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Direito Internacional

Público e Privado

Renata Campettí Amaral

Editora
Verbo Jurídico

Porto Alegre
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

A485d Amaral, Renata Campetti,


O direito internacional: público e privado / Renata
Campetti Amaral. 6a edição — Porto Alegre : Verbo
Jurídico, 2010. 248 p.

ISBN: 978-85-7699-244-8

1. Direito Internacional Público. 2. Direito


Internacional Privado. 3. Tratados Internacionais. 4.
Conflitos Internacionais I Titulo.

CDU: 341.124

Bibliotecária Responsável
Ginamara Lima Jacques Pinto
CRB 10/1204

Editora Verbo Jurídico Ltda>


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Direito Internacional

Colaboração de
Rodrigo TeUectaea Silva
Direito Internacional

ÍNDICE

CAPÍTULO I - DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO


1 .Introdução à Disciplina................................................................................... 11
1.1.Origens e Evolução Histórica.... ............................................................... 11
1.2. Conceito................................................ ........... ......................................... 14
2. Objeto..............................................................................................................15
3.Fonte s.......................................................................................................... 16
3.1.Tratado s.................................................................................................... 18
3.2. Costume............. ......................................................................... 20
3.3.Princfpios Gerais do Direito...................................................................... 22
3.4.Jurisprudência e Doutrina..........................................................................22
CAPÍTULO II - PERSONALIDADE INTERNACIONAL
1 .Conceito.......................................................................................................... 25
2.Capacidade de Ação..................................................................................... 25
3.Pessoas Internacionais............................................................................ 27
3.1.Estados ..........................................................................................................,........ ..............2
3.2.0rganismos Internacionais....................................................................... 35
3.2.1. Organização das Nações Unidas - O N U ...................................37
3.2.2. Organização dos Estados Americanos - O EA ............. ...................... 42
3.3.Indivíduos e Empresas ............................................ ................................44
4. Santa-Sé.......................................................................................... 45
5.Organizações Não-Governamentais - ONGs............................................ 45
CAPÍTULO III - TRATADOS INTERNACIONAIS
1 .Teoria Geral dos Tratados........................................................................... 47
1.1. Princípios e Classificação dos Tratados................................................49
1.2. Interpretação........................................................ .................................... 51
1.3. Validade, Vigência, Execução e Aplicação............................................ 51
1.4. Relações e Conflitos com o Direito interno ..........................................54
1.5. O Sistema Brasileiro de Incorporação de Tratados..............................55
2. Tratados em Espécie...................................................................................58
2.1. Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos..................58
2.2. Estatuto de Roma e Tribunal Penal internacional................................ 62

7
2.3. Proteção Internacional do Meio Ambiente.......................................;... 65
2.4. Outras Convenções Internacionais.......................................................70
2.4.1. Convenção para repressão ao Genocídio........................................70
2.4.2. Convenção contra o crime organizado transnacionai..................... 71
2.4.3. Convenção contra o tráfico ilícito de entorpecentes....................... 75
2.4.4 Convenção contra o tráfico de armas................................................ 77
2.4.5. Convenção sobre o combate à corrupção de funcionários
públicos estrangeiros em transações comerciais internacionais..............78
CAPÍTULO IV - REPRESENTAÇÃO DIPLOMÁTICA
1. Missões Diplomáticas................................................................................81
1.1 Convenções de Viena de 1961 ............................................................. 82
1.2. Privilégios e Imunidades........................................................................83
2. Convenção sobre Relações Consulares de 1963.................................. 86
CAPÍTULO V - RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS
ESTADOS
1. Direitos Fundamentais dos Estados........................................................89
2. Deveres dos Estados............................ ................................................... .91
2.1. Dever de Não-lntervenção.....................................................................91
2.2. Responsabilidade por Danos Internacionais.................................... 92
2.2.1. Proteção Diplomática...................................... ....................................95
CAPÍTULO VI - MEIOS DE COMPOSIÇÃO DE CONFLITOS
INTERNACIONAIS
1. Solução Pacífica de Conflitos.................................................................. 99
1.1. Arbitragem Internacional..................................................................... 100
1.2. Corte Internacional de Justiça .............................................................. 101
2. Sanções e Soluções Coercitivas de Controvérsias...............................102
2.1. Rompimento de Relações Diplomáticas..............................................103
2.2. Retorsão..................................................................................................104
2.3. Represálias.............................................................................................104
2.3.1. Embargo.............................................................................................. 104
2.3.2. Bloqueio Pacífico................................................................................ 105
2.3.3. Boicotagem..... .................................................................................... 105
CAPÍTULO VII - DIREITO INTERNACIONAL ECONÔMICO
1. Princípios do Comércio Internacional - GATT e O M C .......................... 107
Direito Internacional

2. Processo de Integração Econômica Internacional................. .............. 112


3. Blocos Regionais.......................................................................................113
3.1. MERCOSUL..............................................................................................113
3.2. União Européia................... .......................................................................121
3.3. NAFTA eALCA.......................................................................................... 126
4. Nomenclatura Utilizada no Comércio Internacional .............................128
CAPÍTULO VIÜ - DOMÍNIO PÚBLICO INTERNACIONAL
MARÍTIMO - Conceitos Fundamentais
1. Mar, Águas Interiores, Mar Territoriai, Zona Contígua e Zona
Econômica............................................... .................... ..............................131
2. Plataforma Continental............... ..............................................................136
3. Alto-Mar,..... ............................. ................................................................. 137
4. Rios Internacionais..... .............................................................................. 137
CAPÍTULO IX - DOMÍNIO PÚBLICO INTERNACIONAL AÉREO
1. Espaço Aéreo............................................................................................ 139
2. Princípios Elementares..... ....................................................................... 139
3. Normas Convencionais................................................................................ 140
4. Nacionalidade das Aeronaves.................................................................... 143
5. Espaço extra-atmosférico......................................................... .................. 143
6. Código Brasileiro de Aeronáutica - Lei n° 7.565/86.............. .................. 143
CAPÍTULO X - DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
1. Conceito e Objeto.................... ..................... ..............................................145
2. Relação Típica e Relação Atípica...............................................................146
3. Fontes............................................................................................................146
4. Origens e Evolução Histórica.......................................... ............................146
5. Conflitos de Leis no Espaço e Reenvio.....................................................149
6. Elemento de Estraneidade e Fato Jusprivatista Internacional ............... 150
7. Elementos de Conexão do Direito Brasileiro........................... ................. 151
7.1. Família e Direitos Pessoais.............................. ................... ...................153
7.2. Adoção Internacional...................................................................... .......154
7.3. Bens........................................................................................................... 155
7.4. Obrigações e Contratos Internacionais.................................................. 156

9
7.5. Pessoa Jurídica............... ......................................................................... 157
7.6, Sucessão................................................. ........................ ........................ 158
8. Teoria das Qualificações......................................................................... 159
CAPÍTULO XI - NACIONALIDADE
1. População e Comunidade Nacional.................. ......................................... 161
2. Aquisição, Mudança e Perda da Nacionalidade - Opção e Prazos............. 162
3. Naturalização................................................................................................ 167
4. Posição da Justiça Federai - Jurisprudência............................................ 169
CAPÍTULO XII - REGIME JURÍDICO DO ESTRANGEIRO
1. Estatuto dos Estrangeiros e Vistos............................................................ 175
2. Extradição, Expulsão e Deportação................... ....................................... 178
3. Asilo Político.......................... .......................................................................183
4. Refugio........................................................................................ ............... .184
5. Pessoas Jurídicas Estrangeiras................. ................................................185
CAPÍTULO XIII - PROCESSO CIVIL INTERNACIONAL
1. Aplicação da Lei Estrangeira .....................................................................187
2. Competência Internacional no Brasil.............................................. ....... 188
2.1. Competência Concorrente......................................................... ........... 188
2.2. Competência Absoluta.................................................... ...................... . 189
3. Sentença Estrangeira e Cooperação Internacional..................................191
3.1. Cartas Rogatórias.............................................. .......................... ......... 191
3.2. Homologação de Sentenças Estrangeiras e Exequatur...................... 193
3.3. Precedentes Jurisprudenciais envolvendo Homologação de
Sentenças Estrangeiras pelo STJ.......................... ........................................ 195
CAPÍTULO XIV - PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS E
CONVENÇÃO DE NOVA IORQUE
1. Noções Gerais segundo o Decreto Legislativo n 10/58 e o
Decreto n 56.826/65. Hipóteses de Procedimento.......................................201
2. Competência da Justiça Federal.............. ........................ ........................203
Resolução STJ n. 9/2005............................. ............................................... 205
Q uestões......................................................................................................... 209

10
Direito Internacional

Capítulo I

DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO

1 introdução à disciplina

1.1 Origens e evolução histórica


A origem do Direito Internacional Público (DIP) é contem­
porânea ao nascimento do próprio Estado. O Direito das Gentes, como era
chamado o DIP, nasceu no século XV com a formação dos Estados
Nacionais, de cunho absolutista. Todavia, foi a partir do século XVI, com
o lançamento dos ensaios do holandês Hugo Grotius (De Jure Belli ac
Pacis e De Jure Praedae) que a disciplina conquistou espaço no universo
jurídico5.
A doutrina especializada distingue 2 (dois) diferentes
períodos na evolução do Direito Internacional Público: o sistema clássico
(1648-1918) e o moderno (após o término da Primeira Guerra Mundial)2.
“O sistema clássico foi baseado no reconhecimento do
Estado soberano como o único sujeito do DIP”3 e distingue-se pelos
seguintes aspectos:

1 SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de Direito Internacional Público. São Paulo, Editora
Atlas, 2002, pg 28.
2 JO, Hee Moon. introdução ao Direito Internacional. São Paulo: LTr, 2000, pp. 52 e 65.
3 JO, op. cit., p. 52.

11
(I) característica européia, em face do período de colo­
nização;
(II) aplicação dos princípios da pacta sant servada nas
obrigações internacionais, da soberania territorial, da
imunidade estatal e das regras de proteção diplomática;
(III) aceitação do uso ilimitado de força e de guerra como
direito inerente ao Estado, facilitando a aceitação da idéia de
anexação de território estrangeiro conquistado e da
colonização dos novos continentes4.
Já o sistema moderno é marcado pelas seguintes carac­
terísticas:
(I) desvinculação das características européias, ou seja, uni­
versalização do DIP, apesar de muitas normas do DIP
clássico terem sido mantidas;
(II) manutenção da paz e segurança internacionais por meio
da organização sistemática da sociedade internacional;
(III) surgimento de novas áreas do DIP, como direito inter­
nacional econômico, direitos humanos, direito internacional
ambiental, etc.
Em verdade, foi com o final da Primeira Guerra Mundial
(1918), a partir da instituição da Liga das Nações e da criação da Orga­
nização Internacional do Trabalho, que o Direito Internacional Público
ganhou notoriedade no contexto internacional. É a partir desse momento
histórico que o DIP começa a ser visto como um sistema normativo com
o objetivo de instituir o dever jurídico de cooperação entre entidades
autônomas (Estados).
Houve uma transformação fundamental no sistema legal
vigente àquela época, objetivando reorganizar a comunidade interna­
cional de modo a impedir o uso de força como meio de coação e criação
de direitos. Sob o ponto de vista histórico-político, esses períodos podem
ser divididos da seguinte forma: (I) da Revolução Russa até a criação da
ONU; (II) do estabelecimento da ONU até o período de descolonização

4 É importante lembrar que, atualmente, essa regra foi proibida pela Carta da ONU, que não permite
o uso da força para intervenção em assuntos internos dos Estados.

12
Direito Internacional

da Ásia e da África (1945-1960); (III) da expansão da comunidade


internacional até o fim da Guerra Fria, marcada pela dissolução da União
Soviética (1960-89); e (IV) da dissolução até hoje.
Um dos principais efeitos práticos da nova concepção de
Direito Internacional Público, inclinado para a regulamentação da paz e
fundamentado no princípio da não-intervenção e na democratização de
direitos, foi a criação de uma diplomacia multilateral institucionalizada,
com atuação marcante em diversos fóruns de debate, dentre os quais se
destacam: a ONU (Organização das Nações Unidas), a OMC
(Organização Mundial do Comércio) e a OMS (Organização das Mundial
da Saúde). Além disso, é importante sublinhar a sua influência na
extemalização de disciplinas jurídicas antes restritas ao direito interno de
cada país, como por exemplo, o Direito Penal Internacional e o Direito
Processual Internacional,5
Na atualidade, a grande característica do Direito Inter­
nacional Público é a sua enorme expansão, tanto relativamente à extensão
de assuntos sob sua égide, quanto ao vigor em direção à maior eficácia de
suas normas.
Ainda nesse particular, é interessante destacar que a socie­
dade internacional, ao contrário das comunidades internas de cada nação,
é organizada de forma descentralizada. Disso resulta que, teoricamente,
no plano internacional, não há autoridade superior, nem sujeitos
dominantes.
Os Estados soberanos organizam-se num plano horizontal
de autonomia, prontifícando-se a proceder de acordo com determinadas
normas jurídicas, na medida de seu consentimento. A criação das normas
de Direito Internacional Público é, assim, obra direta de seus desti­
natários. Dessa forma, entende-se que as normas vigentes entre os
Estados pressupõem a existência de uma ordem de coordenação, e não de
subordinação, como ocorre no direito interno6.
Essa análise, no entanto, não está isenta de críticas, tendo
em vista que a teorização da igualdade soberana entre todos os Estados é
um postulado jurídico que enfrenta notória dificuldade em sua aplicação
prática. Note-se, por exemplo, a árdua tarefa na aplicação de sanções a

5 SOARES, op. clt., pp. 32 e 33.


6 REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público. 10a ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 01.

13
qualquer dos cinco Estados que detêm o poder de veto no Conselho de
Segurança da ONU (China, França, Rússia, Grã-Bretanha e Estados
Unidos).

1.2 Conceito
O conceito e o conteúdo abrangido pelo Direito Inter­
nacional Público podem variar conforme o critério adotado pelo
doutrinador estudado. Para oferecer uma visão sistemática do assunto,
adotaremos definições comuns à grande maioria da doutrina
especializada.
Até fins do século XIX, a doutrina somente atribuía a
condição de sujeito do DIP aos Estados. Nesse sentido, Pimenta Bueno
(1863) afirmou “o direito internacional público ou das gentes, jus
gentium publicum ou jus publicum intergentes ^ é o complexo dos
princípios, normas, máximas, atos ou usos reconhecidos como
reguladores das relações de nação a nação, ou de Estado a Estado, como
tais, reguladores que devem ser atendidos tanto por justiça como para
segurança e bem-ser comum dos povos ”
Na acepção clássica de Direito Internacional Público, o
Estado era visto como um ente soberano, soberbo, o único sujeito capaz
de criar direitos e gerar obrigações no âmbito internacional, motivo pelo
qual o Estado está sempre presente nas conceituaçoes iniciais da
disciplina. A explicação histórica para essa visão centralizadora encontra-
se na idéia de que, por muito tempo, o Estado foi visto como detentor de
um poder supremo, ilimitado.
Todavia, essa noção de soberania incondicionada não é mais
absoluta, eis que, atualmente, o exercício do poder do Estado se encontra
limitado por fatores e normas externas a sua própria vontade, como por
exemplo, pelos compromissos assumidos na esfera internacional e pelas
normas de DIP7. Nesse contexto e com a evolução da disciplina, passou-
se a incorporar ao lado do Estado, as organizações internacionais
enquanto sujeitos do DIP.

7 SEITENFUS, José Ricardo e VENTURA, Deisy. introdução ao Direito internacional Público. 1a


ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 1999, p 27.

14
Direito Internacional

Também a condição jurídica do homem - até então adstrita


ao direito interno - passou a ser objeto de estudo da disciplina
internacional, de modo que Nicolas Politis definiu: “DIP é o conjunto de
regras que governam as relações dos homens pertencentes aos vários
grupos nacionais”.
Para resumir a questão, a definição de Hildebrando
Accioly8 é bastante oportuna. Segundo ele, DIP “é o conjunto de
princípios e regras destinados a reger os direitos e deveres internacionais,
tanto dos Estados ou outros organismos análogos, quanto dos indivíduos”.

2 Objeto

Tradicionalmente, o campo de aplicação do DIP restringia-


se às relações diplomáticas, comercias e ao direito de guerra. No entanto,
tal como é conhecido na atualidade, o DIP apresenta uma função bastante
ampla. No entender da Corte Internacional de Justiça (CLJ), órgão jurídico
e consultivo da Organização das Nações Unidas, o DIP se constitui em
fator de organização da sociedade, de modo que deve atender a 2 (duas)
finalidades: (I) redução da anarquia das relações internacionais; (II)
satisfação de interesses comuns dos Estados.
De forma mais detalhada e com alicerce na lição de Charles
Roí sseau, podemos definir as funções do DIP a partir do seguinte tripé:
a) assegurar a divisão de competências entre os Estados
soberanos, estabelecendo base geográfica para o exercício de sua
jurisdição, não podendo, em regra, excéder esse limite;
b) impor obrigações aos Estados no exercício de suas
competências, limitando sua esfera de dlscricionariedade;
c) delimitar as competências das organizações inter­
nacionais.
Com o incremento das relações internacionais, comerciais e
econômicas entre os Estados, o alcance da disciplina ampliou-se

8 SILVA, G. E. do Nascimento e & ACCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito Internacional


Público. 13a ed. Sâo Paulo: Saraiva, 1998.

15
satisfatoriamente, passando também a regular direitos relativos ao meio
ambiente, ao comércio internacional, aos direitos humanos, ao direito do
consumidor, entre muitos outros.

3 Fontes

A doutrina divide a origem das fontes do DIP em duas


concepções: a positivista e a objetivista. A primeira, também chamada
voluntarista, é defendida pelos italianos, os quais entendem que a única
fonte do DIP é a “vontade comum dos Estados”, sendo que tal vontade se
encontra expressamente manifestada nos tratados e, de modo tácito, no
costume.
Essa concepção (positivista ou voluntarista), todavia, é
insuficiente para explicar a obrigatoriedade da norma costumeira, a qual
se toma cogente para os Estados-membros da sociedade internacional,
independentemente da manifestação de vontade destes9.
Em contraposição, a escola objetivista baseia-se na distinção
entre fontes formais e materiais. As fontes materiais seriam as
“verdadeiras fontes do Direito”, enquanto que as formais seriam apenas
“meios de comprovação”. Sendo assim, as fontes materiais seriam, por
exemplo, a tradição, a cultura, a história. Já as fontes formais do DIP, ou
seja, aquelas por meio das quais se expressa e comprova o direito, seriam
os tratados, os princípios gerais do direito e, secundariamente, a
jurisprudência e a doutrina.
Tradicionalmente, tem-se considerado como rol das fontes
formais do Direito Internacional Público a enumeração prevista no artigo
38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça:
A Corte, cuja função é decidir de acordo com o Direito
Internacional as controvérsias que lhe foram submetidas,
aplicará:
a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais,
que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos
Estados litigantes.

9 MELLO, Celso D. Albuquerque de. Curso de Direito internacional Público. Vol. 1,12a ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2000, p. 192.

16
Direito Internacional

b) o costume internacional, como prova da prática geral aceita


como sendo o direito;
c) os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações
civilizadas;
d) sob ressalva da disposição do art. 59, as decisões judiciárias
e a doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes
nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de
direito.

Ressalte-se, ainda, que doutrinadores modernos vêm


incluindo os atos unilaterais e as decisões tomadas por Organizações
Internacionais Intergovemamentais como fontes do DIP, apesar de tais
atos não se encontrarem listados no artigo 38 do Estatuto da Cortê. São
exemplos práticos de atos unilaterais a notificação, a renúncia e o
reconhecimento.
Saliente-se, no entanto, que tais atos não apresentam caráter
normativo, marcado pela abstração e generalidade. Ao mesmo tempo,
porém, é inegável que eles produzem conseqüências jurídicas, criando,
eventualmente, obrigações aos Estados.
Nesse sentido, é preciso analisar de forma crítica o rol de
fontes previsto no artigo 38 do Estatuto da Corte, lavrado em 1920,
quando apenas começava a se desenvolver o Direito Internacional
Público, não podendo ser estudado como um rol exaustivo.
Importante destacar que, a partir dos anos 60, a doutrina
intemacionalista tem se debruçado sobre o fenômeno da existência de
normas jurídicas com graus de normatividade menores que as
tradicionais, mas nem por isso menos significativas. A tais normas
denominou-se soft law, por oposição às tradicionais, que então passaram
a ser tratadas de hard law.10
O conceito de soft law emergiu a partir da relevância e da
atuação crescente da diplomacia multilateral, seja nos foros diplomáticos
de negociação, seja a partir de interpretações dadas aos tratados
multilaterais elaborados sob a égide das organizações intergover-
namentais.11

10 SOARES, op. clt., p. 136.


11 SOARES, op, cft., p. 137.
\

No sistema da soft law, o cumprimento das normas jurídicas


é meramente recomendado aos Estados, que podem, inclusive, não as
cumprir, sem que haja sanções aplicáveis aos inadimplentes. As
denominações dessas regras têm variado bastante, como por exemplo,
non binding agreements, gentlemen's agreements, códigos de conduta,
memorandos, declaração conjunta, declaração de princípios, ata final,
etc.12

3.1 Tratados
Entende-se por tratado o ato jurídico por meio do qual se
manifesta o acordo de vontades entre duas ou mais pessoas interna­
cionais13.
As Convenções de Viena de 1969 e 1986 estabeleceram as
normas pelas quais é regido o tratado no Direito Internacional Publico,
conceituando-o como “um acordo internacional celebrado por escrito
entre Estados regidos pelo Direito Internacional, quer inserido num único
instrumento, quer em dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que
seja a sua designação específica” (art. 2, item 1, da Convenção de 1969).
Essa Convenção foi assinada pelo Brasil em 1980, e ratificada em 25 de
setembro de 2009 (Decreto 7.030, de 14 de dezembro de 2009).
De acordo com o texto da Convenção de Viena, com­
preende-se que a palavra tratado designa um acordo regido pelo direito
internacional, qualquer que seja a sua denominação. Nesse sentido,
tratado seria a designação genérica, onde estão abrangidas as expressões:
convenção, convênio, protocolo, compromisso, etc.
Apesar disso, algumas diferenciações têm sido utilizadas
para a designação dos diferentes tratados, de acordo com sua hierarquia e
finalidade, tais como:

12 SOARES, op. cit, p. 138,


13 SILVA & ACCIOLY, op. cit., p. 23.
Direito Internacional

Expressão 1 Designação

Carta Designa tratados hierarquicamente supe­


riores, os quais dispõem sobre a criação
de entidades internacionais, como por
exemplo a Carta da ONU.
Convenção | Vem sendo utilizada nos principais
tratados multilaterais de característica
normativa, como a Convenção de Viena
sobre Direito dos Tratados (1969).
Acordo Utilizado quando o número de partes é
baixo e sua forma é simples. Possui
característica administrativa e técnica.
Ajuste ou Acordo Complementar j Ato que possibilita a execução de outro
anterior, devidamente concluído. Em
I geral, são colocados ao abrigo de um
j acordo-quadro ou acordo-básico.

Acordo por Troca de Notas j Empregado para assuntos de natureza


administrativa, bem como para alterar ou
1 interpretar cláusulas de atos já
concluídos.

Memorando de Entendimento Utilizado para registrar princípios gerais


que orientarão as relações entre as
Partes, seja nos planos político,
econômico, cultural ou em outros.

Protocolo | Usualmente, designa o documento que


visa a dirimir questões adicionais,
; complementares e interpretativas de
tratados ou convenções anteriores. É
utilizado ainda para designar a ata final
de uma conferência internacional.

Protocolo de Entendimento Ato de menor hierarquia que não encerra


um acordo de vontades, mas apenas um
início de compromisso.

Concordata Teimo reservado ao tratado bilateral em


que uma das partes é a Santa Sé.

19
Essas denominações, contudo, não têm influência sobre o
conteúdo do tratado, podendo variar de acordo com a escolha dos
Estados-membros. Portanto, a utilização das expressões é, de certa forma,
livre.
O capítulo III tratará mais detalhadamente acerca dos
tratados internacionais.

3.2 Costume
O costume adquire papel fundamental enquanto fonte do
DIP, uma vez que muitas das relações de direito internacional não se
encontram normatizadas. E, por excelência, a fonte formadora das normas
de DIP.
Segundo a doutrina, para a formação do costume interna­
cional é indispensável a existência de 2 (dois) elementos: um de ordem
material e outro de caráter subjetivo.
O elemento material do costume está consubstanciado na
prática, na repetição ao longo do tempo de um certo modo de proceder
ante a determinado quadro fático. Essa prática reiterada pode ser omissiva
ou comissiva e aplica-se a quaisquer sujeitos na esfera do Direito
Internacional Público. Não há transcurso de tempo pré-determinado para
a sua formação, devendo ser analisado caso a caso. Nesse sentido, já se
manifestou a Corte Internacional de Justiça no julgamento do Caso da
Plataforma Continental do Mar do Norte: “o transcurso de um período de
tempo reduzido não é necessariamente, ou não constitui em si mesmo, um
impedimento à formação de uma nova norma de direito consue-
tudinário”14.
O elemento subjetivo do costume internacional (Opinio
Juris) é o entendimento, a convicção, a crença de que a atitude prática se
estima obrigatória por ser necessária, correta, justa, e por assim dizer,
digna do bom direito. Do contrário, qualquer conduta internacional
reiterada por qualquer Estado durante um certo lapso temporal, por
comodismo, hábito ou praxe, se enquadraria nessa definição, formando
assim uma nova norma costumeira.

14 REZEK, op. cit.,p. 119.

20
Direito Internacional

A formação de um costume internacional não necessita de


que determinada conduta seja praticada reiteradamente por todos os
membros da comunidade internacional, assim como não precisa que todos
a considerem como justa e correta. Impõe-se, todavia, por uma questão de
bom senso, a existência de uma pluralidade de Estados que adotem a
prática.15
Inúmeras situações encontram-se satisfatoriamente regu­
ladas pelo direito costumeiro, de modo que não se vislumbra a
necessidade de sua codificação. Tanto é assim que é de praxe a adoção
pelas Convenções do seguinte preâmbulo: “afirmando que as regras de
direito internacional consuetudinário continuarão a reger as questões que
não forem reguladas nas disposições da presente Convenção”. 6
Não há desnível hierárquico entre normais costumeiras e
convencionais. Logo, um tratado é idôneo para derrogar, entre as partes
celebrantes, certo norma costumeira. De igual modo, pode um costume
derrogar a norma expressa de um tratado.17
No entanto, é preciso esclarecer que, em termos de
operacionalidade e segurança, os tratados primam sobre os costumes, uma
vez que, muitas vezes, é árdua e nebulosa a tarefa de verificar a data de
surgimento do costume, as partes obrigadas, a profundidade das
obrigações, etc. Busca-se, materialmente, a prova do costume em atos
estatais, via de regra, aqueles que compõem a prática diplomática, e ainda
nos textos legais e nas decisões judiciárias que disponham sobre temas de
interesse do direito das gentes18.
Geralmente é com base em normas costumeiras que se
estabelecem as bases estruturais de um tratado ou convenção
internacional. Da mesma forma, algumas convenções internacionais de
grande relevância não ratificadas pelas partes são consideradas pela
doutrina como direito consuetudinário. Um exemplo interessante dessa
hipótese é o Caso da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados,
datada de 1969, que é obrigatória por força contratual àqueles Estados
que a ratificaram e costumeira para aqueles que não o fizeram.

15 REZEK, op. cit., p, 120.


18 SOARES, op. cit., p. 85.
,7 REZEK, op. cit., p. 124.
18 REZEK, op. Cit., p. 125.

21
3.3 Princípios gerais do direito
A doutrina destaca que, dentre as fontes de DIP citadas pelo
artigo 38 do Estatuto da CIJ {vide item 3 do presente capítulo), os
princípios gerais do direito são os mais vagos, os de mais difícil
caracterização19. Tais princípios seriam aqueles aceitos por todas as
nações in foro doméstico, dentre os quais poderíamos destacar o princípio
da boa fé, da não-agressão, da solução pacífica dos litígios, da
continuidade do Estado, da autodeterminação dos povos, do desarma­
mento, pacta sunt servanda e rebus sic stantibus.
Na prática, há exemplos da utilização dos princípios gerais
do direito como fundamento de decisões. No Caso Chorzów Factory
(1927), a Corte Permanente de Justiça Internacional (antecessora da Corte
Internacional de Justiça) declarou que “é um princípio de direito
internacional, e até mesmo um princípio geral do direito, que qualquer
quebra a um acordo acarreta a obrigação de indenização”.

3.4 Jurisprudência e doutrina


A alínea d do art. 38 do Estatuto da Corte menciona as
decisões judiciárias e a doutrina como fontes do DIP. Essa diretriz está
sujeita ao disposto no art. 59 do mesmo Estatuto, que determina que “a
decisão da Corte não é obrigatória senão para as partes em litígio e em
relação a esse caso específico”. Isso significa que os tribunais não estão
obrigados a seguir as decisões anteriores relativas à mesma questão de
direito (stare decisis doctrine).
Pela expressão decisões judiciárias, entende-se a juris­
prudência dos tribunais arbitrais, além das decisões dos tribunais e
organizações internacionais. Sua importância vem do fato de que a
jurisprudência contribui para o desenvolvimento da disciplina, uma vez
que interpreta e esclarece as disposições de tratados internacionais e das
normas costumeiras. Dentre as decisões judiciárias, aquelas emanadas da
CIJ são consideradas as de maior relevância para a interpretação das
normas na esfera internacional.
Quanto à doutrina, sua caracterização como fonte do DIP é
bastante contestada, contudo, não se pode negar sua importância na
interpretação dos textos convencionais, que muitas vezes não são
devidamente claros e precisos.

19 SILVA & ACCIÓLY, op. cit, p. 7.

22
Direito Internacional

Na verdade, tem-se concebido que a jurisprudência e a


doutrina não são formas de expressão do direito, mas sim instrumentos
úteis a sua correta interpretação. Já a eqüidade e a analogia, por seus
turnos, são métodos de raciocínio jurídico, critérios norteadores do
julgador face à insuficiência do direito ou a completa obscuridade
normativa para o julgamento de um caso concreto20. Sublinhe-se,
entretanto, que, para a utilização da eqüidade pelas Cortes Internacionais,
é imprescindível a autorização das partes envolvidas21.

20 REZEK, op. cfL, p. 145.


21 O Estatuto da CIJ dispõe em seu artigo 38 que o recurso à eqüidade depende da aquiescência
das partes litigantes.
Direito Internacional

Capítulo 11

PERSONALIDADE INTERNACIONAL

1 Conceito

No direito internacional, o “reconhecimento da perso­


nalidade internacional significa o reconhecimento de sua existência legal
na sociedade internacional”22.
Como vimos, no DIP Clássico, somente os Estados
figuravam como sujeitos de direitos e obrigações. Atualmente, além dos
Estados, outros entes figuram como sujeitos de DIP, sendo eles as
organizações internacionais e os indivíduos.

2 Capacidade de ação e personalidade

A capacidade de ação decorre do reconhecimento da


personalidade jurídica de um determinado ente, eis que a capacidade é o
“poder de intervir por si mesmo”. Contudo, o exercício de direitos e
deveres poderá sofrer limitações, na medida da capacidade conferida a

22 JO, op. cit, p. 186.

25 \
1

um determinado ente pelo Direito Internacional. A capacidade, portanto,


varia de um ente para outro.
A capacidade dos Estados é assegurada a partir de sua
constituição, desde que haja soberania e independência para tomar
decisões. Percebe-se» assim, que a independência e a soberania são
elementos indispensáveis para assegurar a capacidade do Estado para
figurar como sujeito de direitos e deveres no âmbito internacional. A
justificativa lógica para essa afirmação decorre do fato de que um Estado
não poderá se encontrar subordinado a outro para manter relações
jurídicas na comunidade internacional.
No que se refere às organizações internacionais, sua
personalidade já foi reconhecida pela Corte Internacional de Justiça.
Assim como as empresas no âmbito do direito interno, as organizações
internacionais possuem personalidade independentemente de seus
membros.
No entanto, o exercício de sua capacidade de ação - que,
comovimos, é uma conseqüência da personalidade internacional -
dependerádo que dispõem seus acordos constitutivos. Assim, o
reconhecimento da personalidade de uma organização não significa,
necessariamente, que ela possui capacidade para concluir tratados, por
exemplo.
As organizações exercem, portanto, uma “capacidade legal
internacional limitada”, de acordo com as delimitações estabelecidas por
seu tratado constitutivo. Além disso, o âmbito de exercício da capacidade
da organização está adstrito aos países que a reconhecem23 e é resultante
da vontade de seus membros (capacidade derivada).
Por fim, relativamente à capacidade de ação dos indivíduos
na esfera internacional, ainda não há consenso acerca dos direitos e
deveres que eles gozam no DIP. O entendimento majoritário da doutrina é
de que a capacidade do indivíduo estende-se até o limite permitido pelas
normas internacionais aplicáveis diretamente a ele. Ou seja, no momento
em que uma norma internacional confere a possibilidade do exercício de
determinados direitos diretamente pelo indivíduo, aí está a delimitação de
sua capacidade.

23 JO, op. cit. p. 18Ô.

26
Direito Internacional

Exemplo prático desse entendimento é a permissão do


acesso de indivíduos a alguns tribunais internacionais, para proteção de
seus direitos. Apesar de a CIJ não aceitar demandas propostas por
indivíduos, outros tribunais o fazem, dentre eles, o ICSID (tribunal
arbitrai ad hoc do Banco Mundial), a Corte Permanente de Arbitragem,
em Haia, o Sistema de Resolução de Controvérsias estabelecido no
NAFTA e a Corte Européia de Direitos Humanos.

3 Pessoas internacionais

3.1Estados
O Estado é, sem dúvida, o ente mais participativo nas
relações regidas pelo direito internacional. Diversos são os conceitos de
Estado, vejamos alguns:
“Estado soberano independente é aquele que tem exclu­
sividade, autonomia e plenitude de competência, sendo que
todas as noções devem ser interpretadas dentro do quadro
geral do Direito Internacional" (Rousseau).
“Estado sujeito do Direito Internacional é aquele que reúne três
elementos indispensáveis para a sua formação: população
{composta de nacionais e estrangeiros), territórios (ele não
precisa ser completamente definido, sendo que a ONU tem
admitido Estados com questões de fronteira, como por exemplo,
Israel) e govemo (deve ser efetivo e estável). Todavia, o Estado
pessoa internacional plena é aquele que possui soberania"
(Celso D. Albuquerque de Mello, 1997, vol. I, p. 329).
H0 Estado, personalidade originária de direito internacional
público, ostenta três elementos conjugados: uma base
territorial, uma comunidade humana estabelecida sobre essa
área, e uma forma de governo não subordinado a qualquer
autoridade exterior” (J.F. Rezek, 2005, p. 161).

Para melhor compreensão, dividiremos o presente estudo


nos seguintes itens:
a) Elementos Constitutivos do Estado
b) Classificação dos Estados

27
c) Nascimento e Reconhecimento do Estado
d) Extinção do Estado
e) Sucessão de Estados
a) Elementos Constitutivos do Estado - Conforme
estabelece a Convenção Interamericana sobre os Direitos e Deveres dos
Estados, firmada em Montevidéu, em 1933, são quatro os elementos
constitutivos do Estado: a) população permanente; b) território; c)
governo; d) capacidade de entrar em relação com os demais Estados,
a.l) População', trata-se do conjunto de indivíduos,
nacionais ou estrangeiros, que habitam o território ém determinado
momento. É, pois, um conceito aritmético, quantitativo, de modo que não
se confunde com o conceito de povo, que se refere à coletividade
determinada pelo aspecto social.
A população estatal moderna é de natureza sedentária,
estabilizada no interior das fronteiras do território de determinado Estado.
A idéia de uma população nômade não condiz com a realidade
internacional. A maioria dos governos confrontados com problemas do
nomadismo transfronteiriço pratica políticas, por vezes brutais, de
sedentarização dos grupos nômades. No entanto, é importante destacar
que um Estado não perde sua qualidade porque pratica ou favorece uma
política de emigração maciça de sua população ou porque permite uma
ímigraçao estrangeira importante. 24
O elemento humano garante a manifestação do princípio da
continuidade do Estado.
a.2) Território: A noção conceituai de território relaciona-
se a uma área terrestre, somada àqueles espaços hídricos de interesse
puramente interno, como os rios e lagos que se circunscrevem no interior
dessa área sólida. Sobre o território, o Estado soberano exerce jurisdição
geral e exclusiva, no sentido de que possui domínio territorial sobre todas
as competências de ordem legislativa, administrativa e jurisdicional e que
não enfrenta concorrência de qualquer outra soberania.

24 DINH, Nguyen Quoc, DAILUER, Daillier e PELLET, Aían. Direito internacional Púbiico,
Fundação Calouste Gulbenkian, 1999, p. 374.

28
Direito Internacional

O requisito referente à existência de um território


determinado não significa que o território do Estado deva estar
absolutamente delimitado. Um Estado poderá ser reconhecido
internacionalmente mesmo que suas fronteiras não estejam perfeitamente
definidas. Além disso, a extensão ou tamanho do território não influi
sobre o reconhecimento da personalidade internacional.
A delimitação territorial de um Estado geralmente ocorre
por meio do estabelecimento de fronteiras com base em linhas limítrofes
artificiais ou naturais. A primeira caracteriza-se pela utilização de linhas
geodésicas (paralelos e meridianos), ou qualquer arranjo ou combinação
que se fundamente à base delas. A segunda relaciona-se ao aproveita­
mento de rios e cordilheiras como formas naturais de determinar as
fronteiras de Estados vizinhos. O critério natural prevalece sobre o
artificial, quando a natureza assim o permite, como por exemplo, no
estabelecimento da fronteira entre Argentina e Chile, com base na
Cordilheira dos Andes.
a.3) Governo e Capacidade de manter relações: são
exigências que se completam, pois é necessária a existência de um
govemo não-subordinado, ou seja, soberano, para que o Estado possa
exercer sua capacidade de ação no cenário internacional. Não basta a
existência de território bem delimitado, população estável, sujeita à
autoridade de um govemo para identificar o Estado enquanto sujeito do
Direito Internacional, é preciso encontrar a noção de ente soberano, com
competências igualitárias a qualquer outro Estado da comunidade
internacional.
Importante destacar que a idéia de autonomia não se
confunde com a de soberania, da mesma forma que o conceito de
Confederação não se eqüivale ao de Federação. O primeiro indica a
reunião de Estados Soberanos em tomo de interesses comuns, sejam
políticos, econômicos ou geopolíticos, sem, no entanto, abdicarem de sua
soberania. O segundo, por sua vez, refere-se à união de estados
autônomos na qual há a cessão da suas soberanias para um centro de
poder único (União Federal), mantendo-se, todavia, um grau variável de
autonomia.
b) Classificação dos Estados — A maioria dos
intemacionalistas classifica os Estados com base na sua estrutura,
designando-os como Estados simples ou Estados compostos.

29 \
Os Estados simples caracterizam-se pelos seguintes
atributos: são plenamente soberanos e representam um todo homogêneo e
indivisível, sendo que não há divisão interna de autonomias. Trata-se da
forma mais comum de Estado.
Os Estados compostos dividem-se em: (I) Estados
compostos por subordinação; e (II) Estados compostos por coordenação.
Os compostos por subordinação referem-se a grupos de Estados que não
se encontram em situação de igualdade, não possuem plena autonomia e
não possuem pleno gozo de alguns direitos (eram os chamados Estados
vassalo, protetorado ou Estado cliente). Tais Estados não mais existem na
atualidade. Exemplo dessa situação era a da URSS com os países satélites
(Polônia, Hungria, Romência, etc.), onde havia controle por parte da
URSS relativamente a aspectos econômicos, militares e comerciais.
Já os Estados compostos por coordenação ocorrem a partir
da associação de Estados soberanos, em situação de igualdade. Exemplo
dessa situação é a confederação de Estados, onde se busca determinado
fim especial a partir da associação. Esse fim especial pode ser, por
exemplo, a defesa dos Estados ou a proteção de interesses comuns.
Geralmente há uma autoridade central, chamada Dieta, a qual não se
constitui em poder supremo, mas apenas em uma assembléia cujas
decisões são tomadas por unanimidade. Atualmente também não há
exemplos de confederações de Estados, mas podemos destacar a
Confederação Americana, que existiu no período de 1781 a 1789.
Dentre os Estados compostos por coordenação, a doutrina
destaca ainda o Estado federal ou federação de Estados. Trata-se da
união permanente de Estados onde cada um conserva sua autonomia
interna enquanto que a soberania externa é exercida pelo governo federal.
A autonomia interna dos Estados é, contudo, limitada pela constituição
federal. Desde a Constituição de 1891, o Brasil é um Estado federal.
c) Nascimento e Reconhecimento do Estado - o na
do Estado decorre da reunião de seus elementos constitutivos, conforme
vimos no item a. Contudo, a simples reunião dos elementos não permite,
por si só, o nascimento do Estado, sendo necessário um elemento de
conexão entre eles. A doutrina cita como “elementos de conexão” a
nacionalidade e os fatores econômicos (capacidade de sobrevivência por
seus próprios meios).

30
Direito Internacional

Pode-se'considerar que o surgimento de um Estado se dá


por uma das seguintes formas: (I) separação de parte da população e
território de um Estado (exemplo: Brasil e Estados Unidos, que surgiram
após sua libertação da condição de colônias); (II) dissolução total de um
Estado, não subsistindo sua antiga personalidade (exemplo:
desmembramento da URSS); (IH) fusão para criação de um Estado novo
(exemplo: Itália que surgiu da fusão, em 1860, de Modena, Parma,
Toscana e Reino de Nápoles, os quais foram incorporados ao Piemonte
para formar um novo país).
O reconhecimento é um ato unilateral, por meio do qual se
declara a aquisição da condição de Estado. É, portanto, um ato de
liberalidade, orientado pelos objetivos políticos do próprio Estado.
Contudo, para que um Estado passe a possuir direitos e obrigações
perante a sociedade internacional é necessário o seu reconhecimento
pelos demais Estados existentes.
É importante compreender que o fato de um determinado
Estado não reconhecer um outro não significa que este não possua
personalidade, mas tão somente que aquele Estado não o reconhece e não
deseja manter relações com este. Nesse sentido, o reconhecimento dos
demais Estados não é ato constitutivo, mas sim declaratório da qualidade
do Estado como sujeito do Direito Internacional Público.
É preciso atentar ao fato de que, segundo o direito
costumeiro, é possível que certo Estado negocie em conferência, assine
ou ratifique tratados coletivos, ou deles seja parte, sem reconhecer todos
os outros pactuantes. O reconhecimento mútuo é requisito apenas para
celebração de tratados bilaterais, não de multilaterais.
Os meios de reconhecimento de um Estado são:
(I) expresso (declaração, notificação, dispositivo em
tratado); ou tácito (por exemplo, por meio do estabele­
cimento oficial de relações diplomáticas);
(II) individual (realizado individualmente por cada Estado);
ou coletivo (por meio de dispositivo em um tratado
multilateral ou declaração coletiva);
(IIÍ) de facto (provisório e limitado); ou de jure (definitivo e
completo).

31
Matéria de interessante análise é aquela relativa aos Micro-
Estados. São aqueles Estados que dispõem de um território mais ou
menos exíguo, como por exemplo, Andorra (467 Km2), Liechtenstein
(160 Km2), São Marino (61 Km2), Mônaco (menos de 2Km2) e com uma
população inferior a quarenta mil pessoas, todavia, com instituições
políticas estáveis e regimes organizados.
O que diferencia os Micro-Estados dos demais Estados da
comunidade internacional é que, em razão da hipossuficiência ocasionada
pela pequena dimensão territorial e demográfica, partes de sua
competência (defesa nacional, emissão de moeda) são confiadas a outrem,
normalmente a um Estado vizinho, como a França no caso de Mônaco; a
Itália, no caso de São Marino; e a Suíça no caso de Liechtenstein25.
c.l) Reconhecimento de Govemo: o reconhecimento do
Estado não deve se confundir com o reconhecimento de govemo. Uma
ruptura na ordem política, como uma revolução ou golpe de estado pode
determinar a instauração no país de uma nova forma de poder, à margem
das prescrições constitucionais pertinentes à renovação do quadro de
condutores políticos26. Por exemplo, quando as modificações de um
Estado se dão em violação a sua Constituição, os governos resultantes de
golpes precisam ser reconhecidos pelos demais Estados. São exemplos
típicos: os Golpes de Estado ocorridos no Brasil em 1930 e 1964 e na
Argentina em 1966.
Importante atentar para o fato de que o reconhecimento de
um Estado, em regra, implica no reconhecimento do govemo que se
encontra no poder naquele momento. Contudo, “se a forma de govemo
muda, isto não altera o reconhecimento do Estado: só o novo govemo terá
necessidade de novo reconhecimento”27. Os meios de reconhecimento do
govemo também podem se dar de forma tácita ou expressa; de facto ou de
jure.
c.2) Reconhecimento de beligerância e insurgência: o
reconhecimento de beligerância ocorre quando parte da população se
revolta para criar um novo Estado ou então modificar a forma de govemo
existente, sendo que tal “revolta” evolui ao nível de uma guerra
internacional. Nesse caso, os demais Estados podem passar a considerar

26 REZEK, op. cit., p. 239.


28 REZEK, op. clt., p. 224.
27 ACCIOLY, op. clt-, p. 87.

32
Direito Internacional

as “partes” do conflito em condições de igualdade jurídica, reconhe­


cendo-lhes a condição de beligerantes. Seu principal efeito é o do
reconhecimento dos direitos e deveres de um Estado ao grupo de
beligerantes, os quais deverão, por exemplo, respeitar normas de guerra.
Já o reconhecimento de insurgência ocorre quando há uma
situação que assume proporções de guerra civil, sem, contudo haver o
reconhecimento de seu caráter jurídico, mas de simples situação de fato.
O seu reconhecimento não implica em direitos e deveres especiais, mas
os insurretos não poderão ser tratados como ilegais pelos governos que os
reconheçam.
d) Extinção do Estado - não há no DIP um entendimento
pacífico sobre como se dá a extinção de um Estado. Logicamente, uma
vez que a criação do Estado se dá pela reunião de seus elementos
constitutivos, sua extinção decorreria do desaparecimento de um deles
(exemplo: êxodo total da população). Sendo assim, as hipóteses de
criação de novos Estados enumeradas no item c podem corresponder
igualmente à extinção de um Estado, seja pela sua absorção completa de
um Estado por outro, pelo desmembramento para formação de novos
Estados ou pela fusão de Estados. Saliente-se que, atualmente, a Carta das
Nações Unidas proíbe a anexação e transformação de um Estado em
colônia.
e) Sucessão de Estados ~ Quando se aborda o fenômeno
sucessório no âmbito do direito internacional público é necessário
destacar a existência do princípio da continuidade do Estado. Segundo
essa máxima, o Estado, pelo fato de existir, tende a continuar existindo,
ainda que sob outra roupagem política e até mesmo quando ocorram
modificações expressivas na titularidade de sua soberania28. Em outras
palavras, é com base nesse princípio que se estabelecerão as regras gerais
sobre os efeitos jurídicos decorrentes da sucessão de Estados.
Segundo as Convenções de Viena de 1978 e 1983, a
sucessão de Estados se dá pela substituição de um Estado (predecessor)
por outro (sucessor) nas suas responsabilidades internacionais. As
modalidades de sucessão são classificadas da seguinte maneira: (I) pela
fusão ou agregação de Estados; (II) pela secessão ou desmembramento de
Estados; ou (III) pela transferência territorial.

28 REZEK, op. cit., p. 289.

33 \
Quanto aos efeitos jurídicos da sucessão de Estados,
vejamos:
e.l) Sucessão em matéria de Tratados: regulada pela
Convenção de Viena sobre Sucessão de Estados em Matéria de Tratados,
de 1978. A regra geral é de que a sucessão de Estados não afeta os
tratados que se referem aos direitos sobre o território (tratados
dispositivos). Essa regra pode, contudo, variar de acordo com a mudança
territorial ocorrida. Assim, quando um novo Estado é formado pela
sucessão do território de um outro, o novo Estado sucede
automaticamente o Estado predecessor (art. 34). Também quando há
fusão de dois ou mais Estados, os tratados firmados pelos Estados
predecessores continuam vigentes no território ao qual eram aplicados
antes da fusão, salvo algumas exceções previstas no art. 31. Um Estado
apenas sucede num tratado bilateral se o outro Estado e o novo
concordarem (art. 24). Por fim, a condição de membro de uma
organização internacional, em princípio, não se sucede.
e.2) Sucessão em Matéria de Bens: regulada pelos artigos 7
a 18 da Convenção. Caso haja sucessão da totalidade do território,
sucede-se toda a propriedade pública, ou seja, todos os bens do Estado
predecessor. A convenção estabelece que, salvo disposição em contrário,
a passagem dos bens ocorrerá sem compensação ou pagamento. Se
houver sucessão apenas de parte do território, os imóveis relativos àquela
porção do território passarão ao sucessor, assim como os móveis
vinculados às atividades desenvolvida nessa porção do território, salvo
disposição em contrário.
e.3) Sucessão em Matéria de Arquivos: salvo estipulação
em contrário, os arquivos (documentos) transferem-se ao sucessor (arts.
20 a 24).
e.4) Sucessão em matéria de Dívidas: regulada pelos arts. 32
a 41 da Convenção. A regra geral é de que a sucessão não influencia os
direitos dos credores. Sendo assim:
*4>Se o Estado sucessor anexa totalidade do território do
predecessor - deve-se cumprir com os deveres perante os
credores da dívida do predecessor;
't S e o Estado predecessor perde parte de seu território - o
Estado sucessor assume parte da dívida do predecessor;

34
Direito Internacional

^ S e o Estado predecessor perde totalidade do território em


razão de desmembramento em vários Estados - a dívida
deve ser assumida por cada um dos Estados, conforme
disposições do tratado.
e.5) Nacionalidade: em regra, não se aplica o princípio da
continuidade no que se refere à nacionalidade. Os Estados envolvidos
regularão essa questão por tratado ou na legislação interna. Em
determinados casos, poderá se dar liberdade aos indivíduos para decidir
sobre a escolha da nacionalidade.

3.2 Organismos internacionais


As normas internacionais não conceituam o termo
“organização internacional”, de modo que sua definição tem sido dada
pela doutrina. No entanto, suas diferenças em relação ao Estado, como
sujeito do Direito Internacional Público, são gritantes, seja em relação aos
seus objetivos, seja em relação ao seu aparato organizacional.
Alguns elementos principais dos conceitos trazidos pelos
estudiosos são:
a) associação voluntária, isto é, nenhum Estado é obrigado
a participar de uma organização internacional;
b) formada por sujeitos de Direito Internacional (os sujeitos
são os Estados, que passam a ser denominados membros). Algumas
organizações aceitam membros classificados como observadores,
associados e afiliados, dentre os quais poderão se incluir entidades não-
govemamentais e Estados ou territórios não-independentes;
c) constituída por ato de Direito Internacional, ou seja,
tratados internacionais que adquirem um aspecto de norma constitucional
da organização;
d) de atuação estável segundo normas de Direito
Internacional, o que as confere a condição de ente com personalidade
internacional;
e) com ordenamento, órgãos e institutos próprios;
f) que realiza finalidades comuns de acordo com os poderes
conferidos por seus membros, os quais se encontram definidos no tratado
que criou a organização;

35
g) em virtude de seu estatuto jurídico, tem capacidade de
concluir acordos internacionais no exercício de suas junções e para
realização de seu objeto.
Pelo menos 2 (dois) órgãos têm sido adotados pelas
organizações internacionais, independentemente de seu alcance ou
finalidade: uma assembléia geral, onde são deliberadas as questões
correspondentes à atuação da organização por parte dos Estados-
membros; e uma secretaria, cuja função é de administração, de natureza
permanente. A assembléia geral não é permanente, pois se reúne
anualmente para assuntos ordinários e, em caráter excepcional, de acordo
com necessidades especiais. Há, ainda, em algumas organizações
internacionais de vocação política, um Conselho Permanente.
Quanto ao processo decisório, as organizações interna­
cionais geralmente não operam segundo as normas de deliberação por
maioria. O Estado soberano somente costuma se sentir vinculado à
determinada resolução caso tenhá sido favorável a ela, ao menos no que
seja classificado como importante, e não meramente instrumental.
Decisão relativa à matéria instrumental seria aquela referente a questões
administrativas, como eleições para cargos na organização. Exemplos
típicos de insubordinação de Estados membros a deliberações da
Assembléia Geral são encontrados na própria Organização das Nações
Unidas, como por exemplo, no caso das intervenções no Congo e no
Oriente Médio. Essas condutas dissidentes enfatizam ainda mais o valor
relativo das recomendações da Assembléia.
A jurisdição das organizações internacionais corresponde
aos poderes para executar seus objetivos e está delimitada no tratado
constitutivo. Sendo assim, as atividades realizadas fora desses objetivos
são consideradas ultra vires. Essa regra passou a denominar-se principio
da especialidade. Contudo, se tal extrapolação for necessária para a
execução dos objetivos da organização, a competência da organização é
compreendida como tacitamente ampliada {teoria do poder implícito).
A questão relativa à possibilidade de um tratado institu­
cional de uma organização internacional gerar obrigações a Estados não
contratantes é de suma importância. Na verdade, a matéria ganha grande
contorno em casos em que uma organização de alcance e finalidade
universais, como a ONU, por exemplo, está inserida na discussão. Em

36
Direito Internacional

regra geral, não há força jurídica na Carta das Nações Unidas ou em outro
tratado institucional para vincular Estados não membros. “Na verdade, a
imposição de tratado institucional a terceiro é mera via de fato,
condicionada à potência da organização, à conjunção favorável das forças
políticas no seu contexto, e finalmente à debilidade do Estado que faça
objeto da pretendida coação.”29
As Organizações Internacionais necessitam de um Estado
soberano, que, mediante celebração de um tratado bilateral (acordo de
sede), facultará a instalação física da organização em algum ponto do seu
território. Nada impede que a organização tenha mais de uma sede e que
se localize em país não membro, sendo, todavia, muito remota essa última
hipótese.
A falta de cumprimento dos deveres de sua qualidade de
membro de uma organização internacional pode trazer ao Estado
conseqüências, de acordo com as previsões estabelecidas pelo tratado
constitutivo e aplicáveis pela própria organização, mediante o voto de
seus órgãos. Geralmente elas assumem 2 (duas) formas principais: a
suspensão de determinados direitos e a exclusão do quadro de Estados
membros.
Outros exemplos de Organizações Internacionais de alcance
mundial, além da Organização das Nações Unidas são: OIT (Organização
Internacional do Trabalho, fundada em 1919 e sediada em Genebra, na
Suíça), a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura, fundada em 1946, com sede em Paris, na França), a
FAO (Organização para a Alimentação e a Agricultura, fundada em 1945,
como sede em Roma, na Itália), o FMI (Fundo Monetário Internacional),
entre muitas outras. Há também aquelas organizações de alcance regional,
como por exemplo, o NAFTA (Acordo de Livre Comércio das Américas)
e o MERCOSUL.

