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Ciencias Da Religião PDF
Ciencias Da Religião PDF
SUGESTÕES DE TEMAS
5. GLOBALIZAÇÃO E RELIGIÃO
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12. O FUTURO NÃO SERÁ PROTESTANTE
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51. ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA PÚBLICA: o retorno de uma polêmica
recorrente
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ARTIGOS PARA LEITURA, ANÁLISE E UTILIZAÇÃO COMO
FONTE OU REFERENCIA
Hermann Brandt**
Resumo:
Este texto apresenta uma comparação da maneira como a fenomenologia da
religião é percebida e avaliada pelas ciências da religião no Brasil e na Alemanha.
Procederei da seguinte forma: primeiramente, vou esboçar a avaliação da
fenomenologia da religião na Alemanha, depois vou descrever as expectativas que
se tem em relação a ela no Brasil e, por fim, vou propor algumas ponderações sobre
essa disciplina e seus dois rostos e sua posição dentro das ciências da religião na
América Latina e na Europa.
Resumen:
Este texto presenta una comparación del modo como la fenomenologia de la religión
es percibida y evaluada por las ciencias de la religión en Brasil y em Alemania.
Procederé de la siguiente forma: primeramente, voy a esbozar la evaluación de la
fenomenología de la religión en Alemania, después voy a describir las expectativas
que se tiene con relación a ellas en Brasil y, para finalizar, propongo algunas
ponderaciones sobre esa disciplina y sus dos rostros, así como, su posición dentro
de las ciencias de la religión en América latina y en Europa.
Abstract:
This text presents a comparison of the way in which the phenomenology of religion is
perceived and evaluated by the Sciences of Religion in Brazil and Germany. I will
proceed in the following way: first, I will outline the evaluation of the phenomenology
of religion in Germany, then I will describe the expectations that exist in relation to it
in Brazil, and finally I will propose some considerations about this discipline and its
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two faces and its position within the Sciences of Religion in Latin America and in
Europe.
* Título original: Religionswissenschaften interkulturell – die gegensätzliche Wahrnehmung der
Religionsphänomenologie in Brasilien und Deutschland. Tradução de Luís M. Sander.
** Dr. Hermann Brandt é professor emérito da Theologische Fakultät der staatlichen Friedrich-
Alexander-Universität Erlangen-Nürnberg, Alemanha.
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de 150 anos – a nova ―‗guinada crítica‘ [critical turn] na ciência da religião. Ela
consiste em afastar a ciência da religião das vaidades e guinadas equivocadas do
passado e proporcionar-lhe um referencial teórica e metodologicamente sólido para
uma busca global [!]‖4.
1 Cf. minhas observações a esse respeito em BRANDT, Hermann. Die heilige Barbara in Brasilien:
Kulturtransfer und Synkretismus. Erlangen: [s.n.], 2003. p. 91s., incluindo a nota 110 (Erlanger
Forschungen, Reihe A, Geisteswissenschaften, 105).
2 ANTES, Peter; GEERTZ, Arnim G.; WARNE, Randi R. (Ed.). New Approaches to the Study of
Religion. Berlin e New York: [s.n.], 2004. v. 1 e 2. Entretanto, o preço dessa obra com mais de mil
páginas em dois volumes – • 216,00 – vai dificultar sua divulgação no ―hemisfério sul‖.
3 ANTES; GEERTZ; WARNE, 2004, v. 1, p. 1 (Prefácio).
4 ANTES; GEERTZ; WARNE, 2004, v. 2, p. 458s. (Resumo).
Aí se mostra uma consciência epocal e uma pretensão global que poderão parecer
estranhas numa perspectiva africana e latino-americana: no primeiro volume, sob a
rubrica ―Abordagens regionais‖, são tratados os novos enfoques do estudo científico
da religião na América do Norte, na Europa, na Turquia, na Índia, na Austrália e no
Pacífico. Mas nessa obra abrangente estão ausentes as ―regiões‖ da América
Central e do Sul (ou da América Latina), bem como da África. Assim, perguntei-me:
por quê? Não há ―novas abordagens‖ na África e nos dois terços restantes da
América? As ciências da religião feitas nessas regiões não se enquadram na
mencionada concepção acadêmica ―global‖ e na ―guinada crítica‖ por ela defendida?
Ou simplesmente não se conseguiram recrutar autores e autoras competentes
dessas regiões? Como quer que seja, esta contribuição pretende, ainda que de
modo limitado, examinar a seguinte pergunta: como se faz ciência da religião na
América Latina e qual é sua relação com a ciência da religião européia5?
A essas referências sobre meus três motivos para esta contribuição acrescento
ainda uma explicação da limitação mencionada. Essa limitação diz respeito tanto ao
aspecto regional quanto ao conteúdo: no que se segue, vou fazer referência apenas
a publicações do Brasil e da Alemanha e me concentrar nas avaliações diferentes da
fenomenologia da religião.
5 Agradeço cordialmente a meu colega brasileiro Dr. Oneide Bobsin, da Escola Superior de Teologia
(EST), por diálogos estimulantes durante a elaboração desta contribuição.
6 Quanto ao deus romano Jano numa perspectiva da história das religiões, cf. ELIADE, Mirceia (Ed.).
The Encyclopedia of Religion. New York: Macmillan, 1987. v. 7, p. 519; DIE RELIGION in
Geschichte und Gegenwart. 4. ed. [S.l.: s.n., s.d.]. v. 4, cols. 373s.
7 Cf. a correlação do termo ―cabeça de Jano‖ com os campos semânticos ―dois‖ e ―ambíguo‖ em
DORNSEIFF, Franz. Der deutsche Wortschatz nach Sachgruppen. 5. ed. Berlin: [s.n.],
1959. p. 184s. e 376, além de DUDEN. Fremdwörterbuch. Mannheim: [s.n.], 1960. p. 293, bem
como FERREIRA, Antônio Gomes. Dicionário de latim-português. Porto: [s.n.], 1988. p. 643s.
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em todo caso, não há falta de ofertas de auto-apresentações da ciência da religião
como disciplina própria.
Como no caso de introduções a outras disciplinas acadêmicas, também nas
introduções às ciências da religião se podem distinguir dois tipos: as que defendem
e formulam preponderantemente teses e concepções próprias do autor ou dos
autores (quase não há cientistas [do sexo feminino] da religião estabelecidas), de
sorte que a prestação de informações passa para segundo plano, e as que, embora
contendo as opiniões pessoais dos autores, colocam em primeiro plano o objetivo de
oferecer uma introdução ao material e às disciplinas da ciência da religião.
As duas introduções apresentadas no que se segue podem ser enquadradas de
maneira exemplar nesses tipos distintos. Como mencionei acima, na perspectiva
deste ensaio o interesse se concentra no modo como a fenomenologia da religião é
avaliada nas duas introduções.
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A categoria ―acessos‖ é característica da maioria dos 12 capítulos da obra: ela
contém acessos da ciência da religião e de suas diversas subdisciplinas a seu
objeto, a religião. Eles são, entre outros, os seguintes: acessos sistemáticos e
fenomenológicos, acessos a partir da sociologia da religião, acessos a partir da
etnologia das religiões, acessos a partir da psicologia da religião, outros acessos às
religiões (a partir da geografia, da estética, da economia das religiões).
Nesse esboço, todos os acessos pressupõem a história das religiões.
E não é por acaso que os acessos sistemático e fenomenológico se encontram
antes de todos os outros. O fato de Hock colocar a fenomenologia da religião ou a
ciência sistemática da religião no início dos acessos pode significar duas coisas: por
um lado, a fenomenologia da religião (como disse, pressupondo a pesquisa da
história das religiões) é vista como a origem genuína das ciências da religião mais
recentes; ela é valorada como principium da ciência da religião. Mas pode significar
também que o início da ciência da religião na fenomenologia da religião está
ultrapassado pelos acessos posteriores, se é que não está liquidado.
Hock expressa, por um lado, apreço pela importância da fenomenologia da religião
para o presente, mas também menciona a crítica levantada contra ela. Entre as
questões mais importantes, atuais até hoje, que a fenomenologia da religião
levantou, encontra-se, sobretudo, a seguinte:
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Em que consiste esse comprometimento pela história, que de fato fez com que
muitos cientistas da religião europeus só usem o termo ―fenomenologia da religião‖
para investir contra a disciplina dos primórdios da ciência das religiões por ele
designada12? Hock informa, mediante uma organização e correlação própria, sobre
diversas posições existentes dentro da fenomenologia da religião, apresenta a
imponente série de seus antepassados (entre outros, Söderblom, Otto, van der
Leeuw, Mensching, Lanczkowski, Eliade) e expõe a crítica feita a ela.
As críticas movidas pela ciência da religião mais recente a esses fenomenólogos da
religião e suas pesquisas podem ser resumidas da seguinte maneira13: contra
Söderblom, Otto e van der Leeuw se objeta que eles postulam uma categoria
específica – a do sagrado ou a do poder – e as respectivas experiências religiosas
para descrever a essência da religião com base nesse fundamento. Isto é,
considera-se como central e universal um elemento que, sozinho, de modo algum
pode levar em conta a realidade e pluralidade dos fenômenos religiosos.
Semelhante é a crítica feita a Eliade: ele entende sua fenomenologia como uma
espécie de ―teoria do ser‖ dentro da qual as diversas religiões e elementos religiosos
são classificadas e enquadradas. Em outras palavras: todas as diferentes religiões
remetem a um único e mesmo ser em si.
Segundo Hock, a conseqüência dessas críticas foi que a fenomenologia da religião
em seu conjunto passou a sofrer um ataque maciço. A maioria dos cientistas da
religião se recusaram e se recusam até hoje a aceitar as ―especulações
metafísicas‖ de seus colegas fenomenólogos da religião.
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―esqueça‖ definitivamente. De fato, se pode constatar que a fenomenologia da
religião clássica foi despachada pela ciência da religião mais recente.
Mas enquanto Hock descreve e discute objetivamente as razões do crescente
distanciamento e – quanto a isso, veja abaixo – considera possível uma
fenomenologia renovada da religião, portanto não a quer despachar ―até nunca
mais‖, a ―Introdução‖ publicada por último na Alemanha julga os representantes da
fenomenologia da religião de maneira muito mais polêmica.
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Hock faz referência expressa à contribuição de Carsten Colpe intitulada
―Refundamentação(!) de uma fenomenologia das religiões e da religião‖23. Colpe
propõe que se parta hipoteticamente da autonomia da fenomenologia da religião
(neste sentido: fenomenologia ―reflexiva‖ da religião) e se incluam os resultados de
ciências afins. A comparação de fenômenos precisa estar direcionada para a
multidimensionalidade, e é preciso desenvolver uma metalinguagem que seja
claramente distinta da linguagem das próprias religiões. Com isso se nomeiam, de
fato, condições para uma refundamentação da fenomenologia da religião – por
assim dizer, num nível reflexivo, científico. Hock indica, porém, que essa concepção
de uma nova fenomenologia da religião ainda aguarda ―a discussão posterior, a
implementação concreta e o emprego mais amplo‖.
Portanto, um avanço real para uma fenomenologia da religião refundamentada e
reavivada ainda está por acontecer24.
Enquanto, pois, a avaliação da fenomenologia da religião pelas ciências da religião
na Alemanha se estende de uma rejeição decidida até uma refundamentação
cautelosa sob determinadas condições, sendo por enquanto só objeto de alusão, ao
se perguntar a respeito da avaliação da fenomenologia da religião pela ciência da
religião no Brasil se entra num país inteiramente diferente, e não só em termos
geográficos.
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23 Essa contribuição que aponta o caminho para o futuro encontra-se em outra ―Introdução‖, que se
distingue das duas discutidas aqui pelo fato de os diversos aspectos da ciência da religião serem
expostos por autores diferentes: ZINSER, Hartmut (Ed.). Religionswissenschaft: Eine Einführung.
Berlin: [s.n.], 1988. p. 131-154. 24 HOCK, 2002, p. 70.
25 Só um exemplo atual: HEBECHE, Luiz. O escândalo de Cristo: ensaio sobre Heidegger e São
Paulo. Ijuí: Unijuí, 2005; a ficha catalográfica classifica o livro nas seguintes áreas: 1. Filosofia 2.
Religião cristianismo 3. Fenomenologia 4. Heidegger 5. Filosofia da religião. 26 Cf. WARNECK, Vera
Rudge. O eu educado: uma teoria da educação fundamentada na fenomenologia. Rio de Janeiro:
[s.n.], 1991.
27 Cf. POLLAK-ELTZ, Angelina. La religiosidad popular en Venezuela: un estudio fenomenológico
de la religiosidad en Venezuela. Caracas: San Pablo, 1994. Na quarta capa, o termo
―fenomenológico‖ designa o distanciamento desta obra de um ―estudo sociológico e estatístico‖. Algo
análogo pode ser dito a respeito do emprego desse termo na seguinte obra em dois volumes:
COSTA, Valdeli Carvalho da. Os ―seres superiores‖ e os orixás / santos: um estudo sobre a
fenomenologia do sincretismo umbandístico na perspectiva da teologia católica. São Paulo: [s.n.],
1983.
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da religião como disciplina autônoma, na América Latina ele é usado em parte de
maneira irrefletida, em parte de modo muito deliberado – p. ex., para acentuar as
múltiplas perspectivas que caracterizam essa disciplina30.
Croatto divide seu livro em cinco ―módulos‖: os acessos à religião, a experiência
religiosa e sua expressão simbólica, mito e interpretação da realidade, a
manifestação gestual da religião, a fixação da experiência religiosa na doutrina e
nos textos. Como o fará mais tarde Hock (v. supra), Croatto começa, portanto, com a
exposição dos diversos ―acessos‖.
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Quando se formula, no título da obra, o objetivo da afirmação de uma disciplina
acadêmica, o acento é colocado não somente em ―afirmação‖ e ―acadêmica‖, mas
também em ―uma‖, justamente porque se costuma falar de ciências da religião no
plural37. Neste ponto alguns pesquisadores vêem um indício da divisão dessa
ciência em ramos de trabalho e métodos separados, da ausência de identidade
científica como ciência autônoma. Assim, para alcançar a unidade da ciência da
religião, busca-se, por um lado, a troca das ―ciências da religião‖ por uma ciência
da religião (como conhecimento sistemático e coerente)38. Por outro lado, defende-
se a posição de que o singular só reflete ainda as necessidades de emancipação da
ciência da religião surgida no século 19, mas está ultrapassado em face da
consolidação, hoje alcançada, da autonomia e pluralidade das competências nas
ciências humanas39.
– Aqui se mostram dois dilemas que ainda terão de ser esclarecidos no futuro: as
diferentes concepções do conceito de ciência e a questão de até que ponto se pode
falar da existência de ―a‖ religião nas religiões.
Outro campo de discussão diz respeito à inclusão da teologia ou da teologia da
religião na(s) ciência(s) da religião.
34 TEIXEIRA, Faustino (Ed.). A(s) ciência(s) da religião no Brasil: afirmação de uma área
acadêmica. São Paulo: Paulinas, 2001.
35 TEIXEIRA, 2001, p. 3.
36 Cf. a seguinte obra traduzida do italiano: PERRIN, Aldo Natale. O Sagrado off limits: as
experiências religiosas e suas expressões. São Paulo: [s.n.], 1998. O capítulo 1 se intitula ―Em defesa
da autonomia do estudo da religião‖!
37 Entrementes teve início uma reflexão sobre o que implicam o singular e o plural: ―Quem fala de
ciência da religião tende, de um lado, a pressupor a existência de um método científico e, do outro,
também de um objeto unitário. Quem, ao contrário, [...] prefere falar de ciências das religiões, o faz
porque está convencido tanto do pluralismo metodológico (e da impossibilidade de reduzi-lo a um
mínimo denominador comum) quanto do pluralismo do objeto (e da não liceidade e até
impossibilidade, no plano da investigação empírica, de construir sua unidade)‖. (TEIXEIRA, 2001, p.
203).
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É que, para o apoio por parte do Estado no Brasil, a teologia representa uma
disciplina claramente identificável, cujo financiamento não está sujeito a dúvidas, ao
passo que a(s) ciência(s) da religião, sozinha, (ainda) não possui(em) plausibilidade
do ponto de vista dos órgãos de financiamento43.
Um último aspecto diz respeito à problematização da equiparação, geralmente não
questionada, da teologia e teologia da religião com a teologia cristã (da religião),
que também pôde ser percebida na presente exposição. A isso se refere a exigência
de que a teologia não deveria ser incluída de maneira irrefletida como teologia cristã
no cânone das disciplinas da(s) ciência(s) da religião. Dever-se-ia, antes, levar em
consideração a pluralidade das diversas teologias (da religião). Por conseguinte,
seria necessária ―uma desidentificação entre teologia e teologia cristã‖. A
fundamentação é a seguinte: essa identificação, em parte inconsciente, em parte
consciente, seria, por boas razões, um dos maiores obstáculos para a aceitação da
teologia como disciplina da(s) ciência(s) da religião no âmbito acadêmico44.
43 Por outro lado, escolas de Teologia também podem se deparar com dificuldades quando, p. ex.,
por causa de prescrições de órgãos estatais (com vistas à continuação da concessão de verbas),
adeptos de cultos afro-brasileiros exigem cursos sobre ―cultura negra‖, mas a oferta de tal curso
entraria em conflito com o respectivo perfil da escola e teria conseqüências negativas para o apoio
financeiro por parte das respectivas instâncias mantenedoras (comunidades, igrejas). Abstraindo
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disso, mantenedoras eclesiásticas de instituições de ensino superior e universidades vêem com bons
olhos que ―seus‖ cientistas da religião investiguem outras religiões e igrejas, mas não gostam tanto
que sua própria religião ou igreja se torne objeto de pesquisa da(s) ciência(s) da religião.
44 TEIXEIRA, 2001, p. 331.
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45 MENDONÇA, Antonio Gouvêa. Fenomenologia da experiência religiosa. Numen, Juiz de Fora, v.
2, n. 2, p. 65-89, jul.-dez. 1999.
46 Apud TEIXEIRA, 2001, p. 206.
47 Mendonça faz referência a Schleiermacher, Husserl, Otto, van der Leeuw, Wach, Eliade
(MENDONÇA, 1999, p. 65-89).
48 Mas essa argumentação também é rejeitada, p. ex. pela antropologia, com o argumento, entre
outros, de que o aspecto do caráter inderivável da experiência religiosa já seria coberto pela teologia;
cf. TEIXEIRA, 2001, p. 207-217.
49 DREHER, Luís H. (Org.). A essência manifesta: a fenomenologia nos estudos interdisciplinares
da religião. Juiz de Fora: UFJF, 2003.
50 DREHER, 2003, p. 5.
51 DREHER, 2003, p. 6.
52 DREHER, 2003.
53 DREHER, 2003, p. 9.
54 DREHER, 2003, p. 56s.
55 A autora qualifica isso como desafio e cita um poema persa: ―No fundo do mar há
riquezas incomparáveis. / Mas se queres segurança, busca-a na praia‖ (DREHER,
2003, p. 57).
56 DREHER, 2003, p. 59s.
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5 - Perspectivas: diferenças e aspectos comuns
À guisa de conclusão, também vou procurar aludir a aspectos comuns em meios às
diferenças e, assim, indicar perspectivas que dizem respeito à ciência da religião
em ambos os continentes.
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Em relação à ciência da religião feita no Brasil e na Alemanha, pode-se constatar a
existência de uma não-simultaneidade. Chama a atenção, p. ex. – como indiquei
acima –, o fato de que a ciência da religião brasileira quase não dispõe de manuais
e exposições abrangentes produzidos por ela mesma. Do ponto de vista europeu,
justamente a existência de tais introduções seria um sinal da aceitação e presença
de uma disciplina científica.
Também no tocante às traduções de clássicos da ciência da religião disponíveis no
Brasil a situação é, em parte, precária. Assim, por um lado, O Sagrado, de Rudolf
Otto, tem uma ampla recepção e desencadeia, como mencionei, surpreendentes
inspirações interdisciplinares. Mas a base textual ainda é, atualmente, uma tradução
completamente insuficiente, à qual recorrem até mesmo dissertações e teses sobre
O Sagrado. Em ambos os pontos existe, portanto, necessidade de recuperar terreno.
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ajuda financeira para o serviço de tradução desta obra‖. Tudo isso dá a impressão –
para dizê-lo incisivamente – de que se trata de uma edição-pirata.
