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ISSN 1517-5545 Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 2001, Vol. 3, m* 1, 9-24 Questdes Referentes a Causalidade e Eventos Privados no Behaviorismo Radical! José Anténio Damasio Abib Universidade Federal de Sao Carlos ‘Maura Alves Nunes Gongora” e Universidade Estadual de Londrina, PR Resumo Examina-se uma questio ainda freqiente entre behavioristas radicais e psicoterapeutas: afinal, eventos privados sao ou na so causas de comportamento? Investigam-se neste artigo dois temas do behaviorismo radical com o propésite de sondar essa questio, Examina-se, em primeiro lugar, 0 conceito de mentenno behaviorisma radic c 1 dominio de eventos pibli- cos. Em segundo lugar, examina-se 0 acesso a eventos privados e a aquisi¢&o de autoconhecimento com base em praticas Sociais piblicas. A partir da andlise desses dois temas, da natureza comum entre eventos piiblicos e privados ¢ com base em um paradigma relacfonal, defende-se uma inter pretagaio contextualista lo behaviorismo radical. Sugere-se que o contextualismase afasta do estilo dualista e mecanicista de pensamento. Sendo assim, nZo faz sentido perguntar se eventos privados si ou no séo causas ce comportamento; com efeito, trta-se de formular perguntas cujas respos- las deserevam as relagbes possivels entre eventos de dominio piiblico e privada Palavras-chave: Eventos privados: causas; behiaviorismo radical; contextualism. Abstract Questions Referent to Causality and Private Events in Radical Behaviorism. It is examined a still frequent question among radical behaviorists and psychotherapists: after all are or not private events causes of behavior? Two themes from radical behaviorism are investigated in this paper ‘with the purpose of searching out this question. tis examined, inthe first place, the concept of mind in radical behaviorism, including i, partially, in the realm of public events. Second, itis examined the access to private events and the self-knowledge acquisition based on public social practices. From the analysis of these two themes, the common characteristics of public and private events, ‘and based on a relational paradigm, itis defended a contextualist interpretation of radical behavio- rism, It is suggested that the contextualism differs from the dualistic and mecanistic styles of thought, Therefore, there is no sense in asking whether private events are causes of behavior ornot; in fact, itis a matter of formulating questions, whose answers will describe possible relations bet- ‘ween public and private events. Keywords: Private events; causes; radical behaviorism; contextualism. O tema da privacidade ou subjetividade no behaviorismo radical tem sido objeto de questionamentos, particularmente na area de Psicologia Clinica. Uma das indagagdes mais freqilentes refere-se 20 estatuto causal dos eventos privados. Em geral, procura-se esclare- cer se, afinal, eventos privados so ou nao sio causas de comportamento. Bste texto examina essa questo a partir de dois temas: o primeiro refere-se as 1. Este texto foi elaborado como parte de estudos realizados em programa de pés-doutorado junto UFSCar. A autora agradece & UFSCar, as condigbes oferecidas para seus estudos ¢ a0 Doutor José Anténio Damésio Abib, pela orientagio recebida no desenvolvimento de todo o programa. 2, Enderego para correspondéncia: Universidade Estadual de Londrina, Departamento: PGAC (CCB), Rodovia Celso Garcia Cid, Londrina, PR, CEP: 86 051 990, Caixa postal: 6001, Fone/fax: (43) 371 42 27, E-mail: maura@uel.br Maura Alves Nunes Gongora e José Antonio Damasio Abib explicagdes ambientais do comportamento que resgatam e inserem no dominio piblico os fend- ‘menos mentais que, no mentalismo, so consi- derados internos; 0 segundo refere-se aos eventos privados, os quais so examinados com énfase no modo de acessé-los. Com base nese exame, © em algumas caracteristicas da visio behaviorista radical de ciéneia, sugerem-se que perguntas do tipo “eventos privados sio ou no sfio causas” pressupdem uma visto mecai e dualista de Psicologia, inecmpativel com a vi- siio pragmiatica ou contextualista do behavioris- ista mo radical, Antes de tratar dos temas deste ensaio, é necessirio esclarecer que no behaviorismo ta- dical, termos como causalidade, cauisa ou cat: sagt referem-se apenas as relagdes funcionais entre eventos, um sentido completamente dife- rente do tradicional modelo de causa-efeito, amplamente refutado por Skinner (1953/1998, 1974). E importante esclarecer, ainda, que no seu exame de eventos privados, Skinner (1974) discute, principalmente, o mentalismo (espe- cialmente 0 cognitivismo e a Psicanilise) e 0 behaviorismo metodolégico. Ao aderit a0 ope- racionismo, 0 behaviorismo metodoldgico ado- tou o critério da concordincia entre observadores para definir a objetividade e 0 va- lor de verdade dos enunciados cienti cos. Como os eventos privados ndo atendem a esses critérios, foram negligenciados pelo behavio- rismo metodolégico. No behaviorismo radical, porém, no foram considerados subjetivos, a0 contririo, considera-se que eventos privados existem em relagéio com eventos piblicos. Tém, Portanto, © mesmo estatuto ontolégico dos eventos piiblicos, motivo pelo qual nfo foram descartados, O tinico problema com eles resu- me-se na dificuldade em acessé-los (Skinner, 1974), uma questo de ordem epistemolégica e no ontolégica. 10 Omentalismo, por outro lado, tem impli= cagdes para a compreensio das concepgdes skinnerianas sobre eventos privados, motivo pelo qual sera aqui abordado, na medida neces- sétria ao exame dos temas deste ensaio, Mentalismo e Behaviorismo Radical Skinner (1945/1984, 1974, 1989a) pro- ura demonstrar que a mente nao pode explicar, apropriadamente, 0 comportamento. Por isso, costuma-se dizer que o behaviorismo radical nega ou refuta a mente. E preciso esclarecer, en- tretanto, que a mente por ele refutada éa mente imaterial, que atua como um agente criador ou propulsor ¢ que evoca comportamentos. Uma mente que permanece na penumbra e que nfio é publicamente observavel. E mais, nao é acessi- vel i intervengao, Em outras palavras, ele refuta a mente tal como concebida pelo mentalismo, uma das filosofias da mente, Skinner (1989") considera que “o que é a mente e o que ela faz sflo coisas ainda longe de ser esclarecidas” (p.22), Ele busca, entio, outro caminho que per ‘mita um avango na compreensio da mente. Skinner (1989*) sugere que “Para se compreender o que significa mente, é preciso primeiro considerar percepgio, idéia, senti mento, intengao ¢ muitas outras coisas (P.22), Ele entende que o caminko é “verificar como apalavra [mente] é usada e o que as pes- soas parecem dizer quando a empregan” (p.23). Em resumo, ele entende que o caminho para compreender a mente é analisar os usas que as pessoas fazem tanto da palavra mente, quanto de outros termos com os quais se refe- rem a fendmenos mentais Quanto 4 mente, um primeiro uso refe- re-se a