura estrutural", permitida por uma esfera publica sensivel, permeavel, capaz de introduzir no sistema politico os conflitos existentes na periferia. Agora, o sistema politico ja ndo é mais pensado autopoiéticamente, mas constitui um centro poliérquico. Aqui, Habermas reconhece que a imagem de uma fortaleza sitiada democraticamente que aplicou ao Estado nos anos 80 na Theorie... pode induzir ao erro, pois ela ndo permite uma autodemocratizacao interna do sistema. A seguinte passagem deixa claro o abandono da tese do desacoplamento entre sistema e mundo da vida e 2 formulacdo de uma concepsao diferente de poder e de sistema politico em Faktizitat und Geltung: © niicleo do sistema politico ¢ formado pelos seguintes complexos institucionais, j4 conhecidos: a administragao (incluindo 0 governo), o judicidrio e a formagdo democratica da opinido e da vontade (incluindo as corporagées parlamentares, eleigdes politicas, concorréncia entre partidos, etc). Portanto, esse centro, que se perfila perante uma periferia ramificada, através de competéncias formais de decisao e de prerrogativas reais, é formado de modo "poliérquico". No interior do nucleo, a "capacidade de acdo" varia, dependendo da "densidade" da complexidade organizatéria. O complexo Parlamentar é 0 que se encontra mais aberto para a percepcao ¢ a tematizacéo dos problemas sociais, [...] Nas margens da administragao forma-se uma espécie de periferia interna, que abrange instituigdes variadas, dotadas de tipos diferentes de direitos de auto-administracdo ou de funcdes estatais delegadas, de controle ou de soberania (universidades, sistemas de seguros, representacdes de corporacées, cémaras, associagdes beneficentes, fundacées, etc.). Tomado em seu conjunto, 0 niicleo possui uma periferia exterior, a qual se bifurca, grosso modo, em compradores e fornecedores.2 A contrapartida ofensiva da esfera pilica sobre o politico assenta na énfase nos processos de Institucionalizacao. Para Habermas, tal desencadeamento esté amarrado a um processo de normatizaco, que se inicia pela formagio da opiniéo e da vontade nas esferas publicas informais, acaba desaguando, pelo caminho procedimental, nas inst&ncias formais de deliberacao ¢ decisSo. Este processo de "abertura" para a institucionalizacao est4 ancorado num amplo conceito de democracia procedimental deliberativa 1.2 Democracia deliberativa hitputwwwscieo.briscielo.php7script=sci_arttext&pid=S0100-512X2010000100012 ane rains2018 Estera pbliea ¢ democracia deliberaliva em Habermas: modslolsérco @ discursos evticos Habermas pode no ter sido o primeiro a escrever sobre "deliberacao",® mas talvez seja o mais proeminente defensor da teoria deliberativa de democracia.2 Na década de 90, Habermas coloca forte peso na questéo da “institucionalizagdo”. Em Faktizitat und Geltung, formula um projeto de institucionalizago que se orienta pelo paradigma procedimental de democracia. Com isso, quer resolver o problema de como a formacdo discursiva da opinio e da vontade pode ser institucionalizada, da ago reciproca entre as esferas informais do mundo da vida com as esferas formais dos processos de tomadas de decisao institucionalizados, de como transformar poder comunicativo em poder administrativo. © pensamento politico habermasiano dirige-se @ uma teoria da democracia, agora pensada em termos institucionais, Por isso, a atengdo com os pressupostos, os arranjos institucionais, os mecanismos de controle politico. Para tanto, Habermas elabora uma teoria da democracia procedimental e deliberativa, 2 partir do modelo das "eclusas"’ A concepséo de politica deliberativa é uma tentative de formular uma teoria da democracia 8 partir de duas tradigdes tedrico-politicas: a concepcao de autonomia publica da teoria politica republicana (vontade geral, soberania popular), com a concepgdo de autonomia privada da teoria politica liberal (interesses particulares, liberdades inividuais). Ela pode ser concebida, simultaneamente, como um meio-termo e uma alternativa a0s modelos republicano e liberal.!° No entanto, embora o tema geral seja o mesmo, ha diferentes visies de democracia deliberativa, que conferem diferentes niveis dos processos democraticos, e modos diferentes de compreender as fronteiras entre a autonomia privada e autonomia pUblica. Embora n&o possamos prestar contas aqui das diferenciacGes internas pormenorizadas dessas diferentes compreensées, ha, por um lado, autores que buscam reformular internamente elementos do modelo liberal de democracia, e por outro lado, ha aqueles que refutam 0 paradigma liberal apresentando novas alternativas.++ Mas, diferentemente de quem rejeita veementemente a tradicdo liberal, Habermas ainda busca conciliar as tradicdes liberal e republicana. No entanto, se a teoria deliberativa é uma alternativa frente aos modelos liberal e republicano, o que ela introduz de novo? O modelo deliberative pode "fazer a diterenca"22 "Deliberagao" é uma categoria normativa que sublinha uma concepgéo procedimental de legitimidade democratica, segundo Habermas. Esta concepcdo normativa gera uma matriz conceitual diferente para definir a natureza do processo democratico,*2 sob os aspectos regulativos (ou exigéncias normativas) da publicidade, racionalidade € igualdade.14 Embora também tenha um cardter empirico-explicativo, a €nfase da concepeo habermasiana de democracia procedimental assenta no carter critico-normativo. A concepcdo procedimental de democracia é uma concepcao formal e assenta nas exigéncias normativas da ampliacao da participagao dos individuos nos processos de deliberacéo e decisao e no fomento de uma cultura politica democrética. Por ser assim, esta concepcdo esta centrada nos procedimentos formais que indica "quem" participa, e "como" fazé-lo (ou esta legitimado a participar ou fazé-lo), mas no diz nada sobre "o que" deve ser decidido. Ou seja, as regras do jogo democratico {eleicées regulares, principio da maioria, sufrdgio universal, alternancia de poder) nao fornecem nenhuma orientago nem podem garantir o "conteddo” das deliberacdes e decisées. Para Habermas, dois modelos normativos de democracia dominaram o debate até aqui, o liberal e 0 republicano, Diante destes, prope um modelo alternativo, o procedimental.12 A dimensao politica comparativa tomada pelo autor é 2 formacao democratica da opiniao e da vontade.t® Além disso, 0 entendimento distinto do processo democrético carrega também compreensdes normativas distintas de estado e sociedade, e para a compreenséo da legitimidade e da soberania popular. No modelo liberal, 0 proceso democratico tem por objetivo