3.2.1 Organização das Nações Unidas - ONU


Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a união dos
Estados em tomo de objetivos comuns ~ superar divergências, preservar a
paz, e perseguir níveis mais altos de bem-estar para a população mundial

29 REZEK, op. cit., p. 254.

37
~ acabou por ocasionar, juridicamente, a celebração de acordos
internacionais e a criação de organizações, dentre as quais a Organização
das Nações Unidas (ONU) foi o exemplo mais representativo, como
forma de implementação dessa convergência de interesses30.
Em 26-06-1945, em São Francisco, ocorreu a assinatura da
Carta da ONU (tratado constitutivo da organização) e do Estatuto da
Corte Internacional de Justiça - CIJ.
Atualmente, a presença da ONU no cenário internacional é
de inegável importância, ainda que, por vezes, sua credibilidade
interna/externa seja abalada por iniciativas conjuntas de alguns de seus
Estados membros, em áreas de seu interesse, mas sem o seu aval, como
por exemplo, na invasão do Iraque por parte dos EUA e seus aliados.
A ONU atua nas mais diversas áreas (direitos humanos,
direitos do mar, direitos do meio ambiente, etc.), em atividades que
compreendem, de certa maneira, as esferas legislativa, administrativa e
judiciária.
A Carta da ONU estabelece, em seu art. Io, os objetivos da
organização:
“(1) Manter a paz e segurança internacionais, e para esse fim
tomar coletivamente medidas efetivas para evitar ameaças à
paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura
da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com
os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste
ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a
uma perturbação da paz;
(2) Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas
no respeito ao princípio de igualdade de direito e de
autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas
apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
(3) Conseguir uma cooperação internacional para resolver os
problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural
ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos
direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos,
sem distinção de raça, sexo, língua ou religião;

30 NASSER, Rabih Ali. A Liberalização do Comércio Internacional nas Normas do GATT-OMC.


São Pauio: LTr, 1999, p. 22.

38
Direito Internacional

(4) Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações


para a consecução desses objetivos comuns”, (grifamos alguns
pontos essenciais)

O art. 2o da Carta enumera os sete princípios que dever


ser observados pelos Estados-membros:
(1) igualdade soberana dos membros;
(2) boa-fé no cumprimento das obrigações internacionais;
(3) solução dos conflitos por meios pacíficos;
(4) abstenção da ameaça e da força contra a integridade
territorial;
(5) assistência à ONU em qualquer ação;
(6) obrigação dos estados não membros da ONU de cumprir os
princípios da ONU;
(7) não-intervenção em assuntos que sejam, essencialmente,
da competência intema dos Estados.

Segundo a Carta da ONU, Estados não-membros podem


participar dos debates do Conselho de Segurança e atentar o Conselho
para controvérsias. Além disso, conforme prevê o art. 2, § 6o, para
preservar a paz e segurança internacionais, poderá a organização fazer
com que Estados que não são membros das Nações Unidas procedam em
conformidade com seus princípios.
Os membros das Nações Unidas são aqueles Estados que
assinaram a Carta da ONU e a ratificaram. A admissão de novos
membros “fica aberta a todos os Estados amantes da paz que aceitarem as
obrigações, contidas na presente Carta e que, a juízo da Organização,
estiverem aptos e dispostos a cumprir tais obrigações” (art. 4o da Carta).
A suspensão dos membros se dá por decisão da Assembléia
Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. Quando um
Estado-membro viola de forma persistente os princípios da Carta, poderá
vir a ser expulso, também por recomendação do Conselho de Segurança.
Relativamente à composição de receita, geralmente, as
organizações internacionais estabelecem cotizações estatais não
paritárias. Anteriormente, essa relação girava em tomo da capacidade
contributiva de cada Estado membro, levando-se em conta sua pujança

39
econômica. No entanto, no âmbito da ONU, essa forma de cáiculo foi
modificada, na tentativa de evitar o agigantamento de um Estado membro
específico. Sendo assim, ficou estabelecido um teto individual de 25% da
receita prevista. A título exemplificativo, na virada do século, os EUA
contribuíam com 25% da receita, o Japão com 20% e a Alemanha com
10%.
Vejamos a seguir um quadro descritivo dos principais
órgãos da ONU:
| Órgão Função Composição Processo de
L ... J Votação
I Conselho de Manutenção da paz e São 15 Estados- - Cada membro
1 Segurança i da segurança Inter­ membros, cada (permanente ou
(cs) \ nacionais, inclusive
\ mediante o uso de
um com um
representante.
não) tem direito a
um voto;
I força, se necessário. Membros - Decisões sobre
1 i Age em nome dos permanentes: questões
I
1I 1 demais membros
sobre questões
- China;
- França;
processuais são
tomadas por voto
1 ^ relativas a: - Rússia; afirmativo de nove
1 a) litígios entre
Estados-membros;
- Reino Unido;
-Estados
membros;
- Demais assuntos
1I b) regulamentação de
armamentos;
Unidos.
Periodicamente,
- voto afirmativo
de nove membros,
c) ações em casos de a AG escolhe 10 inclusive os votos
ameaça à paz e miembros não- afirmativos de
1
1 agressão; permanentes, todos os membros
1 d) cumprimento das com mandato de permanentes;
1i sentenças da CIJ.
Adota resoluções
2 anos. - Decisões sobre
soluções pacificas
1 para a solução de controvérsias =
pacifica de conflitos e parte envolvida se
1 decide sobre abstém de votar e
medidas coercitivas, não poderá vetar.
1 em caso de Obs: os Membros
1 ameaças. Ê um
órgão permanente e
Permanentes tem
direito de vetar
1
suas resoluções qualquer decisão
1
1 deverão ser sobre assunto não
cumpridas pelas processual, dentre
1
Nações Unidas. os quais se j
encontram as ]
! “ações !
coercitivas”. ]

40
reito Internacional

Assembléia Principal órgão Representantes - Cada membro !


Gerai (AG) deliberativo da ONU. j de todos os tem um voto; j
Competência geral e Estados- -Questões j
abrangente de membros. importantes j
acordo com as (recomendações
finalidades da ONU j sobre manutenção j
(cooperação 1 da paz e ]
internacional em segurança, eleição j
diversas áreas). de membros não
Fornece j permanentes do
recomendações ao CS, admissão e j
CS e adota expulsão de mem­
resoluções não- bros) = tomadas
obrigatórias. por maioria de dois
terços dos
membros presen- i
tes e votantes; i
- Outras matérias =
maioria dos f
membros presen- j
tes e votantes. j

Ôrgão Função Composição Processo de ~ 1


Votação |
Secretariado 0 Sôcretário-Geral é 0 Secretariado
o principal funcio­ possui diversos
nário administrativo funcionários e
da ONU, atuando em um Secretário-
todas as reuniões da Geral (indicado
AG, CS, Conselho pela AG
Econômico e Conse­ | mediante
lho de Tutela. Poderá recomendação
chamar a atenção do j ao CS), com
CS para assuntos mandato de 5
que ameacem a paz 1anos.
e segurança. Não
pode solicitar ou
receber instruções de
gover-nos ou
autoridades.

Conselho Promover coope­ í Cinqüenta e Decisões tomadas 1


Econômico e ração internacional e quatro membros pela maioria dos f
Sociai econômica. Coorde­ da ONU eleitos membros 1
nar as atividades das pela AG presentes e 1
organizações espe­ i votantes. |
cializadas nos 1 I

41 \
campos econômico,
social, cultural,
educacional,
sanitário, etc.
mediante consulta ou
fazendo
recomendações.
Pode elaborar
estudos, relatórios,
recomendações, pre­
para projetos de
convenções e
organiza
conferências
internacionais. Pode
con-sultar ONGs que
i I se ocupem de
assuntos de sua
competência.
Conselho de É o responsável por Composto pelos
Tutela acompanhar o membros
progresso social dos permanentes do
territórios onde não CS.
há governo
independente. Hoje
não há mais
territórios em tais
condições.

3.2.2 Organização dos Estados Americanos ~ OEA


A OEA surgiu a partir de um longo período de negociações,
sendo que em 1948 as Nações Americanas adotaram, em Bogotá, a Carta
da Organização dos Estados Americanos. Nesse documento foram
estabelecidos os objetivos da Organização, cuja principal finalidade é
garantir a paz e a segurança do continente, promovendo o bem social A
Carta de Bogotá entrou em vigor em 13 de novembro de 1951, com o
depósito da 14a ratificação.
De acordo com o art. 4o da Carta, “são membros da
organização todos os Estados Americanos que ratificarem a presente
Sendo assim, o ingresso na OEA é facultado a todo Estado americano
independente. É, pois, uma Organização Internacional de alcance
regional.

42
Direito Internacional

Diferentemente do que ocorre na ONU, não existia nessa


organização um processo de candidatura para ingresso, bastando que o
Estado ratificasse a Carta. Atualmente, pela reforma de Buenos Aires
(1967), há um processo de candidatura, a qual deve ser aprovada pela
Assembléia Geral, após recomendação do Conselho Permanente.
A Carta não prevê a expulsão dos membros, mas esses
poderão denunciá-la. Em caso de exercer o direito de denúncia, o Estado
estará desligado dentro de 2 anos, desde que, até então, haja cumprido as
obrigações emanadas da Carta.
A OEA é composta dos seguintes órgãos:

| Reunião de Consulta dos Ministros de Relações Exteriores: j


j - tem por finalidade “considerar problemas de natureza urgente e de interesse j
j.;^r3piu^^am:os^t^os íAmenetoos, e para servir de órgão de consulta?’; ; 1
ppâfquerEslmlo
osf:EstSdpsÍêstàoírepr£fcfin^

j I
| Conselhos da Organização: |
| a) Conselho Permanente: trata de assuntos determinados pela AG e pela I
| Reunião de Consulta. Dentre suas funções destacam-se: velar pela j
i manutenção das relações de amizade entre os Estados-membros, executar !
decisões da AG, formular recomendações à AG sobre funcionamento da|j
[•organização^,;; ^ "'/"V •• ••J

43
A OEA possui, ainda, vários organismos especializados, tais
como a Organização Pan-Americana de Saúde, a Junta Interamericana de
Defesa (cuja finalidade é traçar medidas de defesa do continente) e o
Instituto Internacional Americano de Proteção à Infância.

3.3 indivíduos e empresas


A personalidade internacional dos indivíduos vem sendo
ampliada de acordo com a modernização do DIP. Isso significa dizer que
os indivíduos vêm, de certa forma, desvenciliando-se da proteção
exclusiva do Estado soberano. Isso porque, toda vez que há a aplicação
direta do DIP a um indivíduo, há uma diminuição do exercício da
jurisdição do Estado.
Essa lógica aplica-se igualmente às empresas. Um exemplo
disso é á tentativa de regulamentação internacional das empresas trans-
nacionais, de modo que tais empreendimentos não se encontrariam mais
limitados ao âmbito de aplicação dô direito interno, mas sim ao direito
internacional.

44
Direito Internacional

Parte da doutrina, contudo, resiste ao reconhecimento da


personalidade jurídica dos indivíduos e empresas. Afirma Rezek, “não
têm personalidade jurídica de direito internacional os indivíduos, e
tampouco as empresas, privadas ou públicas”31.
O papel dos indivíduos no direito internacional tem se
destacado, principalmente, quando são abordadas questões relativas aos
direitos humanos. Tais questões serão analisadas no capítulo III, item 2.1.

4 Sania-Sé

A Santa-Sé é a cúpula da Igreja Católica, localizada na


cidade de Roma. Sua personalidade internacional foi reconhecida a partir
dos Acordos de Latrão (1929). Por meio desse tratado, a Itália declarou
reconhecer a "soberania da Santa-Sé, no domínio internacional, com os
atributos inerentes à sua natureza...” (art. 2o). Declarou também
reconhecer à Santa-Sé “a plena propriedade, o poder exclusivo e absoluto
e a jurisdição soberana sobre o Vaticano...”(art. 3o).
As relações entre a Igreja Católica e os Estados dão-se por
meio de concordatas, os quais são tratados internacionais, normalmente
bilaterais.

5 Organizações não-governamentais - ONGS

As organizações internacionais privadas, que não são


criadas pelos Estados, mas sim pelos indivíduos, são denominadas
organizações não-govemamentais - ONGs. Essas organizações vêm
proliferando-se e atuam nas mais diversas áreas (legal, política, social,
econômica, educacional, de meio ambiente, de direitos humanos, etc.).
Atualmente, não há norma internacional que regule a
criação o e funcionamento das ONGs, de modo que são regidas pelas leis
nacionais do país de constituição. Até o momento, as ONGs não são

31 REZEK, op. cit., p. 152.

45 \
consideradas como entes com personalidade jurídica internacional, apesar
de algumas organizações internacionais» como a ONU, outorgarem a
condição de “observador” a algumas ONGs. Contudo, essa condição não
as confere o status de sujeito de direito internacional.
Exceção, contudo, se faz ao Comitê Internacional da Cruz
Vermelha, fundado em 1863, ao qual se reconhece personalidade
internacional por meio. da Convenção de Genebra do ano seguinte.

46
Direito Internacional

TRATADOS INTERNACIONAIS

1 Teoria geral dos tratados

Conforme ensina Marques32, historicamente, foram as


regras consuetudinárias que regeram os acordos entre Estados, utilizando-
se de princípios gerais, notadamente, o do respeito ao acordado (pacta
sunt servanâa), o do livre consentimento e o da boa-fé das Partes
contratantes. “No século XX, surgem dois fenômenos novos: o
aparecimento das organizações internacionais e a codificação do direito
dos tratados, transformando regras costumeiras em regras convencionais
escritas, expressas elas mesmas no texto de um tratado”.
Os trabalhos desenvolvidos pela Comissão de Direito
Internacional das Nações Unidas, resultaram, em 1969, na Convenção de
Viena sobre Direito dos Tratados. No Brasil, o texto da Convenção foi
enviado ao Congresso para aprovação em abril de 1992. Embora a
ratificação por parte do Brasil ainda não tenha ocorrido, “suas normas são
tidas como vigentes por expressarem costume internacional”.33

32 MARQUES, Frederico. Direito Internacional Privado e Mercosul. Disponível em;


<http://www.dip.com.br>. Acesso em: 10 de maio de 2005.
33 MARQUES, idem.

47
A Convenção de Viena define tratado internacional como
“um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido
pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de
dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação
específica” (Art. 2, a).
Conforme Rezek34, “tratado é todo acordo formal concluído
entre sujeitos de direito internacional, e destinado a produzir efeitos
jurídicos”.
A celebração de tratados se constitui em exercício de
soberania. Mas, além do reconhecimento de sua soberania, o Estado, ao
celebrar tratados, reconhece e se compromete a uma fonte de limitação de
suas competências. Por isso, a doutrina costuma afirmar que o compro­
metimento do Estado por meio de tratados internacionais implica em: (I)
manifestação do atributo de soberania; (II) instrumento de limitação do
exercício do poder soberano.35
De maneira geral, a elaboração de um tratado internacional
segue as seguintes etapas:
1. Negociacão. Realizada por autoridades nacionais desig­
nadas pela ordem constitucional do Estado, muitas vezes acompanhados
de especialistas no assunto sob discussão;
2. Elaboração do texto. Os tratados são compostos de um
preâmbulo, o qual espelha os motivos da realização do tratado,
fornecendo elementos para sua interpretação, e do chamado dispositivo,
ou seja, o texto ou corpo onde são definidas as obrigações dos Estados-
Partes;
3. Adoção. Segundo a Convenção de Viena (art. 9o), a
adoção de um texto efetua-se pelo voto da maioria de dois terços dos
Estados presentes, salvo se esses Estados, pela mesma maioria, decidam
aplicar outras regras;
4. Manifestação do Consentimento. O artigo 11 da
Convenção reza que o consentimento de um Estado em obrigar-se por um
tratado pode manifestar-se pela assinatura, troca de instrumentos
constitutivos do tratado, ratificação, aceitação, aprovação ou adesão, ou
por quaisquer outros meios, se assim for acordado pela partes.

34 REZEK, op. cit. p. 14.


38 SEITENFUS & VENTURA, op. cit., p. 40.

48
4
Direito Internacional

Importante observar que durante o período compreendido


entre a adoção do texto e a manifestação do consentimento, o tratado não
obriga os Estados-Partes. Entretanto, a Convenção de Viena determina,
em seu art. 18, que o Estado deve se abster da prática de atos que frustrem
o objeto e a finalidade do tratado.
É por meio da manifestação de consentimento que o tratado
atinge sua eficácia jurídica. Em regra, são as normas constitucionais dos
países que determinam o procedimento interno que resultará no
consentimento do Estado.
Como vimos, a Convenção de Viena prevê a ratificação
como uma das formas de expressão do consentimento do Estado. Trata-se
de ato por meio do qual a mais alta autoridade do Estado confirma o
tratado, uma vez aprovado internamente, aceitando que ele seja definitivo
e obrigatório e comprometendo-se a executá-lo. O instrumento de
ratificação é enviado aos outros Estados-Partes e ao Estado depositário,
vinculando a partir desse momento, o Estado signatário36.
A figura do Estado depositário corresponde àquele a quem
cabe a manutenção do instrumento original, bem como a distribuição de
cópias autênticas do texto do ato e demais registros. O Brasil é o
depositário de diversos tratados, dentre eles o Tratado da Bacia do Prata e
o Tratado de Cooperação Amazônica. Essa função também pode ser
exercida por uma organização internacional.

1.1 Princípios e classificação dos tratados


O principal princípio aplicável aos tratados encontra-se na
norma “pacta sunt servanda”, também reconhecido como princípio
constitucional da sociedade internacional37. Trata-se da aplicação da
máxima segundo a qual as partes devem observar os ditames estabe­
lecidos no acordo ao qual se submeteram, ou seja, o que foi pactuado
deve ser cumprido. Outro importante princípio que rege a celebração e
interpretação dos tratados é o da boa-fé.
Quanto à classificação dos tratados no âmbito do Direito
Internacional Público, esta se apresenta segundo diversos critérios, dentre
os quais, os mais correntes na doutrina e na prática são:

38 SEITENFUS & VENTURA, op. cit., p. 42.


37 MELLO, op. cit. p. 208.

49
(I) segundo o número de partes: tratados bilaterais (entre
dois Estados) e tratados multilaterais (entre mais de dois Estados);
(II) segundo a possibilidade de adesão de Estados: tratados
abertos (permitem a participação de Estados que não assinaram o texto
inicialmente) e tratados fechados (não permitem a adesão tardia);
(III) segundo o modo de sua entrada em vigor, tratados em
devida forma (necessitam da troca de instrumentos de ratificação ou da
prática, pelos Estados Signatários, de outro ato solene posterior a sua
assinatura) e tratados em forma simplificada, também denominados
Executive Agreements (entram em vigor, no momento de sua assinatura,
ou no momento em que o texto dispuser, prescindindo de atos posteriores,
como o da ratificação);
(IV) quanto à matéria regulada: os tipos podem variar ao
infinito, como, por exemplo, tratados de paz, tratados de comércio e
navegação, tratados de extradição, etc.
Antigamente, tinha-se no direito internacional público a
prática dos tratados secretos. Todavia, hoje em dia essa idéia não possui
mais assento é já se encontra proibida em diversos ordenamentos internos
de Estados democráticos.
Por fim, é importante destacar a existência dos chamados
acordos Guarda-Chuva (Umbrella Treaty) e dos “tratados-quadro” que
vêm ganhando espaço na constante evolução do Direito Internacional
Público. São tratados multilaterais, nos quais os Estados-Partes traçam
grandes molduras normativas, de direitos e deveres de natureza vaga, e
que, por sua natureza, pedem uma regulamentação mais pormenorizada.
Geralmente, instituem-se reuniões periódicas e regulares, de um órgão
composto de representantes dos Estados-Partes (chamada Conferência das
Partes - COP), com poderes delegados de complementar e expedir normas
de especificação. O conjunto normativo que se forma, a partir dos
dispositivos do tratado-quadro e das decisões das Conferências das
Partes, deve formar um sistema harmônico, entre os mesmos Estados-
Partes.

50
Direito Internacional

1.2 interpretação
A interpretação dos tratados é disciplinada pelos artigos 31,
32 e 33 da Convenção. A regra geral determina que um tratado deverá ser
interpretado de acordo com a boa-fé, à luz de seu contexto e finalidade. A
interpretação deverá buscar, portanto, a compreensão da vontade dos
Estados-Partes, uma vez que não deverá resultar em obrigações não
assumidas pelos Estados.
Para a compreensão do contexto do tratado, serão levados
em consideração o texto, seu preâmbulo e anexos, além de acordos
relativos ao tratado firmados entre as mesmas partes por ocasião da
conclusão do tratado. Serão também considerados instrumentos
estabelecidos por uma ou várias partes quando da conclusão do tratado e
aceitos pelas outras partes como relativos ao tratado.
Segundo o artigo 33 da Convenção, quando um tratado for
autenticado em dois ou mais idiomas, seu texto fará igualmente fé em
cada uma delas, salvo se as partes acordarem que, em caso de
divergência, um texto determinado prevalecerá.

1.3 Validade, vigência, execução e aplicação dos


tratados
Para que um tratado internacional seja válido, é necessária a
reunião de três elementos fundamentais:
(I) Capacidade das Partes que ratificaram o tratado: a idéia
de capacidade para celebração de um tratado está relacionada à idéia de
sujeito de DIP. A Convenção de Viena determina que “todo o Estado tem
capacidade para celebrar tratados” (art. 6o). Quanto aos Estados
federados, as unidades da federação somente serão capazes caso a
Constituição Federal assim determine. Já as organizações internacionais
possuem uma capacidade parcial (decorrente de seu tratado constitutivo)
e derivada (resultante da vontade de seus membros)38.
(II) Consentimento manifestado regularmente: os vícios de
consentimento podem se manifestar em face de uma ratificação
imperfeita (contrária as normas internas do Estado), erro essencial

36 SEITENFUS & VENTURA, op. ciL, p 48.

51
(referente a fato que o Estado supunha existir quando da celebração do
tratado e que se constituía base essencial do seu consentimento), dolo
(Estado foi levado a concluir o tratado por conduta fraudulenta de outro
Estado), corrupção (representante do Estado encontrava-se corrompido),
coação sobre o representante (ameaças ou atos dirigidos ao repre­
sentante) ou coação sobre o Estado (ameaça ou uso de força em violação
aos princípios da Carta da ONU).
(III) Objeto lícito: a ilicitude será analisada com base
normas imperativas de direito internacional geral (jus cogens) e não em
normas internas de determinado Estado. O art. 53 da Convenção de Viena
conceitua “norma imperativa de direito internacional geral” como a
norma que é aceita e reconhecida pela comunidade internacional na
condição de norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só
pode ser modificada por nova norma de direito internacional da mesma
natureza”. São exemplos dessas normas as que se referem a liberdades
individuais (direito à vida, liberdade de circulação).
A vigência dos tratados pode ser (I) ilimitada: o tratado
exige um ato de denúncia; (II) por prazo fixo: o tratado extingue-se por
decurso de prazo, podendo ser, normalmente, renovável por acordo das
partes; (IH) por prazo determinado: prorroga-se automaticamente por
iguais períodos, possibilitando-se a denúncia às partes que não desejem a
sua renovação.
O início da vigência de um tratado pode ser definido pelas
partes, conforme estabelece o art. 24 da Convenção de Viena. No caso do
Mercosul, por exemplo, o Tratado de Assunção entrou em vigor após o
depósito de três das quatro ratificações.
Caso as partes não tenham determinado a forma de entrada
em vigor, a vigência se dará a partir do consentimento manifestado por
todos os negociadores. A Convenção determina ainda que, quando o
consentimento de um Estado em se obrigar por um tratado for
manifestado após sua entrada em vigor, a vigência com relação a esse
Estado ocorrerá nessa date (art. 24).
Aos tratados, aplica-se o princípio da irretroatividade, a não
ser que as partes estabeleçam de forma diversa. Sendo assim, em regra, as
disposições de um tratado não obrigam uma parte em relação a um ato ou
fato anterior à vigência do tratado.

52
Direito Internacional

Além disso, o tratado é vigente em relação a todo o


território de cada uma das partes, salvo disposição em contrário. Como
bem salienta Marques39, “a tradição constitucional brasileira não concede
o direito de concluir tratados aos Estados-membros da Federação. Nessa
linha, a atual Constituição diz competir à União, ‘manter relações com
Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais’ (art. 21,
inciso I). Por tal razão, qualquer tratado que um estado federado ou
município deseje concluir com Estado estrangeiro, ou unidade dos
mesmos que possua poder de concluir tratados, deverá ser feito com a
intermediação do Ministério das Relações Exteriores, decorrente de sua
própria competência legai. A necessidade dessa intermediação impõe-se,
igualmente aos demais Ministérios”.
Quanto à execução e aplicação dos tratados, a Convenção de
Viena estabelece que uma parte não poderá invocar as disposições de seu
direito interno para justificar o descumprimento de um tratado (art. 27)40.
O próprio tratado deverá determinar a solução para os casos de não-
execução, prevendo, ainda, instrumentos de solução de controvérsias.
A Convenção determina ainda que o Estado, ao se
comprometer a um tratado, poderá formular reservas, salvo se (I) a
reserva for proibida pelo tratado; (II) o tratado apenas autorize
determinadas reservas; (HI) a reserva seja incompatível com o objeto e
finalidade do tratado (art. 19).
A possibilidade de apresentar reservas em um tratado
constitui-se em uma forma de viabilizar uma maior participação dos
Estados nos atos multilaterais, pois se permite a uma Parte deixar de
consentir relativamente a uma ou algumas de suas disposições. Deve,
entretanto, a reserva ser compatível com a finalidade e o objeto do ato41.
Importante lembrar que as reservas são atos unilaterais, os quais visam a
excluir ou modificar certas disposições dos tratados. Sendo assim, os
Estados não poderão se utilizar desse instituto para incluir disposições no
tratado.

39 MARQUES, Frederico. Direito iniernacionai Privado e Mercosul. Disponível em:


<http://www.dip.com.br>. Acesso em 10 de maio de 2005.
40 Dispõe, ainda, o artigo 46 da Convenção de Viena: “Um Estado não poderá invocar o fato de que
seu consentimento em obrigar-se por um tratado foi expresso em violação de uma disposição de
seu direito interno sobre competência para concluir tratados, a não ser que essa violação seja
manifesta e diga respeito a uma regra de seu direito interno de Importância fundamental”.
41 MARQUES, Frederico. Direito internacional Privado e Mercosul. Disponível em:
<http://www.dlp.com.br>. Acesso em: 10 de maio de 2005.

53
Extingue-se um tratado quando o intento terminativo for
comum às partes por ele obrigadas. Vale destacar que não serão estas,
necessariamente, aquelas mesmas que um dia negociaram o pacto e o
puseram em vigor, em virtude de possíveis adesões e denúncias.
Por meio da denúncia, o Estado manifesta sua vontade de
deixar de ser parte nó acordo internacional. A exemplo da ratificação e da
adesão, a denúncia é um ato unilateral.
Segundo o artigo 70 da Convenção, a extinção do tratado
libera as partes de continuarem a cumprir o tratado, contudo, não
prejudica qualquer direito ou obrigação existente entre as partes em
decorrência da execução do tratado anteriormente a sua extinção.

1.4 Relações e conflitos com o direito interno


Em caso de conflito de normas entre o tratado e o direito
interno de determinado Estado, cada Estado adotará um critério de
solução, de acordo com a adoção ou não da supremacia do direito
internacional sobre o direito interno.
Duas concepções tradicionalmente destacadas na doutrina
explicam a relação entre direito interno e direito internacional. São elas:
a teoria monista e a teoria dualista. Segundo o dualismo, o direito interno
e o internacional são dois sistemas independentes entre si, constituindo
ordens jurídicas paralelas. Segundo esse sistema, a recepção da norma de
direito internacional pelo direito interno não ocorre de forma direta, mas
após um processo de intemalização.
Já o monismo, fundado na doutrina de Hans Kelsen42 prega
uma unidade lógica entre as regras internas e internacionais, havendo,
portanto, subordinação entre elas. Não haveria, assim, a necessidade de
intemalização das obrigações decorrentes dos tratados, ante a ausência de
separação entre o plano interno e o internacional. O monismo é separado
em duas vertentes: a que defende a primazia do direito interno sobre o
internacional e a que sustenta o inverso.
No que se refere aos tratados internacionais, as normas
constitucionais dos Estados-Partes determinarão se estes terão O mesmo

42 KELSEN, Hans. Teoria Gerai do Direito e do Estado, trad. Luís Carlos Borges. São Paulo:
Martins Fontes, 1990, pp. 352-376.

54
Direito Internacional

valor de direito interno ou se haverá supremacia dos tratados, a qual


poderá operar-se sobre a lei ou sobre a Constituição. Nos casos em que é
necessária a intemalização do acordo ao ordenamento interno para que se
dê a sua vigência, estaremos frente à equiparação do tratado à lei
ordinária interna (dualismo).

1.5 O Sistema Brasileiro de Incorporação de Tratados


De acordo com o Direito Brasileiro, as fases de elaboração
dos tratados são: negociação, celebração, aprovação, ratificação,
promulgação e publicação.
Participam desse processo os Poderes Executivo e
Legislativo. A Constituição determina que a competência para celebrar
tratados, acordos e atos internacionais é privativa do Presidente da
República (art. 84, inciso VIII).
Há, todavia, no direito internacional, a figura do
plenipotenciário, que, além dos Chefes de Estado e de Governo, possui
plenos poderes para celebrar tratados internacionais. Essa figura
corresponde principalmente ao Ministro das Relações Exteriores, o qual
guarda o benefício da presunção de qualidade de plenipotenciário
independentemente de qualquer prova documental. Os chefes de missões
diplomáticas também prescindem da apresentação de carta de plenos
poderes. Contudo, nesse caso, a prerrogativa se restringe aos tratados
bilaterais entre o Estado de origem e o Estado de exercício funcional. Nos
demais casos, é imprescindível a apresentação da carta de plenos poderes
expedida pelo Chefe de Estado.
Após sua celebração, os tratados são remetidos ao
referendo, em regra por maioria simples, do Congresso Nacional, a quem
cabe decidir sobre sua aprovação (art. 49, inciso I). A aprovação se dá por
meio de Decreto Legislativo e, após, o ato retoma ao Executivo para
ratificação.
Por meio da ratificação, o Presidente da República transmite
aos demais Estados-Partes o intuito de formalizar o início da
exigibilidade do tratado. Esse ato se dá pelo depósito do instrumento de
ratificação. Para o aperfeiçoamento do ato e início da vigência no
território nacional, o Presidente da República firma um decreto de

55
promulgação, cuja dàta de publicação corresponde ao início da vigência
no território nacional.
Sendo assim, os tratados internacionais somente passam a
integrar o ordenamento jurídico nacional após sua promulgação pelo
Poder Executivo, posição essa reiteradamente afirmada pelo Supremo
Tribunal Federal.
Além disso, o STF já afirmou que a mesma sistemática de
recepção de acordos se aplica aos tratados celebrados no âmbito do
Mercosul:
A recepção dos tratados internacionais em gerai e dos acordos
celebrados pelo Brasil no âmbito do Mercosul depende, para
efeito de sua ulterior execução no plano interno, de uma
sucessão causai e ordenada de atos revestidos de caráter
politico-jurídico, assim definidos: (a) aprovação pelo Congresso
Nacional, mediante decreto legislativo, de tais convenções; (b)
ratificação desses atos internacionais pelo Chefe de Estado,
mediante depósito do respectivo instrumento; (c) promulgação
de tais acordos e tratados, pelo Presidente de República,
mediante decreto, em ordem a viabilizar a produção dos
seguintes efeitos básicos, essenciais à sua vigência doméstica:
(1) publicação oficial do texto do tratado e (2) executoriedade
do ato de direito internacional público, que passa, então - e
somente então - a vincular e a obrigar no plano do direito
positivo interno. (CR-8279, acórdão publicado em 10-08-2000)

Observe-se que os acordos executivos, ou seja, aqueles que


prescindem da aprovação do Congresso Nacional, não são permitidos no
Brasil, salvo aqueles relativos à interpretação de tratados já celebrados, os
que decorrem logicamente de um tratado já vigente e que estabelecem
parâmetros para negociações futuras.
Como vimos, a Constituição de 1988 contém um sofisticado
sistema para a recepção dos tratados internacionais, sendo que a Emenda
Constitucional n. 45/2004 trouxe importantes modificações no antigo
texto. Vejamos:
Art. 5o - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito á
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:

56
Direito Internacional

(...)
§ 2° - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte.
§ 3° - Os tratados e convencões internacionais sobre direitos
humanos aue forem aprovados, em cada Casa do Congresso
Nacionai. em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.

Da leitura do § 3o acima transcrito, percebe-se a grande


inovação trazida pela EC 45/2004, pois, caso o tratado discipline questões
de direitos humanos e passe pelo rito de aprovação de uma emenda
constitucional quando de sua incorporação, terá status de emenda e,
portanto, será considerado hierarquicamente superior à lei ordinária.
Cabe aqui uma referência especial à possibilidade de prisão
do depositário infiel, prevista no art. 5o, LXVII, da Constituição Federal.
O STF firmou entendimento que tal prisão passou a ser proibida por força
do Pacto de San José da Costa Rica, o qual, segundo interpretação da
Corte, tem status de norma supralegal, nos termos do § 2o do art. 5o da
Constituição. Vejamos:
O Pacto de San José da Cosia Rica (ratificado pelo Brasil -
Decreto 678 de 6 de novembro de 1992), para vaíer como
norma jurídica interna do Brasil, há de ter como fundamento de
validade o § 2o do artigo 5o da Magna Carta. A se contrapor,
então a qualquer norma ordinária originariamente brasileira que
preveja a prisão civil por dívida. Noutros termos: o Pacto de
San José da Costa Rica, passando a ter como fundamento de
validade o § 2o do art. 5o da CF/88, prevalece como norma
supralegal em nossa ordem jurídica interna e, assim, proíbe a
prisão civil por dívida. Não é norma constitucional - à falta do
rito exigido pelo § 3o do art. 5o mas a sua hierarquia
intermediária de norma supralegal autoriza afastar regra
ordinária brasileira que possibilite a prisão civil por dívida.
(Habeas Corpus 94.013-7, São Paulo, 10/02/2009)

Ainda sobre o direito brasileiro, importante lembrar:


S Caso o tratado seja assinado com reservas, o Congresso
Nacional não tem poderes para referendá-lo na sua íntegra.

57 \
^ Em regra, a concordância do Congresso Nacional não é
necessária para que o Brasil denuncie a um tratado internacional.
Segundo Rezek43, tal regra não se aplica nos casos de tratados cuja
aprovação pelo Congresso Nacional seguiu o rito de aprovação das
emendas constitucionais, nos termos do § 3o do art. 5o da Constituição
Federal. O STF, contudo, vem debatendo a questão da necessidade do
referendo do Congresso Nacional para a denúncia de tratados
internacionais, especialmente no que se refere à Convenção 158 da OIT fADl
1625^
2 Tratados em espécie

2.1 Sistema internacional de proteção dos direitos


humanos
Celso D. Albuquerque de Mello define Direito Internacional
dos Direitos Humanos (DIDH) como “o conjunto de normas que
estabelece os direitos que os seres humanos possuem para o
desenvolvimento da sua personalidade e estabelece mecanismos de
proteção a tais direitos”46. Segundo o autor, uma das peculiaridades do
DIDH é o fato de não estar submetido a regras de reciprocidade. Ou seja,
um Estado não poderá desrespeitar direitos humanos em face da não-
observância desses direitos por um outro Estado. Outra característica
importante é que as sanções impostas pela ONU jamais poderão violar
direitos humanos, mesmo em caso de rompimento da paz. Isso porque os
direitos humanos são normas imperativas, ou seja,/u? cogens.
Até a fundação da Organização das Nações Unidas em 1945
não se podia afirmar com segurança que existia, no âmbito do direito
internacional público, uma preocupação consciente e organizada sobre o
tema dos direitos humanos. A Declaração Universal dos Direitos
Humanos, assinada em Paris, em 10 de dezembro de 1948, é o mais
conhecido documento referente ao tema. A declaração foi adotada no

43 REZEK, op. clt- p. 103.


44 MNa avaliação de Joaquim Barbosa, da mesma forma que um acordo internacional para vigorar no
Brasil precisa ser assinado pelo presidenta da República e submetido à ratificação do Congresso
Nacional, a extinção desse tratado deve passar pelo mesmo processo. Caso contrário, disse o
ministro, há violação [formai] do texto constitucional, uma vez que o processo legislativo não foi
respeitado. Joaquim Barbosa, afirmou que na Constituição brasileira não há norma sobre ‘denúncia
de tratado1, mas observou que um acordo internacional tem força de lei e que no Brasil nenhum ato
com força de (ei vigora sem a anuência do Parlamento. O ministro citou como exemplo as medidas
provisórias que são editadas pelo poder Executivo, mas dependem de apreciação do Legislativo."
f t W ^ stf^ sb^ ortalycms/verNoticiaDetalhe'asP?idConteudo=10913)

58
Direito Internacional

âmbito das Nações Unidas, em forma de Resolução da Assembléia Geral.


Apesar de não criar obrigatoriedade jurídica, a Resolução exerce um
importante papel de conteúdo político e moral.
Em complementação à Declaração, foram firmados Pactos
no âmbito das Nações Unidas (1966), os quais tratam de direitos civis,
políticos, econômicos e sociais, possibilitando a execução dos
mandamentos da Declaração, porquanto espelham obrigações assumidas
pelos Estados-membros.
Inspirada na BiU o f rights da Constituição dos Estados
Unidos, a Declaração incorpora diversos princípios que passaram a
desempenhar um papel de verdadeiros “limitadores da área de atuação
dos Estados”. Nesse sentido, os direitos humanos deixam de pertencer a
uma determinada jurisdição doméstica, passando a ser protegidos por
diversos mecanismos da ordem jurídica internacional, tais como a Corte
Européia de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos
Humanos47.
De acordo com a Declaração, os direitos humanos foram
classificados em três gerações: (I) os direitos de primeira geração (arts. 4o
a 21) correspondem aos direitos civis e políticos, assim como os direitos
fundamentais à vida, à liberdade, não-escravidão, etc. De acordo com
esses direitos, é proibida a tortura, bem como as penas degradantes e
indignas; (II) os direitos de segunda geração (arts. 22 a 27) englobam os
direitos econômicos, sociais e culturais; e (III) os direitos de terceira
geração contemplam os direitos difusos à paz, ao meio ambiente
saudável, à preservação do patrimônio comum da humanidade, etc.).
A implementação da proteção aos direitos humanos se dá
principalmente pela Corte Européia dos Direitos Humanos (Estrasburgo)
e pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (São José).
A Convenção Européia de Proteção aos Direitos do Homem
e das Liberdades Fundamentais (1950) é o mais avançado dos sistemas de
proteção regionais. Em 1998, entrou em vigor o Protocolo 11 à
Convenção Européia de Direitos Humanos, o qual promoveu a
reestruturação dos mecanismos da Convenção e estabeleceu a possibi­
lidade de os Estados-Partes e indivíduos reclamarem diretamente à Corte
em caso de descumprimento da Convenção por outro Estado-Parte.

47 MELLO, op. cít, p. 775.

59
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos foi
firmada em São José da Costa Rica, em novembro de 1969. Sua entrada
em vigor ocorreu em 18 de Julho de 1978. Nela estão discriminados
diversos direitos de âmbito civil, político, econômico, social e cultural. O
Brasil aderiu à Convenção em setembro de 1992.
A Convenção designa como órgãos competentes para
conhecer acerca dos assuntos relacionados aos compromissos assumidos
pelos Estados pactuantes a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Em linhas
gerais, a Comissão atua como instância preliminar à jurisdição da Corte,
possuindo poderes para requisitar informações e formular recomendações
aos governos dos Estados pactuantes.
São submetidas ao exame da Comissão denúncias ou
queixas formuladas por qualquer pessoa ou grupo de pessoas, entidades
não-govemamentais e Estados-Partes. É necessário» contudo, que o
Estado denunciado tenha reconhecido a competência da Comissão para
equacionar o conflito.
Não obstante, é preciso salientar que, para que qualquer
denúncia ou queixa chegue à Comissão, a Convenção determina o
preenchimento de alguns requisitos de admissibilidade, dentre os quais»
destaca-se a necessidade de esgotamento dos recursos proporcionados
pela jurisdição interna (regra de esgotamento dos remédios locais).
A Comissão e os Estados Membros têm poderes para
submeter a matéria à análise da Corte Interamericana de Direitos
Humanos. Partes privadas não poderão iniciar uma demanda na Corte,
mas poderão apresentar solicitações, argumentos e provas de forma
autônoma durante o processo perante a Corte (art. 23,1 do Regimento da
Corte). As sentenças da Corte são definitivas e inapeláveis, podendo, se
for o caso, ordenar o pagamento de indenização justa à parte lesada.
Tanto a Comissão quanto a Corte Interamericana podem
emitir decisões liminares, no caso de perigo atual ou iminente que pode
causar danos irreparáveis às vítimas. No caso da Comissão, as medidas
emergenciais são chamadas cauteiares e, no caso da Corte, provisórias.
Em se tratando de questões ainda não submetidas à análise da Corte, esta
poderá editar medidas provisórias a pedido da Comissão. Isso porque as
medidas cauteiares estão previstas no Regulamento da Comissão, que foi
aprovado por meio de uma Resolução da Assembléia Gerai da OEA,

60
Direito Internacional

deste modo, não possuem status convencional, ou seja, não têm


obrigatoriedade de tratado. As medidas provisórias, por outro lado,
encontram-se previstas no artigo 63 (2) da Convenção Americana de
Direitos Humanos e no art. 25 do Regulamento da Corte48. Desta feita,
sua aceitação ou desrespeito pelo Estado toma-se uma violação
internacional
As medidas provisórias: (i) baseiam-se na presunção
razoável de que os fatos alegados correspondem à verdade; e (ii) têm
caráter tutelar, pois salvaguardam o direito, não se limitando a assegurar a
eficácia da prestação jurisdicional.
Tradicionalmente, as medidas provisórias visavam apenas a
proteger a vida e a integridade física das pessoas. Atualmente, contudo,
atendendo ao princípio da indivisibilidade dos direitos humanos, o escopo
dos direitos protegidos tem sido ampliado para abranger direitos como a
saúde (distribuição de remédios), liberdade pessoal, de locomoção, direito
à propriedade, à educação e à nacionalidade.
Em 18 de junho de 2002, a Corte ordenou a adoção de
medidas provisórias direcionadas ao Brasil, a fim de evitar o homicídio
sistemático de detentos na Casa de Detenção José Mário Alves, conhecida
como Penitenciária Urso Branco, em Porto Velho, Rondônia. Em 27 de
junho de 2002, o Governo Brasileiro, por meio de nota dirigida à

40 Artigo 25. Medidas Provisórias


1. Em qualquer fase do processo, sempre que se tratar de casos de extrema gravidade o urgência
e quando for necessário para evitar prejuízos irreparáveis às pessoas, a Corte, ex ofilcio ou a
pedido de qualquer das partes, podara ordanar as medidas provisórias que considerar pertinentes,
nos termos do artigo 63.2 da Convenção.
2. Tratando-se de assuntos ainda não submetidos à sua consideração, a Corte poderá atuar por
solicitação da Comissão.
3. Nos casos contenciosos que já se encontrem em conhecimento da Corte, as vitimas ou as
supostas vitimas, seus familiares ou seus representantes devidamente acreditados, poderão
apresentar diretamente a esta uma petição de medidas provisórias em relação aos referidos
casos[fJ.
4. A solicitação pode ser apresentada ao Presidente, a qualquer um dos juizes ou à Secretaria, por
qualquer meio de comunicação. Seja como for, quem houver recebido a solicitação deverá leva-la
ao Imediato conhecimento do Presidente.
5. Se a Corte não estiver reunida, o Presidente, em consulta com a Comissão Permanente e, se for
possível, com os demais juizes, requererá do governo interessado que tome as providências
urgentes necessárias a fim de assegurar a eficácia das medidas provisórias que a Corte venha a
adotar depois em seu próximo período de sessões.
6. Os beneficiários de medidas provisórias ou medidas urgentes do Presidente poderão apresentar
diretamente à Corte suas observações ao relatório do Estado. A Comissão Interamericana de
Direitos Humanos deverá apresentar observações ao relatório do Estado e às observações dos
beneficiários das medidas ou seus representantes.
7. A Corte, ou seu Presidente se esta não estiver munida, poderá convocar as partes a uma
audiência pública sobre as medidas provisórias.
8. A Corte incluirá em seu Relatório Anual à Assembléia Geral uma relação das medidas provisórias
que tenha ordenado durante o período do relatório e, quando tais medidas não tenham sido
devidamente executadas, formulará as recomendações que considere pertinentes.

61
imprensa emitida pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos
(SEDH), acusou conhecimento da medida provisória e indicou as
medidas a serem tomadas a respeito.
Observe-se, que, mesmo que o desrespeito a direitos
humanos não se origine de atos tomados pelo govemo federal, o Estado
poderá ser responsabilizado. Deste modo» não pode o Estado se eximir de
sua responsabilidade internacional por motivos de ordem interna. Sendo
assim, a forma federativa do Estado e a conseqüente divisão de
competências materiais e legislativas não podem ser alegadas pelo Estado
para exonerar-se de responsabilidades. Observe-se, contudo, que a União
é que será demandada, ainda que uma autoridade estadual ou municipal é
que seja responsável pelos danos causados.

2.2 Direito Penai internacional


O Direito Penal Internacional é constituído por um conjunto
de regras internacionais que prevêem crimes como o genocídio, crimes
contra a humanidade, crimes de guerra, etc. Tais crimes podem vir a ser
julgados por tribunais internacionais, como o Tribunal de Nurembergue,
instituído pelo Acordo de Londres, de 08-08-1945.
Apesar de contestado pela doutrina, os crimes internacionais
podem ser submetidos a tribunais internacionais aâ hoe, como foram os
casos do Tribunal de Nurembergue, do Tribunal Penal Internacional para
a Ex-Iugoslávia e do Tribunal Penal para Ruanda. Além disso, em alguns
casos, os indivíduos acusados de crimes de guerra são submetidos a
tribunais nacionais. Há também a possibilidade de os indivíduos serem
julgados pelos tribunais internos de outros Estados, em decorrência de
tratados firmados nesse sentido.
Em 17-07-1998, por meio do Tratado de Roma, foi criado o
Tribunal Penal Internacional - TPI, cuja competência “limita-se aos
crimes mais graves que atingem o conjunto da comunidade
internacional”. Esses crimes são o crime de genocídio, os crimes contra a
humanidade (extermínio, redução à escravatura, deportação forçada,
tortura, etc., nos termos do art. 7o do Estatuto), os crimes de guerra (art. 8o
do Estatuto) e o crime de agressão.
Além disso, a jurisdição do TPI não está restrita a uma
situação específica, ao passo que os Tribunais ad hoc foram criados para
analisarem crimes cometidos durante esses conflitos. Assim,
diferentemente dos foros de Nuremberg, da Iugoslávia ou e Ruanda, o

62
Direito Internacional

Tribunal Penal Internacional não tem limites geográficos ou circuns-


tanciais49.
O Tribunal Penal Internacional tem sua sede em Haia,
Holanda, e é uma instituição judiciária permanente, criada pela vontade
dos Estados fundadores, dotada de personalidade jurídica própria. Essa
característica o diferencia de outras cortes internacionais, geralmente
vinculadas a organizações internacionais. É regido pelo Estatuto de
Roma, o qual determina que o Tribunal:
a. tem caráter permanente;
b. é competente para julgar os crimes cometidos após a
entrada em vigor do Estatuto (jurisdição não-retroativa);
c. consagra o princípio de que a responsabilidade penal
individual será invocada perante o Direito Internacional indepen­
dentemente da lei nacional e de que a imunidade de Chefes de Estado e
Ministros não os beneficiará quando envolvidos em crimes interna­
cionais;
d. possui jurisdição complementar, ou seja, a jurisdição
nacional do Estado onde ocorreu o crime ou do Estado da nacionalidade
do réu tem preferência no julgamento do crime; e
e. o exercício da jurisdição do Tribunal pressupõe que o
Estado em cujo território tenha tido lugar a conduta em causa, ou, se o
crime tiver sido cometido a bordo de um navio ou de uma aeronave, o
Estado de matrícula do navio ou aeronave; ou o Estado de que seja
nacional a pessoa a quem é imputado um crime.sejam Partes no Estatuto
de Roma ou aceitem a competência do Tribunal.
O entendimento aceito na atualidade é de que a jurisdição
internacional é de caráter complementar, em outras palavras, não apenas
observa a regra do non bis in idem, mas também determina que as
jurisdições nacionais, como a do Estado onde ocorreu o crime, ou a do
Estado da nacionalidade do réu, tenham preferência no seu julgamento,
de modo que só a sua inércia ou condescendência justificam a ação no
foro internacional50.

49 REZEK, op. cit. p. 156.


50 REZEK, op. Cit. p .156.

63
Algumas observações adicionais sobre o Tribunal Penal
Internacional:
> Tanto um Estado Parte quanto o Conselho de
Segurança da ONU podem denunciar ao
Procurador a ocorrência de indícios de crimes. O
procurador poderá, por sua própria iniciativa,
abrir um inquérito com base em informações
sobre a prática de crimes da competência do
Tribunal.

> Se concluir que existe fundamento suficiente para


abrir um inquérito, o procurador apresentará um
pedido de autorização nesse sentido ao juízo de
instrução, acompanhado da documentação de
apoio que tiver reunido. As vítimas poderão
apresentar exposições no juízo de instrução, de
acordo com o Regulamento Processual. A recusa
do juízo de instrução em autorizar a abertura do
inquérito não impedirá o procurador de formular
ulteriormente outro pedido com base em novos
fetos ou provas respeitantes à mesma situação.

> As penas aplicadas são: pena de prisão; multa;


perda de produtos, bens e haveres provenientes do
crime e indenização às vítimas.

> O TPI não poderá julgar uma pessoa já julgada por


outro Tribunal, a menos que o processo nesse outro
Tribunal: a) tenha tido por objetivo subtrair o
acusado à sua responsabilidade criminal; ou b) não
tenha conduzido de forma independente ou
imparcial, em conformidade com as garantias de
um processo eqüitativo reconhecidas pelo direito
internacional, ou tenha sido conduzido de maneira
que, no caso concreto, se revele incompatível com a
intenção de submeter a pessoa à ação da justiça (art.
20 do Estatuto).

> A todo o momento após a abertura do inquérito, o


juízo de instrução poderá, a pedido do procurador,
emitir um mandado de detenção contra uma

64
Direito Internacional

pessoa se, após examinar o pedido e as provas ou


outras informações submetidas pelo procurador,
considerar que:
a) Existem motivos suficientes para crer que essa
pessoa cometeu um crime da competência do
Tribunal; e
b) A detenção dessa pessoa se mostra necessária
para:
i) Garantir o seu comparecimento em tribunal;
ii) Garantir que não obstruirá, nem porá em
perigo, o inquérito ou a ação do Tribunal; ou
iii) Se for o caso, impedir que a pessoa continue a
cometer esse crime ou um crime conexo que seja
da competência do Tribunal e tenha a sua origem
nas mesmas circunstâncias..

> O mandado de detenção manter-se-á válido até


decisão em contrário do Tribunal. Em 04 de
março de 2009, o TPI determinou prisão do
presidente do Sudão, Omar Hassan Ahmad al-
. Bashir, por crimes de guerra (ataque a civis e
pilhagem) e crimes contra a humanidade (homi­
cídio, extermínio, deslocamento forçado, tortura e
estupro), em Darfur.

2.3 Proteção internacional do meio ambiente


Na administração de seu próprio território e em qualquer
atividade de uso de recursos naturais, cada vez mais o Estado subordina-
se a normas internacionais, de elaboração quase sempre multilateral
Essas normas prestigiam os chamados direitos de terceira geração, dentre
as quais se encontra o direito a um meio ambiente saudável.
As Conferências Internacionais de Estocolmo, em 1972, e
do Rio de Janeiro, em 1992, foram marcos que propiciaram a criação e
disseminação de princípios que aliam a proteção ao meio ambiente com o
crescimento econômico, dentre os quais se destaca o princípio do
“desenvolvimento sustentável”, adotado na Conferência do Rio de
Janeiro, por meio da Declaração do Rio e da Agenda 21. Segundo o
Princípio 4 da Declaração do Rio, “para se alcançar o desenvolvimento
sustentável, a proteção do meio ambiente deve constituir parte integrante

65
do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente
em relação a ele”.
Além do princípio do desenvolvimento sustentável» são
princípios gerais do direito internacional do meio ambiente:
- princípio da cooperação;
- princípio da precaução e prevenção;
- princípio do poluidor-pagador;
- princípio do fornecimento de informações e consulta.
A responsabilidade civil do Estado no direito internacional,
em regra, é subjetiva ou por culpa, ou, ainda sistema de responsabilidade
por um ilícito, sendo necessários, para que se configure o dever de
reparação: (i) a ocorrência de um ilícito (decorrente de ato ou omissão);
(ii) a ocorrência de um dano; e (iii) a imputabilidade do dano ao Estado.
Contudo, segundo esclarece Guido Soares51, "a crescente industria­
lização em todas as partes do mundo e a conseqüente banalização dos
perigos, (...) trouxe para as relações internacionais o sistema dito da
responsabilidade objetiva ou por risco, precisamente no campo da
regulamentação internacional do meio ambiente. Segundo tal sistema, a
norma que define a obrigação de reparar não se preocupa, de forma
alguma, em determinar a licitude ou ilicitude de uma conduta que cause
dano, mas, antes, procura definir as conseqüências de uma conduta
perigosa.”
A responsabilidade objetiva no direito internacional é,
portanto, a exceção, prevista em convenções que se referem princi­
palmente à proteção ambiental.
O dano ambiental transfronteiriço pode abranger as
hipóteses em que os efeitos negativos alcançam as áreas de domínio
comum internacional ou os territórios de outros Estados. Nesse sentido,
estabelece a Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada no Rio de
Janeiro, em 05 de junho de 1992:
Artigo 3
Princípio
Os Estados, em conformidade com a Carta das Nações
Unidas e com os princípios de Direito Internacional, têm o direito

51 SOARES, Cuido Fernando Silva Soares, A Proteção Internaciona! do Meio Ambiente. Manoie:
2003, p. 161.

66
Direito Internacional

soberano de explorar seus próprios recursos segundo suas políticas


ambientais, e a responsabilidade de assegurar que atividades sob sua
jurisdição ou controle não causem dano ao meio ambiente de outros
Estados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional
Sendo assim, apesar de não haver uma definição clara
acerca do termo “dano ambiental tranfronteiriço” de modo que sua
aplicação será definida caso-a-caso, os textos convencionais tratam a
questão de modo abrangente, bastando que o Estado cause danos em
áreas além dos limites de sua jurisdição.
Vejamos a seguir algumas das principais convenções
internacionais relativas à preservação do meio ambiente e temas afins.