ela como se fosse “um lugar ou um espa- 0” no qual os fend: © 05 processos mentais acontecem, por exem- plo, quando alguém diz que algo esta na sua menos mentais se localizam Questées Referentes & Causalidade e Eventos Privados no Behaviorismo Radical mente, Supde-s 0s processos mentais ocorram no interior de se que o espago mental e com ele cada pessoa, sendo, em parte, observados in- ‘rospectivamente (por exemplo, sentimentos ¢ idéias) e, em parte, inferidos (processos cogniti- vos de transformagio da informagiio, mecanis- mos psiquicos inconscientes). Outro uso, refere-se uma “disposigéio para agit”, por exemplo, ao se dizer: com voce.” vu tinha em mente falar Um terceiro uso refere-se a mente como executora, semelhante a “um érgio” ou uma pessoa, por exemplo, quando as pessoas dizem fazer coisas com a mente. Diz-se “use sua men- te” quase como um sinénimo de “use sua cabega ou cérebro”. Para o enfoque cognitivo, ela é executora dos processos cognitivos: ela perce- be, organiza e processa a informagao. Pat foque psicanalitico, a mente faz aquilo que a personalidade ou o aparelho psiquico fazem. aoen- Analisando, ainda, os usos de termos mentalistas, Skinner (1974) insiste no fato das abordagens cognitivas e psicanaliticas promo- verem uma “interiorizaga0” de processos com- portamentais que ocorrem em um mundo externo, deslocando-os para um mundo interno. Eventos cognitivos como intengdo, pensamen- to, expectativa, por exemplo, se analisados comportamentalmente, sem interiorizé-los, po- dem indiear relagdes comportamentais nas quais determinadas contingéncias operantes, pablicas, atuaram e aumentaram a probabilida- de de certas formas de agao. ‘A abordagem psicanalitica, por sua vez, promove a interiorizaco ao preconizar um “id” parecem descrever a forga de reforgadores biolégicos, selecionados com seus impulsos q em contingéncias ambientais de sobrevi enquanto 0 funcionamento do “superego”, um agente censurador, parece descrever processos semelhantes aos que ocorrem nas contingéncias sociais punitivas. ll Em uma longa anilise, Skinner (1974, 1989a) procura descrever como todos os usos que se referem & “mente”, seja na sua forma mais intelectual (cognitiva), seja na sua forma mais motivacional ou emocional (psique), po- dem ser atribuidos 4 “pessoa”, pela simples substituigéo da primeira palavra pela segunda, Assim, tudo 0 que a mente faz poderia ser subs- titufdo pelo que a pessoa faz, ¢ 0 que a pessoa faz. éaquilo que um organismo faz apés adquirir um repertério comportamental em decorrénci de uma histéria particular de continggncias ontogensticas e culturais, Portanto, sendo 0 que a pessoa faz, a mente seria, em outras palavras, comportamento. No entanto, lembra Skinner (1954/1972, 1974, 1977, 1989a), no mentalismo, comporta- ‘mentos so explicados por inimeros eventos ‘mentai , entre eles, sentimentos, expectativas, desejos, os quais se situam no interior de cada pessoa e, sendo assim, cada um deveria buscar dentro de si mesmo as explicagbes para o sew comportamento. Skinner (1974) inicia sua critica ao papel causal dos eventos mentais questionando a “sua localizagao e natureza”. Ele levanta duas ques- tes: “Onde estdo os sentimentos ¢ os estados mentais? De que eles so feitos?” (p. 10). Ba resposta tradicional é a de que esto na mente, um mundo sem dimensGes fisicas e no obser- vavel publicamente. Entao, ele formula dois ti- pos de perguntas: 0 primeiro tipo & sobre o acesso & mente, questionando o que realmente se vé pela introspecedo; 0 segundo tipo refe- re-se a natureza nto fisica da mente e suas rela- Ges com o mundo fisico. Ele pergunta: “como un evento mental pode causar ou ser causado por un evento fisico?” (1974, p. 10). Como a mente poderia, por exemplo, agit sobre 0 corpo para fazé-lo comportar-se? Como parte das respostas a essas ques- toes, Skinner (1974) introduz uma de suas teses Maura Alves Nunes Gongora e José Antonio Damasio Abib fundamentais na anélise de eventos ptivados: aquilo que se observa via introspecgaio no so eventos mentais de natureza no fisica, mas o proprio corpo do observador, estados ou condi- ees corporais 01 do. Trata-se de eventos privados, porque acessiveis apenas & propria pessoa, mas ele en- fatiza a natureza corporal (¢ portanto fisica) desses eventos, passando a denomind-los como © “mundo sob a pele” (p. 21). Continuando, ele levanta questdes de or- dem metodoligi apenas por introspecgao ou inferéncia, amesma poderia até permitir a predigao de comporta- mentos mas nao o seu controle. Seria possivel ainda, o corpo se comportan- ca. Sendo a mente acessivel prever a ocorténcia de certos comportamentos que tendem a acompanhar determinados senti- mentose estados da mente, mas, na impossibili- dade de intervir diretamente sobre estes & alteri-los (investigando-os como variveis in- dependentes), no haveré como promover os comportamentos de interesse (possiveis varié- veis dependentes). Uma ciéncia desse tipo ser- viria apenas para a contemplagio e nao seria aplicével na solugéo de problemas humanos, tum sétio obsticulo para a concepeio pragmé- tica de ciéncia amplamente defendida por Skinner (1953/1998, 1957, 1974). Ele argu- ‘menta, ainda, que explicagdes mentalistas nao favorecem as pesquisas porque as pessoas entendem que o comportamento jé esta explica- do e param de fazer perguntas. “Explicagées ‘mentalistas acalman a curiosidade ¢ levam & paralisagdo da pesquisa” (1974, p.14). Quando aquilo que uma pessoa faz é atribuido a algo que Ihe ocorre no intimo, cessa a investigagto Considerando-se que a alternativa bbehaviorista radical ao mentalismo consiste em compreender a mente analisando-se os usos de termos mentais, procura-se, nas duas proximas segdes, descrever dois procedimentos com os quais, segundo Skinner (1945/1984, 1957, 12 1974), pode-se analisar, um a um, 0s usos desses termos com base em conceitos compor- tamentais. O primeiro procedimento consiste em trazer fendmenos mentais para 0 dominio piiblico. O segundo, em analisar 0 acesso aos eventos privados e a aquisigao de autoconheci- mento. Anélise comportamental de fendmenos mentais Skinner (1945/1984, 1974), empe- nhou-se em compreender a mente conforme seu modelo operante de aniilise do comportamento, fazendo intimeras andlises ov is terpretagdes de eventos mentais, em termos comportamentais. Uma delas sera relatada como ilustrago, para demonstrat como o autor traza andilise da mente para o dominio piblico. Anilise comportamental da vontade - Muitos comportamentos sto explicados por um ato de yontade; por exemplo, diz-se que a pes soa agiu de determinada forma porque quis, porque sentiu ou teve vontade. Nesse caso, su pdesse que a vontade produz comportamento, Em uma andlise comportamental, uma explica- gio desse tipo levanta o problema do determi nismo. Com efeito, esses atos parecem espontineos, parece que a vontade surge do nada; € mais, tal explicagZo sugere que uma vontade- umevento mental sem dimens6es fisi- cas - possa produzir