Acrescenta-se a isso o fato de que, dos 23 capítulos do original (refiro-me à 23.-25.
ed. do texto alemão disponível na biblioteca da EST, München: C. H. Beck, sem
indicação de ano, mas cujo prefácio é datado de janeiro de 1936), a tradução
oferece meramente 12 capítulos (enquanto o original tem 229 p., a tradução tem
172). Além disso, as notas do original são tratadas de uma maneira extremamente
arbitrária67.
As conseqüências dessa tradução para o discurso científico são consideráveis68, e
é por causa dessas conseqüências que abordei mais de perto aqui a tradução
parcial de Velasques: menciono, a título de exemplo, uma dissertação de mestrado
em Filosofia defendida na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul:
BIRCK, Bruno Odélio. O Sagrado em Rudolf Otto. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1993.
Nela só há uma referência – implícita – ao original.
Com vistas à terminologia corrente no Brasil, o autor aprova a decisão do tradutor
Velasques de não empregar, no subtítulo, a expressão ―irracional‖, que consta no
original, e sim, como já citei, reproduzi-la por ―não-racional‖69. Por outro lado, nem o
tradutor nem o autor da dissertação fazem referência à decisão – tão importante
quanto compreensível – de traduzir, no título, Das Heilige por O Sagrado e não por
―O Santo‖70. A dissertação, embora mencione o original (edição de 1961) na
bibliografia (p. 163), não o faz em nenhuma passagem do corpo do texto.
De resto, ela busca demonstrar que a descrição do Sagrado feita por Otto não
corresponde ao formalismo de Kant, e sim à fenomenologia de Husserl: no
pensamento de Otto, o Sagrado ―não é um conceito formal, mas descrição
fenomenológica do fato primeiro da religião‖71.
Ao se observar as recepções da obra de Otto, depara-se com surpresas – tanto em
sentido positivo quanto negativo. Um exemplo de ambos os casos: na introdução à
fenomenologia da religião de Piazza, Otto é acusado de encarar o Sagrado ―como
algo objetivo, mas, fiel à sua orientação kantiana[!], não o identifica com Deus‖ e de
reduzir o Sagrado a uma categoria vazia e sem sentido72. Por outro lado, depara-se
com um inesperado recurso a Otto numa contribuição sobre a relação entre missão
(cristã) e espiritualidade, mais precisamente à tese de Otto acerca da harmonia
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entre o elemento irracional e o racional como critério para determinar a
superioridade de uma religião73.
67 Assim faltam, para mencionar apenas um exemplo, na tradução da oração final do cap. 19 do
original (p. 171), que corresponde ao cap. 9 da tradução (p. 120), tanto a palavra decisiva ―religião‖,
que constitui a base das ―analogias‖ mencionadas nesta passagem, quanto a nota respectiva, na qual
Otto aponta para a diferença da linguagem que deve ser usada no ―estudo das religiões‖ e na
―comparação das religiões‖, por um lado, e nos auto-enunciados do cristianismo, por outro: por um
lado, temos enunciados do ―estudo das religiões‖ e, por outro, enunciados ―teológicos‖. Ao mesmo
tempo, Otto relativiza essa distinção: ―É preciso conhecer a diferença entre elas, mas sua separação
intencional seria pedante num texto como este‖.
68 Concordo com o juízo emitido por Baeske, que, referindo-se à tradução para o português de O
Sagrado e ao estudo de Birck mencionado a seguir, afirma: ―Parece que, em nossos dias, Otto está
sendo bastante copiado – mais inconsciente do que conscientemente? – e pouco entendido [...]‖.
BAESKE, Albérico. Testemunhando a Jesus Cristo em nossos dias. Estudos Teológicos, ano 42, n.
2, p. 85-107, 2002, citação à p. 100, nota 53.
Justamente essa última referência à aplicação de um critério por parte de Otto para
―medir‖ as religiões merece atenção. Pode ser que particularmente o cap. 22
(Divination im heutigen Christentume) de Das Heilige, que é muitas vezes ignorado
na recepção da obra de Otto, confirme os críticos da fenomenologia da religião em
sua atitude de rejeição e irrite seus adeptos: para Otto, o fenômeno do numinoso ou
a harmonia contrastante entre o mysterium fascinans e o mysterium tremendum é
um critério para a avaliação das religiões quando o numinoso é interpretado a partir
da teologia da cruz ou quando se consuma, ou melhor, aprofunda, na cruz de Cristo.
Recorrendo à ―cruz de Cristo, esse monograma do mistério eterno‖, o [...] sentimento
cristão realizou a aplicação mais viva da ―categoria do sagrado‖, produzindo, por
conseguinte, a mais profunda intuição religiosa que jamais se encontrou no campo
da história da religião. Ora, é a respeito disso que se tem de perguntar quando se
pretende medir as religiões uma em relação à outra e constatar qual delas é a mais
perfeita. Em última análise, o critério para aferir o valor de uma religião enquanto
religião não pode ser o que ela faz pela cultura, nem sua relação com os ―limites da
razão‖ e ―da humanidade‘, que se acredita poder construir previamente e sem a
religião, nem nada que lhe seja externo. O que pode fornecer esse critério neste
caso só pode ser aquilo que constitui o aspecto mais próprio e intrínseco da
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religião, a própria idéia do Sagrado, e quão perfeitamente uma dada religião
particular faz justiça a ela ou não.74
É isto que afirma Otto. Esse Sagrado interpretado a partir da teologia da cruz
representa um duplo desafio: ele se opõe a uma utilização da fenomenologia da
religião como base de legitimação para uma concepção de ciência da religião que
ligue as disciplinas (como ocorre na América Latina), mas também a uma concepção
de ciência da religião que se sinta comprometida com o ateísmo metodológico
(como ocorre na Europa).
69 BIRCK, Bruno Odélio. O Sagrado em Rudolf Otto. 1993. Dissertação (Mestrado em Filosofia) –
EDIPUCRS, Porto Alegre, 1993. p. 13.
70 No português, ao contrário do alemão, o artigo definido não distingue entre o masculino (―der‖
Heilige) e o neutro (―das‖ Heilige).
73 QUEIRÓS, Carlos. Missão e espiritualidade. In: ANDRADE, Sérgio; SINNER, Rudolf von (Org.).
Diaconia no contexto nordestino. São Leopoldo: Sinodal; São Paulo: Paulinas, 2003. p. 91-114,
citação à p. 99s. (= OTTO, Rudolf. Das Heilige. 3. ed. Breslau: [s.n.], 1919. p. 120).
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75 Cf., p. ex., a obra-padrão de PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. São Paulo: Schwarcz,
2001 (quanto a ela: BRANDT, 2003 [nota 1]), ou o estudo de caso de BOBSIN, Oneide. O
subterrâneo religioso da vida eclesial: intuições a partir das ciências da religião. Estudos
Teológicos, ano 35, n. 3, p. 261-280, 1995; BOBSIN, Oneide. Tendências religiosas e
transversalidade: hipóteses sobre a transgressão de fronteiras. In: BOBSIN, Oneide. Correntes
religiosas e globalização. São Leopoldo: Sinodal, 2002. p. 13-38.
76 Num curso de Introdução às Ciências da Religião oferecido na EST no ano de 2005, havia, entre
os/as participantes, não só cristãos de diversas confissões (católicos, metodistas, luteranos,
pentecostais, batistas, presbiterianos), mas também espíritas, e a maioria deles/as tinha experiências
pessoais com práticas ―mágicas‖ e cultos afro-brasileiros. O cenário religioso multifacetado estava,
portanto, diretamente presente na sala de aula. Cf. quanto a isso KLIEWER, Gerd Uwe. Brodelnde
Vielfalt: Religionen und Kirchen in Brasilien heute. Öku-menische Rundschau, n. 3, p. 328-337,
2005. – Diferentemente do interesse pela religião e religiosidade na Europa, que também cresceu
nos últimos anos, na América Latina essa referência à religião me parece menos ―difusa‖.
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religião, dizer o seguinte: enquanto que no Brasil há fenomenologia da religião
demais, na Alemanha há muito pouco dela80.
Tanto mais promissor seria um diálogo técnico internacional que possibilitasse um
confronto de ambas as posturas para com a fenomenologia da religião e, com isso,
por assim dizer, um encontro no meio dos dois extremos. É que existem indícios de
uma aproximação mútua: na Alemanha, a ciência da religião está passando da
fundamentação de um método próprio para uma valoração de fenômenos religiosos,
abrindo-se, assim, (novamente) para questionamentos normativos; no Brasil, após a
concentração em estudos de caso analíticos (a partir das mais diversas perspectivas
científicas) e a avaliação do material empírico, existe uma tendência a se dedicar
mais acentuadamente, no futuro, ao tema de um método próprio para as ciências da
religião. Neste sentido, seria importante que não só as teologias, mas também as
ciências da religião se compreendessem como ciências interculturais81.
77 Durante minha estada no Brasil foi publicada na revista VEJA de 11 de maio de 2005 (ano 38, n.
19) uma matéria de capa intitulada ―Por que o brasileiro acredita em vida após a morte‖ (p. 112-117).
A capa mostrava um cadáver em cujo dedão do pé estava preso um bilhete que dizia: ―Volto já‖. E o
texto da capa dizia: ―Vida após a morte. Por que é tão forte a crença na reencarnação e na
comunicação com os mortos‖.
78 Carsten Colpe, p. ex., trata, no § 7 de sua contribuição, acima mencionada (v. supra nota 23),
sobre a refundamentação de uma fenomenologia das religiões e da religião, de ―Elementos da
fenomenologia da religião em outras ciências (psicologia, teoria dos sistemas, gnosiologia, ética)‖.
Esta perspectiva se assemelha aos esforços dos brasileiros, descritos acima na seção 4.2.3., de
explorar o potencial interdisciplinar da fenomenologia. Afinal, existem também – não obstante as
intenções serem diferentes – consonâncias entre posições científicas que, como neste caso, foram
formuladas independentemente uma da outra. Para uma discussão diferenciada da fenomenologia da
religião, cf. também a seguinte obra coletiva: MICHAELIS, Axel; PEZZOLI-OLGIATI, Daria; STOLZ,
Fritz (Ed.). Noch eine Chance für die Religionsphänomenologie? Bern: Peter Lang, 2001 (Studia
Religiosa Helvetica, 6/7), e nela, p. ex., BERNER, Ulrich. Religionsphänomenologie und
Skeptizismus. p. 369-391.
80 Ou, nas palavras de meu colega Oneide Bobsin: ―O que a Europa tem demais em termos de
metateoria, a América Latina tem muito pouco‖.
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associação com a ciência da religião é de relevância fundamental para o conjunto da teologia
protestante no horizonte dos desafios globais. Por conseguinte, no futuro a posição dessa disciplina
nas faculdades de Teologia tem de ser claramente fortalecida também em termos institucionais‖. Esse
documento, entretanto, só relaciona o termo ―intercultural‖ com a missiologia; quer-se que a palavra
equívoca ―missão‖ passe para o segundo plano. Por isso se exige, invocando o atual direcionamento
da disciplina da missiologia: ―missiologia como teologia intercultural‖. Com isso, de modo algum se
visa cooptar a ciência da religião para a teologia. Afirma-se, antes, que ―a ciência da religião é
entendida como uma[!] ciência da cultura, de cujo conhecimento especializado a teologia
intercultural/missiologia depende em muitos campos de trabalho‖.
Com o título desta contribuição: ―As ciências da religião numa perspectiva intercultural‖ e com base
em minhas observações e ponderações, aqui apresentadas, sobre as distintas percepções e
avaliações da fenomenologia, eu queria incentivar a que também se considerasse a interculturalidade
da(s) ciência(s) da religião. Em minha opinião, isso se torna plausível na medida em que, como
mostrei, a ciência da religião é compreendida como uma das ciências da cultura; veja quanto a isso a
citação da Universidade de Munique na próxima nota.
82 Quanto a isso, cf., p. ex, o estudo sobre a história da pesquisa de KIPPENBERG, Hans G.
Rivalitäten in der Religionswissenschaft: Religionsphänomenologen und Religionssoziologen als
kulturkritische Konkurrenten. Zeitschrift für Religionswissenschaft, v. 2, p. 69-89, 1994. Instrutiva
em relação aos pressupostos atuantes em cada caso é uma comparação do material publicitário com
o qual as instituições de ensino superior divulgam seus cursos de Ciência da Religião. Um material
publicado pela EST, p. ex., diz o seguinte sobre a especialização em Ciências da Religião: ―O
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crescente pluralismo religioso e a decorrente complexificação dos fenômenos religiosos que
demarcam e diluem fronteiras requerem uma metodologia de análise no horizonte da
transversalidade [...] Ao fomentar uma visão crítica e solidária dos fenômenos religiosos este lato
sensu visa preparar profissionais de diversas áreas para que superem o preconceito frente às
diversas formas de crer, facilitando o diálogo religioso como base para o exercício da cidadania [...]‖.
O curso interdisciplinar de Ciência da Religião da Universidade de Munique, por sua vez, é divulgado
da seguinte maneira: ―A ciência da religião faz parte das ciências da cultura. Muitas vezes, ela
também é confundida com teologia protestante ou católica. Mas a ciência da religião não tem um
ponto de vista religioso. Ela é marcada pelo discurso comovisivo de sua época [...] A ciência da
religião está conectada com numerosas disciplinas científicas e constitui, de maneira abrangente,
uma disciplina autônoma com um questionamento e um método particulares. Ela tem uma atitude de
abertura para a diversidade cultural. Quem a estuda passeia não apenas por diversos mundos, mas
também por diversas ciências [...]‖.
83 Cf. a apreciação de Nathan Söderblom por parte de COLPE, Carsten. Über das Heilige.
Frankfurt/M.: [s.n.], 1990. p. 39s.: justamente o pressuposto da ―teologia da revelação permite que
Söderblom até perceba, com maior clareza do que o conseguem alguns teóricos da ciência atuais, o
que é uma premissa. Isto também beneficiou suas investigações sobre ‗o Sagrado‘.‖ Quanto a isso,
cf. também BRANDT, Hermann. Vom Reiz der Mission. Neuendettelsau: Erlanger Verlag für Mission
und Ökumene, 2003. p. 268s.
Com isso se deveria concordar plenamente. Mas justamente com isso se mostra a
inevitável tensão e relação entre pressuposto e pesquisa. Justamente a pergunta a
respeito dos pressupostos leva, assim, à pergunta a respeito da própria pesquisa.
Uma não pode ser dissociada da outra. E a inexorabilidade da decisão sobre o que
deve ser pesquisado e com que objetivo une as ciências da religião no Brasil e a
ciência da religião na Alemanha.
As discussões controvertidas sobre a fenomenologia da religião mostram
justamente isto: não é possível pesquisar seu ―objeto‖ – a(s) religião(ões) que se
nos mostram – sem prestar contas dos pressupostos próprios de cada projeto de
pesquisa e sobre os motivos condutores das pesquisadoras e pesquisadores. E,
assim, a investigação dos fenômenos se torna e permanece um empreendimento
humano. ―Todo discurso, particularmente o fragmento de um discurso, em geral
pressupõe algo de que parte; quem quiser fazer do discurso ou do enunciado objeto
de reflexão fará, por isso, bem em descobrir primeiro o pressuposto, para, então,
começar por ele.‖84
REFERÊNCIAS
ANTES, Peter; GEERTZ, Arnim G.; WARNE, Randi R. (Ed.). New Approaches to
the Study of Religion. Berlin e New York: [s.n.], 2004. v. 1 e 2.
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ELIADE, Mirceia (Ed.). The Encyclopedia of Religion. New York: Macmillan, 1987.
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Revista Brasileira de Educação
Print version ISSN 1413-2478
Rev. Bras. Educ. no.27 Rio de Janeiro Sept./Oct./Nov./Dec. 2004
doi: 10.1590/S1413-24782004000300013
RESUMO
O texto objetiva refletir sobre a rumorosa questão que envolve o ensino religioso em
escolas públicas. Esse ensino religioso, ainda que facultativo, vem revelando-se
problemático em Estados laicos, perante o particularismo e a diversidade dos credos
religiosos. Cada vez que tal proposta compareceu à cena dos projetos educacionais,
veio carregada de uma discussão intensa em torno de sua presença e factibilidade
em um país laico e multicultural. No caso do Brasil, o conjunto de princípios,
fundamentos e objetivos constitucionais, por si só, garante amplas condições para
que, com a toda a liberdade e respeitadas todas as opções, as igrejas, os cultos, os
sistemas filosófico-transcendentais possam, legitimamente, recrutar fiéis, manter
crentes, manifestar convicções, ensinar seus princípios, fundamentos e objetivos e
estimular práticas em seus próprios ambientes e locais. Além disso, hoje mais do que
ontem, as igrejas dispõem de meios de comunicação de massa, em especial as
redes de televisão ou programas religiosos em canais de difusão, para o
ensinamento de seus princípios.
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ABSTRACT
The article seeks to reflect on the thorny question of religious education in public
schools. Although optional, religious education has become problematic in secular
states, when faced by the particularity and diversity of religious creeds. Whenever
such a proposal appears on the scene of educational projects, it comes charged with
an intense discussion concerning its presence and viability in a secular multicultural
country. In the case of Brazil, the set of constitutional principles, motives and
objectives alone guarantees ample conditions to enable the churches, cults and
philosophical-transcendental systems, with all liberty, and respect for diverse options,
to recruit followers legitimately to maintain their beliefs, demonstrate convictions and
teach their principles, motives and objectives and stimulate practices in their own
places and spaces. Besides this, today more than ever before, the churches have at
their disposal means of mass communication, in particular television networks or
religious programmes on broadcasting channels, for transmitting their principles.
Introdução
O Estado se tornou laico, vale dizer tornou-se eqüidistante dos cultos religiosos sem
assumir um deles como religião oficial. A modernidade vai se distanciando cada vez
mais do cujus regio, ejus religio. A laicidade, ao condizer com a liberdade de
expressão, de consciência e de culto, não pode conviver com um Estado portador de
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uma confissão. Por outro lado, o Estado laico não adota a religião da irreligião ou da
anti-religiosidade. Ao respeitar todos os cultos e não adotar nenhum, o Estado libera
as igrejas de um controle no que toca à especificidade do religioso e se libera do
controle religioso. Isso quer dizer, ao mesmo tempo, o deslocamento do religioso do
estatal para o privado e a assunção da laicidade como um conceito referido ao poder
de Estado.
Por outro lado, não é menos real verificar-se a existência de polêmicas com fundo
religioso explícito: é o caso da proposta de afirmação do cristianismo na Constituição
da União Européia, cujo texto não incluiu o patrimônio cristão como um valor da
Europa, a presença dos crucifixos em prédios públicos da Itália, dos véus das moças
de grupos islâmicos nas escolas francesas e a recente polêmica entre criacionismo e
evolucionismo nos currículos das escolas estaduais do Rio de Janeiro, em nosso
país.
Em nosso país, o ensino religioso, legalmente aceito como parte dos currículos das
escolas oficiais do ensino fundamental, na medida em que envolve a questão da
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laicidade do Estado, a secularização da cultura, a realidade socioantropológica dos
múltiplos credos e a face existencial de cada indivíduo, torna-se uma questão de alta
complexidade e de profundo teor polêmico (Cury, 1993).
Além disso, o art. 1º, inciso III, põe como fundamento da República "a dignidade da
pessoa humana". Já o art. 3º, inciso IV, coloca como objetivo da República a
promoção do "bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação". Se a cidadania é fundamento da
República, a prevalência dos direitos humanos é um dos princípios de nossas
relações internacionais. Portanto, há aqui, à luz da dignidade da pessoa humana, o
repúdio a toda e qualquer forma de discriminação e a assinalação de objetivos
maiores como a cidadania em nível nacional e os direitos humanos em nível
internacional.
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I – confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável,
ministrado por professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados
pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas; ou
[...] por ensino religioso se entende o espaço que a escola pública abre para que
estudantes, facultativamente, se iniciem ou se aperfeiçoem numa determinada
religião. Desse ponto de vista, somente as igrejas, individualmente ou associadas,
poderão credenciar seus representantes para ocupar o espaço como resposta à
demanda dos alunos de uma determinada escola. (p. 2)
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§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes
denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso.
Ao mesmo tempo, a nova redação introduz um novo aposto: o ensino religioso "é
parte integrante da formação do cidadão". Salta à vista a inadequação dessa
introdução num assunto que toca diretamente ao direito à diferença e à liberdade.