intermediar a sociedade (um sistema estruturado segundo as leis do mercado, interesses privados) e o Estado (como aparato da administrac3o publica). Nesta perspectiva, a politica tem a funcao de agregar interesses sociais e os impor ao aparato estatal; é essencialmente uma luta por posicées que permitam dispor de poder administrative, uma autorizacdo para que se ocupem posicdes de poder. O processo de formacao da vontade e da opinigo politica ¢ determinado pela concorréncia entre agentes coletivos agindo estrategicamente em manter ou conquistar posicées de poder. Por esse modo, esta compreensdo de politica opera com um conceito de sociedade centrado no Estado (como cerne do poder politico) Como nao é possivel eliminar a separacdo entre Estado e sociedade, visa-se supera-la apenas via processo democrético. No entanto, a conotacao normativa de equilibrio de poder e interesses é fragile precisa ser complementada estatal e juridicamente, Mas ela se orienta pelo lado output da avaliacdo dos resultados da atividade estatal. 0 éxito em tal processo medido pela concordancia dos cidadéios em relagio a pessoas € programas, quantificado em votos.12 No modelo republicano, o proceso democrética vai além dessa funcio mediadora. Apresenta a necessidade de uma formacio da opiniao © da vontade e da solidariedade social que resuite da reflexo e conscientizacio dos atores sociais livres e iguais. Nessa perspectiva, a politica nao obedece aos procedimentos do mercado, mas as estruturas de comunicacio publica orientada pelo entendimento miituo, configuradas num espaco publico. Este exercicio de auto-organizacao da sociedade pelos cidadaos por via coletiva seria capaz de emprestar forca legitimadora ao processo politico. Por esse viés, da auto-organizacao politica da sociedade, esta compreensao de poltica republicana opera com um concelto de sociedade direcionado contra o Estado (sociedade é o cerne da polltica). Orienta-se pelo input de uma formago da vontade politica 18 © modelo deliberativo, por sua vez, acolhe elementos de ambos os lados e os integra de uma maneira nova ¢ istinta num conceito de procedimento ideal para deliberacdes e tomadas de decisao. Esta compreensio do proceso democratico tem conotagdes normativas mais fortes que o modelo liberal, mas menos normativas do que hitputwwwscieo.briscielo.php7script=sci_arttext&pid=S0100-512X2010000100012 aie rains2018 Estera pbliea ¢ democracia deliberaliva em Habermas: modslolsérco @ discursos evticos ‘© modelo republicano. Como o republicanismo, a teoria discursiva da democracia reserva uma posicdo central a0 processo politico de formac3o da opiniao e da vontade, entretanto sem entender como algo secundario & constitui¢o juridico-estatal.2 Como o modelo liberal, também na teoria discursiva da democracia os limites entre Estado e Sociedade so respeltados. Todavia, aqui, a sociedade civil, como base social das opinides piblicas auténomas, distingue-se tanto dos sistemas de acdo econémicos quanto da administracao publica. Dessa compreenséo do procedimento democratico resulta normativamente a exigéncia de um deslocamento dos pesos que se aplicam a cada um dos elementos na relacdo entre os trés recursos, a saber, dinheiro, poder administrative e solidariedade, a partir das quais as sociedades modernas preenchem sua necessidade de Integracio e de regulacdo. As implicages normativas so evidentes: a forca soclointegrativa da solidariedade, que ndo pode mais ser obtida, mas ser extraida apenas das fontes da acéo comunicativa, precisa desenvolver-se em espacos publicos auténomos diversos e procedimentos de formacao democratica da opiniao e da vontade politica institucionalizados Juridico-estatalmente; e ser capaz de se afirmar contra os outros dols poderes, dinhelro e poder administrativo.22 © principio procedimental da democracia visa amarrar um procedimento de normatizacao (0 que significa: um processo de institucionalizacao da formacao racional da opiniao e da vontade), através do carater procedimental, que garante formalmente igual participacéo em processos de formaco discursiva da opinio e da vontade e estabelece, com isso, um procedimento legitimo de normatizacdo. Nesse caminho via procedimento e deliberacdo, que constitui o cerne do processo democratico, pressupostos comunicativos de formacdo da opinigo e da vontade funcionam como a “eclusa" mais importante para a racionalizacao discursiva das decisées no ambito institucional. Procedimentos democréticos proporcionam resultados racionais na medida em que a formacao da opiniao e da vontade institucionalizada é sensivel aos resultados de sua formacdo informal da opinido que resulta das esferas piiblicas auténomas e que se formam ao seu redor. As comunicagdes pUblicas, oriundas das redes periféricas, so captacas e filtradas por associacées, partidos e meios de comunicacdo, e canalizadas para os foros institucionais de resolugiio e tomadas de decisdo: A chave da concep¢o procedimental de democracia consiste precisamente no fato de que 0 processo democratico institucionaliza discursos e negociacBes com 0 auxilio de formas de comunicacdo 8s quais devem fundamentar a suposigao de racionalidade para todos os resultados obtidos conforme o processo.21 Como se vé nessa passage, do ponto de vista normativo, o que empresta forca legitimadora ao "procedimento" é justamente o percurso ou a base argumentativa de fundamentago discursiva que se desenrola na esfera piblica. Este percurso visa garantir 0 uso equitativo das liberdades comunicativas, conferindo por esse modo também forca legitimadora ao processo de normatizacao. Ou seja, a compreensdo procedimental de democracia tenta mostrar que os pressupostas comunicativos e as condicdes do pracesso de formacao da opinigo so a Unica fonte de legitimagao; que a formacao democratica da opiniao e da vontade tira sua forca legitimadora dos pressupostos comunicativos e dos procedimentos democraticos. Procedimentos que fundamentam uma medida para a legitimidade da influéncia exercida por opinides publicas sobre a esfera formal do sistema politico. Para serem legitimas, as decisdes tém que ser reguladas por fluxos comunicativos que partem da periferia e atravessam as comportas dos procedimentos préprios democracia. A prépria pressao da esfera publica consegue forcar 2 elaboracdo de questées e, com isso, atualizar sensibilidades em relacao as responsabilidades politicas.22 Na perspectiva de uma teoria da democracia, a esfera publica tem que reforcar a pressdo exercida pelos problemas, ou seja, ela no pode limitar-se a percebé-los, e a