conseqiténcias fisicas, o or- ganismo se comportando, No entendimento de Skinner (1974), se 0 leigo formula explicagdes desse tipo, elas de- vem ter certa utilidade no seu cotidiano. O leigo ‘do precisa levantar as questées te6ricas acima, Mas no caso de uma andlise cientifica, Skinner sugere um rastreamento de enunciados leigos ¢ uma busca da compreensdo de seus determinan- tes ambientais. Para exemplificar, enquanto o eigo se contenta com uma explicagio do tipo Questes Referentes & Causalidade Eventos Privados no Behaviorismo Radical “ele foi candidato novamente devido a sua von- tade de pode: tar, rastreando 0 enunciado, “qual a origem da *,ocientista continuaria a pergun- vontade de poder?” No behaviorismo radical a resposta é procurada nas contingéncias ambien. ia da vontade, Sobre a explicagio baseada em ato de vontade, Skinner (1974) afirma: tais anteriores a ocorrén © comportamento é satisfatoriamente explicadona medida em que nao tivermos ne- cessidade de explicar 0 ato de vontade. Mas as condigdes que determinam a forma de pro- babilidade de um operante esto na histéria da pessoa. Uma vez que nao .estéo ostensiva- mente representadas no ambiente atual, so facilmente negligenciadas. (p. 53). No exemplo, tudo indica que a determi- nagéio do comportamento atual - candidatar-se para um cargo de poder situa-se em uma hist6- ria de contingéneias operantes na qual compor- tamentos relativos ao exercicio do poder foram reforgados. Ganhos econdmicos ou o préprio governar outras pessoas podem ter sido os re- forgadores: a explicagio esta em uma histéria de condicionamento operante a qual pode ser, em grande parte, observada publicamente. Por outro lado, na comunicagio entre as pessoas comuns, a simples explicagio de uma classe de comportamento como um ato de von- tade tem sua utilidade nas interacdes sociais: ela dé pistas para os demais quanto a probabilidade daquela classe de comportamento vir a ocorrer no futuro. Se a pessoa quer ou tem vontade, a probabilidade deve seralta e poder aferiristo da certa previsibilidade ao comportamento. Do ponto de vista cientifico defendido pelo behaviorismo radical, alguém dizer que tem ou possui “vontade” nao implica que guar- de dentro desi um evento mental ou algo causa- dor de comportamento, implica apenas a constatag&o de que o comportamento em ques {0 possui probabilidade alta de ocorrer em cer tas condiges apropriadas. Mas indica ainda 1B mais: que 0 corpo da pessoa, ao entrar em conta- to com as contingéncias operantes anteriores, responsiiveis por tomar os seus comportamen- tos mais provaveis, responde a essas contingén- cias; ea pessoa sente 0s seus efeitos, percebe de imediato as alteragées corporais relacionadas coma probabilidade de se comportar eentio diz “ter vontade”, provavelmente, sob 0 controle esses efeitos. Ao dizer que tem vontade a pes- soa descreve um fato que ocorre com o seu cor- po, € nfo um fato mental. Entretanto, esse sentimento, um evento privado, nfo explica a ago, um evento piblico; sentir ou ter vontade de poder nao explica as agdes para se chegar 20 poder, no caso, candidatar-se. Ambos tiveram origem nas mesmas contingéncias vigorosas de reforgamento positive. E neste sentido que Skinner (1953/1998, 1974) situa “o inicio da ago causal” no ambiente. Sobre aandlise comportamental dos usos de termos que se referem 4 mente, Skinner (1989a) observa que sentimentos e estados mentais tendem a ser tomados como causas de comportamentos piblicos por ocorrerem ou se iniciarem imediatamente antes deles. Mas esse um modo mecanicista de se interpretar 0 com- portamento. A definiggo de comportamento operante, sendo funcional (relacional) e his ca, niio pressupde que as causas antecedentes devam ser imediatas. Com 0 modelo operante, muda-se completamente a dirego na qual se buseam as exp possibilitando, desse modo, 0 procedimento acima de rastrear as contingéncias ambientais piiblicas, principalmente as passadas. Ao trazer a andlise dos fenémenos men- tais para o dominio piblico, Skinner (1954/1972, 1974, 1977) faz. um rearranjo do que ele denominou “seqiiéncia ou cadeia cau- sal”. Ele descreve a seqiiéncia causal nas expli- cages psicanaliticas e cognitivistas desta forma: 0 primeiro elo, “o ambiente”, conta -agdes para o comportamento, Maura Alves Nunes Gongora e José Antnio Damasio Abb apenas na forma de experiéncia; ele ¢ internali- zado pela pessoa e, enquanto experiéncia inter- na, participa na composigaio do segundo elo: entidades mentais como aparelho ps{quico, um sistema de crengas ou esquemas cognitives; esses, por sua vez, determinam os comporta mentos piblicos. Nessa seqiiéncia, embora haja referéncias a0 ambiente, o elo realmente causal nao € 0 primeiro, o ambiente, mas 0 segundo, a mente, a qual explica o terceiro elo, o comporta- mento pilico. Nesse modelo, o interesse cen- tra-se na mente, sendo que o comportamento s6 6 de interesse enquanto sua manifestagiio ou sintomia. Observe-se que, na seqiiéncia acima, ha elementos fisicos e nao fisicos em relagio de causalidade. No behaviorismo radical, a alteragio da ordem e do papel de cada elo da cadeia causal fica assim: 0 ambiente assume o papel iniciador da causalidade; seleci e gera comportamen to; os fendmenos mentais perdem sta condigao causal, enquanto os eventos privados se tornam objeto de explicacao tanto quanto os comporta- ‘mentos piblicos. Em um exemplo, ao abordar o pensamento, Skinner (1974) afirma: “ele fo pensamento] néo explica 0 comportamento ma- nifesto: é simplesmente mais comportanento a ser explicado” (p. 104). Observa-se, ainda, nes- sa acepg%io que os comportamentos puiblicos também mudam de estatuto na medida em que deixam de ser de interesse por representarem manifestagdes mentais e passam a ser de inte- esse por si mesmos. O objeto de estudo da Psi- cologia deixa de ser a mente para ser 0 comportamento. Com a possibilidade de anali ar fendme- ‘nos mentais com base em fen6menos comporta- mentais, sob o controle de variiveis ambientais piiblicas, resta muito menos para ser analisado no dominio privado. O conceito tradicional de mente, entendida como geradora de comporta- ‘mentos, fica esvaziado. Permanecem, de todo 14 modo, questdes importantes eni relaglio a even tos privados, motivo pelo qual esse dominio também precisa ser analisado, ¢ isto é feito, na- turalmente, na perspectiva do modelo operante. O acesso a eventos privados e a natureza do autoconhecimento Para melhor desenvolver o tema desta se- dio, o uso dos termos piiblico e privado e de in- terno e externa precisa ser esclarecido. Eventos qualificados como privados so aqueles acessi- veis apenas ao proprio sujeito, principalmente aquilo que se observa pela introspecefio. Esse & 0 finico meio para se estabelecer contato com os eventos sensoriais, situados dentro do priprio corpo. Os trés sistemas nervosos, propriocepti- Yo, interoceptivo e, parcialmente, o exterocepti- vo, medeiam esse contato. Cabe notar que outros eventos, acessiveis