Você está na página 1de 16

SISTEMÁTICA I – (TEOLOGIA PROPRIAMENTE DITA – DOUTRINA DE DEUS)

INTRODUÇÃO
Entender a problemática de Deus ou falar sobre Deus é um processo que se realiza às apalpadelas, tateando-
se; isso por mais forte e segura que seja a convicção de quem Dele fala.
Deus jamais será demonstrado (entendido) empiricamente, Ele não se oferece como objeto de
demonstração. O homem de hoje crê que, se há Deus, se Deus é Deus, este não pode ser alguém que negue ao
homem a sua liberdade, não pode ser um Deus disponível, adaptável às necessidades humana; nem um Deus útil,
que pudéssemos utilizar justamente para suprir nossas deficiências e falhas, ou para justificar nossos atos e nossos
empreendimentos. Se Deus é Deus, ele tem de ser um Deus livre, que respeite a liberdade e o desejo do homem de
ser o que quiser no mundo, um Deus que não seja útil ao homem. Assim, Deus para o homem de hoje, é um Deus
não manipulável pelo homem, um Deus que não sirva de caução (penhor) a dominações e opressões do homem pelo
homem, um Deus livre para homens livres que constroem sua própria história.

1. A revelação de Deus á dada por Deus. Sem a revelação, o homem nunca seria capaz de adquirir qualquer
conhecimento de Deus. E, mesmo depois de Deus ter-se revelado objetivamente, não é a razão humana que
descobre Deus, mas é Deus que se descerra aos olhos da fé. Contudo, pela aplicação da razão humana santificada ao
estudo da Palavra de Deus, o homem pode, sob a direção do Espírito Santo, obter um sempre crescente
conhecimento de Deus. Portanto, qualquer conhecimento que o homem possa ter sobre Deus, ele obteve por
revelação. Se não fosse assim, ninguém jamais de si mesmo poderia conhecer a Ele, visto que o Senhor é um ser
transcendente, ou seja, embora Deus seja real, contudo é invisível, “escondido”, e vive numa dimensão não
perceptível aos seres humanos.
Em seguida veremos sobre a revelação geral natural, onde o Criador se faz revelar (1) natureza, (2) na
consciência do homem, e (3) na História ou governo providencial do mundo. Após vermos alguns pontos sobre essa
revelação geral, veremos sobre a revelação especial ou sobrenatural, que consiste na revelaçõ de Deus através da
Escrituras, da Pessoa de Jesus e do Espírito Santo.

2. Deus revelou-se ao homem de um modo geral ou natural. O cubano naturalizado americano, Justo González
(2008, p.51), ao escrever sobre a revelação natural, afirma que não apenas a própria “natureza física nos dá, pelo
menos, algum indício da existência e caráter de Deus, mas também a natureza humana” revela um Deus existente.
Todavia, um crer na existência de Deus baseado apenas na “observação da natureza por si mesma pode levar a
conclusões religiosas muito diversas, e essas conclusões pode ter consequências muito funestas para a vida
humana”, como age “os panteístas, como os hindus” (p.52). O que González quer dizer é que, se o homem firmar
sua crença em Deus apenas na observação da Criação, como sol, a lua, as estrelas e tudo amais, ele poderá cair na
armadilha satânica do panteísmo, crença que afirma que tudo que existe é Deus, como fazem os praticantes do
hinduísmo, religião que adoram 330 milhões de deuses. E, como a Bíblia, a revelação escrita de Deus, só ficou
completa, milhares de anos após a queda do homem, “desde tempos antiquíssimos, diversos povos – entre eles
Israel – têm insistido em que para ver Deus adequadamente na natureza, deve haver outra chave. Essa chave não se
encontra na própria natureza. Mas na história” (idem, p.52).