.| Convenção Objeto \
Convenção-Quadro das Nações llnidas Estabilização das concentrações de j
sobre Mudanças do Clima e seu Proto­ gases de efeito estufa, o que deverá ser i
colo de Kyoto, de 1992. alcançado a partir de medidas a serem j
: Promulgada no Brasil pelo Decreto n. implementadas por países do Anexo I j
2.652/1998. (desenvolvidos), de acordo com método-
logias previstas no Protocolo de Kyoto,
dentre as quais se destaca o chamado
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo -
MDL.

Convenção sobre Diversidade Biológica, Conservação da biodiversidade, utiliza-ção


; de 1992. sustentável de seus componentes e repar­
Promulgada no Brasil pelo Decreto n. tição eqüitativa dos benefícios derivados da
2/1994. utilização dos recursos gene-ticos. |

: Convenção do Direito do Mar, de 1982. Prevenção e redução da poluição mari­


Promulgada no Brasil pelo Decreto n. nha. Classifica as fontes de poluição
1.530/1995. como de origem terrestre, proveniente de
atividades relativas aos fundos marinhos
sob jurisdição nacional, proveniente de
atividades na área, por alijamento, prove­
niente de embarcações e proveniente da
\
3
atmosfera.

| Convenção sobre o Comércio Inter- Controle do comércio internacional de


| nacional de Espécies de Fauna e Flora fauna e flora silvestres, estabelecendo
Selvagens em Perigo de Extinção controle e fiscalização especialmente
(CITES), de 1973. quanto ao comércio de espécies ameaça­
! Promulgada no Brasil pelo Decreto n. das, suas partes e derivados com base
| 76.623, de 17 de novembro de 1975. num sistema de licença e certificados.

67
Convenção sobre Proibição do Uso Os Estados-Partes comprometem-se a
Militar ou Hostil de Técnicas de Modifi­
não promover o uso militar ou qualquer
cação Ambiental, de 1976. outro uso hostil de técnicas de modifi­
Promulgada no Brasil pelo Decreto n. | cação ambiental que tenham efeitos
225/1991. disseminados, duradouros ou graves,
como meio de infligir destruição, dano ou
prejuízo a qualquer outro Estado-Parte.
Comprometem-se também a não prestar
assistência, encorajar ou induzir qualquer
Estado, grupo de Estados ou organiza­
ção, internacional, a empreender essas
atividades.

Convenção da Basiléia sobre Movi- j Estabelece mecanismos internacionais de


mentos Transfronteiriços de Resíduos controle de movimentos transfronteiriços
Perigosos e seu Depósito, de 1989. de resíduos, baseando-se no princípio do
Promulgada no Brasil pelo Decreto n. consentimento prévio e explícito para a
875/1993. importação e o trânsito de resíduos perigo­
sos e procurando coibir o tráfico ilícito»
Prevê a intensificação da cooperação
internacional para a gestão adequada de
resíduos.

Tratado da Bacia do Prata, de 1969. Assinado pela Argentina, Bolívia, Brasil, ;


Promulgado peto Decreto n. 85.050/1978. Paraguai e Uruguai com o objetivo de
“permitir o desenvolvimento harmônico e !
equilibrado, assim como o ótimo apro­
veitamento dos grandes recursos naturais I
da região, e assegurar sua preservação
para as gerações futuras através da
utilização racional dos aludidos recursos”.
A bacia contém um dos maiores aqüí­
feros conhecidos - o Guarani - Gom 1,6
milhões de km2.

Tratado de Cooperação Amazônica, de Promoção de cooperação entre os países


1978. amazônicos - Brasil, Bolívia, Colômbia,
Promulgado pelo Decreto n. 85.050/1990. Equador, Guiana, Peru, Suriname e
Venezuela - em favor do desenvol­
vimento sustentável da região. O
documento é regido por cinco princípios
gerais: a competência exclusiva dos
países da região no desenvolvimento e
proteção da Amazônia; a soberania na­
cional na utilização e conservação de

68
Direito Internacional

recursos naturais; a cooperação regional f


como meio de facilitar a realização dos
dois objetivos anteriores; o equilíbrio e a
harmonia entre a proteção ecológica e o
desenvolvimento econômico; e a abso­
luta igualdade entre as parles.

Convenção Internacional sobre Respon­ Estabelece critérios de responsabilização


sabilidade Civil por Danos Causados por civil por danos a terceiros causados por i;
Poluição de Óleo, de 1969. derramamentos de óleo no mar, criando
Promulgada no Brasil pelo Decreto n. um sistema de seguro compulsório, que
79.437/1977. se aplica aos navios petroleiros dos
países signatários a esta Convenção.

i Convenção de Viena para Proteção da Estabelece a cooperação internacional


i Camada de Ozônio, de 1985 e seu para pesquisa, monitoramento e compar­
Protocolo de Montreal, de 1987. tilhamento de informações sobre produ­
Promulgada pelo Decreto n. 99.820/1990. ção e emissões de CFC, e de aprovação
de protocolos de controle se e quando
necessários. Não contém compromissos
para a tomada de ações para reduzir a
produção e o consumo de CFC, mas foi
um marco importante, uma vez que os
Estados concordaram em enfrentar o
problema antes que seus efeitos fossem
sentidos, ou que a sua existência fosse
cientificamente provada, em observância
ao “principio da precaução”.

Convenção relativa â Proteção do Patri­ Cria obrigações especificas para os


mônio Mundial, Cultural e Natural, de Estados signatários no que se refere à
1972. preservação do meio ambiente, conside­
Promulgada pelo Decreto n. 89.978/1977. rando como patrimônio cultural as obras
monumentais de arquitetura, escultura ou
pintura, os elementos ou estruturas de
natureza arqueológica, os conjuntos
arquitetônicos ou paisagísticos de valor
universal excepcionai, e ós lugares [
notáveis. Já o patrimônio natural é cons- j
tituído por monumentos naturais de valor |
universal do ponto de vista estético ou l
cientifico, as áreas que constituam o (
habitat de espécies animais ou vegetais j
ameaçadas ou que tenham valor |

69
excepciona! do ponto de vista da ciência
ou da conservação, e os lugares notá­
veis, cuja conservação é necessária para
a preservação da beieza natural.
Os Estados partes comprometem-se a
identificar, proteger, conservar e legar a
futuras gerações o patrimônio cultural e
natural, apresentando ao “Comitê do
Patrimônio Mundial”, criado pela Conven­
ção, um rol dos bens situados em seu
território que possam ser incluídos na
lista de bens protegidos como “Patrimô­
nio Mundial”.

2.4 Outras convenções internacionais

2.4.1 Convenção para repressão ao genocídio

Em 1998, foi aprovada a Convenção para a Prevenção e


Repressão do Crime de Genocídio no âmbito da Organização das Nações
Unidas. As principais disposições dessa convenção constam a seguir:

As Partes Contratantes confirmam que o genocídio, seja


cometido em tempo de paz ou em tempo de guerra, é um crime contra a
humanidade.

- Defme o genocídio como os atos comet


intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico,
racial ou religioso, tais como:
a) Assassinato de membros do grupo;
b) Atentado grave à integridade física e mental de membros
do grupo;
c) Submissão deliberada do grupo a condições de existência
que acarretarão a sua destruição física, total ou parcial;
d) Medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do
grupo;
e) Transferência forçada das crianças do grupo para outro
grupo.

70
Direito Internacional

- Determina a punição de governantes, funcionários ou


particulares pelos seguintes atos:
a) O genocídio;
b) O acordo com vista a cometer genocídio;
c) O incitamento, direito e público, ao genocídio;
d) A tentativa de genocídio;
e) A cumplicidade no genocídio.
- As Partes obrigam-se a adotar, de acordo com as suas
Constituições respectivas, as medidas legislativas necessárias para
assegurar a aplicação das disposições da Convenção e, especialmente, a
prever sanções penais eficazes que recaiam sobre as pessoas culpadas de
genocídio.
- As pessoas acusadas de genocídio serão julgadas pelos
tribunais competentes do Estado em cujo território o ato foi cometido ou
pelo tribunal criminal internacional que tiver competência, ou seja, cuja
jurisdição tenha sido reconhecida pelas Partes.
- O genocídio e demais atos previstos na Convenção não
serão considerados crimes políticos, para efeitos de extradição. Além
disso, as Partes obrigam-se a conceder a extradição de acordo com a sua
legislação e com os tratados em vigor.

2.4.2 Convenção contra o crime organizado


transnaclonal
No Brasil, o Decreto n° 5.015/2004 promulga essa
convenção, firmada no âmbito das Nações Unidas em 15 de novembro de
2000. em Nova Iorque. Principais disposições:
- Objetiva promover a cooperação para prevenir e combater
mais eficazmente a criminalidade organizada transnacional.
- Traz as seguintes definições:
a) “Grupo criminoso organizado" - grupo estruturado de trê
ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente
com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas

71
na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente,
um benefício econômico ou outro benefício material;
c) "Grupo estruturado" - grupo formado de maneira não
fortuita para a prática imediata de uma infração, ainda que os seus
membros não tenham funções formalmente definidas, que não haja
continuidade na sua composição e que não disponha de uma estrutura
elaborada;
e) "Produto do crime" - os bens de qualquer tipo,
provenientes, direta ou indiretamente, da prática de um crime;
f) "Bloqueio" ou "apreensão" - a proibição temporária de
transferir,, converter, dispor ou movimentar bens, ou a custódia ou
controle temporário de bens, por decisão de um tribunal ou de outra
autoridade competente;
g) "Confisco" - a privação com caráter definitivo de bens,
por decisão de um tribunal ou outra
i) "Entrega vigiada" - a técnica que consiste em perm
remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais Estados,
os atravessem ou neles entrem, com o conhecimento e sob o controle das
suas autoridades competentes, com a finalidade de investigar infrações e
identificar as pessoas envolvidas na sua prática;
- A convenção é aplicável à investigação, instrução e
julgamento de infrações de caráter transnacional e envolvam um grupo
criminoso organizado. A infração será de caráter transnacional se:
a) For cometida em mais de um Estado;
b) For cometida num só Estado, mas uma parte substancial
da sua preparação, planeamento, direção e controle tenha lugar em outro
Estado;
c) For cometida num só Estado, mas envolva a participação
de um grupo criminoso organizado que pratique atividades criminosas em
mais de um Estado; ou
d) For cometida num só Estado, mas produza efeitos
substanciais noutro Estado.
- A Convenção criminaliza a lavagem do produto do crime,
quando praticada intencionalmente:

72
Direito Internacional

a) i) A conversão ou transferência de bens, quando quem o


faz tem conhecimento de que esses bens são produto do crime, com o
propósito de ocultar ou dissimular a origem ilícita dos bens ou ajudar
qualquer pessoa envolvida na pratica da infração principal a furtar-se às
conseqüências jurídicas dos seus atos;
ii) A ocultação ou dissimulação da verdadeira natureza,
origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens
ou direitos a eles relativos, sabendo o seu autor que os ditos bens são
produto do crime;
b) e, sob reserva dos conceitos fundamentais do seu
ordenamento jurídico:
i) A aquisição, posse ou utilização de bens, sabendo aquele
que os adquire, possui ou utiliza, no momento da recepção, que são
produto do crime;
ii) A participação na prática de uma das infrações
enunciadas no presente Artigo, assim como qualquer forma de
associação, acordo, tentativa ou cumplicidade, pela prestação de
assistência, ajuda ou aconselhamento no sentido da sua prática.
- A Convenção prevê, ainda, medidas para combater a
lavagem de dinheiro, de modo que cada Estado Parte:
a) Instituirá um regime interno completo de regulamentação
e controle dos bancos e instituições financeiras não bancárias e, quando
se justifique, de outros organismos especialmente susceptíveis de ser
utilizados para a lavagem de dinheiro, dentro dos limites da sua
competência, a fim de prevenir e detectar qualquer forma de lavagem de
dinheiro, sendo nesse regime enfatizados os requisitos relativos à
identificação do cliente, ao registro das operações e à denúncia de
operações suspeitas;
b) Garantirá que as autoridades responsáveis pela admi­
nistração, regulamentação, detecção e repressão e outras autoridades
responsáveis pelo combate à lavagem de dinheiro (incluindo, quando tal
esteja previsto no seu direito interno, as autoridades judiciais), tenham a
capacidade de cooperar e trocar informações em âmbito nacional e
internacional, em conformidade com as condições prescritas no direito
interno, e, para esse fim, considerará a possibilidade de criar um serviço

73
de informação financeira que funcione como centro nacional de coleta,
análise e difusão de informação relativa a eventuais atividades de
lavagem de dinheiro.
- Além disso, cada Estado adotará medidas para crimina-
lização da corrupção e para responsabilização de pessoas jurídicas que
participem em infrações graves envolvendo um grupo criminoso
organizado. A responsabilidade das pessoas jurídicas poderá ser penal,
civil oü administrativa e não obstará à responsabilidade penal das pessoas
físicas que tenham cometido as infrações.
- Os Estados Partes adotarão, na medida em que o seu
ordenamento jurídico interno o permita, as medidas necessárias para
permitir o confisco:
a) Do produto das infrações previstas na presente
Convenção ou de bens cujo valor corresponda ao desse produto;
b) Dos bens, equipamentos e outros instrumentos utilizados
ou destinados a ser utilizados na prática das infrações previstas na
presente Convenção.
- Cada Estado Parte adotará as medidas necessárias para
estabelecer a sua competência jurisdicional em relação às infrações
previstas na Convenção, nos seguintes casos:
a) Quando a infração for cometida no seu território; ou
b) Quando a infração for cometida a bordo de um navio que
arvore a sua bandeira ou a bordo de uma aeronave matriculada em
conformidade com o seu direito interno no momento em que a referida
infração for cometida.
- O Estado poderá igualmente estabelecer a sua competência
jurisdicional em relação a qualquer destas infrações, nos seguintes casos:
a) Quando a infração for cometida contra um dos seus
cidadãos;
b) Quando a infração for cometida por um dos seus cidadãos
ou por uma pessoa apátrida residente habitualmente no seu território; ou
c) Quando a infração for:
I) Uma das previstas no parágrafo 1 do Artigo 5 da pr
Convenção e praticada fora do seu território, com a intenção de cometer
uma infração grave no seu território;

74
Direito Internacional

II) Uma das previstas no inciso II) da alínea b) do parágrafo


I o do Artigo 6 da presente Convenção e praticada fora do seu território
com a intenção de cometer, no seu território, uma das infrações
enunciadas nos incisos I) ou II) da alínea a) ou I) da alínea b) do
parágrafo Io do Artigo 6 da presente Convenção.
- É possível a extradição da pessoa envolvida, desde que
infração pela qual é pedida a extradição seja punível pelo direito interno
do Estado Parte requerente e do Estado Parte requerido. Se um Estado
Parte que condicione a extradição à existência de um tratado receber um
pedido de extradição de um Estado Parte com o qual não celebrou'tal
tratado, poderá considerar a presente Convenção como fundamento
jurídico da extradição quanto às infrações a que se aplique o presente
Artigo. A extradição estará sujeita às condições previstas no direito
interno do Estado Parte requerido ou em tratados de extradição aplicáveis,
incluindo, nomeadamente, condições relativas à pena mínima requerida
para uma extradição e aos motivos pelos quais o Estado Parte requerido
pode recusar a extradição.

2.4.3 Convenção contra o trafico IHtito de


entorpecentes
No Brasil, o Decreto n° 154/1991 promulgou a Convenção
contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, a
qual visa a promover a cooperação entre as Partes a fim de que se possa
fazer frente, com maior eficiência, aos diversos aspectos do tráfico ilícito
de entorpecentes e de substâncias psicotrópicas que tenham dimensão
internacional. No cumprimento das obrigações que tenham sido
contraídas em virtude desta Convenção, as Partes adotarão as medidas
necessárias, compreendidas as de ordem legislativa e administrativa, de
acordo com as disposições fundamentais de seus respectivos
ordenamentos jurídicos internos.
Cada uma das Partes adotará as medidas necessárias para
caracterizar como delitos penais em seu direito interno, quando cometidos
internacionalmente:
a) i) a produção, a fabricação, a extração, a preparação,
oferta para venda, a distribuição, a venda, a entrega em quaisquer
condições, a corretagem, o envio, o envio em trânsito, o transporte, a

75
importação ou a exportação de qualquer entorpecente ou substância
psicotrópica, contra o disposto na Convenção de 1961 em sua forma
emendada, ou na Convenção de 1971;
ii) o cultivo de sementes de ópio, do arbusto da coca ou da
planta de cannabis, com o objetivo de produzir entorpecentes, contra o
disposto na Convenção de 1961 em sua forma emendada;
iii) a posse ou aquisição de qualquer entorpecente ou
substância psicotrópica com o objetivo de realizar qualquer uma das
atividades enumeradas no item i) acima;
iv) a fabricação, o transporte ou a distribuição de
equipamento, material ou das substâncias enumeradas no Quadro I e no
Quadro II, sabendo que serão utilizados para o cultivo, a produção ou a
fabricação ilícita de entorpecentes ou substâncias psicotrópicas;
v) a organização, a gestão ou o financiamento de um dos
delitos enumerados nos itens i), ii), iii) ou iv);
b) i) a conversão ou a transferência de bens, com
conhecimento de que tais bens são procedentes de algum ou alguns dos
delitos estabelecidos no inciso a) deste parágrafo , ou da prática do delito
ou delitos em questão, com o objetivo de ocultar ou encobrir a origem
ilícita dos bens, ou de ajudar a qualquer pessoa que participe na prática do
delito ou delitos em questão, para fugir das conseqüências jurídicas de
seus atos;
ii) a ocultação ou o encobrimento, da natureza, or
localização, destino, movimentação ou propriedade verdadeira dos bens,
sabendo que procedem de algum ou alguns dos delitos mencionados no
inciso a) deste parágrafo ou de participação no delito ou delitos em
questão;
c) de acordo com seus princípios constitucionais e com os
conceitos fundamentais de seu ordenamento jurídico:
i) a aquisição, posse ou utilização de bens, tendo
conhecimento, no momento em que os recebe, de que tais bens procedem
de algum ou alguns delitos mencionados na letra a) ou de ato de
participação no delito ou delitos em questão;
ii) a posse de equipamentos ou materiais ou substâncias,
enumeradas no Quadro I e no Quadro II, tendo conhecimento prévio de

76
Direito Internacional

que são utilizados, ou serão utilizados, no cultivo, produção ou fabricação


ilícitos de entorpecentes ou de substâncias psicotrópicas;
iii) instigar ou induzir publicamente outrem, por qualquer
meio, a cometer alguns dos delitos mencionados neste Artigo ou a utilizar
ilicitamente entorpecentes ou substâncias psicotrópicas;
iv) a participação em qualquer dos delitos mencionados
neste Artigo, a associação e a confabulação para cometê-los, a tentativa
de cometê-los e a assistência, a incitação, a facilitação ou o assessora-
mento para a prática do delito.
No que se refere à jurisdição de cada Estado sob os crimes
objeto da Convenção, cada Parte será competente: i) quando o delito é
cometido em seu território; e ii) quando o delito é cometido a bordo de
navio que traz seu pavilhão ou de aeronave matriculada de acordo com
sua legislação quando o delito foi cometido, dentre outras hipóteses que
poderão ser previstas no ordenamento jurídico interno de cada Estado.

2.4.4 Convenção contra o tráfico de armas


O chamado Protocolo contra a Fabricação e o Tráfico Ilícito
de Armas de Fogo, suas Peças, Componentes e Munições, complementar
à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional, foi promulgado no Brasil por meio do Decreto N°
5.941/2006.
A finalidade deste Protocolo é promover, facilitar e
fortalecer a cooperação entre os Estados Partes a fim de prevenir,
combater e erradicar a fabricação e o tráfico ilícitos de armas de fogo,
suas peças e componentes e munições, não sendo aplicável a transações
entre Estados ou transferências estatais nos casos em que a aplicação do
Protocolo prejudique o direito de um Estado Parte de adotar medidas no
interesse da segurança nacional conformes com a Carta das Nações
Unidas.
Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e outras
que sejam necessárias para tipificar como delitos criminais as seguintes
condutas, quando se cometam intencionalmente:
(a) Fabricação ilícita de armas de fogo, suas peças e
componentes e munições;

77
(b) Tráfico ilícito de armas de fogo, suas peças e
componentes e munições;
(c) Falsificação ou obliteração, supressão ou alteração
ilícitas de marca(s) em armas de fogo exigida(s) pelo artigo 8 deste
Protocolo.
Além disso, os Estados Partes adotarão, até onde permitir
seu ordenamento jurídico interno, as medidas que forem necessárias para
possibilitar o confisco de armas de fogo, suas peças e componentes e
munições que tenham sido ilicitamente fabricados ou traficados.
Os Estados Partes adotarão, ainda, no âmbito de seu
ordenamento jurídico interno, as medidas necessárias para impedir que
armas de fogo, peças e componentes e munições ilicitamente fabricados e
traficados caiam nas mãos de pessoas não autorizadas, por meio da
apreensão e destruição dessas armas de fogo, suas peças e componentes e
munições, a menos que outra disposição tenha sidò oficialmente
autorizada, contanto que as armas de fogo tenham sido marcadas e que os
métodos de disposição dessas armas de fogo e munições tenham sido
registradas.

2.4.5Convenção sobre o combate à corrupção de


funcionários públicos estrangeiros em transações
comerciais Internacionais
Essa Convenção foi firmada pelo Brasil em Paris, França»
em 17 de dezembro de 1997, ratificada por meio do Decreto Legislativo
n° 125, de 14 de junho de 2000, e promulgada pelo Decreto presidencial
n° 3678, de 30 de novembro de 2000.) Tem como finalidade a adoção de
medidas, de forma efetiva e coordenada entre os Estados Parte, para
prevenir e reprimir a corrupção de funcionários públicos estrangeiros na
esfera das transações comerciais internacionais.
Segundo informação oficial do Ministério da Justiça52, “os
Estados Parte comprometeram-se a realizar um trabalho conjunto,
buscando possibilitar a implementação de medidas de ordem jurídica e
administrativa que permitam o alcance dos objetivos previstos na
52 http://www.mi.aov.br/data/Paaes/MJCEAF61211TEMIDD3474CB1E21445
698DQ603BA301D1093PTBRIE.htm. Consulta realizada em 20 de novembro de 2007.

78
Direito Internacional

Convenção, entre as quais está o de estabelecer responsabilidades às


pessoas jurídicas que corrompam funcionários públicos estrangeiros;
considerar a imposição de sanções cíveis ou administrativas a pessoas
sobre as quais recaiam condenações por corrupção aos referidos
funcionários; como também a prestação da assistência jurídica recíproca
de forma efetiva e rápida, em especial no que se refere à criminalidade
dual.
Ademais, esta Convenção obriga os Estados Parte a
criminalizar o ato de corrupção de funcionários públicos estrangeiros e a
aplicar penalidades criminais "eficazes, proporcionais e dissuasivas" aos
delitos relacionados aos mesmos.
Urge salientar que, na reunião realizada em 12 a 14 de junho
de 2002, em Paris, o Brasil anunciou para o Grupo de Trabalho sobre a
Corrupção que, em face da aprovação da Lei 10.467, de 11 de junho de
2002, de iniciativa do Poder Executivo e elaborada pelo Ministério da
Justiça, havia cumprido com o processo de adequação da legislação
nacional aos compromissos assumidos na presente Convenção.
Por meio da referida Lei, foi acrescentado o Capítulo II-A
ao Código Penal, que dispõe sobre “os crimes praticados por particular
contra a administração pública estrangeira", tipificando a corrupção ativa
em transação comercial internacional, o tráfico de influência em
transação comercial internacional, a ocultação ou dissimulação de
produtos de crime praticado por particular contra a administração pública
estrangeira e, definindo, para efeitos penais, "funcionário público
estrangeiro".
Os Estados Parte, com vistas a assegurar a eficácia dos
propósitos visados neste Acordo, deverão submeter-se e cooperar na
execução de um programa de acompanhamento sistemático, realizado por
um Grupo de Trabalho sobre corrupção estabelecido na OCDE
(Organisation for Economic Cooperation and Development), que
monitorará a integral implementação da Convenção. Neste processo,
como já salientado anteriormente, os Estados serão objeto de uma
aferição, onde será avaliado se o país está cumprindo o que foi
convencionado. Contudo, na esfera de atuação do presente Acordo, ficou
ajustado que, caso os Estados Parte não cumpram estabelecido na
Convenção, os mesmos responderão à comunidade internacional
mediante à imposição de sanções econômicas.”

79
Direito Internacional

Capítulo IV

Representação Diplom ática

As relações diplomáticas e consulares entre os povos


existem há muito tempo. O direito internacional adotou-as e organizou-as,
mas não as instituiu. Foi a partir do aparecimento do Estado que a prática
demonstrou que a forma mais segura de exercício da soberania é a
manutenção efetiva, por intermédio dos seus próprios agentes e em pé de
igualdade, de relações diplomáticas e consulares com outros Estados
soberanos.

1 Missões diplomáticas
Todo Estado soberano tem o direito de estabelecer relações
diplomáticas. Chama-se direito de legação ativo o direito de envio de
missão diplomática, e passivo quando o Estado recebe a missão de outro
Estado53.
O artigo 2° da Convenção de Viena de 1961 estabelece que
as relações diplomáticas entre Estados e o envio de missões diplomáticas
permanentes fazem-se por consentimento mútuo. A regra do
consentimento mútuo é conseqüência de um compromisso nacional,
inteiramente em conformidade com o princípio segundo qual toda
limitação das competências soberanas de um Estado depende de sua
aceitação54.

53 DINH, DAILÜER, e PELLET, op. cit. p. 662.


54 DINH, DAllUER, e PELLET, op. cit. p. 662.

81
O objetivo da missão diplomática é assegurar a manutenção
de boas relações entre os Estados, bem como proteger os direitos e
interesses do país e de seus nacionais.
A missão diplomática possui funções de representação, ou
seja, o agente diplomático age em nome do Estado que representa,
devendo promover o intercâmbio econômico, cultural e científico. Possui
também a função de negociar com o Estado acreditado. Deve também
proteger os interesses de seu Estado, observar as condições e a evolução
dos acontecimentos no Estado acreditado e informar seu governo sobre
tais circunstâncias55.
Assim como seu estabelecimento, a ruptura das relações
diplomáticas é um ato discricionário do Estado, e se traduz pela decisão
unilateral que este toma ao fechar sua missão diplomática, impondo,
assim, a mesma decisão ao seu parceiro, em virtude do princípio da
reciprocidade. É, no entanto, um ato bastante grave e não acontece senão
em último recurso.

1.1 Convenção de Viena de 1961


A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, de
1961, é o documento fundamental no que se refere às relações diplo­
máticas entre Estados. A Convenção foi a compilação de uma estrutura
normativa descendente do costume e trouxe, entre muitas outras
novidades, a consagração do princípio de que a missão diplomática deve
ser entendida em seu conjunto e não isoladamente considerada na figura
do embaixador. Assim, a missão diplomática abrange o chefe da missão,
os funcionários e o pessoal técnico e de serviço.
Segundo a Convenção, os chefes de missão dividem-se em
três classes: a) embaixadores ou núncios acreditados perante chefes de
Estado; b) enviados, ministros ou intemúncios; e c) encarregados de
negócios, acreditados perante o Ministério das Relações Exteriores.
O grupo de agentes diplomáticos acreditados em um mesmo
Estado é chamado corpo diplomático, o qual é presidido pelo decano, que
é o mais antigo agente diplomático. A expressão “agente diplomático”
engloba o chefe da missão e todos os membros do pessoal diplomático.

56 SILVA & ACCIOLY, op. cit., p. 171.

82
Direito Internacional

Os funcionários diplomáticos são classificados como


permanentes ou temporários. Permanentes são os que atuam perma­
nentemente junto a um govemo. Os temporários integram uma delegação
em uma conferência ou são enviados a uma posse presidencial, por
exemplo.
A missão diplomática permanente, qualificada geralmente
de embaixada e, por vezes, de legação, é um serviço público do Estado
acreditante instalado permanentemente no território do Estado
acreditador.
Os agentes são escolhidos pelos Estados, segundo
qualidades e condições de idoneidade por eles designados.
Em regra, os agentes diplomáticos são nacionais do país
pelo qual são nomeados, contudo, nada impede que sejam de outra
nacionalidade.
Ao assumir seu posto, o agente diplomático leva consigo
dois documentos essenciais: o passaporte diplomático e a credencial. A
credencial é normalmente uma carta assinada pelo chefe de Estado e
referendada pelo Ministro das Relações Exteriores.

1.2 Privilégios e Imunldades


Conforme já referido, os agentes e as missões diplomáticas
encontram-se numa situação muito particular: eles constituem os meios
pelos quais o Estado acreditante exerce uma missão de serviço público no
território acreditado. Para tanto, são concedidas a eles algumas garantias
permitindo, ou ao menos facilitando, o cumprimento de sua missão.
Primeiramente, é preciso fazer uma diferenciação entre
privilégio e imunidade. A Convenção de Viena manteve essa distinção,
apesar de ter reduzido seu alcance. Nos termos da Convenção, as
imunidades são todas aquelas fundadas em regras de direito internacional,
ao passo que, quanto aos privilégios, alguns têm origem no direito
internacional, como é o caso das isenções fiscais, já outros, tais como as
isenções aduaneiras, são simples medidas de cortesia sobre as quais o
direito internacional se exprime de forma permissiva e não imperativa, e
que dependem para sua existência e amplitude de textos de direito
interno.57

58 DINH, DA1LUER, e PELLET, op. cit p. 665.


57 DINH, DA1LUER, e PELLET, op. cit. p. 667.

83
Os privilégios e imunidades diplomáticas foram codificados
pela Convenção de Viena, em seus artigos 20 a 42. Em seu artigo 37, a
Convenção trata da extensão dos privilégios e imunidades às famílias dos
diplomatas, ao pessoal administrativo e técnico. O referido artigo dispõe
que os membros da família de um agente diplomático que façam parte de
seu agregado são beneficiados pelos mesmos privilégios e imunidades
que os previstos em favor do agente, contanto que não sejam nacionais do
Estado acreditado.
Os membros do pessoal administrativo e técnico (por
exemplo, os tradutores), assim como os membros de suas famílias,
gozam, com poucas diferenças, das mesmas imunidades concedidas aos
agentes diplomáticos. Os membros do pessoal do serviço (jardineiros,
empregados domésticos), por sua vez, não se beneficiam da imunidade
senão para os atos produzidos no exercício de sua função. Os membros de
suas famílias estão inteiramente excluídos.
A missão diplomática tem liberdade nas comunicações
oficiais, isto é, o Estado acreditado tem a obrigação de permitir e proteger
a livre comunicação da missão para todos os fins oficiais. (Art. 27). Da
mesma forma, os locais onde a função é exercida, dentre os quais se
inclui a residência do chefe da missão, possuem inviolabilidade
diplomática. Também possuem inviolabilidade os próprios diplomatas e
seus arquivos. Em seu artigo 29, reza a Convenção “a pessoa do agente
diplomático é inviolável. Não poderá ser objeto de nenhuma forma de
detenção ou prisão. O Estado acreditado tratá-lo-á com o devido respeito
e adotará todas as medidas adequadas para impedir qualquer ofensa à sua
pessoa, liberdade e dignidade”.
A inviolabilidade, contudo, não é absoluta. Caso o agente
pratique atos contra a ordem pública ou a segurança do Estado onde se
acha acreditado, o Estado poderá exigir sua retirada e, caso a medida seja
necessária, cercar sua residência até que o agente se retire. Não será
possível a prisão do agente. Sua expulsão é excepcional, em casos em que
o agente não é retirado pelo seu governo.
Além disso, em razão da inviolabilidade, os agentes do
Estado acreditado não poderão adentrar na embaixada sem a autorização
do chefe da missão.
No que se refere à imunidade de jurisdição, vale enfatizar
que ela é de natureza absoluta, quer o agente esteja ou não no exercício de

84
Direito Internacional

suas funções. Ela se aplica aos agentes diplomáticos e corresponde à


faculdade de não comparecer aos tribunais do Estado acreditado. Admite-
se, contudo, que o testemunho seja prestado na sede da missão. A
imunidade, todavia, não exime o agente do dever de observar os regula­
mentos locais, contanto que sejam de ordem geral e não restrinjam o
exercício de suas funções.
No caso da imunidade de jurisdição criminal, esta somente
será excepcionada em caso de renúncia à imunidade por parte do governo
do agente. O direito criminal brasileiro reconhece a competência da
justiça brasileira relativamente a crimes cometidos por seus nacionais no
exterior (princípio da extraterritorialidade).
A imunidade do agente diplomático se aplica nas esferas
civil e administrativa. No entanto, nos casos de ilícitos civis, há exceções
à imunidade de jurisdição. São elas:
1. quando o agente renuncia expressamente à imunidade,
submetendo-se à jurisdição local;
2. quando o próprio agente recorre aos tribunais locais, na
condição de autor;
3. em ações relativas a imóveis possuídos pelo agente no
território do Estado onde exerce suas funções;
4. em ações resultantes de compromissos assumidos no
exercício de outra profissão que porventura tenha desempenhado;
5. quando o agente é nacional do Estado onde está
acreditado.
Entretanto, mesmo nos casos referidos acima, nenhuma
execução poderá se dar caso implique em medidas contra o agente ou os
bens necessários para o exercício da missão. Para esse fim, os credores
deverão recorrer aos tribunais do país do devedor.
No caso dos funcionários técnicos e administrativos,
também estes gozarão de imunidade de jurisdição absoluta na esfera
penal, enquanto que a imunidade civil, administrativa e comercial é
apenas relacionada aos atos funcionais. Aos funcionários de serviço, é
conferida apenas a imunidade funcional, em qualquer esfera.
Por fim, a Convenção, em seu artigo 34, trata da isenção
fiscal das missões e dos agentes diplomáticos. O agente diplomático não
pode ser contribuinte no Estado acreditado, uma vez que, no plano dos

85
princípios» o pagamento de impostos é um ato de sujeição. O artigo 34 da
Convenção proclama a imunidade fiscal, criando, contudo, algumas
exceções, entre as quais figuram, por exemplo, os impostos prediais
devidos pelos imóveis privados e aqueles que tocam rendimentos
privados, tendo a sua fonte no Estado acreditado.
Além disso, o artigo 36 declara que, de acordo com suas
disposições legislativas e regulamentares, o Estado acreditador pode
conceder a isenção de direitos alfandegários sobre os objetos destinados
ao uso pessoal do agente diplomático ou ao dos membros de sua família,

2 Convenção sobre relações consulares de


1963

Enquanto que em matéria de relações diplomáticas o


costume precedeu o direito escrito, em termos de relações consulares
observamos exatamente o processo inverso. Desde as origens da
instituição consular, a sua regulamentação tem sido obra de convenções
bilaterais entre Estados interessados.
Os postos consulares são, como as missões diplomáticas,
serviços públicos dependentes de seu Estado nacional, mas instalados
num Estado estrangeiro. Por essa razão, o estabelecimento de relações
consulares e de postos consulares também está submetido à regra do
consentimento mútuo (arts. 2o e 4o da Convenção de Viena de 1963).
Em virtude do caráter essencialmente administrativo das
relações consulares, o seu estabelecimento é independente do das relações
diplomáticas e mesmo do reconhecimento mútuo dos Estados
interessados. Sendo assim, a ruptura das relações diplomáticas não
acarreta necessariamente a das relações consulares.
Para que possa exercer sua função, cada chefe de posto
consultar deverá estar munido de uma carta de provisão do seu Estado de
envio. Além disso, ele só começa a exercer suas funções após ter recebido
a autorização de seu Estado de residência, chamada de mandato
executório.
É permitido que um Estado nomeie para um posto consular
um cidadão estrangeiro, o qual será designado “cônsul comercial ou

86
Direito Internacional

honorário”, todavia, este não será beneficiado com os mesmos privilégios


e imunidades dos cônsules de carreira.
Os cônsules e os postos consulares não estão encarregados
de funções de representação política. Suas funções revestem-se de um
caráter puramente administrativo. Nos termos do artigo 5o da Convenção,
os cônsules estão principalmente encarregados de proteger no Estado de
residência os interesses do Estado de envio e dos seus nacionais; de
favorecer o desenvolvimento das relações comerciais, econômicas,
culturais e científicas entre eles; de exercer algumas funções relativas aos
nacionais que se encontrem no Estado de residência (estado civil,
assistência judiciária e parajudiciária, emissão de passaportes); de
conceder vistos às pessoas estrangeiras que desejarem visitar o Estado de
envio; de supervisionar os barcos, navios e suas tripulações com origem
no Estado de envio e de lhes prestar assistência58.
A inviolabilidade dos locais consulares só se aplica às partes
que o pessoal utiliza exclusivamente para as necessidades de seu trabalho
(art. 31 da Convenção). Dessa forma, ela não protege a residência do
chefe do posto consular (art. Io,/, da Convenção).
A liberdade e a proteção das comunicações oficiais
constituem exigência funcional que se aproxima a mesma concedida para
as missões diplomáticas.
A inviolabilidade pessoal dos funcionários consulares é
bastante limitada, pois eles podem ser submetidos à prisão ou detenção
preventiva por crime grave (art. 41 e 42). Da mesma forma, a imunidade
jurisdicional não é absoluta, uma vez que os funcionários e empregados
consulares não estão protegidos senão em razão dos atos executados no
exercício das suas funções consulares (art. 43). Fora deste exercício, eles
podem até mesmo ser objeto de procedimento criminal59.

58 DINH, DA1LUER, e PELLET, op. cit. p. 676.


59 DINH, DAILLIER, e PELLET, op. cit. p. 678.

87
Direito Internacional

Capítulo ¥

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS ESTADOS

1 Direitos fundamentais dos Estados

O Estado, enquanto sujeito do DEP, atua no cenário


internacional gozando dos direitos e deveres reconhecidos pelo direito
internacional. Atualmente, não mais se discute acerca da igualdade
jurídica dos Estados, de modo que todos - os mais poderosos e os mais
fracos - desfrutam, por exemplo, dos direitos reconhecidos na Carta das
Nações Unidas.
Interessante observar que o elenco de direitos e deveres dos
Estados evolui com o transcurso do tempo, tanto que, na atualidade, além
da independência e da igualdade, destaca-se o direito ao desenvolvimento
enquanto direito fundamental.
Dentre os direitos fundamentais dos Estados, ressaltamos:
a) Direito à liberdade: confunde-se com a noção de
soberania, a qual pode ser dividida em soberania interna e soberania
externa. A primeira refere-se ao poder do Estado com relação às pessoas
e coisas que se encontram em seu território, também denominada
autonomia. Compreende os direitos de organização política, de legislar e
de jurisdicionar. Soberania externa é aquela atribuída pelo direito
internacional e se manifesta a partir da liberdade com que o Estado

89
desempenha suas relações internacionais. Confunde-se, assim, com o
conceito de independência. A soberania externa compreende os direitos
de celebrar tratados, o de fazer guerra ou paz, etc.60
b) Direito de igualdade: o art. 4o da Convenção
Panamericana sobre Direitos e Deveres dos Estados (Montevidéu, 1933)
dispõe que “os Estados são juridicamente iguais, gozam dos mesmos
direitos e têm a mesma capacidade no seu exercício”. Os direitos de cada
um não dependem do poder que tenha para assegurar o seu exercício, mas
do simples fato de sua existência como pessoa de direito internacional.
De acordo com o direito de igualdade, cada Estado terá direito de voto
para decisão de questões internacionais, sendo que os votos dos mais
fracos têm o mesmo valor dos votos dos mais fortes. Além disso, nenhum
Estado tem o direito de reclamar jurisdição sobre outro Estado, de modo
que os tribunais de um Estado não têm jurisdição sobre outro. Esse último
princípio, porém, não é absoluto, pois se tem entendido que o Estado
pode renunciar - tácita ou expressamente - à imunidade de jurisdição
(por meio de tratado, quando propõe ação perante tribunal estrangeiro,
quando exerce atos de comércio/gestão perante Estado estrangeiro). Além
disso, a jurisprudência tem aplicado a renúncia da imunidade de
jurisdição em ações relativas a questões trabalhistas. À imunidade de
execução, contudo, é compreendida como absoluta.
c) Direito de defesa e conservação: prática de medidas
contra inimigos internos e externos, tais como a expulsão de estrangeiros
nocivos à ordem nacional e a celebração de alianças defensivas. Esse
direito, contudo, não é absoluto, pois é limitado pelo direito de defesa e
conservação dos demais Estados.
d) Direito ao desenvolvimento: com base nesse princípio, a
ONU adotou várias resoluções objetivando a melhoria das condições dos
Estados em desenvolvimento, como a Conferência sobre Comércio e
Desenvolvimento - UNCTAD.

60 SILVA & AGCiOLY, op. cit., p. 103.

90
Direito Internacional

2 Deveres dos Estados

Para Hans Kelsen, “as normas do direito internacional geral


impõem deveres sobre os Estados e ao fazê-lo conferem direitos aos
demais”. E, ainda, “se os deveres forem formulados corretamente, a
formulação do direito correspondente é supérflua”.
. Passemos, assim, à análise dos deveres dos Estados
soberanos.

2.1 Dever de não-intervenção


Intervenção é “a ingerência de um Estado nos negócios
peculiares, internos ou externos, de outro Estado soberano com o fim de
impor a este a sua vontade”.61
A Carta da OEA determina, em seu artigo 18, “nenhum
Estado ou grupo de Estados tem o direito de intervir, direta ou
indiretamente, nos assuntos internos ou externos de qualquer outro”. Já a
Carta da ONU possui um dispositivo bem menos rigoroso, que prevê
“todos os membros deverão evitar em suas relações internacionais a
ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a
independência política de qualquer Estado ou outra ação incompatível
com os propósitos das Nações Unidas” (art. 2, item 4).
Alguns Estados, contudo, vêm defendendo o uso do instituto
da intervenção em defesa dos direitos humanos e do meio ambiente.
Em regra, não configura intervenção uma ação coletiva
decorrente de compromisso firmado em tratado, como o da ONU, que
confere ao Conselho de Segurança poderes para adotar as medidas
destinadas a manter ou restabelecer a paz e segurança internacionais.
Segundo a chamada Doutrina Drago, “a dívida pública não
pode motivar a intervenção armada e, ainda menos, a ocupação material
do solo das nações americanas por uma potência européia”. Esse
princípio surgiu de pronunciamento do ministro das Relações Exteriores
da Argentina, Luís Maria Drago, referindo-se ao bombardeio de portos
venezuelanos pelos Estados Unidos como forma de forçar o pagamento

61 SiLVA & ACCIOLY, op. dí., p. 112.

91
de dívidas. Como resultado, na 4a Conferência Internacional Americana,
em 1910, as partes comprometeram-se a submeter reclamações
pecuniárias à arbitragem, desde que não possam ser resolvidas
amistosamente por vias diplomáticas.
Ainda no que se refere ao princípio de não-intervenção,
importante destacar a Doutrina Monroe, surgida de uma mensagem
dirigida ao Congresso dos Estados Unidos, em 1823, onde o Presidente
James Monroe enumerou princípios norteadores da política externa no
país. Três deles constituem a Doutrina Monroe: (I) o continente
americano não pode ser sujeito de ocupação por parte de nenhuma
potência européia; (II) é inadmissível a intervenção de potência européia
nos negócios internos ou externos de qualquer país americano; (III) os
Estados Unidos não intervirão nos negócios pertinentes a qualquer país
europeu.
Destacamos, a seguir, algumas espécies de intervenção:
a) Intervenção em nome do direito de defesa e conservação:
os Estados têm direito de tomar as medidas necessárias a sua defesa e
conservação, desde que se limitando aos contornos estabelecidos pelo
DIP. Não podem, entretanto, tomar medidas que atinjam outro Estado o
qual não o esteja ameaçando militarmente. Assim, quando não se tratar de
hipótese de legítima defesa, a intervenção é condenada pelo direito
internacional.
b) Intervenção para proteção dos direitos humanos: nesse
caso, a intervenção poderá ser praticada por intermédio de uma
organização internacional (ONU), eis que seus membros reconheceram o
dever de proteção aos direitos humanos por meio da Declaração
Universal de Direitos Humanos.
c) Intervenção para proteção dos nacionais: o Estado tem o
dever de proteger seus nacionais no exterior. A esse dever corresponde
também o direito do Estado em protegê-los, por meio de missão
diplomática, conforme previsto na Convenção de Viena sobre Relações
Diplomáticas de 1961.

2.2 Responsabilidade por danos internacionais


Como vimos, as relações entre os Estados fundam-se em
princípios que criam obrigações e direitos mútuos, os quais, uma vez

92
Direito Internacional

violados, podem ocasionar a responsabilidade do Estado perante outros


membros da comunidade internacional.
A base fundamental da responsabilidade internacional está
amparada na noção de que o Estado responsável pela prática de um ato
ilícito segundo o direito internacional deve ao Estado a que tal ato tenha
causado dano uma reparação adequada.
Essa máxima também é aplicável aos outros sujeitos do
DIP. Nesse sentido, por exemplo, é possível que uma Organização
Internacional tenha legitimidade para pleitear reparação por danos
causados a seus representantes. A Corte Internacional de Justiça, órgão
jurisdicional e consultivo da ONU, já ventilou, na prática, a aplicação
dessa hipótese.62
Essa responsabilidade pode originar-se de atos ou omissões
do próprio Estado, de seus funcionários ou de seus súditos (indivíduos),
enquanto que a vítima pode ser o Estado, quando sua soberania é violada
ou um tratado de que é parte não é observado, ou um indivíduo, no caso
de o Estado do qua! o mesmo é nacional exercer a proteção diplomática
visando à reparação do dano sofrido63.
De acordo com a doutrina e a jurisprudência, são elementos
constitutivos da responsabilidade internacional: o ato ilícito, a
imputabilidade e o prejuízo ou dano.
Ato ilícito: ato ou omissão que represente afronta a uma
norma de direito internacional, um princípio gerai, uma regra costumeira,
um dispositivo de tratado em vigor64. Não há escusa para um ato
internacionalmente ilícito sob o argumento de sua licitude ante a ordem
jurídica local.65
Imputabilidade: é o nexo que liga o ilícito a quem é o
responsável pela sua prática. Contudo, o autor do ilícito nem sempre é
diretamente responsável perante a ordem internacional. Exemplo disso é
o fato de que o Estado é responsável pelos atos praticados por seus

82 A Corte Internacional d© Justiça, em parecer consultivo exarado em 1949, deixou claro que a
ONU tem legitimidade para pleitear reparação adequada quando seu servidor, no exercício de suas
funções, sofre dano em circunstâncias que ensejem a responsabilidade de um Estado (Recuei! CtJ,
1949).
63 ARAÚJO, Luís Ivani de Amorim, Curso de Direito Internacional Público. 9a ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1998. p. 144.
84ARAÚJO, op. cit,, p. 144.
65 REZEK, op. cit., p. 271.

93
funcionários. Sendo assim, a imputabilidade não se confunde com a
autoria do ato ilícito: os atos são imputáveis porque estão vinculados à
soberania e ocorrem em nome do Estado. A responsabilidade do Estado é
indireta quando este responde pelo ato ilícito que foi praticado, por
exemplo, nos territórios sob sua tutela. A responsabilidade direta advém
da ação praticada pelos órgãos do Estado. Pode-se, inclusive, imputar ao
Estado ilícito resultante do exercício de competências legislativas (por
exemplo, a não-revogação de leis contrárias a compromissos firmados),
judiciárias (quando age desfavoravelmente a preceitos internacionais) e
executivas (ação ou omissão de funcionários).
A ação hostil de particulares não acarrete, por si só, a
responsabilidade internacional do Estado. No entanto, o Estado incorrerá
em ilícito quando faltar com seus deveres de prevenção e repressão de
atos ilícitos praticados por particulares.66
Dano: não será necessariamente material ou de expressão
econômica, uma vez que o Estado pode transgredir também direitos
extrapatrimoniais (apartheid, genocídio).
Só o Estado vitimado por alguma forma de dano causado
diretamente a si, ao seu território, ao seu patrimônio, aos seus serviços, ou
ainda à pessoa ou aos bens de particular que seja seu súdito tem qualidade
para invocar a responsabilidade internacional do Estado faltoso (dano
direto)67.
Há circunstâncias, contudo, que excluem a ilicitude do ato
violador do DIP. Segundo Luis Amorim de Araújo, são hipóteses que
“isentam a responsabilidade do Estado: legítima defesa (todo Estado tem
direito de repelir um ataque armado até que o Conselho de Segurança da
ONU tenha tomado as medidas indispensáveis para a manutenção da paz
e da segurança internacionais, ex vi do art. 51 da Carta da ONU), a
prescrição liberatória (quando o prejudicado, pelo seu silêncio,
negligencia a reclamação e seu direito) e a renúncia do indivíduo
prejudicado em recorrer à proteção diplomática de seu Estado”68.

66 Exemplo clássico no Direito Internacional Público desse dever de punir ou vigiar que acarreta a
responsabilidade internacional do Estado está presente no julgamento da Corte internacional de
Justiça no Caso do Pessoal Diplomático e Consular dos Estados Unidos em Teerã, no qual a
ocupação contínua da embaixada e a detenção persistente dos reféns assumiram caráter de atos
do Estado. Os militantes tomaram-se, então, agentes do Estado iraniano, dada a omissão desse
país em nâo tentar prevenir ou punir seus atos (Recueil CIJ, 1980).
67 REZEK, op. cit, p. 274.
68 ARAÚJO, op. cit., p. 147.

94
Direito Internacional

É princípio geral do direito a obrigação de reparação do


dano causado, por meio de restituição, compensação ou outros meios
reconhecidos pelo direito. A reparação será equivalente à natureza do
dano causado ao Estado, sendo em dinheiro tão somente nos casos em
que há repercussões econômicas ao país vitimado. O conceito de
reparação é, portanto, diferente de sanção, a qual possui uma
característica penal e moral. A jurisprudência internacional firmou a
restituição integral como princípio básico de reparação dos danos
causados. Ou seja, a reparação deverá ser integral, propiciando o
restabelecimento da situação que existiu antes do ato ilícito ser cometido
(statu quo ante), Há que se compensar também, quando for o caso, os
lucros cessantes diretamente relacionados ao dano causado, não, porém,
os chamados danos indiretos.
O Estado ofendido, dentro de limitações estabelecidas pelo
DIP, poderá tomar contramedidas. Entretanto, antes disso, deverá o
Estado esforçar-se para negociar a solução.
Apesar de a responsabilidade internacional não se encontrar
codificada, o Projeto de Convenção sobre Responsabilidade dos Estados,
proposto pela Comissão de Direito Internacional da ONU, prevê, em seu
artigo 50, as contramedidas proibidas pelo DIP. São elas:
a) a ameaça ou uso de força proibidas pela Escritura das
Nações Unidas;
b) coerção econômica ou política extrema projetada para se
arriscar a integridade territorial ou política do Estado que
cometeu o ato Internacionalmente ilícito;

c) qualquer conduta que infringe a inviolabilidade de agentes


diplomáticos ou consulares, premissas, arquivos e docu­
mentos;

d) qualquer conduta que derroga direito humano básico; ou

e) qualquer contravenção de norma peremptória de direito


internacional geral (Jus Cogens).

2.2.1 Proteção diplomática


No caso de responsabilidade internacional por lesão a um
indivíduo, o Estado de origem desse indivíduo poderá exercer seu direito
de proteção diplomática. Significa que o Estado da nacionalidade do

95
indivíduo lesado poderá apresentar uma reclamação, via diplomática,
contra o Estado infrator para obter a devida reparação. Para tanto, o
indivíduo lesado deverá primeiro esgotar os recursos domésticos do
Estado responsável antes de recorrer ao país nacional para requerer a
proteção diplomática.
Portanto, somente se poderá utilizar a proteção diplomática
quando se verificar a inviabilidade dos remédios locais. Não será
necessário, todavia, esgotar os recursos domésticos, quando for evidente
que os tribunais locais não farão justiça no caso. Além disso, quando um
tratado excluir expressamente o esgotamento dos recursos domésticos,
esse princípio não será aplicado.
Essa outorga da proteção diplomática de um Estado a um
particular chama-se endosso. Nesse momento, o Estado assume a
reclamação, fazendo-a sua, e dispondo-se a tratar da matéria junto ao
Estado autor do ilícito. É um direito de qualquer indivíduo ou empresa
solicitar a proteção diplomática de seu país de origem, mas isso não quer
dizer que irá obtê-la. É ato discricionário do Estado concedê-la, o que, por
sua vez, pode ser feito, com ou sem o pedido do particular.
A concessão do endosso exige 2 (duas) condições: a
nacionalidade do súdito, sendo que, no caso das pessoas jurídicas, será
analisado o foro de sua constituição69; e o esgotamento dos recursos
internos do país reclamado, se eles se mostrarem imparciais, acessíveis e
eficazes, conforme já referido.
O efeito jurídico do endosso é a transformação de uma
reclamação particular numa reclamação nacional. Saliente-se, ainda, que
no caso de êxito na demanda e estabelecimento de indenização, o direito
internacional não impõe o dever de o Estado transferir o montante obtido,
mesmo que já deduzido de todas as despesas, ao particular. Esse dever
resultará de deveres éticos ou de normas de direito interno70.
O exercício de proteção diplomática é um direito do Estado.
Seu exercício deverá ser pacífico, por meio de negociação direta,
mediação, conciliação, arbitragem, processo judiciário, etc. O Estado
poderá renunciar à sua reclamação, não podendo mais reformulá-la.
Entretanto, não poderá o indivíduo renunciar, eis que a reclamação
pertence ao Estado, e não ao particular.

69 “Caso Barcelona Traction, no qual a Corte Internacional de Justiça se manifestou indicando que a
nacionalidade da pessoa JurEdica é definida pelo iocai de sua constituição.”
70 REZEK, op. cit. p. 276.

96
Direito Internacional

A proteção diplomática não se confunde com a diplomacia.


O objeto da proteção diplomática é o particular - indivíduo ou empresa -
que, no exterior, seja vítima de um procedimento estatal arbitrário e, que,
em desigualdade de condições frente ao governo estrangeiro, pede ao seu
Estado de origem que lhe tome a vez, fazendo da sua reclamação uma
autêntica demanda entre sujeitos de direito internacional71.

71 REZEK, op. cit., p. 276.

97
Direito Internacional

CapítuSo V!

