Você está na página 1de 52

PRINCÍPIOS DA

FILOSOFIA DO DIREITO

Hegel
PAULO MÁXIMO
MARJORIE MATOS
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

Breves comentários à vida do autor


 Georg Wilhem Friedrich Hegel nasceu em Stuttgart, no dia 27 de agosto
de 1770;
 Filho de funcionário público;
 Destacou-se nos estudos de latim e história clássica;
 Formou-se em Teologia em 1973;
 Tornou-se professor da Universidade de Jena, em 1801;
 Algumas publicações do autor:
 Fenomenologia do Espírito (1807);
 A ciência da lógica (1816);
 Enciclopédia das ciências filosóficas (1817); Filosofia do Direito (1821).

 Foi para a Universidade de Berlim em 1818;


 Morreu em 13 de novembro de 1831.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

Introdução
 É um idealista, assim como Platão e Kant:
Platão Kant Hegel
O universo procede das Na análise do conhecimento, O universo procede apenas
ideias. distingue-se as categorias dos universais puros.
resultantes da experiência
dos sentidos e as categorias
a priori .
As ideias têm existências As categorias têm existência Os universais não têm
objetivas, independente da subjetiva. existência objetiva.
descoberta.
As ideias são os primeiros As categorias são os Os universais são os
princípios de onde fluem os primeiros princípios do primeiros princípios de onde
demais seres conhecimento. fluem os seres.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

Introdução
 Postulados básicos do pensamento idealista de Hegel:
•Real: é o ser que independe de outro ser;
•Aparência: é o ser dependente de outro;
•Existência: é o que pode ser imediatamente
Realidade ≠ Aparência. apresentado à consciência por meio material
ou psíquico. É sempre individual. Situa-se no
tempo, podendo situar-se também no espaço.
Realidade ≠ Existência. •O real é somente o universal (pois, a
aparência e a existência são individuais e
Existência = Aparência. dependentes).
•O real não tem existência. O universal é um
ser lógico.
Real = Universal •Existência é aparência.
•O real é objetivo e abstrato.
•O real, universal, abstrato é o último ser,
princípio e fonte de todos os seres (o
Absoluto).
•Trata-se de um princípio de prioridade lógica
e não cronológica.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

Introdução
 Método dialético:

Explicar, para Hegel é dizer a razão e não a causa. Cada


causa leva a outra que, por sua vez, pede a explicação.
Uma explicação causal é limitada.
Tese Antítese
A razão é conceitual, abstrata, refuga-se na mente e nos
raciocínios.
Cada nova afirmação se deduz de outra, necessariamente,
como os raciocínios de provam um teorema.
Na dialética hegeliana há um movimento pelo qual
realidades se explicitam, se deduzem, graças à
contradição, à oposição que existe na realidade anterior.
Síntese
A estrutura dialética hegeliana tem três unidades: Tese,
Antítese e Síntese.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

Introdução
 O objeto da filosofia do direito é a ideia do direito, ou seja, o conceito do direito e sua
realização.
 A ciência do direito faz parte da filosofia, portanto, seu ponto de partida está fora da
filosofia.
Tese Antítese      
  Síntese          
  Tese Antítese        
    Síntese        
  Tese Antítese    
    Síntese        
Direito

    Tese Antítese    
      Síntese      
      Tese Antítese  
        Síntese    
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

Introdução
 O domínio do direito é o espírito em geral
“[...] o Espírito é, de início, inteligência, e as determinações através das quais, pela
representação, efetua o seu desenvolvimento desde o sentimento até o pensamento são as
jornadas para alcançar produzir-se como Vontade, que, enquanto espírito prático em geral, é
a verdade próxima da inteligência ” (§ 4).
 A vontade livre é composta dos seguintes elementos:
Pura indeterminação ou pura reflexão do eu em si mesmo: ilimitada, abstrata, absoluta, pensamento
puro em si mesmo.
“O Eu é também a passagem da indeterminação à diferenciação, a delimitação e a posição de uma
determinação específica que passa a caracterizar um conteúdo e um objeto “: É o conteúdo dado
pela natureza ou à partir do conceito de espírito.
É a unidade dos dois momentos: é a particularidade refletida em si e erguida ao universal, formando
a individualidade. Os dois momentos anteriores são abstratos, sem verdade. O terceiro é verdade
(concebida como pensamento especulativo).
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