2.1. A existência de Deus se revela nas coisas criadas. A revelação de Deus é vista na criação ou natureza, ou
melhor, no mundo físico, como atesta Davi: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras
de suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Sem linguagem, sem
fala, ouvem-se as suas vozes” (Sl 19.1-3)”. Ao olharmos atentamente para os variados objetos que Deus trouxe a
existência na Criação, causa-nos espanto e ao mesmo tempo um fascínio indescritível da maravilhosa ciência
exposta diante de nossos olhos. Tanto o globo Terra com tudo que nele há, como no espaço sideral, de acordo com
astrônomos que a tudo observa e relata, independente de ser seus comentários ateístas ou teístas, a grandeza de Deus
e Seu extraordinário poder e bondade são expressas nas coisas criadas por Ele. Nós os seres humanos temos a
responsabilidade de olhar atentamente e “ver” quão grande é o Criador, nas coisas grandes e minúsculas, e até
aquelas que só se sabe através de anos e anos de estudo. Ao registramos fatos na Natureza, deixaremos de fora
muitíssimas coisas existentes, que se tem notícia, que causa espantosa admiração, para citarmos apenas algumas
poucas maravilhas que Deus criou e as preserva. Comecemos pelo Cosmo.

2.1.1. O Cosmo. A Terra, é o terceiro a partir do Sol. Este comanda majestosamente nosso sistema solar que tem
oito planetas principais girando em torno dele. Já por sua vez, esse nosso sistema solar faz parte da chamda “Via
Láctea”, que segundo Hunt, (2012, p.11) “As estimativas variam entre “100 a 500 bilhões de outros sóis em nossa
própria galáxia”. Isso quer dizer que, a Via Láctea, é maior que nosso sistema solar de cem a quinhentos bilhões de
vezes. Essa é uma imensidão tão extensa que o escritor acima registra que se fosse construída uma nave espacial,
1
cuja rapidez de cruzar o espaço fosse a da velocidade da luz (300.000 de quilômetros por segundo), “ainda assim
levaríamos 100.000 anos para atravessar nossa galáxia e 250.000 anos para contorná-la” (Idem, p.25).
Agora imagine, se você acha que o nosso sistema solar é grande, pense na nossa Via Láctea com bilhões e
bilhões de sistemas solares. Agora quero você pense ainda mais, “Estima-se que hoje exista pelo menos um
trilhão de galáxias, com suas centenas de bilhões de trilhões de estrelas” (Idem, p.208).
Como se poderia medir tamanha imensidão? Ora, como já foi dito acima, a medidas são feitas a partir da
velocidadae da luz. Assim, de cientistas para cientistas para se atingir, a última fronteira, como é chamado os limites
do Univeso, de acordo com os números mais altos, seria necessário que aluz viajasse uns quarenta bilhões de anos.
E isso, a partir de nosso planeta Terra. Para aqueles cujas estimativas são bem menores, de nossa terra para qualquer
lado que a luz viaje, levará uns 14 bilhões de anos. Ou melhor. Se nós pudéssemos viajar a velocidade da Luz,
saírimaos de noso planeta Terra hoje, só atingiríamos qualquer “última fronteira”, para qualquer lado que nos
dirigíssimos entre 14 a 40 bilhões de anos-luz.

2.1.2. A revelação de Deus através da vida dos insetos. Sobre um inseto denominado o escaravelho de “Staghorn”
ou “Chifrudo”. Enquanto a fêmea desse tipo de escaravelho não tem chifres, o macho, contudo, na idade adulta tem
chifres que atinge o dobro de seu corpo. Conforme Pearlman (1987, p.34), “No estágio larval, eles enterram-se a si
mesmos na terra e, silenciosamente, esperam na escuridão pela sua metamorfose. São naturalmente meros insetos,
sem nenhuma diferença aparente e, no entanto, um deles escava para si um buraco duas vezes mais profundo do que
outro. Por quê? Para que haja espaço para os chifres do macho se desenvolverm com perfeição”.
O acasalamento da abelha rainha. De acordo com o Professor Minham (1957, pp.87-88), na Primavera,
depois de uma semana de nascida, a abelha rainha “faz a sua primeira saída da colméia” para seu voo nupcial. Não
se sabe como, porém, os machos, antes que a abelha alce voo, vem de todos os lugares, por mais longe que estejam
para ser o escohido daquela “inexperiente” e virgem abelha. Todavia, só um deles poderá ser o macho escolhido
pela abelha rainha para o acasalamento. Ela escolherá o mais forte entre eles; e ela sempre acerta. “Ela faz passar
por uma prova a todos os seus pretendentes. Logo que se ver rodeada por um número respeitavel de zangões, ou
machos, lança-se para cima e, à mediada que sobe para o céu, os concorrentes vão-se tornando menos numerosos.
Todos os fracos, um após outro, abondonam o caminho. Breve não ficarão mais que cinco... depois apenas um que é
eleito esposo” (Idem).

