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CIENCIA POLITICA ESTUDO DA ORDEM EDA SUBVERSAO 2 EDIGAO PF SINTRA, 2004 diversas alternativas que gerou, raciocinando sobre a sua ilomia e a sua fisiologia, estudando, finalmente as suas crises e a patologia. Se bem percebo, estdo aqui de novo presentes as tradigoes académicas das ciéncias politicas: a Historia pro- mara identificar os modelos politicos do passado dos quais ficaram mentos, Antropologia Cultural que contaré e descrevera os los das sociedades primitivas antigas e actuais, a Ciéncia fa € 0 Direito ocupar-se-Ao do modelo que se impés moderna e lomporaneamente, esmiugando-o em todos os sentidos, a Socio- jla ocupar-se-A mais da patologia e das relagdes estabelecidas @ estrutura social e a estrutura politica, na constancia desse lo hegeménico. i. A genealogia do Estado moderno "Na sequéncia do fica dito,o Estado moderno nao 6 herdeiro de 8 08 figurinos de poder politico que paralelamente caracte- im as sociedades humanas e as respectivas culturas ao longo séculos, sendo apenas do padréo Ocidental, europeu, domi- jr através da expansao colonial e neo-colonial. Nesse sentido, ilavio deriva da Polis da antiga Grécia, da Cidade de Platao e de Beles, e dos seus figurinos académicos que tratavam sobretudo mocracia ateniense, apesar dos escravos e dos estrangeiros, i) despotismo espartano, apesar das diferengas de classe. Em indo lugar, deriva inevitavelmente da matriz. imperial da cidade joma, quer através do conceito e da vivencia da coisa publica, Sistema fiscal, militar, administrativo e superestrutural em |, do estatuto de cidadania, do Direito extensivo a uma comu- do ou diferentemente a varias, da organizagao do poder politico, istrativo, econémico e social, da utilizagao da Lingua e da jegradores da organizagao politica, 10 global de expresséo, transmitidas que foram tradigdes aos reinos dos povos barbaros que tomaram conta rio Romano apés a sua decadéncia, caldeando estas tradi- om as de instituigdes proprias dos pavos em aprego, designa- nie dos godos e visigodos, francos, germanos, para falar io do Ocidente. A propria Respublica Christiana se entrosa do,por "completa ofiguri- O Ren do Sacro Império Romano Germénico, com o parlamentarismo britanico, e, apesar de tudo, com as convulsées provacadas pela Republica inglesa de Oliver Cromwel, sem esquecer a fundamental ligdo de Jean Bodin na sua obra “Os seis livros da Republica ou do Estado”. Todavia 6 na obra de Nicolau Maquiavel que nasce 0 con- de Estado e politica de Estado mademnos. Em outro local desta obra se desenvolverdo com algum detalhe estas doutrinas. Todavia cumpre, agora, apenas referenciar os passos da genealogia do figurino que se tornou dominante a nivel do poder politico. O Estado modemo ¢ igualmente tributario da reforma protestante, nas suas diversas formulagdes, da reacgao da Santa Sé, do Concilio de Trento @ do Tratado de Tordesilhas, do mercantilismo e da reacgao fisiocré- tica, do iluminismo @ do despotismo esclarecido e do absol defendido por Thomas Hobbes, bem como do liberalism: tucional que imaginou e defendeu a doutrina de John Locke. Esta tradigao hegeménica é também herdeira do imperialismo napoled- nico e da Santa Alianga que o destruiu, do romantismo nacionaiista, do sindicalismo reformista e mesmo revoluciondrio, do segundo império alemao do Principe Bismarck, das sucessivas experiéncias constitucionais francesas, da Conferénoia de Berlim, da guerra do 1914-1918, da Sociedade das Nagdes, do fascismo, do nazismo, do bolchevismo, da guerra de 1939-1945, da ONU, da guerra fria, da politica de blocos, da globalizagao posterior a 1989. Esta 6, necessariamente em tragos muito gerais e inoompletos a genealogia do figurino que se impés & humanidade e que devastou e triturou qualquer outra tradigéo de poder politico autéctone, muito embora seja sabido que sempre que ha duas culturas em contacto ha transferéncias de padrées de Cultura e de comportamento de parte a parte, sendo certo que o modelo dominante se impée de uma forma preponderante’ 5.2.2. A justificagdo do poder politico Sobra, todavia, a questao da justificagao do poder politico. A justificagaa pode ser entendida num duplo sentido: em primeiro lugar num sentido ideoldgico, isto 6, 0 elenco das doutrinas relativas a ‘presi wna ben qo er pio 8 chamard Lom hl ‘origem do poder, & sua fundamentagao filoséfica, histérica, religiosa, i teoria da legitimidade do poder, a que adiante se fara referéncia. Wa esta matéria é exclusivamente do dominio das