Plano da obra:
Imediata Direito abstrato Personalidade

Direito da vontade
subjetiva em face do
De existência direito do universo
exterior regressa a si
Vontade livre Moralidade Subjetiva
e em face do
universal
Direito da ideia que
só existe em si

A ideia do Bem
Como unidade dos realizada na vontade
Moralidade objetiva
fatores acima e refletida no mundo
exterior
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

Plano da obra:
Espírito
Família
Natural

Espírito
dividido
Sociedade
civil
Espírito
Substância
fenomênico

De um povo

O Estado
Espírito Em relação a
como
orgânico outros povos
liberdade

Na história
universal
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Direito abstrato
 A vontade livre (universal) apresenta-se como formal. É a relação sem conteúdo com sua
individualidade própria.
 Sujeito = pessoa
 A personalidade se inicia quando o sujeito tem consciência de si.
 A personalidade contém a capacidade do direito e constitui o fundamento do direito abstrato.
 O imperativo do direito é sê uma pessoa respeita os outros como pessoas.
 A particularidade da vontade constitui um momento da consciência de querer no seu todo.
 A regra jurídica é uma faculdade ou uma permissão*. A necessidade desse direito (abstrato)
limita-se a algo negativo: não ofender a personalidade e tudo o que dela decorre.
 O direito começa a ser existência imediata através da propriedade (posse), do contrato, e da
vontade de se opor a ambos.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Propriedade
À pessoa deve-se dar um domínio exterior para a existência de sua liberdade como
ideia.
A exterioridade refere-se a uma coisa.
O homem tem o direito de situar sua vontade em qualquer coisa. Feito isso ela adquire
um fim substancial (que até então não possuía) - a vontade. Esse é o direito de
apropriação que o homem tem sobre todas as coisas.
Propriedade privada Propriedade comum
É a vontade pessoal (individual) ≠ Trata-se de um “condomínio” virtualmente
objetivada na propriedade de uma dissolúvel em que um indivíduo, por ato de
coisa. livre arbítrio cede sua parte.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Propriedade
 A igualdade está na identidade abstrata do intelecto. Tudo o que se refere à posse,
domínio de desigualdade, fica à margem da pessoa abstrata.
 A reivindicação de igualdade na divisão das propriedades é uma concepção vaga e
superficial.
“Não se pode falar de uma injustiça da natureza a propósito da desigual repartição da
riqueza e da fortuna, pois a natureza, não sendo livre, não é justa nem injusta. Desejar
que todos os homens tenham proventos para satisfazer suas exigências não é uma
ideia corrente pois não possui objetividade ”. (§ 49)
CRÍTICA: a visão hegeliana é parcialmente correta. Fala em uma igualdade formal (dos espíritos
dos homens), e de uma desigualdade dos bens. Essa desigualdade, em um momento inicial, não
pode ser taxada de justa ou injusta. Contudo, não é porque existe uma desigualdade natural dos
bens (que são escassos) que se deva fomentar isso.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Posse
 Enquanto a propriedade é uma abstração da vontade a posse é o ato
corporal e imediato:

 De apropriar-se da coisa: trata-se de ato temporário e limitado.

O fabrico: é a aquisição que não condiciona a presença do detentor no lugar.

A simples assinatura: a possessão não é efetiva, mas constitui simplesmente a


representação da vontade. É um sinal que significa a aposição de vontade do
proprietário.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Uso
 A vontade se faz satisfeita através do uso da coisa:

“Quando se considera a propriedade como abandonada e sem o dono e


quando, para se justificar uma possessão ilegal, se alega que os
proprietários não servem dela, assim se forma uma representação em que
o uso aparece como o lado efetivo, a realidade da propriedade ”. (§ 59)

Através do uso se materializa no tempo a posse. O desuso, por sua vez,


caracteriza o abandono, sendo a prescrição uma forma de perda da
propriedade (usucapião).
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Alienação da propriedade
 Poderá ocorrer por abandono ou transmissão a outrem.

A alienação é de coisas. Portanto, Hegel já traz a noção de inalienabilidade


e imprescritibilidade de direitos e bens que constituem a pessoa.