identificd-los, devendo, além disso, tematizd-los, problematiza-los e dramatiza-los de modo convincente e eficaz, a ponto de serem assumidos e elaborados pelo complexo pariamentar.22 2 A concepgao de esfera piiblica deliberativa Nao ha divvidas de que a concepco normativa da esfera publica "deliberativa” formulada em Faktizitét und Geltung (1992) significa uma reorientagao do foco tedrico em relacdo as formulacdes anteriores, especialmente Strukturwandel der Offentlichkeit (1962), Theorie des Kommunikativen Handeins (1982), e no "prefacio” 3 nova edigéo de Strukturwandel der Offentlichkeit (publicada em 1990). O novo papel da esfera publica dentro de uma teoria deliberativa da democracia enfatiza ainda mais a ampliagdo da categoria esfera publica, j4 esbocada no “prefacio” de 1990, mas agora com uma influéncia mais efetiva nos contextos formais e institucionalizados de deliberacao e decisa0 politicos,4 © que interessa esclarecer aqui é: qual a especificidade da categoria de esfera publica em Faktizitat und Geltung? Na linguagem habermasiana, o procedimento da democracia deliberativa constitu o Amago do proceso democratico.25 A esfera publica, por sua vez, é a categoria normativa chave do processo politico deliberativo habermasiano. A esfera piblica é uma “estrutura intermedidria" que faz a mediacdo entre o Estado e o sistema politico e os setores privados do mundo da vica.2£ Uma “estrutura comunicativa", um centro potencial de comunicacao publica, que revela um raciocinio de natureza piiblica, de formac3o da opinigo e da vontade polltica, enraizada no mundo da vida através da sociedade civil. A esfera publica tem a ver com 0 "espaco social" do qual pode emergir uma formagio discursiva da opinigo e da vontade politica.22 No seu bojo colidem os conflitos em torno do controle dos fluxos comunicativos que percorrem o limiar entre o mundo da vida e a sociedade civil e 0 sistema politico e administrativo. A esfera publica constitul uma “caixe de ressonancia”,2® dotada de um sistema de hitputwwwscieo.briscielo.php7scrpt=sci_arttext8pid=S0100-512X2010000100012 ane rains2018 Estera pbliea ¢ democracia deliberaliva em Habermas: modslolsérco @ discursos evticos sensores sensiveis ao ambito de toda sociedade,22 e tem a funcdo de filtrar e sintetizar temas, argumentos contribuicées, e transporté-los para o nivel dos processos institucionalizados de resolucdo e decisdo, de introduzir no sistema politico os conflitos existentes na sociedade civil, a fim de exercer influéncia e direcionar os processos de regulacao e circulaggo do poder do sistema politico,3? através de uma abertura estrutural, sensivel e porosa, ancorada no mundo da vida.3! Esfera ou espaco publico é um fenémeno social elementar do mesmo modo que @ aco, 0 ator, 0 grupo ou a coletividade; porém, ele ndo é arrolado entre os conceitos tradicionais elaborados para descrever a ordem social. A esfera publica néo pode ser entendida como uma instituic&o, nem como uma organizaco, pois ela constitui uma estrutura normativa capaz de diferenciar entre competéncias € papéis, nem regula o modo de pertenga a uma organizacao, etc. Tampouco ela constitui um sistema, ois mesmo que seja possivel delinear seus limites internos, exteriormente ela se caracteriza através de horizontes abertos, permedveis e deslocaveis. A esfera publica pode ser descrita como uma rede adequada para a comunicagao de contetidos, tomadas de posigao e opinides; nela os fluxos comunicativos so filtrados e sintetizados, a ponto de se condensarem em opinides publicas enfeixadas em temas especificos. Do mesmo modo que o mundo da vida tomado globalmente, a esfera publica se reproduz através do agir comunicativo, implicando apenas o dominio de uma linguagem natural; cla esta em sintonia com a compreensibilidade geral da pratica comunicativa cotidiana. Descobrimos que 0 mundo da vida é um reservatério para intengées simples; e os sistemas de acdo e de saber especializados, que se formam no interior do mundo da vida, continuam vinculados a ele. Eles se ligam a fungées gerais de reproducao do mundo da vida (como é 0 caso da religio, da escola e da familia), ou a diferentes aspectos de validade do saber comunicado através da linguagem comum (como € 0 caso da ciéncia, da moral e da arte). Todavia, a esfera publica nao se especializa em nenhuma destas diregSes; por isso, quando abrange questées politicamente relevantes, ela deixa ao cargo do sistema politico a elaboracgo especializada. A esfera publica constitul principalmente uma estrutura comunicativa do agir orientado pelo entendimento, a qual tem a ver com 0 espaco social gerado no agir comunicativo, no com as funcées nem com os contetidos da comunicacao cotidiana.=2 No entanto, apesar dessa definigdo mais geral, como determinar qual a sua especificidade, fixar a extenso ou os limites internos e externos, estabelecer o que estd dentro e 0 que esté fora? Sendo vejamos essa outra passagem: Ela [a esfera piiblica] representa uma rede supercomplexa que se ramifica num sem némero de arenas internacionais, nacionais, regionais, comunais e sub-culturais, que se sobrepéem umas as outras; essa rede se articula objetivamente de acordo com pontos de vista funcionais, temas circulos, etc., assumindo a forma de esferas piblicas mais ou menos especializadas, porém, ainda acessivels a um publico de leigos (por exemplo, esferas publicas literérias, eclesiésticas, artisticas, feministas, ou ainda, esferas piblicas "alternativas" da politica de sade, da ciéncia e de outras); além disso, ela se diferencia por niveis, de acordo com a densidade da comunicacdo, da complexidade organizacional e do alcance, formando trés tipos de esfera pilblica: esfera publica episédica (bares, cafés, encontros de rua), esfera piblica da presenca organizada (encontros de pais, publico que frequenta teatro, concertos de rock, reunides de partidos ou congressos de igrejas) e esfera publica abstrata, produzida pela midia (leitores, ouvintes e espectadores singulares e espalhados glabalmente). Apesar dessas diferenciagées, as esferas publicas parciais, constituidas através da linguagem comum ordinéria, s80 orosas, permitindo a ligacdo entre elas, Limites socials internos decompdem o "texto" da esfera publica, que se estende radicalmente em todas as diregées (...] No interior da esfera publica geral, definida através de sua relacdo com o sistema politico, as fronteiras no so rigidas em principio.22 Estas duas passagens acima so elucidativas aqui e sintetizam o estatuto normativo da categoria de esfera publica deliberativa, formulado na obra sobre direito e