ideologias, lito embora possa estar disseminada pelo Direito, pela moral, as doutrinas pollticas e partidarias, pelas modas, pela ética, e por das as outras manifestagbes que fazem parte deste dominio. A jegunda questao é de natureza diversa e diz respeito & procura fentifica da justiicagao concreta e material da existéncia de poder plitico em todas as sociedades humanas. A resposta dada pela lOncia Politica mais positivista 6 a que se contém no capitulo dos hamados fins do Estado, a saber: o fim de seguranga, que com- ence quer a defesa externa do Estado quer a seguranga interna mesmo, 0 fim de Justiga, que Estado moderno apropriou, concen- Ou © normalizou progressivamente, ¢ muito mais tardio o fim d mm-estar econdmico e social, que foi igualmente “nacionalizado’ Wolo Estado moderno e contemporaneo, comegando pelo ensino wlmario, © acabando na exuberdncia do Estado-providéncia. For- imente o Estado existe, por conseguinte, para satisfazer esses bjectivos colectivos em regime de exclusividade, embora a globa= jugao desenvolvida no século XX tenha acelerado mecanismos de llederacao, de associagao internacional, de participagao e coges= das soberanias, pondo, por conseguinte em causa, pr inlo ie uma forma material, mas depois inexoravelmente de um 0 de vista juridico, a prépria:natureza do Estado e do poder ico, sobretudo da sua forma mais completa que é a da sobera= Esta resposta positivista apenas atende a uma parte das nossas las e de certa forma justifica tecnicamente a sujei¢ao dos cida= {40 poder politico, bem como a questo fundamental da fisc @ da tributacdo. Infelizmente a doutrina da Ciéncia Politica confunde nao raras 108 ideologia com justificagao cientifica. Uma das razdes menos jeterminantes causas para a existéncia do ico é a lei da forga, ou se quisermos ser mais i803, a lei dos mais fortes. Evidentemente que esta explicagéio iticamente incorrecta a partir, sobretudo, do contra 10 até hoje. Parece insustentavel argumentar com uma neces de, através de um contrato social, os individuos disporem de ido parte dos seus direitos a favor de uma nova entidade, jo, para garantir a ordem e a paz, se se comprovar que Jago NAO 6 facultativa mas imposta e que a fruigho di jedntragéio de compoténe portanto do poder que Ihe inerente, beneficia sistematicamente uma oligarquia, tendencial- mente plutocratica e timocratica, que se renova por cooptago e se legitima por mecanismos demoordticos ou autocraticos. A lei da forga como fundamento do Estado foi defendida por diversos autores desde logo por Jean Bodin e Duguit, dos cultores na Escola contlto (Ratzenhotfer e Gumplowicz), aos da escola italiana de Ciéncia politica (V. Pareto, G. Mosca, R. Michells), até aos tedricos da escola marxista. Uma segunda explicaciio de natureza nao ideolégica é a que fundamenta o Estado num conjunto de raz6es de nalureza psico- lgica, como seja a necessidade sentida pelos homens de viver em Conjunto, 0 gregarismo, defendido por Platdo, até a justiicagaio da relagdo psicoldgica e social de pdr em conjunto dois grupos distintos e gerais de pessoas, um com apeténcia pelo mando e outro com 0 desejo de ser mandado e de abedecer (como por exemplo as teo- rias de Max Weber, de Gabriel Tarde, de B. de Jouvenel, de Vilfredo Pareto, entre outros). Nesta explicagao psico-sociolégica poderia- ‘mos incluir uma nota relativa as justificagdes ideoldgicas que dao uma origem transcendente ao Estado (0 direito divino, a origem divi- na de certas estirpes dominantes). Caberia aqui ainda, uma referén- cia a explicagao etoldgica a que fizemos referéncia noutro local Uma terceira explicagao resulta da Escola marxista ¢.entende © Estado como uma superestrutura composta por.um conjunto.de aparélhos, ideolégicos e repressivos, criada para completar-¢.manter a exploragao das classes dominadas por uma classe dominante, a partir do momento em que as relagdes de propriedade e as relagdes de produgdo se mostram insuficientes para garantir a sua propria continuidade. O Estado 6, assim, nesta ldgica, um instrumento com- plementar mas indispensavel de dominagao de uma classe social sobre as outras. Finalmente 0 Estado existe por cor téncia e generalizagao cria,por assim dizer, um “facto consumado”. Os individuos nascem no seio do Estado, so enculturados no seio do Estado, so obrigados a viver no contexto do Estado e sobretudo so cada vez mais incapazes, excepto uma pequena minoria, de alterar 0 seu prdprio destino e o destino do proprio Estado. Fora destas explicagdes teremos sobretudo ideologia. Tanto nas