MEIOS DE COMPOSIÇÃO DE CONFLITOS


INTERNACIONAIS

1 Solução pacifica de conflitos

Conflito internacional é todo desacordo sobre certo ponto de


direito ou de fato, toda contradição ou oposição de teses jurídicas ou de
interesses entre dois estados72.
O fato de hoje a guerra ser um ilícito internacional não deve
fazer-nos perder de vista que, até o começo do século XX, ela era uma
opção perfeitamente legítima para resolução de pendências entre
Estados73. Contudo, desde a Convenção para a solução dos conflitos
internacionais (Haia, 1907) o direito internacional passou a demonstrar
claramente o repúdio à guerra. Seguiu-se, então, o Tratado de Paz
firmado em Versalhes pela Liga das Nações, buscando impor o princípio
da solução pacífica de conflitos. Contudo, a fragilidade desse sistema
demonstrou-se evidente com a Segunda Guerra Mundial. Em 1945, cria-
se a ONU e, em 1948, a Organização dos Estados Americanos, as quais
consagram os esforços em busca da criação de mecanismos capazes de
manter a paz mundial.

72 Conceito deduzido pela Corte Permanente de Justiça Internacional no Caso Mavrommatis, em


1924, e no caso Lótus, em 1927. A Corte Internacional de Justiça voltou a invocá-lo no caso do
Sudoeste Africano, em 1962.
7i REZEK, op. cit., p. 336.

99
A partir dos sistemas criados por essas organizações, a
solução pacífica de litígios passa a se dar pela negociação diplomática ou
por meio de soluções jurisdicionais, dentre as quais destacam-se a
arbitragem e os procedimentos perante os tribunais internacionais.
A negociação internacional pode ser bilateral ou multilateral
e tem função preliminar e até mesmo preventiva a fim de evitar o
surgimento de um conflito de maiores proporções. Pode se dar por meio
de bons ofícios (diálogo e negociações)!, da mediação (onde um terceiro
intervem no processo de negociação) ou da conciliação (a solução é
apresentada por um terceiro que goza de confiança dos litigantes). A
negociação poderá ocorrer no âmbito de uma organização internacional,
como a ONU.
Vejamos a seguir os chamados meios jurisdicionais de
solução de conflitos.

1.1 Arbitragem internacional


A arbitragem se dá pela intervenção de um terceiro, o qual
dita uma solução ao conflito. Para que se instaure, é necessário o prévio
consentimento dos Estados envolvidos, ou seja, a arbitragem somente
ocorre a partir de um compromisso entre os litigantes. Tal consentimento
pode ser anterior ou posterior ao surgimento do conflito.
No casó de o compromisso ser anterior ao litígio, instaura-se
a arbitragem obrigatória, ou seja, desencadeada por um litigante em face
de cláusula compromissória previamente estabelecida em um tratado.
Quando o compromisso é posterior ao surgimento do litígio,
a arbitragem se materializa pelo compromisso arbitrai, que definirá seu
objeto, procedimento, condições de nomeação dos árbitros e seus
poderes.
A doutrina destaca três características da sentença arbitrai:
(I) deve ser motivada, salvo quando o compromisso arbitrai não prevê
motivação; (II) é obrigatória, de modo que faz coisa julgada; (III) não é
executória. tendo em vista que sua efetivação depende da boa-fé e
honradez dos litigantes.74
Importante salientar a natureza irrecomvel da sentença
arbitrai. É, pois, definitiva, de maneira que dela não cabe recurso. Não

74 Nesse sentido, vide SE1TENFUS & VENTURA, op. cit., p. 147.

100
Direito Internacional

obstante, poderão as partes dirigir-se novamente ao árbitro solicitando


esclarecimento de alguma ambigüidade, omissão ou contradição da
sentença. Ademais, poderão as partes apontar a nulidade da sentença
arbitrai, alegando falta grave, corrupção, abuso ou desvio de poder do
árbitro.

1.2 Corte Internacional de justiça


A Corte Internacional de Justiça (CIJ) é qualificada pelo art.
92 da Carta das Nações Unidas como o uprincipal órgão judiciário das
Nações Unidas”, possuindo jurisdição contenciosa e consultiva.
No que se refere à jurisdição consultiva, a Assembléia
Geral e o Conselho de Segurança da ONU podem solicitar pareceres (avis
consultatij) à Corte. Os pareceres não são obrigatórios. Os demais órgãos
e organismos especializados também poderão solicitar pareceres, desde
que autorizados pela Assembléia Geral.
A jurisdição da Corte Internacional de Justiça é, via de
regra, facultativa. Conforme salienta Celso D. de Albuquerque Mello,
“ela só decide os dissídios em que todos os litigantes estejam de acordo
em submeter a questão à sua apreciação”75. Desta feita, o fato de um
Estado ser membro da ONU não o obriga a submeter compulsoriamente
seu litígio à apreciação da Corte. A jurisdição da CIJ pode ser obrigatória
quando estiver expressamente prevista em tratados (art. 36, § Io, do
Estatuto da Corte Internacional de Justiça). Contudo, como bem destaca a
doutrina, a Corte não detém o poder de impor suas sentenças no cenário
internacional, face às peculiaridades do próprio DIP76.
A Corte possui um Estatuto que determina suas regras de
funcionamento. Destacamos a seguir suas principais características:
a) é composta por quinze membros, sem atenção a sua
nacionalidade, sendo que não poderá haver dois nacionais do mesmo país.
Os membros são eleitos por maioria absoluta da Assembléia Geral e do
Conselho de Segurança da ONU;

75 MELLO, op. cit., p. 650.


76 Idem, p. 147.

101
b) suas decisões são tomadas por maioria de juizes, desde
que com quórum mínimo de nove juizes;
c) os juizes possuem mandato de nove anos, podendo ser
reeleitos. Não podem ser demitidos, exceto por unanimidade de voto dos
demais juizes. Devem dedicar-se exclusivamente à Corte e possuem
imunidade diplomática;
d) somente Estados (membros ou não da ONU) podem ter
acesso à Corte, excluídos assim os indivíduos e organizações não-
governamentais, salvo no que se refere aos pareceres meramente
consultivos;
e) sua competência abrange a interpretação de tratados e de
quaisquer normas de direito internacional;
f) controvérsias relativas à competência da Corte serão
resolvidas por decisão da própria Corte;
g) os Estados somente estão sujeitos às decisões da Corte
caso tenham consentido prévia ou concomitantemente;
h) as sentenças são definitivas e inapeláveis. São admitidos
apenas os chamados recursos de interpretação e revisão. Este último
caberá se houver descoberta de fato novo e antes de transcorridos dez
anos da data da decisão (art. 61 do Estatuto).
Com relação à jurisdição da Corte Internacional de Justiça,
observe que essa é, via de regra, facultativa. Desta feita, o fato de um
Estado ser membro da ONU não o obriga a submeter compulsoriamente
seu litígio à apreciação da Corte. A jurisdição da CIJ pode ser obrigatória
quando estiver expressamente previste em tratados (art. 36, § Io, do
Estatuto da Corte Internacional de Justiça).

2 Sanções e soluções coercitivas de


controvérsias

As chamadas soluções coercitivas correspondem a medidas


tomadas para a manutenção da ordem, visando à punição de infratores de
regras de DIP. Essas medidas são usualmente tomadas a partir da

102
Direito Internacional

imposição de sanção legal pelos órgãos comunitários. O art. 41 da Carta


das Nações Unidas prevê que o Conselho de Segurança pode aplicar
medidas que não impliquem o emprego de forças armadas, tais como a
interrupção de relações econômicas e o rompimento de relações diplo­
máticas.
O Conselho de Segurança poderá, ainda, caso considere
inadequadas as medidas acima, determinar o uso de forças aéreas, navais
ou terrestres para a manutenção ou o restabelecimento da paz e segurança
nacionais.
Contudo, muitas vezes, os Estados fazem uso de medidas
coercitivas, utilizando seus próprios meios, ao invés de recorrer às
organizações internacionais.
Em resposta a essa tendência, a comunidade internacional
passou a tentar coibir tais práticas, por meio de disposições como o art.
2.4 da Carta da ONU que proíbe “a ameaça ou uso de força ou qualquer
ação incompatível com os propósitos das Nações Unidas”. Sendo assim, o
uso de força pelo Estado se tornou uma exceção nas relações
internacionais, uma vez que a Carta obriga os Bstados-membros a solu­
cionar as controvérsias internacionais, em regra, por meios pacíficos.
Os meios coercitivos mais empregados estão destacados nos
itens a seguir.

2.1 Rompimento de relações diplomáticas


Dá-se por meio da interrupção das relações oficiais com
outro Estado, com a retirada dos agentes diplomáticos. Trata-se de um ato
unilateral e discricionário, podendo configurar-se como obrigatório caso
assim decidido por uma organização internacional.
As relações não-diplomáticas, como as relações comerciais,
poderão ser mantidas, se assim entenderem por bem as partes envolvidas.
É um meio de pressão de um Estado sobre outro, a fim de
forçar a modificar a sua atitude ou chegar a um acordo em determinada
questão. Normalmente o rompimento é um sinal de que medidas mais
fortes poderão ser empregadas no futuro.

103
O rompimento de relações diplomáticas poderá ser
recomendado pelo Conselho de Segurança visando à aceitação de suas
decisões, em caso de ameaça contra a paz internacional (art. 41).

2.2 Retorsão
Consiste na aplicação de medidas legais, mas inamistosas,
em resposta às medidas adotadas pelo Estado ofensor. Trata-se de uma
forma de aplicação da pena de talião, por meio da adoção de tratamento
análogo ou idêntico àquele adotado pelo violador, com base nos
princípios do respeito mútuo e da reciprocidade. Alguns exemplos são o
corte de ajuda econômica, diminuição do número de diplomatas,
limitação de viagens de estrangeiros, imposição de tributação excep­
cional, etc.
Da mesma forma que ocorre no rompimento de relações
diplomáticas, no caso da retorsão, não há aplicação de medidas de força.
É medida legítima, apesar de a jurisprudência internacional não lhe ser
favorável.

2.3 Represálias
As represálias, ao contrário das medidas anteriores, cons-
tituem-se em medidas ilícitas empregadas por um Estado em relação a
outro Estado em razão de ter este praticado atos também ilícitos. Podem
consubstanciar-se em medidas armadas ou outros tipos de agressão, como
a penhora de bens invioláveis, a expulsão de nacionais e a suspensão de
aplicação de tratado vigente.
Diferenciam-se da legítima defesa, pois nesta o Estado
impede que o ilícito se efetive, enquanto que nas represálias o ilícito já
ocorreu. Além disso, a legítima defesa somente se aplica em casos de
ataque armado e a represália se aplica a qualquer ilícito internacional.

2.3.1 Embargo
Em geral, consiste no seqüestro de navios e cargas de
nacionais de outro Estado, os quais se encontram ancorados nos portos do

104
Direito Internacional

Estado que lança mão da medida. Atualmente, o embargo adquiriu um


significado mais amplo, sendo utilizado como sinônimo de proibição à
exportação ao Estado violador. Essa medida tem sido discutida e
condenada internacionalmente, pois atinge particulares, ou seja, inocentes
que acabam empobrecidos em razão da medida.

2.3.2 Bloqueio pacífico


O bloqueio pacífico é uma forma de represália armada que
consiste em impedir as comunicações com um porto ou com a costa de
um país ao qual não se declarou guerra. Essa medida não é admitida pelo
sistema da ONU, em face da proibição do uso de forças armadas nas
relações internacionais.

2.3.3 Boicotagem
A boicotagem é a interrupção de relações comerciais e
financeiras com outro Estado. Quando realizada de forma pacífica, é legal
perante o direito internacional, pois pode representar um meio de defesa
do Estado.
A doutrina destaca que a boicotagem pode ser realizada por
Estados ou por particulares. Na segunda hipótese, não acarreta qualquer
responsabilidade internacional ao Estado.
A boicotagem também é prevista no artigo 41 da Carta das
Nações Unidas como medida destinada a tomar efetivas as decisões no
Conselho de Segurança.

105
Direito Internacional

Capítulo vil

DIREITO INTERNACIONAL ECONÔMICO

1 Princípios do comércio internacional - GATT


e OMC

O GATT - General Agreement on Traáe and Tariffs, foi


assinado em 1947, originalmente, por 23 países, passando a vigorar a
partir de 1948, com o intuito de impulsionar, rapidamente, a liberação do
comércio internacional. Foi concebido em caráter de emergência e na
dependência da criação da OIC - Organização Internacional do
Comércio.
Sua principal finalidade era o desenvolvimento do comércio
internacional, adotando como premissa máxima o princípio de que as
relações entre os Estados, no campo econômico e comercial, devem ser
conduzidas de forma a aumentar a qualidade de vida de seus cidadãos,
promover o emprego, o crescimento das receitas e das demandas,
desenvolvendo a utilização dos recursos e expandindo a produção e troca
de bens.
Não foi bem-sucedida, contudo, a tentativa de constituição
da OIC. Apesar de sua aprovação por 53 países participantes da
Conferência sobre Comércio e Emprego de Havana (1947-48), dois anos
depois, não mais do que duas ratificações haviam ocorrido. Em todo caso,

107
a liberalização do comércio e a diminuição de barreiras ao fluxo
comercial jamais deixaram de integrar as agendas de discussões
internacionais77.
Iniciaram-se, assim, negociações no sentido de pôr em
prática a Convenção de Havana no que se refere à expansão e
liberalização do Comércio Internacional. Tais negociações acabaram por
originar, com o intuito principal de conceber um fórum de discussões
acerca do comércio internacional, o Acordo Geral de Tarifas e Comércio
(General Agreement on Tarijfs and Trade - GATT), o qual entrou em
vigor em Io de janeiro de 1948. O GATT, contudo, não se constituiu na
forma de um organismo internacional, mas como uma instituição dotada
de flexibilidade, a cujas decisões os Estados não teriam obrigatoriamente
de se sujeitar.
Oito séries de negociações multilaterais comerciais
ocorreram entre a criação do GATT e a Rodada Uruguai, quando se deu a
criação da atual Organização Mundial do Comércio. Foram elas: Genebra
(1947-48, 23 países participantes), Annecy (1949, 33 países), Torquay
(1950-51, 34 países), Genebra (1956, 22 países), Dillon (1960-62, 45
países), Kennedy (1964-67, 48 países) e Tóquio (1973-79, 99 países
participantes).
No decorrer dessas Rodadas, importantes resultados foram
obtidos no que diz respeito à liberalização do comércio internacional e à
solidificação do papel do GATT enquanto fórum internacional de
negociações.
Sem dúvida, a Rodada Uruguai, iniciada em 20 de setembro
de 1986, em Punta dei Leste, tratou-se da mais ambiciosa das rodadas de
negociações, pois, além de congregar todos os capítulos tradicionais do
GATT, abordou também discussões em tomo de setores sensíveis como
os da agricultura e dos têxteis, além da inclusão de setores mais
dinâmicos das trocas internacionais: propriedade intelectual, investi­
mentos e serviços.

77 Devemos considerar que a defesa da liberalização do comércio é reflexo de uma fase do


capitalismo em que se fazia sentir a necessidade de sua internacionalização, o que vinha ao
encontro dos interesses de paises mais desenvolvidos. O incremento das trocas internacionais,
portanto correlaciona-se com a expansão do capitalismo.

108
Direito Internacional

Em 15 de abril de 1994, 117 representantes de países


assinaram, na última fase do oitavo ciclo de negociações multilaterais, a
Ata Final da Rodada Uruguai, documento que compreendia, dentre outros
atos diplomáticos, o histórico acordo criador da Organização Mundial do
Comércio78.
Impõe-se notar que a OMC, apesar de guardar consigo
muitas características diversas do GATT, como o fato de se tratar dè uma
autêntica organização internacional, vem a substituir e suceder este, tendo
a ela sido incorporados todos os Acordos e disposições em vigor no
âmbito do GATT.
Nas palavras de Celso Lafer, as normas da OMC
representam “um significativo desenvolvimento progressivo do direito
7Q
internacional público de cooperação econômica” . De fato, a
Organização Mundial do Comércio supera em muito as organizações que
a antecederam. Trata-se de uma nova instituição multilateral extrema­
mente inovadora em sua cobertura temática, uma vez que não abrange
somente o comércio internacional, mas também serviços, investimentos e
propriedade intelectual, além do próprio funcionamento do sistema de
comércio multilateral80.
Quatro anexos resultaram das negociações da Rodada
Uruguai. O Anexo 1, formado pelos Acordos Multilaterais de Comércio
de Bens - GATT - 1994, pelo Acordo Geral sobre Comércio de Serviços
- GATS (General Agreement on Trade in Services) e pelo Acordo sobre
Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao
Comércio - TRIPS (Trade Related Áspects o f íntellectual Property
Rights); o Anexo 2, onde são tratadas as regras para solução de
controvérsias entre os países Membros do GATT; e os Anexos 3 e 4,
acerca do Exame de Políticas de Comércio e de Acordos de Comércio
Plurilaterais, respectivamente.
Em tais acordos, permaneceram presentes três princípios
fundamentais da filosofia gattiana - Nação-Mais-Favorecida, não-
discriminação e tratamento nacional - os quais devem ser aplicados pelos

78 ALMEIDA, op. cit», p. 215.


79 LAFER, Celso. O Sistema de Solução de Controvérsias da Organização Mundial do Comércio.
Revista da Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, Voi. 91.1996. Vide também, A OMC e
a regulamentação do comércio intemacionai: uma visão brasileira. Porto Alegre; Livraria do
Advogado, 1998.
80 ALMEIDA, Paulo Roberto de. O Brasil e o Muitllateralismo Econômico. Livraria do Advogado:
Porto Alegre, 1999, p. 215.

109
países participantes e incorporados, progressivamente, aos novos setores
de atividade previstos.
A chamada cláusula da Nação-Mais-Favorecida determina
que as vantagens concedidas para qualquer país, inclusive os não-
membros, devem ser estendidas a todos os outros países-membros do
81
GATS . O princípio da não-discriminação, por sua vez, imprime a
condição de que os acordos de integração econômica regional não devem
excluir nenhum setor de prestação de serviços. Além disso, os membros
do GATS que sejam também parte de outro acordo regional de integração
deverão comunicar tal fato ao Conselho para o Comércio de Serviços,
órgão responsável da supervisão do Acordo. Por fím, segundo o princípio
do tratamento nacional, não há permissão para que fornecedores
estrangeiros de serviços sejam tratados diferentemente dos fornecedores
nacionais.
A fím de assegurar a participação dos países em desen­
volvimento, compromissos específicos foram negociados» referentemente
ao fortalecimento da capacidade e à competitividade dos serviços
nacionais, bem como às melhorias a serem implantadas visando ao acesso
desses países a novas tecnologias. Para tanto, os membros apresentam
listas de compromissos específicos abordando o acesso ao mercado
interno, definindo limitações e condições referentes ao princípio do
tratamento nacional, especificando compromissos adicionais.
No Brasil, o Congresso Nacional aprovou a Ata Final que
incorpora os resultados da “Rodada Uruguai’ de negociações
multilaterais do GATT, assinada em Marraqueche, em 12 de abril de
1994, por meio do Decreto Legislativo n - 3, de 15 de dezembro de 1994,
posteriormente promulgado pelo Decreto n. 1.355, de 30 de dezembro de
1994.
São funções da OMC:
(II) servir de fórum para negociações, entre seus Membros,
acerca de relações comerciais multilaterais;
(III) administrar o entendimento relativo às normas e
procedimentos para solução de controvérsias;

81 COSTA, Ligia. OMC - Manual Prático da Rodada Uruguai. São Pauio: Saraiva, 1996, p. 105. A
autora exemplifica a cláusula da nação-mais-favorectda da seguinte forma: “permissão dada por um
Membro a estabelecimento bancário de um outro Membro para operar no seu território. Essa
permissão será estendida automaticamente para todos os outros Membros".

110
Direito Internacional

(IV) administrar o mecanismo de exame das políticas


comerciais;
(V) cooperar, no que couber, com o Fundo Monetário
Internacional e com o Banco de Reconstrução e
Desenvolvimento bem como com as demais instituições
internacionais que visam à adoção de políticas econômicas
em nível mundial;
(VI) tratar e resolver as diferenças comerciais;
(VII) monitorar as políticas comerciais nacionais; e
(VIII) prestar assistência técnica e treinamento para países
em desenvolvimento.
O sistema de tomada de decisão, quase sempre por
consenso, e o esquema de negociações, através de rodadas específicas e
com objetivos claramente delineados, contribuem para o sucesso desta
organização na realização de seus objetivos.
Os principais órgãos da OMC são os seguintes:
» Conferência Ministerial: órgão de decisão mais importante
na estrutura organizacional da OMC, responsável pela definição da
política geral da organização e pela tomada de decisões sobre os acordos
celebrados no âmbito da OMC. A Conferência decide também as matérias
que devem ser estudadas e analisadas para elaboração de acordos. É
constituída de representantes de todos os Estados-Membros, os quais
reúnem-se pelo menos uma vez a cada dois anos.
- Conselho Geral, composto pelos representantes de todos
os Estados-Membros, é o responsável pelas atividades diárias da
Organização, desempenhando também as funções da Conferência
Ministerial, nos intervalos entre uma e outra. Desempenha ainda a função
de Órgão de Solução de Controvérsias e Órgão de Exame de Políticas
Comerciais, reportando-se, sempre, à Conferência Ministerial. As funções
do Conselho Geral podem ser, portento, discriminadas: (I) condução das
atividades, inclusive aquelas atribuídas à Conferência Ministerial, nos
seus intervalos (administrativa); (II) solução de controvérsias
(jurisdicional); e (III) exame de políticas comerciais (fiscalizatória).
Subordinados ao Conselho Geral, destacam-se ainda os
seguintes órgãos: (I) Conselho para Comércio de Bens, com a tarefa de

111
supervisionar o funcionamento dos Acordos Comerciais Multilaterais do
Anexo IA do Acordo Constitutivo da OMC; (D) Conselho para o
Comércio de Serviços, o qual supervisiona o funcionamento do Acordo
Geral sobre o Comércio de Serviços - GATS; e (III) Conselho para os
Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionadas com o
Comércio, também denominado de Conselho TRIPS, com o objetivo de
supervisionar o funcionamento do Acordo sobre os Aspectos dos Direitos
de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio.
- Secretaria: é chefiada por um Diretor-Geral, indicado
Conferência Ministerial, sendo que, para garantir a independência e
imparcialidade na condução das atividades da organização, o Diretor-
Geral e os funcionários da Secretaria não podem buscar nem aceitar
instruções de qualquer governo ou de outra autoridade externa à OMC.
O sistema de solução de controvérsias instituído no âmbito
da OMC é aplicado aos litígios referentes ao Acordo Constitutivo da
organização, além de acordos multilaterais anexos.
O DSB ou OSC (Dispute Settlement Bocly / Órgão de Solução
de Controvérsias) é responsável pela condução do procedimento e suas
decisões se dão por consenso. Os sujeitos do conflito são Estados-membros,
de modo que indivíduos e entidades não podem figurar como partes.
Os meios de solução de controvérsias instituídos pela OMC
consistem em meios diplomáticos, como consultas, conciliação,
mediação, e meios judiciais, como a arbitragem e o panei
O processo de panei é utilizado quando a consulta não obtém
sucesso. Assim, a solução de um litígio começa por uma negociação e, se
tal etapa não obtiver êxito em sessenta dias, cria-se o panei que, por sua
vez, enviará um relatório ao Órgão de Solução de Controvérsias. Esse
relatório será adotado em sessenta dias se não houver apelação.

2 Processo de integração econômica


Internacional

Conforme descreve Luis Olavo Baptista82 o processo de


integração econômica, em geral, divide-se nos seguintes estágios:

82 BAPTISTA, Luis Otavo. O Mercosul, suas Instituições e Ordenamento Jurídico. São Pauto:
LTr, 1a ed., 1998, p. 46.

112
Direito Internacional

- Zona de Livre Comércio (ZLC): área de livre circulação de


mercadorias, sem restrições quantitativas e sem imposição alfandegária.
Todavia, cada um dos participantes pode manter relações comerciais com
terceiros países de acordo com seus interesses;
- União Aduaneira (UA): além das características acima,
acrescenta-se a existência de uma tarifa aduaneira comum;
- Mercado Comum: a livre circulação de mercadorias
também abrange os demais fatores de produção, exigindo a adoção de
políticas comuns a fim de evitar diferenças no interior do mercado que
possam provocar desigualdades. Essa etapa pressupõe a uniformização -
ou, pelo menos, a harmonização - da legislação dos países membros;
- União Econômica: representa a fusão dos mercados
nacionais, o que implica a igualdade de condições econômicas,
juntamente com as liberdades de mercado;
- União Econômico-monetária: implica a criação de uma
moeda única, ou pelo menos de câmbios fixos e iconvertibilidade
obrigatória das moedas dos países membros,
O Mercosul, como veremos a seguir, é caracterizado como
uma União Aduaneira.

3 Blocos Regionais

3.1 Mercosul
A criação do Mercosul foi o marco do processo de
aproximação entre os países do cone sul, cuja integração havia sido
iniciada entre Brasil e Argentina em 1986, por meio do Programa de
Integração e Cooperação Econômica (PICE). O objetivo do PICE era o
estabelecimento de uma seara econômica comum, com a abertura de
mercados e estímulo a setores específicos da economia dos dois países.
O Uruguai e o Paraguai buscaram adesão ao acordo
bilateral, o que resultou na celebração, em 26 de março de 1991, do
Tratado de Assunção. Trata-se do acordo que define as regras básicas
para a criação do Mercado Comum, o qual estabeleceu:

113
• Um programa de liberalização comercial por meio de
reduções tarifárias progressivas, lineares e automáticas,
acompanhadas da eliminação de restrições não-tarifárias;
■ A coordenação de políticas macroeconômicas, que se
realizaria gradualmente e de forma convergente com os
programas de desgravação tarifária e eliminação de restrições
não-tarifárias;

• Uma tarifa externa comum, que incentivaria a competitividade


externa dos Estados e promoveria economias de escala
eficientes;

• Constituição de um Regime Geral de Origem, um Sistema de


Solução de Controvérsias e Cláusulas de Salvaguardas;

• Listas de exceções ao programa de liberação comerciai para


os "produtos sensíveis”,

De acordo com o preâmbulo do Acordo de Assunção, esses


objetivos devem ser alcançados, dentre outros meios, mediante:
(I) Aproveitamento eficaz de recursos disponíveis;
(II) Preservação do meio ambiente;
(III) Melhoramento das interconexões físicas;
(IV) Coordenação de políticas macroeconômicas;
(V) Complementação dos diferentes setores da economia,
com base nos princípios de gradualidade, flexibilidade e
equilíbrio.
Em 1995, o Mercosul transformou-se em uma União
Aduaneira. Em 04 de julho de 2006, a Venezuela e os Estados Membros
assinaram o Protocolo de Adesão da Venezuela ao MERCOSUL. Tal
protocolo, na data da redação desse livro, pende de ratificação pelo
Paraguai. Sendo assim, o MERCOSUL conte com 4 (quatro) países
membros (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e 5 (cinco) associados
(Peru, Equador, Columbia, Chile e Bolívia).

83 MARQUES, Frederico. Direito Internacional Privado e Mercosul. Disponível eríi:


<http://www.dip.com.br>. Acesso em: 10 de maio de 2005.

114
Direito Internacional

A criação do Mercosul é fonte de polêmica pela opção por


um quadro institucional sem características supranacionais* Além disso,
os estudiosos reiteradamente pregam a necessidade de uma efetiva
harmonização legislativa entre os países como um fator imprescindível à
consecução dos objetivos de integração. Como bem salienta Dallari84, “a
necessidade de compatibilização da ordem jurídica interna com as regras
de Direito Internacional às quais o Estado se vincula tem se colocado na
ordem do dia para os parlamentos nacionais, responsáveis, em última
instância, de modo geral, tanto pela elaboração das normas de direito
positivo interno como pela autorização para a ratificação de compromisso
do Estado no âmbito da ordem jurídica internacional”.
a) Protocolos Complementares ao Tratado de Assunção
Além do Tratado de Assunção, a estrutura normativa do
MERCOSUL abrange os seguintes principais Protocolos:

Protocolo Principais Disposições

Protocolo de Cooperação Jurisdicional Estabelece obrigações de cooperação


; sm Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e jurisdicional, de modo que cada Estado
í Administrativa - Protocolo de Lãs Lefias indicará uma “autoridade centrai”, encar­
j (promulgado no Brasil pelo Decreto n. 55, regada dessa atividade. Proíbe a exigên­
; publicado em 28-05-1993) cia de caução ou depósito a cidadãos ou
residentes em Estados-Partes.

Protocolo sobre Jurisdição internacional Aplica-se à jurisdição contenciosa inter­


em Matéria Contratual - Protocolo de nacional relativa aos contratos interna­
Buenos Aires (promulgado no Brasil pelo cionais de natureza .civit e comercial
Decreto n. 129, publicado em 05-10- celebrados entre particulares com domi­
1995) cílio ou sede em diferentes Estados-
Partes. 0 Protocolo aplica-se, ainda,
quando peio menos uma das partes do
contrato tenha seu domicílio ou sede em
um Estado-Parte e tenha sido celebrado
acordo com eleição de foro em favor de
um Estado-Parte, desde que haja
conexão razoável (art. 1o). Suas dispo­
sições não se aplicam a: 1. relações
jurídicas entre os falidos e seus credores

04 DALLARI, Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari. O MERCOSUL perante o Sistema


Constitucional Brasileiro in MERCOSUL - Seus efeitos jurídicos, econômicos e políticos nos
Estados-Membros. Org. Maristela Basso. 1a ed. Porto Alegre: Editora Livraria do Advogado, 1997,
p. 105.

115
e demais procedimentos análogos, espe­
cialmente as concordatas; 2. matéria
tratada em acordos no âmbito do direito
de família e sucessões; 3. contratos de
seguridade social; 4. contratos adminis­
trativos; 5. contratos de trabalho; 6.
contratos de venda ao consumidor; 7.
contratos de transporte; 8. contratos de \
seguro; e 9. direitos reais (art. 2o).
Protocolo sobre Medidas Cauteiares Regulamente o cumprimento de medidas
(promulgado no Brasil pelo Decreto n. cauteiares. Também prevê a designação
192, publicado ém 15-12-1995) de uma autoridade central para receber e
transmitir as solicitações de cooperação
cautelar. t
Protocolo Adicional ao Tratado de Declara a personalidade jurídica de Di- ;
Assunção sobre a Estrutura Institucional reito Internacional do Mercosul e deter­
do Mercosul - Protocolo de Ouro Preto mina sua estrutura institucional.
(promulgado no Brasil peto Decreto n.
1901, publicado em 10-05-1996)
Protocolo sobre Responsabilidade Civii Regula o direito aplicável e a jurisdição
Emergente de Acidentes de Trânsito internacionalmente competente em casos
entre os Estados Partes do Mercosul de responsabilidade civil decorrente de
(promuigado no Brasil pelo Decreto n. acidentes de trânsito. A novidade estabe­
3856, publicado em 03-07-2001) lecida é que, se no acidente participarem
ou resultarem atingidos somente pessoas
domiciliadas em outro Estado-Parte, o
mesmo será regido pelo direito interno
deste último. Além disso, será compe­
tente, à eleição do autor, o tribunal do ;
Estado-Parte: (I) onde ocorreu o aciden­
te; (II) do domicílio do demandado; e (iil)
do domicílio do demandante.
Protocolo de Assistência Jurídica Mútua A assistência compreende a notificação j
em Assuntos Penais (promulgado no de atos, produção de provas, localização
Brasii pelo Decreto n. 3468, publicado em de pessoas, medidas acautelatórias de
17-05-2000) bens, etc.
Protocolo de Olivos para Solução de Cria o Tribuna! Permanente de Revisão,
Controvérsias no Mercosul <pro- mulgado instalado oficialmente em 13-08-2004, na
no Brasil pelo Decreto n. 4.982, publicado cidade de Assunção, Paraguai. As partes
em 09-02-2004). podem apresentar recurso de revisão dos
laudos arbitrais provenientes dos Tribu­
nais ad hoc do Mercosul ao Tribunal
Permanente de Revisão, dentro de 15
dias da notificação. O Tribunal possui
também função consultiva.
Revogou o Protocolo de Brasília sobre
solução de controvérsias.

116
Direito Internacional

b) Estrutura do Mercosul
Em 1994, o Tratado de Assunção foi complementado pelo
Protocolo de Ouro Preto, que instituiu a estrutura definitiva do Mercosul,
optando-se pela intergovemabilidade e flexibililidade, sem instituições de
caráter supranacional. Também se iniciou uma nova fase do processo de
integração, com o início da União Aduaneira.
A estrutura institucional do Mercosul é composto pelos
seguintes órgãos, cujas decisões são tomadas por consenso:
""^ i.
Órgão Função Composição Manifestação |

CMC
i Conselho do É o órgão superior do ê composto pelos 0 Conselho se
Mercado Co- MERCOSUL. Responsável pela Ministros das pronuncia
mum condução política do processo Relações Exterio­ mediante
de integração e a tomada de res e pelos Decisões que
decisões parã assegurar o Ministros da serão
cumprimento dos objetivos esta­ Economia dos obrigatórias
belecidos peio Tratado. Exerce a Estados-Partes. para os Estados
representação Internacional do Partes.
Bloco.

GMC - Grupo Órgão executivo encarregado llfcomposto pelos


do Mercado da aplicação das políticas e Ministros das
1 Comum deliberações do Conselho. Seu Relações Exte­
poder de iniciativa ê muito amplo, riores dos
e suas funções complementares Estados-Mem-
são as de preparação e fiscali­ bros, na condição
zação dos atos da CMC. Tam­ de titulares, tendo
bém promove o seu trabalho por cada um, um
meio de onze Subgrupos de substituto.
Trabalho (STG), divididos por
áreas de atuação especifica. São
eles: SGT-1: Comunicações;
SGT-2: Mineração; SGT-3:
Regulamentos Técnicos; SGT-4:
Assuntos Financeiros; SGT-5:
Trans-porte e Infra-estrutura;
SGT-6: Meio Ambiente; SGT-7:
Indústria; SGT-8: Agricultura;
SGT-9: Energia; SGT-10:
Assuntos Trabalhistas, Emprego
e Seguridade Social; e, final­
mente, SGT-11: Saúde.
Exerce a representação inter­
nacional do Bloco por dele­
gação.

117
órgão Função | Composição Manifestação

Integrada por
CCM órgão de assessoramento do Implementa
quatro membros
Comissão de GMC, com a finalidade de suas políticas
titulares e quatro
Comércio do implementar a união aduaneira, por meio de
membros substi­
MERCOSUL formular políticas comerciais Diretrizes, que
tutos de cada
comuns em relação a terceiros Estado-Parte, são obrigatórias
países, e cuidar, especial­ setido coor­ para os
mente, da área de concorrên­ Estados-Mem-
denada pelos
cia desleal por intermédio de bros.
Ministros das
um Comitê Técnico. Exerce a
Relações Exte­
representação internacional do riores.
Bloco por delegação.

Comissão Órgão representativo dos Par­ Composta por até Não tem com­
Parlamentar lamentares do Estados-Mem- sessenta e quatro petência para
Conjunta bros encarregados de acelerar parlamentares aprovação de
a entrada em vigor nos Esta- sendo, dezesseis legislação
dos-Membros das normas co­ de cada Estado- comunitária,
muns e da harmonização das Membro. uma vez que
iegisiações. não se admite a
aplicação direta
de normas
internamente
nos Estados-
Partes.

Fórum É o órgão de representação dos 0 Protocolo não Manifesta-se


Consultivo setores econômicos e sociais diz quem são por meio de
Econômico dos países que inte-gram o seus membros, Recomen­
Social Mercosul. apenas dações
garantindo um
número igual de
representantes
por Estado-Parte.

Secretaria Suas principais funções sâo a Dispõe de Edita o Boletim


Administrativa guarda de documentos e infor­ orçamento, Oficiai do Mer­
do Mercosul mações. é o único órgão per­ funcionários e cosul.
manente do sistema, com sede em
atribuição de prestar apoio ope­ Montevidéu
racional e serviços aos demais
órgãos, afém de exercer outras
atividades puramente adminis­
trativas.

118
Direito Internacional

O Mercosul conta ainda com o Parlamento do Mercosul,


criado em 9 de dezembro de 2005, cuja primeira sessão foi realizada em 7
de maio de 2007, Localizado em Montevidéu, no Uruguai, a Câmara
Legislativa é integrada por 90 deputados provenientes dos Estados-Partes.
Em uma primeira etapa seus membros foram escolhidos
entre os integrantes dos parlamentos nacionais e em sua etapa definitiva,
a partir de 2010, os representantes serão eleitos por voto direto e
simultâneo dos cidadãos seguindo o critério de representatividade civil.
Os atos expedidos pelo Parlamento abrangem:
Os Pareceres são as opiniões emitidas pelo Parlamento sobre
projetos de normas, enviadas pelo Conselho do Mercado Comum
antes de sua aprovação, que requerem aprovação legislativa em
um ou mais Estado Parte.

Os Projetos de norma do Mercosul são as proposições


normativas apresentadas a consideração do Conselho Mercado
Comum.

Os Anteprojetos de norma são as proposições orientadas à


harmonização das legislações dos Estados Partes, dirigidos aos
Parlamentos Nacionais para sua eventual consideração.

As Declarações são as manifestações do Parlamento sobre


qualquer assunto de interesse público.

As Recomendações são indicações gerais dirigidas aos órgãos


decisórios do Mercosul.

Os Relatórios são estudos realizados por uma ou mais comissões


permanentes ou temporárias e aprovadas pelo Plenário, que
contêm análises de um tema específico.

As Disposições são normas gerais, de caráter administrativo, que


dispõem sobre a organização interna do Parlamento.

119
c) Fontes Jurídicas do Mercosul
Segundo dispõe o art. 41 do Protocolo de Ouro Preto, são
fontes jurídicas do Mercosul:
“1. O Tratado de Assunção, seus protocolos e instrumentos
adicionais e complementares;

II. Os acordos celebrados no âmbito do Tratado de Assunção e


seus Protocolos;

III. As Decisões do Conselho do Mercado Comum, as


Resoluções do Grupo Mercado Comum e as Diretrizes da
Comissão de Comercio do Mercosul, adotadas desde a entrada
em vigor do Tratado de Assunção”.

As normas emanadas dos órgãos do Mercosul - as quais são


tomadas por consenso - têm caráter obrigatório e deverão, quando
necessário, ser incorporadas aos ordenamentos jurídicos nacionais
mediante os procedimentos previstos na legislação de cada país (arts. 37 e
42 do Protocolo).
Ainda conforme o Protocolo (art. 40), o Mercosul adota o
sistema de incorporação obrigatória de suas normas no ordenamento
nacional de cada Estado mediante o procedimento determinado por sua
legislação interna. As normas emanadas dos órgãos do Mercosul, não têm
efeito de aplicação direta.

d) Sistema de Solução de Controvérsias


O Sistema de Solução de Controvérsias do Mercosul é
atualmente regulado, principalmente, pelo Protocolo de Olivos,
promulgado no Brasil em 2004. Esse Protocolo derrogou o Protocolo de
Brasília, criando o Tribunal Permanente de Revisão (vide item a, acima).
O Mercosul conta, ainda, com Tribunais Arbitrais Ád Hoc, cujas decisões
poderão ser submetidas à apreciação do Tribunal Permanente de Revisão.
De acordo com o Protocolo de Olivos, as partes envolvidas
no conflito poderão acordar expressamente em submeter-se diretamente à
única instância do Tribunal de Revisão, sem a submissão das divergências
ao Tribunal Arbitrai.

120
Direito Internacional

De acordo com o Sistema, também os particulares poderão


formular reclamações, as quais serão dirigidas à Seção Nacional do
Grupo Mercado Comum do Estado-Parte onde tenham residência habituai
ou a sede de seus negócios.

3.2 União Européia


A origem da União Européia (UE) pode ser associada a
questões eminentemente políticas. Após o término da 2a Guerra Mundial,
era necessária a reorganização e reunião de países que haviam lutado
entre si e encontravam-se fragmentados.
Em 1947, é colocado em prática o Plano Marshall,
formulado pelo então Ministro dos Negócios Estrangeiros norte-
americano, George Marshall, como maneira de incentivar os Estados
europeus a se unirem para a reconstrução européia, com o apoio dos
Estados Unidos.
Em março de 1948, foi assinado entre a França, Grã-
Bretanha e os países da BENELUX (união aduaneira constituída em
Londres, em 1944, entre a Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo), o
Tratado de Bruxelas, o qual previa um programa de desenvolvimento
econômico, social e militar.
Em maio de 1948, é criado o Conselho da Europa, cujo
objetivo principal era a cooperação em tomo de valores democráticos
considerados ameaçados pelos ideais soviéticos. Dentre os princípios
adotados pelo Conselho, destacam-se as idéias de livre circulação de bens
e pessoas bem como garantia de liberdade e de exercício de direitos
políticos.
Mas foi com a assinatura do Tratado constitutivo da CECA
- Comunidade Européia do Carvão e do Aço, constituída pela Alemanha,
Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos, em 1951, que
ocorreu o primeiro passo para a criação da UE. Nesse momento houve a
criação de um único mercado comum para a produção e comercialização
do carvão, aço, minério de ferro e refugo metálico, abolindo-se todas as
barreiras comerciais para esses produtos e facilitando a circulação dos
trabalhadores ligados a essas atividades.
Após a CECA, seus Estado-Membros assinaram, em 1957,
os Tratados de Roma, constituídos pela EURATON (Comunidade

121
Européia de Energia Atômica), por meio do qual os Estados reúnem
recursos para o desenvolvimento de energia nuclear para produção de
energia elétrica e outros fins pacíficos; e pela CEE (Comunidade
Econômica Européia), por vezes denominada Mercado Comum Europeu.
A CEE proporcionou a união gradual dos recursos econômicos de seus
membros, de forma a permitir que todos os capitais, mercadorias, serviços
e trabalhadores pudessem circular livremente.
A partir desses últimos tratados e com o desenvolvimento
dos objetivos neles delineados, chegamos à atual União Européia, criada
em 7 de fevereiro de 1992, por meio denominado Tratado de Maastricht.
Por fím, em 2 de outubro de 1997, é assinado o Tratado de Amsterdam,
que traz diversas alterações nos procedimentos decisórios da UE.
Além dos tratados destacados acima, conhecidos como o
direito originário ou primário, há o chamado direito derivado, o qual
surge a partir da estrutura criada pelos tratados constitutivos.
O direito comunitário derivado é produzido sob a forma de
atos normativos unilaterais, emitidos pelas instituições que compõem a
UE. São eles:
Ato Destinatário Efeitos

Regulamento Contém normas gerais, É obrigatório e possui


impessoais e abstratas eficácia erga omnes a
partir da publicação.

Diretiva Um ou mais Estados- Sua norma deve ser inter­


Membros nalizada pelo destinatário
em um prazo
determinado. Caso a
intemalização não ocorra
no prazo fixado, seus
efeitos podem ser exigidos
perante tribunais.

Decisão Estado-membro, Obrigatória apenas para


empresas ou indivíduos seu destinatário. Produz
efeitos a partir da
notificação.

Recomendação e Parecer Instituições Comunitárias, Não são obrigatórios,


Estados-membros ou servem de orientação.
empresas
.1

122
Direito Internacional

a) Principais características da UE
Personalidade Internacional
. A UE é detentora de personalidade internacional e, por isso,
pode firmar acordos com outros Estados ou com organizações
internacionais independentemente e em nome de seus Estados-membros.
Ex: acordos sobre política comercial comum;
. Há também os acordos mistos, firmados pela UE e pelos
seus membros, cada um na sua área de competência. A vigência do
acordo depende da ratificação de cada um dos signatários.
Primazia do Direito Comunitário
,O s Estados-membros não podem invocar a legislação
nacional para impedir aplicação do direito comunitário;
. O juiz nacional não aplicará a lei nacional (de qualquer
hierarquia) se esta for contrária ao direito comunitário, podendo inclusive
ignorar regras que limitam sua própria competência (Caso Simmenthal).
Aplicabilidade Imediata das Regras Comunitárias
. Algumas regras comunitárias integram-se às ordens internas
sem necessidade de internalização, independentemente de o Estado adotar
o sistema monista ou dualista;
Todo o ente dotado de personalidade jurídica pode ser
titular de direitos e obrigações decorrentes do direito comunitário (não
somente os Estados);
. Por meio da teoria do efeito direto, um particular pode
demandar a realização do direito baseado em norma da UE ou impedir a
aplicação de norma interna contrária ao direito comunitário;
. Em caso de direito derivado, o efeito direto depende da
natureza do ato normativo em questão. O regulamento, o qual emana do
Conselho, é de aplicação direta nos ordenamentos nacionais. Já a diretiva,
instrumento pelo qual se promove a harmonização legislativa na UE,
vincula o Estado-membro quanto ao resultado a ser alcançado, no
entanto, o Estado deverá internalizá-la de acordo com os procedimentos
nacionais: lei, decreto, etc.

123
b) Instituições da UE
A UE dispõe de cinco instituições, cada uma com funções
específicas85:
Parlamento Europeu: é eleito e exerce o poder legislativo,
juntamente com o Conselho. Além disso, desempenha funções
orçamentárias (aprovação do orçamento da UE) e de controle do poder
executivo;
Conselho da União Européia: exerce o poder legislativo e
tem poder de decisão na UE. É o fórum onde os Estados-membros podem
manifestar-se sobre seus interesses e procurar alcançar compromissos. É
formado por representantes dos Estados. Exerce sua função legislativa
por meio da adoção de propostas formuladas pela Comissão. Seus atos
podem assumir a forma de regulamentos, diretivas, decisões, recomen­
dações ou pareceres, além de declarações e resoluções;
Comissão Européia: órgão executivo, formado por
comissários independentes de seus Estados, concentrando funções de
apresentação de propostas de legislação, fiscalização de cumprimento de
Tratados e execução de políticas da UE e relações comerciais
internacionais;
Tribunal de Justiça: garante a observância da legislação;
Tribunal de Contas: controle e gestão do orçamento da UE.
Essas instituições são coadjuvadas por cinco outros órgãos
importantes:
Comitê Econômico e Social Europeu: emite pareceres sobre
questões econômicas e sociais;
Comitê das Regiões: emite pareceres das autoridades
regionais e locais;
Banco Central Europeu: responsável pela política
econômica e a gestão do euro;
Procurador Europeu: ocupa-se das queixas dos cidadãos
sobre deficiências na administração de qualquer instituição ou órgão da
UE;
Banco Europeu de Investimento: contribui para a realização
dos objetivos da UE, financiando projetos de investimento.

85 Vide http://europa.eu.int Acesso em: 18 de maio de 2005.

124
Direito Internacional

c) Contencioso Comunitário
O contencioso comunitário é exercido peia Corte Européia
de Justiça, que tem por função garantir a coerência na interpretação e
aplicação dos Tratados, de modo que o processo de integração se dê em
consonância com o direito. Sua sede é em Luxemburgo.
As principais funções do Tribunal de Justiça são86:
"■^anular, a pedido de instituição comunitária, Estado-Membro
ou particular diretamente visado, atos da Comissão, do
Conselho, ou emanados dos Governos Nacionais e que sejam
incompatíveis com o Tratado;
^pronunciar-se, a pedido do Tribunal Nacional, a respeito da
interpretação ou validade das disposições do direito
comunitário. Além da tramitação judicial propriamente dita, o
Tribunal de Justiça ainda tem por incumbência emitir pareceres
- que se revestem de caráter vinculante - a respeito de acordos
que a Comunidade entenda celebrar com terceiros Estados.”

Podem ser partes perante os tribunais da União Européia: (I)


os Estados-Membros; (II) as Instituições Comunitárias; e ( III) Empresas e
Particulares.
Segundo leciona Marques87, ós remédios utilizados pelo
contencioso comunitário são os seguintes:
Ação pelo Não-Cumprimento: visa a controlar o cumpri­
mento por parte dos Estados-Membros dos deveres e obrigações
assumidas em decorrência dos Tratados Institutivos, bem como aqueles
oriundos das diversas normas emanadas pelos Órgãos Comunitários. Pode
ser proposta tanto pela Comissão, como por um Estado-Membro.
Ação (Recurso) de Anulação: visa à anulação total ou
parcial de normas comunitárias; podendo ser proposta por um Estado-
Membro - caso mais freqüente pelo Conselho, pela Comissão, pelo
Parlamento e, por Particulares, caso a norma comunitária afete
diretamente a estes.
Ação por Omissão: objetiva o controle das atividades dos
Órgãos Comunitários para que estes não deixem de regulamentar matérias

86 CASELLA, Pauto Borba, Comunidade Européia e seu Ordenamento Jurídico, São Pauto, Ltr,
1994, p. 120.
87 MARQUES, Frederico. Direito Internacional Privado e Mercosul. Disponlvai em:
<http://www.dip.com.br>. Acesso em: 10 de maio de 2005.
que, de acordo com as normas comunitárias, já deveriam ter sido
regulamentadas. Ocorre quando o Parlamento Europeu, o Conselho ou a
Comissão se abstiverem de pronunciar-se, ocasião esta em que, os
Estados-Membros e as outras instituições da Comunidade e, até mesmo, o
particular prejudicado, poderá recorrer ao Tribunal e ajuizar esta ação,
com a finalidade de que seja declarada essa violação e reparado o ato.
Ação de Indenização: visa a determinar a responsabilidade
da União Européia pelos danos causados por suas instituições e por seus
agentes no exercício de suas funções. Fundada na responsabilidade
extracontratual.
Recurso Ordinário: limitado às questões de direito, contra
acórdãos proferidos pelo Tribunal de Primeira Instância nos processos de
competência deste. O Tribunal de Primeira Instância foi criado em 1989
para atender crescentes demandas de particulares.
Processo de Questão Prejudicial Interpretativa (Reenvio
Prejudicial'): compete ao Tribunal de Justiça decidir a título prejudicial
sobre a interpretação do Tratado de Roma, sobre a validade e a
interpretação dos atos adotados pelas instituições da Comunidade e sobre
a interpretação dos estatutos dos organismos criados por ato do Conselho.
Importante destacar que, em havendo um processo qualquer, que verse
sobre a aplicação e interpretação do chamado direito comunitário em um
dos Estados-Membros, e chegando este processo na última instância deste
país, é obrigatório o reenvio da questão para o Tribunal de Justiça, a fim
de que este se pronuncie. Nesses casos, o Tribunal de Justiça poderá
anular o ato, indicando quais os efeitos do regulamento que devem ser
considerados insubsistentes. Os acórdãos do Tribunal de Justiça possuem
força executiva.

3 3 NAFTA e MCA
a) WÂFTÂ
O NAFTA (North American Free Trade Agreement)
constitui-se em um instrumento de integração das economias dos EUA,
do Canadá e do México. O processo de negociação foi iniciado em 1988,
entre norte-americanos e canadenses. Por meio do Acordo de Libe­
ralização Econômica, assinado em 1991, formalizou-se o relacionamento
comercial entre os Estados Unidos e o Canadá. Em 13 de agosto de 1992,
o bloco recebeu a adesão do México.

126
Direito Internacional

O NAFTA entrou em vigor em Io de janeiro de 1994, com


um prazo de vigência de 15 anos e com o objetivo de eliminar totalmente
as barreiras alfandegárias existentes entre os 3 (três) países membros. Em
termos práticos, alguns analistas entendem que a implementação do
NAFTA consolidou o intenso comércio regional no hemisfério norte do
Continente Americano, beneficiando à economia mexicana.
A grande inovação do NAFTA, em termos de acordo de
cunho multilateral, foi a possibilidade dada aos investidores particulares
de buscarem, diretamente dos Estados membros, a reparação por danos
sofridos em virtude da quebra de alguma obrigação legal, por meio da
instalação de um tribunal arbitrai* O Capítulo 11 do tratado constitutivo
do NAFTA prevê o preenchimento de algumas condições prévias para a
instalação desse procedimento de resolução de conflitos.

b ) ALCA
Como a própria sigla já refere, a finalidade principal da
ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) é a eliminação das
barreiras ao comércio e aos investimentos nas Américas como um todo.
O passo inicial para sua formação foi a reunião de Cúpula
de Miami, realizada em dezembro de 1994, reunindo Chefes de Estado e
de Governo de 34 (trinta e quatro) países das Américas. Na ocasião, foi
lançada a negociação dos termos do acordo que abrangeria territórios do
Alasca à Patagônia, e seria firmado até o ano de 2005. As decisões
estabelecidas na Cúpula de Miami foram consolidadas em documentos
oficiais e deram origem à Declaração de Princípios e a um Plano de Ação.
Desde o início das negociações, o Brasil vem participando
de forma bastante intensa desse processo. Com o passar dos anos, várias
reuniões foram realizadas na tentativa de chegar a um consenso acerca
das formas de implementação do acordo, o que, todavia, até o presente
momento, não foi alcançado.
As discussões da ALCA desenvolvem-se em 9 (nove)
Grupos de Negociação, a saber: (I) Acesso a Mercados, (II) Agricultura,
(III) Serviços, (IV) Investimentos, (V) Compras Governamentais, (VI)
Solução de Controvérsias, (VII) Direitos de Propriedade Intelectual,
(VIU) Políticas de Concorrência, e (IX) Subsídios, Antidumping e
Medidas Compensatórias.

127
4 Nomenclatura utilizada no Comércio
Internacional

A seguir, algumas expressões utilizadas nos tratados inter­


nacionais e na doutrina referente ao comércio internacional:

TERMO DEFINIÇÃO
Dumping Introdução de um bem no comércio de uma outra Parte
por preço Inferior a seu valor normal, se o preço de
exportação do bem exportado de uma Parte para outra
for inferior ao preço comparável, no curso ordinário do
comércio, do bem similar, quando destinado a consumo
na Parte expor-tadora. Venda de mercadoria em outra ;
Parte por preço inferior àquele pelo qual a mesma ;
mercadoria é vendida no mercado doméstico ou venda
dessa mercadoria por preço inferior aos custos
incorridos em sua produção e transporte. 0 dumping \
ocorre quando bens são exportados por preço inferior ao
valor normal, o que em gerai significa que são
exportados por preço inferior àquele por que são
vendidos no mercado doméstico ou no mercado de
outras terceiras Partes ou por menos do que o custo de j
produção. A medida antidumping estabelece a tarifação
de produtos, mercadorias e bens comercializados com
preço considerado sob margem de dumping.
Corresponde à composição de valores entre o preço de
exportação do produto estrangeiro e ò respectivo vator
da mercadoria similar ou concorrente na indústria |
nacional.
Medidas compensatórias Medida tomada peta Parte importadora, geralmente sob a j
forma de aumento de taxas, para compensar subsídios
concedidos, direta ou indiretamente, a produtores ou
exportadores na Parte exportadora. Taxas adicionais
impostas pela Parte importadora para compensar
subsídios governamentais na Parte exportadora quando
as importações subsidiadas causem prejuízo material à
indústria doméstica da Parte importadora.
Salvaguarda Medida, em gerai de natureza tarifária, que incide em
caráter provisório sobre importações de bens que
causem ou ameacem causar prejuízo grave a uma
determinada Indústria doméstica que produz bens iguais
ou similares. Tem por objetivo proporcionar o tempo
necessário para que a indústria afetada possa enfrentar
um processo de ajustamento. Geralmente é imposta
após a realização de investigação na Parte importadora
para determinar se o prejuízo grave ou a ameaça de
prejuízo grave afeta a indústria devido a importações
súbitas.