“São, portanto, inalienáveis e imprescritíveis, como os respectivos direitos,


os bens, ou, antes, as determinações substanciais que constituem a minha
própria pessoa e a essência universal da minha consciência de mim, como
sejam a minha personalidade em geral, a liberdade universal do meu querer,
a minha moralidade objetiva, a minha religião ” (§ 66).
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Contratos
A existência da propriedade não depende apenas de uma coisa, mas também da
inclusão de um fator de vontade: o contrato.
São características do contrato:

O contrato é produto do livre-arbítrio;

A vontade idêntica necessária para sua perfectibilização é a dos contratantes. Portanto, não é
universal em si e para si.

O objeto do contrato é uma coisa exterior e particular, pois somente assim ela pode estar
submetida à simples volição dos contratantes.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Não são relações contratuais:


• Casamento:

“Assim como a estipulação no contrato por si só contém verdadeiras transferências de propriedade, assim a declaração
solene de aceitar os laços do casamento é o correspondente reconhecimento pela família e pela comunidade (a intervenção
da Igreja neste assunto é uma determinação ulterior que não importa considerar aqui), é a conclusão formal e a realidade
efetiva do casamento. Por conseguinte, tal ligação só se constitui como moral nessa cerimônia prévia, realização
substancial por meio de um sinal, a linguagem , que é a forma de existência mais espiritual do espírito. Deste modo, o
elemento sensível próprio da vida natural aparece em seu aspecto moral como um resultado e um acidente, como parte da
existência exterior da união moral que só no amor e na reciprocidade pode se realizar completamente ”. (§ 164)

As relações com o Estado: por ser o contrato uma relação entre particulares, a natureza do Estado não se coaduna
com a tese de ser um contrato de todos com todos, ou de todos com o príncipe ou governo.

Por mais que não sejam essas relações contratuais, as ideias do contrato e da propriedade privada influenciaram
na construção da moralidade objetiva.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Injustiça
No contrato, o direito está como suposto, a sua universalidade aparece como a comunhão entre a
vontade arbitrária e a vontade particular. Em sua existência empírica, em que essa comunhão
torna-se evidente na injustiça, que é a forma de oposição entre o direito e a vontade particular,
formando um direito particular.
O direito negando essa negação é restabelecido através de um processo de mediação,
regressando a si à partir dessa negação, determinando-se como real e válido.
O direito tornado particular é diversamente infinito opondo-se à universalidade e à simplicidade de
seu conceito. Trata-se da forma da aparência. Ele pode ser imediatmente afirmado como tal ou
puramente negado pelo sujeito. A cada um dos casos haverá:
Dano involuntário ou civil;
Impostura; e
Crime.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Dano civil
É possível que uma mesma coisa interesse ou pertença a
várias pessoas. Dessa multiplicidade de interesses divergentes
sobre a mesma coisa nasce um conflito.

A coisa é reivindicada com um motivo jurídico. O conflito será


resolvido através do processo civil. Reconhece-se, portanto, o
direito como universal, de modo que a coisa pertencerá àquele
que a sentença disser.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Impostura:
O conflito transcende o mero interesse particular.

O direito pressupõe uma exigência (há um dever-ser).