teorias democraticas como nas teorias autocraticas, nos funda- mentos filosdticos ou nas justificagdes morais, encontraremos razes inventadas a posteriori, para fundamentar factos materiais que tm origons totalmente diversas, mas muitas vezes inconessdveis. idade. A sua propria exis- As novas descobertas da antropologia, paleo-antropologia, arqueo- logia e pré-hist6ria fizeram desmoronar capitulos inteiros das obras daqueles autores. Este facto pde uma primeira reserva na projecgao futura das conclusdes histérico-antropoldgicas feita pelos mesmos. Num segun- do lugar, levantarlamos um dbice de ambito bem mais genérico © que se prende com a propria atitude futurolégica. Por outras pala~ vvras, perguntariamos em que medida as extrapolag6es, feitas pela doutrina marxista ou outra qualquer, sobre a histria econdmica, social ¢ politica tem valor cientifico, absoluto @ intrinseco. Objectivamente nao ¢ possivel reconhecer-Ihes sendo.o valor das meras hipéteses, as quais correspondem maiores ou menores probabilidades de verificagao ou de erro. A certeza com que sao apresentadas € defendidas deriva frequentemente do esquema de funcionamento caracteristico da ideologia enquanto fendmeno psicossociolégico, facto que anotamos, mas que transcende 0 2m- bito do presente capitulo’. 5.4.2, Proposta para um novo entendimento do nascimento do Estado _Em primeiro lugar, retomemos a nogao de Estado. Seguindo a doutrina cléssica da Ciéncia Politica e mesmo a de alguns autores do Direito Constitucional, o Estado ¢ toda a populacao de nacionais, fixa num dado temrtério, onde existe uma autoridade soberana que tem a misséio de assegurar a satisfagdo das necessidades colec- livas, gerais e abstractas, de justiga, seguranga e bem-estar material € espiritual. Sendo assim, o Estado 6 uma entidade composta de varios elementos que sao: a) O povo, entendido como uma colectividade organizada, quase personalizada, distinta, por valores, cultura © outras carac- teristicas, préprias, das demais colectividades semelhantes*; 15) territ6rio, entendido como 0 espago geogratico especitico, sobre 0 qual @ referida populagao organiza imediatamente a sua vida social; 4. Sobre este ascunto pode ver-se, p. ex, 0 n0s80 trabalho Elementos de Ciéncia Poitica, ‘04,1974, pp, 420 sequintes @ a arr dal 2s sucessivas ecides da mesma cbra. 2, "Populagto” & tla pois jurisns como uma reaidade da natureza demogrtica © econd- lien do Povo ost contd o vinculo da cidacenia, ©) O poder palitico que no caso de plenitude assume a expres- so de Soberania, referida como o poder — conjunto de meios a um determinado comportamento — que ‘nao tem igual na ordem interna, nem superior na ordem externa dessa relagao populagao-tertitério, e que se justifica quer pela necessidade de uma respectiva organizagao inter- na, quer pela indispensabilidade de uma satistacao das jd mencionadas necessidades colectivas, gerais e abstractas (0s fins do Estado), tomadas “aqui no sentido dos valores derradeiros que o homem tem a propésito de realizar (...) com vista a dar um sentido & vida ¢ a histéria”". Voltaremos, agora, de relance, ao problema do nascimento do Nenhum autor negou até hoje a existéncia do Estado no mo, nem das chamadas Antiguidades Classica ¢ Oriental Na realidade, 0 problema 6 apenas levantado no nivel da Pré- loria, durante a chamada Idade da Pedra, e por transposigao, povos que, na actualidade, vivem num estado de desen- Imento semelhante aquele, aos quais, por comodidade chama lropologia de “civilizagoes do arco’. 86 sobre este caso valerd mha tecer algumas consideragbes, uma vez que no que toca aos luntes e dentro do problema da existéncia ou nao do fenémeno do, muito coerentemente, nao pode, nessa fase, ser conside- omo evidente, em virtude da inexisténcia quer de excedentes inOmicos aproveltados economicamente, quer de estratificagao ial, Através de uma abordagem empirista simples, facilmente se fi idoia de que as “civilizacées do arco” vivendo sem chetias uoionalizadas, subsistem num estado de anarquia, 0 que é ismo do que dizer que ndo tm Estado, porquanto o conceito. der ¢ indissocidvel do de Estado, A nossa perspectiva contraria estas assergdes. Comegaremos ificar que “as civilizagdes do arco” possuem, cada qual, uma identificada, distinta e individualizada de indole diversa (étnica e cultural), individualizagao essa faz quer a partir do interior da comunidade (em relagao a si © ao exterior), quer do exterior. Matematicament, diremos, wn cada uma delas um conjunto distinio. 