pela observagaio dire: ta, mas disponiveis para um tinico observador, também sio considerados privados, por exem- plo, determinados locais ou informagées parti- culares. Eventos piblicos, ao contririo, sio aqueles passiveis de acesso soa. Neste caso, os eventos corporais acessiveis as observagies e pesquisas fisiolégicas, embora ocorram dentro do corpo, sto piiblicos por se- rem acessiveis a mais de uma pessoa. Certa- mente, eventos privados passiveis de observasao direta podem vir a se tornar pibl cos muito mais facilmente que aqueles acessi- veis apenas via introspecgdo. Nas anilises skinnerianas dos eventos privados sto tratados apenas esses tiltimos (os introspeccionados), motivo pelo qual Skinner (1974) afirma ter “restaurado” a introspecedo, a mais de uma pes- Mais complicados sio os varios usos de interno ¢ externo, 0s quais podem ser encontra- dos nas criticas de Skinner (1953/1998, 1954/1972, 1974/1977) as varias versdes do mentalismo. Interno pode se referir tanto aquilo Questées Referentes & Causalidade ¢ Eventos Privados no Behaviorismo Radical que 6 sentido quando nos referimos a sensagbes, sentimentos ¢ outros estados corporais diveta- mente introspeccionados, quanto a eventos mentais hipotéticos, inferidos e, portanto, nfo introspeccionaveis, tais como personalidade, crengas, entre outros. As vezes, interno pode também ser usado como sindnimo de privado, de subjetivo, ou, ainda, de nfo observavel dire- tamente. Extemo, em g “esti fora”, seja do corpo ou da mente e, ainda, pode ser sindnimo de piblico, de objetivo, de diretamente observavel ¢ de natureza fisica, Skinner (1974) demonstrou como as teorias mentalistas levaram para o dominio interno al, refere-se iquilo que quase tudo o que era relevante para explicar 0 comportamento. © aparetho psiquico parece, diz.ele, uma metifora das contingéncias ambi- entais, Essa interiorizagao dos processos psico- logicos resultou em mais um tipo de uso, passou-se a atribuir maior valor a tudo o que & interno e a se depreciar o que é externo. Com tantos usos, os termos intemo e extemo perde- ram muita de sua preciso para o emprego cien- tifico e tém causado confusdes, particularmente na compreensao da andlise behaviorista radical dos eventos privados. Comparativamente, os termos piiblico e privado parecem bem mais es- pecificos e precisos. Aponta-se aqui a adequagio do uso de piblico e privado, nfo apena preciso de linguagem, mas, principalmente, para se evitar o dualismo implicito nos usos, pelos mentalistas, de interno e externo, uma questo que ainda sera retomada nas segdes finais. No behaviorismo radical, como afirma Skinner (1974), eventos puiblicos e privados sio da mesma natureza, o que permite que entrem s para se garantir em relago funcional. A tnica diferenga entre ambos, insiste 0 autor, é a acessibilidade: 0 fato dos eventos privados serem observaveis direta- ‘mente apenas para o préprio sujeito, Mas este é um problema apenas para o cientista que tem de 15 haver-se com a confiabilidade de suas observa- ges, Trata-se, assim, de um problema de ordem epistemolégica e nao ontolégica, Em outras pa- lavras, o problema ¢ de ordem epistemoldgica porque se refere ao examte das possibilidades de se investigar indiretamente eventos privados; ¢ no € de ordem ontolégica porque no se refere a modalidades diferentes de existéncia, uma ex- terma (objetiva) ¢ outra interna (subjetiva). Con- cluindo, é um equivoco supor que, no behaviorismo radical, os usos de piblico e pri- vado sejam equivalentes a interno ¢ externo, ou que se refiram a categorias de eventos ontologi- camente dicotémicos. Para Skinner (1945/1984, 1957, 1974), compreender como se da 0 conhecimento do mundo privado é sempre problematico, quer se trate do autoconhecimento ou do conhecimento do mundo privado do outro. O problema esta na postibilidade de acessar esses eventos, a qual s6 pode ser inferencial. Em decorréncia, o método experimental, defendido por ele como o mais apropriado para demonstrat relagdes funcionais naandlise do comportamento, mostra-se limita do para demonstrar relagdes funcionais envol- vendo eventos privados. Mas ele insiste na busca da superacdo desse problema e parece ter indieado um caminho com © desenvolvimento de sua interpretago do comportamento verbal, a qual se fundamenta em sua concepeao operan- te para o comportamento em geral. Com base a concepgao, Skinner (1945/1984, 1953/1998, 1957) descreve alguns procedimen- nes: tos pelos quais a comunidade verbal contorna, ainda que limitadamente, 0 problema do acesso 0s eventos privados e, também, do autoconhe- cimento, Skinner (1953/1998, 1957) entende que, som 2 participagio de um grupo social que fale uma mesma lingua e compartilhe alguma cultu- ra comum, ao qual efe denominou comunidade verbal, ndo é possivel conhecer 0 mundo Maura Alves Nunes Gongora € José Ant6nio Damasio Abib privado. Isto porque ele pressupde que, de ini- cio, 0 mundo privado de cada um, tal como o ambiente, no é diferenciado. Apenas com a participagdo da comunidade verbal é possivel a cada individuo aprender, desde crianga, a ir fa- zendo discriminagdes a respeito de eventos de seu mundo privado. Um de seus relatos ilustra essa posigao: © ambiente, seja piblica ou privado, parece permanecer indistinto até que ‘organismo seja forgado a fazer uma distin- {¢80 (....0 comportamento discriminative es- pera pelas contingéncias que forcam as discriminagées (..) € se uma discriminagao no pode ser forgada pela comunidade, pode néo aparecer nunca, (..) & a comuni- dade que ensina o individuo a “se conhe- cor’. (1953/1998, p. 284). Em sua interpretagiio operante dos com- portamentos verbais, Skinner (1957) propde di- vidi-los de acordo com o tipo de varidvel que os controla, O resultado so cinco portament. etato. O tipo de interesse para explicar 0 acesso cdico, textual, intraverbal, mando aos eventos privados é 0 “tato”, por isso seré 0 Ainico aqui abordado. Skinner (1957) denominow tatos aqueles comportam 10s verbais que descrevem, ou que estdo sob 0 controle de objetos ¢ aconteci- mentos domeio fisico, por exemplo: “isto¢ uma flor” ou “esté chovendo”. A comunidade ver- bal, em geral, modela tatos estando ambos, fa- lante € ouvinte (0 aprendiz), na presenga do evento a ser descrito, No exemplo, o aprendiz pode ser solicitado a repetir ow a emitir a “pala- vra flor” na presenga do “objeto flor” e, sempre que o fizer, nessas circunsténcias, seré reforga- do de maneira generalizada, pela comunidade verbal. Dessa forma, 0 objeto flor, ou algumas de suas propriedades, passa.a controlar respos- ta verbal flor; 0 aprendiz agora compartilha ‘mais um tato com sua comunidade verbal, Essa € 2 maneira pela qual cada membro de uma co- 16 munidade verbal aprende toclo o repertério ope- rante discriminativo utilizado para descrever 0 mundo, Trata-se de um processo de desenvolvi- mento de controle de estimulos ou de discrimi- nagdes, 0 qual ¢ estabelecido conforme as priticas reforgadoras de cada comunidade