Em contrapartida, os dois parágrafos postos na nova versão deixam como
incumbência do poder público regulamentar "os procedimentos para a definição dos
conteúdos do ensino religioso". Como se sabe, procedimentos são formas
estabelecidas em ordenamento legal para cumprir os trâmites de um processo
administrativo (Di Pietro, 2004, p. 530-531). Cabe ainda aos poderes públicos de
cada sistema de ensino estabelecer as normas para a habilitação e admissão dos
professores.
Nesta formulação [da lei nº 9.475/97] a matéria parece fugir à competência deste
Conselho, pois a questão da fixação de conteúdos e habilitação e admissão dos
professores fica a cargo dos diferentes sistemas de ensino. Entretanto, a questão se
recoloca para o Conselho no que diz respeito à formação de professores para o
ensino religioso, em nível superior, no Sistema Federal de Ensino. [...] A Lei nº 9.475
não se refere à formação de professores, isto é, ao estabelecimento de cursos que
habilitem para esta docência, mas atribui aos sistemas de ensino tão somente o
estabelecimento de normas para habilitação e admissão de professores. [...]
Considerando estas questões é preciso evitar que o Estado interfira na vida religiosa
da população e na autonomia dos sistemas de ensino. [...] Esta parece ser,
realmente, a questão crucial: a imperiosa necessidade, por parte do Estado, de não
interferir e, portanto, não se manifestar sobre qual o conteúdo ou a validade desta ou
daquela posição religiosa, de decidir sobre o caráter mais ou menos ecumênico de
conteúdos propostos [...] (p. 3).
E conclui:
[...] não cabe à União determinar, direta ou indiretamente, conteúdos curriculares que
orientem a formação religiosa dos professores, o que interferiria tanto na liberdade
de crença como nas decisões do estados e municípios referentes à organização dos
cursos em seus sistemas de ensino, não lhe compete autorizar, nem reconhecer,
nem avaliar cursos de licenciatura em ensino religioso, cujos diplomas tenham
validade nacional. (p. 4)
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Outro ponto, posto na lei nº 9.475/97, refere-se à oitiva obrigatória de "entidade civil,
constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos
do ensino religioso".
Vê-se, pois, que o ensino religioso ficaria livre dessa complexidade político-
burocrática caso se mantivesse no âmbito dos respectivos cultos e igrejas em seus
espaços e templos. Mas, dada a obrigatoriedade da oferta nas escolas públicas e o
caráter facultativo de sua freqüência para o conjunto dos alunos, importa refletir um
pouco sobre aspectos da religiosidade que podem ser úteis em favor da tese da
importância da religião.
Religião
A etimologia do termo religião, donde procede o termo religioso, pode nos dar uma
primeira aproximação do seu significado. Religião vem do verbo latino religare (re-
ligare). Religar tanto pode ser um novo liame entre um sujeito e um objeto, um sujeito
e outro sujeito, como também entre um objeto e outro objeto. Obviamente, o religar
supõe ou um momento originário sem a dualidade sujeito/objeto ou um elo primário
(ligar) que, uma vez desfeito, admite uma nova ligação (re-ligar).
Todo ente humano é, em sua individualidade, uma pessoa moral, e neste ponto
reside o caráter ao mesmo tempo universal e igualitário de todos.
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Todas as tradições religiosas, tenham elas origens em quaisquer regiões ou povos
da terra, merecem respeito e, portanto, devem contar com a pluralidade cultural dos
diferentes modos de se buscar a religação.
Um pouco de história
De um país oficialmente católico pela Constituição Imperial, nos fizemos laicos pela
Carta Magna de 1891 com o reconhecimento da liberdade de religião e de expressão
religiosa, vedando-se ao Estado o estabelecimento de cultos, sua subvenção ou
formas de aliança. Essa primeira Constituição Republicana, ao mesmo tempo em
que reconhece a mais ampla liberdade de cultos, pune também a ofensa a estes
como crimes contra o sentimento religioso das pessoas. O ensino oficial, em
qualquer nível de governo e da escolarização, tornou-se laico, ao contrário do
Império em que a obrigatoriedade do ensino religioso se fazia presente.
O caráter facultativo
O caráter facultativo da oferta do ensino religioso merece uma pequena reflexão. Ser
facultativo é não ser obrigatório na medida em que não é um dever. O caráter
facultativo caminha na direção de salvaguardas para não ofender o princípio da
laicidade. O mesmo pode-se dizer da vedação de quaisquer formas de proselitismo e
do fato de deixar a uma entidade civil multirreligiosa a definição de conteúdos. Como
diz o parecer CP/CNE nº 05/97:
Bobbio continua: "Creio que você esteja contrapondo a justiça à caridade. Este é um
grande tema da cultura laica".
A ausência de ensino religioso nas escolas não impede que a cultura religiosa
(caridade), ministrada nos seus espaços próprios, se expanda para "um serviço
desinteressado, humanamente desinteressado, ainda que inspirado na idéia de que
o serviço é uma boa obra, que merecerá a glória do Senhor" (Bobbio in Bobbio &
Viroli, 2002, p.69) e, nesse sentido, se aproxime do senso de justiça da caridade
laica que não pode "prometer nada, senão a satisfação da consciência" (idem,
ibidem). E ambas, de acordo com esses intelectuais, podem unir-se na necessidade
de "haver direitos sociais sustentados por leis da República e financiados com
recursos públicos sem que se dispense a caridade praticada pelas associações
voluntárias" (Viroli in Bobbio & Viroli, 2002, p. 73).
REFERÊNCIAS
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CURY, Carlos Roberto Jamil, (1993). Ensino religioso e escola pública: o curso
histórico de uma polêmica entre a Igreja e o Estado no Brasil. Belo Horizonte:
Faculdade de Educação da UFMG, Educação em Revista, nº 17, jun., p. 20-37.
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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, (2004). Direito administrativo. São Paulo: Atlas.
[ Links ]
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la modernité. Paris: Cerf & Cujas. [ Links ]
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(orgs.). Dicionário de política. 2ª ed. Brasília: Editora UnB, p. 670-674. [ Links ]
1 Tal polêmica ocorreu em outros diversos países, sendo o caso mais emblemático o
da França (cf. Poulat, 1987, especialmente o capítulo VIII).
5 Pessoalmente, entendo que essa liberdade também faz parte das liberdades
individuais e do teor do art. 210 da Constituição.
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OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E O ENSINO
FUNDAMENTAL
Carlos Roberto Jamil Cury
Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais
Introdução
A iniciativa do MEC em dar continuidade à discussão desse assunto por meio dos
denominados Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) deve nos remeter a algumas
reflexões a propósito de seu significado, sua oportunidade e processualística, sem
nos esquecermos de outros momentos históricos nos quais a mesma questão se
pôs. E, se tais premissas forem procedentes, tirar algumas conclusões de caráter
provisório tendo em vista a possibilidade de sua efetivação.
Evidentemente o nome atribuído pode ter ou não uma ligação mais estreita com uma
concepção de fundo que subjaz a qualquer política educacional. Diretrizes podem ser
linhas gerais reguladoras e currículos únicos podem,significar mais do que uma
listagem mínima e geral de disciplinas obrigatórias para todo o país. Por outro lado, o
termo "parâmetro" pode dar, até mesmo pela sua origem etimológica, uma idéia de
uma "medida" ou de uma "linha" geométrica, constante e invariável.
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De qualquer maneira, sempre fica a pergunta sobre de que tamanho deve ser esse
"mínimo" afim de que a criatividade também possa transparecer nas unidades
federadas e nas próprias unidades escolares. E, não menos importante, qual o
sujeito privilegiado do "serão fixados conteúdos mínimos...", evitando-se tanto a
burocratização verticalista quanto um democratismo pulverizado? [Anísio Teixeira, já
em 1952, criticando o parecer centraliza dor de G. Capanema ante o projeto de Lei
de Diretrizes e Bases enviado pelo ministro Clemente Mariani, afirmou que os
educadores não podem ser transformados em "rígidos intérpretes de leis e
regulamentos uniformes, [...] em executores rígidos de programas oficiais, e os livros
didáticos em manuais 'oficializados' e conformes, linearmente com os pontos dos
'programas'" (Teixeira, 1952, p. 85)].
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permanente dos Estados nacionais, se impõe através de vários caminhos. A
educação escolar é um deles e aí ocupa lugar destacado.
Nesse sentido, currículos nacionais, mínimos curriculares, diretrizes gerais têm muito
a ver com a questão federativa, pois neles estão presentes a idéia e a prática de
conteúdos gerais válidos para toda uma nação. Mas sua operacionalização enfrenta
uma dupla problemática: se há necessidade de constrangimentos legais para esses
mínimos e, seja pela negativa, seja pela afirmativa, qual o papel das unidades
federadas. As perguntas clássicas sobre os justos limites dos entes juridicamente
autônomos no jogo União x unidades federadas se expressam também no âmbito de
currículos mínimos para todos os cidadãos em qualquer estado ou município. Assim,
pode-se: interrogar: invade-se o território da autonomia dos estados quando a União
impõe uma lista mínima de disciplinas? E o que dizer quando ela avança no sentido
de um detalhamento destas? Esse detalhamento é o que reza o art. 210 da
Constituição? Basta uma listagem mínima de disciplinas para que o objetivo da
coesão nacional se:já alcançado? Trata-se de uma peculiaridade dos Conselhos
Nacionais no sentido de sua explicitação? Qual a tarefa dos Conselhos Estaduais (ou
de quem quer que lhe faça as vezes)? Qual é o papel dos pesquisadores e
estudiosos nesse caso? (Sobre esse assunto deve-se consultar os Cadernos ANPEd
Nova Fase, n° 2, 1989, todo dedicado a esse assunto.)
Por outro lado, quem exerce a docência é quem "sente" o peso dessa tarefa, e nesse
"sentir" o professor "sabe" um caminho que nem sempre chega a quem entende que
"entende" do assunto, mas nem sempre "sente". É possível uma proposta curricular,
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em qualquer nível administrativo, em que a legitimidade da proposta não passe pela
subjetividade dos profissionais da educação?
Nesse sentido, deve afirmar-se que, em uma democracia, o produto almejado deve
estar contido no próprio de produção de uma norma ou mesmo das normas que
visem regulamentar um princípio geral. Nunca é demais recordar as advertências de
Bobbio: "a democracia tem a demanda fácil e a resposta difícil; a autocracia, ao
contrário, está em condições de tornar a demanda mais difícil e dispõe de maior
facilidade para dar respostas" (1986, p. 36). Por outro lado, alerta o mesmo autor:
"Mas como pode o governo responder se as demandas que provêm dê uma
sociedade livre e emancipada são sempre mais numerosas, sempre mais urgentes,
sempre mais onerosas?" (idem, p. 36).
Memória histórica
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inexistência desses princípios em algumas Constituições - não houvesse discussões
sobre currículos.
O Império inscreve a gratuidade das escolas primárias pelo art. 179, n° 32, mas sem
reconhecê-la como direito. Até 1834, o Império tem a responsabilidade de manter
tais escolas como oferta gratuita aos que viessem procurá-las. O Ato Adicional de
1834 introduz não só a divisão de competências entre "os poderes gerais" e as
províncias, como também deixa na ambigüidade se tal responsabilidade deveria ser
compartilhada ou privativa das províncias. (Cf. Ato Adicional, art. 10, par. 1°.)
É verdade que, grosso modo, pode-se dizer que coube sempre às províncias, e
depois aos estados, a tarefa do ensino fundamental e sempre coube aos "poderes
gerais" (depois União) o controle do ensino superior e em boa parte do ensino
secundário (em especial na capital do Império/República).
Mas até onde podem ir as "diretrizes"? E como se pode defini-las? Como discriminar
especificamente as várias competências e responsabilidades? Pode-se dizer que se
criou um entendimento geral que a União tem, em relação ao ensino primário,
apenas uma função supletiva. Já em relação ao ensino médio e sobretudo em
relação ao ensino superior seu papel seria bem mais diretivo e até mesmo
interferidor. (Cf. Constituição Federal de 1891, art. 35, par. 2°, 3°,4°.)
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válido para toda a juventude brasileira, sob a forma de um compêndio a ser levado a
todos os rincões do país (Chizzotti, 1996).
Quanto à organicidade institucional do ensino primário, não se pode negar que ela foi
bem mais lenta que a relativa ao ensino médio e superior. Boa parte dele possuía
uma dimensão doméstica, nem sempre se realizando em instituições escolares. (A
própria Lei de Diretrizes e Bases de 1961 diz textualmente no seu art. 2°: "a
educação é direito de todos e será dada no lar e na escola" (grifos nossos). Também
a proposta de LDB em tramitação fala em "alternativa satisfatória" ao dever de
"matricular no ensino obrigatório".)
O que não quer dizer que só essa Revisão houvesse buscado o princípio de uma
diretriz geral e nacional para a educação. Sucessivos projetos de reforma do ensino
público encaminhados por parlamentares, durante a chamada República Velha, não
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lograram êxito em seus propósitos. (Cf. Moacyr, 1944.) Além disso, não se pode
deixar de lembrar os esforços pelos quais instituições de ensino estaduais, oficiais ou
livres, ansiavam pelo mérito de serem equiparadas ao Colégio Pedro II.
O ano de 1931 traz, pelo menos, três importantes mudanças: a introdução do ensino
religioso nas escolas oficiais, a oficialização dos estabelecimentos do ensino
secundário, via aceitação do regimento e currículos do Pedro II, e a criação do
Conselho Nacional de Educação, órgão consultivo e opinativo do Ministério da
Educação e Saúde Pública, de cujas atribuições fazia parte "firmar diretrizes gerais
do ensino primário, secundário e superior", de tal modo que nelas os "interesses do
país" se sobrepujassem a qualquer outro.
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De acordo com esse espírito que congregava a tarefa de elaborar o Plano Nacional e
de fazer cumprir a Constituição, o então governo eleito de Vargas reorganiza o
Conselho Nacional de Educação pela lei n° 174 de 6 de janeiro de 1936 e lhe impõe
o regimento interno. Por ambos os instrumentos fica claro que a dimensão
interferidora da União ante o ensino primário se esgota substancialmente na guarda
da Constituição e na elaboração do Plano Nacional de Educação (para cuja
elaboração criar-se-ia uma comissão específica voltada para o ensino primário).
Coube também à União a função supletiva de estimulação, promoção de
conferências e apoio técnico ao ensino primário. Embora houvesse um representante
do ensino primário e normal e uma comissão de ensino primário e secundário na
composição do Conselho Nacional, de fato esse parece ter se voltado mais para as
questões do ensino superior. (Esse Plano não chegou a se efetivar pois sua
elaboração final, pelo projeto de lei enviado ao Congresso, não teve seqüência por
causa do golpe de Estado de 1937.)
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discriminar atribuições de estados e municípios pelo decreto-lei de 8 de abril de
1939, impunha claros limites à atuação destes. No âmbito da educação, os decretos-
lei estaduais só teriam vigência após aprovação do chefe de Estado, aí
compreendida a regulamentação do ensino primário.
O curso primário supletivo, voltado para jovens e adultos, deveria conter -além de
leitura, linguagem oral/escrita, aritmética e geometria, geografia e história do Brasil-
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ciências naturais, higiene, noções de direito (do trabalho, civil e militar). As alunas
deveriam cursar economia doméstica e puericultura (art. 9).
Mais do que isso, a Lei, através do art. 10, dá orientações gerais para o ensino
primário fundamental (elementar + complementar) no sentido de uma didática
próxima da escolanovista e no art. 12 impõe o seguinte: "O ensino primário
obedecerá a programas mínimos e a diretrizes essenciais, fundamentados em
estudos de caráter objetivo, que realizem os técnicos do Ministério da Educação e
Saúde, com a cooperação dos estados".
Embora não viessem à luz durante a ditadura, as Leis Orgânicas relativas ao ensino
primário, normal e agrícola, preparadas durante o regime varguista através de
comissões nacionais, tiveram continuidade sob o Estado de Direito da Constituição
de 1946. Tal fenômeno se deu devido ao longo processo de tramitação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada em 1961. Com isso houve um
relativo choque entre a orientação estadonovista, centralizadora e autoritária, e
aquela promanada da Constituição liberal e descentralizadora de 1946.
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construção de conteúdos curriculares. Isso quer dizer que determinadas disciplinas
constavam nacionalmente dos currículos, mas seus conteúdos não tinham definições
específicas por parte da União. (No projeto de LDB proposto por Clemente Mariani
em 1946, pode-se ler no art. 66 que seria competência do Estado aperfeiçoar e
baratear o livro didático. Além do que os livros didáticos, para serem divulgados nas
escolas, deveriam ser registrados no Ministério e quando "impróprios aos fins
educativos" seriam proibidos, ouvido o Conselho Nacional de Educação.)
A lei 4024/61 não fixa um currículo mínimo obrigatório para o ensino primário, mas o
art. 25 assinala que o fim desse nível de ensino é o "desenvolvimento do raciocínio e
das atividades de expressão da criança e a sua integração no meio físico e social".
[O mesmo Mariani defendia "a unicidade do sistema educacional cujas variedades
estaduais obedecerão ao princípio de equivalência pedagógica em substituição ao
falso princípio da uniformidade pedagógica" (Mariani, s/d, p.328).]
O que é novo na lei 4.024/61 é a permissão dada pelo art. 104 de se constituírem
escolas experimentais com currículos próprios, o que faz juz ao art. 12 da mesma,
onde se reconhece a correlação "sistemas de ensino" e "flexibilidade dos currículos".
Grande mudança, entretanto, será trazida pela lei 5.692/71 no que se refere ao
ensino primário. Sob a nova denominação de "ensino de 1 o grau" ela compreenderá
tanto o que antes era o ensino primário quanto o que era o 1° ciclo do ensino médio
(ginásio).
Extenso e detalhado comentário sobre núcleo comum dos currículos nacionais será
trazido pelo Parecer 853/71, logo após a publicação da Lei 5692/71. E em certo
trecho do parecer lê-se claramente:
Tais orientações, ainda que recheadas por novos dispositivos colocados pela
Constituição Federal de 1988 quanto à gratuidade, gestão democrática, direito
público subjetivo, municipalização e outros, foram nela reafirmadas, sem contudo se
fazer referência à existência de um Conselho Nacional ou Federal (que só aparecerá
nas propostas de LDB).
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A longevidade da tramitação do projeto de LDB, a mudança das condições
internacionais no que se refere à correlação trabalho/emprego, a vontade da União
em diminuir seus gastos, a necessidade de especificar a vinculação orçamentária e
sobretudo a consciência da importância do ensino fundamental, de cuja situação
lamentável o país mais uma vez se envergonha, obrigaram a que tanto
parlamentares quanto Executivo tomassem iniciativas mais rápidas no enfrentamento
da questão.
Por outro lado, a educação escolar foi definida (ainda que de. modo especificado em
alguns aspectos e nem tanto em outros) competência privativa da União,
competência concorrente entre União e estados e competência comum entre União,
estados e municípios, segundo os art. 22, 23 e 24 respectivamente. Finalmente, o
art. 30 supõe a ação supletiva da União e dos estados em relação à obrigação dos
municípios em manter uma rede de ensino voltada para o pré-escolar e o
fundamental.
O tom imperativo não deixa dúvida. Não menos claro é o adjativo "mínimo". E, se
"serão fixados", alguém deve ser o responsável. A tradição dessa matéria constata
iniciativa da União através do Conselho Nacional (Federal) de Educação.
Outros artigos desse mesmo projeto de Lei, ainda que citá-Ios alongue o texto, são
úteis para o entendimento da problemática.
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Art. 24. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional
comum a ser complementada pelos demais conteúdos curriculares especificados
nesta Lei e, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte
diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da
cultura, da economia e da clientela.
se social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem
democrática;
Assim, o Plano Decenal de Educação para Todos (1993) deu uma redação mais
participativa no âmbito desse convênio internacional assinado pelo Brasil. Esse texto
reintroduz o MEC como proponente das diretrizes curriculares ao colocar a
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necessidade de "fixação dos conteúdos mínimos determinados pela Constituição"
como uma de suas linhas de ação estratégica:
Em certa medida, esse texto do Plano Decenal faz eco à proposta de LDB, Projeto
de Lei Complementar n° 101/93 do senador Cid Sabóia de carvalho, que diz em seu
art. 23, VI, que cabe ao Conselho Nacional de Educação "fixar, após ouvir
educadores e comunidades científicas das áreas envolvidas, diretrizes curriculares
gerais, definindo uma base nacional de estudos para o ensino fundamental, médio e
superior de educação".