1. Usboa, 1974, p. 128, ‘8 cvizntionsnoires, 98 exemploa concrtos, na actualidade, dos Bosquimanos dos Pigmeu, Em segundo lugar, possuem uma determinada relagao ecolé- gica e, por conseguinte, um territério proprio. O conceito de apropria- Gao desse territério no é — n&o tem que ser - semelhante ao nosso. Ela varia fundamentalmento pela sobrevalorizagao da eproximagao colectiva do mesmo, ¢ pela flexibilidade da relagdo concreta homem- ~espago, resultante do nomadismo. O conceito de fronteira 6 mais fluido do que 0 dos Estados modernos, mas a existéncia dessa nogo envolve implicitamente a de territério. O problema da soberania, o terceiro elemento que importa iden- tificar, resolve-se por duas vias: em primeiro lugar, ¢ para o exterior, a comunidade apresenta-se como uma totalidade soberana, néo reconhecendo, nessa esfera, superioridade a nenhum poder; e segundo, “nas relagées internas como o governo soberano (aparelho do poder) em relagao com os individuos ‘S40 unanimes os antropdlogos quanto a existéncia de sangdes nas ditas “civilizagdes do arco”, as quais assumem formas que véo desde a ridicularizagao até ao ostracismo. A verificagaio desta realidade institucional implica 0 reconhe- cimento da existéncia de regras de conduta, gerais e obrigatérias, dos conceitos de infracgo graduada dessas regras, de coagao e de sangao. Uma vez que nao existem estruturas especializadas para 0 desempenho dos atributos inerentes a estes institutos, nao poder deixar de considerar-se a globalidade da comunidade como estrutura detentora do proprio poder polftico. Este podera transitar, em esid- dios considerados mais desenvolvidos, para outro tipo de estruturas, nomeadamente para as que resultam de uma posi¢ao privilegiada num esquema de parentesco, facto que em nada colide com a pré- ~existéncia desse mesmo poder, embora com diferentes titularidades. Assim a evolugdo no fenémeno Estado dé-se pela regra da com- xidade crescente @ ndo pela passagem do “ndo-ser’ ao “ser’, em virtude de causas infra-estruturais de {indole econdmica. Como observa GEORGE BALANDIER, na sua célebre Antropologia Politica, “o poder politico é inerente a qualquer sociedade. Provoca o respei- to das regras que a fundamentam, (e) defende-a contra as suas proprias imperfeigdes”. Muitas vezes & uma certa visdo etnocéntrica, formalista e normativista, que, preocupando-se com o acidental {como, p. ex., com a identificagao de um aparelho burocratico-politico inoxistente), se impossibilita a avaliago dos tragos fundamentals que, ‘caso vertente, anunciam e determinam a existéncia do Estado. *Podemos verificar que na primeira forma desta propriedade da ‘a comunidade 6 a condigao primordial: quer por casamentos olprocos, quer por associagao, a familia cresce até as dimensoes ‘ribo. Podemos admitir que 0 Estado Pastoril e em geral, a migra- io Constituem o primeiro modo de exist&nci _ "Por conseguinte, a comunidade tribal, a comuna natural, aparece ultado, mas como a condigao de apropriagao (tempo- ila) e da utilizagao comuns do solo". __ Nesta primeira fase e segundo a perspectiva marxista, surge r forma de organizagao politica caracteristica daquilo que chamou de forma asiatica, e a que deu o nome de despotis- 0 oriental. Existe entéo uma unidade centralizadora que se segue ‘a8 pequenas comunidades e que faz a “figura de proprietario mo Ou Gnico, aparecendo as comunas reais como simples pos- hereditérios’® Esta unidade que MARX considerou como “o deiro proprietario e o pressuposto real da propriedade comum”, fendmeno distinto e superior As numerosas comunidades llares, que se realiza* “na pessoa do déspota, pai das diversas as’, 6 0 centro fuloral da organizagio politica existente. 18 elementos que a doutrina classicamente atribui ao Estado m ser identificados embora em fase em! im territ6rio préprio (embora a apropriagao deste possa ser ria em virtude do nomadismo, ela exerce-se em absoluto nos de sedentarizagao); um povo distinto “a comunidade tribal |, 0U Se se quiser, 0 estado gregario” (caracterizado pela) lade de sangue, da lingua, dos costumes, etc."