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Minha Primeira Pedagoga

Em 69, eu ainda não havia ingressado na Escola Classe (Pública), mas tínhamos uma pedagoga
que ensinava seus irmãos à alfabetização preliminar aos seus irmãos. Como convivia muito na
casa deles, eu me dispus a aprender também. De inicio tive que me familiarizar com as
sonoridades das vogais e consoantes, o que eu gostava e aprendia com facilidade. Depois veio
o pior que era o disciplinamento de escrever no caderno de caligrafia. Ainda criança, minha
coordenação motoro não era das melhores. Volta e outra eu me assustava com o método dela
da Palmatória e me contorcia de medo de ser alvejado com a força dela nas mãos dos pobres
irmãos que sofriam pelas indisciplinas e falta de atenção aos exercícios do Quadro Negro. Já
tive a infeliz oportunidade de sentir nas mãos a fúria de sua metodologia de ensino e passava
dias com as mãos inchadas. Vivíamos a Ditadura e a Palmada era o “corretivo”, talvez, por isso,
essas tais memórias. Seu nome era Edizeth, anos depois, ela conseguiu com perseverança
muda-lo judicialmente para Kathia. Passei nos anos 70 a ser auxiliar dela. Na verdade, ela me
“contratou” pra eu fazer a faxina de seu quarto, pois era uma mulher independe adversa à
família. Ganhava uns trocados ao final do mês que me deixava muito feliz. Com ela aprendi
gostar de MPB. Ouvia incansavelmente. Percebia uma semelhança no que via na capa dos LPs
(disco de vinil) de Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gal Costa (Seus Ídolos) e seus cachos
encaracolados, libertando-se desta cultura da beleza. Ela tinha gestos semelhantes ao de
Maria Bethânia, no qual demonstrava sua forte personalidade e discreta sensualidade, apesar
de feia.

Ela era exigente. Odiava quando me mandava refazer o que eu achava que estava bom.
Depois, minha adolescência seguia sua rebeldia e me libertei das exigências dela. Kathia
continuou seguindo o curso da vida, formou-se em enfermagem e continuou uma mulher
independente com bom gosto musical e sem homens para dizer que era deles. Quando me
ingressei na Escola Classe aos 7 anos, vi pouca diferença da metodologia do castigo. Muito
imperativo e de personalidade reativa já cheguei a ficar oras em pé na quina da sala e ou às
vezes de joelhos sobre grãos de milho. Meus pais achavam tudo normal. Estes relato é in
memoriam a Kathia. Que Deus a tenha. Por Fernando Rocha

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