Essa formulação resume o conteúdo mais explícito e detalhado sobre o assunto tal
como expresso no artigo 23, VI. Caberia ao Conselho Nacional " fixar as diretrizes
curriculares gerais, definindo uma base nacional de estudos para cada nível de
ensino". Já o art. 34, além de reconhecer a competência do Estado e/ou municípios
na plenificação do currículo, além de estimular a vida concreta dos estudantes como
ponto de partida, diz no seu caput que "os currículos do ensino fundamental e médio
abrangerão, obrigatoriamente, o estudo de língua portuguesa e da matemática, o
conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política,
especialmente do Brasil" .
O Executivo, que já perdera a iniciativa da LDB em 1988, não queria deixar passar
essa parte Ia legislação sem interferir decisivamente na questão. Daí sua postura de
maior apoio ao projeto nascido no Senado, especialmente no governo Collor e na
gestão Fernando Henrique Cardoso.
Por outro lado, cabe a esse Conselho, segundo o art. 7 da lei, o dever de "assegurar
a participação da sociedade no aperfeiçoamento da educação nacional" .
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art. 9, letra c: "deliberar sobre as diretrizes curriculares propostas pelo Ministério da
Educação e do Desporto".
Vê-se que o problema não é novo e sempre esteve, de algum modo, nas
preocupações do governo federal e nas preocupações dos governos estaduais.
E, nesse diálogo, e talvez tão importante quanto ele, é preciso saber da "radiografia"
das escolas realmente existentes, suas peculiaridades, seus ethos. As escolas
brasileiras não são iguais. Suas condições de funcionamento são extremamente
diversificadas por regiões, por classes, não sendo desprezível a presença de uma
pluralidade étnica e cultural.
É preciso partir dessa "radiografia " para imaginar um método criativo, de tal modo
que a unidade nacional pretendida seja unidade, não uniformidade, na medida em
que essa unidade passa pelo enfrentamento da diversidade.
Por outro lado, algo semelhante se passa com os métodos. Estes variam muito no
âmbito das ciências naturais e sociais, fazendo com que emerja essa outra diferença.
De novo o diálogo é o caminho para se evitar tanto uma homogeneidade
metodológica como uma síncrese distante da análise científica.
O problema que hoje se coloca em face dos parâmetros é que a sociedade brasileira
se "ocidentalizou " muito nas últimas décadas. E o mesmo se pode dizer da
educação escolar. O ensino fundamental está bem próximo da universalização
quantitativa, o ensino público cresceu no âmbito do ensino médio e a expansão do
ensino superior, sobretudo no interior da rede particular, foi muito expressiva.
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E para além das faculdades de educação, o tema de ensino de... vem chamando a
atenção de mais e mais pesquisadores através de estudos e propostas.
Conclusão
Uma discussão sobre "parâmetros curriculares nacionais" não pode ignorar o quanto
esta complexidade exige uma radiografia e uma auscultação da realidade
multifacetada da escola pública brasileira e nem o tanto de dever cabível ao
Executivo federal em efetivar o mandamento constitucional do art. 210.
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administração e gestão desse serviço público nessa modalidade de ensino coube, e
continua cabendo, aos estados e municípios.
Restam os problemas a respeito de que tamanho devem ser essas grandezas. Qual
sua conexão com o processo de ensino/aprendizagem?
É delas que provém um saber com sabor de prática e com suor da pesquisa. É de
ambas que se pode esperar uma participação efetiva e fundamentada para que a
relação dirigentes/dirigidos se aproxime cada vez mais do ideal de uma "vontade
geral" consensual.
REFERÊNCIAS
BOBBIO, Norberto, (1986). O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo.
Rio de Janeiro: Paz e Terra.
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CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, (1963). Parecer 121/63. Documenta, 14,
mai.
HORTA, José Silvério Bahia, (1993). O ensino religioso na Itália fascista e no Brasil-
1930-1945. Educação em Revista, 17, Belo Horizonte, UFMG.
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TEIXEIRA, Anísio, (1952). Estudo sobre o projeto de Lei das Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, vol. 18, n° 48, Rio
de Janeiro, out./dez.
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ENSINO RELIGIOSO SEM PROSELITISMO. É POSSÍVEL?
Dora Incontri
Pós-doutoranda FEUSP
Apoio Fapesp
Alessandro César Bigheto
Pedagogo
Diz um autor contemporâneo que ―a única esperança real por uma tolerância
verdadeira está em descobrir o que ‗nós‘ temos em comum e também em respeitar a
diversidade‖ (LYON, 1998:117).
―O ensino religioso nas escolas deve, antes de tudo, fundamentar-se nos princípios
da cidadania e do entendimento do outro. O conhecimento religioso não deve ser um
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aglomerado de conteúdos que visam evangelizar ou procurar seguidores de
doutrinas, nem associado à imposição de dogmas, rituais ou orações, mas um
caminho a mais para o saber sobre as sociedades humanas e sobre si mesmo.‖
Poderíamos, pois, teorizar que o ensino religioso deveria ter como objetivos
orientadores: 1) despertar e cultivar a religiosidade do aluno; 2) levá-lo à
compreensão da importância do fenômeno religioso em sua própria vida e na história
humana; 3) trazer conhecimento sobre as diferentes formas de religiosidade, dentro
de seus respectivos contextos culturais e históricos; 4) criar um espírito de
fraternidade e tolerância entre as diferentes religiões; 5) sensibilizar o aluno em
relação aos princípios morais, propostos pelas religiões, promovendo ao mesmo
tempo uma reflexão sobre eles.
Da teoria à prática
A abolição da dimensão religiosa na escola laica não foi mera obra de ateus
endurecidos, mas fruto da justa indignação contra o domínio das consciências. Ainda
hoje, em diversos setores religiosos do mundo ocidental e oriental, há
remanescentes poderosos dessa tendência doutrinante que as religiões sempre
tiveram. A discriminação contra outras formas de crença que não a sua ou mesmo
contra os descrentes; a pressão do grupo para adotar determinadas idéias, práticas e
compor-tamentos; a obrigatoriedade de se participar de ritos ou práticas religiosas da
maioria; e acima de tudo, a permanente violência que as maiorias e as ortodoxias
praticaram sobre as minorias e as heresias — tudo isso traumatizou de tal forma as
consciências livres, que o tema do ensino religioso provoca fortes reações em
algumas pessoas e pode fazer parecer o programa esboçado acima como ingênua
utopia. Dizia Voltaire, no século XVIII: ―É verdade que esses horrores absurdos não
mancham todos os dias a face da terra; mas foram freqüentes, e com eles facilmente
se faria um volume bem mais grosso do que os Evangelhos que os reprovam‖.
(VOLTAIRE, 1993: 127)
A trilha aberta por esses educadores foi até agora pouco seguida, seja por
preconceito, falta de coragem ou preparo. É grande o desafio do diálogo e do
respeito mútuo quando se trata de religião.
Alguns pontos cruciais devem ser vencidos na mentalidade que vigora no seio das
religiões, para que sejam possíveis uma convivência mais amistosa e a existência de
educadores capazes de atuar nesse delicado terreno, sem violentar consciências. O
primeiro fantasma que se deve afastar é o do preconceito. Como a própria palavra
exprime, o preconceito é um conceito a priori, pré-estabelecido antes de análise,
estudo e reflexão. O medo do diferente, discriminações socialmente propagadas e
opiniões distorcidas podem formar em nossa mente idéias errôneas e julgamentos
apressados, generalizações simplistas e rigidez de pensamento.
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O educador que se preze deve se despojar de tais viseiras e passar a olhar o outro,
(mesmo o outro diferente), com o olhar da compreensão humana e do interesse de
aprender. O melhor antídoto do preconceito é o conhecimento. Pode haver muito que
nos choque e nos desagrade na religião alheia, mas sem nenhuma dúvida haverá
muito que nos encante e nos fale ao coração. É no terreno dos encontros que
devemos fixar o nosso olhar e achar o fio condutor do diálogo.
A segunda tentação a se vencer (e isso implica às vezes numa reflexão que envolve
a nossa própria fé) é a de julgarmos as pessoas aptas ou não aos processos de
salvação ou redenção, segundo os critérios dogmáticos da nossa religião.
Raciocinava Rousseau com muita propriedade:
―Ou todas as religiões são boas e agradáveis a Deus ou, se existe alguma que Ele
prescreve aos homens e Ele pune os que a desprezam, Ele lhe deu sinais certos e
manifestos para que fosse distinguida e conhecida como única verdade. Esses sinais
são de todos os tempos e de todos os lugares, igualmente acessíveis a todos os
homens, grandes e pequenos, sábios e ignorantes, europeus, indianos, africanos,
selvagens. Se houvesse uma religião sobre a Terra fora da qual só houvesse penas
eternas, e que em alguma parte do mundo um só mortal não foi convencido dessa
evidência, o Deus desta religião seria o mais iníquo e o mais cruel dos tiranos.‖
(ROUSSEAU, 1967:609)
Em outras palavras, nada mais nocivo e injusto do que dizer: ―fora da minha religião,
não há salvação‖. Quem pensa assim se arroga uma competência de julgamento,
que só pertence a Deus e não está muito longe da mentalidade inquisitorial do
passado. Partindo-se desse princípio, não há diálogo possível.
Além desses dois pontos a se evitar, há outros dois pontos a se recomendar, para
promovermos uma educação religiosa, sem proselitismo, nas escolas públicas e
particulares. O primeiro é a necessidade do educador ser um pesquisador (e isso
vale para todos os campos do conhecimento como também para a religião). Ele tem
de buscar e conhecer para não se perder no meio da avalanche de idéias e
informações que vagam nesse mundo. Aprofundar, vivenciar e seguir em primeiro
lugar a própria fé é o dado fundamental. Se enumeramos como objetivo do ensino
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religioso o despertar da religiosidade na criança, essa religiosidade tem de estar
presente, e fortemente sentida, no educador. E, ao mesmo tempo, compete-lhe
buscar informações e conhecimento preciso a respeito das outras religiões, com que
se defrontará na sala de aula.
Uma experiência
No final da década de 90, realizamos uma experiência nesse sentido, com alunos de
pré-escola e ensino fundamental de uma escola particular na zona norte de São
Paulo, Colégio Nova Era.
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As discussões, pesquisas e produções feitas em sala de aula foram no sentido de
responder a todas as questões levantadas e as atividades suscitaram tal interesse e
envolvimento, que chegaram aos ouvidos dos catequistas que estavam preparando
algumas crianças para a primeira comunhão.
Outra vivência concomitante a essas aulas e que envolveu a mesma polêmica, com
final feliz, era um culto ecumênico semanal, que fazíamos com toda a escola. As
crianças de todas as séries eram convidadas na hora do intervalo do almoço e a
presença era voluntária. Foi criada uma ―comissão da prece‖ composta de um
católico, de um evangélico e de um espírita (porque essas eram as religiões
representadas na escola). Essa comissão estava incumbida de trazer orações,
trechos de livros de suas respectivas religiões, mas que não ferissem os princípios
das outras participantes. Por exemplo, não orávamos a Maria, para não desgostar os
evangélicos; não orávamos aos Espíritos protetores, para não ofender católicos e
evangélicos. O Pai-nosso, as orações a Jesus, que eram aceitos por todos, eram
usuais. Depois da leitura ou da prece pronunciada por um dos membros da
comissão, todas as crianças podiam participar, fazendo orações espontâneas,
pedindo bênçãos, saúde ou ajuda para si ou para algum familiar ou amigo ou algum
pedido especial.
Algumas coisas incríveis, às vezes, surgiam, como certa vez o pedido de um menino
de 7 anos, o Pedrinho, que orou: ―Que sempre tenhamos fé!‖ Ou as preces por paz
no mundo, paz na escola e reconciliação entre os que haviam se desentendido. Às
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vezes, havia alguns bagunceiros que atrapalhavam, mas eram contidos pelos outros.
E, muitas vezes, sentimos forte emoção, onde se apalpava quase a presença de
Deus. Não será isso a melhor forma de convivência fraterna: pessoas que crêem de
forma diferente, sentirem em fraternidade a presença divina?
O desafio de tal empreendimento não deve nos assustar, pois quem tem fé sabe que
podemos esperar a ajuda de Deus, entendendo:
REFERÊNCIAS
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ESTRATEGIAS DE SUPERAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO ÉTNICA E
RELIGIOSA NO BRASIL
Roseli Fischmann*
"Não se trata de duvidar da miséria humana - do domínio que as coisas e os maus exercem sobre o
homem (…). Mas ser homem é saber que é assim. A liberdade consiste em saber que a liberdade
está em perigo. Mas saber ou ter consciência é ter tempo para evitar e prevenir o momento da
inumanidade." Emmanuel Levinas - Totalidade e Infinito
A propósito, a própria categoria ―vínculos‖ tem sentido especial, assim como a idéia
de que ―se estabelecem‖, ou seja, algo que é um construído e não um dado. Vínculos
entre indivíduos e seus grupos - étnicos, religiosos - de origem têm tal força, que
dificilmente se encontra quem os conteste. Podem ser mais ou menos valorizados,
plenamente aceitos ou absolutamente rejeitados - jamais serão um dado neutro na
vida de alguém.
Por etnias e religiões fazem-se guerras, como tem demonstrado a História Mundial
em todos os tempos. Por isso, tratar da discriminação religiosa e étnica e tratar da
possibilidade da Paz. Como lembra Javier Péres de Cuellar, "a cultura da paz, da
democracia e dos direitos humanos constitui um todo evidentemente indivisível,
assim como os direitos civis e políticos e os direitos econômicos, sociais e
culturais"[1]
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De fato, é absolutamente insuficiente a perspectiva da paz como ausência de guerra.
De certa forma, a humanidade está ainda parcialmente imersa no que Raymond Aron
denomina "paz de impotência", onde não se dá a guerra pela perspectiva de
extermínio mútuo, frente às armas de que o inimigo também dispõe[2].
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em face de crescentes ameaças, uma qualidade de vida sem paralelo para a nossa
própria espécie"[5].
Talvez possamos lembrar, aqui, ainda que brevemente, da análise do filósofo Jean
Baudrillard, ao apontar a relação existente entre aquilo que tem sido servido como
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"alimento cultural", de maneira geral, propiciando o fim do social, transformado em
quase irrestrita massificação. Contudo, esse trabalho escrito originalmente em 1979,
previa que, ao contrário da percepção vigente que indica uma passividade extrema
das massas, as reações que poderão ainda advir são, em verdade, imprevisíveis[8].
Nessa análise, Baudrillard lança mão do conceito de massa em Física, mostrando,
então, que tudo que é endereçado às massas humanas é recebido, porém, não
passivamente; dá-se, segundo sua análise, assimilação e processamento, uma
elaboração inconsciente, não visível, e, por isso, incontrolável. Além disso, a forma
de "devolução" dos conteúdos assimilados pode ser esperada: o que não significa, é
claro, que se possa saber 'o que' esperar[9].
Assim, o que é identificado por Clark como uma busca de afirmação de dignidade,
que pode resultar, não raro, em conflitos violentos[10], é complementado, por
Baudrillard, analiticamente, a partir de outra perspectiva teórica, afirmando a não-
passividade das massas e, sim, a imprevisibilidade quanto ao momento e qualidade
de sua ação.
Lorenz afirma que a espécie humana é a única, dentre as espécies, que usa seu
diferencial em relação às demais contra si mesma, e não em busca de preservação e
aprimoramento. Assim, o raciocínio abstrato, formal, e a linguagem verbal levaram,
por um lado, a um aprimoramento tecnológico jamais imaginado em outros tempos
pelo ser humano. Por outro lado, concorreram para o desenvolvimento de
sentimentos de posse, promoveram deslocamentos de consciência, disseminaram
doutrinação e passividade.
Citando André Malraux, Péres de Cuellar lembra que o mundo da cultura "não é o da
imortalidade, é o da metamorfose"[11]. A solidão que vivemos nós, seres humanos,
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neste final de milênio é a de quem contempla a si; contemplando-nos, em nossas
imagens, perfeitamente adequadas às exigências externas[12], vemos esmaecer,
distante, nossa identidade, nossa dignidade. Metamorfose é menção de esperança,
lembrando que já trazemos em nós o que poderemos ser. É transformação que não
se faz ao acaso, mas é cheia, sim, de busca e intencionalidade, como nos ensina
Lorenz. E onde a educação é instrumento privilegiado.
Um dado que corrobora a afirmação dessa diferenciação feita pela cultura, refere-se
aos processos de aculturação imposta a imigrantes, em diferentes partes do planeta,
em diferentes momentos históricos. Muitas vezes, perdido o solo original, e
freqüentemente deparando com sentimentos de xenofobia (ainda que difusos, ou
encobertos), o ser humano vê-se na iminência de adaptar-se, ou fenecer, quando
não lhe é dada a alternativa de evadir-se. A metáfora do camaleão sobre a manta
escocesa, expressa por Woody Allen em Zelig, daquele que é capaz de se adaptar
de forma incondicional, no tempo exato, para sobreviver, fala também de certa
esquizoidia, distante da desejável integridade do ser humano.
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Já não apenas como metáfora, encontra-se o jogo de submissão operando sobre
aquele que se encontra indefeso - a inocência, a ingenuidade, e, sobretudo, toda
forma de exclusão, frequentemente são interpretados como fraqueza e
incompetência, certo tipo de ―displacement‖, alguém que está deslocado como um
apátrida, frente a um mundo no qual a competitividade exacerbada ensina a tentar
sempre vencer a qualquer custo - vitória que tem, então, o significado de sobrepor-
se, de forma autoritária, aos vencidos.
Convém lembrar que a derrota em uma guerra significou, por diversas vezes na
história, a vivência da escravidão, como conseqüência. Os perdedores, vistos como
mais fracos, ou supostamente menos competentes, viam-se escravizados, em uma
prática reconhecida e legitimada naqueles tempos. Paulatinamente, a barbárie da
escravidão ganhou tal aceitação, que já não era necessário vencer a guerra -
bastava comprar o escravo que traria o direito ao ócio e ao reconhecimento de
prestígio social - a guerra fora ganha por outros meios.
* Pedagoga, mestre, doutora e livre docente em Educação pela Universidade de São Paulo, sendo
professora no Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da USP, onde
também coordena o projeto ―Discriminação, preconceito, estigma: relações de etnia em educação‖,
assim como a implantação, em cooperação com a UNESCO - Unidade da Tolerância e da Paz, Paris -
, da Rede Científica das Américas e Caribe para a Tolerância e Solidariedade. Recentemente
designada pelo Conselho Executivo da UNESCO para integrar o Grupo de Trabalho Especial sobre
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Educação para Direitos Humanos, como representante regional da América Latina e Caribe, em nome
do Brasil. Fellow de The John D. and Catherine T.MacArthur Foundation, Chicago, no período de 1994
a 1997, junto ao Programa de População.
[1] Cuéllar, Javier Peres de - "Um Plano Marshall para a cultura e o desenvolvimento", in: Folha de
São Paulo, 19/02/1994, p. A-3. Esta discussão inicial baseia-se, parcialmente, no capítulo 1 de
―Transformação de Narciso: Percursos, Diálogos, Reflexões em Educação‖, Tese de Livre Docência
apresentada à Faculdade de Educação da USP em agosto de 1994.
[2] Em substituição à "paz de potência", como por exemplo a "Pax Romana", onde o império se
preserva sem questionamento, por impossibilidade dos submetidos. Sem dúvida haverá quem
identifique, ainda, uma hegemonia norte-americana tal, que preferiria esta categoria àquela que indico
acima. Contudo, é minha compreensão que o fato de o aparato bélico, incluindo arsenal nuclear, estar
muito disseminado por diversos países, torna vital o equilíbrio nas relações internacionais. Contudo,
está claro que essa classificação não é tão simples. Citação ref. Aron, Raymond - Paz e Guerra entre
as Nações, 2ª ed., Brasília, EdUNB, 1986
[3] Aron, Raymond - op.cit., pp. 231-232
[4] Clark, Grahame - "A identidade do homem - Uma exploração arqueológica", Rio de Janeiro, Jorge
Zahar, 1985 - (original, 1983)
[5] Idem, ibid., p.15
[6] Idem, ibid., p.21
[7] Idem, ibid.,pp. 22-23. Ver capítulo 6 deste trabalho
[8] De certa forma, os acontecimentos ocorridos no Leste Europeu, incluindo a queda do Muro de
Berlim, pioneira no suceder de fatos, corroborou a análise prospectiva de Baudillard.