2.1.3. O funcionamento do corpo humano. Sobre os ógãos digestivo, Minham (1957, p.199), diz que quando o
alimento, que ingerimos chega ao estômago, já bastante triturado e impregnado de saliva, conhecido como bolo
alimentício, ali “As glândulas secretoras produzem suco gástrico que há de impregnar os alimentos, e por meio da
pepisina o bolo alimentício sofre uma segunda transformação, a passa a chamar-se – quilo”. Então o professor
afirma: “Os sucos que contribuem para as operações quimicas e transformam os alimentos em materias assimilaveis
são: – a saliva, que digere as féculas, transformando-as em açúcares ou glicose. O suco gastrico segregado pelo
estômago, atua sobre os albuminóides, convertendo-os em peptomas; o suco pancreatico ataca as substâncias
gordurosas, reduzindo-as a gotinhas muito diminutas para facilitar a sua absorção; o suco intestinal transforma a
glicose assimilável; a bílis produzida pelo figado atua tambem sobre as substâncias oleosas e ao mesmo tempo
impede a putrefação do conteúdo intestestinal” (1957, p.200).

2.1.4. O conhecimento latente. O conhecimento inato ou latente é o conhecimento adquirido pela razão e pela
argumentação. Sobre esse conhecimento inato ou latente, González (2008, pp.50-51), ao falar sobre a possibilidade
de o homem vir a crer num Criador apenas pela observação da natureza afirma: “O apóstolo Paulo declara que “o
que de Deus se pode conhecer lhes é manifesto entre eles. Porque Deus lhes manifestou. “Porque os atributos
invisíveis de Deus, o seu eterno poder, como também sua própria divindade, claramente se reconhecem desde o
princípio do mundo, sendo percebidas por meio das coisas que foram criadas” (Rm 1.19-20). Essa passagem bíblica
“e a experiência de toda a humanidade” testemunha da possibilidade de “que é possível conhecer algo da glória de
Deus” apenas ao contemplar a natureza (Idem, p.51). Berkhof diz que o conhecimento de Deus enxertado ou
implantado no homem “não consiste de idéias e noções formadas, presentes no homem por ocasião do seu
nascimento [...]”. E o conhecimento adquirido que o homem possa ter sobre Deus “é obtido pelo estudo da
revelação de Deus. Não surge espontaneamente na mente humana, mas resulta de consciente e constante busca de
conhecimento. Só pode ser adquirido pelo fatigante processo de percepção e reflexão, raciocínio e argumentação”
(2009, p.35). O homem não nasce com a ideia implantada na sua consciência, nasce sim, com a consciência ou
razão para perceber que as coisas criadas não surgiram aleatoriamente.
Carlos de Campos (2002, p.31) concorda de Berkhof e afirma: “Todos têm uma religião natural como
resultado da idéia de Deus. Mas essa religião não é suficiente para as necessidades do homem no estado de pecado
em que se encontra. Nesse tipo de religião o homem tem medo, porque conhece somente a justiça de Deus. Ele não
tem noção alguma de sua misericórdia. Daí a idéia de oferecer sacrifícios, em todas as religiões de povos primitivos,
para aplacar a ira dos deuses”. E escreve ainda que essa é a religião natural. Uma religião onde é mostrado “que há
2
um Deus com atributos como poder, divindade, justiça, como é em Romanos 1. Esses são atributos que Deus
manifesta na natureza, mas a sua misericórdia, amor, graça, etc., são expressões da sua vontade, e ele as manifesta
quando quer.” Ora, muito “embora esses atributos seja parte da essência de Deus, a sua manifestação depende do
exercício da sua vontade. Isto não faz parte das idéias inatas de Deus que a religião natural traz” (2002, Idem).