democracia, A esfera publica tem como caracteristica elementar ser um espaco irrestrito de comunicacao e deliberacdo piiblica, que ndo pode ser anteriormente estabelecido, limitado ou restringido, os elementos constitutivos no podem ser antecipados. Em principio, esta aberta para todo mbito social. Nao existem temas ou contribuigées a priori englobados ou excluidos, A esfera publica é sempre indeterminada quanto aos conteidos da agenda politica e aos individuos e grupos que nela podem figurar. € por isso que Habermas ndo quer (nem pode) descrever, precisamente, quais as linhas internas e externas, quais as fronteiras da esfera publica, embora necessite, por outro lado, de certa autolimitacdo, para, por exemplo, no ficar a mercé de toda e qualquer forma de manifestacao publica (como formas de comunicacao estratégicas). Esse ¢ 0 duplo caréter constitutive da esfera publica, pelo qual ela acaba oscilando entre a exigéncia de livre participacdo & circulagdo de temas e contribuicdes e certa autolimitacao.2¢ Para tanto, Habermas prope a adocdo da ideia procedimental de deliberacdo publica, pela qual os "contornos" da esfera publica se forjam durante os processos de identificagdo, filtragem e interpretagio acerca de temas e contribuicdes que emergem das esferas piblicas auténomas e so conduzidos para os foros formais e institucionalizados do sistema politico e administrativo.25 E nesse caréter procedimental de justificacSo da legitimidade que se realiza a normatividade da esfera publica.2° E da inter-relacdo entre as esferas publicas informais e a esfera publica formal - qual seja, dos fluxos comunicativos e influéncias piblicas que emergem das esferas puiblicas informais, auténomas, e s8o transformados em poder comunicativo e transportados para a esfera formal -, que deriva a expectativa normativa da esfera publica. A expectativa normativa [...] se funda no jogo que se estabelece entre a formacdo politica da vontade, constituida institucionalmente, e os fluxos comunicativos espontaneos de uma esfera publica néo hitputwwwscieo.briscielo.php7script=sci_arttext&pid=S0100-512X2010000100012 5118 rains2018 Estera pibliea ¢ democracia deliberaliva em Habermas: modelo lsérco @ discursos evticos organizada no programada para tomar decisées, os quais no sao absorvidos pelo poder. Neste contexto, a esfera publica funciona como uma categoria normativa.22 Mas como se dé especificamente esse engate das esferas piiblicas informais com a esfera publica formal? Segundo Habermas, através de diferentes niveis da esfera publica, como a formagao informal da opiniao nas esferas piiblicas informais, nas associagées, no interior dos partidos, participagao em eleicdes gerais, corporagées parlamentares e governo.2® Para tanto, ha uma necessidade de complementar a formaco da opiniao e da vontade Parlamentar e dos partidos, através de uma formagao informal da opiniéo e da vontade na esfera publica. Mas, apesar de possuir este aspecto formal, de conduzir & institucionalizac3o via partidos, eleicdes e outros foros, a esfera publica nao é institucionalizada, nem é sistémica: "A esfera publica néo pode ser entendida como uma instituicdo [...] Tampouco ela constitui um sistema, pois, mesmo que seja possivel delinear seus limites internos, exteriormente ela se caracteriza através de horizontes abertos, permedvels e deslocéveis" 22 No entanto, se a esfera publica politica é a categoria central da compreensdo habermasiana do procedimento politico deliberativo, no o é, entretanto, no seu todo, O conteiido normativo da esfera piblica ndo se restringe aos arranjos institucionais, depende também das esteras piblicas informais. - E aqui se vé claramente o papel dos féruns informais integrantes da esfera pUblica que j4 se encontravam presentes na Theorie -. Embora as tomadas de decisdo e a fitragem das raz6es vie procedimento formal parlamentar ainda permenecem tarefas da esfera publica formal, séo as esferas informais que tém a responsabilidade de identifica e interpreter os problemas sociais. Vé-se certa hierarquizac&o que segue dois caminhos de formacao da opinido e da vontade: o informal e o institucionalizado. O caminho procedimental da institucionalizacao da prética da autodeterminacéo da sociedade civil segue da socializago horizontal para formas verticais de filtragem e organizacéo de temas relevantes. 2 Até aqui vimos que a concepcdo de polttica deliberativa & abordada principalmente sob o aspecto da legitimagao.*2 Vimos também que 2 noso de "procedimento" da politica deliberativa é 0 cerne do proceso democrético habermasiano. Ao ser forjado na esfera publica, o procedimento (e 0 que dele resulta) fornece a base elementar de medida da legitimidade, e, nesse sentido, também o fundamento ou a justificacdo normativa, O sentido normativo da esfera piblica é conferir forca legitimadora ao procedimento da politica deliberativa; o sentido normativo reside nna forca legitimadora do processo de discussao e deliberaco que se desenrola no seu interior, © proceso democritico da deliberacao carrega o fardo da legitimacdo.*2 E daqui brota o “poder comunicativo". O poder comunicativo € 0 "poder" que resulta do procedimento deliberativo de discussdo e deliberagdo, que toma forma na esfera publica ¢ que geralmente é contraposto a esfera do poder politico-administrativo.“? No entanto, em Faktizitat.... a esfera publica nao exerce poder, mas influéncia. Esta é a diferenca em relacdo & ideia de itiamento" da Theorie. A figuracao na esfera publica nao pretende o (nem o conflito gira mais em torno do) sitiamento, mas os diferentes tipos de influéncia, E essa influéncia que precisa ser mediada, Para tanto, & fundamental o principio da soberania popular como procedimento.4# A politica deliberativa obtém sua forca legitimadora da estrutura discursiva de um processo piblico de formacao da opinido e da vontade politica, a qual preenche sua fungo social integradora gracas expectativa da qualidade racional de seus resultados. Para tanto, o nivel discursive das comunicagées politicas observaveis pode ser tomado como medida para avaliar a eficdcia da razao procedimentalizada.* Por isso, o nivel discursivo do debate puiblico constitui a variével mais importante.