[9] Baudrillard, Jean - "À sombra das maiorias silenciosas - O fim do social e o surgimento das
massas", São Paulo, Brasiliense, 1985
[10] Citando Clark: - "A força das raízes culturais de tais convicções (que têm na diversidade cultural
elemento constitutivo da dignidade humana) pode ser vista nas reivindicações de autonomia local, não
raras vezes escoradas na violência, por parte de grupos afogados por alguns dos Estados mais
avançados da Europa ocidental" - Clark, G. - op.cit., p.155
[11] Péres de Cuellar, J. - op.cit.
[12] A respeito, é sempre oportuno lembrar o indispensável Goffman, E. - A representação do eu na
vida cotidiana, Petrópolis, Vozes, várias edições
[13] Hannah Arendt trabalhará a questão do estrangeiro como sendo certo sentimento comum, que
partilhamos em nossa condição humana, de não nos sentirmos ―nem em casa, nem à vontade no
mundo‖, tema recorrente ao longo de sua obra.
Por outro lado, existem alguns elementos, como a opressão e a injustiça, que, uma
vez surgidos, podem significar uma ruptura do contrato social, frente a qual é próprio
da maturidade não mais obedecer, mas resistir. Moore Jr. destaca, então, que o
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perigo está nas sociedades onde se encontraram formas de controlar toda
resistência, onde a injustiça é vista como inevitável, e portanto se sufoca na base
toda indignação e ira moral geradas pelo sentimento de injustiça.
Tratando dos efeitos do poder de pressão do grupo sobre o julgamento expresso por
um indivíduo, com base em experimentos de Asch, Moore Jr. enfatiza que ―um único
aliado pode fornecer suficiente apoio para capacitar uma pessoa a elaborar um
julgamento correto‖[3]. A mesma conclusão resultou do famoso experimento de
Stanley Milgran, envolvendo cobaias humanas pseudo-submetidas a choques por
ordem de pseudo-experimentadores a agentes que demonstraram sua capacidade
de resistir a ordens cruéis, ou, ao contrário, de extrapolá-las. Nesse experimento, a
oferta de apoio social foi a mais eficaz variante no solapamento da autoridade cruel e
sádica do ―experimentador‖.[4]
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Entre outras conclusões do longo e denso estudo de Barrington Moore Jr.., a
capacidade de identificar a opressão e a injustiça é tratada como sendo central na
busca da construção de uma situação social mais justa a cada vez. Da mesma
forma, o desenvolvimento do sentido de inevitabilidade como sendo ilusório - ou seja,
a compreensão de que há certas condições desumanas, dolorosas ou degradantes
das quais não se necessitam, não se podem e não se devem suportar.
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Adorno constatou em suas pesquisas que quanto mais submisso um indivíduo, maior
sua tendência ao autoritarismo - submete-se, porque legitima o que o outro faz, e se
estivesse em seu lugar, faria igual ou pior. Assim, constatou que existem traços
presentes na personalidade autoritária, que tendem a apresentar atitude
preconceituosa e a legitimar formas várias de discriminação de minorias, aí incluídas
nós mulheres, os homossexuais, todos aqueles que integram etnias ou religiões não
dominantes, além das crianças. Essa formas de discriminação incluem
comportamentos violentos, agressivos, excludentes.
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Retornando a Konrad Lorenz, a base de suas propostas para a educação será a
valorização do ser humano, enquanto criador, como sujeito sócio-cultural, e enquanto
ser dotado de capacidade de compaixão. Atente-se que a noção de compaixão que
traz à reflexão não guarda relação com a visão piegas do termo, mas sim com seu
sentido etimológico ―compaixão‖, a capacidade de ―sentir com‖, de ―mobilizar-se por‖.
Entende Lorenz que a educação tem o papel de desenvolver a sensibilidade e a
consciência, de promover uma revalorização dos valores. Mais ainda, ao oferecer
conhecimento, deve fundamentar-se em uma perspectiva epistemológica que se
funde na aceitação dos limites do conhecimento do ser humano, sujeito, sempre e
necessariamente, aos interesses do conjunto da humanidade. Ao colocar esse tema
ético, volta-se ao universal kantiano, de que o limite da ação humana é o de que
cada ser humano seja tratado como fim em si, jamais um instrumento de outro ou de
seus interesses.
Diz Levinas que "a ética, 'já por si mesma', é uma óptica". Em meu credo de
pesquisadora completo: "a ética é uma óptica", instaura a conduta, define a direção
metodológica.
Lembra Kuhn que "na ciência (...) a novidade somente emerge com dificuldade
(dificuldade que se manifesta através de uma resistência) contra um pano de fundo
fornecido pelas expectativas"[13]. No campo da "síndrome DPE", a mudança dessas
expectativas depende - e estas são outras hipóteses: (a) do conhecimento objetivo,
pelo sujeito, do "paradigma do Outro" do qual ele é portador; (b) do contato direto e
intencional com o Outro, o qual esteja ciente do "paradigma" que norteia seu
interlocutor.
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representantes de diversos setores governamentais, para a qual fui nomeada como
um dos membros, no caso, representante da Universidade Pública.
Contudo, lei complementar posterior, de julho de 1997, deu nova redação ao artigo
referente ao ensino religioso, criando uma situação de ambigüidade e ameaça aos
direitos fundamentais, que, sem dúvida, o tempo já demonstra o desacerto. Essa
nova situação, gerada como resultado de pressão da CNBB na fase preparatória da
visita do Papa João Paulo II ao Brasil em outubro de 1997, deverá ser corrigida em
prol da cidadania, uma vez que a mobilização havida em São Paulo em 1995,
demonstrou à exaustão os perigos desse tipo de exposição compulsória de crianças
à religião - sem garantias às minorias - no ambiente da escola pública.
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Pluralidade Cultural como tema curricular transversal para as escolas de
ensino fundamental
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Manual ―Direitos Humanos no Cotidiano‖, a valorização da diversidade e do
pluralismo
O que poderia ser proposto, então, como relevante, quando se pensa na educação
como fator de transformação dos rumos da espécie humana? Um primeiro aspecto é
destacar, do conceito amplo e de fato indivisível de educação, a sua acepção de
Educação para Direitos Humanos, pauta que está plenamente assimilada como parte
fundamental da formação e consolidação de uma Cultura da Paz, solidificadora de
laços internacionais como os propostos na constituição das Nações Unidas. Quais as
relações entre a educação assim concebida, a temática das minorias e a
possibilidade da consolidação dos direitos humanos? Tomemos algumas sugestões
de Lorenz, combinando-as às experiências decorrentes de nosso trabalho.
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Um primeiro aspecto liga-se à possibilidade da criança e do jovem experimentarem o
prazer da criação. Para tanto, uma área privilegiada é a das Artes, pelo que oferece
em termos de possibilidades criativas e de fruição do belo, elemento recomendado
por Lorenz.
De fato, o desenvolvimento do senso estético pode estar ligado, segundo esse autor,
tanto à percepção de harmonias e desarmonias, e o papel desempenhado pelo ser
humano no estabelecimento das mesmas, quanto ao desenvolvimento da
sensibilidade.
"Não reneguemos as dores que nos são causadas pela compaixão. (...) O sofrimento
é incomparavelmente mais antigo do que a compaixão; o sofrimento surgiu, e nisto
não há o que se possa mudar, juntamente com a vivência subjetiva de uma criatura,
juntamente com a inevitável morte de um indivíduo qualquer que ele seja - muitos
milhões de anos antes de surgir a compaixão. (...) Essa característica de
compartilhar dos sentimentos de outra pessoa só existe, com absoluta certeza,
quando um indivíduo se sente ligado a outro por laços de amor. O amor por seres
vivos é uma emoção importantíssima, imprescindível. Pois é esta emoção que
transfere ao homem, a este ser que tudo domina, a responsabilidade pela vida no
planeta. A pessoa responsável não pode 'alijar de si' nem 'reprimir em si' os
sofrimentos de outras criaturas, sobretudo em se tratando de outras criaturas
humanas, suas semelhantes. Assim, não é nada fácil sua tarefa".[14]
Neste sentido, Lorenz acentua que uma das formas com as quais se evita a
compaixão é "desviando o olhar" - como se diz popularmente, "o que os olhos não
vêem, o coração não sente". Nesse sentido, Lorenz propõe que a educação aponte
os obstáculos que se colocam à reversão do quadro de auto-demolição em que se
encontra a humanidade, desenvolvendo nas crianças e jovens a capacidade de
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resposta a esses obstáculos. Talvez possamos complementar com a abordagem do
historiador Barrington Moore Jr.., que dá à educação o papel, que me parece
complementar a essa proposta de Lorenz, de desenvolver nos indivíduos imunidades
quanto a perda da capacidade de se indignar. Com base nesses valores, a
discriminação que leva à exclusão passa a ser encarada, sempre, como alvo de
indignação, enquanto todos aqueles que sofrem a exclusão são percebidos com
compaixão, ou seja, com a capacidade de sentir como o Outro e mobilizar-se por ele.
No mesmo sentido, podemos propor, com Lorenz, uma revalorização dos valores,
onde se comece, por exemplo, por revalorizar a verdade, em contraposição a uma
linguagem que adotou a mentira como forma de obter vantagem na competição.
Sobretudo, que se possa revalorizar o ser humano, cada ser humano que vive sobre
a face do planeta, colocando a serviço da vida humana, digna e autônoma, todos os
esforços de reorganização jurídica internacional e internamente, em cada nação.
Ao tratar desses valores que aos poucos a Humanidade viu serem perdidos no
horizonte do desenvolvimento tecnológico e do ritmo frenético de mudança, Lorenz
assemelha-se a Allen Wheelis, autor que propõe retomarmos o contato com as
gerações passadas, para recapturarmos o senso de tempo - tema no qual as
tradições religiosas, em particular de minorias, têm prática acumulada.
"a coletividade em que eu digo 'tu' ou 'nós' não é um plural de 'eu'. Eu, tu, não são
indivíduos de um conceito comum. Nem a posse, nem a unidade do número, nem a
unidade do conceito me ligam a outrem. Ausência de pátria comum que faz do Outro
- o Estrangeiro; o Estrangeiro que perturba o 'em sua casa'. Mas o estrangeiro quer
dizer também o livre. Sobre ele não posso 'poder', porquanto escapa ao meu domínio
num aspecto essencial, mesmo que eu disponha dele: é que ele não está
inteiramente no meu lugar. Mas eu, que não tenho conceito comum com o
Estrangeiro, sou, tal como ele, sem gênero. Somos o Mesmo e o Outro. A conjunção
'e' não indica aqui nem adição, nem poder de um termo sobre o outro".[15]
Bibliografia
Adorno, T. et alii - The Authoritarian Personality, New York, Harper and Brothers,
1950.
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Castoriadis, Castoriadis. A instituição imaginária da sociedade, Rio de Janeiro, Paz e
Terra, 1982
NOTAS
[3] idem, ibid., p. 139. Moore Jr. enfatiza, na seqüência de sua argumentação, que há
boas razões para se considerar que o inverso também ocorra, ou seja, que basta um
único apoio para que um julgamento incorreto seja consolidado.
[5] Esclarecido, aqui, no sentido adotado por Adorno e Horkheimer. Cf. Adorno, T. &
Horkheimer, M. Dialética do esclarecimento, 2ª ed., Rio de Janeiro, Jorge Zahar,
1985.
[6] Apenas para citar alguns autores que t6em lidado com a temática, além de Paulo
Freire e teóricos que têm partilhado de seu pensamento, convém lembrar Michael
Apple, Henry Giroux, apenas para ficarmos em alguns nomes exemplificativos dessa
preocupação na educação.
[7] Esse tema também aparece em Arendt, Hannah. Origens do Totalitarismo, São
Paulo, Perspectiva, 1982.
[8] Moore Jr.. baseia-se em Piaget e Kohlberg, além do aqui citado Adorno.
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[9] Essa discussão foi apresentada pela primeira vez pela autora no texto inicial do
projeto vitorioso ‖Discriminação, preconceito, estigma: relações de etnia entre
crianças e adolescentes em escolas de São Paulo e no atendimento à saúde‖, como
parte do concurso de bolsas individuais promovido por The John D, and Catherine T.
MacArthur Foundation, Chicago, processo iniciado no Brasil em novembro de 1993, e
que serviu como base para consolidar uma proposta de trabalho de um grupo que se
empenha coletivamente na temática, em campo social, desde 1990.
[15] Levinas, Emmanuel - "Totalidade e infinito", Lisboa, Edições Setenta, 1988, pp.
26-27.O aprofundamento desta proposta, incluindo implicações epistemológicas, é
assunto do "apêndice prospectivo" deste trabalho.
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Revista Latino-Americana de Enfermagem
versión impresa ISSN 0104-1169
Rev. Latino-Am. Enfermagem v.4 n.1 Ribeirão Preto ene. 1996
doi: 10.1590/S0104-11691996000100007
RESUMO
ABSTRACT
This article aimed at identifying the opinion of nurses' teachers about spirituality and
spiritual assistance within their education program, as well as its presence in courses
and their suggestions about spiritual aspects to be included. 24 teachers were
interviewed during November 1994; 95,8% of them thought the human being to be a
spiritual being, mentioning ways this dimension alter and influences daily life; 66,6%
of the teachers thought about the importance to include spiritual assistance within
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their educational program. In the light of the variety of answers the authors
emphasize the importance to reflect about this subject.
RESUMEN
" Ensino é o nosso modo próprio de viver e o corpo é a expressão do espírito dentro do tempo"
Leonardo Boff
INTRODUÇÃO
O conceito espiritualidade continua sem uma definição aceita por todos, apesar de
nos últimos anos encontramos cada vez mais bibliografias e fóruns de discussão
sobre o tema. Muitos profissionais de saúde procuram estudar e implementar este
conceito enquanto outros ainda são céticos e acham que esta não é uma questão
científica. A enfermagem sempre teve na suas prática a preocupação de assistir o
cliente nas suas necessidades espirituais, porém tem tido dificuldade em diferenciar
a espiritualidade dos aspectos religiosos e psicossociais do indivíduo (ATKINSON &
MURRAY, 1985; DANIEL, 1983).
De qualquer modo, parece mais fácil para os enfermeiros discutir o aspecto espiritual
quanto há uma doutrina religiosa concreta e identificada, em vez de uma rede
abstrata e obscura guiando essa dimensão dos indivíduos. Pode parecer que,
satisfazendo rituais associados a uma religião particular, os enfermeiros estejam
atendendo plenamente as necessidades espirituais do cliente.
Por outro lado, os enfermeiros parecem considerar esta área profundamente pessoal
e por este motivo evitam intervir. Embora relutar em discutir referências espirituais
com os clientes, não seja o mesmo que negar, o resultado é o mesmo, pois nas duas
situações nenhuma identificação clara desta dimensão é feita, como também
nenhuma tentativa para a sua compreensão.
Quando uma pessoa é confrontada com uma crise ou doença, ela pode sentir
ameaçada a sua totalidade pessoal e seu bem estar. Não faz diferença a dimensão
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de vida que essa alteração atinge, porque o corpo, a mente e o espírito estão unidos
de forma que, o que afeta uma dimensão, afeta também as outras. O sofrimento e a
doença freqüentemente forçam a pessoa a encarar assuntos relacionados ao
significado da vida; face à uma situação de crise, ela pode ser confrontada com a
realidade de sua existência, relações consigo mesma, com os outros, com Deus e
talvez até com sua própria morte. Confrontada com tais crises é que, segundo a
NANDA (1989), a pessoa pode apresentar sinais de angústia espiritual, pois, essas
alterações colocam à sua vista a limitação a que todo ser humano está sujeito.
Por não termos claro como o tema é concebido na Escola de Enfermagem, achamos
importante antes de redigir um texto básico para o aluno, identificar a concepção da
escola para que servisse de subsídios na condução do tema. Motivadas para
caracterizar alguns aspectos da espiritualidade entre os docentes da instituição, e
por considerarmos que esse tema merece uma reflexão mais profunda, é que este
estudo foi realizado, com os objetivos expostos a seguir.
OBJETIVOS
A população deste estudo foi constituída por 24 docentes alocados nos diferentes
departamentos da EEUSP. Esse total equivale a 30% dos docentes da instituição e,
essa mesma porcentagem foi mantida nos quatro departamentos existentes. A
escolha dos docentes foi aleatória tomando-se apenas o cuidado de ter a
representação de docentes de todas as disciplinas dos diferentes departamentos.
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A definição do que é espírito segundo os docentes entrevistados pode ser vista no
quadro 1.
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Com relação a importância do ensino da assistência espiritual na Enfermagem, 16
(66,6%) consideram importante; 4 (16,6%) não consideram importante e 4 (16,6%)
não sabem se é importante essa discussão no ensino. Dos que consideram este
conteúdo importante, alguns justificam que ele nos torna mais humanos; facilita a
aproximação entre os indivíduos e torna a assistência de enfermagem também mais
humana.
Dos outro quatro (4) docentes que responderam esta questão afirmando não saber
se este conteúdo deve ser abordado na EEUSP, um (1) o considera importante na
formação do enfermeiro; outro (1), que deve ser ministrado se tiver ressonância
direta na assistência de enfermagem; um (1) que a espiritualidade não pode ser
ensinada, pois é uma questão mais ampla, onde cada um segue um caminho, tem
um entendimento, uma vivência e, que o ensino talvez, seja unir o conhecimento
técnico-científico com o respeito ao outro; e um (1), não tinha opinião formada a
respeito.
Dos quatro (4) docentes que não acham importante o ensino da assistência espiritual
na EEUSP, 3 não justificaram o porquê e 1 docente explicou que este assunto já está
incluído no tema comunicação e "técnicas curativas internas" (exemplo, brinquedo
para criança).
126
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acabaram citando situações que demonstram que, na verdade, discutem a temática
com os alunos de maneira informal, 3 quando surgem questionamento do aluno ou
paciente, e 1 na assistência perinatal e no nascimento.
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A existência do diagnóstico de Angústia Espiritual na classificação dos diagnósticos
de enfermagem, é outro argumento forte para que esta dimensão adquira a sua
especificidade, para evitar erros de avaliação e conseqüentemente, de intervenção
de enfermagem.
"Caso fossem organizados grupos de discussão, ou melhor, de reflexão, (não sei que
modalidade), gostaria de estar participando para o meu crescimento".
"Discutir sobre a palavra respeito ao que sou, ao que o outro é, ou melhor, o que é
santificar, ou seja, ser e ajudar o outro a ser saudável, íntegro, isto é ser em Deus".
"Vejo a espiritualidade como um dos elementos culturais de cada ser e portanto, uma
abordagem a ela seria reconhecê-la, aceita-la, permitir e facilitar sua expressão e
nunca impor crenças ou receitas".
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"Creio que a melhor estratégia seria a discussão com pessoas de várias religiões e
das mais diversas atuações na prática".
"Espero que, algum dia, possamos ter a espiritualidade como ponto de partida e não
como fim".
"Acredito que espiritualidade e seu ensino não fazem parte do conteúdo de ensino de
enfermagem, reconhecendo que esse é um aspecto que faz parte da necessidade de
diversas pessoas; ele deve ser levantado como problema de enfermagem, que a
enfermagem em si não precisa e nem tem condições de atender, mas pode
encaminhar. Pode ser exercido entre profissional e cliente que apresentem crença
semelhante, mas não como prática formal".
"Sem dúvida nenhuma esse foi o questionário mais difícil (que já respondi) por que
não é fácil expressar estas coisas".
"O assunto é muito complexo, não acredito ter conseguido explorá-lo nestas
questões".
"Dependendo da situação do paciente, essa pode ser uma questão que tenha que
ser lidada".
"Tenho tido oportunidade de trabalhar estes aspectos, mesmo que parcialmente, com
doentes, mais do que com aluno".
CONCLUSÃO
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sua vida, condições que, inegavelmente, propiciam um ambiente adequado ao
posicionamento dessa instituição com relação ao tema.
Verificamos que 95,8% dos docentes acreditam que o homem é um ser espiritual,
citando diferentes maneiras sobre como essa dimensão altera e influencia o seu dia-
a-dia, desde no relacionamento com os outros e com a natureza até no próprio auto-
conhecimento; portanto, podemos afirmar que a espiritualidade é importante para a
população pesquisada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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01. ATKINSON, L. D.; MURRAY, M. E. Fundamentos de enfermagem. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1985. Cap. 30: A necessidade de
espiritualidade. [ Links ]
* A partir dessa resposta, o total encontrado é maior que 24 porque houve docente
que respondeu as questões com mais de um item
ANEXO I
Instrumento de coleta de dados
INICIAIS:
DEPTO:
DISCIP.