“É assim que o universal, que no contrato começa por ser


apenas uma comunidade exterior das vontades, se reduz, na
vontade particular, a uma simples aparência. É a impostura ”. (§
87)
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Violência e crime:
A propriedade é reconhecida como a vontade situada em uma coisa. É possível
que o indivíduo sofra uma violência, normalmente, imposta à força, como
condição da posse.
É possível também a ocorrência de coação, em que atinge-se a vontade livre.
A coação exercida como violência lesa a existência da liberdade em seu
sentido concreto. Ao indivíduo é negado não apenas a real absorção da coisa,
mas também a capacidade jurídica (pertencente ao universal e infinito) de tal
absorção. Trata-se, portanto, de um crime (juízo negativo infinito), cujo domínio é
o direito penal.
A violação só tem existência positiva como vontade do criminoso. Do ponto de
vista da vítima, a violação é algo negativo.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Pena:
“A pena que aflige o criminoso não é apenas justa em si; justa que é, é também
o ser em si da vontade do criminoso, uma maneira da sua liberdade existir, o seu
direito. E é preciso acrescentar que, em relação ao próprio criminoso, constitui
ela um direito, está já implicada na sua vontade existente, no seu ato. Porque
vem de um ser de razão, este ato implica a universalidade que por si mesmo o
criminoso reconheceu e à qual se deve submeter como seu próprio bem ”. (§ 100)
Beccaria contestou o direito do Estado de aplicação da pena. Contudo, não
havendo uma relação contratual entre o Estado e o cidadão, mas sim substancial.
Considerando a pena como direito do criminoso, o Estado está desempenhando
suas função de justiça.
Do ponto de vista do criminoso, a pena é uma violência contra a violência. É a
remissão do agente.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Moralidade subjetiva
 O ponto de vista moral é o da vontade quando esta deixa de ser infinita e se transforma
no ser para si.
 Pelo regresso da vontade a si, a identidade consistente na existência imediata
transforma a pessoa em sujeito.
 A subjetividade passa a ser a determinação específica do conceito. A subjetividade dá a
existência do conceito.
 A moralidade subjetiva representa o lado real do conceito de liberdade. Portanto, apenas
na vontade, como subjetiva é que a liberdade pode ser ato real em ato.
 “ A moralidade necessita de um complemento no mundo externo, de um mundo da vida
pública e de práticas em que ela se realiza. Com efeito, sem isso, ela permanece pura
aspiração, o puro dever (Sollen), como formula Hegel. Ela permanece algo puramente
interior ”. (TAYLOR, Charles, Hegel. Sistema, método e estrutura. 2014).
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Moralidade subjetiva
“O que é moral não se define, antes de tudo, como o oposto do que é imoral, nem o direito como o que
imediatamente se opõe ao injusto, mas todo o domínio do moral e também do imoral se funda na
subjetividade da vontade ”. (§ 108)
A vontade age segundo fins, relacionado a subjetividade com a objetividade que é sua, mas que ainda a
limite e nega. Há uma objetividade exterior que constitui o conteúdo da ação. Esse conteúdo pode
discordar com a vontade ou existência subjetiva. A ligação entre o sujeito e o conteúdo pode não ser a
ligação de identidade.
A vontade moral contém três aspectos:
O direito abstrato ou formal da ação: é o seu conteúdo moral geral, realizado na existência imediata,
devendo ter sido projetado pela vontade subjetiva;
O particular da ação: é o seu conteúdo interior composto da intenção quando o caráter universal é
determinado para o agente e o seu valor é aquilo que ela vale para ele.;
O fim absoluto da vontade: é quando o conteúdo interior assume a universalidade. O bem é acompanhado
no domínio da reflexão, parte pela oposição na forma do mal, parte pela forma de certeza moral.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Projeto e responsabilidade
O ato introduz uma alteração na existência dada, e a vontade é responsável por aquilo que a
realidade alterada contém seu predicado abstrato.
 Qualquer dado ou resultado constitui uma realidade exterior concreta que implica em uma
série de circunstâncias. Todo elemento isolado que se apresenta como condição, origem ou
causa de uma dessas circunstâncias e que construiu para algo que lhe é próprio pode ser
considerado como responsável, ainda que parcialmente. (Teoria da condição sine qua non )
É difícil distinguir o que constitui resultado necessário e resultado contingente. Os
resultados, como manifestações imanentes da ação, apenas se limitam a exprimi-la e nada
são de diferente dela.
A ação não pode renegar ou desdenhar os resultados. Mas deve considerar o que nela
intervém exteriormente e por acaso se lhe acrescenta sem que isso tenha a ver com a sua
natureza.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Intenção e bem estar


A intenção encerra a ideia de uma abstração: é, por um lado, universal quanto à forma, mas por outro, extrai do
fato concreto um aspecto isolado.
A determinação segmentária da realidade apresenta sua natureza como uma justaposição extrínseca. A
realidade começa sendo atingida em um ponto particular, mas a natureza universal deste ponto implica a
extensão do fenômeno.
Quando o elemento da singularidade do agente está contido e realizando a ação, está-se diante a
determinação mais concreta da liberdade subjetiva, que é o direito do sujeito encontrar na ação sua satisfação.
 Tendo em vista a satisfação a ação oferece um valor subjetivo a um interesse individual. Em face do fim, pelo
seu conteúdo, é a intenção a realidade imediata da ação e degradada à função do meio. O fim pode ser algo
finito, degradado à função de um meio por intenção de que se chega mais longe, até que se atinja o infinito.
Os fins podem constituir:
Apenas a atividade formal: a ação é considerada pelo o sujeito como seu fim;
Um conteúdo definido: a satisfação do conteúdo é alcançar o bem-estar ou a felicidade em suas determinações
particulares e sua universalidade: é esse o fim da existência finita em geral.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Intenção e bem estar