*; um poder ino entendido como o poder que néo tem igual na ordem em superior na ordem externa, existindo, como corolario, a Karl = Formagdes Econdmicas Pré-Capitalstas, Pub, Escorpidio, cademo 8.0 Sociocade’, Porto, jiferenciagéo entre governantes e governados, porquanto possivel, nessa comunidade primitiva, distinguir o estaluto do “individuo isola- do, de facto, desprovido de propriedade” e de poder politico, do que caracteriza 0 “déspota” ou a “unidade”, distingio essa que encon-tra matizes diversos do inter-relagao, sendo possivel “nessa altura, conforme 0 caso, uma forma mais ou menos despdtica ou democra- tica dessa comunidade”. KARL MARX entende mesmo a existéncia do fendmeno gover- nativo. Segundo ele “as condigdes comunitérias de apropriagao real pelo trabalho (muito importante entre os povos asiaticos), aquedutos, meios de comunicagao, etc., surge entdo como obra da unidade ‘superior, 0 governo despotico que paira acima das pequenas comu- nas”. 5.4.2.1. O Estado em perspectiva juridica, politolégica, sociolégica antropoldgica §.4.2.1.1, O Estado em perspectiva juriaica: breve apontamento Nao 6 frequente, mesmo nos manuais de Direito que se ocupam. da problemética directamente ligada come o conceito de Estado, fazer-se abordagem dnica e exclusivamente juridica dessa mesma tealidade, sendo vulgar a introdugdo de conceitos mais ligados 4S ciéncias sociais e px ramo das ciéncias juridicas que especiticamente se 06 desta tematica € 0 Direito Politico ou Constitucional, quer d 9 ramo do Direito formado pelas normas que definem a estrutu Estado e disciplinam a sua actividade politica’. Estado em termos juridicos interessa, pois, segundo d Opticas: enquanto estrutura e enquanto actividade estrutural, a1 entendidas numa perspectiva normativa institucional. Melhor deveré reter-se que “juridicamente, o Estado configuri a organizagao @ 0 ordenamento da sociedade politica sed Assim concebida, poder-se-4, em sentido juridico, defini-lo como a i808 colectiva formada por essa mesma sociedade ou (de mado ‘no envolva a personificacdo) 0 conjunto de érgdos que nela {orem 0 poder politico e a representa”. ‘Qualquer que seja a posigéo perante o problema da personi- Wao da sociedade perfeita deve ficar claro que, para 0 Dit ico, 0 Estado se traduz num conjunto organizado, coerente, de 148 que definem 6rgaos, competéncias e rolagdes, em termos 1asce, desde logo, uma discrepancia de Angulo tico e, por exemplo, a Ciéncia Politica Sociologia Politica: enquanto para 0 Direito, o Estado é, em maior iu, um modelo ideal — uma estrutura estabilizada, virtual, passiva - as oulras ciéncias apontadas, o Estado é preferencialmente relagao circunstancial factual — uma conjuntura mutante, real, iva, ou, utilizando a clara dicotomia tao do agrado da escola osdfica germanica, 0 Estado — juridico @ sobretudo um “dever ser’, quanto o Estado = sociopolitico 6 sobretudo um “ser’. Sabemos is nem sempre coincidem. Neste caso 0 do juridico impoe-se, entre outras formas, por via da coagao, Estado — sécio-politic f@ outros motivos contribui para este desfasamento, a sincro- ide insuperavelmente caracteristica da norma juridica em iifaposicao com a diacronicidade fatal da histéria das sociedades. illga-se, na actualidade, uma tendéncia para uma justificada gio da concepeao institucional “na construgao sistematica do Piiblico”, sem contudo fazer abandonar por completo a iatizagao, a pedagogia e a liberdade governativa que a MMGopeAO normativista sempre concedeu e que se entendem pensaveis nos modernos Estados de Direito. nidicamente 6, em conclusao, de dificil pertinénoia fugir-se da o alrds transcrita. temente que, como referimos, nesta problematica concre- 6 frequente uma posigao estritamente juridica, uma vez “que desempenha um papel importante na ordenagdo normativa juridica”. Dai que os autores que sobre ela se debrugam a situam habitualmente, técita ou expressamente, numa “area cin- zenta’ de confluéncia das diversas ciéncias politicas. interessa, contudo, para o presente estudo, realgar as diferengas especificas de cada um dos dominios cientificos em presenga. Mas para 0 Direito Constitucional 6 impertinente fugir da cono- tagao intima que relaciona o poder politico e a instituigao de érgzos politico-administrativos e de ordenamento juridico. Tomemos a nogao de poder politico do Prof. MARCELLO CAETANO: “é a faculdade exercida por um povo de, por autoridade propria (nao recebida de ‘outro poder) instituir 6rgaos que exergam 0 senhorio de um territ6rio @ nele criem @ imponham normas juridicas, dispondo dos necessé- trios meios de coagées”. Mosmo nesta formulagao ampla do conceito referido, parece ndo caber a hipdtese da exisiéncia de sociedades com poder politico, de sociedades politicas, 0 que equivale a dizer Estado, cujo povo detenha e exerga a referida faculdade, por autoridade propria, mas que nao institua, pelo menos durante um dado periodo primitivo da ‘sua hist6ria, quaisquer érgaos que exergam o senhorio de um terri- tério, apesar da