DATA___/___/___
1. Você tem religião? ___Não ___Sim. Se sim, qual?
2. O homem é um ser espiritual? ___Não ___Sim.
3. Existem coisas espirituais importantes para você? ___Não ___Sim
3.1. Se existem, quais?
3.2. Elas o ajudam? Em que situações?
4. O que é espírito?
5. Você acha importante o ensino da assistência espiritual para a enfermagem? ___Não ___Sim. Se
sim, como?
6. Você aborda esse aspecto na suas disciplina? __Não __Sim. Se sim, como
7. Quer registrar algo mais a respeito desse assunto?
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CONCEPÇÕES DE ENSINO RELIGIOSO DOS DOCENTES DO
ENSINO FUNDAMENTAL DO ESTADO DO PARANÁ —
possibilidades para uma formação de professores
RESUMO
O presente artigo apresenta os dados levantados em uma pesquisa de abordagem
qualitativa, de caráter exploratório, que teve como objetivo geral verificar a
concepção de Ensino Religioso dos professores do Ensino Fundamental do Estado
do Paraná. Cada área de conhecimento requer um curso que projete uma formação,
pressupondo um perfil profissional, pois um docente formado por uma determinada
escola de pensamento vai formar segundo esses moldes. Daí a relevância desta
pesquisa. Os autores que deram sustentação teórica para esta investigação foram
JUNQUEIRA, OLIVEIRA, FREIRE, TARDIF, MARCELO GARCÍA, entre outros. 218
documentos recolhidos no Simpósio da SEED em outubro de 2006, na cidade de
Curitiba, deram sustentação para responder a questão problematizadora da
investigação. Por se tratar de um volume grande de documentos coletados, foi
necessária a utilização de um software que possibilitasse a otimização do
levantamento dos dados. A partir dos dados coletados dos professores de
Geografia, Filosofia, Pedagogia e História, foi possível categorizar quatro
concepções de Ensino Religioso: Transmissão e desenvolvimento de valores, moral
e ética, Respostas às questões existenciais, Estudo das tradições religiosas e
manifestação do Sagrado, Área de Conhecimento. Essas concepções se enquadram
em dois modelos de Ensino Religioso: Interconfessional e Fenomenológico. A
análise dos documentos revelou uma mudança significativa para a história do Ensino
Religioso no Paraná, pois os dados sugerem uma superação das tradicionais aulas
de religião e apontam que o professores estão procurando inserir em suas aulas
conteúdos que tratem da diversidade de manifestações religiosas, seus ritos, suas
paisagens e símbolos, suas relações culturais, sociais, políticas e econômicas.
Introdução
Nos últimos tempos, o interesse dos pesquisadores tem sido o planejamento
de ensino, a avaliação da aprendizagem e do ensino, as crenças e representações
dos professores, os processos cognitivos e decisórios que orientam a ação prática,
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os saberes produzidos pelos professores, suas condições de trabalho, o
envelhecimento, o desgaste profissional etc. (TARDIF e LESSARD, 2005, p.41)
Analisar e pesquisar o campo religioso dentro de sua diversidade a partir de
uma visão mais ampla, incluindo-o e tratando-o como área de conhecimento com
natureza própria como as demais áreas do conjunto curricular, tem sido o desafio do
Ensino Religioso. Grupos de estudos sobre o assunto têm surgido em algumas
regiões do país e a sua atuação tem provocado a reflexão no sentido de uma
mudança de concepção e prática do Ensino Religioso. JUNQUEIRA (1996), LONGHI
(2004), SCHLÖGL (2005); CORRÊA (2006); OLIVEIRA et al (2006), são alguns
desses pesquisadores.
A compreensão da realidade do professor de Ensino Religioso possibilita
verificar como esse profissional tem concebido essa área de conhecimento e qual a
contribuição desse saber para a reflexão pedagógica sobre um homem dotado de
razão, afetividade, inteligência, corpo e desejo. E diante desse quadro, cada vez
mais se percebe a importância da formação dos professores e que a educação, uma
das mais complexas operações humanas, possa também se ocupar da educação de
seus educadores.
Assim, a formação desse profissional da educação carece de uma leitura
crítica das realidades sociais para se buscar os referenciais para a organização e
redirecionamento do seu trabalho em sala de aula. Para Marcelo (1999, p. 11) ―a
formação de professores está a transformar-se numa área válida e complexa de
conhecimento e investigação, que oferece soluções e, por sua vez, coloca
problemas aos sistemas educativos‖.
Essa é a relevância desta pesquisa de abordagem qualitativa, de caráter
exploratório, que apresenta como objetivo geral verificar a concepção de Ensino
Religioso dos professores do Ensino Fundamental do Estado do Paraná. A pesquisa
exploratória, que pode envolver levantamento bibliográfico, entrevista com pessoas
com experiências práticas acerca do tema pesquisado e análise de exemplos que
estimulem a compreensão, tem como finalidade básica desenvolver, esclarecer e
modificar conceitos e idéias para a formulação de problemas mais focados ou
levantamento de hipóteses para pesquisas posteriores (GIL, 1999, p. 43).
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O cenário da pesquisa
Por mais primitivos que sejam, todos os povos têm religião, magia, atitudes
científicas ou ciência. Para Boeing (1999), ―não há época nem espaços humanos
sem religião; não existe vácuo religioso; sua difusão é universal‖ e cada religião
busca oferecer uma orientação global que dê sentido a tudo que nos cerca. Ela cria
valores e normas, estabelece um universo simbólico que aponta para o além do
tangível, do humano e do cotidiano.
Por constituir ―parte integrante da formação básica do cidadão‖ (BRASIL,
1996), a ênfase do Ensino Religioso está na formação cidadã do ser humano,
promovendo o diálogo intercultural e inter-religioso para que seja garantido o
respeito à identidade e à alteridade1.
Mas há que se perguntar: — Precisa-se mesmo do Ensino Religioso? Para
Cortella (2006
p.17-18)
uma criança não compreende a religião, seus dogmas e princípios como
Teologia. No entanto, seu sentimento de religiosidade se aproxima ao
mágico que tem desde sempre. Um menino com 3 ou 4 anos de idade
possui um imaginário magnífico: ele se vê, se pensa, se oferece
superpoderes, lança forças de inimigos ou de amigos fantasiosos. A partir
de 6 ou 7 anos cria maiores bases de racionalidade e entende mais a
relação de causa e efeito do mundo. Ao formar conexões com algumas
questões fortes da vida, como: ―por que isso acontece‖, ―por que não?‖
Essas são formas de espiritualidade e questionamentos que, dependendo
dos pais e docentes, podem ou não ser dirigidas por um canal positivo.
1 ALTERIDADE é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage
e interdepende de outros. A IDENTIDADE é definida pela relação do indivíduo com outros indivíduos,
isto é, cada indivíduo se completa e se efetiva no relacionamento com os que estão à sua volta, em
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seu convívio. Para Junqueira (2008a, p.14) ―a identidade depende de algo fora dela, de uma outra
identidade que ela não é. A identidade é relacional, a diferença é sustentada ao mesmo tempo pela
exclusão e pela solidariedade‖.
2 Segundo o que diz o PCN do Ensino Médio — Parte 1, p. 22 — interdisciplinaridade é a utilização
dos conhecimentos de várias disciplinas na resolução de um problema concreto ou a compreensão
de um determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista.
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para a proposta de toda pesquisa, esse software comprovou também ser versátil na
associação de textos e imagens.
2 meses a 2 anos 94
3 a 5 anos 55
6 a 10 anos 9
11 a 15 anos 10
15 anos em diante 2
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- Pastoral de educação e ER: 1
- Antropologia Social e Interdisciplinaridade: 1
- Letras e Pedagogia: 1
- ER: 4
- Pedagogia Religiosa: 4
- Met. do Ensino de História: 1
- História e Cultura: 1
- Educação Especial: 1
- Teologia: 1
- Psicopedagia Religiosa: 2
- Língua Portuguesa: 1
- Ensino de Hist. do séc. XX e Inclusão: 1
- Hist. do pensamento político brasileiro do sec. XIX e XX e Mestrado em Educação: 1
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desenvolvimento do respeito, da união, do amor e da solidariedade, valores
apontados pelos professores.
Outro fator a ser considerado na compreensão dessa concepção é a
cobrança para que os professores ―cumpram funções de família e de outras
instâncias sociais, que respondam à necessidade de afeto dos alunos; que resolvam
os problemas da violência, da droga e da indisciplina [...]‖ (SEVERINO e PIMENTA
in OLIVEIRA et al, 2007, p. 12).
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Como área de conhecimento e fundamentado numa releitura religiosa do
cotidiano, o Ensino Religioso colabora no processo da construção de um cidadão
que compreende o seu contexto sócio-cultural, político-educacional, econômico e
religioso.
O texto e a frase da professora S 127 demonstram como o Ensino Religioso
pode contribuir como marco estruturado de leitura e interpretação da realidade.
Texto da professora S 127 — História: Direcionar o olhar do aluno para o mundo e sua diversidade,
aprendendo a respeitá-la.
Figura 6: Dados coletados S 127 — História
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funcionalidade dos dedos das mãos, Nossas mãos não teriam a mesma
funcionalidade se todos os dedos fossem iguais?
Assim, de acordo com o que Carniato (2005, p.37) afirma
Considerações finais
Os direitos fundamentais de liberdade religiosa e de expressão religiosa são
frutos de uma sociedade pluralista que se expressa no Estado não-confessional e
laico. A laicidade não é a negação da fé, mas protege todas as confissões de
discriminação e de forma democrática possibilita a relação entre o cidadão e o
Estado, o privado e o público.
Permitir ao outro ser sujeito de sua cultura e de seus desejos é o desafio do
contexto atual. Por isso, os debates e as reflexões prosseguem na busca para
estabelecer o Ensino Religioso como um espaço para pensar o ser humano, numa
abordagem fenomenológica que observe as diversas manifestações religiosas de
forma cultural.
A pesquisa na área da educação tem procurado estabelecer e fornecer à
formação inicial dos professores ―conhecimentos oriundos da análise do trabalho em
sala de aula e na escola‖ (Tardif, 2002, p. 290). Cada área de conhecimento requer
um curso que projete uma formação, pressupondo um perfil profissional, pois um
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docente formado por uma determinada escola de pensamento vai formar segundo
esses moldes.
Os dados levantados nesta investigação apontam a concepção de ER
―Transmissão e desenvolvimento de valores, moral e ética‖, que se enquadra no
modelo interconfessional, como a mais indicada nas frases e desenhos dos
professores de Geografia, Filosofia e História (Figura 7). Porém, esse dado não
descarta a combinação de vários modelos de ação durante a sua atividade. Daí a
complexidade da ação docente implicar numa variedade de ações e interações com
os alunos.
Os dados também sugerem uma superação das tradicionais aulas de religião
e apontam que o professores estão procurando inserir em suas aulas conteúdos que
tratem da diversidade de manifestações religiosas, dos seus ritos, das suas
paisagens e símbolos, as relações culturais, sociais, políticas e econômicas de que
são impregnadas as diversas formas de religiosidade.
No entanto, há que se preocupar com um esvaziamento se esses conteúdos
forem trabalhados somente em nível de informação e curiosidade, pois é a
transformação da informação em conhecimento que proporcionará a consciência
cidadã. Assim, os conteúdos pensados e elaborados a partir de uma abordagem
fenomenológica, podem auxiliar os alunos a enfrentar os conflitos existenciais e a
desenvolver, orientados por critérios éticos, a religiosidade presente em cada um.
REFERÊNCIAS
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CORTELA, Mario Sergio. Educação, Ensino Religioso e formação docente. In:
SENA, Luzia (Org.). Ensino religioso e formação docente: ciências da religião e
ensino religioso em diálogo. São Paulo: Paulinas, 2006.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas,
1999.
_______; JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; ALVES, Luiz Alberto Sousa; KEIM,
Ernesto Jacob. Ensino Religioso no Ensino Fundamental. São Paulo: Cortez,
2007.
145
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PARANÁ. Conselho Estadual de Educação do Paraná. Deliberação nº 01/06-PR.
Curitiba: CEEPR, 2006. Acesso em 15/04/2008. Disponível em:
http://celepar7cta.pr.gov.br/seed/deliberacoes.nsf/7b2a997ca37239c3032569ed005f
b978/175e426ddd8613108325711d0068e646/$FILE/_88himoqb2clp631u6dsg30c9d
68o30dg_.pdf
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Ministério da Educação .
GABINETE DO MINISTRO
<!ID1353522-0>
PORTARIA NORMATIVA No- 10, DE 3 DE SETEMBRO DE 2008
O MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições e
considerando a necessidade de traduzir, no conjunto das ações do Ministério,
políticas educacionais que garantam a democratização da gestão e a qualidade
social da educação e ainda, as deliberações da Conferência Nacional de Educação
Básica - CONEB, resolve:
Art. 1º Constituir a Comissão Organizadora da Conferência Nacional da Educação -
CONAE, que se realizará no mês de abril de 2010, na cidade de Brasília, Distrito
Federal.
§ 1º Compete à Comissão Organizadora a coordenação, a promoção e o
monitoramento do desenvolvimento da Conferência Nacional da Educação, que terá
nas suas bases, estrutural e organizacional, a realização de Conferências Estaduais,
do Distrito Federal e Municipais de Educação.
§ 2º As Conferências Municipais de que trata o parágrafo anterior, serão realizadas
no primeiro semestre de 2009 e, as Conferências Estaduais e a do Distrito Federal
no segundo semestre do mesmo ano.
Art. 2º A Comissão Organizadora, cujos membros serão designados pelo Ministro de
Estado da Educação, será composta por um representante titular e um suplente de
cada uma das entidades, a saber:
I - Secretaria Executiva Adjunta do Ministério da Educação;
II - Secretaria de Educação Básica do Ministério de Educação;
III - Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação;
IV - Secretaria de Educação Especial do Ministério de Educação;
V - Secretaria de Educação a Distância do Ministério deEducação;
VI - Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica doMinistério da Educação;
VII - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério
de Educação;
VIII - Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado;
IX - Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados;
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X - Conselho Nacional de Educação;
XI - Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino
Superior - ANDIFES;
XII - Associação Brasileira dos Reitores das Universidades
Estaduais e Municipais - ABRUEM;
XIII - Confederação Nacional de Estabelecimentos de Ensino CONFENEN XIV -
Associação Brasileira das Universidades Comunitárias ABRUC
XIV - Conselho de Dirigentes dos Centros Federais de Educação ecnológica -
CONCEFET;
XV - Conselho Nacional de Secretários de Educação - CONSED;
XVI - União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação UNDIME;
XVII - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação CNTE;
XVIII - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos
de Ensino - CONTEE;
XIX - Federação de Sindicatos de Trabalhadores de Universidades rasileiras -
FASUBRA;
XX - Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior -
ANDES/SN;
XXI - Fórum de Professores das Instituições Federais de nsino Superior - PROIFES;
XXII - Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica e
Profissional - SINASEFE;
XXIII - Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação - FNCEE;
XXIV - União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação - UNCME;
XXV - União Brasileira dos Estudantes Secundaristas - UBES;
XXVI - União Nacional dos Estudantes - UNE;
XXVII - Confederação Nacional das Associações de Pais de Alunos - CONFENAPA;
XXVIII - Representação da Comunidade Científica;
XXIX - Representação Social do Campo;
XXX - Representação dos Movimentos de Afirmação da Diversidade;
XXXI - Representação da Articulação de Movimentos em Defesa do Direito à
Educação;
XXXII - Representação das Entidades de Estudos e Pesquisa em Educação;
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XXXIII - Representação das Centrais Sindicais dos Trabalhadores;
XXXIV- Representação das Confederações dos Empresários e do "Sistema S".
§ 1º A Comissão Organizadora será coordenada pelo Secretário Executivo Adjunto
do Ministério da Educação.
2º Os representantes dos órgãos e das entidades mencionadas neste artigo deverão
ser indicados ao Coordenador da Comissão Organizadora até o dia 30 de setembro
de 2008.
Art. 3º As atribuições dos membros da Comissão Organizadora serão definidas em
regulamento construído com a participação dos membros e firmado pelo
Coordenador.
Art. 4º Cabe a Comissão Organizadora:
I - Estabelecer os procedimentos a serem adotados no desenvolvimento das
Conferências Municipais, Estaduais e da Conferência Nacional.
II - Submeter ao referendo do plenário da Conferência Nacional da Educação
proposta de regimento interno.
Art. 5º A Comissão Organizadora apresentará, para debate nas Conferências
municipais, estaduais, e do Distrito Federal documento-referência sobre eixos
temáticos da Conferência Nacional.
Art. 6º O Coordenador da Comissão Organizadora resolverá os casos omissos.
Art. 7º Esta portaria entra em vigor na data de sua publicação.
FERNANDO HADDAD
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DISTORÇÕES SOBRE GÊNERO E A NECESSIDADE DE FORMAÇÃO
DOS PROFESSORES EM ENSINO RELIGIOSO
Resumo
A manifestação da sexualidade na escola, especialmente quando difere do padrão
aceito, são causas incipientes às múltiplas violências praticadas contra jovens e
crianças, ultimando no banimento dos ―menos iguais‖. Isso tem sido justificado pelos
valores e aspectos formativos recebidos através das famílias e das religiões no
Brasil, especialmente a cristã. Por isso sexualidade e religião devem tornar-se
pontos de reflexão, para oportunizar mudanças. A apresentação de alguns textos
sagrados a respeito da subserviência feminina e o domínio do modelo patriarcal e a-
homoerótico vem demonstrar a necessidade de conhecimento para mudança de
posicionamento. A partir da revisão de textos bíblicos sob a luz da exegese e
contextualização histórica é possível perceber as distorções havidas durante a
caminhada da humanidade. A re-elaboração de formas de convívio, passa pela
melhor formação de professores, que aptos para facilitar o processo de aquisição do
conhecimento ensejem um espaço de efetiva constituição de cidadãos que prezem
pelo respeito e liberdade, conforme princípios exarados pela LDB de 1996. O espaço
que se apresenta nos currículos escolares que melhor se presta a esta função é o
Ensino Religioso, e da formação deste docente espera-se uma mudança de
paradigmas. Formação que urge em compreender: conhecimento científico,
metolodogia de ensino, aplicação prática e pesquisa científica e a tão necessária
reflexão como forma de subsidiar novos conhecimentos. Tendo em vista a
complexidade do tema e como forma de nortear o trabalho optou-se pela abordagem
qualitativa utilizando-se, nesta fase, a pesquisa exploratória, por ser capaz de
auxiliar o estabelecimento de um instrumento de pesquisa melhor adequado a
realidade a ser pesquisada, além da análise documental que forma o estofo teórico
tão necessário para o entendimento da temática. O combate a qualquer tipo de
preconceito, discriminação e violência tem na dicotomia ensino-aprendizagem sua
mola propulsora - enquanto houver seres ensináveis haverá espaço para o
desvelamento ante ao diferente, pois promove o conhecimento de sí mesmo diante
das características que tanto podem aproximar quanto afastar.
Introdução
As múltiplas violências praticadas contra jovens e crianças, especialmente
àquelas correlacionadas a manifestação de suas sexualidades na escola, não
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levando em conta a riqueza de suas identidades, estão intimamente atreladas aos
valores e aspectos formativos recebidos através das religiões no Brasil. As
potencialidades e interesses acadêmicos são suplantados pelo preconceito
multiforme e por um ―fazer calar‖ que talvez ao negar pretenda fazer desaparecer.
Diante deste cenário e apesar de controversos, os temas sexualidade e religião
exigiram converterem-se em pontos de reflexão.
A violência no ambiente escolar, tanto a constantemente noticiada quanto a
silenciosamente praticada, é uma demonstração da urgente necessidade de re-
elaborar formas de convívio.
Servir-se do aparato a disposição dos professores, que tanto podem deter a
posição de facilitadores da aprendizagem ou, numa posição extrema, de
transmissores ―formais‖ de valores na escola, é reconhecer a potencialidade destes
em preencher uma lacuna no trabalho de encontro e aceitação àqueles que são
―diferentes‖ – como se neste país a diversidade não fosse a regra.
As comunidades, em todas as suas esferas cabe cumprir ao menos com os
princípios da educação, dentre outros, conforme apresentados na Lei de Diretrizes e
Bases 9394/96 (Brasil, 1996):
Desenvolvimento
Relações de poder são, por vezes, geradoras de instrumentos normativos
dentro de diferentes tradições religiosas e fora delas, e historicamente estas
relações penderam cedendo vantagens ora para mulheres ora para homens.
Houveram ainda momentos em que ambos os gêneros cooperaram e resguardaram
o valor mútuo, alicerçando sentimentos de auto-estima e dignidade na identificação
de sua posição no mundo.