O direito da particularidade do sujeito em ver-se satisfeita é o
mesmo que o direito da liberdade subjetiva, e constitui ponto
crítico e central na diferença entre Antiguidade e modernidade.
A minha particularidade não pode ser considerada um direito
se eu não for um ser livre. Isso gera uma contradição em sua
base substancial, que é a intenção, por mais orientada que ela
esteja ao meu bem-estar ou para o dos outros, que possa
justificar uma ação contra o direito.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Intenção e bem estar


“Uma das piores máximas do nosso tempo é de se querer que, em nome das chamadas
boas intenções, nos interessemos por ações que são contrárias ao direito bem como a
de se nos representarem sujeitos maus que são dotados de um bom coração que
deseja o seu próprio bem e, em caso de malogro, o bem dos outros ” (§ 112)
Essa doutrina se transformou no critério do que é justo, razoável e superior, até ao
ponto de se considerar justos, racionais e requintados os crimes e pensamentos das
imaginações mais reles e vazias e as opiniões mais loucas, só porque tinham origem no
sentimento e no entusiasmo.
Aquilo que se designa por interesse geral e bem do Estado constitui um domínio
diferente, pois nele o direito formal está tão subordinado como o bem particular e a
felicidade do indivíduo.
A miséria revela a finitude do direito assim como o bem-estar.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Bem e certeza moral


O Bem é a Ideia como unidade do conceito da vontade e da vontade particular. É a liberdade
realizada, o fim absoluto do mundo. O bem-estar é a existência da vontade particular: só possui o
bem-estar universal em si segundo a liberdade. O bem-estar não é um bem se o direito. O direito
não é o Bem sem utilidade.
O Bem tem o direito absoluto em face do direito abstrato da propriedade e dos fins particulares do
bem-estar.
O Bem é, em geral, a essência da vontade em sua subjetividade e sua universalidade. Por
conseguinte, só é plenamente no pensamento e por ele.
O bem é encontrado através de seu valor intelectual ou moral. O direito de nada reconhecer do que
eu não considerado como racional é o mais elevado direito de um sujeito. Como resultado dessa
maneira subjetiva de determinar o direito, esse direito é, ao mesmo tempo, formal em face do
primeiro direito, que se mantém como racional, pois o racional é o objetivo visto do lado do
subjetivo.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Bem e certeza moral


Como a ação exige para si um conteúdo particular e um fim
definido, e como a abstração não comporta nada semelhante
pergunta-se: o que é o dever?
Para responder essa pergunta Hegel parte de dois princípios:
agirmos em conformidade com o direito e preocupados com o
Bem-estar, que é, ao mesmo tempo, o bem-estar individual e o
bem-estar universal (relativo a utilidade de todos).
Essas duas questões estão relacionadas a incondicionalidade
do dever.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Bem e certeza moral


A certeza moral, por sua vez, é a disposição de querer aquilo que é bom em si e para si. É no plano
formal da moralidade subjetiva que a certeza moral existe sem um conteúdo objetivo, sendo
certeza formal infinita de si e ao mesmo tempo do sujeito.
A certeza moral exprime o que são o direito e o dever. Como unidade entre o saber subjetivo e o
que é bom para si, a certeza moral é uma coisa sagrada que só pode ser atacada criminalmente.
“Não se pode reconhecer se a consciência de um determinado indivíduo está em conformidade
com essa ideia de certeza moral, se o que ele considera e afirma como bem o é efetivamente” . (§
137)
Sendo direito e dever elementos racionais da determinação da vontade, sua essência não pode
residir nem na propriedade particular de um indivíduo nem na de outro qualquer, mas dependem
das determinações universais do pensamento. Portanto, apresentam-se na forma de leis e de
princípios.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Bem e certeza moral


