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A ESCRAVIDÃO AINDA EXISTE NO


BRASIL?
Veja como funciona a escravidão moderna no Brasil e no mundo.

O regime escravocrata desempenhou importante in uência sobre a estrutura social do


Brasil, onde a escravidão durou cerca de 300 anos e foi abolida através da Lei Áurea em
1888. Isso quer dizer que não existe mais escravidão no país?
Não exatamente! Mesmo que o trabalho escravo tenha sido banido no Brasil e em quase
todos os países do mundo, ele continua a atingir muitas pessoas. Con ra de que forma a
chamada escravidão moderna acontece na sociedade brasileira e que medidas têm sido
adotadas para combater o problema.

Con ra também: o que são direitos humanos?

O QUE SIGNIFICA ESCRAVIDÃO MODERNA?


A expressão “escravidão moderna” é usada para designar as relações de trabalho em que
pessoas são forçadas a exercer uma atividade contra a sua vontade mediante formas de
intimidação, como ameaça, detenção, violência física ou psicológica.

A escravidão moderna é diferente da escravidão antiga, praticada no Brasil durante os


períodos colonial e imperial. A principal diferença é que, no período da escravidão antiga,
a lei permitia que uma pessoa fosse propriedade da outra, um objeto que poderia ser
negociado em troca de dinheiro. Hoje, o Código Penal Brasileiro proíbe que uma pessoa
seja tratada como mercadoria.
Outra distinção é que os custos para adquirir um escravo eram mais altos antes, quando
ele precisava ser comprado. Hoje, as pessoas em situação de escravidão são geralmente
aliciadas e muitas vezes o patrão gasta apenas com o transporte até a propriedade.

Por último, a mão de obra escrava nos tempos coloniais e imperiais era determinada por
características étnicas: os escravos eram negros ou indígenas. Hoje essa característica
tem menor importância, são escravizadas as pessoas em situação de pobreza e miséria.

O que existe de semelhança entre os dois períodos são as medidas intimidadoras e


punitivas aplicadas às pessoas em situação de escravidão.

Atualmente, a escravidão atinge mais de 45,8 milhões de pessoas em todo o mundo. É o


que diz o Índice Global de Escravidão, publicado em 2016 pela Fundação Walk Free, da
Austrália. A organização de ne a escravidão como “uma situação de exploração da qual
não se consegue sair porque está sob ameaça, violência, coerção ou abuso de poder”.

Como principais tipos de trabalho que empregam mão de obra escrava, a Walk Free
aponta:

a indústria da pesca, onde milhares de pessoas são forçadas a trabalhar em barcos de


pesca, podendo permanecer anos sem ver a costa. As vítimas desse tipo de trabalho
relatam que quem é pego tentando escapar pode ser morto ou lançado ao mar;

trabalhos vinculados às drogas, que empregam inclusive trabalho escravo infantil;

exploração sexual, que faz cerca de 4,5 milhões de vítimas, sendo uma a cada quatro
delas menor de idade;

o relatório aponta ainda que muitas crianças ao redor do mundo são obrigadas por
criminosos a pedir esmolas nas ruas;

grande parte da escravidão moderna acontece em propriedades particulares como


casas e fazendas, longe da visão do público.

A grande maioria das pessoas nessa situação é atraída por falsas promessas de emprego e
melhoria de vida. Contudo, acabam sendo levadas a lugares isolados, onde têm seus
documentos retidos e são atrelados a uma dívida, que deve ser quitada com “trabalho
gratuito”.
Segundo a Fundação Walk Free, a pobreza e a falta de oportunidades desempenham
importante papel no aumento da vulnerabilidade das pessoas à escravidão moderna.
Outros fatores contribuintes além das desigualdades sociais são a xenofobia, o
patriarcado e a discriminação de gênero.