A participação do feminino nas estruturas religiosas passou por diferentes
formas, desde a adoração ao princípio feminino como elemento sagrado gerador de
vida, para a negação deste como componente que conduz à sensualidade e à
morte.
As religiões, em sua diversidade, apontam para símbolos do masculino com
certa freqüência. Mas, nem sempre foi assim na história da humanidade. O feminino
já ocupou lugar de destaque no cenário sagrado. Alguns pesquisadores afirmam,
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baseados em pinturas rupestres e em objetos encontrados, entre outros vestígios do
passado, que quando a humanidade vivia nos períodos pré-históricos o ícone que
apresentava o ‗elemento criador ou deus‘ seria representado pela figura de uma
mulher.
Considerando o Cristianismo no Brasil como credo hegemônico, destacam-se
alguns textos específicos que tem servido à (de)formação conceitual e afetiva das
pessoas. Isso talvez se dê por ignorância da profundidade dos mesmos, ou quem
sabe por servirem à interesses escusos.
No livro sagrado dos cristãos, a Bíblia, mais especificamente no Antigo
Testamento encontram-se duas referências sobre à criação do homem e da mulher,
em uma delas Deus criou macho e fêmea à sua semelhança (Gen. 1, 27) e em outro
texto Deus criou Adão e dele tirou uma costela, e com ela formou então a mulher.
(Gen. 2, 21-22). Estes textos, em geral, contribuem para a subserviência feminina.
O Gênesis Cristão afirma que a serpente ludibriou a mulher e fez com ela
comesse do fruto, bem como seu companheiro. A serpente na hermenêutica
judaicocristã é símbolo do mal, rasteja sobre a terra, portanto sobre o mais baixo, o
instintivo. A partir do contato da mulher, com este animal é que, como conseqüência
da desobediência da orientação divina, passa a conhecer as dores do parto,
possibilitando o nascimento, porém com dor.
Como forma de ilustrar o tratamento desigual entre homens e mulheres Bello
(2001) apresenta os seguintes trechos bíblicos, falando a respeito da purificação das
parturientes, no Livro do Levítico, em seu capítulo 12 versos de 1 a 5 (TEB) há
instruções claras a respeito:
É possível identificar no trecho acima forte carga machista, pois a regra impõe
prazo dobrado de isolamento para mulheres que tenham concebido uma criança do
sexo feminino. Este trecho escrito com vistas aos aspectos ritualísticos, tem também
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enfoque sanitarista por pretender tratar das causas de contaminações, tendo em
vista as precárias condições do contexto no qual foi escrito.
É interessante, neste ponto, chamar a atenção e contrapor aqui o conceito de
pureza ou impureza que as culturas imputaram ao sangue menstrual e ao sangue do
parto. Nas sociedades matriarcais, de tempos ancestrais, o sangue era sagrado e
portanto incluído nos rituais, enquanto que nas sociedades patriarcais foi tornado
impuro e a presença de mulheres ‗manchadas‘ pelo sangue afastada dos rituais.
Apesar disso é possível perceber nos primórdios do cristianismo, nas cartas
atribuídas ao apóstolo Paulo, a proclamação da libertação da mulher de sua
subserviência tradicional, sugerindo igualdade sexual em relação ao homem, já que
―em Cristo não há a distinção entre macho e fêmea‖ (Bíblia, Livro de Gálatas 3,28).
Como forma de negar a posição igualitária é encontrado no trecho bíblico de I
Coríntios 11, versos 7 a 10, indicação de diferentes posicionamentos, especialmente
sobre usos e costumes, que tinha em mente o gênero.
Ao analisar todo e qualquer texto sagrado é necessário observar o contexto
completo: a realidade da época na qual foi escrito a cultura local e a localização
geográfica, evitando assim distorções em sua interpretação, ou seja, textos fora dos
contextos que servem apenas de pretexto para dominação ou justificação de
abusos.
Neste trecho há indicação clara sobre a necessidade da mulher cobrir sua
cabeça com véu e manter os cabelos compridos. Saliente-se que Paulo – presumido
autor da carta – fala à uma cidade portuária, que recebia navios do Oriente e do
Ocidente, importante centro comercial da época. Isso fez dela uma cidade dissoluta
onde reinava a devassidão, a luxúria e a licenciosidade. A presença de marinheiros
e viajantes fez da prostituição prática comum, assim as prostitutas, também para
serem identificadas pelos homens, mantinham os cabelos cortados ou raspados.
Interessante notar que esta orientação paulina, é dirigida apenas e
especificamente para igreja de Corinto. Não há outro texto, de autoria atribuída à
Paulo para outras comunidades com esse sentido.
O foco da carta paulina é a situação das novas convertidas – inclusive
prostitutas, que eram orientadas à manter-se cobertas com o véu até que seus
cabelos crescessem, diferenciando-as das que não tinham aderido ao culto cristão.
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Também muito utilizado, e especialmente nebuloso, é o trecho do livro de
Efésios, que versa sobre o homem ser o cabeça da mulher, utilizado amplamente
para desrespeitar a mulher em seus direitos e possibilidades.
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por posicionamento de não aceitação da prática, preferindo-o a utilização do
―homofóbico‖, por entender diferenças entre medo irracional, que leva a
perseguição, violência e assassinato. Desta forma seria possível encontrar, na
sociedade, tanto o repúdio às relações ou comportamentos homoeróticos como aos
heteroeróticos, demonstrados na repulsa que causa aos homossexuais esse tipo de
relação.
Ao se estabelecer a relação de poder entre os gêneros inúmeras crueldades
foram sendo cometidas e na ‗idade das trevas‘ muitas pessoas foram perseguidas e
executadas injustamente em nome da fé, em nome de um deus único, que abarcava
o desejo humano de hegemonia, de supremacia, este deus estava acima de todos
os outros, portanto a morte se justificava pela manutenção da ‗fé reinante‘.
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publicação unindo as duas temáticas, tentando discernir o quadro atual da temática
e suas implicações.
Em primeiro plano o repto que se descortinou é obter informações sobre a
vivência religiosa e orientação sexual, especialmente quando difere do padrão
estabelecido, a heterossexualidade, vinculada à experiência, e talvez vivência no
meio religioso.
No decorrer da pesquisa, até este ponto, foi possível identificar, na opinião
dos respondentes que a formação judaico-cristã abarca no modelo patriarcal um
meio justificável para a dominação da mulher. Já sobre a homossexualidade está
claro, no modelo vigente, ser de convívio suportável desde que reprimida e sua
prática preferivelmente abandonada.
Sobre o público atingido pela pesquisa é possível identificar a dedicação
profissional,em sua maioria, na área de humanas. O nível de escolaridade
ultrapassa os 80% com formação superior e com relação a fé praticada mais de 60%
diz professar a fé católica, porém seria necessário ponderar quanto aos conceitos de
praticantes ou não desta religião, o que remete a um aprofundamento neste quesito.
Alguns outros aspectos foram abordados que serviram para um
aprofundamento preliminar sobre a temática, conforme premissas da pesquisa
exploratória. O público consultado foi levado a descrever sua vivência religiosa na
infância e adolescência, e o grupo demonstrou que até no máximo os 18 anos,
aproximadamente 60% deles tinham uma participação ativa, ou seja freqüentavam
suas práticas religiosas por vontade própria, porém, o índice de dissidentes da igreja
foi o mesmo após a maioridade. Apenas 25% do grupo optou na fase adulta pela
religião que professa atualmente.
Ao questionar algum fato marcante dentro da instituição religiosa de origem,
menos da metade dos respondentes relata ter havido algum, sendo que foram
considerados também fatos que pudessem ter marcado negativamente.
Entre outros aspectos, no afã de entender a influência direta das religiões na
vidas das pessoas, foram argüidos ainda:
- se a religião na qual foram iniciados, quando criança, foi a assumida na fase
adulta, o que não se confirmou até este ponto;
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- sobre a freqüência a um espaço físico (igreja, templo, sala de reunião, etc.) foi
encontrado um grupo que vivencia sua espiritualidade independente da freqüência a
um espaço físico;
- sobre quem seria Deus: houve recorrência em referir-se a Deus como pai, força,
ser supremo e energia. É perceptível que a grande maioria das respostas denotam a
relação com um deus distante.
- para que explicassem, a partir do cotidiano de cada um, a experiência religiosa.
Menos de um terço das respostas indicam que essa experiência tem sentido no
momento de comunhão, sempre visando o bem do outro, o que remete a um
paradigma humanitário de religiosidade.
Ao aprofundar a temática religião e gênero buscou-se entender a
interpretação de corpo e sexualidade, a partir da experiência religiosa, no grupo
entrevistado não há um consenso, o que indica a necessidade de aprofundamento.
Quando questionados se a identidade sexual e gênero influenciaram a vida
espiritual, foram encontrados indícios da cisão entre vida sexual e vida espiritual. Foi
apresentado o entendimento que é necessário equilíbrio entre as duas para alcançar
a completude do ser, dentre outras respostas uma chama atenção ao indicar a
ligação entre a espiritualidade e arte.
Ao serem levados a refletir a respeito das relações existentes entre religião,
sexo e amor, a maioria considerar temas independentes entre sí. Porém, vale a
pena destacar duas contribuições que traduzem a importância da temática: "Religião
é uma necessidade assim como o sexo, o amor é fundamental nas duas [tanto na
religião quanto no sexo]"; e "Sexo, religião e amor tudo é vida. Tudo faz parte do ser
humano."
Quando perguntados sobre a forma que a religião institucionalizada deveria
compreender e lidar com a questão da sexualidade humana, houve consenso que a
igreja enfrenta a temática, a priori, a partir da repressão e desemboca na negação
dos impulsos homossexuais. As contribuições que refletem os anseios dos
entrevistados indicam que as instituições deveriam enfocar o amor; entendendo e
discutindo a questão do prazer, conferindo liberdade às pessoas e oferecendo apoio.
Foi interessante observar a fala de um dos entrevistados "a religião trata da
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sexualidade, nenhuma religião explica a homossexualidade" há implícito o desejo de
busca por explicações, e quiçá acolhimento.
O espaço do feminino nas tradições religiosas e o espaço de pessoas cuja
orientação sexual diferencia-se do convencional são apontadas de forma diferente,
pelo grupo homossexual. É possível perceber a existência do espaço do feminino,
contrariamente a participação das pessoas cuja orientação sexual diferencia-se do
convencional.
Para as pessoas entrevistadas a vida e suas possibilidades não são
excludentes da prática da vida espiritual, mas sim são causadoras desta. Em se
tratando das questões que envolvem a sexualidade, a força das instituições é
bastante marcante, na tentativa de conduzir as pessoas para comportamentos
―adequados‖. Sobre as questões que refletem acerca da homossexualidade a
maioria das mulheres se colocou a favor do respeito e da liberdade para com a
vivência sexual de cada um.
As questões são abordadas de maneira diferente, porém, pode-se notar que
as pessoas respondem por meio de sua concepção pessoal, própria maneira de ver
orientada pela sua espiritualidade ou de maneira impessoal, conforme o que
aprendeu nos ditames de sua instituição religiosa.
O universo religioso das pessoas entrevistadas foi o mais diverso possível,
isso também por conta da diversidade de credos e povos existente no Brasil. Isso se
reflete no Ensino Religioso com a necessidade premente de formação para a
diversidade, que poderá resultar em acolhimento sem distinções, só possível quando
o momento em sala for oportunidade de abertura respeitosa e encontro sem
reservas.
Considerações Finais
Apesar de ser o estado Brasileiro Laico, e consequentemente laica a
Educação praticada no país, a vergonha no meio acadêmico, que transforma a vida
de homens e mulheres em masmorras psicológicas se chama Intolerância, e alguns
indicam o Ensino Religioso como promotor de posicionamentos contrários ao bem
pensar e pensar com profundidade questões sobre as relações entre os gêneros,
tendo em vista os princípios formativo da religião no Brasil.
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O preconceito, a exclusão e a discriminação vão muito além do apregoado
pelos ―defensores‖ de alguns grupos da sociedade. A falta de tolerância, ou melhor
dizendo: a falta de acolhimento se inicia na falência dos relacionamentos primeiros,
e pode ser percebida em muitos ramais da vida adulta: profissional, familiar,
educacional, social e também naqueles de cunho religioso.
O respeito ao outro e a sua diversidade está fragmentado, pois até mesmo a
formação acadêmica prefere algumas cadeiras à outras, consideradas, talvez,
menos científicas.
A influência das religiões na formação das pessoas no Brasil, especialmente a
Cristã é notória, especialmente com relação as relações de gênero. Alguns fatores
são responsáveis por isso: a) falta de conhecimento do sentido profundo das
palavras; b) desconhecimento do contexto geográfico e cultural; c) desconhecimento
do contexto histórico e suas interrelações.
A formação de mulheres e homens, com relação às religiões indica haver
necessidade urgente de criar um arsenal de pessoas livres, respeitosas e
destemidas quanto ao diferente. A respostas encontradas, como forma de otimizar a
transmissão de valores e princípios que contribuam a efetiva permanência de
TODOS no processo educativo, sem distinções de nenhuma forma, indicou o Ensino
Religioso como espaço privilegiadíssimo.
O Ensino Religioso ao discutir especialmente por meio dos textos sagrados
das diferentes comunidades os aspectos do ethos, da busca pela alteridade pode
colaborar na compreensão das orientações destes grupos, visando explicitar os
argumentos que permitam os indivíduos assumirem sua identidade em todos os
aspectos. De forma nenhuma o conhecimento, sob forma deste ou de qualquer outro
componente curricular deve servir para discriminar ou excluir pessoas.
Os princípio norteadores da educação de respeito à liberdade e apreço à
tolerância, como afirma o quarto parágrafo do artigo 3º da LDB 9394/96 – Carta
Magna da Educação vigente no país, indicou que a Educação é sim um caminho
profícuo para esta empreitada.
No momento exato em que a Educação é acusada por fomentar ações
homofóbicas, mais especificamente através da disciplina de Ensino Religioso, se faz
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urgente uma reflexão criteriosa a respeito do papel da Educação na transmissão de
valores sobre a diversidade e a sexualidade.
As questões sobre orientação sexual e religião deixaram de constar nas
conversas na medida mesma em que o fenômeno da falência das instituições,
inclusive as religiosas, tem sido verificado na sociedade atual. Um dos lugares ainda
‗isentos‘ é a escola e é só através da formação do docente que será possível manter
aberto este lócus privilegiado de quebra de antigos paradigmas e produção do
conhecimento.
Além disso questionar a formação das pessoas vínculada aos aspectos
religiosos nasce da realidade, que se impõe à escola, de discutir sexualidade e as
relações dos genêros, como uma possibilidade em entender o diferente e aprender
com ele, e propõe a imersão tão necessária a um universo carregado de
simbolismos e que muitas vezes é considerado mundo da hegemonia masculina.
Servir-se do Ensino Religioso, e de outros espaços formativos, é demonstrar
uma resistência e conduzir a reflexão a respeito destes e de outros aspectos
intrigantes. Uma dessas questões é a Sexualidade, que nos dois últimos séculos
tornou-se tema privilegiado de estudo das ciências, de grupos religiosos, e de
educadores, que querem buscar levantar questões de discussão a fim de promover
o respeito e o combate à discriminação a partir do conhecimento e da
desmistificação.
O artigo 33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394 de 1996, com
nova redação através da Lei 9.475 de 1997, legisla sobre a disciplina da seguinte
forma:
Art.33° - O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da
formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das
escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à
diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de
proselitismo.
§ 1° - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a
definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas
para a habilitação e admissão dos professores.
§ 2° - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas
diferentes denominações religiosas, para a definição do ensino religioso.
A Lei, ampla e por isso mesmo ambígua, confere aos Conselhos Estaduais de
Ensino uma co-responsabilidade e espera que estes venham preencher os espaços
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deixados, até por conta do contexto e das diferentes realidades por esse Brasil
afora.
Existe ainda a possibilidade de cada instituição escolar adaptar-se à lei
através do Projeto Político Pedagógico, o que torna o ensino ainda mais próximo da
realidade na qual a escola está inserida, desde que construído efetivamente ouvindo
anseios e vozes da coletividade.
Para a prática de um ensino religioso que respeite os princípios da lei – com
relação à laicidade do Estado e de princípios não proselitistas, é necessário tanto na
formação dos professores quanto na elaboração do projeto político pedagógico é
necessário refletir e fazer refletir que na sociedade brasileira, de formação, a
princípio, judaica-cristã, tem em seu bojo caracteres medievais, e que a bem pouco
tempo ainda atrelava as ações do estado ao controle das anotações da igreja, a
saber: casamentos, nascimentos e falecimentos.
Apesar dos avanços no sentido da laicidade do estado, é possível perceber
na constituição federal apenas três categorias para o exercício religioso: o sacerdote
católico, o judaico e o de confissão evangélica. E onde estão representadas as
religiões não cristãs na Carta Magna Brasileira?
Da mesma forma que ao incluir a maioria das expressões religiosas da
sociedade, sob a égide da lei, poderá garantir o direito a livre expressão e culto,
considerar com respeito àqueles que exercem sua sexualidade de forma diferente
do padrão dito como ―normalidade‖ pode garantir que as crianças e jovens possam
apurar o olhar, viabilizando VER com olhos sensíveis os anseios dos diferentes.
A solução passa necessariamente pela formação do professor de Ensino
Religioso, que deve contemplar ao menos três quesitos.
A dicotomia teoria-prática posta em ação conforme a Resolução CNE/CP 2,
de 19/02/02:
Art. 1º A carga horária dos cursos de Formação de, no mínimo, 2800 (duas
mil e oitocentas) horas, nas quais a articulação teoria-prática garanta, nos
termos dos seus projetos pedagógicos, as seguintes dimensões dos
componentes comuns.
I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular,
vivenciadas ao longo do curso;
II- 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do
início da segunda metade do curso;
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Unir na formação o exercício da reflexão vinculado à prática deve garantir um
profissional atento ao seu entorno e que traz em seu bojo o comprometimento com
outros e outras no processo. Então nisso o estágio se dá, também, como garantia de
fazer entender ao futuro profissional a tão necessária imersão na realidade para
respeitar as diferentes necessidades discentes.
As situações cotidianas deste profissional, assim como seu público atendido,
são únicas. E por vezes o melhor planejamento precisa ser ajustado em tempo real
durante uma aula ou encontro com seus alunos – que indicam naquele exato
momento uma forma de abordagem que melhor colabore para alcançar os objetivos
propostos.
É necessário criar um arsenal de conhecimentos que possibilitem uma ação
eficaz, entendendo ser impossível manter alunos e professores motivados partindo
da improvisação vazia. É necessário deter e mobilizar conhecimentos para só então
intuir, fomentar discussões e a partir daí improvisar com foco em atitudes que torne o
conhecimento cada vez mais eficaz possível.
Também por isso é indicada na formação de professores de Ensino Religioso
a pesquisa sistemática, que ofereça como frutos embasamento sólido e conclusões
que indiquem um movimento cíclico de busca e encontro no desenvolvimento dos
alunos, na compreensão da realidade e na autonomia destes para a interpretação
dos fatos de maneira isenta de tendências de qualquer gênero, assegurando assim
um ensino com autoridade do saber e da vivência, assim como apregoado no
Sermão do Monte, pelo autor da Pedagogia do Exemplo – Jesus, o Cristo.
Estas constatações não encerram o processo critico-reflexivo sobre a
formação de professores, em especial para o Ensino Religioso, também como forma
de combater qualquer tipo de preconceito, discriminação e violência. Ao contrário
indicam a urgência em encontrar um caminho diferente para as futuras gerações, ou
um ritmo diferente no passo, que dê conta de diferentes caminhantes num mesmo
caminho. É certo que na chegada todos terão visto as mesmas paisagens, alguns
deleitarão o olhar com as pedras, outros com a vegetação e outros, não terão uma
visão detalhada, saborearão apenas os odores da terra, das matas e dos outros
caminhantes.
É importante o caminhar – e o embasamento de cada novo passo!
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REFERÊNCIAS
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1995.
————. História da Filosofia. Vol. I a XIV. Lisboa, Editorial Presença, 1970 a 1993.
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COMENIUS, Johann Amos. Pampaedia. Heidelberg, Quelle & Meyer, 1965. (Texto
em latim e alemão).
ELIADE, Mircea. História das crenças e das idéias religiosas. Tomo II, vol. 1. Rio de
Janeiro, Zahar, 1979.
HUME, D. Diálogos sobre a religião natural. São Paulo, Martins Fontes, 1992.