O Estado não pode reconhecer a certeza moral em sua forma particular, como
saber subjetivo. A certeza moral forma apenas pertence ao ponto de vista moral
subjetivo, diferenciada da moralidade objetiva.
Como subjetividade formal, a certeza moral encontra-se a todo momento
prestes a cair no mal. É na certeza que para si existe que reside a raiz comum à
moralidade e ao mal.
O mal liga-se como a definição de não deve ser. Como o que deve ser suprimido.
Quando a consciência chega a por relevo o aspecto positivo como finalidade,
mostra-se capaz de afirmar que foi o dever ou uma pura intenção que inspirou a
ação. No entanto o aspecto essencialmente negativo desta ação acha-se na
consciência na medida em que ela se reflete em si e é consciência
universalizada da vontade.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Moralidade objetiva
Sistema de determinações substanciais da ideia
Tem caráter racional
Satisfação da liberdade
Tais valores são obrigatórios
Dever compromete a vontade em prol da liberdade
 Comportamento geral
Direitos e deveres
Moralidade – construção do desenho institucional
Família, sociedade civil e Estado
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS/DESENHO INSTITUCIONAL

FAMÍLIA SOCIEDADE ESTADO


CIVIL
MOVIMENTO
RUMO À UNIVERSALIDADE
CONCRETA
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS/DESENHO INSTITUCIONAL

Família
Ético natural Amor

Universalidade abstrata Superação da natureza

 Particularidade natural Unidade

Partes relativamente não Proteção


autônomas

Reino das unidades particulares


Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

PRINCÍPIOS NORMATIVOS/DESENHO INSTITUCIONAL

Sociedade civil
Quebra dos laços familiares Supera as particularidades da
família, mas não as
Independência dos antigos “particularidades”
membros da família
Divisão dos indivíduos
“Filho” da sociedade civil
Corporações
Comunidade jurídica e política
Unidade desarticulada –
Divisão econômico-social universalidade formal
Proteção dos interesses O domínio da sociedade civil
particulares conduz ao Estado
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

DESENHO INSTITUCIONAL

Estado
Universalidade concreta Eticidade
Fim das particularidades Organização do poder político
Liberdade Moralidade objetiva
“Dever” de levar uma vida Autofinalidade
universal
Cumprimento das leis
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

DESENHO INSTITUCIONAL

O Estado Político
Liberdade concreta Lei é fundamento
Pleno desenvolvimento Instituições políticas
Interesse universal Resolver “o social” por meio d”o
político”
Indivíduos atingem a extrema
autonomia e, ao mesmo tempo, O ser humano é essencialmente
são reconduzidos à unidade político
substancial
O Estado é uma união
Estado é poder e função
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

DESENHO INSTITUCIONAL

Direito
Reformulação de ideias
Superação do direito natural
A lei é essencial ao Estado moderno. A sua ausência fere a própria ideia de Estado
Lei é direito objetivado, universalmente conhecido e que subordina as pessoas
Três enfoques: como direito abstrato, como moralidade e como ética
Interesse público – submissão a um tribunal
O processo e suas fases também são direitos
Ter deveres a partir de quando tem direitos
Privado e Público (interno e externo)
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

DESENHO INSTITUCIONAL

Constituição
Não há Estado sem Constituição Cada constituição expressa uma
forma de governo:
Modernidade - caráter formal
1. Não evoluída; não há autonomia:
Assegurar a ordem pública, ligada despotismo;
aos interesses coletivos 2. Indivíduos um pouco mais livres:
república;
Papel fundamental na 3. Evoluída; liberdade real;
personalização política do Estado universalidade: monarquia.
É a lei máxima do Estado
Resultado de interesses políticos
e econômicos
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

DESENHO INSTITUCIONAL

Formas de governo
Concepção histórica e geográfica Despotismo – mundo oriental

“Grau” de liberdade: Democracia – mundo grego


◦ o despotismo – um só é livre
◦ a república – alguns são livres
◦ a monarquia – todos são livres Aristocracia – mundo romano

Monarquia – do mundo
germânico
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

DESENHO INSTITUCIONAL

Despotismo
Liberdade de um Primitiva

Soberano – exerce o poder de Ausência de lei protetora dos


forma direta e sem interferências indivíduos

Arbitrário Com ele, não há um verdadeiro


“progresso”, já que não existem
efetivas “mudanças”
Não são garantidos direitos
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

DESENHO INSTITUCIONAL

República democrática
Liberdade de alguns Não aceita a forma não-racional
de democracia

“Governo de todos”
Sistema que pressupõe “disputa”

Democracia é abstração
Seria positiva para pequenos
Estados
Opinião de muitos
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

DESENHO INSTITUCIONAL

República aristocrática
“Governo de poucos” Não há liberdade

O pior dos governos Infelicidade de todos

Não tem características de Absoluta arbitrariedade


Estado

Interesses unicamente privados


Absoluta separação da
moralidade objetiva
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