Ainda hoje, o trabalho escravo é caracterizado por mortes e castigos físicos, alojamentos
sem redes de esgoto ou iluminação, sem armários ou camas, com jornadas de trabalho
superiores a 12 horas diárias, sem alimentação, sem água potável e sem equipamentos de
proteção.

Leia mais: a história dos direitos do trabalho

PANORAMA DA ESCRAVIDÃO MODERNA


NO MUNDO

A escravidão moderna existe em todas as partes do mundo, seja em países desenvolvidos


ou não, gerando por ano um lucro de cerca de 150 bilhões de dólares, o equivalente à
soma dos lucros das quatro empresas mais rentáveis do mundo. A maior parte desse
lucro é gerada em países desenvolvidos e na União Europeia.

Boa parte das 45,8 milhões de pessoas em situação de escravidão ao redor do


mundo estão localizadas na Ásia. No relatório da Walk Free de 2014, as estimativas
apontavam 35,8 milhões de pessoas vivendo nessa situação.

Do total de pessoas em trabalhos forçados no ano de 2016, 58% vivem em cinco países:
Índia, China, Paquistão, Bangladesh e Uzbequistão. Somente na Índia, a escravidão atinge
18,4 milhões de pessoas. Já em Bangladesh, existem 1,2 milhão de pessoas em situação
de trabalho forçado.

Apesar dessas cinco nações serem as que possuem maior número de pessoas em situação
de escravidão, elas não são necessariamente os países com maior proporção da
população em trabalhos forçados.

Estes são a Índia, com 1,4% da população em situação de escravidão, o Uzbequistão com
4% da população nessa situação, o Camboja, que apresenta 256,8 mil pessoas em
escravidão ou 1,6% da população, o Catar com 30,3 mil pessoas ou 1,4% da população, e
por m a Coreia do Norte, que embora seja de difícil veri cação, evidências apontam que
o próprio governo submete pessoas a sanções de trabalho escravo. O número de escravos
no país norte-coreano é de 1,1 milhão, equivalentes a 4,4% da população.

Entre os motivos que mais levam pessoas ao trabalho forçado nesses países está a
indústria de algodão no Uzbequistão, onde o próprio governo força o trabalho nas
colheitas; a exploração sexual e mendicância forçada no Camboja; e na Índia há
prevalência de trabalho forçado nos setores de construção, agricultura, trabalho
doméstico e exploração sexual.

Do total de pessoas submetidas a escravidão no mundo, 2,16 milhões estão na América


Latina. Os países com maior número de escravos são Guatemala, México, Chile,
República Dominicana e a Bolívia. Entre os setores que mais empregam mão de obra
forçada nessas regiões estão o trabalho manual, como a construção, trabalho em fábricas
e domésticos.

Con ra: a história do movimento negro

COMO A ESCRAVIDÃO MODERNA AFETA O


BRASIL?
De acordo com o último relatório da Fundação Walk Free, o Brasil possui 161,1 mil
pessoas em trabalho escravo. Em 2014, o número de pessoas nessa situação era 155,3
mil. Apesar do aumento, a Fundação considera que o país ainda apresenta uma baixa
incidência, quando comparado com outras nações, atingindo 0,078% da população. Nas
Américas, o Brasil só não possui incidência menor que os Estados Unidos e o Canadá.

A exploração no Brasil é mais concentrada nas áreas rurais, especialmente no cerrado e


na Amazônia. Entre as 936 pessoas em situação de exploração resgatadas em 2015, a
maioria era de homens entre 15 e 39 anos, com baixo nível de escolaridade e que
migraram dentro do país em busca de melhores condições de vida.

Apesar do Brasil possuir graves problemas em relação à escravidão, o presidente e


fundador da Walk Free, Andrew Forrest, aponta que o país mostrou um grande avanço ao
divulgar a “Lista Suja”, contendo as empresas nacionais multadas na Justiça pela
utilização de trabalho escravo. Forrest indica o Brasil como pioneiro na iniciativa.

