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Os narradores invisíveis
POR GIOVANNA ZOBOLI | 27 DE FEVEREIRO DE 2017 | RESENHAS |
Últimas
As palavras
inventadas
:a
A primeira coisa que vemos, neste livro sem palavras, Fiume lento brincadeir
(rio lento)1, de Alessandro Sanna, são as palavras de Ermanno Olmi: a, o
inesperado
Não se deve espalhar palavras indiferentemente sobre uma folha em eo
branco quando não são necessárias. Como neste caso, em que as palavras maravilha
são outras, feitas de signos diferentes, onde a palavra escrita é mento
POR
completamente estranha a uma narração feita apenas por imagens. ALESSANDRA
Seguramente, naquelas representações narrativas de homens e paisagens, STARACE
Projeto
Pequenos
Leitores
POR SANDRA
MAYUMI
MURAKAMI
MEDRANO
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Assim como são as palavras sempre a fechá-lo: palavras de Sanna, que explica ASSINAR
como este conto sem palavras tomou forma. Poder-se-ia cair na tentação de
considera-las desnecessárias, tomando-se literalmente a advertência de Olmi:
Não se deve espalhar palavras indiferentemente sobre uma folha em branco
quando não são necessárias. Mas seria um erro passar por cima da vontade do Seja amigo da
autor e da re exão do diretor que desejaram aquelas palavras. Emília
Nós da Emília
somos
apaixonados por
livros e leitura.
Se você nos
acompanha e é fã
de nosso projeto,
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ajude a mantê-lo
vivo!
Em breve!
Neste sentido, devo dizer que Fiume lento é útil para re etir sobre narrativas. No
que se refere a mim, este livro me fez lembrar de Vite sbobinate e altre vite
(Vidas “transcritas” e outras vidas), de Alfredo Gianolio, editado por Quodlibet,
2013, um livro de contos sem imagens.
Quodlibet é uma editora que há muitos anos vem re etindo sobre a narrativa
e os modos de contar, através de sua coleção Compagnia Extra, que publica
ensaios, romances, contos de diversos autores, como Gianni Celati, Paolo
Nori, Ugo Cornia, Daniele Benati, Franz Kafka, Luigi Ghirri, Dino Baldi, Paolo
Morelli, Delio Tessa, para mencionar só alguns. A coletânea de Gianolio
inscreve-se nesta linha. Compagnia extra, de fato, poderia trazer-nos à mente
um certo número de pessoas que, em pequenos grupos ou até caminhando
sozinhas, contam coisas a si mesmas.
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Alfredo Gianolio é um
advogado de Reggio Emilia,
nascido em Suzzara, para além
do Rio Po, na Província de
Mantova. Colaborou com
Cesare Zavattini, escritor que,
dos pintores naïf que vivem ao
longo do Po, dizia: Se é
verdade que pintam sem saber
pintar é também verdade que
possam escrever sem saber
escrever.
Para ajudá-los a entender melhor estes 37 magní cos contos, re ro um trecho
da entrevista a Alfredo Gianolio, Fra Zavattini arte naif e Resistenza (Entre
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Alguns meses atrás o senhor pubicou as suas “Vite sbobinate e altre vite”
que se referem ao seu relacionamento com Zavattini.
Nos tempos do “Bollettino dei Naïf” eu tinha sentido a necessidade de
conhecer o que estava por trás dos quadros destes pintores e me
coloquei em contato com eles às margens do Rio Po, escutando e
gravando suas vozes: nasceram assim as “nastrobiogra as” das quais
surgiu uma interessante peculiaridade humana e social. O “Bollettino”
fechou e a experiência parecia terminada. Mas há alguns anos o escritor
regiano Daniele Benati, amigo de meu lho Aldo, convidou-me para
participar da redação do Almanacco delle prose. Il Semplice (Almanaque
das prosas. O Simples), editado pela Feltrinelli. Aqui tive como mestres
também Celati, Cavazzoni, Nori, Cornia. Alarguei minha pesquisa em
direção às pessoas “normais”, convencido de que todos, no fundo de sua
consciência, são naïf, inclusive os diretores de Banco. É que a “naï dade”
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A falta de palavras em Fiume lento, penso, deve ser lida como algo parecido.
Um prescindir de…, uma incompletude proposital, uma ausência que traz à tona,
de bem fundo, o sentido do conto e permite que ele escorra com um ritmo
próprio, natural. Assim, na verdade penso que a coerência entre “conteúdo” e
“forma” neste caso seja total e nesta coerência consiste a verdadeira força deste
livro. Creio até que Sanna esteja fortemente conectado a esta ideia de conto não
autoral, de narração oral e anônima, imperfeita, patrimônio de todos, não
obviamente porque não seja capaz de desenhar (se existe um autor em quem
esta capacidade é indiscutível é justamente ele). E acredito que o igualitarismo
ético, social e político de que fala Zavattini pertence fortemente à dimensão
narrativa de Fiume Lento, não apenas pelos conteúdos reconhecíveis nele (a
enchente, o nascimento do bezerrinho, a festa, etc), mas pelo modo em que tais
conteúdos tomam forma.
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Eu sou Renato Zattelli, mas me chamam Tirri. Vivi com meus avós porque
minha mãe se casou de novo. Meus avós eram de Sanata Vittoria di
Gualtieri e me educaram como um senhor importante, até demais.
Quando fazia a escola primária (terceira série), minha professora viu um
desenho meu no caderno e me mandou que o mostrasse em todas as
classes, então quer dizer que tenho o desenho no sangue”. (do conto de
Elena Guastalla).
Sou o lho de Cleonice Monterivi e Giuseppe Spaggiari, que eram os
tesoureiros da cooperativa de consumo de Pratofontana. Me chamo Ivo mas
uso o nome artístico de Pantaleão, o santo protetor de Codemondo, onde
vivi por muito tempo.
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Estes são alguns dos incipits destes contos: vozes que saem das páginas, como
memórias das paredes, dos objetos, das roupas. Vozes cantantes, sem corpo.
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Nota
1. Fiume lento venceu o Premio Andersen 2014 como melhor livro ilustrado. A entrega
do prêmio a Alessandro Sanna aconteceu no dia 24 de maio em Genova, durante a
cerimônia que aconteceu no Museu Luzzati.
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