“ Mas, como se mede a qualidade e o nivel discursivo das formas de comunicago publicas? Para 0 autor, a “influéncia da maioria’ fornece aqui uma alternativa e constitui uma grandeza empirica.42 3 Discursos criticos Para explicar a concepgao de democracia procedimental deliberativa, Habermas serve-se de uma concepcao normativa de discurso racional. No entanto, esta concepgo ndo é entendida como um ideal filoséfico; ela tem um carter reconstrutivo: de uma Sociologia pracedimental reconstrutiva, com o objetivo de elucidar nas praticas politicas elementos incorporados, mesmo que distorcidos, da razdo existente.4® Com esta proposta deliberative de democracia, vemos uma opcio explicita de Habermas: a descricao do procedimento deliberativo serve como pano de fundo para a proposta de circulaco e implantacao do poder comunicativo, ancorado num sistema de eclusas. Os fluxos comunicativos podem migrar tanto do centro para a periferia quanto da periferia para o centro, dependendo de quem determina ou controla a orientacdo dos fluxos de comunicacao. Mas, apesar desses dois modos de elaborar temas, questdes e problemas, interessa a Habermas o caminho que culmina no tratamento formal de temas novos e politicamente relevantes que emergem do mundo da vida e da esfera privada da sociedade civil, e que migram da periferia ao centro: "A idéla de democracia repousa, em ultima instancia, no fato de que os processes politicos de formagao da vontade, que no esquema aqui delineado tem um status periférico ou intermediario, devem ser decisivos para o desenvolvimento politico" 42 No entanto, os argumentos a favor da concepgdo deliberativa de esfera piblica e de politica tém sido alvo de muitas criticas, Muitos tedricos que se ocupam com teorias democraticas tém questionado as assuncdes basicas da teoria politica deliberativa que resulta da obra sobre direito e democracia, apontando varios pontos frageis: o seu \cansdvel procedimentalismo; 0 cardter idealista; de que a proposta de uma reforma democratica das instituicdes 1ndo seria tao radical assim; a incapacidade de fornecer principios substantivos de justica social; de que, apesar da hitputwwwscieo.briscielo.php7script=sci_arttext8pid=S0100-512X2010000100012 ane rains2018 Estera pbliea ¢ democracia deliberaliva em Habermas: modslolsérco @ discursos evticos intencionalidade pratica, Habermas nao explicita nenhum destinatdrio em particular (a quem ele se endereca?), que as caracteristicas ou pressupostos deliberativos se manifestam apenas em formas especificas e restritas; entre outros. 52 Nao podemos acompanhar aqui em sua amplitude a bibliografia critica sobre esfera publica e democracia deliberativa e, portanto, néo vamos reproduzir de modo mais detalhado as discussées e controvérsias sobre o tema = 0 debate de Habermas com as abordagens filoséfico-normativas e sociolégico-observadoras, entre liberais, comunitaristas e procedimentalistas, permanecem incompletas.£4 Para nossos propésitos, vamos aqui nos limitar apenas a alguns comentarios sobre deliberaco, especialmente aqueles envolvendo a esfera piblica deliberativa: A introduc&o do principio da legitimidade deliberativa no pracesso democratico significa o reconhecimento, por Parte dos atores, de que os motives introduzidos no procedimento de discussao e deliberacao e de que o resultado alcangado deu-se sob os holofotes normativos. No entanto, as dividas que surgem sao: os procedimentos deliberativos so apenas procedimentos de argumentacdo racional ou também remetem a consideracées racionais substantivas? A énfase da deliberacao é nos elementos normativos e consensuais do modelo deliberative ou é uma énfase realista nos interesses e no potencial de conflito neles contido? Os mecanismos procedimentals deliberativos realmente conseguem proteger a formacao politica da opinido e da vontade das influéncias? 0 modelo deliberativo consegue neutralizar e suspender disparidades econémicas, socials, culturais, cognitivas, entre outras, e promover um resultado satisfatério, de igualdade e justiga? Seu aspecto cognitivo realmente introduz uma gradual abolicao destas desigualdades e disparidades, promove igualdade e produz resultados politicos justos? Enfim, trata-se de processos de deliberacio ideal ou de deliberacdo efetiva? As expectativas politicas de uma esfera piblica normativa estéo depositadas na forga critica do modelo deliberativo de comunicagdo pitblica e de circulagao do poder. Mas, embora este modo de comunicacao publica carregue fortes expectativas normativas de entendimento e de consenso, as limitacdes para a realizacao de tais condicdes de comunicagéo so bem conhecidas. Ha exemplos, observaveis na bibliografia, de pressupostos limitadores, internos e externos. Dissensos, formas nao-discursivas de comunicacao publica, desigualdades, assimetrias, estratificacdo social, estruturas de poder, fragmentacdo do universo simbélico, diversidade de modos de vida cultural, pluralismo das visdes de mundo, convicgdes religiosas, temas controversos, os efeitos de certas formas de comunicagdo estratégica, ou interesses especificos relacionados a classes, grupos, comunidades étnicas, comunidades religiosas, ou sub-culturas com orientacées especificas ou alternativas. Para autores como John Dryzek, James Bohman e Mark Warren, o modelo de democracia deliberativa que se assenta no principio procedimental de soberania popular esté muito concentrado, ou direcionado por demais, na arquiteténica institucional. Em contrapartida, tais autores tém em comum a tentativa de desenvolver modelos de democracia que se ocupam com um conceito pés-habermasiano de soberania popular. Um conceito de democracia que, embora articulado na sociedade civil e na esfera publica, seja, no entanto, mais amplo e mais descentrado dos liames institucionais.22 Para Simone Chambers, embora Habermas seja um radical democrata procedimental, nao é, no entanto, um radical democrata social, e, por isso, é incapaz de fornecer principios substantivos de justica social.23 Para Kenneth Baynes, o modelo deliberativo no pode ignorar completamente principios substantivos de justica.®* Parece-nos que é nesse sentido que emergem as objecdes mais contundentes 4 concepcao deliberativa de esfera publica e de politica habermasiana Para William Scheuerman, Habermas teria falhado em no encarar de modo suficiente 0 potencial radical da democracia deliberativa (democracia radical). Por exemplo, desigualdades sociais seriam barreiras para que os membros de uma comunidade politica sejam aptos a participar da geracao da legitimidade do poder. As condicies materiais das sociedades globalizadas, com suas dindmicas complexas, suas condigées internas (poder, consumismo, midia, por exemplo) acabam privando a auténtica participacao democratica. Segundo o autor, interacdes exigem um certo nivel, tém que se dar sob certas condigdes, sem coacdes externas (econdmicas ou de poder, por exemplo). Por isso, tornam-se necessérios certos niveis de igualdade e respeito entre os participantes da comunicagao publica; mecanismos capazes de evitar as influéncias das desiguais condicées socioeconémicas. Para o autor, o modelo deliberative ndo consegue fornecer condicdes estruturais de comunicacdo publica isentas de certs tipos de influéncia que desvirtuam ou afetam a qualidade e o resultado do processo deliberative. 