DESENHO INSTITUCIONAL

Monarquia
Forma de governo mais Unidade
adequada ao seu tempo

Autonomia
Monarquia constitucional

Estado é um “todo orgânico” de


Sociedades evoluídas e natureza ética
complexas

Universalidade
Liberdade de todos
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

DESENHO INSTITUCIONAL

Poderes estatais
Separação traz disputa
Reunião assegura unicidade Poderes do Estado
Distribuição das funções ◦ Executivo
Todos em nome do Estado • Poder do Príncipe
“As diferentes funções e • Poder Governativo
atividades do Estado pertencem- OBS.: Jurisdição
lhe como momentos essenciais e
são inerentes às universais e ◦ Legislativo
objetivas [...] As funções e os
poderes do Estado, não podem,
pois, constituir uma propriedade
privada ” (§ 277).
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

DESENHO INSTITUCIONAL

Executivo – poder do príncipe


Cúpula dos poderes Centralização do poder estatal
Exaltação de Napoleão:
Reunião dos poderes “Eu vi o Imperador, essa alma
do mundo, atravessar a cavalo
as ruas da cidade... Sentado
Três elementos: sobre um cavalo estende-se
◦ Universalidade sobre o mundo e o domina ”
◦ Particularidade (REFERÊNCIA).
◦ Individualidade
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

DESENHO INSTITUCIONAL

Executivo – poder governativo


Atividades administrativa e ◦ Direito justo pela sua própria
jurisdicional existência
◦ Ofendido enquanto ser universal
Atua como expressão soberana
◦ Processo e suas fases também
do Estado são direitos
OBS.: Jurisdição: ◦ Jurisdição simples deve ser
◦ Outra “função”, não outro “poder” anterior ao processo
◦ Decisão preservando o espírito ◦ Juiz qualificado
universal ◦ Sentença
◦ Decisão fundamentada no perigo ◦ Direito subjetivo das partes –
social aliado ao universal
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

DESENHO INSTITUCIONAL

Legislativo
Cria direitos e deveres, a partir da Assembleias de ordem – trazer o
lei interesse geral
Estabelece o universal Sistema bicameral
Deve-se dar publicidade às leis ◦ Câmara alta – hereditariamente
afortunados
Povo – não possui profundo ◦ Câmara baixa – deputados da
conhecimento sociedade civil
Altos funcionários do Estado – Só voz consultiva
possuem profundo conhecimento e
mais aptidões Ligado ao soberano
Monarca tem decisão suprema
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

 
“No duro combate destes impérios – separados por diferenças que atingem aqui
a sua absoluta oposição e no entanto se encontram radicados na unidade de
uma mesma ideia – o elemento espiritual degradou a existência do seu céu ao
nível de uma presença terrestre e de uma laicidade comum na realidade e na
representação. Em troca, o elemento temporal elevou a sua existência, para si
abstrata, ao pensamento e ao princípio do ser racional, a racionalidade do direito
e da lei. Desapareceu a oposição como uma figura mal esboçada; o presente
suprimiu a sua barbárie e seu injusto alvedrio bem como a verdade o seu além e
a contingência de seu poder; assim se tornou objetiva a reconciliação que, em
imagens e em realidade da razão, desenvolve o Estado. Nele, por uma evolução
orgânica, adquire a consciência de si a realidade em ato do seu saber e da sua
vontade substancial, como na religião encontra o sentimento e a representação
daquela verdade que é sua, sua essência ideal, e na ciência obtém o
conhecimento livremente concebido dessa verdade como idêntica em suas três
manifestações complementares: o Estado, a natureza e o mundo ideal ” (§ 360).
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

Referências
BOBBIO, Norberto. Estudos sobre Hegel: Direito, Sociedade Civil e Estado. 2. ed. São
Paulo: UNESP, 1991.
BOBBIO, Norberto. A teoria das formas de governo. Brasília: UNB, 1980.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich F. Princípios da Filosofia do Direito. São Paulo: Martins
Fontes, 1997.
TROTTA, Wellington. O pensamento político de Hegel à luz de sua Filosofia do Direito.
Revista Sociologia Política, Curitiba, v. 17, n. 32, p. 9-31, fev. 2009.
Seminário de Teoria Política I – Princípios da Filosofia do Direito - Hegel

Obrigado!

Você também pode gostar