128
Direito Internacional

Subsídio RTsubsídio à exportação é um benefício concedido a j


| uma empresa por um govemo dependente de f
| exportações. 0 subsídio doméstico é um benefício não 1
1 diretamente vinculado a exportações. j
Subsídio naciona) I Qualquer ato, prática ou medida que não um subsidio de j
| exportação mediante o qual um governo confere um j
1 beneficio a um bem e/ou a uma empresa. Ver Subsidio,
i acima.

Fonte: Dicionário de Termos de Comércio, Sistema de Informação sobre


Comércio Internacional - SICE
(http://www.sice.0as.0rg/dicti0nary/SACD_p.asp#SACD), consultado em
25-03-07.

129
Direito Internacional

Capitulo VIII

Domínio Público internacional M arítim o -


Conceitos Fundam entais

1 Mar, Águas Interiores, Mar Territorial, Zona


Contígua e Zona Econômica

As águas nacionais cíassificam-se como externas ou


internas. As águas internas banham exclusivamente o território nacional
ou lhe servem como fronteira e linha divisória com Estados estrangeiros.
Seus limites são estabelecidos por em Convenções Internacionais
(Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar - Montego Bay).
As águas externas compreendem o mar territorial, a zona contígua, a
zona econômica exclusiva e o alto-mar:
M ar Territorial: significa a faixa sob a qual o Estado
costeiro exerce sua soberania. A soberania alcança as águas, o leito do
mar, o respectivo subsolo e ainda o espaço aéreo sobrejacente. A exceção
a essa soberania é o direito de passagem inocente reconhecido aos navios
mercantes ou de guerra pertencentes a qualquer Estado. O Estado costeiro
pode regular essa passagem, mas jamais frustrá-la ou dificultá-la. A
Convenção de 1982 determina que seja de 12 milhas marítimas
(aproximadamente 22 km) a largura máxima da faixa de mar terriorial,
sendo de 200 milhas a área de zona econômica exclusiva. A delimitação
do mar territorial se dá a partir da linha de base, ou seja, a linha litorânea
de maré baixa. As ilhas devem dispor de faixa própria de igual extensão.

131
Em que pese a soberania estatal sobre o mar territorial, é
assegurado o direito de passagem inocente pelo mar territorial aos navios
de todos os Estados. Nesse caso, o trânsito de navios pelo mar territorial
de um Estado independe de autorização prévia do Estado que exerce a
soberania sobre esta faixa do mar. A passagem inocente tem com
requisito principal a natureza rápida e sem interrupções, com as seguintes
finalidades:
a) atravessar o mar territorial sem penetrar nas águas
interiores, nem fazer escalas, em um ancoradouro ou instalações
portuárias fora das águas interiores; e
b) dirigir-se para as águas interiores ou sair delas, ou fazer
escalas em um ancoradouro ou instalações portuárias.
Não será considerada passagem inocente, dentre outras,
quando, no trânsito do navio, pelo mar territorial, este desenvolver
qualquer atividade que não esteja diretamente relacionada com a
passagem (art. 19, “1”).
Na passagem inocente pelo mar territorial, submarinos ou
quaisquer outros veículos submergíveis deverão navegar pela superfície e
hastear o pavilhão de seu Estado de origem.
O Estado poderá adotar lei e regulamentos, em confor­
midade com as normas de Direito Internacional, que disciplinem o
trânsito inocente em relação à preservação do meio ambiente do Estado
costeiro e prevenção, redução e controle da sua poluição (art. 21.1, “h”).
O Estado poderá, ainda, tomar, em seu mar territorial, as
medidas necessárias para impedir toda passagem que não seja inocente
(art. 25.1).
Por fim, não será exercida jurisdição penal a bordo do navio
estrangeiro, que passe pelo mar territorial, para reprimir infração criminal
praticada a bordo deste navio, salvo nos casos de:
a) ter a infração criminal conseqüências para o Estado
costeiro (art. 27.1, “a”, da Convenção);
b) perturbar a infração criminal a paz do país ou a ordem do
mar territorial (art. 27.1, “b”);
c) ter sido solicitada a assistência das autoridades locais
pelo capitão do navio ou pelo representante diplomático ou consular do
Estado da bandeira do navio;

132
Direito Internacional

d) para a repressão de tráfico ilícito de estupefacientes ou de


substâncias psicotrópicas;
e) se for necessário proceder o apresamento e investigações
a bordo de um navio que passe pelo mar territorial procedente de águas
interiores (art. 27.2).
Zona contígua; seguinte ao mar territorial. É uma faixa de
igual largura, pois "não pode estender-se além de 24 milhas marítimas,
contadas das linhas de base que servem para medir a largura do mar
te r r ito r ia lNa zona contígua o Estado pode tomar medidas de
fiscalização em defesa do território necessárias para prevenir e sancionar
infrações às suas leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou
sanitários, que ocorram em seu território ou no seu mar territorial, bem
como reprimir infrações às leis e regulamentos no seu território ou no seu
mar territorial (art. 33.1, “a” e “b”), o que inclui leis penais e ambientais.
Zona econômica exclusiva; faixa que vai das doze às
duzentas milhas, sobrepondo-se à zona contígua. Nessa área, o Estado
exerce direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento,
conservação e gestão de recursos naturais.
O Estado na zona econômica exclusiva possui:
a) direitos de soberania para fins de pesquisa prospectiva
(aproveitamento) e exploração, conservação e administração dos recursos
naturais, tanto vivos, como não vivos, nas águas suprajacentes ao leito, no
leito e no subsolo do mar, e para o desenvolvimento de outras atividades
ligadas à pesquisa prospectiva (aproveitamento) e exploração econômica
da Zona, como a produção de energia derivada da água, das correntes
marítimas e dos ventos;
b) jurisdição, respeitado o disposto na Convenção, em
relação ao (à):
1) estabelecimento e utilização de ilhas artificiais, instala­
ções e estruturas;
2) investigação científica marinha;
3) proteção e preservação do meio marítimo; e
c) outros direitos e deveres previstos na Convenção.
O art. 61 da Convenção estabelece que:
a) o Estado determinará a captura (tipo e quantidade)
permitida dos recursos vivos em sua zona econômica;

133
b) compete ao Estado, com base nos dados científicos mais
fidedignos de que disponha, assegurar, mediante as medidas adequadas de
conservação e administração, que a preservação dos recursos vivos de sua
zona econômica exclusiva não seja ameaçada por um excesso de
exploração; no exercício dessa competência, os Estados e as organizações
internacionais competentes, sub-regionais, regionais ou mundiais, atuarão
em cooperação;
c) as medidas a que se referem a alínea anterior terão,
também, a finalidade de preservar ou restabelecer as populações das
espécies capturadas em níveis que possam produzir o máximo
rendimento, respeitados os fatores ambientais e econômicos pertinentes
(incluídas nestes as necessidades econômicas das populações pesqueiras
ribeirinhas e as necessidades especiais dos Estados em desenvolvimento)
e consideradas as diferentes modalidades de pesca (comercial, desportiva,
consumo etc.), a interdependência das populações e quaisquer outros
padrões mínimos internacionais, aplicáveis à espécie, sejam sub-
regionais, regionais ou mundiais;
d) o Estado ao tomar as medidas referidas nas alíneas
anteriores, terá em conta seus efeitos sobre as espécies associadas às
espécies capturadas ou delas dependentes, com vistas a preservar ou
restabelecer as populações de tais espécies associadas ou dependentes em
níveis superiores àqueles em que sua reprodução pode ser ameaçada;
e) os Estados interessados, incluídos aqueles cujos nacionais
estejam autorizados a realizar a pesca em zona econômica exclusiva de
outro Estado, deverão, periodicamente, por meio das organizações
internacionais competentes (sub-regionais, regionais ou mundiais),
prestar ou realizar o intercâmbio de informações científicas de que
disponham, as estatísticas sobre captura e ações de pesca e outros dados
pertinentes para a conservação das populações de peixes.
Por sua vez, o art. 62, prevê que:
a) o Estado promoverá a concretização do objetivo da
utilização ótima dos recursos vivos em sua zona econômica exclusiva,
sem prejuízo do estabelecido no art. 61;
b) o Estado determinará sua capacidade de capturar os
recursos vivos em sua zona econômica exclusiva; quando o Estado não
tiver capacidade para explorar toda a captura permissível, este terá que
dai' acesso a outros Estados para que estes capturem o excedente da

134
Direito Internacional

captura permissível, mediante acordos ou outros pactos e de


conformidade com as modalidades, condições e leis e regulamentos a que
se refere a alínea “d”, a seguir, e o disposto nos arts. 69 e 70, da
Convenção (que tratam, respectivamente, dos Estados sem litoral e dos
Estados em situação litorânea desvantajosa);
c) ao dar acesso à sua zona econômica exclusiva a outros
Estados, em virtude do disposto na alínea anterior, o Estado terá em conta
todos os fatores pertinentes à matéria, entre outros, a importância dos
recursos vivos da sua zona econômica exclusiva para a economia do
Estado e para os demais interesses nacionais, as disposições dos arts. 69 e
70, as necessidades de outros Estados em desenvolvimento, na sub-região
ou região, com respeito à captura de parte dos excedentes, e a necessidade
de reduzir ao mínimo a perturbação econômica dos Estados cujos
nacionais pesquem habitualmente, ou hajam feito esforços substanciais de
investigação e identificação das populações;
d) os nacionais de outros Estados que pesquem na zona
econômica exclusiva observarão as medidas de conservação e as demais
modalidades e condições estabelecidas nas leis e regulamentos do Estado;
estas leis e regulamentos estarão em consonância com esta Convenção e
poderão referir-se entre outras, às seguintes questões:
1) a concessão de licenças a pescadores, navios e equipes de
pesca, incluídos os pagamentos de direitos e outras formas de
remuneração que, no caso dos Estados em desenvolvimento, poderão
consistir em uma compensação adequada com respeito ao financiamento,
ao equipamento e à tecnologia da indústria pesqueira;
2) a determinação das espécies que poderão ser capturadas,
a fixação das cotas de captura, em relação a determinadas populações ou
grupo de populações, o estabelecimento do período de captura por navios
ou o período de captura por nacionais de qualquer Estado;
3) a regulamentação das temporadas e áreas de pesca, o tipo,
tamanho e quantidade de aparelhos e os tipos, tamanhos e número de
navios pesqueiros autorizados a serem utilizados;
4) a fixação de idade e de tamanho dos peixes e outras
espécies que possam ser capturadas;
5) a determinação das informações que devem ser prestadas
pelos navios pesqueiros, incluindo estatísticas sobre capturas e atividades
de pesca e informes sobre a posição dos navios;

135
6) a exigência de que, sob autorização e controle do Estado,
se realizem determinados programas de inspeção pesqueira, nos termos
regulamentados pelo Estado, podendo ser prevista a amostragem das
capturas, a prestação de informações sobre o destino do pescado e a
comunicação de dados científicos conexos;
7) o embarque, pelo Estado, de observadores ou pessoal em
formação nos navios pesqueiros;
8) a descarga, pelos navios pesqueiros, de todo o produto da
pesca, ou parte dele, nos portos do Estado;
9) as modalidades e condições relativas às empresas
conjuntas ou formadas sob outro tipo de acordo de cooperação;
10) os requisitos quanto à formação de pessoal e à
transmissão de tecnologia pesqueira, incluindo o aumento da capacidade
do Estado para empreender investigações pesqueiras;
11) os procedimentos de execução.
e) os Estados darão conhecimento público, e amplo, das
e regulamentos em matéria de conservação e administração.
Pode o Estado costeiro, no exercício dos séus direitos de
soberania de exploração, aproveitamento, conservação e gestão dos
recursos vivos da zona econômica exclusiva, tomar as medidas que sejam
necessárias, incluindo visita, inspeção, apresamento e medidas judiciais,
para garantir o cumprimento de suas leis e regulamentos, adotados em
conformidade com o disposto na Convenção.88

2 Plataforma Continental

Plataforma continental: no leito e o subsolo das áreas


submarinas que se estendem além de seu mar territorial, em toda a
extensão do prolongamento natural de seu território terrestre, até o
bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de duzentas
milhas marítimas das linhas de base, a partir das quais se mede a

88 Principal Fonte: Estudo para Consultoria Legislativa de junho de 2001, Autor: João Ricardo
Carvalho de Souza.

136
Direito Internacional

largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem


continental não atinja essa distância" (art. 11 da Lei n° 8.617/93). Os
recursos naturais existentes ou encontrados na plataforma continental são
considerados bens da União.

3 Alto-Mar

Alto-mar: "todas as partes do mar não incluídas na zona


econômica exclusiva, no mar territorial ou nas águas interiores de um
Estado, nem águas arquipelágicas de um Estado a rq u ip éla g o Nenhum
Estado exerce direitos ou domínio.

4 Rios internacionais

Rio Internacional é o curso d’água que banha mais de um


Estado. As regras que regem os rios internacionais são em grande parte
costumeiras. A Convenção de Barcelona de 1921 determinou a apíicacao
dos princípios da liberdade de navegação e da igualdade de tratamento de
terceiros.

137
\
Direito Internacional

Capitulo (X

DomínSo Público internacional A éreo

1 Espaço Aéreo

Conforme esclarece REZEK89, o Estado exerce soberania


sobre os ares localizados acima de seu território e de seu mar territorial.
Ao contrário do que ocorre no mar territorial, não há direito de passagem
inocente. Já sobre o alto mar, incluído o pólo norte, e sobre o continente
antártico, é livre a navegação aérea.

2 Princípios Elementares

O sistema estabelecido pelas Convenções de Chicago,


vigentes desde 1947, estabelecem ‘‘cinco liberdades”:
í. Liberdade de sobrevôo do território, de modo que o
Estado subjacente tem o direito de proibir práticas em nome da
segurança;
2. Liberdade de escala técnica, quando o pouso é
necessário;

' REZEK, Francisco. Direito Internacional Público. Editora Saraiva. 2005, p. 326.

139
" - '• n m i iiiimnii n j g j
3. Liberdade de desembarcar passageiros e mercadorias
provenientes do Estado nacional da aeronave;
4. Liberdade de embarcar passageiros e mercadorias com
destino ao Estado nacional da aeronave;
5. Liberdade de cada um dos Estados permitirem que as
aeronaves do outro embarquem e desembarquem com destino ou
provenientes de outros países. Essa liberdade depende de um ajuste entre
Estados.
f
3 Normas Convencionais

Três são os principais tratados que regem a matéria:


Convenção de Paris de 1919, Convenção de Havana de 1928 e
Convenção de Varsóvia de 1929. Além disso, destacam-se as Convenções
de Chicago de 1944.
Cabe salientar, especialmente, a Convenção de Varsóvia,
que vige até hoje e disciplina a responsabilidade do transportador em caso
de acidentes ou outros descumprimentos do contrato de transporte. A
jurisprudência brasileira é farta no que se refere à análise das disposições
dessa Convenção em face do Código de Defesa do Consumidor. Vejamos
algumas decisões:
PROCESSO CIVIL. INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLI­
CO NO SEGUNDO GRAU DE JURISDIÇÃO. AUSÊNCIA DE
MANIFESTAÇÃO NO PRIMEIRO GRAU. IRREGULARIDADE
SANÁVEL. ARTS. 84 E 246, CPC. CERCEAMENTO DE
DEFESA. INOCORRÊNCIA. RESPONSABILIDADE CIVIL.
TRANSPORTE AÉREO. ATRASO EM VÔO INTERNACIONAL.
EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. AUSÊNCIA.
PROVA DO DANO. INDENIZAÇÃO TARIFADA. CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. APLICABILIDADE. FORMA DE
CONVERSÃO DA INDENIZAÇÃO. DEPÓSITOS ESPECIAIS
DE SAQUE. RECURSO PARCIALMENTE ACOLHIDO. I -
Restando Incontroverso o atraso em vôo internacional e
ausente prova de caso fortuito, força maior ou que foram
tomadas todas as medidas necessárias para que não se
produzisse o dano, cabível é o pedido de indenização. II - A
Seção de Direito Privado, através das duas Turmas que a
compõem, firmou posicionamento pela aplicação do Código de

140
Direito Internacional

Defesa do Consumidor nas indenizações decorrentes da


deficiente prestação no transporte aéreo. II! - A prova do dano
se satisfaz, na espécie, com a demonstração do fato externo
que o originou e pela experiência comum. Não há como negar
o desconforto e o desgaste ffsico causados pela demora
imprevista e pelo excessivo retardo na conclusão da viagem. IV
- Admitido pela próprio Órgão Julgador o fato que a parte
pretendia provar com a instrução probatória, não há que falar-
se em cerceamento de defesa oriundo do julgamento
antecipado. V - Nos termos da orientação desta Turma,
inexistindo prova de qutro dano além do transtorno decorrente
do atraso do vôo, o valor da indenização pode ser fixada em
332(trezentos e trinta e dois) depósitos especiais de saque,
que correspondem a 5.000(cinco mil) francos poincaré, nos
termos dos arts. 19 e 22 da Convenção de Varsóvia e
Protocolos 1 e 2 de Montreal, ressalvado que tal valor serve
como parâmetro indenizatório e não como limite. VI - A
intervenção do Ministério Público em segundo grau de
jurisdição, sem argüir nuíidade nem prejuízo, supre a faita de
intervenção do Parquet na primeira instância, não acarretando
a nulidade do processo.” (RESP n° 241.813, Rei. Min. Sâlvio de
Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, Superior Tribunal de
Justiça, julgado em 23/10/2001, DJ 04/02/2002, pg. 372)
“Processual Civil. Agravo nos embargos de declaração no
Recurso Especial. Transporte aéreo. Extravio de mercadoria.
Código de Defesa do Consumidor. Aplicação. Prescrição.
Prazo. - Aplícam-se as disposições do Código de Defesa do
Consumidor à reparação por danos provenientes de extravio de
mercadorias, ocorrido em transporte aéreo internacional, e não
a responsabilidade tarifada da Convenção de Varsóvia. - A
prescrição da pretensão indenizatória por danos decorrentes
do extravio de mercadoria, objeto de transporte aéreo, ocorre
em 20 anos, de acordo com o Código Civil, e não em 30 dias,
como na reclamação por vfcio de serviço amparada pelo CDC.
Agravo a que se nega provimento.” (ADRBSP n° 224.554/SP,
R e i Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, Superior Tribunal de
Justiça, unânime, julgado em 06/12/2001, DJ 25/02/2002, pg.
376)
“TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL - EXTRAVIO DE
CARGA - INDENIZAÇÃO
INTEGRAL - CDC. I - A responsabilidade civil do transportador
aéreo pelo extravio de bagagem ou de carga rege-se pelo
Código de Defesa do Consumidor, se o evento se deu em sua
vigência, afastando-se a indenização tarifada prevista na

141
Convenção de Varsóvla. 1! - Não cabem embargos de
divergência, quando a jurisprudência do Tribunal se firmou no
mesmo sentido do acórdão embargado (Súmula 168/STJ). Não
conheço dos embargos.” (ERESP n° 269.353, Rei. Min. Castro
Filho, Segunda Seção, Superior Tribunal de Justiça, unânime,
julgado em 24/04/2002, D J 17/06/2002, pg. 184)
“TRANSPORTE AÉREO. RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA DO TRANSPORTADOR. ALTERAÇÃO EM
HORÁRIO DE VÔO. PERDA DE CONEXÃO, LEVANDO A
PERDA DE COMPROMISSOS PROFISSIONAIS. AFASTA­
MENTO DAS REGRAS DO CÓDIGO BRASILEIRO DE
AERONÁUTICA E DA CONVENÇÃO DE VARSÓVIA. APLI­
CAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
DANOS MORAIS E MATERIAIS. CARACTERIZAÇÃO. DEFE­
RIMENTO DE INDENIZAÇÃO.
O Código de Defesa do Consumidor tem aplicação no caso de
indenização baseada em responsabilidade do transportador
aéreo por perda de vôo, afastando-se as regras da Convenção
de Varsóvia e do Código Brasileiro de Aeronáutica.
Precedentes do TJRGS e STJ.
Comprovada a falha da empresa concessionária de serviço
público, que, em virtude da modificação em horário de vôo e
atraso na previsão de chegada, levou-os a perder a conexão,
que só ocorreu no dia subseqüente ao previsto, com prejuízos
na atividade profissional dos autores, médicos, que tiveram
consultas e cirurgias desmarcadas, bem como sofreram com
os efeitos da altitude.
Responsabilidade da empresa aérea em indenizar pelos danos
materiais e morais, presente hipótese de responsabilidade
objetiva.
Redução do valor dos danos morais aos parâmetros da
Câmara.
Deram parcial provimento á apelação da ré e negaram
provimento à apelação dos autores.” (Apelação Cível n°
70005372479, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator. Carlos Eduardo Zietlow Ouro, julgado
em 14/08/2003)

142
Direito Internacional

4 Nacionalidade das Aeronaves

Nos termos das Convenções de Chicago, todo o avião deve


possuir uma nacionalidade, a qual é determinada pelo seu registro ou
matrícula. Nesse sentido, mesmo que a propriedade da aeronave seja
plurinacional, a nacionalidade será única, determinada de acordo com o
Estado onde foi realizada sua matricula.

5 Espaço Extra-Atmosférico

O direito que regula essa matéria é convencional,


destacando-se.
a) Convenção sobre recolhimento de astronautas e
devolução de objetos lançados no espaço, de 1968.
b) Convenção sobre responsabilidade pelos danos causados
por equipamentos espaciais, de 1972.
c) Convenção sobre atividades dos Estados na Lua, de 1979.
Os tratados proíbem a colocação de equipamentos dotados
de armamento nuclear ou de destruição de massa na órbita da Terra.
Outras formas de utilização militar não ficaram proibidas. A órbita da
Lua, entretanto, só pode ser utilizada para fins pacíficos.

6 Código Brasileiro de Aeronáutica -


lei n° 7.565/86

O Código Brasileiro de Aeronáutica prevê situações


relacionadas ao direito internacional nos artigos 3o a 10.
O art. 3o consagra o Princípio da Extraterritorialidade
quanto a aeronaves militares e públicas, reconhecendo a eficácia da
legislação, jurisdição e administração de um Estado além das fronteiras
de seu território sobre as suas aeronaves militares ou as aeronaves
públicas. Desta forma, tais aeronaves excluem-se da sujeição à legislação
do Estado do qual não são nacionais. Nesse caso, a propriedade da
aeronave é irrelevante, porque pode a aeronave pertencer a particulares,

143
I

mas se o Estado a utiliza como sua para fíns militares ou públicos (caráter
alfandegário ou policial, por exemplo), vige o princípio da
extraterritorialidade (nacionalidade determinada pela matrícula).
Observe-se que as aeronaves militares ou públicas
estrangeiras não se sujeitam à fiscalização alfandegária ou policial
brasileira, nem seqüestro ou penhora.
A aeronave privada, contudo, sujeita-se à lei do Estado onde
se encontre (leis, jurisdição e administração). Entretanto, se estiver em
alto mar, ou seja, região que não pertence ao Estado, será sujeita à
legislação e jurisdição do Estado de sua nacionalidade.
Segundo o art. 6o, os direitos reais sobre as aeronaves se
regem pela lei de sua nacionalidade. A nacionalidade da aeronave decorre
da matrícula (art. 17 da Convenção de Chicago e 108 do Código
Brasileiro). No Brasil, a matrícula é efetuada no Registro Aeronáutico
Brasileiro.

144
Direito Internacional

Capítulo x

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

1 Conceito e objeto

O Direito Internacional Privado é o conjunto de normas que


visa a resolver conflitos resultantes da potencial aplicação de dois
ordenamentos jurídicos provenientes de Estados diferentes numa mesma
relação de direito privado. Sendo assim, as regras de DIPrivado não
resolvem a questão jurídica propriamente dita, indicando, tão somente,
qual direito, dentre aqueles que têm conexão com o caso concreto, deverá
ser aplicado.
Por isso se diz que o DIPrivado é direito adjetivo - e não
substantivo - formal, ou um “sobre direito”. Em resumo, o DIPrivado
determina a lei aplicável a uma relação jurídica de direito privado com
conexão internacional.
Tendo em vista essas características, as regras de DIPrivado
são chamadas de regras àe conexão ou normas indiretas. No Direito
Brasileiro, a maioria dessas regras se encontram na Lei de Introdução ao
Código Civil - LICC (Decreto-Lei n, 4,657/1942).
Importante salientar que o DIPrivado é um ramo de direito
interno - e não internacional - pois cada Estado estabelece as suas
próprias normas de conexão, as quais serão aplicadas pelo juiz nacional.
São normas cogentes e imperativas, não cabendo disposição das partes
quanto à sua aplicação.

145
2 Relação típica e relação atípica

A doutrina, ao tratar das relações objeto do DIPrivado,


classifica as relações jurídicas em típicas e atípicas, A relação típica é
aquela que envolve apenas um ordenamento jurídico, não havendo
questionamentos relativos a qual a lei aplicável. Sendo assim, a norma de
direito substantivo incide diretamente sobre o fato, sem a necessidade de
que as normas de DIPrivado indiquem qual a norma que deverá
disciplinar a situação.
Já as relações atípicas são aquelas potencialmente vincu­
ladas a mais de um ordenamento jurídico, onde o DIPrivado se faz
necessário, para a determinação da lei que irá reger o caso.

3 Fontes

As fontes de DIPrivado podem ser classificadas como


internas, quando resultantes do sistema legislativo nacional. Por
exemplo, no Brasil, temos a Lei de Introdução ao Código Civil
(LICC) como principal fonte interna de DIPrivado. Já as fontes
internacionais correspondem principalmente aos tratados e com-
venções, v.g., as convenções interamericanas provenientes das
Conferências Especializadas sobre DIPrivado.
Os doutrinadores também mencionam como fonte do
DIPrivado a chamada Lex Mercatoria, que se caracteriza como uma
ordem jurídica criada espontaneamente pelos comerciantes internacionais,
de acordo com seus uso e costumes, aplicável para suprir lacunas. Uma
vez que o Estado não consegue acompanhar ò ritmo do comércio
internacional, a Lex Mercatoria supre a ausência de regulamentação,
quando necessário.

4 Origens e evolução histórica

A doutrina90 aponta o surgimento do DIPrivado, com


método e caráter científico, a partir dos estudos das doutrinas dos

90 GARCEZ, José Maria Rossani. Eiementos Básicos de Direito internacional Privado! Editora
Síntese, p. 42.

146
Direito Internacional

estatutos, advindos das chamadas escolas estatutárias, as quais


estudaremos a seguir.
Após as escolas estatutárias, surge a Doutrina Moderna do
DIPrivado, que delimita os contornos da disciplina e a apresenta na forma
como a estudamos atualmente.
A Doutrina Moderna será analisada no item “e” a seguir.

a, Escola Estatutária Italiana - Séculos X III e XIV


Principal Representante: Bartolo de Sassoferrato
Características:
- Divisão dos conflitos em duas classificações: uns relativos
à causa e outros relativos ao processo. Às questões processuais, a lei
aplicável é a lexfori (lei do foro), enquanto que para os aspectos relativos
à causa, aplica-se a lei do lugar de constituição;
- Divisão dos estatutos em pessoais e reais, fixando o
princípio da territorialidade para o estatuto real e da extraterritorialidade
para o pessoal.

b. Escola Estatutária Francesa - Século XVI


Principais Representantes: Bertrand D’Argentré e Charles
Dumoulin
Características:
- Dumolin defendia a aplicação da autonomia da vontade
das partes como elemento de conexão que deveria determinar a lei
aplicável às questões de fundo dos contratos e ao regime de bens do
casamento;
- Bertrand adotava o princípio da territorialidade em
combate aos italianos. Segundo ele, para os direitos reais sobre bens
móveis, deveria se aplicar a lei do país onde é domiciliado o proprietário,
enquanto que aos imóveis, aplicar-se-ia a lei do local onde se
encontrassem.

147
c. Escola Estatutária Holandesa —Século XVIII
Principal Representante: Ulrich Hüber
Características:
- Defesa à aplicação da extrema territorialidade, de modo
que a lei de cada Estado soberano deve ser aplicada em seii território e a
seus súditos, que são aqueles que se encontram no território.
- A aplicação da extraterritorialidade se dá apenas pela
“cortesia internacional” (comitas gentium), ou seja, a aplicação do direito
estrangeiro se dá por mera cortesia do Estado soberano.
d. Escola Estatutária Alemã - Século XVIII
Principais Representantes: Heinrich Cocceji e Johannes
Hertius (ou Hert)
Características:
- Apresentou a seguinte trilogia: (i) a lei do domicílio
aplica-se ao estatuto pessoal; (ii) a lei da situação da coisa apüca-se ao
estatuto real, independentemente de onde foi celebrado o ato; (iii) a lei do
lugar da celebração do ato regula a forma do ato.
e,. Doutrina Moderna - Final do Século XV II
Representante: Joseph Stoiy
- Escola Anglo-americana;
- Defendia a aplicação dos seguintes elementos de conexão,
dentre outros:
(I) Estado e capacidade das pessoas - regra do domicílio;
(II) Obrigações contratuais - lei do local da constituição,
mesmo no que se refere à capacidade para contratar;
(III) Bens imóveis - local da situação do bem;
(IV) Formalidade do casamento - lei do local da celebração.
Representante: Friedrich Carl Von Savigny
- Escola do domicílio;

148
Direito Internacional

- Desenvolveu a teoria do "Centro Gravitacional da Relação


Jurídica” ou ‘Teoria da Sede da Relação Jurídica”. Segundo essa teoria,
para se encontrar a lei mais adequada a ser aplicada ao caso concreto, há
que se determinar para cada relação jurídica o direito mais conforme com
essa relação. A sede da relação seria o local em que esta produz efeitos de
maneira preponderante;
- Savigny nega, portanto, o princípio da territorialidade;
- Defende a aplicação da lei do domicílio para o estatuto
pessoal (estado e capacidade).
Representante: Pasquale Mancini
- Escola da nacionalidade;
- Defende a aplicação da lei da nacionalidade aos direitos
personalíssimos, donde ficou conhecida a máxima “o direito dos italianos
para os italianos”.

5 Conflitos de leis no espaço e Reenvio

Os chamados conflitos de leis no espaço referem-se à


possibilidade de haver incidência simultânea de dois ou mais
ordenamentos jurídicos autônomos sobre um determinado fato para
resolver uma questão de direito. Contudo, a doutrina salienta que essa
incidência simultânea na verdade não ocorre, em face da aplicação das
normas de DIPrivado. Isso porque, após a aplicação das normas indiretas,
somente um ordenamento jurídico restará como aquele que deverá reger a
relação.
Portanto, o DIP evite os conflitos de leis no espaço. A não-
ocorrência da incidência simultânea de leis é conseqüência da soberania
do Estado que determina, por meio do DIP, qual a lei que será aplicada ao
caso concreto. Sendo assim, quando se fala em criação de uma lei
uniforme, exclui-se a aplicação do DIP na sua concepção tradicional.
O conflito de leis pode ser positivo ou negativo. Será
positivo quando dois sistemas jurídicos solucionam o conflito
determinando a aplicação de seu próprio direito. Nas palavras de Jacob
Dolinger, isso ocorre, por exemplo, “quando se trata de determinar o

149
direito aplicável à capacidade de uma pessoa e o sistema de DIP do pais
em que o mesmo se encontra domiciliado determina a competência do
domicílio, enquanto que o sistema de DIP do país da nacionalidade da
pessoa indica como aplicável a lex patrie”91.
Já o conflito negativo se dará quando as normas de DIP de
cada um dos sistemas envolvidos atribuem competência para reger a
matéria à lei interna de outro sistema. Trata-se do instituto chamado
reenvio, expressamente vedado no Brasil pelo art. 16 da Lei de
Introdução do Código Civil, que prevê: “quando, nos termos dos artigos
precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a
disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a
outra lei. ”
Não se pode confundir o conflito negativo em tomo da lei
competente com o conflito de jurisdição. O reenvio se refere à lei
aplicável à questão e não ao juiz competente para decidir o conflito.
Nos países em que o reenvio é permitido pode-se ter, por
exemplo, a seguinte situação: o DIP do país A determina a aplicação do
ordenamento jurídico do país B, enquanto que o DIP do país B determina
a aplicação do direito do país C. Denomina-se, neste caso, reenvio de 2o
grau. Caso o direito do país C mande aplicar o direito de um quarto país
(país D), teríamos o reenvio de 3o grau, uma vez que estão envolvidos 4
países.
Conforme esclarece Dolinger92, “o número do grau será
sempre um abaixo do número de países envolvidos: dois países, em que
um remete para o outro e este devolve ao primeiro constitui reenvio do I o
grau; três países, reenvio de 2 ograu; quatro países, reenvio de 3ograu”.

6 Elementos de estraneídade e fato


Jusprivatista internacional

O elemento de estraneídade é o componente estrangeiro


encontrado no fato. É justamente a presença de um elemento estrangeiro
que faz com que determinado fato esteja potencialmente ligado a mais de
um ordenamento jurídico simultaneamente. Ex: nacionalidade estrangeira

91 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado. 5a ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1997, p.2Ô7.
92 DOLINER, op cit. P. 299.

150
Direito Internacional

de um dos cônjuges, lugar do casamento realizado no estrangeiro,


domicílio conjugal em país diferente da nacionalidade dos cônjuges.
A existência do elemento de estraneidade é que determina a
necessidade de aplicação das normas de DIPrivado, uma vez que será
necessário definir qual a lei aplicável à questão sob análise.
A partir dessa compreensão, veremos que a definição de
fato jusprivatista internacional guarda relação estreita com a
conceituação de elemento de estraneidade. Isso porque o chamado fato
jusprivatista internacional caracteriza-se pela existência de dois elementos
essenciais: (I) um elemento estrangeiro (elemento de estraneidade); e (II)
a ligação a uma situação regulada pelo direito privado.
Ou seja, para que exista o fato jusprivatista internacional, é
necessário que estejamos frente a uma questão privada (de Direito Civil
ou Comercial, por excelência) e, ainda, que esse fato tenha alguma
relação externa. Vejamos, por exemplo, o caso de um contrato de compra
e venda firmado entre uma empresa brasileira, situada no Brasil, e uma
estrangeira, situada nos Estados Unidos. Trata-se de uma relação privada
com um elemento estrangeiro e, portanto, configura um fato jusprivatista
internacional. Sendo assim, podemos concluir que os fatos que interessam
ao DIPrivado são os chamados fatos jusprivatistas internacionais.

7 Elementos de conexão no direito brasileiro

Elemento de conexão é a parte da norma de DIPrivado que


determina qual o ordenamento jurídico que se aplicará a uma determinada
questão. Como vimos, essa questão, para ser objeto do DIP, deverá
pertencer a um ramo do direito privado e estar “conectada” a mais de um
ordenamento jurídico. Diz-se que a questão está “conectada” a mais de
um ordenamento quando há a possibilidade da aplicação das leis internas
de mais de um Estado.
O direito brasileiro, principalmente por meio das normas
contidas na LICC, designa os elementos de conexão correspondentes a
cada uma dos institutos jurídicos disciplinados pelo DIPrivado, os quais
são denominados conceito-quadro. Ou seja, o conceito-quadro corres­
ponde sempre a uma questão de direito privado, sobre a qual incidirá a
norma de DIPrivado, como, por exemplo, o nome, a capacidade, etc.

151
Nesse ponto, percebe-se a diferença entre as normas de direito
substantivo e as normas de conflito: as normas de direito substantivo
possuem um suporte fático, enquanto que as normas de conflito
(DIPrivado) incidem sobre urna questão de direito.
A LICC prevê a aplicação dos seguintes elementos de conexão:
Artigo da LICC Conceitos-Quadro Elemento de Conexão

Art. 7o, caput Capacidade, | Lei do Domicílio


personalidade, direitos de
família e nome
Artigo da LICC Conceitos-Quadro Elemento de Conexão

Art. 7o, § 1o Formalidades de j Lei do tocai da celebração 1


celebração e impedi­
mentos dirimentes
Art. 7o, § 3o Invalidades do casamento Lei do primeiro domicílio
i conjugal, caso os
nubentes tenham domi-
____ _________ - | cilios diversos
Art. 7o, § 4o Regime de Bens 1Lei do loca! do domicilio
dos nubentes (se diverso,
[ primeiro domicilio)
Art. 8o, caput Bens móveis e imóveis j Lei da Situação do Bem

Art. 8o, § 1o Bens móveis trazidos com Lei do Domicilio do


o proprietário ou que se j Proprietário
destinarem ao transporte
Art. 8o, § 2o I Penhor f*Lei do Domicilio da
pessoa que estiver com a
] posse do bem
Art. 9o, caput í Obrigações Contratuais e | Lei do Pais em que se
j Extracontraíuais j Constituírem
Art. 9o, § 1° Obrigação que necessita | Lei do local onde foi
de formalidade especial constituída & lei do local
| da execução
Art. 10, caput I Sucessões Lei do domicilio do de
| cujus
Art. 10, § 1o Sucessões com relação a 1 Lei mais favorável
cônjuge ou filhos (brasileira ou do domicilio
| brasileiros j do de cujus)
Art. 10, § 2o | Lei do domicílio do her-
|o , j deiro ou legatário
Art. 11, caput J Pessoa Jurídica j Lei do locai onde se cons-
j tituírem

152
Direito Internacional

A partir do quadro acima, podemos perceber que o Brasil


não adota o elemento de conexão chamado autonomia da vontade. Ou
seja, as partes não podem escolher qual a lei aplicável a sua relação.
Estudaremos mais detalhadamente essa questão no item 7.4 abaixo.
Apesar de as normas de DIPrivado, por meio do elemento
de conexão, indicarem, por vezes, normas de direito estrangeiro para a
solução de um caso perante um juiz brasileiro, tais normas estrangeiras
não serão aplicadas se ofenderem a ordem pública, a soberania nacional e
os bons costumes (art. 17 da LICC).

7.1 Família e direitos pessoais


Relativamente aos direitos personalíssimos, também
denominados estatuto pessoal, o sistema brasileiro, por meio da LICC,
adota como principal elemento de conexão o domicílio.
Dispõe o artigo 7o que as questões relativas ao nome,
capacidade, personalidade e direitos de família serão regidas pela lei do
local do domicílio da pessoa (e não da nacionalidade).
No que se refere especificamente ao casamento, a lei é mais
detalhada, de modo que a leitura do caput do artigo 7o não é suficiente,
pois seus parágrafos trazem exceções à aplicação pura e simples da lei do
domicílio. Vejamos:

! Artigo da LICC J Conceitos-Quadro Elemento de Conexão

Art. 7o, caput j Capacidade, Lei do Domicilio


personalidade, direitos de
família e nome
........J
Art. 7°, § 1o | Formalidades de Lei do local da celebração
celebração e impedi­
mentos dirimentes

Art. 7o, § 3o . j invalidades do casamento Lei do primeiro domicílio


conjugal, caso os
nubentes tenham domi­
cílios diversos

Art, 7o, § 4o J Regime de Bens Lei do local do domicilio


l dos nubentes (se diverso,
primeiro domicílio)

153
Algumas situações especiais são relacionadas ao estatuto
pessoal:
a) Casamento consular (§ 2o do art. 7o, e art. 18 da LICC) -
somente poderá ocorrer se ambos os nubentes forem estrangeiros e da
mesma nacionalidade. Segue a lei do país do consulado. Também os
brasileiros podem realizar casamentos no estrangeiro, perante a
autoridade consular do Brasil. Contudo, é importante salientar que ambos
os nubentes deverão ser de nacionalidade brasileira.
b) Casamento por procuração: o artigo 1.542 do Código
Civil permite a realização de casamento por procuração no Brasil. Os
requisitos de validade da procuração serão regulados pela lei do local
onde o documento foi firmado {locus regit actum).
c) Divórcio: consoante dispõe o §6° do art. I a da LICC,
combinado com o art. 226, §1°, da Constituição Federal, o divórcio
realizado no estrangeiro envolvendo brasileiros (um ou ambos os
cônjuges), somente será reconhecido e homologado no Brasil após 1 (um)
ano do trânsito em julgado da sentença.
d) Regime de bens: é determinado pela lei do domicílio
conjugal. Com o advento do Novo Código Civil, passou-se a admitir a
autonomia da vontade para a escolha do domicílio (art. 1525, IV).
Portanto, o domicílio será aquele estabelecido por mútuo consenso, não
só para os casais que tinham domicílio diverso antes do casamento, mas
também para os casais que tinham um domicílio comum, mas que
transferiram seu domicílio por ocasião do casamento.
e) Nome: o direito ao nome é regulado pela lei pessoal, que,
de acordo com o sistema brasileiro, é a lei do domicílio. Em caso de
conflito de leis, o Tribunal de Justiça de São Paulo manifestou-se no
sentido de permitir à mulher adicionar o sobrenome do marido, apesar da
proibição estabelecida pela lei do local onde foi celebrado o casamento.
Segundo a decisão, trata-se de direito garantido pela lei brasileira.93

7.2 Adoção Internacional


Entre outros tratados, a adoção é objeto da Convenção
Sobre os Direitos da Criança, de 29-11-1989, da qual o Brasil é signatário
(Decreto Legislativo n. 28, de 14-09-1990).

a3 Ap. Cfvei n. 47.444-4, de 06-08-1998.

154
Direito Internacional

A adoção é considerada internacional quando os pais


adotivos e a criança têm nacionalidades diversas. O Estatuto da Criança e
do Adolescente (Lei n. 8.069/1990) regula a adoção no Brasil e considera
a adoção por pais estrangeiros uma medida excepcional, somente
admitida quando inexistirem casais brasileiros em condições de adotar a
criança.
Dispõe o artigo 31 da referida lei:
“A colocação em família substituía estrangeira constitui medida
excepcional somente admissível na modalidade de adoção.”

Além disso, o artigo 51 da Lei refere que o candidato estran­


geiro deverá comprovar, mediante documento expedido pela autoridade
competente de seu domicílio, estar devidamente habilitado à adoção,
consoante as leis de seu país. Deverá, ainda, apresentar estudo
psicossocial elaborado por agência especializada e credenciada no país de
origem.
Segundo o artigo 52 da Lei, a adoção poderá ser
condicionada a estudo prévio a ser realizado por uma comissão estadual
judiciária de adoção, que fornecerá laudo de habilitação e manterá
registro centralizado de estrangeiros interessados em adoção.
A lei veda expressamente a saída do adotando do Brasil
antes de findo o processo de adoção. Por fim, observe-se que a adoção é a
única forma pela qual a criança pode ser colocada em família substituta
estrangeira, sendo vedados os institutos de guarda e tutela nesse caso.

7.3 Bens
O artigo 8o da LICC determina que “para qualificar os bens
e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que
estiverem situados”.
Portanto, o artigo adotou a lex rei sitae (lei do local da
situação do bem) como elemento de conexão aplicável aos bens. Há
contudo, uma exceção relativa aos bens móveis, aos quais aplicar-se-á a
lei do país em que for domiciliado o proprietário (parágrafo primeiro do
artigo 8o).

155
Quanto ao penhor, a lei também traz uma exceção. Vejamos
o parágrafo segundo do artigo 8o: “o penhor regula-se pela lei do
domicílio que tiver a pessoa em cuja posse se encontre a coisa apenhada”.
O caput do artigo 8o determina, ainda, que a qualificação
dos bens também se dará pela lex rei sitae. Isso significa que a lei do
local da situação dos bens é que distinguirá se são bens móveis ou
imóveis, fungíveis ou não fungíveis, principais ou acessórios, etc.
Regulará também os direitos relativos às coisas, como por exemplo a
extinção do direito de propriedade e suas formas de transmissão.

7.4 Obrigações e contratos internacionais


O artigo 9o da LICC prevê: “para qualificar e reger as
obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.”
Esse artigo determina, portanto, que, quando a obrigação for
constituída no Brasil, regular-se-á pela lei brasileira quanto à sua
substância e forma.
Assim, o dispositivo da LICC não permite a aplicação da
autonomia da vontade para a escolha da lei que regerá os contratos, ou
seja, as partes não poderão escolher a lei que regulará a relação contratual
celebrada94. A doutrina salienta, contudo, que a autonomia da vontade
poderá ser admitida como exceção na hipótese de a obrigação ser
contraída no exterior e as partes terem escolhido a lei brasileira para regê-
la, eis que não há proibição legal alguma nesse sentido.95
O legislador, no parágrafo primeiro do artigo 9o, determina
que os requisitos de forma previstos na lei brasileira deverão ser
observados caso o contrato seja executado no Brasil. Daí o entendimento
da doutrina de que há um somatório de leis que deverão ser observadas
quanto aos requisitos essenciais do ato: os da lei brasileira e os da lei
estrangeira.96

94 Sobre o tema, vide explanação de Nádia de Araújo, op. cit., pp 318 a 324. A autora esclarece
que: “A LICC, no seu artigo 9o, não menciona o principio da autonomia da vontade e, embora
muitos juristas sejam a favor, o princípio é proibido”. Alguns autores entendem que a LICC não
proibiu a autonomia da vontade, apenas não a previu expressamente. Nesse sentido, TENÓRIO,
Oscar. Lei de introdução ao Código Civii Brasileiro. 2a ed. Borsai: Rio de Janeiro, 1955.
95 AMORIM, Edgar Carfos de Amorim. Direito Intemacionai Privado. 7a ed. Forense: Rio de
Janeiro, 2001, p. 156.
96 SERPA LOPES. Comentários Teórico e Prático da Lei de introdução ao Código Civii. Vol. II.
Livraria Jacinto: Rio de Janeiro, 1944, p. 230.

156
Direito Internacional

No caso de contratos celebrados entre ausentes, o parágrafo


segundo do art. 9o determina que a lei aplicável é a da residência do
proponente. Sobre o tema, Nádia de Araújo97 observa que “considera-se
proposta, nos termos do artigo, não a inicial, mas sim a última versão, na
forma da lei brasileira, que adota a teoria da expedição da resposta como
o momento em que se aperfeiçoa a obrigação nos contratos entre
ausentes”,

7.5 Pessoa Jurídica


De acordo com o DIPrivado, para que uma pessoa jurídica
seja reconhecida universalmente como ente sujeito de direitos e
obrigações, basta que sua personalidade jurídica tenha sido reconhecida
pelo ordenamento jurídico de um Estado, de acordo com os ditames de
sua legislação interna.
O DIPrivado estabelece critérios específicos para o
estabelecer o estatuto pessoal da pessoa jurídica, o qual definirá a lei
aplicável a sua constituição, dissolução, uso do nome comercial,
organização interna, gestão, emissão de títulos, etc.
Os critérios para determinação do estatuto pessoal da pessoa
jurídica são:
a) Critério da Incorporação', a lei aplicável à pessoa
jurídica é a lei do país em que esta. se constituiu. Esse critério é criticado
por ser exageradamente formalista e depender somente da vontade dos
sócios-fundadores. Por outro lado, é um critério de fácil constatação;
b) Critério da Sede Social: o país onde se encontra a sede
social da pessoa jurídica determina seu estatuto pessoal. Esse critério é
defendido por ser mais relacionado com o dia-a-dia da empresa, pois a
pessoa jurídica (por meio de seu centro de decisões) guardaria um vínculo
maior com o Estado cuja lei será a ela aplicada;
c) Critério do Controle: o estatuto pessoal da pessoa
jurídica é determinado pela nacionalidade de seus sócios majoritários.
Esse critério foi muito utilizado durante a 2a Guerra Mundial, como forma
de justificar a expropriação de empresas controladas por inimigos.

97 ARAÚJO, op. Cit., p. 317.

157
No direito brasileiro, o estatuto pessoal da pessoa jurídica é
definido pelo art. 11 da LICC, que dispõe: “as organizações destinadas a
fins de interesse coletivo, como as sociedades e fundações, obedecem à
lei do Estado em que se constituírem”. O dispositivo consagra, portanto, o
critério da incorporação.
Para as empresas estrangeiras funcionarem no Brasil, terão
de observar o requisito previsto no § Io do art. 11 da LICC, ou seja,
deverão ter seus atos constitutivos previamente aprovados pelo governo
brasileiro.

7.6 Sucessão
A regra é a aplicação da lei do último domicílio do de cujus,
seja qual for a natureza e a situação dos bens (art. 10 da LICC).
Excepcionalmente, a lei, por meio do § Io do art. 10 da LICC e inciso
XXXI do art 5o da CF, privilegia a nacionalidade conferindo proteção aos
filhos e cônjuges brasileiros quando houver bens no Brasil.
Assim, para aplicar a lei que regerá a sucessão, é necessário
efetuar uma análise da lei estrangeira para avaliar se é ou não mais
benéfica do que a nossa lei. Dessa forma, havendo filhos ou cônjuge
brasileiro, se aplica a lei mais benéfica (entre a lei do domicílio de de
cujus e a lei brasileira). Se não houver filhos ou cônjuge brasileiro, se
aplica a lei do domicílio de cujus.
Exemplo de utilização de lei estrangeira mais benéfica do
que a lei brasileira ocorreu em decisão do Tribunal de Justiça do RJ. Em
uma sucessão em que a lei aplicável era a portuguesa, tendo em vista ser
Portugal o último domicílio do de cujus, aplicou-se aquela lei mesmo
havendo filhos brasileiros porque seu resultado era mais benéfico (dois
terços do patrimônio compunham a legítima enquanto que, segundo a lei
brasileira, a legítima corresponderia apenas a metade do patrimônio)98.
Relativamente aos testamentos realizados no estrangeiro,
não há regra expressa na LICC, mas os tribunais têm aplicado,
relativamente às formalidades, a regra locus regit actum, ou seja, aplica-
se a lei do local onde foi elaborado o documento.

®s Ap, Cfvel 14.153/98, de 90-09-99.

158
Direito Internacional

O § 2o do artigo 10 da LICC, que dispõe sobre a capacidade


do herdeiro para suceder pode, aparentemente, entrar em conflito com o
caput do artigo ou mesmo com seu § I o. Contudo, o § 2o tem aplicação
unicamente nas hipóteses em que, já determinado o herdeiro, a lei de seu
domicílio regerá sua capacidade no que se refere, por exemplo, aos casos
de indignidade, o que não se confunde com a qualidade de herdeiro, a
qual é regulada pela lei do último domicílio do de cujus. Sobre o tema, o
Superior Tribunal de Justiça já a lei aplicável à sucessão (que determina
quem teria a qualidade de herdeiro) é a do domicílio do de cujus (art. 10
da LICC). A lei do domicílio do herdeiro só é considerada para a questão
da capacidade para receber a herança (§ 2o do art. 10)".

8 Teoria das qualificações

Qualificar significa enquadrar a questão dentro do ramo do


direito pertinente (família, obrigações), classificando a questão jurídica e
definindo questões principais (ex: divórcio) e questões prévias (Ex:
capacidade para o casamento, regime de bens). A qualificação se dá
sempre pela lei do foro, ou seja, a lei nacional do juiz que está apreciando
a questão, salvo quando a norma de DIPrivado prevê ao contrário.
Exemplo de exceção a essa regra encontra-se no artigo 9o da LICC, que
determina “para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país
em que se constituírem.”
Outra exceção à regra geral de que a qualificação se dá pela
lei do foro encontra-se no art. 8o da LICC, que dispõe: “Para qualificar os
bens e regular as relações a ele concernentes, aplicar-se-á a lei do país
onde estiverem situados.”

w STJ, Recurso Especial n. 61.434/SP, 17/06/1997.

159
Direito Internacional

capftufo Xi

N acionalidade

1 População e comunidade nacional

População de um Estado soberano é o conjunto de pessoas


instaladas em caráter permanente sobre seu território (nacionais e
estrangeiros). Já a dimensão pessoal do Estado soberano não corresponde
necessariamente ao conceito de população, mas sim à comunidade
nacional, isto é, seus súditos, incluindo aqueles que vivem no exterior.100
Sobre os estrangeiros residentes, o Estado exerce
inúmeras competências inerentes a sua jurisdição territorial, já sobre os
súditos distantes, o Estado exerce jurisdição pessoal, fundada no vínculo
de nacionalidade e independente do território onde se encontrem
(competência extraterritorial).

100 REZEK, op. clt., p. 170.

161
2 Aquisição, mudança e perda da
nacionalidade - opções e prazos

Segundo Rezek, “nacionalidade é um vínculo político entre


o Estado soberano e o indivíduo. (...) Esse vínculo jurídico recebe,
entretanto, uma disciplina jurídica de direito interno: a cada Estado
incumbe legislar sobre sua própria nacionalidade, desde que respeitadas,
no direito internacional, as regras gerais, assim como as regras
particulares com que acaso se tenha comprometido”101.
Há dois modos de aquisição da nacionalidade. Denomina-se
nacionalidade primária ou originária aquela resultante de um fato
natural, ou seja, o nascimento. É, portanto, involuntária. Quando de
origem sanguínea (critério do jus sanguinis), estende-se a nacionalidade
dos ascendentes aos descendentes. Pode se dar também pelo critério do
jus solis, atribuindo-se a nacionalidade àquele que nasce no território
correspondente a determinado Estado. A nacionalidade secundária surge
a partir da declaração de vontade do sujeito, chamada naturalização que
geralmente está conectada a alguns elementos de ordem social, como por
exemplo, tempo de permanência do estrangeiro no país.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU -
1948) determina que o Estado não pode arbitrariamente privar o
indivíduo de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de
nacionalidade. Ou seja, todo o indivíduo tem direito a uma nacionalidade.
Vale destacar também o que dispõe o princípio da
efetividade, segundo o qual o vínculo patrial não deve fundar-se em pura
formalidade ou no mero artificio, mas sim na existência de laços sociais
consistentes entre o indivíduo e o Estado.102
A partir do exercício da competência dos Estados para
definição das normas relativas à nacionalidade, podem surgir conflitos. O
polipátrida é aquele que possui mais de uma nacionalidade, como
resultado da aplicação, por diferentes Estados, de critérios diferentes para
a aquisição da nacionalidade (conflito positivo de nacionalidade). A
figura do apátrida ou heimatlos, ocorre quando há o conflito negativo, ou

101 REZEK, op. cit., p. 180.


10S A Corte internacional de Justiça no Caso Nottebohn negou reconhecimento à nacionalidade
atribuída por Liechtenstein ao cidadão atemâo Friedrich Nottebohn, em razão da manifesta
ausência de elementos que estabelecessem seu vfncuio com aguete país.