existéncia de tal senhorio, da imposigao de normas obrigatérias abstractas e gerais de conduta, e da disposigéo dos necessarios meios de coagéio. O mesmo, alias, conclui ao analisar as principais teorias sobre as fungdes do Estado, quais sao as de JELLINEK, de DUGUIT e de KELSEN, para além da do proprio Prof. MARCELLO CAETANO, que vimos referenciando®. ‘Na teoria de Jellinek ressaltam dois fins fundamentais, 0 estabe= lecimento para além da tutela do Diretto (fim juridico), e o increment da cultura para além da afirmagao da sua forga (fim cultural), que consegue alcangar através do estabeleoimento de regras abstractat @ da acluacao conereta para levar a cabo objectivos determinados, dando origem &s fungSes legisiativa, jurisdicional, administrativa © a actividades extraordindrias do Estado. A teoria de DUGUIT parte do conceito de actos juridicos como manifestagdes de vontade feitas com a inteng&o de produzir uma modificagao na ordem juridica exis tente ou proxima futura. IELIUS, Roinhold ~ Tooria Gora do Estado, ed. Fund. Calouste Gulbenkian, 1974, pO. sendo as fungdes ito. Na “teor noobido segundo o esquema simplista de legislador que nduta dos individuos e cujas leis s4o executadas pela politica que ine as ofensas e pelos tribunais que resolvem os contlitos € primom os delitos’, pois existem numerosas necessidades econd- @ sociais que 0 Estado toma a seu cargo, fora de tal esquema, tais actividades, apesar de apoiadas numa rede de regulamen- juridica “nem sempre sao em si mesmas juridicas”. Indepen- mente das diferengas técnicas e filosdficas existentes entre as indicadas, cuja apreciagao nao cabe nos objectivos do pre- lo esiudo, € de ressaltar que para todos os autores referidos nao Estado som um “ . J imbém para todos os autores parece ponto assente a pouca im- icia atribuivel aos principios da inovagao e mudanga estruturais. Wavia, 0 Prof. MARCELLO CAETANO na sua Historia do Portugués’ atima a existéncia do Estado nas sociedades pelo menos quando se refere as nagées primitivas, Galai- isitanos, Celtas © Turdetanos ou Tartéssios’, em especial no $ segundos. Diz textualmente 0 seguinte: “A cidade era um Estado aristocratico constituido por uma. povoagao prin- forliticada, e por um grupo de povoagaes mais pequenas, iluidas ao redor, sempre na coroa de montes e colinas. a cidade era atacada, a populagao abandonava os peque- fo para se concentrar na povoagao principal individuos agrupam-se em familias do tipo monogamico Cujo chefe exercia poderes politico: jorno, quase sempre mondrquico, mas algumas vezes repu- Tepublicas eram, porém, aristocraticas: sé intervinham no ©, Macallo Hsia do Dato Portugus, Veto, 1965, pp. 67 ages. Publicaran 09 ics Jodo Ferrera do Amaral » Augusto Ferra do Amaral ‘nabalho intlado "Povos Anigos ed, Quetzal Ear Lisboa, Significa, assim, que para o autor 6 de parecer existir 0 fenéme- no do Estado nos povos primitivos da Lusitania antes da invaséo romana, ou seja, anteriormente ao século Il antes de Cristo, acel- tando que 0 parentesco exerce um papel determinante em termos de estruturas fungdes dos mesmos Estados, e aceitando um entendi- mento mais amplo, de indole etnolégica, dos elementos dos referi- dos Estados. Varias escolas filoséfico-juridicas discutem 0 problema das ori- gens do Estado’. Ararefago de fontes relativas &s sociedades primitivas em geral @ em especial as que nao possuiam esorita, fez com que a ciéncia do Direito se ocupasse, prioritéria e quase que exclusivamente, das sociedades tecnologicamente mais avangadas. Gragas ao espirito de intercisciplinaridade que vigora na universidade conternporanea essa tendéncia podera ser, progressivamente, esbatida, 5.4.2.1.2, O Estado em perspectiva politoldgica Pablico, em que a amente considera 0 Estado como preocupagao central e dominante da investigacao, nas andlises feitas pela Ciéncia Politica, 0 estudo do Estado nao ocupa sempre posicao determi: inda, a posigéio que ocupa é tanto menos determi nante quanto mais antropologica ou sociolégica 6 a perspectiva com que a abordagem é Pode empregar a expressao. Sao de diversa para um certo equivoco na determinagao dos métodos, téoni objectivos, objectos e afinidades da mesma ciéncia. greco-romana, fez nascer a Direito, compe Histor Naturalmente a Politol juridico @ subsidi 149 caracteristicas, haja importado 0 objecto fundamental do igito Politico, ou seja, 0 Estado. Assim, surge uma primeira tradi que faz com que a Ciéncia seja, sobretudo, uma nova perspec- jobre o Estado. Jma segunda tradigao, muito mais recente, tipicamente