Mas esse avanço tem sido bastante ameaçado nos últimos anos. Uma série de disputas
judiciais fez com que a divulgação da lista fosse adiada diversas vezes desde 2014,
quando uma ação da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc)
questionou a lista suja no Supremo Tribunal Federal (STF). A divulgação voltou a ser feita
somente em março de 2017.

Leia também: a evolução dos direitos humanos no Brasil

O BRASIL TEM AVANÇADO NO COMBATE


AO TRABALHO ESCRAVO?
Dados do Ministério do Trabalho mostram que nos últimos 20 anos, quase 50 mil pessoas
foram libertadas no Brasil por ações dos grupos móveis de scalização. Esses grupos são
equipes compostas por auditores scais, procuradores do trabalho e policiais scais ou
rodoviário federais e atuam desde 1995 na scalização do trabalho forçado.

A participação da escolta policial é necessária desde a Chacina de Unaí em 2004, quando


quatro funcionários do Ministério do Trabalho foram mortos em uma emboscada quando
investigavam uma denúncia de trabalho escravo em fazendas da região.

A cada dia, em média cinco pessoas em trabalho forçado são libertadas no Brasil. Os
estados com maior número de resgates nos últimos cinco anos foram Minas Gerais (2 mil
resgates), Pará (1.808), Goiás (1.315), São Paulo (916) e Tocantins (913).

Os resgates ocorrem principalmente após denúncias feitas por trabalhadores, que


procuram principalmente ajuda da Comissão Pastoral da Terra, dos sindicatos e das
cooperativas, já que existe um receio de envolvimento das autoridades locais com os
patrões.

O maior número de libertações acontece em áreas urbanas (56%), apesar do trabalho


escravo ainda ser muito associado à área rural. O trabalho forçado em regiões urbanas
cresceu principalmente pelo aumento de grandes obras no país.

Apesar dos avanços, a principal di culdade do Brasil hoje está no combate ao aliciamento
dos trabalhadores, mesmo com a criação do Programa Marco Zero, lançado em 2008 pelo
Ministério do Trabalho.
O Código Penal brasileiro prevê em seu 149º artigo, uma punição de dois a oito anos de
reclusão e multa para quem “reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer
submetendo a trabalhos forçados ou a jornadas exaustivas, quer sujeitando a condições
degradantes de trabalho, quer restringindo por qualquer meio a sua locomoção em razão
de dívida contraída com o empregador ou preposto”.

Como ações que caracterizam o trabalho escravo, o Código Penal cita:

cercear o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador com o m de


retê-lo no local de trabalho;

manter vigilância ostensiva no local de trabalho;

se apoderar dos documentos pessoais do trabalhador, com o m de retê-lo no local de


trabalho.

Além disso, a lei estabelece também um aumento de metade da pena se o crime for
cometido contra criança ou adolescente, ou ainda se motivado por preconceito de raça,
cor, etnia, religião ou origem.

Se durante as blitze de scalização for con gurado trabalho escravo pelos auditores
scais, os trabalhadores são libertados e os empregadores são obrigados ainda a pagar
todos os direitos trabalhistas devidos. Estima-se que já foram pagos 86 milhões de reais
em indenizações aos quase 50 mil trabalhadores libertados no Brasil.

Para auxiliar as pessoas libertadas do trabalho escravo, desde 2002 uma lei concede a
esse trabalhador o direito a três parcelas do “Seguro Desemprego Especial para
Resgatado”, sendo cada parcela no valor de um salário mínimo.

Além disso, um acordo de cooperação entre o Ministério do Trabalho e o Ministério do


Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) prevê acesso prioritário desses
resgatados ao programa Bolsa Família.

Há ainda em vigor no país o 2º Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo,


elaborado pela Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae),
formada por por diversas instituições governamentais, internacionais e da sociedade
civil, onde buscam realizar ações para combater e prevenir o trabalho escravo no Brasil.

