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A porta da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), na Avenida Afonso Pena (Região Central),
foi tomada, desde a manhã de ontem, por cerca de 300 pessoas das ocupações Dandara (Bairro
Céu Azul, em Venda Nova), Camilo Torres (Barreiro), Irmã Dorothy (Barreiro) e Torres Gêmeas
(Bairro Santa Tereza, na Região Leste). O grupo, que representa cerca de 1.400 famílias
ameaçadas de despejo, acampou no local às 8h30 e reivindica a garantia de que não irão para as
ruas. Com faixas, panfletos, barracas e até um fogão para preparar as refeições, os moradores das
comunidades pretendem ficar nas escadarias da administração municipal até conseguirem
negociar com o prefeito Marcio Lacerda (PSB). O protesto, até então pacífico, é acompanhado
por militares do Batalhão de Choque e por guardas municipais.
Segundo uma das coordenadoras da manifestação, integrante da Central Sindical Popular e
do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Elaine de Andrade da Silva, há três anos as
famílias buscam uma solução para o problema das moradias. “Há mandados de despejo para a
Camilo Torres, a Dandara e a Irmã Dorothy. Fomos informados que, após o período eleitoral,
seriam feitas as reintegrações de posse. Já conversamos com representantes do prefeito e nada foi
feito. BH tem déficit de pelo menos 50 mil unidades habitacionais”, afirma.
Elaine diz que moradores do Camilo Torres participaram por cinco anos de várias reuniões
do orçamento participativo habitacional (OPH) e nunca conseguiram incluir nenhuma família na
política municipal. “Nossa situação deve ser tratada como problema social, e não como caso de
polícia.”
Por meio de nota oficial, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que “os movimentos
sociais da habitação popular da capital contam com cerca de 13 mil famílias cadastradas, que
lutam de forma organizada, para alcançar o sonho da casa própria. Desta forma, seria injustiça
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‘tirar’ o direito destas que aguardam há mais tempo na fila, privilegiando outras que adotaram a
tática equivocada da invasão de terrenos”.
Invasões cercam BH
Por Ernesto Braga
Nas
Torres
Gêmeas, o
improviso
dentro do
improviso:
removidos
depois de
incêndio,
ocupantes
montaram
barracas ao
lado do
prédio.
Com pouco território para abrigar a expansão populacional, pressionada por um mercado
imobiliário em franca aceleração e com um déficit habitacional de 50 mil moradias, Belo
Horizonte se vê cada vez mais cercada por invasões de imóveis. São áreas públicas e privadas e
prédios particulares, como as chamadas Torres Gêmeas, em Santa Tereza, ocupados
irregularmente, de forma espontânea ou organizada por movimentos populares. Apenas em seis
das maiores ocupações moram 2.479 famílias – o equivalente a uma cidade de cerca de 10 mil
pessoas –, segundo Movimento Popular Urbano Brigadas Populares. A prefeitura admite ter
dificuldades para conter o problema, que causa prejuízos urbanísticos e risco sanitário à cidade,
pois, para enfrentá-lo, depende de denúncias da população e de apoio policial. Refém do
conjunto de circunstâncias, o Executivo tem como principal arma um pacote de políticas
habitacionais que, mesmo que seja totalmente bem-sucedido, dará conta de resolver, até o fim de
2012, não mais que 20% da atual demanda. Até lá, a previsão é de que 10 mil moradias para
pessoas de baixa renda sejam construídas.
Enquanto a solução não aparece, o Executivo municipal tem de lidar com protestos, como o
feito ontem por moradores de várias ocupações da capital, e com as queixas dos vizinhos dessas
comunidades. Não é pouca gente afetada pelo problema: apenas em terrenos municipais, BH
contabiliza 500 invasões, muitas plantadas no meio de áreas nobres da cidade. A prefeitura
informa que, atualmente, o maior foco de vigilância são os 26,5 quilômetros do Anel Rodoviário,
que corta cinco regiões da cidade (Nordeste, Pampulha, Noroeste, Oeste e Barreiro). O objetivo é
evitar que oportunistas se instalem no local, já pensando na indenização gerada pela
desapropriação para futuras obras na rodovia. Porém, todas as nove regionais mantêm
fiscalização de rotina, sustenta a administração municipal.
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Mesmo assim, as invasões não param de crescer. Em abril de 2009, a dona de casa Simone
Mendes dos Santos Siqueira, de 29 anos, o marido, o mecânico Agnésio da Anunciação Siqueira,
de 43, e os três filhos do casal estavam entre as 150 famílias que se instalaram num terreno
particular no Bairro Céu Azul, na Região de Venda Nova, na comunidade que se tornou
conhecida como “Dandara”. Um ano e meio depois, já são 887 famílias – cerca de 3.350 pessoas
– alojadas no terreno, em casas sem acabamento e precária infraestrutura sanitária. A água, por
exemplo, só chega à metade dos barracos. “Temos espaço para 1 mil moradias e há pessoas
cadastradas, esperando na fila”, disse Simone, que se tornou líder comunitária.
No Barreiro, moradores das ocupações vizinhas Camilo Torres e Irmã Dorothy querem que
as áreas invadidas sejam desapropriadas e transformadas em bairro. “A área servia como bota-
fora de lixo e desova de corpos e agora estamos alojados em nossas casas. Mas dormimos com
medo das ações de despejo”, afirmou Júnia Renata da Silva, de 28.