america- nascer a Ciéncia Politica ligada & Antropologia. Daqui que preterida a importancia relativa do Estado como objecto de estu- fayor de outros fenémenos considerados centrais, como 0 Poder ou 0 Facto Politico, sobretudo nas suas manifesta- mensuraveis. outra maneira, esta mesma situagao foi ja explicada por \CKENZIE' contrapondo a corrente classica, que denomina de intal, titulada de “Ciéncia do Estado”, a concepgéo maderna ida de “a Polltica sem Estado” esta uitima intimamente ligada Incia que mostra que “0s politicdlogos adoptam (...) com mais lo as descobertas e os métodos da sécio-psicol logia, da socio-linguistica e da antropologia social que os da jociologia das grandes sociedades”*. jo em dia ambas as tradigdes se cruzam no espago e na nao sendo mais aceitavel como clara esta dicotomia, desde Continental ao individual. Contudo, em certos casos, & bem Wel a proponderancia de uma ou de outra, em academias Wigdo nestes dominios cientificos. bos OS casos apontamos ja, para o assunto vertente, 98 e importantes perspectivas comuns: inte normativista e enunciativa, enquanto a andlise oldgica é predominantemente descrtiva e interpretativa. \do ainda a consagrada dicotomia da tradigao filoséfica 108 que 0 juridico-politico preocupa-se, sobretudo, com a igo formal @ ideal das estruturas do Estado (i.e., com o S01"), enquanto o sécio-politico se preocupa predomi- mM © funcionamento real dessas mesmas estruturas, Nesta Optica ha para uma mesma realidade Estado duas ané- lises distintas quanto ao objectivo imediato e quanto aos resultados uma vez que no dominio do politica o que deve ser (a forma) nao coincide sempre, nem rigorosamente, com 0 que ¢ (a realidade dos factos). Nesta conformidade “para a ciéncia politica, o facto relevante 6 a distingaio entre a constituigao formal e a constituigao real, que se traduz no fendmeno de o Estado, com frequéncia, sustentar uma imagem de submissdo a primeira, observando a segunda’ iéncia Politica a importancia do Estado deriva princi- bem como no Ambito das suas finalidades (os fins do Estado). Por um lado, é no seio do Estado que a grande maioria dos factos politicos por outro, é neste que se concentram os maiores Poderes sociais legitimamente reconhecidos pela colectividade e que: No conjunto sao designados por Poder P* Este foi definido isto 6, que impoe obediéncia a quantos pertengam a Sociedade Politica, constrangendo-os obser vancia das normas juridicas e quebrando as resisténcias even ‘tuais® sendo sua fungao “a de subordinar os interesses particulareS 20 interesse geral segundo principios racionais de justica traduzi Por um Direito Comum a todas as Sociedades Primérias englobadas: a Sociedade Politica”. Assiste-se prosentemento, todavia, ao de senvolvimento de poderes independentes no seio do proprio Estado capazes de dialagar com este @ de Ihe impor, inclusivamente, deter minadas decisées. E 0 actualissimo caso da “violéncia politica ori tada” em que se encontram atitudes que vao desde a influéncia pelt Estado (de que é mentor o sindicalismo), a resisténcia pas: “inventada” com retumbante éxito por GANDHI, até & destruigao do Estado preconizada pelo anarquismo miltante. A guertilha @ 0 tert rismo sao exemplos dos fundamentos destes novos poderes. Elk constituem, sem alguma dtivida, um conjunto de meios etic ‘capazes de coagir outras entidades (e muitas vezes o Poder Pol MOREINA, Adtiano ~ Giancia Poitica, ed. Lvraria Bartana, 1979, 196, {1 uma conduta determinada’. Jé ndo se pode aqui seguir as cl "Gas “regras do jogo” na conquista do Poder, as quais s4o, para este perfeitamente irrelevantes. A ideia consiste na criagao de -estados” dentro do préprio Estado, onde subsistam e actuem intemente como centros de decisao politica autnomos, em os @ mecanismas independentes dos que existem consiucio- Tal realidade ressaltava imediatamente de uma nogdo comum de oberania’ tida como “o Poder que nao tem igual na ordem interna na ordem externa”. No esquema tradicional da Ciéncia Rica é por isso frequente anotar-se a circunstancia de apenas istir um s6 Poder em cada Sociedade Perfeita, detentor exclusivo, regime de monopslio, do conjunto superior de meios capazes de Qaigir 0s individuos © as Sociedades Imperfeitas que a compuses- mm. Tal Poder, dizia-se, “con: depois, nas suas leis, 0 uso 925 meios pelas Sociedades Primarias, mas em condig6es preci- em risco de grave deturpagao, jcente tendéncia para uma al ou mesmo nacional; por outro, na ordem interna assiste-se ao desenvol- into de poderes concorrentes