NIETZSCHE, Friedrich W. Obras incompletas. São Paulo, Abril Cultural, Coleção ―Os
Pensadores‖, 1983.
PENZO, Giorgio e GIBELLINI, Rosino (orgs.) Deus na filosofia do século XX. São
Paulo, Edições Loyola, 1998.
REALE, Giovanni. O saber dos antigos. Terapia para os tempos atuais. São Paulo,
Loyola, 1999.
SILVA, Eliane Moura da. & KARNAL, Leandro. O ensino religioso na escola pública
de São Paulo, Secretaria do Estado da Educação, Unicamp. 2002.
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FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Parâmetros
curriculares nacionais; ensino religioso. 5 ed. São Paulo: Ave Maria, 2001.
FERREIRA, Amauri Carlos. Ensino Religioso nas fronteiras da ética. Petrópolis (RJ):
Vozes, 2001.
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CONCEPÇÕES DE ENSINO RELIGIOSO DOS DOCENTES DO
ENSINO FUNDAMENTAL DO ESTADO DO PARANÁ —
possibilidades para uma formação de professores
Resumo
O presente artigo apresenta os dados levantados em uma pesquisa de abordagem
qualitativa, de caráter exploratório, que teve como objetivo geral verificar a
concepção de Ensino Religioso dos professores do Ensino Fundamental do Estado
do Paraná. Cada área de conhecimento requer um curso que projete uma formação,
pressupondo um perfil profissional, pois um docente formado por uma determinada
escola de pensamento vai formar segundo esses moldes. Daí a relevância desta
pesquisa. Os autores que deram sustentação teórica para esta investigação foram
JUNQUEIRA, OLIVEIRA, FREIRE, TARDIF, MARCELO GARCÍA, entre outros. 218
documentos recolhidos no Simpósio da SEED em outubro de 2006, na cidade de
Curitiba, deram sustentação para responder a questão problematizadora da
investigação. Por se tratar de um volume grande de documentos coletados, foi
necessária a utilização de um software que possibilitasse a otimização do
levantamento dos dados. A partir dos dados coletados dos professores de
Geografia, Filosofia, Pedagogia e História, foi possível categorizar quatro
concepções de Ensino Religioso: Transmissão e desenvolvimento de valores, moral
e ética, Respostas às questões existenciais, Estudo das tradições religiosas e
manifestação do Sagrado, Área de Conhecimento. Essas concepções se enquadram
em dois modelos de Ensino Religioso: Interconfessional e Fenomenológico. A
análise dos documentos revelou uma mudança significativa para a história do Ensino
Religioso no Paraná, pois os dados sugerem uma superação das tradicionais aulas
de religião e apontam que o professores estão procurando inserir em suas aulas
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conteúdos que tratem da diversidade de manifestações religiosas, seus ritos, suas
paisagens e símbolos, suas relações culturais, sociais, políticas e econômicas.
Palavras-chave: Ensino Religioso; Formação de professores; Concepções de
Ensino Religioso.
Introdução
Nos últimos tempos, o interesse dos pesquisadores tem sido o planejamento de
ensino, a avaliação da aprendizagem e do ensino, as crenças e representações dos
professores, os processos cognitivos e decisórios que orientam a ação prática, os
saberes produzidos pelos professores, suas condições de trabalho, o
envelhecimento, o desgaste profissional etc. (TARDIF e LESSARD, 2005, p.41).
Analisar e pesquisar o campo religioso dentro de sua diversidade a partir de uma
visão mais ampla, incluindo-o e tratando-o como área de conhecimento com
natureza própria como as demais áreas do conjunto curricular, tem sido o desafio do
Ensino Religioso. Grupos de estudos sobre o assunto têm surgido em algumas
regiões do país e a sua atuação tem provocado a reflexão no sentido de uma
mudança de concepção e prática do Ensino Religioso. JUNQUEIRA (1996), LONGHI
(2004), SCHLÖGL (2005); CORRÊA (2006); OLIVEIRA et al (2006), são alguns
desses pesquisadores.
A compreensão da realidade do professor de Ensino Religioso possibilita verificar
como esse profissional tem concebido essa área de conhecimento e qual a
contribuição desse saber para a reflexão pedagógica sobre um homem dotado de
razão, afetividade, inteligência, corpo e desejo. E diante desse quadro, cada vez
mais se percebe a importância da formação dos professores e que a educação, uma
das mais complexas operações humanas, possa também se ocupar da educação de
seus educadores.
Assim, a formação desse profissional da educação carece de uma leitura crítica das
realidades sociais para se buscar os referenciais para a organização e
redirecionamento do seu trabalho em sala de aula. Para Marcelo (1999, p. 11) ―a
formação de professores está a transformar-se numa área válida e complexa de
conhecimento e investigação, que oferece soluções e, por sua vez, coloca
problemas aos sistemas educativos‖.
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Essa é a relevância desta pesquisa de abordagem qualitativa, de caráter
exploratório, que apresenta como objetivo geral verificar a concepção de Ensino
Religioso dos professores do Ensino Fundamental do Estado do Paraná. A pesquisa
exploratória, que pode envolver levantamento bibliográfico, entrevista com pessoas
com experiências práticas acerca do tema pesquisado e análise de exemplos que
estimulem a compreensão, tem como finalidade básica desenvolver, esclarecer e
modificar conceitos e idéias para a formulação de problemas mais focados ou
levantamento de hipóteses para pesquisas posteriores (GIL, 1999, p. 43).
O cenário da pesquisa
Por mais primitivos que sejam, todos os povos têm religião, magia, atitudes
científicas ou ciência. Para Boeing (1999), ―não há época nem espaços humanos
sem religião; não existe vácuo religioso; sua difusão é universal‖ e cada religião
busca oferecer uma orientação global que dê sentido a tudo que nos cerca. Ela cria
valores e normas, estabelece um universo simbólico que aponta para o além do
tangível, do humano e do cotidiano.
Por constituir ―parte integrante da formação básica do cidadão‖ (BRASIL, 1996), a
ênfase do Ensino Religioso está na formação cidadã do ser humano, promovendo o
diálogo intercultural e inter-religioso para que seja garantido o respeito à identidade
e à alteridade1.
Mas há que se perguntar: — Precisa-se mesmo do Ensino Religioso? Para Cortella
(2006 p.17-18)
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dimensão humana que vai além da superfície dos fatos, acontecimentos, gestos
ritos, normas e formulações‖ (OLIVEIRA et al, 2007, p. 101). Ao lado de outros
campos de saber, o Ensino Religioso pode acrescentar à visão sobre a realidade,
mais um modo de discuti-Ia, principalmente ao adotar uma metodologia pautada na
interdisciplinaridade2.
1 ALTERIDADE é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage
e interdepende de outros. A IDENTIDADE é definida pela relação do indivíduo com outros indivíduos,
isto é, cada indivíduo se completa e se efetiva no relacionamento com os que estão à sua volta, em
seu convívio. Para Junqueira (2008a, p.14) ―a identidade depende de algo fora dela, de uma outra
identidade que ela não é. A identidade é relacional, a diferença é sustentada ao mesmo tempo pela
exclusão e pela solidariedade‖.
2Segundo o que diz o PCN do Ensino Médio — Parte 1, p. 22 — interdisciplinaridade é a utilização
dos conhecimentos de várias disciplinas na resolução de um problema concreto ou a compreensão
de um determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista.
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Foi solicitado também que fossem indicados gênero, formação e tempo de docência,
possibilitando assim levantar o perfil e a formação do professor de Ensino Religioso
do Estado do Paraná.
Buscando uma ferramenta que possibilitasse a associação de texto e imagem e que
comportasse o volume de dados levantados nos 218 coletados, optou-se pela
utilização do software ATLAS.ti. Conhecido como um instrumento eficiente na
análise de questionários com questões abertas e fechadas, bem como na criação de
banco de dados e networks (teias de relações) que possibilitam um panorama eficaz
para a proposta de toda pesquisa, esse software comprovou também ser versátil na
associação de textos e imagens.
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2 meses a 2 anos 94
3 a 5 anos 55
6 a 10 anos 9
11 a 15 anos 10
15 anos em diante 2
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moral e ética‖, ―Respostas às questões existenciais‖) e o modelo fenomenológico
(―Estudo das tradições religiosas e manifestação do Sagrado‖, ―Área de
Conhecimento‖). Um terceiro modelo de Ensino Religioso, o Confessional, não foi
categorizado nesta investigação, pois apenas um documento apontou o indicador
―confessionalidade‖.
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O Ensino Religioso pode ser percebido como uma porta para a compreensão de
parte da natureza humana (OLIVEIRA et al, 2007, p. 36), pois, ao apresentar a
religiosidade de diferentes culturas, revela a busca do ser humano para se relacionar
com o sagrado para tornar-se mais pleno.
Essa plenitude coopera no desenvolvimento do respeito, da união, do amor e da
solidariedade, valores apontados pelos professores.
Outro fator a ser considerado na compreensão dessa concepção é a cobrança para
que os professores ―cumpram funções de família e de outras instâncias sociais, que
respondam à necessidade de afeto dos alunos; que resolvam os problemas da
violência, da droga e da indisciplina [...]‖ (SEVERINO e PIMENTA in OLIVEIRA et al,
2007, p. 12).
Para Freire e Faundez, (1985, p. 23), a inquietação dos educandos, suas dúvidas e
curiosidades sobre o desconhecido são os desafios postos para uma experiência
reflexiva e enriquecedora tanto para o professor, quanto para os alunos. Um
professor que considera todas as perguntas, incentiva a curiosidade do educando,
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mesmo quando a pergunta lhe pareça ingênua ou mal colocada, pois sempre há
uma razão para aquela pergunta.
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O Ensino Religioso como ―Área do conhecimento‖ foi a segunda concepção mais
indicada pelos professores dessa área do conhecimento. O indicador ―cidadania‖ foi
apontado vinte e sete vezes nas frases e desenhos desses professores.
Como área de conhecimento e fundamentado numa releitura religiosa do cotidiano,
o Ensino Religioso colabora no processo da construção de um cidadão que
compreende o seu contexto sóciocultural, político-educacional, econômico e
religioso.
O texto e a frase da professora S 127 demonstram como o Ensino Religioso pode
contribuir como marco estruturado de leitura e interpretação da realidade.
Texto da professora S 127 — História: Direcionar o olhar do aluno para o mundo e sua diversidade,
aprendendo a respeitá-la.
Figura 6: Dados coletados S 127 — História
Tardif e Lessard (2005, p.7) afirmam que ―a criança escolarizada é a raiz do homem
moderno atual‖ e que o ―conceito moderno de cidadania é impensável sem o de
instrução‖. O exercício da cidadania e o direito da expressão religiosa podem ser
desenvolvidos na escola, já que nesse espaço de aprendizagem, trabalha-se as
regras do espaço público democrático, buscando a superação de todo e qualquer
tipo de discriminação e exclusão social, valorizando cada indivíduo e todos os
grupos que compõem a sociedade brasileira.
Na representação gráfica da análise do documento da professora S 134, observa-se
a variedade de indicadores, além dos indicadores ―conhecimento‖ e ―cidadania‖ que
apontaram para a categorização do Ensino Religioso como área de conhecimento.
O desenho remete a uma convivência e harmonia entre as tradições religiosas. Esse
respeito e harmonia são frutos de uma consciência cidadã. Aprendendo a conviver
com as diferentes tradições religiosas, vivenciando a própria cultura e respeitando as
diversas formas de expressão cultural, o educando estará também se abrindo para o
conhecimento. É cidadão de um mundo complexo, onde se inscrevem relações em
rede, não menos complexas. Porém, é um ser dotado de capacidades criativas e
talentosas, autônomo em seu processo de aprender (JUNQUEIRA, 2008b).
O desenho da professora 131, com 22 anos de experiência na docência em História
e 4 anos
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em ER, e sua frase (Ninguém é igual a ninguém), é um exemplo bem concreto do
respeito à diversidade, pois pode ser feita a relação com a funcionalidade dos dedos
das mãos, Nossas mãos não teriam a mesma funcionalidade se todos os dedos
fossem iguais?
Assim, de acordo com o que Carniato (2005, p.37) afirma
Educar para conhecer diversas religiões e compreender as culturas que lhes dão
forma, analisar a relação entre presente e passado para produzir um saber histórico,
implica em exercitar o diálogo com o diferente, baseado no respeito profundo e no
desejo de preservar a dignidade e direito de existência de cada manifestação
cultural-religiosa. Dessa forma, o aluno participa ativamente da construção do
processo da aquisição de seus conhecimentos, utilizando a dimensão racional de
seu ser, e também as dimensões sensíveis, emocionais e intuitivas.
Considerações finais
Os direitos fundamentais de liberdade religiosa e de expressão religiosa são frutos
de uma sociedade pluralista que se expressa no Estado não-confessional e laico. A
laicidade não é a negação da fé, mas protege todas as confissões de discriminação
e de forma democrática possibilita a relação entre o cidadão e o Estado, o privado e
o público.
Permitir ao outro ser sujeito de sua cultura e de seus desejos é o desafio do contexto
atual.
Por isso, os debates e as reflexões prosseguem na busca para estabelecer o Ensino
Religioso como um espaço para pensar o ser humano, numa abordagem
fenomenológica que observe as diversas manifestações religiosas de forma cultural.
A pesquisa na área da educação tem procurado estabelecer e fornecer à formação
inicial dos professores ―conhecimentos oriundos da análise do trabalho em sala de
aula e na escola‖ (Tardif, 2002, p. 290). Cada área de conhecimento requer um
curso que projete uma formação, pressupondo um perfil profissional, pois um
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docente formado por uma determinada escola de pensamento vai formar segundo
esses moldes.
Os dados levantados nesta investigação apontam a concepção de ER ―Transmissão
e desenvolvimento de valores, moral e ética‖, que se enquadra no modelo
interconfessional, como a mais indicada nas frases e desenhos dos professores de
Geografia, Filosofia e História (Figura 7).
Porém, esse dado não descarta a combinação de vários modelos de ação durante a
sua atividade. Daí a complexidade da ação docente implicar numa variedade de
ações e interações com os alunos.
Os dados também sugerem uma superação das tradicionais aulas de religião e
apontam que o professores estão procurando inserir em suas aulas conteúdos que
tratem da diversidade de manifestações religiosas, dos seus ritos, das suas
paisagens e símbolos, as relações culturais, sociais, políticas e econômicas de que
são impregnadas as diversas formas de religiosidade.
No entanto, há que se preocupar com um esvaziamento se esses conteúdos forem
trabalhados somente em nível de informação e curiosidade, pois é a transformação
da informação em conhecimento que proporcionará a consciência cidadã. Assim, os
conteúdos pensados e elaborados a partir de uma abordagem fenomenológica,
podem auxiliar os alunos a enfrentar os conflitos existenciais e a desenvolver,
orientados por critérios éticos, a religiosidade presente em cada um.
REFERÊNCIAS
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CORRÊA, Bárbara Raquel do Prado Gimenez. Concepções dos professores
sobre o sagrado: implicações para a formação docente. Dissertação de
Mestrado em Educação. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2006.
Orientador: JUNQUEIRA, Sérgio Rogério de Azevedo.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas,
1999.
_______; JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; ALVES, Luiz Alberto Sousa; KEIM,
Ernesto Jacob. Ensino Religioso no Ensino Fundamental. São Paulo: Cortez,
2007.
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SITES E LIVROS PARA CONSULTAS
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[CITAÇÃO] A Inquisição portuguesa ea sociedade colonial
SA Siqueira - 1978 - Editora Ática
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[CITAÇÃO] O subterrâneo religioso da vida eclesial: intuições a partir das ciências
da religião O Bobsin - Estudos Teológicos, 1997
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[PDF] Representações e relações de gênero nos grupos pentecostais
[PDF] de scielo.brMD Machado… - Estudos feministas, 2005 - SciELO Brasil
... 1998. Tese (Doutorado em Sociologia da Religião) – Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Religião da PUC, São Paulo. ... 2002. Dissertação
(Mestrado em Ciências da Religião) – Programa de Pós-Graduação em Ciências
da Religião, PUC, São Paulo. ...
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[PDF] de pucsp.brAGS Tomita - Revista de Estudos da Religião, 2004 - pucsp.br
... EDUSC, 1999. FUJIKURA, Yumi. "Alguns aspectos de inculturação no trabalho
missionário da PL no Brasil". Dissertação de mestrado em Ciências da Religião
apresentada à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1992.
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[PDF] de scielo.brGJ de Paiva - Psicologia: Reflexão e Crítica, 2002 - SciELO Brasil
... Uma expressão clássica desse modo é fornecida pela Academia Nacional de
Ciências, dos Estados Unidos: ―A religião ea ciência são reinos separados e
mutuamente excludentes do pensamento humano, cuja apresentação no mesmo
contexto leva a mal-entendidos tanto ...
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sociedade moderna e por vezes à ...
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[HTML] de unb.brCRJ Cury - Revista Brasileira de Educação, Campinas: ANPEd -
nesp.unb.br
... E tal foi o vigor desses movimentos que a Revisão Constitucional de 1925-1926
tratou do tema com bastante abundância, em especial ... O ano de 1931 traz, pelo
menos, três importantes mudanças: a introdução do ensino religioso nas escolas
oficiais, a oficialização dos ...
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[PDF] Escolas públicas e ensino religioso: subsídios para a reflexão sobre o Estado
laico, a escola pública ea proteção do direito à liberdade de crença e de culto
[PDF] de gper.com.brR Fischmann - … –Revista Eletrônica de Jornalismo Científico,
julho de, 2004 - gper.com.br
... De fato essa relação entre o ensino religioso em escolas públicas eo direito ao
acesso à ciência já se anunciara em polêmica anterior, quando, em 1995, o tema do
ensino religioso nas escolas públicas agitou o meio educacional e acadêmico, a
partir de São Paulo. ...
Citado por 3 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 3 versões
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LACR da Cunha - 2007 - books.google.com
... Os temas das duas são distintos, mas não podem ser apartados. Diversos, sem
dúvida, mas só podem ser entendidos como referência constante um ao outro. ...
Antes, uma advertência a respeito da omissão, na análise, do ensino superior de
outras ordens religiosas. ...
Citado por 137 - Artigos relacionados - Todas as 2 versões
EDITORIAL
No ano de 2010 acontecerá a CONFERÊNCIA NACIONAL DE EDUCAÇÃO
BÁSICA, para preparar este importante evento o Governo Federal propõe que os
Municípios e os Estados realizem as suas Conferências Regionais, é de
fundamental importância que professores e pesquisadores preparem e participem
destes eventos. Com a intenção de colaborar com este momento é que o GPER
está preparando as turmas do Curso de Especialização de 2009, urge profissionais
com fundamentação para discutir o Ensino Religioso junto as diferentes área do
conhecimento.
NOTICIA
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ORIENTAÇÕES PARA BUSCA DE ARTIGOS CIENTÍFICOS NO
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Siga os passos indicados:
Para iniciar sua pesquisa, digite o site do SciELO no campo endereço da
internet e, depois de aberta a página, observe os principais pontos de pesquisa: por
artigos; por periódicos e periódicos por assunto (marcações em círculo).
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Em seguida, deve-se escolher onde será feita a procura e quais as palavras-
chave deverão ser procuradas, de acordo com assunto do seu TCC (não utilizar ―e‖,
―ou‖, ―de‖, ―a‖, pois ele procurará por estas palavras também). Clicar em pesquisar.
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Lembre-se de que as palavras-chave dirigirão a pesquisa, portanto, escolha-
as com atenção. Várias podem ser testadas. Quanto mais próximas ao tema
escolhido, mais refinada será sua busca. Por exemplo, se o tema escolhido for
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relacionado à degradação ambiental na cidade de Ipatinga, as palavras-chave
poderiam ser: degradação; ambiental; Ipatinga. Ou algo mais detalhado. Se nada
aparecer, tente outras palavras.
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aquelas palavras que você forneceu. Observe o número de referências às palavras
fornecidas e o número de páginas em que elas se encontram (indicado abaixo).
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nome dos autores (Sobrenome, nome), título, nome do periódico, ano de publicação,
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de visualização do resumo do artigo em português/inglês e do artigo na íntegra, em
português. Avalie os títulos e leia o resumo primeiro, para ver se vale à pena ler todo
o artigo.
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artigos, sendo proibida a cópia de trechos, sem a devida indicação do nome do
autor do texto original (ver na apostila tipos de citação) e/ou o texto na íntegra.
Tais atitudes podem ser facilmente verificadas por nossos professores, que
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