0 modelo deliberativo ndo consegue cumprir todas as exigéncias normativas da publicidade, racionalidade e igualdade nos mais diferentes niveis e arenas da esfera publica.= A concepsao deliberativa da democracia considera 2 participacao dos cidadéos nas deliberagées e nas tomadas de decisao 0 elemento central da compreensao do processo democratico. Nesse sentido, focaliza os elementos formais e normativos, como a exigéncia do aumento da participacao dos cidadaos nos processos de deliberagao e decisdo e © fomento de uma cultura politica demacratica. © pracedimento da deliberaco ndo é apenas uma etapa de discussio que antecede a tomada de decisdo. Mais do que isso, ela tem o objetivo de justificar as decisées a partir de razées que todos poderiam aceitar. Esse é 0 procedimento deliberativo da razéo publica: fornecer um espectro de razBes que poderiam ser aceitas por todos os possiveis atingidos, ainda que nem todos compartilhem com 0 tema ou assunto em questo, ou com a mesma filosofia de vida, Segundo Marcos Nobre: itp scieo.briscielo.php?scrpt=scl_arttext8pid=S0100-512X2010000100012 78 rains2018 Estera pibliea ¢ democracia deliberaliva em Habermas: modelo lsérco @ discursos evticos O procedimento, para Habermas, é "formal", mas nao em oposicao a contetidos determinados, de que ele seria a abstragdo, ou em relaggo aos quais ele seria "vazio", mas 0 processo capaz de permitir 0 ‘surgimento do maior numero possivel de vozes, de alternativas de aco e de formas de vida, garantindo seu direito de expressdo e de participacdo. Ele é formal também no sentido de que 0 processo de deliberacdo poltica ndo pode ser orientado por nenhuma forma de vida determinada, por nenhum modelo concreto do que deva ser a sociedade ou os cidadios que vivem em um Estado Democrético de Direlto,5 Como podemos ver, a deliberacio é um procedimento que indica quem deve participar e como, mas nao tem nada a dizer sobre o preenchimento dos contedidos normativos, Por esse modo, o principio formal da deliberacdo democrética nao pode ser confundido ou reduzido a outros bens, também valiosos, como "justica social’, "Estado de direito’, "direitos socials” e "direitos culturais", mais préximos das teorias explicativas da democracia, fundados nos interesses e nas preferéncias dos individuos (preferéncias e interesses substantivos: ou socials, ou materiais, ou culturais, ou ainda outros). Os procedimentos deliberativos escapam das restricdes de uma Unica dimensao da razo pratica, seja moral, ética ou pragmética.52 Nesse sentido, os aspectos procedimentais do uso puiblico da azo, a0 confiarem mais no procedimento deliberativo de uma formacao da opinido e da vontade, podem deixar questées em aberto. A concepsao procedimental de democracia carrega no seu bojo uma “tensdo" entre facticidade e validade. Esta relago entre ambas constitui-se numa constante tens&o encontrada nos pressupostos pragmiaticos contrafactuais que, mesmo carregado de pressupostos idealizadores, tém que ser admitidos factualmente por todos os participantes quando estes desejam participar de uma argumentacdo discursiva a fim de justificar ou negar pretensdes de validade. Os "pressupostos idealizadores" - de incluso, acesso universal, direitos comunicativos iguais, participacao sob igualdade de direitos, igualdade de chances para todas as contribuicées, auséncia de coagées - apenas tém o carater de garantir formalmente uma pressuposico fatica para gozar chances iguais,22 Para Habermas, esta tensdo é desconsiderada pelas teorias normativistas (que correm o risco de perder o contato com a realidade social) ¢ as teorias objetivistas (que correm o risco de serem incapazes de focalizar normas).22 A tenséo, 0 conflito, a disputa politica que se desenrola nas esferas pibblicas sao inerentes ao proprio procedimento, um "jogo" no qual jé sempre estamos envolvidas camo participantes quando pretendemos discutir, Justificar ou negar pretensdes de validade, Este conflito se alimenta de um jogo que envolve uma esfera publica ancorada na sociedade civil e a formago institucionalizada no complexo parlamentar, um jogo que envolve a formacao da vontade formal e institucionalizada e a formacao informal da opiniao.£2 A tensao gira em torno dos fluxos comunicativos, ou melhor, de quem determina o sentido dos fluxos de comunicago e que elaboram pretensées normativas na sociedade e no sistema politico. Uma tensao entre o poder comunicativo gerado na base social do mundo da vida e 0 poder administrative gerado no sistema politico, A prépria esfera publica ¢ entendida, por caracteristica, como um espago irrestrito de comunicacdo publica. Nada pode ser estabelecido ou restringido de antemao. Qualquer assunto ou questo problematizével pode ser tematizado publicamente, no qual os contornos da esfera publica vao sendo forjados nos processos de escolha, circulagdo e proposta de temas, e os contetidos normativos vdo sendo preenchidos dependendo de quem controla ou orienta os fluxos de comunicacao que figuram na esfera publica. A qualidade da deliberacao que se configura na esfera publica depende de um procedimento no qual os cidadaos disputam interpretagées de contribuicées por tanto tempo até que cada um esteja convencido de que foram empregados os melhores argumentos. Este processo é garantido pelo carter procedimental da deliberaco. No entanto, o resultado desse processo permanece "provisério". Isso significa: caso sejam encontrados argumentos melhores, o procedimento de critica publica pode ser reaberto, Esse ¢ 0 cardter reflexivo (e critico) da esfera publica deliberativa. Segundo Nobre: Se a deliberagio e a participacao devem encontrar seu lugar no Estado Democrético de Direito, seré ecessério aceitar um jogo entre, de um lado, os espacos piblicos autdnomos e as novas formas de institucionalidade que projetam, e, de outro, macroestruturas definidoras do regime democratico, que serdo cada vez mais testadas em seus limites e suas configuracdes presentes. Entretanto [acentua Nobre], ndo se trata de um "livre jogo" entre os dois pélos, mas uma disputa politica que s6 mostrar avancos emancipatérios se for capaz de afastar, a cada vez, em cada conflito concreto, o jugo determinante do dinheiro e poder administrativo.