ver- bal particular. Quanto maiora quantidade e refi- namento dos tatos que uma comunidade ensina, maiores as possibilidades de contato que seus membros poderfo estabelecer com © mundo; uma possibilidade que ainda & ampliada por processos de generalizagio. Além disso, consi- derando-se que no behaviorismo radical 0 co- ahecimento depende da habilidade para descrever, quanto maior o repertério de tatos, maior a possibilidade de se adqui mento. Skinner (1945/1984, 1957) supée, ainda, que 0 aprendizado dos tatos, os quais descre- ir conheci vem os eventos piiblicos, é também um cami- rho para a descrigio das eventos privados. No entanto, para ensinar a descrever eventos priva- dos, a comunidade precisa contornar um pro- blema: a impossibilidade do 1 comunidade (agente reforgador) ter acesso 20s estimulos que, finalmente, controlario a descr ¢f0. A possibilidade de acesso & uma condigio resentante da soba qual, em geral, se fazem as corregSes apro- priadas quando o processo de modelagem se re- fere a eventos piiblicos. Mas no caso de eventos privados, a comunidade precisa ensinar a des- crever ow a nomear algo que ela mesma nao be, com clareza, do que se trat De que forma, entdo, a comunidade ver- bal poderia arranjar as contingéncias de reforca- odelag mento apropriadas para a me manutengiio de um repertério verbal descritivo de estimulos privados? Como, por exemplo, re- forgar apropriadamente uma resposta verbal como “dor de dente”, se o agente reforgador néo tem contato com os estimulos privados que con- trolam a resposta privada de sentir dor? O pro- Questées Referentes A Causalidade e Eventos Privados no Behaviorismo Radical blema so pode ser contornado porque, na verdade, para arranjar as contingéncias neces- sérias & modelagem de um repertério de termos subjetivos, os estimulos privados que contro- m respostas privadas nao precisam estar dis- poniveis para o contato direto com a comunidade verbal. Isto pode ser constatado nos quatro principais procedimentos abaixo, através dos quais, em getal, a comunidade ver~ bal ensina termos psicolégicos (Skinner, 1945/1984, 1957). Em um primeiro procedimento, para con- tomar o problema do acesso a privacidade, 0 agente reforcador se baseia em acompanhantes piblicos (estimulos) que ocorem, com sufi- ciente regularidade, associados Aquela condi- Go ou Aquele estimulo privado que se deseja descrever. Por exemplo, no caso de alguém sen- tiruma dor e também apresentar um hematoma, a base para se reforgar, diferencialmente, a res- posta verbal “sinto dor” é 0 sew acompanhante (estimulo pablico), o hematoma. O reforgo so- cial écontingente a presenga do hematoma, mas a descrig&io “sinto dor” fica sob 0 controle dos estimulos privados. Em procedimento semelhante, ainda para ensinar descrigdes de eventos privados, a comunidade se baseia em respostas colaterais piiblicas, apresentadas regularmente pelo sujei- to quando ocorre determinada condig&o priva- da. Isto & possivel desde que as respostas no sejam condicionadas e nem estejam sob 0 con- trole de conti \éncias ambientais, No caso de “sensaglio de dor”, uma resposta colateral pui- blica, incondicionada, poderia ser o gemido, ott ainda, uma expressio facial de dor. Um terceiro procedimento, bastante co- mum, & 0 uso de metéforas: respostas verbais adquitidas e mantidas em conexo com estimu- los piiblicos passam a ser emitidas, por genera lizago, em relago a eventos privados. A transferéncia nao se baseia na identidade entre 17 os estimulos, mas em alguma propriedade comum a ambos, Por exemplo, nas duas expres- soes “ saudade amarga” a propriedade de alimentos doces ou amargos, identificaveis publicamente, into uma saudade doce” ¢ “sinto- uma auxiliam na discriminay tivos ou negatives. Skinner (1945/1984, 1957) refere-si ainda, a um quarto procedimento de acesso a 10 de sentimentos posi- eventos privados: o autotato. Nesse caso, a co- munidade verbal ensina o individuo a descrever seu proprio comportamento (piblico ou priva- do), bem como seus determinantes. Autotato é0 comportamento verbal que desereve comporta- mentos da propria pessoa. Os comportamentos descritos tornam-se, por sua vez, estimulos dis- criminativos que controlam « ocorréneia dos autotatos. Os procedimentos de ensino da co- munidade, nesse caso, geralmente envolven perguntas sobre o que a pessoa esti fazendo. Ao responder, a resposta verbal do falante fica, em parte, sob 0 controle de auto-estimulagdes, um controle diferente daquele dos estimulos pibli- cos acessiveis para ambos, falante e ouvinte. Os autotatos, quando sob fraco controle de eventos pliblicos (reforgo insuficiente, por exemplo) podem assumir uma intensidade sub-vocal e re- colher-se para uma condi jo privada ou enco- berta. Entretanto, as respostas verbais encobertas podem faciimente retomar ao nivel apropria- piblico sempre que houver condig das de controle ambiental. Em todos os procedimentos, é possivel a ocorréncia de falhas. Todos eles envolvem infe- réncias que o agente da comunidade faz da con- digo publica para a condigéo privada. A. precistio das inferéncias, embora admita algu- ma variagio na ocorréncia de ambas as condi- ges (conexao intermitente), vai depender do grau de correspondéncia entre elas. Se a corres- pondéncia for fraca ou o estimulo privado for ténue, a modelagem pode falhar. O fato ¢ que, Maura Alves Nunes Gongora € José Antonio Damasio Abib devido & sua forma de aquisi¢ao e manutengio, 0 Vocabulario subjetivo ou os termos psicoldgi cos siia pouco precisos. E importante, contudo, verificar que, a0 defender esse conceito de autoconliecimento, Skinner (1945/1984, 1953/1998, 1957) supera, de certa forma, os limites da pura introspeccao. Em sua concepgaio, as propriedades dos estimu- los privados e das respostas privadas sto inferi- das de observagiies de estimulos e respostas plblicas, conforme pode-se constatar 105 procedimentos de acesso a eventos privados acima descritos. Por outro lado, mesmo que limitadas, as solugdes encontradas no behaviorismo radical para o acesso aos eventos privados esto longe das solugdes do introspeccionismo ¢ do behaviorismo metodolégico. No primeiro caso, supor que, devido & propria intimidade com seu ‘mundo privado, cada individuo ja seria, natural- ‘mente, o seu grande conhecedor e que nio seria complicado para cada um descrevé-lo; ¢, no se- gundo caso, reconhecendo as dificuldades epis- temolégicas, esquivar-se € nao abordar 0 assunto. O desenvolvimento da deserigo de eventos privados, semelhante ao de tatos, ocor- re conforme as diferentes priticas de cada comunidade verbal. Como as priticas de cada comunidade variam, também variam o tipo e a quantidade de autoconhecimento possivel a cada um de seus membros. E somente através do crescimento gradual de uma comunidade verbal que oin- dividuo se torna *consciente". Ele acaba por se ver apenas como os outros 0 veer ou, pelo menos, apenas como os outros insis- tem que ele se veja. (Skinner, 1957, p. 140). Pode-se perguntar porque uma comuni- dade verbal se empenharia tanto em ensinar seus membros a descrever eventos privados, se © autoconhecimento resultante é tio limitado? 