com 0 poder oficial, imitando-o, indo-o e ultrapassando-o constantement 9 estas ressalvas, 6 operacionalmente justiicdvel conceber da a hierarquia @ a diversidade das estruturas politicas Jom para o Estado, instituigao politica suprema que convém a ade das outras e da qual estas retiram, pelo menos teorica- sua autoridade ou a sua investidura. O Estado 6 assim iderado, como 0 faz MAURICE HAURIO\ igo das igdes na medida em que ela 6 a instituigao final, visto nenhuma ‘Ser um poder de integragao superior ou mesmo igual 20 seu, yhavendo mesmo nas relagdes internacionais para além do ludo. O Estado domina, assim, 0 campo institu ‘0 nxt anerirmont daca de Poder. NETANO, Marco ~ Nard Cdn Pali ¢DroioConstucon eo, 9. JL Gaston ~ Sociologia da Poitica, ed. Bertrand, 1976, p. 37. Conjunto das outras instituigdes sem que por sua vez nenhuma outra instituig4o igualmente sélida, coerente e rigorosa o inclu 5.4.2.1.8. O Estado em perspectiva sociolégica Numa perspectiva de sociologia politica 0 Estado pode ser ‘considerado, e é-0 frequentemente, como uma superstrutura, isto 6, ‘como um conjunto integrado de instituigdes” de constituigao e objec- tivos imediatos diversos, mas com a finalidade imediata de manter ncia @ identidade do conjunto referido (de se manter a si actuando, para tanto, quer por via coerciva, quer pela persuaséo, considerada no seu sentido mais amplo. De grande utifidade para este esquema de raciocinio, 6, sem dlvida, a interpretagao marxista do Estado. Em sintese, considera, 0 materialismo histérico e dialéctico que 0 Estado 6 uma superstrutura constituida por aparelhos funda- mentais*: 4) O “Aparelho Repressivo do Estado” composto pelo governo, administragdo, as forgas armadas, a politica, os tribunais, as prises, etc. que tém como caracteristicas funcionar coerciva- mente, ou seja, pela violencia em titimo caso. 15) conjunto dos “Aparethos Ideolégicos do Estado” composto pelas igrejas, as escoles, a familia, o direito, os partidos ticos, os sindicatos, os 6rgaos de informagao, o sector cultural das humanidades, belas-artes, desporto, eto. A sua caracte= ristica 6 funcionar no mesmo sentido de que o “Aparellio. Repressivo do Estado”, mas por inculcagao ideolégica. ~ A Clana otic Atle, Bertrand 1974, 9p ‘ahi a expresso “sparlho". com conteido menos deiido, ms jusratvo da reaicado. ov ada a ce “rors itermédan cual tom a desvantagp ‘Ser um conceito relative, em que um dos pontos de referéncia 6 0 conceito que se pretenda dita. 3. Tal como 0 smetzam os secures autores: GOT, Jean Pero, © NOUNIER, Joan Pim “Para Una Socoiga Potion ed. Lv. Botan, 1876, p. 299-23; FOULANTZAS, Nod < Pat oli» Casss Soca, Ponce Ero, Ee Pe, 1971, pp. 1M ea ProsongaMarins Fontes, 120 0 raciocinio béisico do marxismo € 0 de que o nivel das forgas produtivas, i.e., dos instrumentos de produgao, mais os trabalho, mais a forga fisica e mental de trabalho, correlacio- ‘com 0 estado das relagdes de produgas, i.e., das formas de interiigago e dependéncia mitua que os homens apresentam num lado modo de produgao que implica uma determinada superstrutura, omposta do edificio juridico-institucional que referimos, mais 0 oma da classe dominant, saida das relagdes de produgao men- jnadas. Estado 6, neste entendimento, um instrumento de dominio de Ima classe sobre o resto da Sociedade, dentro de um esquema de olugao dialéctica, gerada pelas contradigdes sucessivas dos lodos de produgao, pelos antag 108 das relagdes de produgao, cesso que desembocaré definitivamente numa situagao de ruptura, qual as forcas produtivas existentes, conducentes a vitbria da 1e dependente (proletariado) sobre a classe dominante (burgue- © que, por sua vez, levara ao desaparecimento das classes Wiais e do Estado, por perda de fungao. Este esquema de anélise marxista necessita, a nosso ver, de ios comentérios. Fé-lo-emos separadamente da forma que seg i) Os dominios “Econdmicoe “Poiltico” incluindo it0 0 Estado, resulta do “econdmico”, ou seja, que a infra- ura implica a superstrutura. Esta tese leva fatalmente & depen- estrutural do “politico” em relagdo ao “econémico”. E um lente, Mas nao fatalmente, ou seja, existem situages 0 funciona em dissonancia com o econd- A analise marxista caracteriza-se pelo deter ‘0, exactamente porque condiciona a esséncia e a existéncia qualquer formagao social ¢ da sua hist6ria ao desenvolvimento Como disse FRIEDRICH ENGELS, om Anti-Dutring®, “a esin rm econdmica da sociedade constitui, em cada caso, o fundamento

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