162
Direito Internacional

seja, a aplicação dos critérios não permite a aquisição da nacionalidade, o


que contraria a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Para evitar
tais situações, as convenções internacionais dedicam-se a evitar esses
conflitos.
A Constituição Federal, em seu artigo 1 2 ,1, determina que
Brasileiro nato é o nascido no território brasileiro, ainda que de pais
estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país (critério
territorial ou jus soli). Reputa-se a serviço de nação estrangeira ambos os
componentes do casal, ainda que apenas um deles detenha cargo, na
medida em que o outro apenas o acompanhe. Se, contudo, o Estado de
origem do casal não é aquele mesmo a cujo serviço se encontram, a regra
não se aplica.
São também brasileiros natos, os nascidos no estrangeiro, de
pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço
da República Federativa do Brasil e os nascidos no estrangeiro de pai
brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição
brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do
Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira (conforme redação dada pela Emenda
Constitucional n° 54, de 2007).
Portanto, os modos de aquisição da nacionalidade originária
brasileira são:
1) Nascidos no Brasil, ainda que de pais estrangeiros,
desde que estes não estejam a serviço de seu país.
Observe-se que se o estrangeiro não estiver a serviço de seu
país de origem, a criança será considerada brasileira. Exemplo: no caso de
um filho de japoneses que se encontram a serviço dos Estados Unidos
nascer em território brasileiro, será considerado brasileiro nato.
2) Nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe
brasileira, desde que qualquer deles se encontre a serviço do Brasil.
Ressalte-se que a expressão“a serviço do Brasil” é
interpretada de forma bastante ampla, de modo que o pai ou a mãe
poderão estar a serviço de qualquer das esferas (federal, estadual ou
municipal), bem como da administração direta ou indireta.
3) Nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe
brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira
competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e

163
optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira.
Caso a criança não tenha sido registrada em repartição
brasileira competente, deverá ingressar aos 18 (dezoito) anos com a
chamada “ação de opção confirmativa”. Tal ação é de competência da
justiça federal e tem duplo grau de jurisdição obrigatório. O Ministério
Público atuará obrigatoriamente como fiscal da lei e a condição de
brasileiro conferida pela sentença retroage à data da propositura da
demanda.
Observe-se que o art. 12, I, c, da Constituição Federal de
1988 dispunha serem brasileiros natos os nascidos no estrangeiro, de pai
brasileiro ou mãe brasileira, desde que venham a residir na kepública
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade
brasileira.
A Emenda Constitucional n° 54, de 20 de setembro de 2007,
alterou o artigo 12,1, "c" da CF/88, passando a considerar, também, como
brasileiros natos os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe
brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira
competente, ou venham a residir na República Federativa do Brasil e
optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira.
Sendo assim, a CF/88 passou a prever mais uma forma de
aquisição da nacionalidade originária brasileira, eis que a emenda
manteve a hipótese já contemplada anteriormente, ou seja, aquela em que
o nascido no estrangeiro, de pai ou mãe brasileiros, desde que viessem a
residir do Brasil e optassem a qualquer tempo pela nacionalidade
brasileira, seria brasileiro nato. Com relação a essa hipótese de aquisição
de nacionalidade, o legislador apenas acrescentou que essa "opção”
deveria ser manifestada após a maioridade, nos termos da jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal. Vejamos:
Opção de nacionalidade brasileira (CF, art. 12, I, c): menor
residente no Pais, nascido no estrangeiro e filho de mãe
brasileira, que não estava a serviço do Brasil: viabilidade do
registro provisório (L. Reg. Públicos, art. 32, § 2o), não o da
opção definitiva. 1. A partir da maioridade, que a toma possível,
a nacionalidade do filho brasileiro, nascido no estrangeiro, mas
residente no País, fica sujeita à condição suspensiva da
homologação judicial da opção. 2. Esse condicionamento

164
Direito Internacional

suspensivo, só vigora a partir da maioridade; antes, desde que


residente no País, o menor - mediante o registro provisório
previsto no art. 32, § 2o, da Lei dos Registros Públicos - se
considera brasileiro nato, para todos os efeitos. 3. Precedentes
(RE 418.096, 2a T., 23.2.05, Velioso; AC 70-Q0, Plenário,
25.9.03, Pertence, DJ 12.3.04) (STF, RE 415957 /RS, 1a
Turma, Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, DJ 16.09.2005); e
CONSTITUCIONAL. NACIONALIDADE: OPÇÃO. C.F., ART.
1 2 ,1, c, COM A EMENDA CONSTITUCIONAL DE REVISÃO N°
3, DE 1994. I. - São brasileiros natos os nascidos no
estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que
venham a residir no Brasil e optem, em qualquer tempo, pela
nacionalidade brasileira. II. - A opção pode ser feita a qualquer
tempo, desde que venha o filho de pai brasileiro ou de mãe
brasileira, nascido no estrangeiro, a residir no Brasil. Essa
opção somente pode ser manifestada depois de alcançada a
maioridade, é que a opção, por decorrer da vontade, tem
caráter personalíssimo. Exige-se, então, que o optante tenha
capacidade plena para manifestar a sua vontade, capacidade
que se adquire com a maioridade. III. - Vindo o nascido no
estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, a residir no
Brasil, ainda menor, passa a ser considerado brasileiro nato,
sujeita essa nacionalidade a manifestação da vontade do
interessado, mediante a opção, depois de atingida a
maioridade. Atingida a maioridade, enquanto não manifestada
a opção, esta passa a constituir-se em condição suspensiva da
nacionalidade brasileira. IV. - Precedente do STF: AC 70-
QO/RS, Ministro Sepúlveda Pertence, Plenário, 25.9.03, "DJ"
de 12;3.04. V. - RE conhecido e não provido (STF,
RE 418096/RS, 2a Turma, Min. CARLOS VELLOSO, DJ
22.04.2005).

A nova hipótese de nacionalidade originária decorre da


alteração trazida pela emenda que passa a considerar como brasileiro nato
os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde
que sejam registrados em repartição brasileira competente.
Em verdade, essa forma de aquisição já era prevista no texto
originário da CF/88, o qual previa que eram brasileiros natos os nascidos
no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente, ou venham a residir na
República Federativa do Brasil antes da maioridade e, alcançada esta,
optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira. Contudo,

165
quando da Emenda Constitucional de Revisão n° 3, de 7 de junho de
1994» essa hipótese foi suprimida.
1A í *
Conforme leciona Dantas , “de todo modo, achou por bem
o legislador constituinte derivado reinserir essa hipótese. Ou seja, a partir
de 20 de setembro de 2007, também é considerado como nato o brasileiro
nascido no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que
seja registrado em repartição brasileira competente.
O novel art. 12, I, V ’, adota, poís, o critério jus sanguinis
aliado a um requisito específico, qual seja, a necessidade de registro em
repartição brasileira competente. Destarte, esse assentamento de
nascimento, lavrado pela autoridade brasileira no exterior, possui a
mesma eficácia jurídica daqueles que são formalizados no Brasil.
Nessa hipótese, não há necessidade de posterior opção pela
nacionalidade brasileira daquele que, sendo filho de pai ou mãe brasileira,
nascer no exterior. O mero registro em repartição diplomática ou consular
brasileira competente assegura a ele a aquisição originária da naciona­
lidade brasileira.
Por fim, cumpre destacarmos que o art. 95 dos Atos das
Disposições Constitucionais Transitórias, também acrescido pela
retrofalada Emenda, dispõe que os nascidos no estrangeiro entre 7 de
junho de 1994 e 20 de setembro de 2007, filhos de pai brasileiro ou mãe
brasileira, poderão ser registrados em repartição diplomática ou consular
brasileira competente ou em ofício de registro, se vierem a residir na
República Federativa do Brasil.”
A perda da nacionalidade brasileira se dá pela aquisição de
outra nacionalidade, por meio da naturalização voluntária. Essa regra se
aplica tanto ao brasileiro nato quanto ao naturalizado. Nesse caso, a perda
da nacionalidade brasileira é declarada pelo Presidente da República. Há,
todavia, duas exceções a essa regra. Primeiramente, nos casos em que a
lei estrangeira, correspondente ao Estado do qual se tomou nacional por
aquisição secundária reconheça sua nacionalidade originária e admita a
dupla nacionalidade (art. 12, § 4o, II, a). Outra exceção se dá quando a lei
estrangeira impõe a aquisição de outra nacionalidade ao brasileiro

DANTAS, Rodrigo Tourinho. Aquisição originária da nacionalidade brasileira: alterações


introduzidas pela Emenda Constitucional n° 54/2007
http://ius2.uol.co rn.br/doutrína/textoasD?id=1Q476. consultado em 20 de novembro de 2007.

166
Direito Internacional

residente no exterior, para que ele possa permanecer naquele território ou


para que possa exercer direitos civis (§ 4o, II, b).
A Lei 818/49 admite duas formas de reaquisição da
nacionalidade:
a) Brasileiro naturalizado que perde a nacionalidade
brasileira em razão de atividade nociva ao interesse nacional, por meio de
sentença transitada em julgado, poderá readquiri-la mediante ação
rescisória;
b) Brasileiro nato ou naturalizado que perde nacionalidade
brasileira por ter adquirido a de outro país poderá readquiri-la por meio
de decreto presidencial.

3 Naturalização

A naturalização é prevista na Constituição Federal, em seu


artigo 12, II. Poderá ser ordinária ou extraordinária:
Ordinária: exige o atendimento, pelo estrangeiro, das
condições estipuladas pelo Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815/1980),
que são: (I) capacidade civil; (II) registro como permanente no Brasil;
(III) boa conduta; (IV) exercício de profissão ou a posse de bens
suficiente à manutenção de sua família; (V) inexistência de denúncia,
pronúncia ou de condenação no Brasil ou no exterior por crime doloso a
que seja cominada pena mínima de prisão, considerada abstratamente,
superior a um ano; (VI) residência contínua em território nacional pelo
prazo mínimo de quatro anos, imediatamente anterior ao pedido de
naturalização.
No caso de estrangeiros originários de países de língua
portuguesa, exige-se apenas a residência por um ano ininterrupto e a
idoneidade moral (art. 12, II, a, da CF).
Extraordinária: conferida mediante requerimento aos
estrangeiros residentes no Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e
que não foram condenados penalmente (art. 12, II, b, da CF).

167
O procedimento para obtenção da naturalização se dá
perante o Ministério da Justiça, encerrando-se com a entrega do
certificado pelo juiz federal competente. Dispõe a Lei 6815/80 (Estatuto
do Estrangeiro):
Art. 119. Publicada no Diário Oficial a portaria de naturalização,
será ela arquivada no órgão competente do Ministério da
Justiça, que emitirá certificado relativo a cada naturalizando, o
qual será solenemente entregue, na forma fixada em
Regulamento, pelo juiz federal da cidade onde tenha domicilio
o interessado. (Renumerado o art. 118 para art. 119 e alterado
pela Lei n° 6.964, de 09/12/81)
§ 1o. Onde houver mais de um juiz federai, a entrega será feita
pelo da Primeira Vara.
(Incluido alterado pela Lei n° 6.964, de 09/12/81)
§ 2o. Quando não houver juiz federal na cidade em que tiverem
domicilio os interessados, a entrega será feita através do juiz
ordinário da comarca e, na sua falta, pelo da comarca mais
próxima. (Incluído alterado pela Lei n° 6.964, de 09/12/81)
§ 3o. A naturalização ficará sem efeito se o certificado não for
solicitado pelo naturalizando no prazo de doze meses contados
da data de publicação do ato, salvo motivo de força maior,
devidamente comprovado. (Parágrafo único transformado em §
3o pela Lei n° 6.964, de 09/12/81)

Os brasileiros naturalizados têm todos os direitos do


brasileiro nato, salvo:
1. Exercer cargos de Presidente e Vice-Presidente da
República (art. 12, § 3o, I, CF), de Presidente da Câmara dos Deputados
(II), de Presidente do Senado Federal (III), de Ministro do Supremo
Tribunal Federal (IV), da carreira diplomática (V), de Oficial das Forças
Armadas (VI) e de membro privativo do Conselho da República (art.
89, VII);
2. Adquirir empresa jornalística ou de radiodifusão, se
naturalizado há menos de dez anos (art. 222);
3. Poderá ser extraditado pela prática de crime comum,
cometido anteriormente à naturalização, assim como pela participação em
tráfico ilícito de entorpecentes (art. 5o, LI).

168
Direito Internacional

4 Posição da justiça Federal - jurisprudência

Colacionamos a seguir algumas decisões referentes à


nacionalização e à naturalização. Vejamos:
a) Aspectos processuais
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA QUINTA REGIÃO
Classe: REO - Remessa Ex Offfcio - 335020 Processo:
200181000071225 UF: CE Órgão Julgador: Segunda Turma
Data da decisão: 22/06/2004 Documento: TRF500084084
Fonte DJ - Data::25/08/2004 - Página::810 - N°::164 Relator(a)
Desembargador Federai Francisco Cavalcanti Decisão
UNÂNIME
Ementa PROCÈSSUAL CIVIL. TRANSCRIÇÃO DE REGISTRO
DE MENOR NASCIDO NO ESTRANGEIRO. REMESSA
OFICIAL. NÃO CABIMENTO. ART. 4o, PARÁGRAFO 3o DA
LEI N° 818 DE 18 DE SETEMBRO DÉ 1949. ALTERAÇÃO
PELA LEI 6.825, DE 22 DÊ SETEMBRO DE 1980. ART. 1o,
PARÁGRAFO 3o. REVOGAÇÃO DA LEI 6.825/80 PELA LEI N°
8.197, DE 27 DE JUNHO DE 1997. PRECEDENTES. NÃO
CONHECIMENTO DA REMESSA EX OFFICIO.
1. O parágrafo 3o do art. 4o da Lei n° 818, de 18 de setembro
de 1949, previa que as sentenças que julgassem matéria
referente à nacionalidade, estava sujeita ao duplo grau
obrigatório, não produzindo efeito senão depois de confirmada
pelo Tribuna!.
2. A Lei n° 6.825, de 22 de setembro de 1980, a qual
estabeleceu normas para maior celeridade dos feitos no extinto
Tribunal Federal de Recursos e na Justiça Federal de Primeira
Instância, alterou a referida Lei n° 818/1949, estabelecendo
que “Nas causas referentes à nacionalidade, inclusive a
respectiva opcão. e à naturalização, a sentença só fica suieita
ao duplo arau de iurisdicão guando nela se discutir matéria
constitucional".
3. O art. 7° da Lei n° 8.197, de 27 de junho de 1991
expressamente revogou a Lei n° 6.825, de 22 de setembro de
1980.
4. Aoreende-se oue não hâ mais previsão de duplo grau
obrigatório em caso de sentença aue determina a transcrição
de registro de nascimento de menor nascido no exterior e oue
passa a residir no país, eis que o dispositivo da Lei n° 818/49,
art. 4o, parágrafo 3o foi alterado pela Lei n° 6.825/80, a qual foi
depois revogada pela Lei n° 8.197/91.
5. Inocorrôncia de repristinaçâo do dispositivo da Lei n° 818/49,
em face do art. 2o, parágrafo 3o da Lei de Introdução ao Código
Civil.
6. Remessa oficiai não conhecida.
Data Publicação 25/08/2004

TRIBUNAL REGIONAL DA 4o REGIÃO: EMENTA: REO -


REMESSA EX OFFICIO - CONSTITUCIONAL E
PROCESSUAL CIVIL. MENOR NASCIDO NO ESTRANGEIRO,
DE PAIS BRASILEIROS. TRANSCRIÇÃO DO ASSENTO DE
NASCIMENTO NO REGISTRO CIVIL - REQUISITOS.
- Preenchidos os requisitos ditados pelo art. 4o, da Lei n°
818/49 e art.32, § 2o, da Lei n° 6.015/73 de ser deferido o
pedido de transcrição do assento de nascimento de menor filho
de pais brasileiros, nascido rio estrangeiro. A TURMA, PÔR
UNANIMIDADE, NEGOU PROVIMENTO À REMESSA
OFICIAL - Relator: AMAURY CHAVES DE ATHAYDE - DJU
DATA:22/03/2Ó06 PÁGINA: 685 - Processo:
2004.70.07.000401-4 - PR - Data da Decisão: 15/02/2006 -
Órgão Julgador: QUARTA TURMA.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. OPÇÃO DE NACIONALIDADE.


COMPETÊNCIA. APLICAÇÃO DA LEI 9.099/95. A odcão de
nacionalidade é questão relativa ao estado e capacidade da
pessoa, ficando excluida da competência do Juizado Especial
Federal, a teor do art. 3o, § 2o, da Lei 9.099/95 (de aplicação
subsidiária autorizada pelo art. f° da Lei n° 10.259/2001).
(TRF4, AGRAVO DE INSTRUMENTO, 2006.04.00.030256-0,
Terceira Turma, Relator Luiz Carlos de Castro Lugon, D.E.
14/03/2007)

b) Requisitos para exercer a opção de nacionalidade


brasileira
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO
Classe: AC - APELAÇÃO CIVEL - 199934000342858
Processo: 199934000342858 UF: DF Órgão Julgador:
SEGUNDA TURMA Data da decisão: 12/6/2001 Documento:
TRF100114340 Fonte DJ DATA: 10/8/2001 PAGINA: 154
Relator(a) JUIZ CARLOS FERNANDO MATHIAS Decisão À
unanimidade, deu provimento à apelação, e julgou prejudicada
a Remessa Oficial. Participaram do julgamento os(as)
Exmos(as) Sr.(as) Juizes CARLOS MOREIRA ALVES e
ASSUSETE MAGALHÃES.
Ementa CONSTITUCIONAL - OPÇÃO DE NACIONALIDADE -
CONSTITUIÇÃO, ART. 12, I, C. IRREGULARIDADES NA
DOCUMENTAÇÃO. AUSÊNCIA DE DECLARAÇÃO DE
VONTADE DO OPTANTE. RETORNO DOS AUTOS, PARA

170
Direito Internacional

REABERTURA DA INSTRUÇÃO DO FEITO.


I - São brasileiros natos os nascidos no estrangeiro de pai
brasileiro ou mãe brasileira que venham residir no Brasil e que
optem a qualquer tempo pela nacionalidade brasileira.

II - No presente caso, não estão presentes os requisitos


exigidos para a homologação da opcão de nacionalidade
brasileira, uma vez que falte clara manifestação de vontade do
optante: não há comprovação nos autos do domicílio do
optante no Brasil e ausência de demonstração inequívoca do
vínculo de filiação entre o optante e o cidadão brasileiro.
Ademais a tradução do documento não foi realizada por
tradutor juramentado no Brasil, e ainda, a ausência de
legalização consular nos termos da Lei de Registros Públicos
III - Apelo provido, prejudicada a remessa oficial.
Data Publicação 10/08/2001

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA QUARTA REGIÃO


Classe: AC - APELAÇÃO CIVELProcesso: 200370020068650
UF: PR Órgão Julgador: QUARTA TURMA Data da decisão:
30/06/2004 Documento: TRF400097741 Fonte DJU
DATA:28/07/2004 PÁGINA: 467 DJU DATA:28/07/2004
Relator(a) JUIZ VALDEMAR CAPELETTl Decisão A TURMA,
POR UNANIMIDADE, NEGOU PROVIMENTO AO RECURSO,
NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR. Ementa ADMINIS­
TRATIVO. OPÇÃO DE NACIONALIDADE. APLICAÇÃO DO
DISPOSTO NO ART. 12, INC. I, AL. "C", DA CR/88.
- Na qualidade de brasileira nata uope constitutionis”. a optante
não está suieita à comprovação de bons antecedentes
criminais e de exercício de atividade laborai no país.
Data Publicação 28/07/2004

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA QUARTA REGIÃO


Classe: AC - APELAÇÃO CIVEL Processo: 9504156800 UF:
SC Órgão Julgador: QUARTA TURMA Data da decisão:
10/02/1998 Documento: TRF400060894 Fonte DJ DATA:
03/06/1998 PÁGINA: 800 Relator(a) JUIZ JOSÉ LUIZ B.
GERMANO DA SILVA Decisão UNÂNIME
Ementa APELAÇÃO CÍVEL. OPÇÃO DE NACIONALIDADE.
NECESSÁRIA. AUTENTICAÇÃO DOS DOCUMENTOS.
DOCUMENTOS DEVEM SER REGISTRADOS NO REGISTRO
DE TÍTULOS E DOCUMENTOS. ART-129, PAR-6 DA LEI-
6015/73.

171
DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DE RESIDÊNCIA.
ESSENCIAL A COMPROVAÇÃO DA FILIAÇÃO. ART-12, INC-
1, LET-C. EMENDA N. 03/94.

1. Os documentos juntados aos autos devem ser autenticados


ou conferidos em cartório.
2. Documentos de procedência estrangeira devem ser
registrados no Registro de Títulos e Documentos para surtirem
efeito.
3- Com a reforma do ART-12 da CF-88. através da emenda
EMC-3/94. não é necessário aue o optante tenha cheaado ao
território antes de atinaír a maioridade.
4. Não é essencial a prova de residência no pais, se esta iá
foi feita ao temoo em oue foi autorizado o registro provisório
de
nascimento pela vara de Registros Públicos Estadual.
5. é fundamental que o optante comprove a nacionalidade
brasileira de um de seus genitores.
Data Publicação 03/06/1998
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA QUARTA REGIÃO
Classe: AC - APELAÇÃO CIVEL Processo: 200470000002442
UF: PR Órgão Julgador: TURMA ESPECIAL Data da decisão:
07/07/2004 Documento: TRF400097697 Fonte DJU
DATA:28/07/2004 PÁGINA: 429 Relator(a) JUIZ EDGARD A
LIPPMANN JUNIOR Decisão A TURMA, POR UNANIMIDADE,
DEU PROVIMENTO AO RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO
DO RELATOR.
Ementa NACIONALIDADE BRASILEIRA DO FILHO DE
BRASILEIROS, NASCIDOS NO EXTERIOR E REGISTRADO
EM ÓRGÃO COMPETENTE. DESNECESSIDADE DE OPÇÃO
AO ATINGIR A MAIORIDADE.
- Na redação original do art. 12. I, C, da Constituição Federal
de 1988. antes da entrada em víoor da Emenda Constitucional
de Revisão n° 3. de 07/06/94, consideravam-se brasileiros
natos os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe
brasileira, desde oue fossem registrados em repartição
brasileira competente, sendo esse reguisito suficiente, sendo
desnecessária a opcão pela nacionalidade ao atinair a
maioridade.
Data Publicação 28/07/2004

172
Direito internacional

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA QUARTA REGIÃO


Ciasse: AC - APELAÇÃO CiVELProcesso: 200370000444197
UF: PR Órgão Julgador: TERCEIRA TURMA Data da decisão:
09/03/2004 Documento: TRF400094517 Fonte DJU
DATA:14/04/2004 PÁGINA: 536Relator(a) JUIZ CARLOS
EDUARDO THOMPSON FLORES LENZ Decisão A TURMA,
POR UNANIMIDADE, NEGOU PROVIMENTO AO RECURSO.
Ementa CONSTITUCIONAL. OPÇÃO PELA NACIONALIDADE
BRASILEIRA. INCAPACIDADE. INSCRIÇÃO. ART. 32, § 2o DA
LEI DE REGISTROS PÚBLICOS.
1. A ECR-3/94 não derrogou as normas acerca da capacidade
civil que já regulavam a opção de NACIONALIDADE, razão
pela qual somente o plenamente capaz, pela Implementação
do requisito etário ou pela emancipação, poderá optar
livremente pela confirmação da NACIONALIDADE que lhe foi
atribufda pelo Estado.
2. A opcão de NACIONALIDADE é um direito personalíssimo e.
como tal, só pode ser exercitado após o titular completar a
maioridade,
3. Apeiação conhecida e desprovida.
Data Publicação 14/04/2004
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4° REGIÃO:
EMENTA: APELAÇÃO CIVEL - CONSTITUCIONAL E CIVIL.
BRASILEIRO REGISTRADO EM CONSULADO BRASILEIRO
NO ESTRANGEIRO. REGISTRO CIVIL. ASSENTAMENTO.
DIREITO ADQUIRIDO.
1. O registro perante consulado brasileiro no estrangeiro era
suficiente para fixar a nacionalidade brasileira assegurada peia
sua efetivação, antes do advento da Emenda Constitucional
Revisional n° 03/1994,
2. O requerente não precisa, no caso do registro ser anterior a
emenda constitucional revisional citada, fazer a opção de
nacionalidade, pois já é considerado brasileiro nato, em face do
direito adquirido.
3. A única ressalva que se faz é que o interessado deverá
promover a transcrição do Registro de Nascimento no Cartório
do 1o Ofício de Registro Civil, para que o mesmo produza
efeitos no Brasil, que é justamente o que a parte requerente
está pretendendo. A TURMA, POR UNANIMIDADE, DECIDIU
DAR PROVIMENTO À APELAÇÃO - Relatora: MARGA INGE
BARTH TESSLER - DJU DATA:05/03/2007 - Processo:
2006.70.02.006849-2 - Data da Decisão: 07/02/2007 - Órgão
Julgador: QUARTA TURMA.

173
c) Requisitos para naturalização
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA QUARTA REGIÃO
Classe: AC - APELAÇÃO CIVEL - 583977 Processo:
200270020067275 UF: PR Órgão Julgador: TERCEIRA
TURMA Data da decisão: 09/09/2003 Documento:
TRF400090118 Fonte DJU DATA:24/09/2003 PÁGiNA: 511
Relator(a) JUIZ LUIZ CARLOS DE CASTRO LUGON Decisão
A TURMA, POR UNANIMIDADE, NEGOU PROVIMENTO AO
RECURSO.
Ementa ADMINISTRATIVO. ESTRANGEIRO. NACIONA­
LIDADE. ART. 12, II, B, DA CF/88. NATURALIZAÇÃO. Lei n.
6.815/80. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. ART.
267, VI, DO CPC.
- Divergindo a hipótese vertente da figura de Opção de
Nacionalidade originária, regulada ha Lei dos Registros
Públicos - Lei n. 6.015/73, a qual é requerida diretamente à
Justiça Federal, com acerto se houve o Julgador a quo ao
extinguir o processo sem julgamento do mérito por
impossibilidade jurídica do pedido (art. 267, VI, do CPC),
cumprindo à cidadã estrangeira vtndicar sua naturalização iunto
ao Ministro da Justiça, nos moldes da íegisíacão de regência
íart. 12. II. b da CF/88 c/c Lei n. 6.815/801
Data Publicação 24/09/2003
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA QUARTA REGIÃO
Ciasse: AMS - APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA -
72738 Processo: 200070000186274 UF: PR Órgão Julgador:
TERCEIRA TURMA Data da decisão: 02/10/2001 Documento:
TRF400082053 Fonte DJU DATA:24/10/2001 PÁGINA: 376
DJU DATA:24/10/2001 Relator(a) JUIZA MARIA DE FÁTIMA
FREITAS LABARRÈRE Decisão A TURMA, POR
UNANIMIDADE, NEGOU PROVIMENTO AO RECURSO.
Ementa NATURALIZAÇÃO. REQUISITOS PREVISTOS NA
CONSTITUIÇÃO PARA A AQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE
BRASILEIRA. EXIGÊNCIA DE OUTROS. ATO ADMINIS­
TRATIVO INVÁLIDO.
É anulável o ato da autoridade que faz exigências para a
concessão de naturalização não previstas na Constituição, pois
tal exigência caracteriza abuso de poder. Recurso improvido.
Data Publicação 24/10/2001

174
Direito Internacional

Capitulo xii

R egim e Jurídico do Estrangeiro

1 Estatuto dos estrangeiros - direitos e


deveres

Consideram-se estrangeiros aqueles que não possuem a


nacionalidade brasileira. Sua entrada no Brasil é regida pelo Estatuto do
Estrangeiro (Lei n. 6.815/1980, com as alterações trazidas pela Lei n.
6.964/1981» e regulamentada pelo Decreto n. 86.715/1981).
A Convenção Interamericana sobre a condição dos
estrangeiros, de 1928, prevê, em seu art. 5o: “Os Estados devem conceder
aos estrangeiros domiciliados ou de passagem em seu território todas as
garantias individuais que concedem aos seus próprios nacionais e o gozo
dos direitos civis essenciais, sem prejuízo, no que concerne aos
estrangeiros, das prescrições legais relativas à extensão e modalidades
de exercício dos ditos direitos e g a r a n tia s Saliente-se, contudo, que
nenhum Estado soberano é obrigado a admitir estrangeiros em seu
território, seja em definitivo, seja a título provisório. Entretanto, a partir
do momento em que se admite o súdito de outro país no âmbito espacial
de sua soberania, tem o Estado, perante ele, deveres resultantes do direito
internacional.

175
A permissão para que o estrangeiro entre no Brasil se dá
pela concessão do visto de entrada, registrado no passaporte do
estrangeiro. Entretanto, a permissão de entrada em território nacional é
ato discricionário do Estado, de modo que o visto “não constitui um
direito subjetivo à entrada e ainda menos à permanência no território, mas
sim uma expectativa de direito”104.
O visto de entrada no Brasil poderá ser de turista, de
trânsito, de cortesia, oficial ou diplomático. Poderá, ainda, ser temporário
ou permanente; individual ou extensivo aos dependentes do titular. A
distinção fundamental é a que no chamado visto permanente, o
estrangeiro se instala no país com ânimo de permanência definitiva. Já os
demais têm um caráter temporário. Nos vistos de caráter temporário não é
possível a prestação de trabalho remunerado.
O estrangeiro registrado como permanente que se ausentar
do Brasil poderá regressar independentemente de visto se o fizer dentro
de dois anos (art. 51 da Lei). Além disso, nos casos de vistos
permanentes, o estrangeiro poderá obter a cédula de identidade para
estrangeiros.
Não poderão obter visto (art. 7o da Lei):
a) Estrangeiro menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado
ou sem autorização expressa do responsável legal;
b) Estrangeiro processado ou condenado em outro país por
crime doloso, passível de extradição consoante a lei brasileira;
c) Estrangeiro que já foi expulso do Brasil, desde que a
expulsão não tenha sido revogada;
d) Estrangeiro considerado nocivo aos interesses nacionais
ou à ordem pública;
e) Estrangeiro que não satisfaça as devidas condições de
saúde.
Algumas limitações são estabelecidas pela Constituição
Federal e pelo Estatuto do Estrangeiro no que se refere aos direitos dos
estrangeiros no Brasil. Dentre elas, destaca-se o fato de que os

1M SEITENFUS & VENTURA, op. cit, p. 123.

176
Direito Internacional

estrangeiros não adquirem direitos políticos (art. 14, § 2o). Por outro lado,
a Emenda Constitucional n. 19, de 1998, tomou-lhes acessíveis os cargos,
empregos e funções públicas.
Diversos países, mediante tratado bilateral ou mero
exercício de reciprocidade, dispensam a prévia aposição de um visto nos
passaportes de súditos de nações amigas. O ingresso de um estrangeiro
com passaporte não-visado faz presumir que sua presença no país será
temporária, mas jamais a dispensa do visto poderá ser interpretada como
abertura generalizada à imigração.105
A Constituição Federal concedeu garantias diferenciadas
aos portugueses com residência permanente no Brasil, os quais são
equiparados aos brasileiros naturalizados. Observe-se que o art. 12, § Io,
da Constituição menciona que os portugueses são equiparados a
brasileiros natos, contudo a concessão de direitos acompanhada da
ressalva “salvo casos previstos nesta Constituição” é maneira típica de
prever limitações aos direitos de naturalizados}06
O Decreto n. 70.436/1972, que promulgou a Convenção
sobre Igualdade de Direitos e Deveres entre Brasileiros e Portugueses
prevê o direito de os portugueses residentes no Brasil em face dessa
equiparação. Observe-se, contudo, que os portugueses continuam sendo
estrangeiros, apesar de equiparados.
Observe a seguir alguns artigos importantes da Lei
6.815/80J á solicitados em concursos federais:
Art. 6o A posse ou a propriedade de bens no Brasil não confere
ao estrangeiro o direito de obter visto de qualquer natureza, ou
autorização de permanência no território nacional.

Art 10. Poderá ser dispensada a exigência de visto, prevista no


artigo anterior, ao turista nacional de país que dispense ao
brasileiro idêntico tratamento.
Parágrafo único. A reciprocidade prevista neste artigo será, em
todos os casos, estabelecida mediante acordo internacional,
que observará o prazo de estada do turista fixado nesta Lei.

105 REZEK, op. cit., p. 194.


106 SILVA, José Afoso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 12 ed. Malheiros: São Paulo,
1996, p, 322.

177
Art. 38. É vedada a legalização da estada de clandestino e de
irregular, e a transformação em permanente, dos vistos de
trânsito, de turista, temporário (artigo 13, itens I a IV e VI) e de
cortesia.

Art. 21. Ao natural de país limítrofe, domiciliado em cidade


contígua ao território nacional, respeitada os interesses da
segurança nacional, poder-se-á permitir a entrada nòs
municípios fronteiriços a seu respectivo país, desde que
apresente prova de identidade.
§ 1o Ao estrangeiro, referido neste artigo, que pretenda exercer
atividade remunerada ou freqüentar estabelecimento de ensino
naqueles municípios, será fornecido documento especial que ô
identifique e caracterize a sua condição, e, ainda, Carteira de
Trabalho e Previdência Social, quando for o caso.
§ 2° Os documentos referidos no parágrafo anterior não
conferem o direito de residência no Brasil, nem autorizam o
afastamento dos limites territoriais daqueles municípios.

2 Extradição, expulsão e deportação

a) Extradição
Consoante conceitua Rezek, “a extradição é a entrega, por
um Estado a outro, e a pedido deste, de indivíduo que em seu território
deva responder a processo penal ou cumprir pena”107.
É condição indispensável para a extradição a existência de
um processo penal, concluso ou em andamento, no país requerente.
Ainda, o fundamento jurídico de todo pedido de extradição há de ser um
tratado entre os dois países envolvidos, no qual se estabeleça que, em
presença de determinados pressupostos, dar-se-á a entrega da pessoa
reclamada. “Na; falta de tratado, o pedido de extradição só fará sentido se
o Estado de refugio do indivíduo for receptivo - à luz de sua própria
legislação - a uma promessa de reciprocidade”108. Percebe-se, pois, que
os 2 (dois) requisitos alternativos para a concessão da extradição são: a
existência de tratado e a promessa de reciprocidade.

107 REZEK, op. cit., p. 1Ô7.


108 REZEK, op. Cit-, p. 198.

178
Direito Internacional

Nesse sentido, já se manifestou o Supremo Tribunal


Federal: “Nenhum outro Estado, à falta de norma convencional, ou de
promessa feita pelo Brasil, poderia pretender um direito à extradição,
exigível do nosso país, pois não há normas de direito internacional sobre
extradição obrigatória para todos os Estados” (Caso Stangl, Extradição
272-4, RTJ 43/193).
Saliente-se, todavia, que, na inexistência de tratado, a
reciprocidade em matéria extradicional tanto pode ser acolhida quanto
rejeitada, sem fundamentação. Sendo assim, a extradição fundada em
promessa de reciprocidade abre ao governo brasileiro a perspectiva de
uma recusa sumária, No caso de existência de tratado bilateral, o pedido
não suporta recusa. Há, nesse caso, um compromisso que ao governo
brasileiro incumbe honrar, sob pena de responsabilidade internacional.
É princípio consagrado quase que universalmente que não
se concede extradição de nacional. No Brasil, o art. 5o, LI, da
Constituição Federal consagra a não-extradição de nacional, “salvo o
naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização,
ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, na forma da lei”.
O pedido de extradição é recebido pelo Ministério das
Relações Exteriores, que o envia ao Ministério da Justiça o qual, por sua
vez, o encaminha ao Supremo Tribunal Federal (STF). Durante o
processo, o extraditando será encarcerado por despacho do juiz relator.
Nos termos do art. 102,1, “g”, da Constituição Federal, o
Supremo Tribunal Federal é o órgão competente para decidir
originariamente sobre a legalidade do pedido de extradição formulado
pelo Poder Executivo do Estado estrangeiro ao Governo Brasileiro
(extradição passiva). O Governo Brasileiro enviará ao STF o pedido, caso
entenda cabível. O STF, por sua vez, analisará a legalidade do pedido,
com base na lei interna e no tratado bilateral. Tal análise ocorrerá ainda
que o indivíduo não se oponha a sua própria extradição, sendo que não
caberá recurso dessa decisão, tendo-se apenas admitido embargos de
declaração.
O STF, em decisão amplamente divulgada na mídia,
referente à extradição de Cesare Battisti (EXT 1085), decidiu que o
Presidente da República, após decisão favorável do STF, deverá basear-se
nos termos do tratado de extradição para decidir sobre a entrega ou não
do extraditando.

179
O Brasil não entregará o extraditando ao Estado requerente
sem que este assuma os seguintes compromissos, previstos no art. 91 da
Lei 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro): de não ser o extraditando preso
nem processado por fatos anteriores ao pedido; de computar o tempo de
prisão que, no Brasil, for imposta por força da extradição; de comutar em
pena privativa de liberdade a pena corporal ou de morte, ressalvados,
quanto à última, os casos em que a lei brasileira permitir a sua aplicação;
de o extraditando não ser entregue, sem consentimento do Brasil, a outro
Estado que o reclame; e de não considerar qualquer motivo político para
agravar a pena.109
De acordo com os arts. 77 e 78 do Estatuto do Estrangeiro,
não será concedida extradição quando: o fato que motivar o pedido não for
considerado crime no Brasil; a lei brasileira impuser ao crime a pena de
prisão igual ou inferior a um ano; o extraditando estiver respondendo a
processo pelo qual já foi condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo
fato em que se fundar o pedido; estiver extinta a punibilidade pela
prescrição da pretensão punitiva; o fato constituir crime político; o
extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante Tribunal ou
Juízo de Exceção; o crime Mo for cometido no território do Estado
requerente.
Finalmente, a extradição de indivíduos condenados pela
justiça brasileira somente será requerida a outro país se a pena for
inicialmente cumprida em regime fechado, nos termos da legislação
brasileira.
Algumas observações adicionais sobre o instituto:
(I) Ter filho brasileiro e/ou cônjuge brasileiro não será causa
de indeferimento da extradição pelo Supremo Tribunal
Federal.
(II) O artigo 89 da Lei 6.815/80 prevê que "quando o
extraditando estiver sendo processado, ou tiver sido
condenado, no Brasil, por crime punível com pena privativa
de liberdade, a extradição será executada somente depois da
conclusão do processo ou do cumprimento da pena'*, exceto
quando sua entrega imediata for conveniente ao interesse
nacional.
(III) Ressalta-se que não será procedida a expulsão de

109 Fonte: Website oficial do Ministério da Justiça: http://www.ml.gov.br/estrang/extradicao.htm,


consultado em 25-03-07.

180
Direito Internacional

estrangeiro quando esta implicar em extradição indeferida


pelo Supremo Tribunal Federal.
(TV) Nada impede o retomo ao Brasil de estrangeiro já
extraditado, após o cumprimento da pendência com a
Justiça do país requerente, desde que não haja também sido
expulso do território nacional.
b) Expulsão
A expulsão decorre de ato do próprio Estado no qual se
encontra o estrangeiro. O expulso não tem destino determinado, embora
só o Estado patrial do expulso tenha o dever de recebê-lo quando
indeséjado alhures. No Brasil, a expulsão poderá ocorrer nos casos em
que o estrangeiro atentar contra a segurança nacional, a ordem política ou
social, a tranqüilidade e a moralidade pública e a economia popular, cujas
atitudes o tomem nocivo à convivência e aos interesses nacionais.
A expulsão pressupõe tramitação de um inquérito perante o
Ministério da Justiça, cabendo ao Ministro da Justiça decidir acerca da
expulsão, materializando-a por meio de portaria, conforme delegação de
competência contida no Decreto n. 3447/00. Conforme Rezek, “a
expulsão assemelha-se à deportação na ampla faixa discricionária que os
dois institutos concedem ao governo. (...) Tanto significa que, embora não
se possa deportar ou expulsar um estrangeiro que não tenha incorrido nos
motivos legais de uma e outra medida, é sempre possível deixar de
promover a deportação, Ou a expulsão, mesmo em presença de tais
motivos. A lei não obriga o governo a deportar ou expulsar”110. Não há
que se falar em análise do mérito do juízo governamental por parte do
Judiciário, mas sim de controle de legalidade do ato. A expulsão não
poderá ocorrer era hipóteses em que a extradição de um estrangeiro é
inadmitida pelo direito pátrio. Além disso, não será expulso o estrangeiro
casado há mais de cinco anos com brasileiro ou que possui, sob sua
guarda e dependência econômica, um filho brasileiro.
c) Deportação
A deportação se dá quando não estão presentes os requisitos
legais de entrada ou para permanência do estrangeiro no país. Assim, caso
o estrangeiro não se retire do país no prazo determinado pelas autoridades,
ocorrerá sua saída compulsória, ou seja, sua deportação. Geralmente ocorre
com aqueles estrangeiros que entraram de forma irregular (clandestinamente)

110 REZEK, op. cit., p. 196.

181
\
ou cuja estada tenha-se tomado irregular por excesso de prazo ou trabalho
remunerado, no caso de turistas. No Brasil, a Policia Federal tem compe­
tência para promover a deportação de estrangeiros, quando entenderem que
não é o caso de regularizar sua documentação.
Não se deve confundir deportação com impedimento à
entrada de estrangeiro, que ocorre quando lhe falta justo título para
ingressar no Brasil. Nesse caso, o estrangeiro não chega a ultrapassar a
barreira policial da fronteira, porto ou aeroporto: é mandado de volta de
imediato, sempre que possível, às expensas da empresa que o transportou
sem certificar-se da legalidade de sua documentação.
Ao contrário da expulsão, o estrangeiro deportado poderá
retomar ao país, desde que atenda às condições legais para tanto. A
deportação se assemelha à expulsão uma vez que não poderá ser
promovida em casos em que a extradição não é admitida pela lei
brasileira. Além disso, ambos são atos discricionários, ou seja, o Estado
não é obrigado, mas detém a faculdade de expulsar e deportar o
estrangeiro, nos termos da legislação brasileira.
Veja a seguir um resumo comparativos dos três institutos:
i — ^ Deportação Expulsão ( Extradição
Quem se Estrangeiro Estrangeiro Estrangeiro ou Brasileiro
submete? naturalizado, em caso
de crime comum,
praticado antes da
naturalização ou por
tráfico de entorpecentes.
Por que Entrada ou Art. 65 da Lei l Responder a processo
ocorre? permanência 6815/80- l criminal ou cumprir
irregular em tornar-se nocivo | pena.
território ao interesse
brasileiro. nacional j
Procedimento Junto à Polícia inquérito no | A Divisão de Medidas
Federal. Ministério da | Compulsórias do
Justíça e ! Ministério da Justiça
decisão por [ recebe, por via
portaria exarada diplomática (Ministério
pelo Ministro da das Relações
Justiça | Exteriores), o pedido de
(competência [ extradição formulado
delegada por j pelo país requerente.
meio do Decreto Realizada a análise de
3447/00). admissibilidade, de
acordo com o Tratado,
? se houver, o pedido será j
; encaminhado, por meio
______________ J de Áviso Ministerial, ao |

182
Direito Internacional

Supremo Tribunal
Federal, a quem
compete a análise da
legalidade do pedido,
conforme previsto no
artigo 102, inciso I,
alfnea "g" da
Constituição Federal.

3 Asilo político

O estrangeiro pode requerer asilo político para evitar


punição injusta ou a perseguição motivada por ato de natureza ideológica
ou política, de opinião ou por crimes que, relacionados com a segurança
do Estado, não configuram quebra do direito penal comum.
Essa forma de admissão do estrangeiro pode ser exercida de
duas maneiras: (I) asilo diplomático: proteção conferida ao estrangeiro
nas embaixadas, nos navios ou acampamentos militares, nas aeronaves
governamentais, etc; (II) asilo territorial: perfaz-se no próprio território
do Estado que concede a proteção.
A Constituição Federal, em seu artigo 4o, X, determina que
a concessão o asilo político é um dos princípios que regem as relações
internacionais. Desta forma, o asilo político no Brasil seguirá as normas
de direito internacional.
Compete às autoridades governamentais decidirem se
recebem ou não o asilado, sendo que, uma vez recebido, este não poderá
retirar-se do país sem prévia autorização governamental.
Em virtude das circunstâncias, o candidato ao asilo político
dificilmente estará provido de documentação própria para o ingresso
regular. Sem visto, ou mesmo sem passaporte, ele aparece, formalmente,
como um deportando em potencial quando faz à autoridade o pedido de
asilo. O Estado, decidindo conceder-lhe esse estatuto, cuidará de
documentá-lo111.

111 REZEK, op. cit., p. 215.

183
O asilo diplomático não é definitivo. Significa, geralmente,
apenas um estágio provisório, uma ponte direta para o asilo político, a
consumar-se no solo daquele mesmo país cuja embaixada acolheu o
fugitivo, ou eventualmente no solo de um terceiro país que o aceite. Há,
nesses casos, a emissão do “salvo-conduto”, instrumento jurídico hábil a
permitir o translado do sujeito até o território do Estado que o acolheu.

4 Refúgio

0 Refugio é previsto no Brasil pela Lei n°. 9,474/1997, que


dispõe:
Art. 1o Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que:
1 - devido a fundados temores de perseguição por motivos de
raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas
encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou
não queira acolher-se à proteção de tal país;
II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes
teve sua residência habitual, não possa ou não queira
regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no
inciso anterior;
!ii - devido a grave e generalizada violação de direitos
humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para
buscar refúgio em outro país.

O grande ponto de discussão sobre o instituto se refere às


diferenças quando comparado ao asilo político. O asilo é concedido ao
estrangeiro que se encontra sob perseguição política ou ideológica em seu
país de origem. Sua concessã se dá pelo exercício de um ato soberano do
Estado. O refugio, de outro lado, presta-se à proteção de indivíduo que
sofre perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo
social ou opinião, e será concedido em razão de uma instituição
convencional. A concessão do refugio aplica-se quando o indivíduo já se
encontra fora de seu país. O asilo, por sua vez, pode ser solicitado no
próprio país de origem do indivíduo.
A solicitação de refugio tem início na Polícia Federal.
Manifestada a vontade, o estrangeiro será entrevistado pela Coordenação-
Geral do Comitê Nacional para os Refugiados - CONARE. O Comitê,
que é órgão vinculado ao Ministério da Justiça, decidirá sobre o refugio.

184
Direito Internacional

Observe-se que, em ambos os institutos (asilo e refugio),


aplicam-se as regras a seguir:
a) os indivíduos receberão documentos de identidade e
carteira de trabalho;
b) não há obrigatoriedade de concessão pelo Estado;
c) não se sujeitam à reciprocidade e protegem indivíduos
independentemente de sua nacionalidade;
d) excluem a possibilidade de extradição.

5 Pessoas Jurídicas estrangeiras

As normas relativas ao estatuto pessoal da pessoa jurídica,


consubstanciadas no Direito Brasileiro pelas disposições contidas no art.
l i e parágrafos da LICC, distinguem-se da noção de condição jurídica do
estrangeiro. Enquanto o estatuto pessoal da pessoa jurídica refere-se ao
direito aplicável a essas pessoas, a condição jurídica do estrangeiro
disciplina os direitos da pessoa jurídica estrangeira comparativamente às
nacionais, tendo em vista as atividades desenvolvidas no país112.
Os Estados podem estabelecer diferentes limitações ao
exercício de atividades pelas pessoas jurídicas estrangeiras em seu
território.
A LICC determina que, para o funcionamento de uma filial
no Brasil, é necessária a prévia autorização de seus atos constitutivos pelo
Govemo Brasileiro. Essa regra se aplica quando estamos frente à mera
extensão da personalidade jurídica da matriz internacional. Desta forma, a
filial é empresa estrangeira, apesar de localizada no Brasil.
Difere-se, portanto, da empresa subsidiária, a qual é
constituída no Brasil, de acordo com a legislação brasileira, possuindo
sede no Brasil, mas suas ações ou quotas de capital pertencem
majoritariamente à pessoa estrangeira. Nesse caso, estamos frente a uma
empresa brasileira.
A definição da nacionalidade das empresas foi regulada pela
Emenda Constitucional n. 06/95: “Nacional é a empresa constituída sob
as leis brasileiras, desde que possua sede e administração no país.”

112 RECHSTBNER, op. cit. p. 152.

185
Também o Código Civil de 2002 contemplou esse entendimento, em seu
artigo 1.126.
Algumas restrições são previstas na legislação brasileira
relativamente à atuação de empresas estrangeiras. O artigo 199, §3°, da
Constituição Federal, dispõe ser vedada a participação de empresas ou
capitais estrangeiros na assistência à saúde no país, salvo previsão legal.
Além disso, o artigo 222 da CF exige que pelo menos 70% do capital social
total ou votante de empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora devem
permanecer a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos.
Sendo a empresa nacional ou estrangeira, é necessário seu
registro na Junta Comercial.

186
Direito Internacional

capítulo xiii

Processo Civil internacional

1 Aplicação da Lei Estrangeira

Uma das peculiaridades do DIP é a possível aplicação do


direito estrangeiro ao conflito quando indicado pela norma de conflito.
Após a aplicação das normas de DIP e sendo aplicável a lei estrangeira,
são necessários mecanismos para sua comprovação no processo judicial.
O Código de Processo Civil (art. 337) e a LICC (art. 1
abrem a possibilidade de o juiz exigir da parte a comprovação do teor e
vigência do direito estrangeiro. O STJ, contudo, se manifestou no sentido
de que, caso o direito estrangeiro não tenha sido alegado pela parte, não
cabe a esta demonstrá-lo, cabendo ao juiz fazê-lo de ofício. Segundo o
STJ, não sendo viável produzir~se essa prova, como não pode o litígio
ficar sem solução, o juiz aplicará o direito nacional (REsp 254.544).
Sendo assim, ca:so as partes aleguem direito estrangeiro,
deverão provar seu teor e vigência, nos termos do art. 337 do CPC. Caso
o juiz invoque o direito estrangeiro, não poderá exigir da parte que o traga
aos autos.

187
2 Competência internacional no Brasil

Nas palavras de Rechsteiner113, “as normas de competência


internacional determinam a extensão da jurisdição nacional, em face
daquela dos outros Estados, basicamente conforme o ordenamento
jurídico interno» sempre que o juiz ou tribunal tenha de decidir uma causa
com conexão internacional”.
No sistema brasileiro, as normas referentes à delimitação
da competência internacional encontram-se nos artigos 88 e 89 do CPC,
conforme veremos a seguir.

2.1 Competência concorrente


A competência concorrente designa as situações em que
uma determinada ação poderá ser intentada tanto perante a justiça
brasileira quanto perante a estrangeira, sem exclusão de uma ou de outra.
Assim sendo, caso a justiça estrangeira venha a decidir sobre a questão,
tal sentença poderá ser reconhecida e executada no Brasil, desde que
observados os requisitos de sua homologação (item 2.2 abaixo).
No Brasil, as hipóteses de competência concorrente,
também chamada relativa, alternativa ou cumulativa, estão listadas no
artigo 88 do Código de Processo Civil, que dispõe:
É competente a autoridade judiciária brasileira quando:
I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver
domiciliado no Brasil;
II - no Brasil tiver que ser cumprida a obrigação;
III - a ação se originar de fato ocorrido ou de fato praticado no
Brasil.
Parágrafo único - Para o fim do disposto no n. I, reputa-se
domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui
tiver agência, filial ou sucursal.

Portanto, nas hipóteses previstas no art. 88, admite-se tanto


a competência do juiz brasileiro quanto do estrangeiro para a resolução do
conflito.

113 RECHSTEINER, Beat Walter. Direito Internacional Privado. 6a ed. Saraiva: São Pauto, 2003, p.
221.

188
Direito Internacional

Importante observar que o Código de Processo Civil


Brasileiro, em seu artigo 90, dispõe que a ação proposta perante tribunal
estrangeiro não induz litispendência. Ou seja, o fato de uma ação idêntica
(mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir) ter sido proposta
no estrangeiro não obsta que a autoridade brasileira aprecie a questão.

2.2Competência absoluta
Ao contrário das hipóteses de competência concorrente, a
competência absoluta da autoridade judiciária brasileira inviabiliza
completamente a apreciação da questão por parte da autoridade
estrangeira. Significa dizer que, em determinados casos, somente à justiça
brasileira caberá a decisão do conflito, de modo que uma sentença
estrangeira versando sobre tais matérias jamais poderia ser executada no
Brasil
0 artigo 89 do Código de Processo Civil dispõe sobre a
competência absoluta:
Compete á autoridade judiciária brasifeira, com exclusão de
qualquer outra:
1 - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
H - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil,
ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido
fora do território nacional.

Algumas observações sobre o tema:


a) O STF já consolidou entendimento de que as ações
abrangidas pelo inciso I referido acima são somente as de cunho real114;
b) O inciso II destina-se à sucessão causa mortis e abrange
tanto os bens móveis quanto os imóveis localizados no Brasil. O STF se
manifestou no sentido de que a partilha realizada no exterior, de bens
situados no Brasil, em decorrência de ação de divórcio, poderá ser
homologada e executada no Brasil115.

114 Recurso Extraordinário n. 90961, de 29-05-1979.


115 STF, SEC N. 3.862, RTJ 131/1.071.

189
c) Não há ofensa à ordem púbíica quando, apesa
tratar de hipóteses previstas no artigo 89 do CPC (competência absoluta),
houver acordo entre as partes que embasou a decisão proferida pelo juiz
estrangeiro. Nesse sentido:
HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. PARTILHA
DE BENS IMÓVEIS SITUADOS NO BRASIL SENTENÇA
HOMOLOGANDA. RATIFICAÇÃO DE VONTADE ÚLTIMA
REGISTRADA EM TESTAMENTO. CITAÇÃO COMPROVADA.
CONCORDÂNCIA EXPRESSA DOS REQUERIDOS.
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO POSTERIOR. CARÁTER
DEFINITIVO DO JULGADO. ART. 89 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL E ART. 12 DA LEI DE INTRODUÇÃO AO
CÓDIGO CIVIL. OFENSA. INEXISTÊNCIA. PRECEDENTES.
PEDIDO DE HOMOLOGAÇÃO DEFERIDO.
(...)
IV - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal já decidiu no
sentido de que compete exclusivamente à Justiça brasileira
decidir sobre a partilha de bens Imóveis situados no Brasil.
V - Tanto a Corte Suprema quanto este Superior Tribunal de
Justiça já se manifestaram pela ausência de ofensa à
soberania nacional e à ordem pública na sentença estrangeira
que dispõe acerca de bem localizado no território brasileiro,
sobre o qual tenha havido acordo entre as partes, e que tão
somente ratifica o que restou pactuado. Precedentes.
VI - Na hipótese dos autos, não há que se falar em ofensa ao
art. 89 do Código de Processo Civil, tampouco ao art. 12, § 1o
da Lei de Introdução ao Código Civil, posto que os bens
situados no Brasil tiveram a sua transmissão ao primeiro
requerente prevista no testamento deixado por Thomas B.
Honsen e confirmada pela sentença homologanda, a qual tão
somente ratificou a vontade última do testador, bem como a
dos ora requeridos, o que ficou claramente evidenciado em
razão da não Impugnação ao decisum alienígena.
VII - Pedido de homologação deferido. (Superior Tribunal de
Justiça, SE 1304/US, 03/03/2008)

SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. IMÓVEL


SITUADO NO BRASIL ACORDO ENTRE AS PARTES.
POSSIBILIDADE. MATÉRIAS OBJETO DE CONTESTAÇÃO.
ART. 9o DA RESOLUÇÃO N° 9 DO STJ. TRÂNSITO EM
JULGADO. CARIMBO ATESTANDO ARQUIVAMENTO DOS
AUTOS.
- Não fere a soberania nacional, como reiteradamente decidido
pelo STF e STJ, a sentença estrangeira que ratifica acordo das
partes sobre Imóvel localizado no Brasil.