18 Skinner (1945/1984) entende que, mesmo limi- tado, “ser consciente” ou autoconhecer-se é itil tanto para o individuo quanto para a comunida- de verbal. E somente porque o comportamento do individuo @ importante para a sociedade que a sociedade, em decorréncia, toma-o importants para 0 individuo. Alguém s6 se toma consciante do que faz depois que a so- ciedade reforgou respostas verbais ao seu proprio comportamento enquanto estimulo discriminative. (Skinner, 1945/1984, p. 551). Para acomunidade verbal o autoconheci- mento é importante porque ela pode, a partir das descrigies de eventos privados, inferir antece- dentes do comportamento atual e, ainda, prever aprobabilidade de certos comportamentos fut- ros. Por outro lado, o autoconhecimento, em co- nexio com 0 conhecimento do ambiente, pode ser um caminho para o autocontrole, uma vez que facilita, a cada individuo, alterar varidveis ambientais que controlam seu propria compor- tamento, “Uma pessoa que se ‘tormou conscien- te de si mesma’ (...) esté em melhor posigéo de prever e controlar seu préprio comportamen- to” (Skinner, 1974, p. 31). Por isso, embora as desctigses de eventos privados, comparativa- mente as de eventos piiblicos, apresentem-se pouco precisas, a sua utilidade para ambos, a comunidade verbal eo individuo, ainda les ga- rante um grau suficiente de preciso. Outra afirmagdo de Skinner (19896) de- ‘monstra que sua preacupagao com o autoconhe- cimento vai além das questies referentes a0 acesso: Mas eu discordava da distingSo que Watson fazia de objetivo e subjetivo. Nao se tratava, pensoeu, de uma diferenga na natu- raza, caréter ou qualidade dos dados, ou mesmo de sua acessibilidade, Era uma dife- renga na maneira pela qual o comportamen- to verbal poderia ser calocado sob o controle dos eventos internos. O que era sentido ou introspeccionado nao era um sentimento ou Questées Referentes & Causalidade ¢ Eventos Privados no Behaviorismo Radical um pensamento mas um estado do proprio ‘corpo; sendo que a pessoa falatia sobre isso apenas sob certas contingéncias verbais de reforgamento. (p. 132). O problema, entao, acesso, conforme o proprio Skinner (1945/1984, 1953/1998, 1957) afirmou muitas \vezes, ou nao era “apenas” isto. O autoconheci- lo era exatamente 0 mento nao envolve descobrir um modo de bus- car algo que jé se encontra 14, em algum ponto inacessivel; a comunidade no arranja as con- tingéncias verbais apenas para “buscar”, mas para “ensinar 0 que buscar”. Em outras pala vras, as contingéncias sociais “jeito” paraa pessoa encontrar dentro de si mes- ma, por exemplo, uma saudade e entio passara falar dela. Nesse caso especifico, a comunidade ensina que, sob certas condigdes, quando se esta longe de lugares e de pessoas familiares, deter- minadas estimulagdes corporais sentidas de- ensinam um vem ser nomeadas ou deseritas como saudade. Isto equivale a dizer que, de certo modo, a co- munidade constr6i o autoconhecimento. Esse parece ser também, o sentido atribuido por Skinner (1945/1984, 1974) as suas afirmagSes de que toda forma de conhecimento (e aqui se inclui também o conhecimento cientifico) é um produto social. Resumindo, Skinner (1945/1984, 1957, 1969, 1974) afirma que toda forma de eonheci- mento, incluindo-se, portanto, 0 autoconhes mento, é de natureza social ¢ possivel de ser Viabilizado somente enquanto comportamento verbal descritive. Uma parte do autoconheci- mento é adquirida como descrigtio de eventos privados (considerando-se que a outra parte re- fere-se & descrigfo de eventos piblicos). Em se tratando de comportamento verbal, 0 autoco- ‘nhecimento & sempre socialmente mediado ou construido por uma comunidade verbal. E, nessa acepsdo, a consciéncia é essencialmente verbal 19 Sobre oestatuto causal dos eventos privados Com relagiio & questéo de os eventos pri- vados serem ou néio causas de comportamento, so examinados brevemente aqui, aspectos do fisicalismo [Skinner (1953/1998, 1974) adota 0 fisicalismo tanto em uma concepedo epistemo- Igica quanto ontoldgica, um tema complexo e polémico, que merece ume andlise minuciosa, mas que extrapolaria os objetivos desse texto] & do pragmatismo ou contextualismo que so re~ levantes para compreender behaviorismo ra~ dical em seu distanciamento com respeito 20 dualismo e ao mecanicismo. ‘Uma das principais questdes levantadas por Skinner (1974) em reiag#o ao mentalismo refere-se a natureza nao fisica dos eventos men- tais, 0 que os impossibilitaria, logicamente, de causar comportamento, ou de levar um organis- comportar. © behaviorismo radical pressupde que comportar- mo as ¢ implica, necessari amente, um organismo fisico interagindo com estimulos ou ambientes fisicos. Isto deve carac- terizar qualquer tipo de relagiio comportamen- i, naturalmente, as que envolyem eventos privados. “Uma ciéncia do comporta- mento deve considerar 0 lugar dos estimulos privados como coisas fisicas e, ao fazé-lo, pro- tal inch porciona uma descrigdo alternativa da vida mental” (Skinner, 1974, p. 211). Em decorrén- cia de sua concepeio fisicalista, para dar conta de uma explicagdo altemativa da vida mental que abordasse eventos privados, ele passa a de- dicar especial atengo ao papel do corpo na Anélise do Comportamento. Em suas proprias palavras: “Estamos apenas comegando a cons- truir una ciéncia necessdria & andlise das com- plexas interagBes que se dao entre o ambiente ¢ ‘ocorpo ¢ aandlise do comportamento ao qual o corpo dé origem” (1989a, p. 25). Os estimulos privados, entendidos como condigies corparais, nfo esto impedidos, 20 Maura Alves Nunes Gongora ¢ José AntOnio Damisio Abib ‘menos logicamente, de entrar no controle do comportamento. No modelo operante, eles o fa- zem, entretanto, apenas como elos de cadeias comportamentai Contextualismo. Comportamento e Co- nhecimento - Contextualismo é outro nome para pragmatism (Pepper, 1942/1970; Moris, 1988) e, segundo Morris, constitui um dos mais importantes temas na epistemologia do behaviorismo radical. Diz-se que 0 projeto skinneriano de ciéneia & pragmético porque, além da predigio, visa também, entre outras coisas, 0 controle do comportamento. Contro- lar, nesse caso, refere-se apenas 4 possibilidade de intervir de maneira a alterar a ocorréncia do comportamento. Em Andlise do Comportamento, entende-se que de nada adiantaria, por exemplo, prever'a ocorrén- cia de comportamentos perigosos ou daqueles o fosse possivel nem eiros e nem promoyer os tiltimos. a visio pragmatica da de interesse social, se evitar os pri Mas isso seria possivel adotando-se 0 modelo funcional de andlise, através do qual o compor- tamento, considerado varidvel dependente, po- deria ser modificado como resultado de certas manipulagdes nas varidveis independentes. Entretanto, s6 é possivel a manipulagio de va- rlaveis se for vivel o acesso diretoa