£2 Esta compreensao falivel do paradigma procedimental tem implicacdes sobre a compreensio da justica ¢ o sentido da igualdade. Em primeiro lugar, uma esfera publica, ou de modo mais abrangente, um mundo da vida racionalizado, exige uma base social material e simbélica por meio da superacao das barreiras criadas pela estratificacdo social e pela exploracao sistemética. E aqui nos parece claro que a énfase da teoria democratica habermasiana gira em torno ndo apenas da democracia politica (os pressupostos formais, como direitos de cidadania, participacdo, e outros), mas também reivindica democracia social.£2 Em segundo lugar, a intengo de Habermas nao é fornecer um principio “substantivo" de justica, como jé vimos. Pelo contrério, os esforcos empregados em Faktizitat und Geltung visam justamente abolir principios substantivos, em favor de "procedimentos deliberativos’, e mostrar a correlacgo equilibrada entre a compreenso da autonomia piiblica e autonomia privada, Para Habermas, "essa concatenacao interna (e reciproca) entre autonomia privada e publica, quando a entendemos corretamente, constitui o 4mago normativo do paradigma procedimental" 24 hitputwwwscieo.briscielo.php7script=sci_arttext8pid=S0100-512X2010000100012 ane rains2018 Estera pibliea ¢ democracia deliberaliva em Habermas: modelo lsérco @ discursos evticos Em terceiro lugar, esta critica habermasiana visa explicitar as debilidades normativas dos modelos liberal e republicano, que, por exemplo, fixam de antemao a escolha sobre o sentido da igualdade juridica; ou fixam de anteméo quais assuntos sdo privados e quals séo pulblicos, Com o paradigma procedimental, a determinacéo do sentido da igualdade é lancada no campo politico de comunicacao publica, O conteudo da igualdade juridica deve ser considerado objeto de uma dispute politica. Um conflito no qual o sentido da igualdade é decidido num processo de comunicagao publica, conduzido pelos préprios participantes e possiveis afetados por meio do exercicio pilblico de formacao democratica da opinido e da vontade. O modelo deliberative considera os préprios concernidos como responsaveis pela definicio dos critérios de igualdade a serem aplicadas ao sistema de direitos. Com isso, a fundamentaco de igualdades materiais é incorporada na teoria democrética como uma disputa politica ‘em torno do que precisa ser reconhecido, Uma luta pelo reconhecimento juridico de necessidades e exigéncias normativas peculiares em relacdo ao conjunto de toda a comunidade juridica, na qual os grupos interessados procuram apresentar aos demais as experiéncias particulares de exclusdo social, discriminagdo e caréncias em vista do convencimento sobre a necessidade de um tratamento juridico formalmente diferenciado. Segundo 0 principio amplo da igualdade do conteddo do direito, aquilo que é igual sob aspectos relevantes deve ser tratado de modo igual, ¢ aquilo que é diferente deve ser tratado de modo diferente.£= Esta perspectiva procedimental abre a possibilidade de avaliacao motivada pela prépria experiéncia sofrida com a no realizagao de direitos, das alternativas existentes em relaco 4 permanéncia no paradigma social ou um retorno a0 paradigma liberal. Nesse sentido, Habermas encontra a emergéncia do paradigma procedimental ja enraizada em algumas vertentes da pratica juridica contemporanea, que se vé encurralada entre a critica ao modelo social e a rejeicéo do retorno ao modelo liberal. No entanto, é em certos desenvolvimentos de movimentos feministas de esquerda norte-americanos que Habermas encontra a melhor expresso das exigéncias normativas, da necessidade de uma orientacao procedimentalista da pratica juridica contemporanea: o movimento feminista, ao ter experimentado as limitacdes especificas de ambos os paradigmas anteriores, estaria agora em condigfes de negar a cegueira em relacdo as desigualdades factuais do modelo paternalista social. Nesse caso, as diferentes interpretagées sobre a identidade dos sexos e suas relagdes muituas tém de se submeter a discusses piiblicas constantes, no qual as préprias concernidas podem reformular o tema ou assunto em questo a ser reconhecido, e elas mesmas decidirem quais as necessidades que precisam ser corrigidas pelo medium do direito 2 As reformulacées da década de 90 tomadas como ponto de partida e como fio condutor da investigagdo habermasiana so um passo importante na readequacdo da categoria de esfera publica 4s novas questdes € problematicas que vao sendo incorporadas na discussao sobre o tema da esfera publica, suas caracteristicas, suas funcées, seus portadores, suas articulages com outras esferas e Instdncias mediadoras. A reformulacdo da categoria de esfera piblica no "prefacio" de 1990 a Strukturwandel der Offentlichkeit, e em Faktizitét und Geltung (com uma énfase maior sobre o institucional, e a reformulago da nocao de sistema politico, mais aberto e mais poroso), é uma tentativa de melhor contextualizar e compreender as novas articulagdes mediadoras que emergiram entre as esferas do mundo da vida e da sociedade civil, ¢ as esferas institucionais do sistema politico € administrativo. Trata-se de reavaliar os mecanismos de participacdo democrética, os elementos argumentativos ¢ 0 peso que exercem nos processos de formaco da opiniao e da vontade e nos novos arranjos institucionais. Nesse sentido, Habermas pode nao ter explicitado nenhum destinatario em particular, mas as reformulacBes da esfera piiblica da década de 90 resgatam a importdncia e o papel da sociedade civil, outorgando-Ihe o direito @ articipacdo e argumentacaio, ao impacto crescente da reflexividade e a democracia formal. No entanto, & a partir deste cenario teérico da nova compreensio da circulaglo do poder politico, da concepgo deliberativa de esfera publica e de politica, que também emergem as objecées criticas mais contundentes sobre as implicacdes praticas, possibilidades de efetividade e influéncia na institucionalizacao de reivindicagdes que emergem das mais diversas, organizagées da sociedade civil, e que sejam capazes de promover mudancas no sistema politico. Vejam-se as controvérsias sobre as possibilidades de uma esfera publica pés-nacional. Nos “Estudos Preliminares e Complementos" e no “Posfécio" & quarta edicio de Faktizitat und Geltung,S8 na entrevista "Faktizitat und Geltung. Ein Gesprach Uber Fragen der politischen Theorie",§2 e no "Apéndice a ‘Faktizitat und Geltung”,72 Habermas retoma e busca elucidar as controvérsias acerca da esfera publica e da politica deliberativa, 2 relacdo entre esferas informais do mundo