190
Direito Internacional

- As matérias passíveis de contestação na homologação da


sentença estrangeira são aquelas elencadas no art. 9o da
Resolução n° 9 do STJ.
- A aposição de carimbo atestando o arquivamento dos autos
comprova o trânsito em julgado da sentença.
- Homologação da sentença estrangeira deferida. (Superior
Tribunal de Justiça SEC 13Ô7/US, 03/09/2007)

3 Sentença estrangeira e cooperação


internacional

3.1 Cartas rogatórias


As cartas rogatórias têm por finalidade o cumprimento de
atos e diligências no exterior, sem fins executórios. Exemplos desses atos
são citações, intimações e diligências para produção de provas. E o meio
mais utilizado de cooperação judiciária internacional.
As cartas rogatórias são classificadas como ativas, quando
preparadas por um tribunal brasileiro para sua posterior transmissão ao
exterior, e passivas3 quando preparadas e transmitidas por tribunal
estrangeiro para serem executadas no Brasil.
A carta rogatória passiva que não preencher os requisitos
necessários estabelecidos no Brasil será devolvida, mediante ofício, ao
juízo rogante, com a solicitação de que a medida seja devidamente
instruída. Isso ocorrerá tantas vezes quanto necessário.
São requisitos da carta rogatória (art. 202 do CPC):
a) Indicação dos juizes de origem e de cumprimento do ato;
b) Inteiro teor da petição inicial e seus documentos
instrutórios, do despacho judicial e do instrumento de
mandado conferido ao advogado;
c) Menção do ato processual que lhe constituiu o objeto;
d) Encerramento com assinatura do juiz.
Algumas convenções internacionais importantes tratam da
tramitação das cartas rogatórias. A Convenção Interamericana sobre

191
Cartas Rogatórias limitou, em seu artigo 3o, o uso das cartas para atos
processuais de mero trâmite ou instrutórios, como notificações, citações,
receptação e obtenção de provas. Proibiu-se, assim, a utilização de cartas
rogatórias para atos de execução coercitiva. No âmbito do Mercosul, o
Protocolo de Lãs Lefías também disciplina a matéria.
O trâmite das cartas rogatórias ocorre, em regra, da seg
forma: o tribunal do país rogante entrega a carta rogatória à autoridade
diplomática de seu país; esta, por sua vez, entrega à autoridade
diplomática do país rogado, que encaminhará ao tribuna! competente, o
qual fica incumbido de seu cumprimento.
No Brasil, as cartas rogatórias são executadas perante a
justiça federal (art. 109, X, da CF), após a concessão de exequatur (vide
item 2.2 abaixo).
O STF já se manifestou em caso onde um juiz de cidad
fronteira deu cumprimento à carta rogatória vinda de cidade vizinha
localizada no Uruguai. O STF entendeu que o juiz usurpou sua
competência e anulou a decisão.
Com a transferência da competência para homologação de
sentenças estrangeiras e concessão de exequatur a cartas rogatórias para o
STJ (Emenda Constitucional n. 45, de 08 de dezembro de 2004), houve a
edição da Resolução n. 9, datada de 04 de maio de 2005, a qual regula o
rito desses processos no âmbito do STJ.
A resolução permite que o STJ conceda a nações
estrangeiras pedidos realizados por meio de carta rogatória que tenham
conteúdo executório como, por exemplo, solicitações de arresto e
indisponibilidade de bens. Tais pedidos eram tradicionalmente negados
pelo STF, tendo em vista que eram derivados de sentenças não transitadas
em julgado, as quais deveriam transitar em julgado no país de origem e,
portanto, passar pelo processo de homologação de sentença.
Além disso, a partir da resolução, somente serão analisados
pelo STJ os pedidos internacionais que necessitem de análise por parte do
tribunal. Os atos que não atendam a essa condição, mesmo que enviados
por carta rogatória (por exemplo: pedidos de cópias de autos de
processos), serão encaminhados ao Ministério da Justiça para que sejam
cumpridos.

192
Direito Internacional

3.2 Homologação de sentenças estrangeiras e


exequatur
As sentenças judiciais e laudos arbitrais proferidos por
autoridades estrangeiras somente poderão ser executadas no Brasil após
sua homologação pelo Poder Judiciário Brasileiro (art. 483 do CPC).
Trate-se de conseqüência do princípio de direito internacional segundo o
qual nenhum Estado está obrigado a reconhecer em seu território decisão
proveniente de outro Estado.
Consoante expressamente determina o art. 15 da Lei de
Introdução ao Código Civil, será executada no Brasil a sentença que
reuna os seguintes requisitos: (a) haver sido proferida por juiz
competente; (b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente
verificado a revelia; (c) ter passado em julgado e estar revestido das
formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida;
(d) estar traduzida por intérprete autorizado; (e) ter sido homologada.
Dentre os requisitos acima, a ausência de citação válida tem
sido um dos maiores obstáculos à homologação de sentenças estrangeiras.
A jurisprudência sobre o tema consolidou o entendimento de que somente
a citação de réu domiciliado no Brasil promovida por carta rogatória é
válida, não sendo aceitas as promovidas por via postal ou outros meios516.
Uma vez atendidos esses requisitos, o Superior Tribunal de
Justiça (e não mais o Supremo Tribunal Federal, tendo em vista alteração
trazida pela EC/45) homologará a sentença estrangeira para que essa
possa ser executada no Brasil (art. 105,1, h, da CF).
Contudo, as sentenças estrangeiras que porventura
dispuserem sobre questões relativamente às quais as autoridades
brasileiras possuem competência absoluta para apreciação (listadas no
art. 90 do CPC, vide item 1.2 acima) não serão homologadas pelo STJ
(art. 12, § Io da LICC). Entende-se qué essas sentenças violam a ordem
pública brasileira, pois não observam a competência absoluta do juiz
brasileiro.

116 STF. SE 2114/EU, publicada em 23-05-1975. Ementa: Sentença estrangeira. - Réu domiciliado
no Brasil. — Alegada submissão tácita â jurisdição estrangeira por força de entendimentos
extraprocessuais entre advogados, sem mandato o do réu, para o fim de aguardar instrução do
cliente domiciliado no Brasil. - Revelia que não significa aceitação da jurisdição estrangeira,
aceitação aferivel pela lei do tribunal do “exequatur*. Inexistência de submissão à jurisdição
estrangeira também pela “lex fori". Citação irregular por via postal, com dispensa de rogatória,
Sentença a que se nega homologação.

193 \
O termo exequatur é normalmente empregado pela d
para designar o procedimento pelo qual deverão passar as cartas
rogatórias passivas para que possam ser cumpridas no Brasil. Somente
após a concessão do exequatur pelo Superior Tribunal de Justiça (artigo
105, I, h> da CF e art. 12, § 2o, LICC), é que sè possibilitará que a
providência rogada seja providenciada.
O STJ apenas analisará aspectos processuais da carta
mérito é de competência da justiça rogante. Sendo assim, a tradição da
jurisprudência brasileira, é de concessão do exequatur uma vez atendidos
os requisitos formais da carta (art. 202 do CPC), salvo quando ocorrer
ofensa à ordem pública.
A Resolução n. 9 do STJ, editada a partir do momento em
que o STJ passou a ser competente para homologação de sentenças
estrangeiras, possibilita a concessão de medidas de urgência (tutela
antecipada) durante o curso do procedimento de homologação117.
Em julho de 2006, o STJ concedeu a primeira medida
liminar em um caso envolvendo a homologação de sentença estrangeira,
firmando uma posição inovadora em relação à maior parte dos
julgamentos proferidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) antes do
advento da EC n° 45, já que a grande maioria dos Ministros do STF eram
contrários à concessão desse tipo de tutela antecipada118.
Nesse caso em particular, a medida liminar foi proferida
pelo Vice-Presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Ministro
Francisco Peçanha Martins, no exercício da Presidência, numa situação
fática envolvendo adoção internacional. A falta de reconhecimento da
adoção no estrangeiro, a espera pela homologação no Brasil, e a entrada
da criança com visto de turista em território brasileiro impediam a
matrícula da menor em escola brasileira. Com base nessas circunstâncias
fáticas, o ministro concedeu, em sede de liminar, o direito à mãe de
matricular sua filha em escola brasileira, até que fosse apreciado pelo STJ

117 Art. 4o A sentença estrangeira não terá eficácia no Brasil sem a prévia homologação pelo
Superior Tribunai de Justiça ou por seu Presidente. §3° Admite-se tutela de urgência nos
procedimentos de homologação de sentenças estrangeiras.
118 Em 2003, o Ministro Marco Aurélio de Mello, no exercício da Presidência do Supremo Tribunal
Federal, concedeu medida liminar em um caso envolvendo uma sentença estrangeira, ainda
pendente de pedido de homologação. O caso era sobre uma sentença arbitra! que comprovava que
determinada empresa brasileira era devedora de uma empresa estrangeira e estaria esvaziando
seu patrimônio para evitar o pagamento da dívida. Ocorre que, antes da medida liminar ser deferida
pelo STF, a empresa já havia obtido uma medida de natureza semelhante em primeira instância.

194
Direito Internacional

o pedido de homologação da sentença para reconhecer a adoção (SEC


1601).
Além dessa inovação, a Resolução n. 9 permite a
homologação parcial da sentença estrangeira, tomando-se possível
descartar parte da sentença maculada e promovendo-se a homologação do
restante.
Tais regras não são definitivas, uma vez que a resolução tem
caráter transitório e será substituída por uma nova norma a ser discutida
pelo plenário do tribunal.
Acerca do interesse processual para demandar a
homologação de sentenças arbitrais estrangeiras, interessante o
esclarecimento de Renato Grion119, que menciona: “o interesse âe uma
parte em ter um laudo homologado pelo STJ pode se limitar, a título de
exemplo, à necessidade de uma parte ter que provar uma alegação de
exceção de coisa julgada, ou ainda a necessidade de possuir um
instrumento válido a justificar remessas de divisas ao exterior em
cumprimento do quanto estipulado na sentença. Com relação a este
último, vale lembrar que o Banco Central do Brasil tem exigido a
homologação como requisito essencial para autorizar remessas oficiais
de divisas ao exterior. Disso decorre que nada obsta aue a própria parte
perdedora na arbitragem ~ que tem legitimidade para ingressar com
pedido de homolosacão —tenha interesse em ver reconhecida a sentença
arbitrai estrangeira em território nacional.” (grifamos)

3.3 Precedentes Jurisprudenclals envolvendo


Homologação de Sentenças Estrangeiras no STJ

SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA N°. 1302.


PEDIDO DE HOMOLOGAÇÃO. LEGITIMIDADE. REQUISITOS
PREENCHIDOS.
1. Qualquer pessoa interessada tem legitimidade para requerer
a homologação de sentença estrangeira.
2. No caso, a requerente, Samsung Eletrônica da Amazônia
Ltda., representante exclusiva da Samsung Aerospace
Industries Ltd. No Brasil, tem interesse na homologação da
sentença arbitrai proferida pela Câmara Coreana de Arbitragem

119 GRION, Renato. Princípio da Instrumentalidade das Formas (...). RBAr n°. 18. Abr-Jun/2008, p.
191.

195
Comercial, dado que a aludida decisão poderá ser útil para o
julgamento da ação contra si ajuizada pela requerida perante a
1a Vara Cível da Comarca de Petrópolis.
3. Presentes os requisitos indispensáveis à homologação da
sentença estrangeira, não havendo ofensa à soberania ou à
ordem pública, deve ser deferido o pedido de homologação.
4. Sentença estrangeira homologada.
Relator: Ministro Paulo Gallotti. Data do Julgamento:
18/06/2008. Data da Publicação: 06/10/2008.

SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA N° 530 - EX


(20050080054-3) - Sentença estrangeira de divórcio
(homologação). Visto que preenchidos os requisitos
indispensáveis à homologação, assim o Superior Tribunal
defere o pedido que lhe foi formulado. Sentença homologada.
Honorários devidos pelo requerido ao curador e à requerente.
Relator: Ministro Nilson Naves: Requerente: Elizabete Dos
Santos Campos; Requerido: Ismar Martins de Capôs Filho -
Corte Especial - Data do Julgamento: 06.12. 2006 ~ Data da
Publicação: DJ 05.03.2007, pg. 243.

EMENTA : AGRAVO REGIMENTAL NA SENTENÇA


ESTRANGEIRA N° 456 - JP (20050006914-6). Prevendo a
legislação alienígena o divórcio mediante simples ato
administrativo, cabível é a sua homologação para que surta
efeitos no território brasileiro. Agravo improvido. Relator:
Ministro Barros Monteiro120 - Agravante: Kyosuke Uchida -

120 Segue, na integra, o voto do Ministro Barros Monteiro: “ 1. Não prospera o in c o n fo rm is m o .


Segundo jurisprudência firmada pelo Supremo Tribunal Federai, é cabível a homologação de
divórcio por decisão de autoridade administrativa se no pais de origem é esta a forma como se
processa o referido ato. Nesse sentido, colhem-se os seguintes precedentes: ”SENTENÇA
ESTRANGEIRA -HOMOLOGAÇÃO - DIVÓRCIO - ATO ADMINISTRATIVO - EXTENSÃO. A norma
inseria na alínea 'h' do inciso I do artigo 102 da Constituição Federal, segundo a qual compete ao
Supremo Tribunal Federa! processar e julgar, originaríamente, a homologação das sentenças
estrangeiras, hô de ser tomada respeitando-se a soberania do pa/s em que praticado o ato.
Prevendo a respectiva legislação o divórcio mediante simples ato administrativo, como ocorre, por
exemplo, no Japão, cabivel é a homologação para que surta efeitos no tenitórto brasileiro.
Precedentes: Sentença Estrangeira n° 1.282Woruega, Relator Ministro Mário Guimarães; Sentença
Estrangeira n° 1.3120apão, Relator Ministro Mário Guimarães; Sentença Estrangeira n°
1.9434Dinamarca, Relator Ministro Adaucto Cardoso; Sentença Estrangeira n° 2.251/Japâo, Relator
Ministro Moreira Alves; Sentença Estrangeira n° 2.62&Bélgtca, Presidente Ministro Antonio Neder,
Sentença Estrangeira n° 2.891/Uapào, Presidente Ministro Xavier de Albuquerque; Sentenças
Estrangeiras n°s 3.298, 3.371 e 3.372, todas do Japão, Presidente Ministro Cordeiro Guerra; e
Sentença Estrangeira n° 3.72VJapão, Presidente Ministro Moreira Alves” (SEC n° 6.399«apão,
Relator Ministro Marco Aurélio). "É certo prever o artigo 102, inciso I, alínea ’b', da Constituição
Federal a competência do Supremo TribunaI Federal para processar e julgar, originaríamente, a
homologação das sentenças estrangeiras. Todavia há de adotar-se interpretação aditiva,
vislumbrando-se, na referência a sentenças estrangeiras, documentos que, segundo a legislação de
origem, tenham tal envergadura. É o caso do ato administrativo de divórcio. No Japão, o desenlace
matrimonial não é alcançado via sentença, mas mediante o registro no cartório competente,
atuando o administrador do distrito(...}'’ (SE n. 7.56"KJapâo, Relator Ministro Marco Aurélio).
Considerando que o pedido de divórcio consensual no Japão é dirigido à autoridade administrativa
competente, não havendo sentença, e sim certidão de deferimento de registro de divórcio, restou

196
Direito Internacional

Agravada: Julieta Yuri Uchida - Corte Especial - Data do


Julgamento: 23.11.2006 - Data da Publicação: DJ 05.02.2007

EMENTA: HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA AR8ITRAL


ESTRANGEIRA. CAUÇÃO. DESNECESSIDADE. LEI 9.307/96.
APLICAÇÃO IMEDIATA. CONSTITUCIONALIDADE.
UTILIZAÇÃO DA ARBITRAGEM COMO SOLUÇÃO DE
CONFLITOS. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO À ORDEM PÚBLICA.
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DO MÉRITO DA RELAÇÃO
DE DIREITO MATERIAL. OFENSA AO CONTRADITÓRIO E À
AMPLA DEFESA. INEXISTÊNCIA. REGRA DA EXCEÇÃO DO
CONTRATO NÃO CUMPRIDO. FIXAÇÃO DA VERBA
HONORÁRIA. ART. 20, § 4o DO CPC. PEDIDO DE
HOMOLOGAÇÃO DEFERIDO. RELATOR: MINISTRO
NELSON DIPP - CE - CORTE ESPECIAL - DATA DO
JULGAMENTO 18.10.2006 - DATA DA PUBLICAÇÃO DJ
13.11.2006 p. 204.121
I - Não é exigível a prestação de caução para o requerimento
de homologação de sentença estrangeira. Precedentes do
Supremo Tribunal Federal.
H - A sentença arbitrai e sua homologação é regida no Brasil
pela Lei n° 9.307/96, sendo a referida Lei de aplicação imediata
e constitucional, nos moldes como já decidido pelo Supremo
Tribunal Federal.
iil - Consoante entendimento desta Corte, não viola a ordem
pública brasileira a utilização de arbitragem como meio de
solução de conflitos.
IV - O controle judicial da homologação da sentença arbitrai
estrangeira está limitado aos aspectos previstos nos artigos 38
e 39 da Lei n° 9.307/96, não podendo ser apreciado o mérito da
relação de direito material afeto ao objeto da sentença
homoíoganda. Precedentes.
V - Não resta configurada a ofensa ao contraditório e à ampla
defesa se as requeridas aderiram livremente aos contratos que
continham expressamente a cláusula compromissória, bem
como tiveram amplo conhecimento da instauração do
procedimento arbitrai, com a apresentação de considerações
preliminares e defesa.
VI - A Eg. Corte Especial deste Tribunal já se manifestou no
sentido de que a questão referente à discussão acerca da
regra da exceção do contrato não cumprido não tem natureza
de ordem pública, não se vinculando ao conceito de soberania

plenamente satisfeita a exigência contida no art. 4o da Resolução n° 32005 do STJ com a


apresentação pelo requerente do Pedido de Registro de Divórcio Consensual, o qual recebeu o n°
105 (tradução oficial do documento às fls. 3438). 2. Ante o exposto, nego provimento ao agravo
regimental. É como voto.”
121 Vide também a decisão do Superior Tribunal de Justiça no julgamento dos Embargos
Declaratórios opostos quando da publicação desse acórdão. (EDc! na SEC 507)

197
nacional. Ademais, o tema refere-se especificamente ao mérito
da sentença homologanda, sendo inviável sua análise na
presente via.
VII - O ato homologatório da sentença estrangeira limita-se à
análise dos seus requisitos formais. Isto significa dizer que o
objeto da deübação na ação de homologação de sentença
estrangeira não se confunde com aqueie do processo que deu
origem à decisão alienígena, não possuindo conteúdo
econômico. É no processo de execução, a ser instaurado após
a extração da carta de sentença, que poderá haver pretensão
de cunho econômico.
VIII - Em grande parte dos processos de homologação de
sentença estrangeira - mais especificamente aos que se
referem a sentença arbitrai - o valor atribuído à causa
corresponde ao conteúdo econômico da sentença arbitrai,
geralmente de grande monta. Assim, quando for contestada a
homologação, a eventual fixação da verba honorária em
percentual sobre o valor da causa pode mostrar-se
exacerbada.
IX - Na hipótese de sentença estrangeira contestada, por não
haver condenação, a fixação da verba honorária deve ocorrer
nos moldes do art. 20, § 4o do Código de Processo Civil,
devendo ser observadas as alíneas do §3° do referido artigo.
Ainda, consoante o entendimento desta Corte, neste caso, hão
está o julgador adstrito ao percentual fixado no
referido §3°.
X- Pedido de homologação deferido.

SEC 866 / EX ; SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA


2005/0034926-5 MINISTRO FEL1X FISCHER (1109)
SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA. CONTROLE JUDI­
CIAL. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO DO MÉRITO.
INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. INCOM­
PETÊNCIA DO JUÍZO ARBITRAL. OFENSA À ORDEM
PÚBLICA NACIONAL. MINISTRO FELIX FISCHER (1109) - CE
- CORTE ESPECIAL - DATA DO JULGAMENTO 17/05/2006 -
DATA DA PUBLICAÇÃO DJ 16.10.2006 p. 273
I - O controle judicial da sentença arbitrai estrangeira está
limitado a aspectos de ordem formai, não podendo ser
apreciado o mérito do arbitramento.
II - Não há nos autos elementos seguros que comprovem a
aceitação de cláusula compromissória por parte da requerida.
III - A decisão homologanda ofende a ordem pública nacional,
uma vez que o reconhecimento da competência do juízo
arbitrai depende da existência de convenção de arbitragem
(art. 37, H, c/c art. 39, II, da Lei n° 9.307/96). Precedente do c.
Supremo Tribunal Federal.

198
Direito Internacional

IV - In casu, a requerida apresentou defesa no juízo arbitrai


alegando, preliminarmente, a incompetência daquela
instituição, de modo que não se pode ter como aceita a
convenção de arbitragem, ainda que tacitamente. Homo­
logação indeferida.

SEC 256 / EX
SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA
2005/0086277-0
Ministro LUIZ FUX (1122) CE - CORTE ESPECIAL DJ
20.08.2007 p. 227
PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA. HOMO­
LOGAÇÃO. DIVÓRCIO POR MÚTUO CONSENTIMENTO.
REQUISITOS LEGAIS ATENDIDOS. HOMOLOGAÇÃO DE­
FERIDA,
1. A sentença estrangeira, cumpridos os requisitos erigidos
pelo art. 5o incisos I, ll, III e IV da da Resolução 09/STJ,
revela-se apta à homologação perante o STJ.
2. In casu, consoante destacado pelo Subprocurador-Geral da
República às fls. 87/88 :"(...)
Entretanto, observo que os documentos juntados a fls. 75/76 e
77, não foram objeto de autenticação consular (STJ, Resolução
n° 9, 2005, art. 3o). Nestes lindes, promovida a chancela
consular dos documentos acima identificados, opino pelo
deferimento do pedido, sem qualquer ressalva, por estarem
presentes os requisitos exigidos pelo art. 5o, da Resolução n° 9,
de 4 de maio de 2005 e preservados os valores enunciados
pelo art. 6o do mesmo ato normativo."
3. Deveras, verificado o cumprimento, às fls. 104/108, da
última exigência destacada pelo Subprocurador- Gerai da
República, qual seja a chancela consular dos documentos
acostados às fls. 75/77, a sentença estrangeira homologanda
cumpre os requisitos erigidos pelo art. 5o incisos I, ii, III e IV da
Resolução 09/STJ, o que revela a sua aptidão à pretendida
homologação perante o STJ.
4. Precedentes do STJ: SEC 756 / EX, Rei. Min. Felix Fischer,
DJ de 28/08/2006; SEC 57 / DF , Rei. Min. Laurita Vaz, DJ de
01/08/2006, SEC 881/EX, Relator Ministro José Delgado, DJ
de 05,09.2005.
5. Homologação deferida. Honorários advocatícios fixados em
R$ 1.000,00 (mil reais)a serem pagos pelo requerido. Vistos,
relatados e discutidos estes autos, os Ministros da CORTE
ESPECIAL do Superior Tribunal de Justiça acordam, na
conformidade dos votos e das notes taquigráficas a seguir, por
unanimidade, deferir o pedido de homologação, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Teori Albino
Zavascki, Arnaldo Esteves Lima, Antônio de Pádua Ribeiro,
Nilson Naves, Francisco Peçanha Martins, Humberto Gomes

199
de Barros, Cesar Asfor Rocha, Ari Pargendier, José Delgado,
Carlos Alberto Menezes Direito, Felix Fischer, Aldir Passarinho
Junior, Gilson Dipp, Hamilton Carvalhido, Eliana Calmon, Paulo
Gallotti e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Francisco Falcão
e João Otávio de Noronha e, ocasionalmente, o Sr. Ministro
Fernando Gonçalves.

200
Direito Internacional

Captai© XIV

Prestação d e A lim entos e C onvenção d e Nova


Iorque
■ è

1 Noções Gerais segundo o Decreto Legislativo


n° 10/58 e o Decreto n° 56.826/65. Hipóteses e
Procedimento

Tendo em vista que a prestação jurisdicional em matéria de


obrigação de pagamento de alimentos deve ser rápida, houve a
necessidade de se estabelecerem meios que viabilizassem o cumprimento
dessa obrigação no plano internacional
A LICC não possui regra específica com relação ao tema,
aplicando-se a regra geral prevista no art. V , de modo que a regra de
conexão aplicável aos alimentos é a do domicílio.
A Convenção de Nova Iorque, assinada em 1956, aprovada no
Brasil pelo Decreto N° 10/58 e promulgada pelo Decreto Executivo N°
56.826/1965, tratou da matéria e é aplicada pelo Brasil até mesmo no que
se refere a países não-signatários, em face da boa fé e da cooperação
internacional

201
Vejamos as principais regras estabelecidas pela Convenção:
(i) cria a autoridade central com o objetivo de agilizar a
cobrança de alimentos, sem a necessidade de se enfrentar instâncias
diplomáticas.
(ii) no Brasil, a autoridade central designada é a
Procuradoria Geral da República, a qual atua como autoridade interme­
diária e autoridade remetente em casos de pedidos oriundos do exterior e
daqueles originados no Brasil e que precisam ser enviados ao exterior:
a) no caso dos pedidos oriundos do exterior, o Ministério
Público Federal - MPF irá providenciar o procedimento devido, seja por
meio da homologação de sentença perante o STJ, pelo processamento da
carta rogatória ou, até mesmo, pela propositura de ação de alimentos no
Brasil.
b) no caso de pedidos que precisem ser enviados ao exterior,
o MPF contatará a autoridade central no exterior para que se proceda às
medidas necessárias visando ao pagamento de alimentos.
(iii) Segundo o art. VI, item 3, da Convenção, a lei que
regerá tais ações será a do Estado do demandado, inclusive em matéria de
direito internacional privado.
(iv) A Convenção também se aplica a pedidos de
modificação de decisões judiciais sobre prestação de alimentos.
(v) Não cabe exigência de caução para a propositura da
demanda.
Sobre o tema, veja decisão do Superior Tribunal de Justiça,
datada de 17/10/2007:
SENTENÇA ESTRANGEIRA. ALIMENTOS. COBRANÇA.
PARCELAS EM ATRASO. CONVENÇÃO DE NOVA YORK
SOBRE PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS NO ESTRANGEIRO.
DECRETO 56.826/65. INSTITUIÇÃO INTERMEDIÁRIA.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. DOCUMENTAÇÃO.
AUTENTICAÇÃO. TRAMITAÇÃO VIA OFICIAL. DESNE­
CESSIDADE. HOMOLOGAÇÃO DEFERIDA. PRESENTES OS
REQUISITOS AUTORIZADORES.
1. Nos termos do artigo VI, da Convenção de Nova York Sobre
Prestação de Alimentos no Estrangeiro, o Ministério Público
Federal, na qualidade de Instituição Intermediária, pode tomar
todas as providências necessárias à efetivação da cobrança de

202
Direito Internacional

prestações alimentícias, dentre as quais pleitear a


homologação de sentença estrangeira, onde fixada a obrigação
alimentar, com o objetivo de tomá-la exeqüível no Brasil.
2. Na esteira da jurisprudência consolidada do Colendo
Supremo
Tribunal Federal, é desnecessária a autenticação consular dos
documentos que instruem o pedido de homologação, quando a
tramitação dos mesmos acontecer por via oficial, como ocorre
in casu, onde toda a documentação foi enviada pelo Ministério
da Justiça de Portugal, Autoridade Remetente.
3. Preenchidos os requisitos da Resolução n° 9/2005 do
Superior
Tribunal de Justiça, merece deferimento o pedido de
homologação.
4. Pedido de homologação deferido. (SEC 2133 -
2006/0267210-1)

2 Competência da Justiça Federai

O Superior Tribunal de Justiça já concluiu que


competência para as ações de alimentos quando há intervenção da
Procuradoria Geral da República é da justiça federal. Quando as partes
propõem a ação diretamente, sem contar com a atuação do MPF, a
competência é da justiça estadual. Vejamos:122
Ementa: Conflito de Competência. Ação de Alimentos.
Devedor residente no exterior e credor no Brasil. Decreto N° 56.826/65.
Convenção de prestação de alimentos no estrangeiro. 1. Conforme
jurisprudência tranqüila desta Corte, compete à Justiça Comum do Estado
processar e julgar ação de alimentos pertinente ao Decreto N° 56.826/65,
que promulgou a Convenção sobre Prestação de Alimentos no
Estrangeiro, quando o devedor esteja domiciliado no exterior. 2. Conflito
de competência conhecido para declarar competente a Justiça Comum do
Estado. Em outra hipótese, anterior do mesmo tribunal, cf: Processual
civil. Competência. Ação de alimentos em que o devedor reside fora do
país. Só é competente a justiça federal para processar e julgar a ação de
alimentos quando, por residir o demandante no exterior e o devedor no

122 CC 20.175, STJ, DJ. 07/12/1998 e TRF3, Ap. Cível 226696, DJU 10/10/2000.

203
território nacional, atua a Procuradoria-Gerai da República como
“Instituição Intermediária”. Conflito conhecido, declarado competente o
juízo estadual, o suscitado. DJ 27.11.89.

204
Direito Internacional

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RESOLUÇÃO N° 9, DE 4 DE MAIO DE 2005


Publicada no DJ de 06.05.2005
Republicada no DJU de 10.05.2005

Dispõe, em caráter transitório, sobre competência acrescida ao


Superior Tribunal de Justiça pela Emenda Constitucional n°
45/2004.
O PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, no
uso das atribuições regimentais previstas no art. 21, inciso XX,
combinado com o art. 10, inciso V, e com base na alteração
promovida pela Emenda Constitucional n° 45/2004 que atribuiu
competência ao Superior Tribunal de Justiça para processar e
julgar, origmariamente, a homologação de sentenças
estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias
(Constituição Federal, Art. 105, inciso l, alínea T ), ad
refer&ndum do Plenário, resolve:
Art. 1o Ficam criadas as classes processuais de Homologação
de Sentença Estrangeira e de Cartas Rogatórias no rol dos
feitos submetidos ao Superior Tribunal de Justiça, as quais
observarão o disposto nesta Resolução, em caráter
excepcional, até que o Plenário da Corte aprove disposições
regimentais próprias.
Parágrafo único. Fica sobrestado o pagamento de custas dos
processos tratados nesta Resolução que entrarem neste
Tribunal após a publicação da mencionada Emenda
Constitucional, até a deliberação referida no caput deste artigo.
Art. 2o É atribuição do Presidente homologar sentenças
estrangeiras e conceder exequatur a cartas rogatórias,
ressalvado o disposto no artigo 9o desta Resolução.
Art, 3o A homologação de sentença estrangeira será requerida
pela parte interessada, devendo a petição inicial conter as
indicações constantes da lei processual, e ser instruída com a
certidão ou cópía autêntica do texto integral dã sentença
estrangeira e com outros documentos indispensáveis,
devidamente traduzidos e autenticados.
Art. 4o A sentença estrangeira não terá eficácia no Brasil sem a
prévia homologação pelo Superior Tribunal de Justiça ou por
seu Presidente.
§1° Serão homologados os provimentos não-judiciais que, pela
lei brasileira, teriam natureza de sentença.
§2° As decisões estrangeiras podem ser homologadas
parcialmente.

205
\
§3° Admite-se tutela de urgência nos procedimentos de
homologação de sentenças estrangeiras.
Art. 5o Constituem requisitos indispensáveis à homologação de
sentença estrangeira:
I - haver sido proferida por autoridade competente;
1! - terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente
verificado a revelia.;
III - ter transitado em julgado; e
IV - estar autenticada pelo cônsul brasileiro e acompanhada de
tradução por tradutor oficial ou juramentado no Brasil.
Art. 6o Não será homologada sentença estrangeira ou
concedido exequatur a carta rogatória que ofendam a
soberania ou a ordem pública.
Art. 7o As cartas rogatórias podem ter por objeto atos
decisórios ou não decisórios.
Parágrafo único. Os pedidos de cooperação jurídica
internacional que tiverem por objeto atos que não ensejem
juízo de delibação pelo Superior Tribunal de Justiça, ainda que
denominados como carta rogatória, serão encaminhados ou
devolvidos ao Ministério da Justiça para as providências
necessárias ao cumprimento por auxílio direto.
Art. 8o A parte interessada será citada para, no prazo de 15
(quinze) dias, contestar o pedido de homologação de sentença
estrangeira ou intimada para impugnar a carta rogatória.
Parágrafo único. A medida solicitada por carta rogatória poderá
ser realizada sem ouvir a parte interessada quando sua
intimação prévia puder resultar na ineficácia da cooperação
internacional.
Art. 9o Na homologação de sentença estrangeira e na carta
rogatória, a defesa somente poderá versar sobre autenticidade
dos documentos, inteligência da decisão e observância dos
requisitos desta Resolução.
§ 1o Havendo contestação à homologação de sentença
estrangeira, o processo será distribuído para julgamento pela
Corte Especial, cabendo ao Relator os demais atos relativos ao
andamento e à instrução do processo.
§ 2o Havendo impugnação às cartas rogatórias decisórias, o
processo poderá, por determinação do Presidente, ser
distribuído para julgamento pela Corte Especial.
§ 3o Revel ou incapaz o requerido, dar-se-lhe-á curador
especial que será pessoalmente notificado.
Art. 10 O Ministério Público terá vista dos autos nas cartas
rogatórias e homologações de sentenças estrangeiras, pelo
prazo de dez dias, podendo impugná-las.
Art. 11 Das decisões dó Presidente na homologação de

206
Direito Internacional

sentença estrangeira e nas cartas rogatórias cabe agravo


regimental.
Art. 12 A sentença estrangeira homologada será executada por
carta de sentença, no Juízo Federal competente.
Art. 13 A carta rogatória, depois de concedido o exequatur,
será remetida para cumprimento pelo Juízo Federal
competente.
§1° No cumprimento da carta rogatória pelo Juízo Federal
competente cabem embargos relativos a quaisquer atos que
lhe sejam referentes, opostos no prazo de 10 (dez) dias, por
qualquer interessado ou pelo Ministério Público, julgando-os o
Presidente.
§2° Da decisão que julgar os embargos, cabe agravo
regimental.
§3° Quando cabível, o Presidente ou o Relator do Agravo
Regimental poderá ordenar diretamente o atendimento à
medida solicitada.
Art. 14 Cumprida a carta rogatória, será devolvida ao
Presidente do STJ, no prazo de 10 (dez) dias, e por este
remetida, em igual prazo, por meio do Ministério da Justiça ou
do Ministério das Relações Exteriores, à autoridade judiciária
de origem.
Art. 15 Esta Resolução entra em vigor na data de sua
publicação, revogados a Resolução n° 22, de 31/12/2004 e o
Ato n° 15, de 16/02/2005.

Ministro Edson Vidigal

207
Direito Internacional

Questões de Concursos e Exames dia OAB

1. O Mercosul adquiriu Personalidade Jurídica de Direito internacional a


partir
(A) da entrada em vigor do Tratado de Montevidéu, de 12 de agosto de
1980.
(B) da entrada em vigor do Tratado de Assunção, de 26 de março de 1991.
(C) da entrada em vigor do Protocolo de Ouro Preto, de 17 de dezembro de
1994.
(D) da reunião da ÁLCA (Área de Livre Comércio das Américas) realizada
em Belo Horizonte em setembro de 1997.

2. Assinale a assertiva incorreta.


(A) A adoção do texto de um tratado numa conferência internacional efetua-
se pela maioria de 2/3 dos Estados presentes e votantes, salvo se
deliberarem diversamente.
(B) Somente a ratificação constitui-se em ato pelo qual um Estado
estabelece, no piano internacional, seu consentimento em obrigar-se por um
tratado.
(C) Reserva significa uma declaração unilateral, cujo objetivo é excluir ou
modificar o efeito jurídico de certas disposições de um tratado.
(D) Na forma da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, um
Estado não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o
descumprimento de um tratado.

3. As emendas à Carta da ONU entrarão em vigor para todas as Nações


Unidas quando forem adotadas.
(A) pelos votos de 2/3 dos membros da Assembléia Geral e ratificadas de
acordo com seus métodos constitucionais por 2/3 dos Membros das Nações
Unidas, inclusive todos os membros permanentes do Conselho de
Segurança.
(B) pelos votos de 2/3 dos membros da Assembléia Gerai e ratificadas de
acordo com seus métodos constitucionais por 2/3 dos Membros das
Nações.Unidas, inclusive todos os membros do Conselho de Segurança.
(C) somente pelos votos de 2/3 dos membros da Assembléia Gerãl.
(D) somente pelos votos de todos os membros permanentes do Conselho
de Segurança.

209
\
4. Assinale a assertiva incorreta:
(A) Todas as decisões da Assembléia Geral da ONU são sempre
deliberadas pela maioria simples dos membros presentes e votantes.
(B) O Secretário constitui órgão administrativo da ONU, sendo presidido
pelo Presidente da Assembléia Geral.
(C) O Conselho de Segurança da ONU possui um sistema diferenciado de
voto constituído de privilégios deferidos apenas a alguns de seus membros.
(D) Ao Conselho Econômico e social da ONU compete promover o respeitò
e a observância dos direitos do homem e das liberdades fundamentais.

5. A Corte Internacional de Justiça exerce


(A) Jurisdição contenciosa somente.
(B) Jurisdição contenciosa e consultiva.
(C) Jurisdição consultiva somente.
(D) Jurisdição contenciosa obrigatória.

6. Assinale a alternativa que indica a ordem correta das etapas de


formação de uma União de Estados
(A) Zona de livre comércio - união econômica e monetária - união
aduaneira - mercado comum.
(B) União aduaneira - zona de livre comércio - mercado comum - união
econômica e monetária.
(C) União econômica e monetária - zona de livre comércio - união
aduaneira - mercado comum.
(D) Zona de iivre comércio - união aduaneira - mercado comum - união
econômica e monetária.

7. A questão da responsabilidade internacional dos Estados, embora


assunto consuetudinário, é tida como uma das mais importantes do
Direito Internacional Público. O dano causado como violação de deveres
internacionais, mesmo imputado a um Estado, não basta p er se para
que se declare efetivamente comprometida sua responsabilidade
internacional, justificando, assim, uma reclamação diplomática, é
necessário também que
(A) se identifique se a responsabilidade é direta ou indireta.
(B) se identifique se o Estado agiu como culpa Ou risco.
(C) não tenha ocorrido à prescrição liberatória.
(D) se esgotem todos os recursos internos do Estado lesado.

210
Direito Internacional

8. Para que o Brasil faça a homologação de uma sentença estrangeira


cuja execução e efeitos dar-se-ão no território nacionai, é indispensável
que
(A) tenha sido proferida pelo juiz competente e passe pelo STF.
(B) se verifique o elemento de conexão.
(C) tenha sido julgada pela Justiça Federal.
(D) o julgamento não tenha sido à revelia.

9. De acordo com o direito brasileiro,


(A) o casamento de estrangeiro com brasileiro poderá ser celebrado em
consulado brasileiro no exterior.
(B) o casamento de estrangeiro com brasileiro poderá ser celebrado em
consulado estrangeiro no Brasil.
(C) o casamento de estrangeiros de nacionalidades diferentes poderá ser
celebrado em qualquer um dos consulados estrangeiros no Brasil dos países
correspondentes às nacionalidades dos nubentes.
(D) o casamento de brasileiros poderá ser celebrado em consulado
brasileiro no exterior.

10. O instituto da expulsão é aplicável ao estrangeiro que, de qualquer


forma, tenha atentado contra a segurança nacional, a ordem política ou
social, a tranqüilidade ou moralidade pública e a economia popuiar, ou
cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses
nacionais. A esse respeito, assinale a assertiva correta.
(A) Desde que conveniente ao interesse nacional, a expulsão do
estrangeiro poderá ser feita ainda que exista processo ou tenha ocorrido
condenação contra o mesmo.
(B) A expulsão poderá ser feita contra o brasileiro naturalizado, desde que o
ato que lhe deu origem tenha ocorrido antes da aquisição da naturalização.
(C) O estrangeiro poderá recorrer ao Supremo Tribunal Federal para sustar
o inquérito que traía de sua expulsão.
(D) A expulsão poderá ser aplicada ao estrangeiro que chegue ao território
nacional sem visto emitido pela autoridade brasileira competente no país de
origem.

11. Entende-se por arbitragem o meio jurisdicional para solução pacífica


de conflitos internacionais. Cabe às partes envolvidas a escolha do
árbitro, a descrição da matéria conflituosa e a delimitação do direito

211
aplicável. Tuvaiu e Tonga recorrem á Corte Permanente de Arbitragem,
com sede em Haia, para solucionar questão de interesse dos dois
Estados. A Corte seleciona os senhores Andrei Petrovich, Juan Carlos
Calderón de La Barca e Amadheus Hostoff para exercer o seu ofício no
Tribunal Arbitrai, visando solucionar o caso. Todavia, o Estado de
Tonga fica insatisfeito com a decisão dos membros da Corte e tenta
reverter a situação. Tal procedimento não é possível, pois o laudo
arbitrai já havia sido proferido. A negativa encontra-se consubstanciada
em vários motivos. Considere os apresentados abaixo.
I. A sentença arbitrai é definitiva.
II. A sentença arbitrai é irrecorrível.
iii. A sentença arbitrai não é executória, mas é obrigatória.
Quais deles embasam essa negativa?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas lil.
(D) I, II e III.

12. A partir do Protocolo de Ouro Preto, integram a estrutura


organizacional do Mercosul, aiém do Conselho do Mercado Comum e do
Grupo Mercado Comum, os seguintes órgãos:
(A) èomlssão Assembléia dos Estados Membros, Comissão Parlamentar
Decisória e Conselho Político Comunitário.
(B) Comissão de Comércio do Mercosul, Comissão Parlamentar Conjunta,
Foro Consultivo Econômico e Social e Secretaria Administrativa.
(C) Comissão de Representantes Legislativos, Comissão de Repre­
sentantes Sindicais e Conselho Político Comunitário.
(D) Comissão Parlamentar Decisória, Grupo Tarifa Externa Comum e
Secretaria Administrativa.

13. Considere os entes listados abaixo:


I. As organizações internacionais e os Estados
II. Os Estados e as ONGs (organizações não governamentais)
iti. A ONU e o ETA (entidade terrorista com atuação no território
espanhol)
Quais deles têm capacidade plena para atuar no cenário internacional,
podendo assinar tratados e participar de outros atos da vida inter­
nacional?

212
Direito Internacional

(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas Hl.
(D) |, He III.
i

14. As normas de Direito internacional Privado de um Estado podem


entrar em conflito com as de outro. Sobre divergências espaciais,
assinale a assertiva correta.
(A) O conflito positivo se dá quando a divergência espacial decorre da
indicação pelos Estados de seu próprio direito com ela conectada.
(B) 0 conflito positivo delimita a possibilidade de os legisladores e os
Tribunais, diante da divergência, procurarem resolvê-la apenas com critérios
de harmonia e justiça.
(C) O conflito negativo ocorre quando as legislações de cada Estado se
excluem mutuamente no sentido de reger a espécie em conflito.
(D) O conflito negativo corresponde à absoluta exclusão do direito
estrangeiro frente ao direito nacional.

15. Sobre os aspectos estatutários relacionados à Corte internacional de


Justiça, considere as assertivas abaixo.
I. A jurisdição da Corte vincula-se aos tltfgios entre Estados que se
submeteram voluntariamente á sua apreciação.
II. A Corte só atua em litígios nos quais as partes sejam Estados ou
Organizações Internacional.
III. A jurisdição da Corte será obrigatória na hipótese de previsão
convencional.
IV. A decisão da Corte é irrecorrível, descabendo, inclusive, recurso
de revisão.
Quais são corretas?
(A) Apenas II.
(B) Apenas III.
(C) Apenas I e III.
(D) Apenas II e IV.

16. Em matéria de competência, o direito aplicável aos contratos


internacionais
(A) é o do local onde foi executado o contrato.

213
(B) é aquele do domicílio do proponente, quando o contrato for firmado
entre ausentes.
(C) é aquele do domicílio do aceitante, quando o contrato for firmado entre
ausentes.
(D) é estabelecido conforme o valor do contrato.

17. Assinale a assertiva correta.


(A) No Direito Internacional Privado brasileiro, é reconhecida a
litispendência de tribunal estrangeiro.
(B) Nos contratos internacionais, o réu domiciliado no Brasil pode ser
demandado tanto aqui como no país onde deva ser cumprida á obrigação.
(C) Mesmo nos casos de competência absoluta da justiça brasileira, é
possível homologar e executar sentença estrangeira.
(D) São da competência exclusiva do Poder Judiciário brasileiro as opções
relativas a bens móveis e imóveis situados no Brasil.

18. Acerca do Mercosul, considere as assertivas abaixo.


I. Trata-se de uma experiência Intergovernamental no que concerne a
suas instituições definitivas, embora o Protocolo de Ouro Preto tenha
optado por manter órgãos de caráter supranacional.
li. Exige, para efeitos de aperfeiçoamento do sistema,] uma
harmonização.
III. O Protocolo de Brasília consolidou um sistema de solução de
controvérsias que regulamenta, de uma parte, um procedimento
reservado a particulares, pessoas físicas e jurídicas e, de outra, um
procedimento reservado aos Estados-membros»
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas I e II.
(C) Apenas II e III.
(D) lllelll.

19. Sobre os tratados internacionais marque a opção INCORRETA:


(A) Todos os tratados devem ser homologados pelo STF.
(B) Os tratados só produzem efeitos no Brasil após serem ratificados.
(C) A denúncia é o meio pelo qual um Estado se retira de um tratado
internacional.
(D) Em regra os tratados são firmados pelos agentes plenipotenciários.

214
Direito Internacional

20. A atual Constituição brasileira menciona diversas formas de


aquisição e perda da nacionalidade. Considerando o texto atual é
incorreto afirmar que:
(A) Não terá a nacionalidade brasileira o filho de estrangeiros que estejam
no Brasil a serviço de seu governo.
(B) O brasileiro naturalizado terá cancelada a sua naturalização por
sentença judicial, se cometer atividade nociva ao interesse nacional.
(C) Será brasileiro nato todo aquele nascido no exterior, de pai brasileiro, ou
mãe brasileira, desde que retome ao Brasil e opte, em qualquer tempo, pela
nacionalidade brasileira.

(D) Os estrangeiros oriundos de palses cujo idioma oficial seja a Lfngua


Portuguesa poderão requerer a nacionalidade brasileira, desde que residam
no Brasil há mais de quinze anos e possuam idoneidade moral.

21. Assinalar a alternativa CORRETA.


(A) Todas as sentenças estrangeiras dependem de homologação pelo STF
para terem eficácia no Brasil.
(B) As sentenças meramente declaratórias do estado das pessoas não
dependem de homologação pelo STF, pois não se constituem em titulo
executivo judicial, podendo-lhes ser atribuído valor como documento, sem
processo de delibação.
(C) Poderá ser homologada pelo STF sentença estrangeira, já transitada
em julgado, relativa a sucessão causa mortis que dispõe sobre bem imóvel
situado no Brasil.
(D) Nenhuma das respostas anteriores.

22. Não é sujeito de direito internacional público:


(A) A Santa Sé.
(B) O Estado Soberano.
(C) A Organização Internacional.
(D) A Empresa Pública.

23. A celebração de tratados, convenções e atos internacionais:


(A) É da competência exclusiva do Presidente da República.
(B) Compete ao Presidente da República, sujeito a referendo do Senado
Federal.
(C) Compete ao Presidente da República, sujeito a referendo do Congresso
Nacional.

215
(D) Compete ao Presidente da República, através do Ministério das
Relações Exteriores, sujeito ao referendo do Senado Federal.
(E) n.r.a.

24. Assinalar a alternativa CORRETA.


(A) O legislador brasileiro optou pelo local de execução do contrato para
estabelecer a lei aplicável.
(B) O legislador brasileiro optou pelo local da celebração do contrato como
determinador da lei aplicável.
(C) O legislador brasileiro afastou qualquer possibilidade de escolha das
partes contratantes pela lei aplicável.
(D) O legislador brasileiro permite que a autonomia da vontade das partes
prevaleça sobre a ordem publica e constitucional.

25. Um casal de nacionalidade brasileira casou-se no Brasii e, imedia­


tamente, se mudou para a Inglaterra, onde estabeleceu seu primeiro
domicilio. Após três anos, a mulher retornou ao Brasii e o marido
permaneceu na Inglaterra. Decorrido um ano de seu retorno a mulher
propôs ação de separação contra o marido, no Brasil Assinalar a
resposta CORRETA:
(A) O juiz brasileiro não é competente para julgar a ação, porque o réü não
é domiciliado no Brasil.
(B) O juiz brasileiro ê competente para julgar a ação, porque os cônjuges
possuem nacionalidade brasileira.
(C) O juiz brasileiro é relativamente competente para julgar a ação, porque
o casamento ocorreu no Brasil.
(D) O juiz brasileiro não é competente para julgar a ação, porque o último
domicílio do casal foi na Inglaterra.

26. Segundo a Lei de Introdução ao Código Civil podemos afirmar que


em relação à capacidade, ao nome e aos direitos de família, o
estrangeiro será regulado
(A) Peia lei do pais em que for domiciliado.
(B) Pela lei que lhe for mais conveniente.
(C) Pelos Tratados Internacionais.
(D) Pela sua lei pessoal.

27. Com relação ao Direito internacional Privado, é CORRETO afirmar:


(A) Constitui o conjunto de normas válidas para todos os países do mundo.

216
Direito Internacional

(B) Constitui o conjunto de normas válidas para todos os países que sejam
signatários de tratados internacionais, especificamente nas matérias tratadas.
(C) Constitui o conjunto de normas internas de cada país que tem por
finalidade determinar qual direito material deve ser aplicado, naquele país,
aos fatos e atos internacionais.
(D) Constitui o conjunto de normas internas de cada pais que têm por
finalidade o tratamento das relações jurídicas entre pessoas de
nacionalidades diversas.

28. A Pofícta Federal em diligência pela Zona Sul da cidade do Rio de


Janeiro localizou vários estrangeiros que se dedicavam à vadiagem. De
acordo com o Estatuto do Estrangeiro, a autoridade brasileira poderá:
(A) Deportar os estrangeiros.
(B) Extraditar os estrangeiros,
(C) Expatriar os estrangeiros.
(D) Expulsar os estrangeiros.

29. Â Corte Internacional de Justiça foi estabelecida pela Carta das


Nações Unidas e é considerada como seu principal órgão judiciário. Mo
que tange à sua competência, pode-se afirmar que:
(A) Diante de um crime de genocídio, qualquer indivíduo tem competência
para abrir um processo contencioso no âmbito da Corte Internacional de
Justiça.
(B) Apenas os Estados poderão ser partes em questões contenciosas
perante a Corte.
(C) A Corte Internacional de Justiça pode ser considerada instância recursal
do Supremo Tribunal Federai, cabendo recurso de inconstitucionalidade por
via de ação direta.
(D) As Organizações internacionais, partes do sistemas das Nações Unidas,
podem encaminhar uma demanda contenciosa e serem partes litigantes em
um processo contencioso no seio da Corte Internacional de Justiça.

30. Em uma controvérsia versando sobre imóvel situado no Brasil, em


que são partes um brasileiro e um francês, é CORRETO afirmar:
(A) Que o Poder Judiciário brasileiro é relativamente competente para julgar
a questão,
(B) Que o Poder Judiciário brasileiro somente será competente para julgar a
questão se a lei aplicável à controvérsia for a brasileira.

217
A
j (C) Que, por expressa disposição do art. 88 do Código de Processo Civii,
juiz francês não poderá juigar a questão.
(D) Oue o Supremo Tribunal Federal não poderá homologar sentença
proferida por juiz francês.

31. A Lei de Introdução ao Código Civii estabelece regras relativas ao


Direito internacional. Tendo em visto tal diploma legai, marque a
alternativa CORRETA:
(A) Realizando-se o casamento de estrangeiros no Brasil, será aplicada a
sua lei de origem aos impedimentos dirimentes e às formalidades da
celebração.
(B) A sucessão de bens de estrangeiros, situados no Pais, será sempre
regulada pela lei pessoal do de cujus.
(C) As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer decla­
rações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes,
(D) Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer
natureza, que eles tenham constituído, dirijam ou hajam investido de funções
públicas, poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou suscetíveis de
desapropriação.

32. Indique a assertiva FALSA:


(A) Os membros do quadro diplomático de carreira gozam de ampla
imunidade de jurisdição penal e civil.
(B) São fisicamente invioláveis os locais da missão diplomática, salvo casos
de busca, requisição, penhora ou medida de execução.
(C) A imunidade diplomática no âmbito penal não impede a investigação de
crime, nem livra o agente da jurisdição de seu Estado de origem.
(D) Compete aos juizes federais processar, após o exequatur, a execução
de carta rogatória.

33. Assinalar a alternativa CORRETA:


(A) Decreto de expulsão tem natureza de ato judicial.
(B) Decreto de expulsão tem natureza jurídica de ato administrativo
discricionário, fundamentado na soberania do Estado, visando a sua
proteção.
(C) A expulsão é a retirada forçada de estrangeiro do território nacional por
parte da autoridade policial competente, motivada por sua entrada ou
permanência irregular no país.

218
Direito Internacional

(D) A expulsão é a retirada forçada do estrangeiro clandestino ou impedido


de entrar no território nacional, por autoridade policial, no momento da sua
entrada no país.

34. Assinalar a alternativa CORRETA.


(A) A competência internacional do juiz brasileiro para julgar demanda civil
de estrangeiros domiciliados no Brasil é exclusiva e absoluta.
(B) A competência internacional do juiz brasileiro para julgar demanda civil
de estrangeiros domiciliados no Brasii é relativa e concorrente.
(C) A competência internacional do juiz brasileiro é relativa para julgar ação
que verse sobre imóvel situado no Brasil.
(D) A competência internacional do juiz brasileiro é absoluta quando a ação
se origina de fato ocorrido no Brasil ou de ato nele praticado.