elas. Para a intervenga acessiveis so as ambientais, de dominio pili co. Foi, portanto, a necessidade de “intervir” que levou o behaviorismo radical a, sistemati- camente, rastrear as explicagdes para o compor- tamento, até alcangar as varidveis ambientais jo comportamental, as variiveis mais piblicas; ou as “causa iniciais” do comporta- mento (Skinner, 1974, 1990). A nogio de “causas iniciais” é, reconhe- cidamente, problematica no contextualismo, uma vez que este sugere relagdes ndo lineares entre eventos. Contudo, essa nogiio ainda pare- ce itil ao behaviorismo radical e aos objetivos deste texto: permite destacar o quanto se procu- ra, nesse modelo, trazer a andlise do comportamento para 0 dominio piblico. Continuando, conforme ja abordado an- teriormente, o pragmatismo skinneriano admite que as predigdes derivadas de estimulos priva- dos, podem ser suficientemente fiteis para o lei- go. Entretanto, 0 conhecimento do mundo privado do outro nao permite ao cientista, além de prever, intervir no sentido de alterar o seu(do outro) comportamento, Essa é a razo pela qual, Skinner (1977) defende que o cientista nao se li- mite as explicagdes do leigo, como fazem os mentalistas, mas procure, na cadeia causal, as vatiiveis ambientais acessiveis ¢ relevantes & intervengio. & preciso admitir, porém, que ao fazer predigdes, os mentalistas apontam rela- Ses entre eventos e esse jd é um modo de se fa- zer ciéncia; apenas niio é 0 modo do \e0es devem per- tar alguma forma de alterag0 ow controle cla comportamento. Outra face do pragmatismo refere-se & sua incompatibilidade com o realismo. Apesar de defender uma metodologia cientifica rigo- pragmatista. Para esse, expli mitir ou fac rosa e procurar por dados precisos, a meta do behaviorista radical nao é aproximar-se da ver- dade em seu sentido absoluto; mas é, tio somen- te, ser mais eficaz na verificagio de regularidades entre os eventos que favorecam o controle do comportamento: O conhecimento cientifico é compor- tamento verbal, (...). E um corpo de regras paraa aco eficaz, ¢ ha um sentido especial em que poderia ser "verdadeiro” se produzir a agdo mais eficaz possivel, Mas as regras ‘nunca s40 as contingéncias que descrevem; permanecem sendo descrig6es e sofrem as limitages inerentes ao comportamento ver- bal. (...) uma proposigéio & "verdadeira’ na medida em que ajuda o ouvinte a responder efetivamente @ situagao que descreve. (Skinner, 1974, p. 235) ‘Questées Referentes & Causalidade e Eventos Privados no Behaviorismo Radical A citagio acima remete, ainda, a outro desdobramento importante do pragmatism ‘a natureza verbal e contextual do conhecimento”, imbora trate do conhecimento cientifico, ela se aplica também ao conhecimento em geral. Pri- meiro, para 0 behaviorismo radical, conhecer implica descrever e, sendo assim, 0 conheci- mento é necessariamente mediado por compor- tamento verbal. Isso inelui todas as formas de conhecimento, desde o autoconhecimento até 0 conhecimento do mundo piblico, popular ow cientifico. Para a compreensto apropriada da natu- reza contextual do conhecimento seria: interes- sante conhecer a concepso de Skinner (1957) relativa a0 comportamento verbal descritive (ato) sua critica A teoria da referéncia, Em Abib (1994) encontra-se uma ampla elucidagao dessacritica skinneriana, Para nossos objetivos, entretanto, parece suficiente retomar a nolo ja referida com 0 ex de “saudade”, Nele, procura-se demonstear que a.comunidade verbal ensina nfo somente a dis nplo sobre a discriminagao criminagio de estimulos, mas também o que discriminar e, neste sentido, o conhecimento € por ela construido e limitado. ‘As praticas de cada comunidade verbal modelam o conhecimento que se mostra iitil aos seus membros e nd os “mais verdadeiros”. No caso especifico do conhecimento ci comunidade verbal cientifica ensina regras para agi eficaz. Ao considerar, entio, que todo co- nhecimento, incluindo-se o autoconhecimento, 6 produto de priticas sociais de uma mesma co- munidade verbal - sendo, portanto, construido nessas comunidades - torna-se dispensavel 0 jogo de linguagem envolvendo os termos exter= nalisma ¢ intemalisma. Ou seja, no contextua- lismo pode-se pensar que todo conhecimento tem origem na comunidade verbal, e origem pit- blica, porque é modelado por praticas piblicas dessa comunidade, Além disso, do ponto de vis- ta contextualista, supde-se que sendo construi- do, todo conhecimento (descrigdes do mundo) implica em algum grau de observagto indireta ou inferéncia, apenas com a diferenga de que no conhecimento do mundo piiblico, o grau de ob- servagiio indireta (inferéncia) é menor do que no autoconhecimento. Dessa perspectiva, a concepgao contextualista tende a esvaziar as di- cotomias, seja entre conhecimento objetivo ou subjetivo, seja entre mundo interno ou mundo externo. O que se verifica no pragmatismo ou contextualismo € um rompimento com qual- quer forma de dualismo. Causalidade, Mecanicismo e Model Relacional de Andlise do Comportamenta - No ‘mentalismo ha dois mundos diferentes se rela- cionando, de modo linear, sempre na diregao do interno para o externo, Eventos internos causais ocorrem imediatamente antes dos comporta- mentos explicados. Esse é um modo dualista e mecanicista de se compreender a cigncia. O behaviorisrio radical nao pressupde dois mun- dos diferentes em sua natureza: Nao temos necessidade de supor que os eventos que ocorrem sob a pele de um or- ganismo tenham, por essa razéo, proprieda- des especiais. Pode-se distinguir um evento privado por sua acessibilidade limitada mas ndo, pelo que sabemos, por qualquer estrutu- ra ou natureza especiais. (Skinner, 1953/1996, p. 281). No behaviorismo radical, atribui-se aos eventos privados a mesma natureza dos eventos piiblieos. Constituidos por conjuntos de estimu- Jos e respostas nfo esto impedidos de, logica- mente, apresentar relagdes funcionais, tanto entre si quanto em conexao com os eventos pi- blicos, e euja particularidade est, unicamente, em nao serem piiblicos como os demais estimu- los e respostas. Mas, como ja foi visto anterior- mente, esta é uma questiio epistemolégica e, portanto, nao se refere 4 natureza dos eventos. Maura Alves Nunes Gongora e José Antonio Damasio Abib Obehaviorismo radical, a0 propor 0 con- ceito de comportamento operante, calcado no modelo de triplice contingéncia, rompeu tam- bém com as relagées estimulo-resposta préprias do mecanicismo. Trata-se de modelo de “intera- ao” entre a pessoa e 0 mundo. Nas relagées operantes o condicionamento se inicia com a ocorréncia da resposta e depois do estimulo re- forgador, sendo o ittimo produzido pela primei- ra, Estimulos disctiminatives, embora antecedam as respostas, s6 adquirem proprieda- des controladoras (discriminativas), na depen déncia de uma histéria particular de reforcamento (antes dessa histéria, sequer po- dem ser chamados de estimulos, menos ainda de estimulos discriminativos, porque, segundo. Skinner (1953/1998), 0 que existe, no