da vida e as esferas formals do sistema politico institucionalizado, ¢ 0 modo como no seu bojo se articula essa mediacdo. No entanto, parece-nos que esta tentativa de melhor esclarecer a articulagdo entre a autocompreensao normativa do estado de direito e a facticidade dos processos pollticos jé se movimenta sob um modificado pano de fundo teérico da esfera publica Depois da obra Faktizitat und Geltung, as discussdes habermasianas sobre as possiblidades préticas do modelo deliberativo de esfera publica foram aos poucos sendo aplicadas para o campo politico pés-nacional. Especiaimente 2 partir de Die Einbeziehung des Anderen (1996), so tematizadas novas questGes e problemas envolvendo a esfera publica, mas j& pensadas e empregadas num contexto mals amplo e vinculadas a temas como multiculturalismo, tolerancia, reconhecimento, redistribuicéo, fundamentalismo, secularizagéo, entre outros. Mas, como entender esse deslocamento? Seria uma nova reformulacdo? Seria uma transferéncia? Ou seria um outro campo de aplicagao? Ou como entendé-Io? Parece-nos que a categoria de esfera publica e questdes como a relacdo entre autonomia publica e privada, entre soberania popular e direitos humanos, entre democracia e Estado de direito, so pensadas num contexto aplicativo modificado, o émbito internacional (de uma esfera publica pés- nacional e de uma teoria politica universalista). Mas, isso’precisa ser melhor investigado. itp scieo.briscielo.php?scrpt=scl_arttext8pid=S0100-512X2010000100012 one rains2018 Estera pbliea ¢ democracia deliberaliva em Habermas: modslolsérco @ discursos evticos As recentes transformacées nos panoramas social, politico, econémico, cultural € religioso, refletem uma nova dinmica envolvendo estados nacionais que se juntam em comunidades regionais e supranacionais, de sociedades pluralistas nas quais a intolerdncia multicultural se agudiza, e na qual os cidadaos esto sendo empurrados e incorporados involuntariamente numa sociedade mundial, ¢ classificados em centro e periferia. A expansSo do debate sobre a esfera publica para um 4mbito global (Weltdffentlichkeit) significa que 0 contexto teérico especifico que até aqui serviu de base para a discussao e descricao das possibilidades de uma esfera publica (cultura politica comum engenhada no Ambito territorial nacional, Estado-naco ou a autoridade do Estado como endereco politico do pablico, soberania popular, estado democratico de direito, constituigdo, direito), ja ndo seria mais suficiente para compreender a nova dinamica engendrada pelo processo de globalizacao do capital e da politica em termos internacionais, ou as repercussées em escala mundial como a queda do socialismo de estado nos paises do leste europeu que engendraram novas experiéncias de demacratizacdo, o movimento feminista crescente em termos mundiais, © 0s movimentos de democratizacSo na China”2 e na Africa.73 A reorientacdo habermasiana para um Ambito teméatico pés-nacional visa discutir as possibilidades e formas de um projeto constitucional de um estado democratico e de democracia deliberativa que envolvam a esfera publica no nivel global. Habermas parte do principio de que os estados nacionais nao conseguem mais dar conta dos problemas de legitimagao da politica, (ou dos efeitos colaterais de outras esferas de acdo, como a economia), decorrentes da movimentacao transnacional, e que acaba afetando, de uma forma ou de outra, os mecanismos de legitimacao institucionalizados nos estados nacionais. Nesta perspectiva, a estrutura tedrica de base da esfera piblica formulada em Faktizitat und Geltung j& necessitaria de uma outra reformulacao: ser compreendida e aplicada nos contextos europeu e global. Uma esfera publica deliberativa pés-nacional, de dimensdes ampliadas, seria uma arena mais adequada para a tematizacdo de problemas relevantes comuns, e para fornecer uma melhor solugao aos atuais problemas de legitimagio enfrentados pelas instancias normativas legais internacionais institucionalizadas. A tese geral de Habermas é a compreensdo de uma esfera publica global como sendo uma extensdo das caracteristicas de uma cultura politica nacional, no entanto, apenas aplicadas para os niveis europeu e mundial, respectivamente. Desde a metade dos anos 90, Habermas ¢ os tedricos da deliberacéo tém se ocupado com as possibilidades & dificuldades de procedimentos deliberativos nas arenas internacionais da esfera publica e da politica. Por um lado, estudos indicam que a categoria de esfera piiblica deliberat prové uma perspectiva analitica apropriada para analisar procedimentos deliverativos em pequenos grupos; que questdes de participacio e deliberacao funcionam melhor em interagées locais, conferindo modos mais efetivos de participaco democrética. Por outro lado, estudos indicam que ha evidéncias de que a concepao de esfera publica deliberativa prové uma perspectiva analitica apropriada para analisar também procedimentos deliberativos nas esferas nacionais e internacionais - embora nesse nivel haja também falhas evidentes nos procedimentos deliberativos de uma esfera pilblica politica dominada por uma comunicacdo publica mediada pelos meios de comunicac&o de massa e estruturas de poder, pois as dindmicas de comunicacdo de massa sao dirigidas pelo poder seletivo da midia e pelo uso estratégico do poder social € politico para influenciar a triagem e o estabelecer da agenda dos assuntos piiblicos.25 Sendo assim, como os teéricos lidam com pracedimentos deliberatives que se estendem para além das interagées simples e se configuram num contexto de aplicago mals amplo, mais complexo e mais pluralista? Como concliar a necessidade de participacdo e de procedimentos deliberativos em contextos de interacdo social que exiberm um incremento impressionante no Volume da comunicagao politica, © que precisa lidar com dimensées tio amaliacas? Como sdo pensadas a participacdo e a deliberacSo democrética no nivel glabal? Como & pensada a interconexdo entre as esferas do mundo da vida situadas localmente com processos de comunicacao ptiblica no nivel global? Como poderia dar-se essa conexSo? Ao tematizar a Weltoffentichkelt, Habermas ainda se move na chave teérica Ga teoria dual da sociecade como sistema e mundo da vida? Embora Habermas afirme que a deliperacdo na esfera publica, como um mecanismo de solucdo de problemas e resolucdo de conflitos, ainda esta fracamente stitucionallzada nesse nivel, esta é uma outra questo que permanece aqul em aberto e precisa ser melhor investigada 25 Referéncias AVRITZER, L. 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