Por m, uma nova mudança é a tramitação no Senado de uma Proposta de Emenda


Constitucional (PEC) para tornar imprescritível o crime de submissão de alguém ao
trabalho escravo. A proposta foi apresentada pelo senador Antônio Carlos Valadares
(PSB-SE) e aguarda indicação de relator na Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania.

E você, acha que o Brasil pode melhorar o combate ao trabalho escravo? Opine!

Fontes: BBC– Brasil Escola – G1: 46 milhões vivem em regime de escravidão – 5o For


Freedom – Época Negócios – Estado de S. Paulo – Senado Federal – Jornal do Brasil –
Agência Brasil – Ministério Público do Trabalho – G1: trabalho escravo existe?

Publicado em 14 de junho de 2017.

Isabela Souza
Estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e
assessora de conteúdo do Politize!.

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9 Comments Sort by Top

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Camila Caldas
Conteúdo muito explicativo,obrigada!Notei que a maioria das medidas para tentar
solucionar esse problema,infelizmente, é voltada para as consequências,se houvesse
mais medidas focadas nas causas,talvez os resultados poderiam ser melhores.
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Alicy Monteiro Matozinho


o brasil esta num bom caminho, porem, é necessário que os fiscais também se façam
vigilantes nos grandes centros urbanos
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Genecy Gomes
Muito bom. ajudou demais..
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Eduardo Mesquita
Muito bem escrito o conteúdo, como também, é muito ruim saber dessa situação que é
tão mascarada.
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Norma De Mello Massa


GOSTEI MUITO DE TOMAR CONHECIMENTO DOS DIVERSOS MEIOS QUE EXISTEM
PARA COMBATERMOS NÃO SÓ O TRABALHO ESCRAVO MAS TAMBÉM O ABUSO AO
TRABALHADOR. VOU ACOMPANHAR SEUS COMENTÁRIOS.
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Reinaldo MartinsSeraphim
PODERIA TE UMA LEI QUE CONFISCACE OS BEM ADEQUERIDOR ATRAVES DO
TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL!
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Romanti-Ezer Gomes Dos Santos


Gostei muito da publicação, e acho que devemos continuar a expor esse tipo de tema
por diversos motivos, como para lembrar as pessoas de que isso existe, que devemos
tomar cuidado com algumas "oportunidades" oferecidas e prestar mais atenção nos
trabalhos das pessoas que nos cercam, para eventualmente fazer denúncias.
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Cleber Leao
Parece que o sucesso do trabalho escravo depende da falta de opção do trabalhador e
da falta de concorrentes do empreendimento criminoso. Assim fico interessado em
saber onde encontrar mais informações sobre os trabalhadores e essas empresas.
Para entender em que termos esse modelo de negócio é viável e como as campanhas
de combate estão agindo.
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Politize
Olá Cleber. As empresas que empregam mão de obra escrava no Brasil
aparecem na "Lista Suja", do Ministério do Trabalho. Segue o link com a lista
divulgada no início do ano, referente a 2016: http://bit.ly/2tFT8Lr. Sobre as
campanhas de combate, algumas são organizadas pelo próprio Ministério do
Trabalho. Você pode conferir aqui: http://bit.ly/2rwzAsl. Espero que tenha lhe
ajudado!
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Valeria Borges
Politize A Repórter Brasil é uma das Ongs mais sérias que conheço que trata
sobre esse tema aqui no Brasil.
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Konrado Pfisterer
Admiro muito suas publicações, super show. Mas, desta vez preciso dizer, foi fraca.
Especialmente abordando um tema tão especial e importante como esse.
Pergunto,
Condicionar justificando salário de minimo R$937,- significa o que? Quando 1 mínimo
de independência está por volta de uns 3.000 Reais? Escravidão moderna condicionada
por países consumidores. E mantida aqui por influentes e corruptos.
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Politize
Konrado, agradecemos a interação. Poderia detalhar um pouco mais seu
feedback, para que possamos entender como melhorar nosso conteúdo?
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