35. Assinale a alternativa CORRETA.


(A) Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, os tratados
internacionais normativos têm supremacia sobre o direito positivo interno me
matéria tributária.
(B) Os tratados internacionais são celebrados por decreto legislativo do
Congresso Nacional.
(C) A promulgação dos tratados internacionais é da competência do
Presidente da República.
(D) Após a aprovação definitiva pelo Congresso Nacional, o tratado
internacional passa a ser obrigatório no direito positivo interno.

36. Todas as vantagens, favores, privilégios ou imunidades concedidos


por uma parte contratante a um produto originário ou com destino a
qualquer outro país serão, imediatamente e incondicionalmente, esten­
didos a qualquer produto similar originário ou com destinação ao ter­
ritório de quaisquer outras partes contratantes. (GATT/1994, art. Io, § 1o).
O excerto acima destacado (caput do § 1o do art. 1°) define uma cláusula
conhecida, internacionalmente, como:
(A) Cláusula de tratamento preferencial.
(B) Cláusula da nação mais favorecida.
(C) Cláusula de favorecimento comercial.
(D) Cláusula de pafs aderente a Acordo Comercial.
(E) Cláusula de definição comerciai.

219
37. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta.
I. Todos os tratados internacionais celebrados posteriormente à Emenda
Constitucional n° 45 que versem sobre direitos humanos têm força normativa
interna equivalente à das emendas constitucionais.
II. Em razão do princípio da soberania, o Brasil não se submete às decisões
de Tribunal Internacional, ainda que tenha manifestado adesão à sua criação.
III. Os tratados são assinados pelo Presidente da República e são
internalizados apenas quando publicado o respectivo Decreto no Diário
Oficial da União.
IV. Os tratados podem ser celebrados por cônsules, desde que aprovados
por ambas as Casas do Congresso Nacional por quorum qualificado de 3/5.
a) Está correta apienas a assertiva I.
b) Está correta apenas a assertiva III.
c) Estão corretas apenas as assertivas I e IV.
d) Estão corretas apenas as assertivas I, II e III.

38. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta.


I. O embaixador de Estado estrangeiro acreditado no Brasil pode ser
conduzido coercitivamente a prestar depoimento como testemunha apenas
perante a Justiça Federal, mas não perante a Justiça Estadual.
II. Os atos de gestão da representação do Estado estrangeiro, de mera rotina
administrativa, ficam submetidos à jurisdição local, não protegidos, pois, pela
inviolabilidade da Convenção de Viena.
III. A República Federativa do Brasil considera a prática do reconhecimento
de Estado, mas não a do reconhecimento de Governo.
IV. As organizações internacionais, além dos Estados, podem ter
personalidade jurídica de Direito Internacional e, nesse caso, estarão
autorizadas a celebrar tratados.
a) Está correta apenas a assertiva I.
b) Está correta apenas a assertiva III.
c) Estão corretas apenas as assertivas I e IV.
d) Estão corretas apenas as assertivas II, lil e IV.

Para responder à questão 39, considere o enunciado que segue:


Pessoa nascida no Brasil, filha de pais portugueses que estavam aqui a
trabalho em empresa privada de comércio de pescado, anos depois comete
crime contra a administração pública (peculato) em Portugal e foge para o
Brasil, havendo a República Portuguesa pedido sua extradição.

220
Direito Internacional

39. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta.


i. 0 Supremo Tribunal Federai poderá decretar a extradição a pedido de
Portugal em razão da regra de reciprocidade dos pafses de língua
portuguesa.
ii. O Supremo Tribunal Federal poderá decretar a extradição a pedido de
Portugal porque aquelè ato ilícito íntegra o rol de crimes que o Brasil se
comprometeu a reprimir.
III. O Supremo Tribunal Federal não poderá decretar a extradição porque a
agente é brasileira.
IV. O Supremo Tribunal Federal não poderá decretar a extradição porque não
há tratado de extradição entre Brasil e Portugal para crimes contra a
administração pública, mas apenas para crimes de tráfico ilícito de
entorpecentes.
a) Está correta apenas a assertiva I.
b) Está correta apenas a assertiva Iii.
c) Estão corretas apenas as assertivas i e li.
d) Estão corretas apenas as assertivas III e IV.

40. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta.


í. O Brasil usa o critério misto para a fixação da nacionalidade, valendo-se do
critério do ju s soíi e do ju s sanguinis, com temperamentos.
II. Não se extradita estrangeiro que tenha família constituída no Brasil.
1H. Terá nacionalidade brasileira originária, como brasileiro nato, o filho de pai
ou mãe brasileiros que nascer no exterior e vier a residir no Brasil, somente
se for registrado na repartição consular acreditada.
IV. A competência para apreciar pedido de transcrição do termo de
nascimento de menor nascido no estrangeiro, filho de mãe brasileira que não
estava a serviço do Brasil, é da Justiça Comum Estadual, através do juízo
dos registros públicos, e não da Justiça Federal.
a) Está correta apenas a assertiva I.
b) Está correta apenas a assertiva II.
c) Estão corretas apenas as assertivas I e IV.
d) Estão corretas apenas as assertivas 11,11! e IV.

41. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta.


I. O estrangeiro, ao ingressar no Brasil, precisa obter junto à Polícia Federal a
carteira de identidade de estrangeiro, exceto se tiver visto diplomático.

221
11. Não será concedido visto ao estrangeiro que, dentre outras razões, for
considerado nocivo à ordem pública, tiver sido expulso ou tenha sido
condenado em outro pais por crime doloso passível de extradição segundo a
lei brasileira.
Ml. O estrangeiro registrado como permanente pode regressar ao Brasil
independentemente de visto, se o fizer em até dois anos de sua saída.
IV. Não sendo possível a extradição, pode a autoridade, em substituição e
quando necessário e conveniente, em razão de pedido de Estado
estrangeiro, ordenar a deportação do estrangeiro.
a) Está correta apenas a assertiva I.
b) Está correta apenas a assertiva II.
c) Estão corretas apenas as assertivas II e III.
d) Estão corretas apenas as assertivas II, III e IV.

42. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta.


I. O reenvio ou retorno, no âmbito da hermenêutica do Direito Internacional
Privado, está ligado às competências jurisdicionais dos diferentes Estados.
II. Nas lides solvidas com base no Direito Internacional Privado, a questão
prévia não deve ser resolvida necessariamente de acordo com a mesma lei
que regula a causa principal.
III. A capacidade, no Brasil, é apreciada em relação ao direito do local em que
a pessoa é domiciliada (ius domicilii) e não em relação ao direito de sua
nacionalidade (ius patrias) ou ao direito do local em que o ato for realizado
(ius loci actus).
IV. Em relação à herança de bens de estrangeiro situados no Brasil, vige
sistema misto, incidindo a lei pessoal do de cujus (ius patriad) ou a lei
brasileira (ius domicilii), sempre a mais favorável aos herdeiros òu cônjuge
brasileiros.
a) Está correta apenas a assertiva I.
b) Está correta apenas a assertiva II,
c) Estão corretas apenas as assertivas III e IV.
d) Estão corretas apenas as assertivas II, JH e IV.

43. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta.


I. A homologação de sentença estrangeira de usucapião de imóvel rio Brasil
depende de oitiva das fazendas federal, estadual e municipal do local do
bem, porque não valeria sentença proferida no Brasil sem tal observância.

222
Direito Internacional

li. Não há iitispendência entre processos idênticos (mesmas partes, causa de


pedir e pedidos) que tramitem um no Brasil e outro em Estado estrangeiro,
independentemente da matéria que versem.
IIi. Os fatos ocorridos no exterior e que devam ser examinados por tribunais
brasileiros obedecerão sempre à lei brasileira quanto aos ônus e meios de
produzir-se.
IV. As sentenças estrangeiras meramente declaratórias de estado da pessoa
não dependem de homologação.
a) Está correta apenas a assertiva I.
b) Estão corretas apenas as assertivas II e 111.
c) Estão corretas apenas as assertivas II e IV.
d) Estão corretas apenas as assertivas l, III e IV.

44. Jean (francês) requereu visto de permanência no Brasil. Tendo ele


preenchido todos os requisitos, a autoridade brasileira outorgou o
documento de estada (visto permanente). Algum tempo depois, Jean
retornou p/ à França, tendo tá permanecido por 3 anos, Para regressar e
se estabelecer no Brasil, Jean:
A) Deve solicitar visto de entrada à autoridade diplomática brasileira, por ter
se ausentado país por prazo superior a 2 anos.
B) Não necessita solicitar visto de entrada, por já ter o visto permanente.
C) Não necessita fazer o pedido de visto de entrada, por haver um acordo
que libera de tal solicitação os turistas dos dois países envolvidos.
D) Deve solicitar ao Ministério Brasileiro das Relações Exteriores autorização
para retornar ao país.

45. Pietro (italiano) e Madalena (brasileira) conheceram-se nos Estados


Unidos da América e lá contraíram matrimônio. Da união nasceram dois
filhos de nacionalidade americana. Transcorridos alguns anos, o casal,
que passara a residir na Itália, se divorciou judicialmente. Determinou-
se que a guarda dos filhos ficaria com o pai e que deveria providenciar
uma viagem pro ano ao Brasil para que visitassem a mãe, que havia
retornado ao Rio de Janeiro após o divórcio. A sentença judicial
transitou em julgado, tenso sido registrada na Embaixada do Brasil em
Roma (ttália). Que providência deverá Pietro adotar a fim de que sejam
conferidas validade e eficácia a essa sentença no Brasil?
A) Ajuizar ação na justiça estadual do Rio de Janeiro.
B) Ajuizar ação na justiça federal do Rio de Janeiro.

223
C) Encaminhar pedido de homologação ao Superior Tribuna! de Justiça.
D) Encaminhar pedido de homologação ao Supremo Tribunal Federal.

46. Nos termos do art. 21 da Constituição Federal, a competência para


manter relações com Estados estrangeiros é
A) Concorrente com os Estados Federados e o Distrito Federal
B) Concorrente com os Estados Federados, o Distrito Federal e os
Municípios.
C) Comum com os Estados Federados, o Distrito Federal e os Municípios.
D) Privativa da União.

47. Tradicionalmente o direito internacional concebeu duas teorias com


referência à relação entre os ordenamentos jurídicos nacionais e
internacionais: o dualismo e o monismo. Para esta última,
A) Não se aceita a existência de duas ordens jurídicas autônomas,
independentes e não derivadas, defendendo-se por vezes a primazia do
direito interno e por vezes a primazia do direito internacional.
B) Aceitam-se várias ordens jurídicas, com aplicabilidade simultânea,
confígurando-se um pluralismo de fontes, porém aplicadas por um único
ordenamento.
C) Aceita-se a existência de duas ordens jurídicas, independentes e
derivadas, uma nacional é outra internacional, sendo que esta última é que
confere validade à primeira.
D) Não se aceita a validade de uma ordem jurídica internacional, dado que
desprovida de sanção e de conteúdo morais, fundamentada meramente em
princípios de cortesia internacional.
E) Aceita-se a validade de uma ordem jurídica internacional, conquanto que
não conflitante com a ordem interna, e cujos critérios de validade sejam
expressamente definidos pela ordem jurídica nacional.

48. A violação das leis de guerra por parte de um combatente nos


conflitos internacionais implica sua punição. Em 17 de julho de 1998 foi
adotado o Estatuto do Tribunal Penai Internacional, seus Anexos e a Ata
Final da Conferência de Roma sobre o estabelecimento de um Tribunal
Penai internacional. O principal dispositivo do Estatuto, que figura no
artigo 1°, consagra o princípio da complementaridade, nos termos do
qual a jurisdição do Tribunal Penal Internacional.
A) Será exercida em qualquer circunstância, mediante provocação da
organização das Nações Unidas comprovadas a violação das leis de guerra,
com exceção dos crimes de genocídio.

224
Direito Internacional

B) Será exercida em qualquer circunstância, mediante provocação da


Organização das Nações Unidas, a menos que o país prejudicado não tenha
ratificado a Ata Final da Conferência de Roma.
C) Será exercida permanentemente, independente de provocação da
organização das Nações Unidas e de comprovação de violação das leis de
guerra, dependendo, no entanto, de instalação de um tribunal ad hoc a ser
designado pela Corte de Haia, mediante provocação de no mínimo cinco
países signatários da Ata Final da Conferência de Roma.
D) Terá caráter excepcionai, isto é, somente será exercida em caso de
manifesta incapacidade ou falta de disposição de um sistema judiciário
nacional para exercer sua jurisdição primária, ou seja, os Estados terão
primazia para investigar os crimes previstos no Estatuto do Tribunal.
E) Terá caráter eventual, isto é, somente será exercida em caso de
comprovada violação de crimes contra a humanidade, dependendo, no
entanto, de instalação de um tribuna! a ser organizado pelas forças de
ocupação.

49. Considerando a prática brasileira, bem assim o entendimento do


Direito Internacionai acerca dos tratados internacionais, marque a
opção incorreta.
A) Qualquer tratado existente que seja conflitante com norma imperativa de
direito internacional geral (jus cogens) posterior torna-se nulo e extingue-sé.
B) Os tratados internacionais incorporados ao ordenamento jurídico
brasileiro mediante decreto presidencial de promulgação têm força de lei
ordinária.
C) O Supremo Tribunal Federal consolidou entendimento no sentido de que
os tratados internacionais incorporados ao ordenamento jurídico nacional têm
estatura de lei ordinária.
D) Pode-se dizer que tratado internacional é um acordo celebrado por escrito
entre sujeitos de direito internacional, qualquer que seja sua denominação
particular.
E) O Congresso Nacional resolve definitivamente sobre tratados
internacionais toda vez que os ratifica no plano externo.

50. Sobre o tema da imunidade de jurisdição, indique a opção correta.


A) A regra que dispões não haver jurisdição entre os pares (parin parem non
hablet judicium) não mais se aplica ao relacionamento entre Estados tendo
em vista o princípio da jurisdição universal.
B) Os cônsules e os diplomatas gozam da mesma pauta de privilégios e
imunidades.
C) A finalidade dos privilégios e imunidades diplomáticos, além de beneficiar
indivíduos, é garantir o eficaz desempenho das funções das missões
diplomáticas, em seu caráter de representantes dos Estados.

225
D) 0 agente diplomático goza, em regra, da imunidade de jurisdição civil,
administrativa e penal do Estado acreditado.
E) A renúncia à imunidade de jurisdição no tocante às ações cíveis ou
administrativas implica renúncia à imunidade quanto às medidas de execução
da sentença, para as quais nova renúncia é necessária.

51. O estado membro das nações Unidas que viole persistentemente os


princípios contidos na Carta daquele organismo interhacionai está
sujeito à sanção, que decorre da recomendação de instância interna
daquele organismo, mediante procedimento que se caracteriza, a saber:
A) A sanção consiste em aplicação de multa, pela Assembléia Geral, de
quem também parte a recomendação para a aplicação da referida sanção.
B) A sanção consiste na perda de todas as ajudas e subsídios internacionais
mediados pela Organização das Nações Unidas, a partir de recomendação
da Assembléia Geral, a ser confirmada pelo Conselho de Segurança.
C) A sanção consiste na suspensão por tempo indeterminado da
participação do Estado penalizado na organização das Nações Unidas, a
partir de proposta da Assembléia Geral, que será encaminhada para
confirmação do Conselho de Segurança.
D) A sançãò consiste em determinação da perda de direito de voto na
Assembléia geral, por parte do Estado penalizado, a partir de recomendação
de dois terços dos membros da Organização das Nações Unidas.
E) A sanção consiste em possibilidade de expulsão da organização das
nações Unidas, pela Assembléia Geral, mediante recomendação do
Conselho de Segurança.

52. A adoção da cláusula da nação mais favorecida pelo modelo do


Acordo Geral de Tarifas e Comércios (GATT) teve como indicativo e
desdobramento a pressuposição da igualdade econômica de todos os
participantes do GATT, bem como, no piano fático:
A) A luta contra práticas protecionistas, a exemplo da abolição de acordos
bilaterais de preferência.
B) A manutenção de barreiras alfandegárias decorrentes de acordos
pactuados entre blocos econômicos, a exemplo do trânsito comercial entre
membros do MERCOSUL e da União Européia, criando se vias comerciais
preferenciais freqüentadas e protagonizadas por atores globais que
transcendem o conceito de estado-nação.
C) A liberação da prática de imposição de restrições quantitativas às
importações, por parte dos estados signatários que, no entanto, podem
manter políticas de restrições qualitativas.

226
Direito Internacional

D) A liberalização do comércio internacional, mediante a vedação de


quaisquer restrições diretas e indiretas, fulminando-se à tributação na
exportação, proibida pelas regras do GATT, que especificamente vedam a
incidência de quaisquer exações nos bens e serviços exportados, de acordo
com tabela anualmente revista, e que complementa as regras do Acordo.
E) O descontrole do comércio internacional, mediante a aceitação de
; barreiras tarifárias, permitindo-se a tributação interna, medida extrafiscal que
1 redunda na exportação de tributos, instrumento de incentivo às indústrias
internas e de manutenção de niveis ótimos de emprego, evidenciando-se as
preocupações da Organização Mundial do Comércio em relação a mercados
produtores e consumidores internos,

53. Nos termos e na definição da Convenção Viena sobre Direito dos


Tratados, e para seus fins, a expressão “reserva” tem significado
normativo e características específicas, nomeadamente:
; A) A reserva é uma declaração bilateral feita por dois estados, seja qual for o
' seu teor ou denominação, ao assinarem, ratificarem, aceitarem ou aprovarem
um tratado, ou a ele aderirem, com o objetivo de excluírem ou modificarem o
efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua aplicação a esses dois
estados. Não pode ser feita a retirada de uma reserva após a comunicação
í da mesma, dado que sua comunicação suscita a suspensão dos efeitos do
1 tratado.
B) A reserva é uma declaração bilateral feita por dois estados, seja qual for o
seu teor ou denominação, ao assinarem, ratificarem, aceitarem ou aprovarem
um tratado, ou a ele aderirem, com o objetivo de incluírem ou modificarem o
i efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua aplicação a esses dois
estados. A retirada de uma reserva ou de uma objeção a essa reserva deve
ser formulada por escrito, devendo-se aguardar 30 (trinta) dias contados da
comunicação para que a reserva possa surtir seus efeitos.
: C) A reserva é uma declaração multiiateral feita por mais de dois estados,
seja qual for o seu teor ou denominação, ao assinarem, ratificarem, aceitarem
ou aprovarem um tratado, ou a ele aderirem, com o objetivo de incluírem ou
modificarem o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua
aplicação a esses estados. A aceitação expressa de uma reserva ou sua
objeção, feita antes da confirmação, não produz efeitos até que todos os
1 estados pactuantes sejam comunicados.
D) A reserva é uma declaração unilateral feita por um estado, seja qual for o
seu teor ou denominação, ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado,
ou a ele aderir, com o objetivo de excluir ou modificar o efeito jurídico de
certas disposições do tratado em sua aplicação a esse estado. A reserva, sua
aceitação expressa e sua objeção devem ser formuladas por escrito e
comunicadas aos Estados contratantes e aos outros estados com direito de
se tornarem partes no tratado.

227
E) A reserva é uma declaração unilateral feita por um estado, seja qual for o
seu teor ou denominação, ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado,
ou a ele aderir, com o objetivo de incluir ou modificar o efeito jurídico de
certas disposições do tratado em sua aplicação a esse estado. A retirada de
uma reserva ou de uma objeção de vê ser formulada por escrito e
encaminhada para conhecimento dos estados pactuantes dentro de 30
(trinta) dias contados da deferida retirada ou objeção.

54. Tendo em vista o tema tratados internacionais, é correto dizer que:


A) No Brasil, o tratado internacional só passa a vigorar internamente após a
publicação do decreto presidencial de promulgação.
B) Os princípios do livre consentimento e da boa-fé, bem como a regra pacta
sunt servandà, têm como limitador a soberania dos Estados.
C) Uma “reserva” visa, tão só, a excluir o efeito jurídico de certas disposições
do tratado em sua aplicação ao formulador da “reserva”.
D) A Convenção sobre Direito dos Tratados (Viena, 1969) dispõe sobre
tratados entre os seguintes sujeitos de direito internacional: Estados e
organizações internacionais.
E) Eventual conflito entre tratado internacional de direitos humanos e a
Constituição é resolvido pela prevalência do tratado, de acordo com a
orientação do Supremo Tribunal Federal.

55. Em relação aos privilégios e imunidades de jurisdição e de execução


dos Estados estrangeiros, marque o item errado.
A) O agente diplomático gozará de imunidade de jurisdição penal do Estado
acreditado.
B) A imunidade de jurisdição de um agente diplomático no Estado acreditado
não o isenta da jurisdição do Estado acreditante.
C) Considerando que não há jurisdição entre os pares (par in parem non
hablet judicium), o Poder Judiciário brasileiro não é competente para resolver
litígio envolvendo dois Estados estrangeiros.
D) O art. 114 da Constituição Federal (1988) [“Compete a Justiça do
Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre
trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público
externo (...)] é regra de competência. Desse modo, o dispositivo não afasta a
imunidade de execução do Estado estrangeiro.
E) O indivíduo protegido pelos privilégios e imunidades consagrados na
Convenção sobre Relações Diplomáticas (Viena, 1961) pode renunciar a tais
imunidades, desde que o faça de modo expresso.

228
Direito Internacional

56. A Emenda Constitucional n. 45, de 8 de dezembro de 2004, entre


outros, inseriu parágrafo no art. 5° do texto constitucionai de 1988,
explicitando que os tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso nacional,
em dois tumos, por três quintos dos votos dos respectivos membros
serão equivalentes a
A) Emendas à Constituição
B) Leis Complementarès
C) Leis Ordinárias
D) Leis Delegadas
E) Decretos Legislativos

57. Nos termos da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados


entre Estados, e no que se refere à observância, aplicação e
interpretação dos acordos, consolidou-se regra
A) que reflete a cláusula rebus sic stantibus, isto é, alteradas as condições
originárias do pacto, deve-se alterar seu alcance e sua aplicabilidade.
B) que elimina preâmbulo e anexos, limitando-se o contexto interpretativo ao
horizonte de sentido inserido no corpo do tratado.
C) que prestigia a boa-fé, mas que não a elege a categoria interpretativa,
dado o regime competitivo que impera na ordem internacional.
D) que consolida como regra a retroativídade benigna dos tratados, mesmo
que a intenção diferente tenha informado a concepção do pacto internacional.
E) que reflete a cláusula pacta sunt servanda, isto é, todo tratado em vigor
obrigas as partes e deve ser cumprido por elas de boa-fé.

58. É objetivo do Protocolo de Quioto à Convenção-Quadro das nações


Unidas sobre Mudança de Clima, de 1997,
A) a diminuição da eficiência energética em setores relevantes da economia
internacional, como modo direto de internalização de externalidades
negativas.
B) a proibição imediata de formas sustentáveis e não sustentáveis de
agricultura, à luz das considerações sobre mudança do clima.
C) a redução gradual ou eliminação de imperfeições de mercado, de
incentivos fiscais, de isenções tributárias e tarifárias e de subsídios para
todos os setores emissores de gases de efeito estufa.
D) a pesquisa, a promoção, o desenvolvimento e aumento do uso de formas
não renováveis de energia, de tecnologia de seqüestro de dióxido de carbono
e de tecnologia ambientalmente seguras.

229
\
E) a ampliação de emissões de metano por meio de sua recuperação e
utilização no tratamento de resíduos, bem como no transporte, na produção e
na distribuição de energia.

59. De acordo com a Carta das Nações Unidas, de 1945, a Assembiéia


Geral
A) Será composta de quinze membros, observando-se que a República da
China, a França, o Reino Unido, a Rússia, a Inglaterra e os Estados Unidos
são membros permanentes.
B) Será constituída por todos os membros das Nações Unidas.
C) É composta por cinqüenta e quatro membros das Nações Unidas, eleitos
pelo Conselho Econômico e Social, respeitando-se a presença dos membros
permanentes.
D) Será constituída por todos os países signatários da Carta, com exceção
da Suíça e de países que estejam sob fiscalização internacional no que toca
ao desrespeito a pauta de direitos humanos.
E) Será composta peios signatários originários da Carta, como membros
permanentes, e por signatários supervenientes, como membros aderentes,
outorgando-se direito de voto àqueles primeiros.

60. Nos termos do estatuto do Tribunal Fenal Internacional, assinado em


Roma, em 1998, ao qual o Brasit aderiu em Fevereiro de 2000, é
competência deste tribunal julgar, exceto)
A) Crimes de genocídio, a exemplo de ofensas graves a integridade física ou
mental de membros de grupo.
B) Crimes contra a humanidade, a exemplo de agressão sexual, escravatura
sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou outra
forma de violência no campo sexual comparável.
C) Crimes de Guerra, a exemplo da destrição ou a apropriação de bens em
larga escala, quando não justificadas por quaisquer necessidades militares e
executadas de forma ilegal e arbitrária.
D) Crimes políticos, a exemplo de manipulação de eleições, do forjamento de
dados e de agressões à liberdade de expressão.
E) A transferência, direta ou indireta, por uma potência ocupante de parte da
sua população civil para o território que ocupa ou a deportação ou
transferência da totalidade ou de parte da população do território ocupado,
dentro ou fora desse território.

230
Direito Internacional

61. Considerando a prática brasileira, bem assim o entendimento do


Direito internacional acerca dos tratados internacionais, marque e a
j opção incorreta.
A) Qualquer tratado existente que seja conflitante com norma imperativa de
direito internacional geral {jus cogens) posterior torna-se nulo e extingue-se.
B) Os tratados Internacionais incorporados ao ordenamento jurídico
■ brasileiro mediante decreto presidencial de promulgação têm força de lei
ordinária.
C) O Supremo Tribunal Federai consolidou entendimento no sentido de que
os tratados internacionais incorporados ao ordenamento jurídico nacional têm
( estatura de lei ordinária.
D) Pode-se dizer que o tratado internacional é um acordo celebrado por
escrito entre sujeitos de direito internacional, qualquer que seja sua
denominação particular.
E) O Congresso Nacional resolve definitivamente sobre tratados
J internacionais todas vez que os ratifica no plano externo.

Texto motivador para a questão 62.


f “(...) a grande nota característica do Direito Internacional Público, na
i atualidade, é sua enorme expansão, tanto no referente à extensão de
assuntos sob seu Império ( a mencionada globalização horizontal),
quanto a seu vigor em direção a maior eficácia ( uma das
conseqüências da citada globalização vertica). Nesse particular, digno
de nota, em comparação com os séculos anteriores, é a extraordinária
i multiplicação de suas fontes: o crescimento exponencial de tratados
muitilaterais, sobre os mais variados temas, a proliferação de
organização intergovernamentais, com seus poderes normativos
próprios, e, no campos doutrinário, a emergência de obras coletivas,
i reunidas por um editor de talendo ou sob a égide de organização
1 científicas nacionais ou internacionais, onde temas tópicos são
versados com a mais alta competência e especialidade. Para completar
o rot das fontes de Direito internacional Público, neste início do século
XXI, têm crescido em número e importância as decisões de tribunais
internacionais, fato que confere à jurisprudência um papel da mais álta
relevância, como forma de revelação das normas desse Direito, sem ter
a possibilidade de descobrir qualquer paralelismo, com tal vigor, nos
tempos passados da história das relações internacionais.” ( irt SOARES,
Guido Fernando Silva).
; Curso de Direito internacional Público, v. 1. São Paulo: Atlas, 2002,
p.34).

231
Considerando que o texto transcrito tem caráter unicamente motivador,
avalie os seguintes itens e indique a opção correta.
I. No momento atual, o Direito internacional Público ainda não dispõe de
meios efetivos de sanção,
II. A ausência de um poder Legislativo universal, bem assim de um Judiciário
internacional com jurisdição compulsória, são alguns dos argumentos
utilizados pelos negadores do direito internacional para falar da ausência de
caráter jurídico do direito das gentes.
lii. As organizações internacionais exprimem vontade própria - distinta da de
seus Estados-membros - ao agir nos domínios em que desenvolve sua
opção. Tal se dá tanto nas relações com seus membros, quanto no
relacionamento com outros sujeitos do direito internacional.
IV. Pode-se mencionar como exemplos de tribunais internacionais: a Corte
internacional de Justiça ( sede na Haia), a Corte Interamericana de Direitos
humanos ( San José da Costa Rica), o tribunal internacional do Direito do Mar
(Hamburgo), o Tribunal Penal Internacional (Haia) e a Corte Constitucional
italiana (Roma).
V. A doutrina, meio auxiliar para a determinação das regras de Direito
internacional Público, tem como funções fornecer a prova do conteúdo do
direito e influir no seu desenvolvimento.
A) Todos os itens estão corretos.
B) Apenas os itens, II e III estão corretos.
C) Apenas o item IV está correto.
D) Apenas o item IV está incorreto.
E) Apenas os itens I e III estão incorretos,

63. A respeito de tratados internacionais e do procedimento para que


sejam incorporados à ordem jurídica brasileira, assinale V para as
asserções verdadeiras e F para as falsas,
( ) Se o tratado nada dispuser sobre o assunto, entende-se que as reservas a
um tratado internacional é possível, anão ser que seja incompatível com seu
objeto e sua finalidade. ;.
( ) Caso o tratado seja assinado com reservas, essas podem ser feitas pelo
Congresso Nacional, mesmo que não tenham sido feitas pelo Presidente da
República (ou outro plenipotenciário) no momento da assinatura.
( ) O Presidente da República pode promulgar um tratado internacional sem
que tenha havido apreciação do Congresso Nacional, caso se verifiquem os
requisitos de relevância e urgência no referido tratado.
( ) A concordância do Congresso Nacional é essencial para que o Brasil
denuncie um tratado internacional, desvinculando-se das obrigações nele
estabelecidas.

232
Direito Internacional

Assinale a seqüência correta.


A) V . V . V . V . V
B) V, V, F, F, V
C) V, V, V, F, F
D) V, F, R V, F
E) F . V . V . F . F

64. A empresa brasileira XY Z tem investimentos de grande vulto no país


ABC. De forma arbitrária, o novo governo de ABC, ao tomar posse,
apropria-se do patrimônio que XYZ detinha em ABC. Inconformada, a
empresa XYZ recorre ao Govemo brasileiro para que lhe conceda
proteção diplomática, encampando o problema da empresa e
recorrendo à Corte Internacional de Justiça em sua defesa, indique
como se denomina o ato por meio do quai o Estado brasileiro assume a
reclamação da empresa XYZ, fazendo-a sua, e dispondo-se a tratar da
matéria junto ao Estado autor do ilícito.
A) Reserva
B) Imunidade
C) Denúncia
D) Endosso
E) Ratificação

65. A respeito de responsabilidade internacional, considere as


asserções abaixo e, em seguida, assinale a opção correta.
I. Uma decisão do Poder Judiciário Brasileiro pode levar à responsabilidade
internacional do Brasil, caso a decisão viole compromissos jurídico-
intemacionais assumidos pelo país.
II. Uma lei de um dos Estados da federação não pode dar ensejo à
responsabilidade Internacional do Brasil porque, no âmbito nacional, os
compromissos são assumidos pela União Federal,
III. A responsabilidade Internacional do Estado deve ter sempre por base uma
ação. Uma omissão não pode dar ensejo à responsabilização do Estado no
plano internacional.
IV. A responsabilidade internacional do Estado apenas existe se há a
violação de um tratado internacional. O desrespeito a um costume
internacional, por exemplo, não é o suficiente para dar ensejo à
responsabilidade do Estado.
V. A despeito de terem personalidade jurídica internacional, as organizações
internacionais não podem ser responsabilizadas juridicamente na ordem
internacional.

233
\
A) Apenas a asserção I está correta,
B) Apenas as asserções I e II estão corretas.
C) Apenas as asserções I, II e ili estão corretas.
D) Apenas a asserção V está correta
E) Todas as asserções estão incorretas.

66. Acerca das fontes do direito internacional público (DIP), julgue os


seguintes itens:
A) ( ) A parte que invoca um costume tem de demonstrar que ele está de
acordo com a prática constante e uniforme seguida pelos Estados em
questão.
B) ( ) Os precedentes judiciais são vinculativos tão-somente para as partes
em um litígio e em relação ao caso concreto, não tendo, assim,
obrigatoriedade em DIP.
C) ( ) Constituem funções da doutrina o fornecimento da prova do conteúdo
do direito e a influência no seu desenvolvimento.
D) ( ) O Estatuto da Corte Internacional de Justiça, ao indicar as fontes do
DIP que um tribunal irá aplicar para resolver um caso concreto, concede
posição mais elevada para as normas convencionais, que devem prevalecer
sempre sobre todas as outras.
É) ( ) Ainda hoje, o rol das fontes indicado no Estatuto da Corte internacional
de Justiça é taxativo.

67. Quando soarem as doze badaladas da meia-nolíe do dia 19 de Maio


de 2002, o mundo acolherá conn satisfação o Timor Leste na família das
nações. Será um momento histórico para o Timor Leste e para as
Nações Unidas. Um povo orgulhoso e tenaz realizará o sonho comum a
todos os povos de viver como homem e mulheres livres sob um
governo que eles mesmos escolheram.
A partir do texto acima, julgue os itens que se seguem:
A) ( ) Para satisfazer a condição de Estado, tal como prescreve o direito
internacional público, o Timor Leste de possuir: território, população, govemô,
independência na condução das suas relações externas e reconhecimento
dos demais atores que compõem a sociedade internacional.
B) ( ) Para o direito das gentes, o ingresso nas nações Unidas é condição
necessária para que um Estado possa ser considerado sujeito de direito
Internacional.
C) ( ) A população de um país é o conjunto de pessoas (nacionais e
estrangeiras) fisicamente instaladas em seu território.

234
Direito Internacional

D) ( ) O governo timorense deve ser reconhecido pelos demais membros da


comunidade Internacional como condição necessária para o recolhimento de
; novo Estado.
r

E) ( ) A nacionalidade, vínculo jurídico-politíco que une um indivíduo a um


Estado, só pode ser concedida pelos Estados, que devem observar os.
princípios do direito internacional que regulam a matéria.
i

68, Tendo em vista o entendimento do direito internacional, bem como a


prática brasileira acerca de tratados internacionais, julgue os itens
subseqüentes.
; A) ( ) Tratado internacional é um acordo celebrado por escrito entre sujeitos
* de direito internacional que produz efeito jurídico, qualquer que seja sua
denominação particular.
B) ( ) No Brasil, as convenções internacionais de trabalho, uma vez incor­
poradas ao ordenamento jurídico nacional, têm força de lei ordinária.
i C) ( ) Na ausência de preceito constitucional claro, o STF firmou enten­
dimento de que os tratados internacionais de direitos humanos estão acima
da Constituição da República.
D) { ) O Congresso Nacional brasileiro resolve definitivamente sobre tratados
internacionais ao ratificá-los no plano externo.
E) ( ) Salvo afronta a regra de direito interno de importância fundamental
sobre competência para concluir tratado, uma parte nãò pode invocar
disposições de seu direito interno para justificar o descumprimento de um
tratado.

69, Ainda com aspectos de direito econômico, julgue os Itens a seguir:


A) ( ) A ordem jurídico-econômica engloba um conjunto de normas que visam
à organização da atividade econômica no ambiente social.
B) ( ) A ordem econômica juridicizada tem como objetivo a cooperação entre
indivíduos e a promoção de ambiente econômico que permita relação
estáveis e minimize os conflitos, competindo ao Estado desempenhar um
papel minimalista em termos de regulação.
: C) ( ) A ordem econômica constitucional é estrutura sobre fundamentos e
princípios que traduzem posturas ideológicas, porém coerentes, que acabam
por fixar a ideologia constitucional.
D) ( ) São objetivos da Carta das Nações Unidas de Direitos e Deveres
Econômicos dos Estados: promover o estabelecimento da nova ordem
econômica internacional, com base na eqüidade, na soberania, na igualdade,
na interdependência, no interesse comum e na cooperação entre todos os
Estados que adotem o sistema econômico da economia de Mercado, e

235
contribuir para a eliminação dos principais obstáculos ao livre comércio entre
as nações, entre outros.
E) { ) O MERCOSUL, com personalidade jurídica de direito internacional, tem
como órgão superior o Conselho do Mercado Comum, que se manifesta
mediante decisões tomadas por consenso e com a presença de, pelo menos,
dois terços dos Estados-partes.

70. Assinale a assertiva correta sobre a pena de banimento, conforme a


Constituição Federai.
A) Pode ser aplicada aos estrangeiros naturalizados.
B) Somente pode ser aplicada aos de qualquer nacionalidade que encontrem
no território brasileiro e que tenham sido criminalmente condenados.
C) Somente pode ser aplicada aos estrangeiros com residência permanente
no país que tenham sofrido condenação criminal.
D) Não haverá pena de banimento no ordenamento jurídico brasileiro.

71. Nos termos dos arts. 92 e seguintes da Carta das Nações Unidas,
qual a corte competente para julgar litigios internacionais territoriais à
semelhança do ocorrido entre Argentina e Inglaterra a respeito das Ilhas
Malvinas (Falklands)?
A) O conselho de Segurança da ONU.
B) A Organização Mundial do Comércio, através de painel de especialistas.
C) A Corte Internacional de Justiça.
D) O Tribunal da união Européia.

72. De Acordo com a Constituição Federai, os tratados internacionais


devem ser referendados pelo (a)
A) Presidente do Senado Federal.
B) Ministro das Relações Exteriores.
C) Câmara dos deputados
D) Congresso Nacional.

73. Helmut, jornalista alemão, em viagem de trabalho ao Brasil,


revoltado com a desorganização nos aeroportos, provocou vários
tumultos e ofendeu as autoridades locais, adotando conduta desonrosa
e atentatória à dignidade dos envolvidos. O episódio gerou invés-
tigação. Os órgãos competentes chegaram à conclusão de que o
jornalista, mesmo tendo entrado no país de forma regular, atentou

236
Direito Internacional

contra a ordem pública e social, bem como contra a moralidade pública.


Que forma se saída compulsória de estrangeiro se aplica ao caso?
A) Deportação
B) Expulsão
C) Extradição
D) Banimento

74. Todos os requisitos abaixo são necessários para a homologação de


sentença estrangeira no Brasil, Exceto:
A) Ter sido ela requerida perante a embaixada brasileira no país de origem.
B) Haver sido a sentença proferida por juiz competente.
C) Terem sido as partes estadas ou haver-se legalmente verificado a revelia.
D) Estar à sentença traduzida por intérprete autorizado.

Texto motivador para a questões 75 a 84.


Ante a grave situação em que se encontravam os internos e outras
pessoas na Casa de Detenção José Mário Alves, conhecida como
Penitenciária de Urso Branco, localizada na Cidade de Porto Velho, no
Estado de Rondônia, Brasil, a Corte Interamericana de Direitos
Humanos adotou, por solicitação da comissão Interamericana de
direitos Humanos, diversas medidas provisórias em resolução datadas
de 18/06/2002, 29/08/2002 e 22/04/2004, às quais se agregam as castas
enviadas ao Estado brasileiro pela própria Corte em 06/03/2003 e
07/01/2004.
A Primeira resolução da Corte interamericana em matéria de medidas
provisórias acima mencionada considerou entre outras situações
graves, de atenção urgente, a freqüência com que se haviam perpetrado
homicídios na referida penitenciária e a forma como ocorreram. As
mortes se apresentam de controle da prisão por parte das autoridades
correspondentes. Por esse motivo, a Corte Interamericana considerou
pertinente adotar medidas provisórias destinadas, sobretudo, à
preservação da vida e da Integridade física dos reclusos da
Penitenciária de Urso Branco.
Não obstante as reiteradas das condições prevaiecentes nessa
instituição. Os mais recentes informes noticiam que continuam os atos
de violência com resultados fatais: persistem o cometimento de
homicídios e outros fatos de suma gravidade. Aparentemente, essas
condições têm prevalecido ao longo de dois anos, período em que
foram ditadas as resoluções da Corte em matéria de medidas
provisórias, além das medidas cautelares solicitadas previamente pela
comissão Interamericana.

237
\
Considerando esses fatos, a Corte convocou uma audiência, realizada
na sede do Tribunal, em São José, Costa Rica, em 28/06/2004, para
escutar os informes sobre essa situação dados pelos representantes
dos internos na Penitenciária de Urso Branco, que atuam como
peticionários, assim como a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos e o Estado.
Em 07/07/2004, a Corte Interamericana ditou nova resolução que
reiterava as demais resoluções adotadas ao longo dos últimos dois
anos.
Trecho traduzido e adaptado, extraído do Voto Concurrente proferido
pelo juiz Garcia Ramirez à Resolução da Corte interamericana de
Direitos Humanos sobre medidas provisórias no Caso da Penitenciária
de Urso Branco de 07/07/2004.
Tendo o texto acima como referência inicial, julgue os itens seguintes,
acerca de medidas provisórias em matéria de proteção internacional
dos direitos humanos e a respeito do regime Jurídico das obrigações
internacionais de proteção dos direitos de pessoa humana.

75. ( ) A Corte Interamericana de Direitos Humanos não tem, na prática,


requerido da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, quando soücita
medidas provisórias, prova substancial de que os fatos narrados são
verídicos, pois procede antes com base na presunção razoável de que os
faros alegados correspondem à verdade e de que tais medidas de proteção
são necessárias.

76. ( ) As medidas provisórias ordenadas pela corte Interamericana de


Direitos Humanos têm cimo objetivo apenas a proteção do direito à vida e à
integridade pessoal ~ Física, mental e moral - das supostas vítimas.

77. ( ) As medidas provisórias revestem-se de caráter verdadeiramente


tutelar, mais que cautelas, pois que passam a salvaguardar, mais que a
eficácia da prestação jurisdicional, os próprios direitos fundamentais da
pessoa humana.

78. ( ) A obrigação gerai de garantia do gozo e exercício livre e pleno dos


direitos previstos na Convenção americana de Direitos Humanos é uma
obrigação de natureza erga omnes. Assim, no caso da Penitenciária de Urso
Branco, objeto do texto considerado, o Estado não pode eximir-se de sua
responsabilidade internacional pela violação dos direitos à vida e à
integridade pessoal devido ao fato de que os atos de violência que geraram
ditas violações foram perpetrados por algumas das pessoas detidas em
detrimento de outros detentos.

238
Direito Internacional

79. ( ) O Estado não pode eximir-se de uma responsabilidade internacional


pela violação de obrigações específicas relacionadas com a proteção do
direito à vida e à integridade pessoa por motivos de ordem interna, como a
forma federativa do Estado e a conseqüente divisão de competência matérias
e legislativas próprias à União e aos Estados-Membros.

80. ( ) As obrigações internacionais de proteção dos direitos humanos


vinculam apenas o governo federal.

Julgue os itens, que versam sobre o direito internacional ambiental.

81. ( ) O regime jurídico preponderante no sistema internacional de


responsabilidade por danos ambientais, previsto nas principais convenções
internacionais relativas ai tema, é o da responsabilidade objetiva.

82. { ) Entre os danos ambientais transfronteiriços, apenas aquelas causados


por atividades de risco proibidas pelo direito internacional geram para as
vítimas direito de reparação dos prejuízos.

83. ( ) O ataque lançado intencionalmente, que sabidamente causará


prejuízos extensos, duradouros e graves ao meio ambiente e que se revele
claramente excessivo em relação à vantagem militar global concreta que se
previa , é considerado crime de guerra segundo o Estatuto de Roma.

84. ( ) Atualmente, entende-se o dano ambiental transfronteiriço como sendo


aquele que tem sua origem no território de um Estado que projeta seus
efeitos negativos no território de um Estado vizinha, sem alcançar, contudo,
as áreas de domínio comum internacional.

Textos motivadores para a questões 85 a 89.

Audiência na Corte Interamericana de Direitos Humanos relacionados


ao Brasil
Nos próximos dias 30 de novembro e 1° de dezembro, será realizada em
São José da Cosa Rica, na Corte interamericana de Direitos Humanos,
audiência dobre o caso Damião Ximenes Lopes, portados de sofrimento
psíquico, faiecido em 4 de outubro de 1999, em ciínica privada
conveniada ais Sistema Único de Saúde, no município de Sobrai, estado
do Ceará.

239
Trata-se do primeiro caso relacionado ao Brasil a ser julgado pela Corte
interamericana de Direitos Humanos desde o reconhecimento brasileiro
da jurisdição obrigatória da Corte, em dezembro de 1998. Anteriormente,
a Corte havia decidido apenas pedidos de medidas provisórias, de
natureza cauteiar.
A delegação brasileira, durante sua participação na audiência, exporá o
andamento dós processos judiciais relativos à morte de Damião
Ximenes Lopes e os
Vários avanços ocorridos no sistema de atenção à saúde mental do
país, que passou a enfatizar os direitos humanos dos portadores de
transtornos mentais e sua não-internação, especialmente após a
aprovação e implementação da Lei n°10.216/2001. O município de
Sobral, onde ocorreram os fatos, é atualmente referência nacional em
políticas de saúde mental. A Rede integrada de Saúde Mentol de Sobrai
recebeu, me 2001, o Prêmio David Capistrano da Costa Filho de
Experiências Exitosas na Área de saúde mental e, em outubro deste
ano, o prêmio de inclusão Social- Saúde mental.

Medidas provisórias do complexo do Tatuapé da FEBEM/SP

No dia 17 de novembro, a Corte Interamericana de Direitos humanos


determinou, por solicitação da Comissão interamericana de Direitos
Humanos, medidas provisórias em favor dos adolescentes internos no
complexo Tatuapé da Fundação Estadual do Bem-Estar do menos do
Estado de São Paulo ( FEBEM/SP) e convocou o Estado brasileiro para
audiência pública sobre asa mencionadas medidas no dia 29 do
corrente.
Nota n°605, de 25/11/2005, do Ministério das Relações Exteriores (com
adaptações)

A partir dos textos acima, julgue os itens a seguir.


85. ( ) No caso do complexo Tatuapé da FEBEM/SP, as supostas vítimas,
seus familiares ou seus representantes devidamente acreditados podem
apresentar uma solicitação de medidas provisórias diretamente à Corte
interamericana de Direitos Humanos.

86. { ) No caso Damião Ximenes Lopes, uma eventuai exceção preliminar de


não-esgotamento de recursos internos deveria ter sido interposta pelo Brasil
na fase de admissibilidade da denúncia perante a comissão Interamericana
de Direitos Humanos, sem o que se presumiria a renúncia tácita, por parte do
Estado demandado, a esse meio.

240
Direito Internacional

87. ( ) No caso Damião Ximenes Lopes, a forma federativa do Estado


brasileiro não é causa de isenção de responsabilidade internacional do
estado do Ceará, o qual deve participar do processo perante a corte
Interamericana de Direitos Humanos como iitisconsorte da União.

88. ( ) No caso Damião Ximenes Lopes, os familiares ou seus representantes


devidamente acreditados podem apresentar suas solicitações, argumentos e
provas de forma autônoma, durante todo o processo, perante a Corte
Interamericana de Direitos Humanos.

89. Acerca do costume Internacional, julgue os itens subseqüentes:


( ) Uma regra costumeira internacional pode ser criada por vontade unilateral
de um Estado.
( ) O elemento material do costume Internacional revela-se exclusivamente
por meio do modo de proceder, necessariamente positivo, ante determinado
contexto, ao longo do tempo.
( ) Os Estados soberanos e as organizações internacionais são sujeitos de
direito internacional público reconhecidamente aptos a produzir regras de
costume internacional.
{ ) Segundo precedente da Corte internacional de Justiça, o transcurso de
um período de tempo reduzido não é necessariamente, ou não constitui em si
mesmo, um impedimento à formação de uma nova norma de direito
internacional consuetudinário.

90. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta.


I. O tratado internacional tem força de lei complementar, sendo superior ao
direito interno ordinário, exceto quando versar sobre direitos humanos,
quando será internalizado, sempre, com força de emenda constitucional.
II. Os tratados têm validade no Brasil apenas depois da respectiva aprovação
pelo Ministério das Relações Exteriores ou pelo Senado da República.
III. Apenas os embaixadores podem celebrar tratados.
IV. Não há hierarquia entre tratados, protocolos e convenções.
(a) Está correta apenas a assertiva IV.
(b) Estão corretas apenas as assertivas II e III.
(c) Estão corretas apenas as assertivas I, III e IV.
(d) Estão corretas todas as assertivas.

91. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta.


I. É juridicamente possível, no Brasil, a restrição de direitos dos brasileiros
com nacionalidade secundária por meio de tratados internacionais.

241
\
II. A extradição do brasileiro nato só é possível nos casos de crimes de tráfico
internacional de entorpecentes e de terrorismo, em razão dos respectivos
tratados de repressão a que aderiu a República Federativa do Brasil.
III. O estrangeiro tem garantia constitucional de não ser extraditado por crime
de opinião.
IV. O processo de extradição fica suspenso se, após seu início, o
extraditando optar pela nacionalidade originária brasileira, até que se
verifique o implemento da condição suspensiva, pela homologação da opção
no juízo competente.
(a) Está correta apenas a assertiva I.
(b) Está correta apenas a assertiva II.
(c) Estão corretas apenas as assertivas IS e 111.
(d) Estão corretas apenas as assertivas Hi e IV.

92. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta.


I. A formulação de pedido de naturalização, cujo exame pela administração
esteja atrasado, impede a deportação do estrangeiro com visto de
permanência vencido.
II. A naturalização pode ser requerida diretamente na Justiça Federal, em
procedimento de jurisdição voluntária.
III. O processo de naturalização somente se conclui com a entrega do
respectivo certificado ao estrangeiro, privativa de juiz federal.
IV. A naturalização extraordinária ocorre pelo simples implemento do prazo,
sendo dispensável qualquer procedimento administrativo para sua
consecução.
(a) Está correta apenas a assertiva I.
(b) Estão corretas apenas as assertivas 1e III.
(c) Estão corretas apenas as assertivas II e IV.
(d) Estão corretas apenas as assertivas II, III e IV.

93. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta.


I. Dá-se reenvio de 3o grau no caso de conflito de regras de Direito
Internacional que envolva quatro países.
II. Hipótese comum de conflito de regras de Direito Internacional ocorre
quanto ao foro competente para os inventários e partilhas de bens situados
no Brasil, pertencentes a estrangeiro.
III. São exemplos de regras de conexão ou elementos de conexão a lex
patriae (da nacionalidade), a lex loci actus (do local da realização do ato
jurídico), a lex voluntatis (escolhida pelos contratantes), a iex loci
ceiebrationis (do local da celebração do matrimônio).

242
Direito Internacional

IV. Para regular as relações concernentes aos bens, segundo as normas


brasileiras de Direito Internacional, aplicar-se-á a lei do pais em que
estiverem situados.
(a) Está correta apenas a assertiva II.
(b) Estão corretas apenas as assertivas I e III.
(c) Estão corretas apenas as assertivas II e IV.
(d) Estão corretas apenas as assertivas I, III e IV.

94. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta.


I. A posse de bens imóveis no Brasil garante ao estrangeiro o direito de visto
ou autorização de permanência.
II. A dispensa de visto ao turista estrangeiro natural de país que também
dispense o visto de turista aos brasileiros, é automática e independe de lei ou
tratado, decorrendo do direito de reciprocidade.
III. É possível ao estrangeiro domiciliado em cidade de país limítrofe, exercer
atividade remunerada no Brasil independentemente de visto de permanência,
mediante documento especial que o identifique e caracterize a sua condição,
podendo, inclusive, ser expedida carteira de trabalho e previdência social.
IV. O estrangeiro clandestino pode regularizar sua situação mediante a
transformação de seu visto expirado de turista em visto permanente segundo
juízo discricionário do Ministério da Justiça.
(a) Está correta apenas a assertiva III.
(b) Está correta apenas a assertiva IV.
(c) Estão corretas apenas as assertivas I e IV.
(d) Estão corretas apenas as assertivas I, II e III.

95. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta em relação à


Convenção sobre Direitos Humanos, de San José, da Costa Rica, de 22 de
novembro de 1969, de Estados Americanos.
I. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam
abolido, nem aplicá-la por delitos políticos nos Estados que a admitam.
II. A lei pode submeter os espetáculos à censura prévia com o objetivo
exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral da infância e da
adolescência.
III. As garantias contra a restrição à livre manifestação e à livre difusão do
pensamento dispensam autorização estatal para o funcionamento de
emissoras de rádio.
IV. A expulsão de estrangeiros, isolada ou coletivamente, só se pode dar por
decisão de autoridade judiciária ou administrativa e nos termos de permissivo
legal.

243
(a) Estão corretas apenas as assertivas I e II.
(b) Estão corretas apenas as assertivas I e III.
(c) Estão corretas apenas as assertivas lli e IV.
(d) Estão corretas apenas as assertivas II, III e IV.

96. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta.


I. A concordância do extraditando em retornar ao seu pais dispensa o
controle da legalidade do pedido de extradição.
II. Crimes perpetrados com o apoio oficial do próprio aparato governamental,
à semelhança do que se registrou no Cone Sul com a adoção, peios regimes
militares sul-americanos, de terrorismo de Estado, não se incluem no
conceito de crimes políticos de molde a evitar a extradição.
III. A extradição não será concedida, peta vedação ao bis in idem, se, pelo
mesmo fato em que se fundar o pedido extradicional, o súdito reclamado
estiver sendo submetido a procedimento penai no Brasil, ou já houver sido
condenado ou absolvido pelas autoridades judiciárias brasileiras.
IV. Compete ao Supremo Tribunal Federal o exame dos pedidos de
extradição ativa e passiva.
(a) Estão corretas apenas as assertivas I e II.
(b) Estão corretas apenas as assertivas II e III.
(c) Estão corretas apenas as assertivas I, lil e IV.
(d) Estão corretas apenas as assertivas II, III e IV.

244
Direito Internacional

GABARITO

0 1 -C
0 2 -B
03-A
04-A
05-B
06-D
07-D
08-A
09-D
1 0 -A
11- D
12-B
13-A
14- A
15-C
16-B
17-B
18-C
19-A
20-D
2 1 -A
22-D
23-C
24-B
25-C
26-A
27-C
28-D
29-B
30-D
31-C
32-B
33-B

245
34-B
35-C
36-B
37- B
38-D
39-B
40- A
41-C
42-D
43-C
44-A
45-C
46-D
47-A
48-D
49-E
50-D
51-E
52-A
53-D
54-A
55-E
56-A
57-E
58-C
59-B
60-D
61-E
62-C
63-C
64-D
65-A
66-A correta, B correta, C correta, D errada, E errada.
67-A errada, B errada, C correta, D errada, E correta.
68-A correta, B correta, C errada, D errada, E correta.
69-A correta, B errada, C correta, D errada, E errada.
70-D
71-C
72-D
73-B
74-A

246
Direito Internacional

75-correta
76-errada
77-correta
78-correta
79-correta
80-errada
81-correta
82-errada
83-correta
84-errada
85-errada
86-correta
87-errada
88-certa
89-A errada, B errada, C correta, D correta.
90~A
91-D
92-B
93-D
94-A
95-A
96-Anulada

247

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