principio, € um universo indiferenciado). Portanto, suas fungdes so mutiveis e dinémicas e, além disso, nio so eliciadores de respostas, controlam ape- nas a probabilidade delas ocorrerem. Entre as contingéncias iniciais, passadas, geradoras de uma discriminagao e a ocorréncia de uma res- posta discriminativa atual (sob controle de um estimulo discriminativo presente), 0 intervalo temporal pode variar de horas a décadas. Nas contingéncias operantes, embora os arranjos temporais sejam importantes, nfo implicam re- lagdo de contigilidade estimulo-resposta. Nesse sentido, as “causas iniciais” (contingéncias an- teriores) podem ser remotas. Dai a importancia, no behaviorismo radical, da historia passada. E a origem do comportamento operante pode, ain- da, ser mais remota, se considerarmos as bases filogenéticas que possibilitam os processos dis- criminativos. Uma extensa andlise do behavio- rismo radical enquanto modelo relacional, em oposi¢gio ao mecanicismo, encontra-se em Chiesa (1992) e em Morris (1988), Ao romper com o dualismo e com o me canicismo, adotando o modelo funeional de andlise, um modelo relacional oposto ao meca- nicismo, o behaviorismo radical desvincula-se também de perguntas do tipo “qual é a causa?” Nesse caso, trata-se de perguntar quais relagdes podem ser estabelecicas entre os eventos privs dos ¢ 0s demais. Sobre i skinnerianos merecem ser retomados: alguns comentarios Quando dizemos que o comporta mento é funcao do ambiente, o termo "am- biente’ presumivelmente signifies qualquer evento no universo capaz de afetar o orga- riismo, Mas parte do universo esté encerra- da dentro da propria pele de cada um, Portanto, algumas variaveis independentes podem se relacionar ao comportamento de maneira singular. (..) com respeito a cada individuo (...) uma pequena parte do univer- 80 é privada. (Skinner, 1953/1998, p.281), Esse trecho pode ser lido de dois modes. Primeiro, eventos privados, embora represen- tem uma “pequena” parte do universo, podem funcionar como varidveis independentes ¢ en- trar no controle do comportamento. Esta posi- fo parece inconciliavel com argumentagées de que os eventos privados nao explicam 0 com- portamento uma vez que precisam, eles pré- prios, ser explicados. E preciso, contudo, atentar para um se- gundo tipo de argumentagio skinneriana; ele afirma, consistentemente, que as causas “ini- ciais” do comportamento sao ambientais (en- tenda-se ambientais piblicas). Ora, se as causas iniciais sio varidveis piblicas, parece légico su- porque exist am outras, “ni iniciais” que pode- riam n&o ser piblicas ~ os eventos privados, naturalmente, “as partes iniciais do comportamento [referindo-se Hi, ainda, um terceiro argumento: a comportamento encoberto] afetam as partes seguintes, mas é 0 comportamento como wn todo que é 0 produto de variagdo e selegao" (Skinner, 1990, p. 1208). Nesta afirmagai contra en- se uma nogdo sobre a qual ele costuma a nogio de cadeias causais ou compor- Questées Referentes & Causalidade e Eventos Privados no Behaviorismo Radical tamentais coma qual é possivel compreender os trés argumentos em conjunto. De uma pers- pectiva malar pode-se analisar as cadeias totais, e de uma mais molecular, os elos das cadeias. Ao fazer uma macroandlise das cadeias de relagSes comportamentais, Skinner (1974, 1990) procura demonstrar o que ele denomina a origem do comportamento como um todo. Ele busca, ento, a origem do comportamento, ou das cadeias comportamentais, no ambiente. Isto é feito, em primeiro lugar, como jé destacado, por uma questo pragmtt a necessidade de controle; mas, segundo parece, principalmente devido ao papel do ambiente no modelo de sele- Ho por conseqiléncias. Neste, é 0 ambiente que seleciona e gera comportamento. Sobre isso, Skinner (1974) é enfatico: deve-se rastrear as variaveis do ambiente de dominio piiblico, nao apenas por uma questo de acesso, mas porque é J que as coisas importantes acontecem. Entre os seres humanos, o repertério mais significat vo émodelado pelas praticas soci tuem um ambiente piblico; no ambiente social is que consti- estiio os reforgadores finais que mantém as ca- deias comportamentais. Cabe lembrar que Skinner (1974, 1990) entende o comportamento como atividade con- tinua, como um fluxo. Como nio ha diferenga ontolégica entre o mundo pitblico ¢ privado, as cadeias se estendem ou transitem de um domi- nio ao outro, ou seja, “a pele” nao impede a ocorréncia de relagées funcionais, néo ha dico- tomia entre piblico ¢ privado. Essa visio skinneriana molar, afirma Mortis (1988), tem sido muito pouco analisada ereconhecida, devi- s do aequivocos que tém levado a interpretag mecanicistas e moleculares do behaviorismo 1. No nivel macro ou molar de anilise, por- tanto, as ocorréncias de eventos privados, sejam eles estimulos ou respostas, nada explicam, cles sto explicados pelos processos ambientais de radi 23 variagao e selegio. Contudo, numa microandli: se, em um modelo relacional, nada impede que estimulos privados possam, sob contingéncias especiais, assumir fungao de variével indepen- dente e controlar a ocorréncia de certas respos- tas. So essas funedes que permitem a nogiio de “clos”: as pequenas unidades funcionais que compéem as cadeias comportamentais. E pert nente esclarecer que varivel independente re- fere-se apenas a relagGes funcionais mutaveis, no é causa no sentido tradicional. Isso significa dizer que estimulos privados s6 podem entrar no controle do comportamento em conexio com as varidveis ambientais piiblicas. Pode-se dizer, até certo ponto, que eles explicam ou que entram na explica que estejam explicados, naturdlmente. do comportamento, desde Consideracées finais Para coneluir, dois pontos merecem des- taque. O primeira deles refere-se a constatagio de que néio sé nos procedimnentos de rastrea- mento das varidve nos de acessoaeventos privados enos de produ- ambientais, mas também gio de autoconhecimento, o que se encontram, siio provessos de origem pitblica. No behavio- rismo radical, a mente & comportamento e, como tal, tem suas raizes no ambiente de domi- nio piblico Finalmente, quanto & pergunta do inicio, “afinal, eventos privados sto ou nao so causas de comportamento?” do, ou a0 menos sugerido, que ela é dualista e mecanicista; e, sendo assim, & incompativel espera-se ter demonstra. com a vistio contextual e relacional que predo- mina no behaviorismo radical. Nesta visio é ‘mais epropriado perguntar de que modo eventos privados podem entrar em relagaio funcional com outros eventos. Maura Alves Nunes Gongora ¢ José Anténio Damésio Abil Referéncias Abib, A.D, (1994). O contextualismo do compor- tamento verbal: ateoria skinneriana do significado e sua critica ao conceito de referéncia. Psicologia: Te- oria e Pesquisa, 10, 473-478, Chiesa, M. (1992). Radical Beliaviorism and Scient Frameworks: From mechanistic to relational accounts, American Psychologist, 47, 1287-1299, Morris, E. 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