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[...] Assim, em 1916, João Luiz Alves, futuro ministro da Justiça e do STF, publica na
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro um estudo detalhado, e até hoje
citado, sobre o assunto. O livro The Abolition of the Brazilian Slave Trade (1970), de
Leslie Bethell, amplia tal abordagem, situando pela primeira vez o tráfico brasileiro no
contexto da Pax Britannica. Comparando o Brasil com Cuba e com outras zonas de
tráfico, e explorando mais intensamente os registros britânicos, David Eltis (Economic
Growth and the Ending of the Transatlantic Slave Trade, 1987) retomou dados de Bethell
e corrigiu para cima as cifras de Goulart e Curtin sobre o tráfico brasileiro da primeira
metade do século XIX. p.57
Além disso, os registros escondem certas fraudes. Assim, na época filipina (1580-1640),
para pagarem um imposto de exportação mais baixo, negreiros saídos de Bissau ou de
Luanda declaravam os portos brasileiros como destino mas rumavam para as Antilhas ou
Buenos Aires, onde os preços dos escravos eram mais altos e havia contrabando de prata
espanhola. p.58
Para entender essas cifras, convém examinar melhor as redes de trocas ligando os portos
brasileiros aos africanos. Basicamente, os africanos chegados ao Brasil vieram de duas
áreas principais. A primeira, formada pela baía de Benim e pelo golfo do Biafra, origem
de 999600 indivíduos desembarcados, e a segunda, situada no Centro Oeste africano, e
sobretudo em Angola, de onde saíram 3,656 milhões de indivíduos (75% do total dos
desembarques). p.59
No total, a rede de tráfico baseada no Rio de Janeiro tem maior preeminência econômica
e política no país, embora o eixo Bahia-Benim tenha grande destaque cultural no passado
e no presente das relações entre a África e o Brasil. p.62