2.1.4.1. Sobre Romanos 1.18-22. Uma das passagens que fala claramente que o ser humano traz em si a idéia do
pensamento da existência Deus, e que o Senhor lhes cobra essa idéia latente, é vista na carta aos Romanos 1.18-22
que diz: “Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detèm a
verdade em injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou.
Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se
entendem e claramente se veem pelas coisas que são criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo
conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discursos se desvaneceram,
e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos”. Carlos de Campos (2002, p.32) ao
comentar os versículos 18-19 da passagem acima, escreveu que ao lermos que os homens “detém a verdade em
injustiça” no versículo 18, “A palavra grega usada para “deter” (Katecho) deve ser mais bem traduzida com
suprimir. Ela dá a idéia de que o homem possui alguma coisa, mas algo o leva a lutar contra o que é natural nele – o
conhecimento de Deus”. Daí, o apóstolo Paulo afirmar “que a verdade suprimida é o conhecimento de Deus que
lhes foi manifestado (v.19). Deus se lhes revelou, mas eles não quiseram a verdade de Deus, preferindo a injustiça
(ou mentira) deles próprios. É esse conhecimento de Deus que o homem suprime”.

2.1.5. Deus revelado na História. As Escrituras defendem que o Senhor Deus, o Criador, tem propósito naquilo
que fez e faz, pois, os profetas da Antiga Aliança sabiam e anunciam que o Soberano das nações era um Deus
presente na história humana. Como afirma González, “que o Deus de Israel é um Deus com propósito”. E, ao
olharmos com mais atenção à natureza, veremos que tudo que acontece nela é de caráter repetitivo, cíclico, pois, “os
astros dão voltas e voltam ao seu lugar de origem; as estações do ano acontecem sempre na mesma ordem; os
animais e as pessoas nascem, crescem, reproduzem-se e morrem”. Por outro lado, há conhecimento de que a história
está realizando coisas novas, e embora, haja “ciclos na história, pois, os impérios, como os animais e as pessoas,
também nascem, crescem e morrem”, esses ciclos, contudo, “não são mera repetição do anterior, mas levam a um
propósito” (2008, p.53).

3. A existência de Deus revelada nas Escrituras. As Escrituras é a parte específica e essencial de toda a revelação
de Deus. A Bíblia nos mostra que a maior demonstração da existência de Deus foi revelada na Pessoa de Jesus.
Sobre a Encarnação do Filho de Deus, diz a Bíblia: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus [...] e o Verbo se fez carne, e habitou entre nós [...]” (Jo 1.1-
2,14). Temos ainda, como prova da existência de Deus, a vinda do Espírito Santo para a Igreja, testemunhando em
nós mesmos que existe. Portanto, o Espírito Santo prova a existência divina. A obra do Espírito é glorificar a Cristo,
revelando aos seus discípulos quem é Jesus (Jo 16.7-15) e o que Jesus significa para eles (Rm 8.15-17; Gl 4.6). O
Espírito ilumina (Ef 1.17-18), regenera (Jo 3.5-8), santifica (Gl 5.16-18) e transforma (II Co 3.18; Gl 5.22-23). Ele
dá ao povo de Deus aquilo de que ele precisa para servi-lO (I Co 12.4-11).

4. A existência de Deus provada nos argumentos racionais. Como já vimos a evidência da existência divina em
pontos, veremos apenas alguns desses argumentos.
4. 1. Argumento cosmológico (do gr. Kosmos, universo). Este argumento tem caráter apologético, cuja
argumentação defende a existência de Deus, tendo como pressuposto básico as perfeições do Universo. Como todo
efeito teve uma causa, ele é baseado na lei de causa e efeito que se observa no Cosmo. Como já visto
4. 2. Argumento antropológico (do gr. “antropos”, homem). Este argumento tem o objetivo de
argumentar em favor da existência de Deus, tendo como pressuposto básico as perfeições da natureza humana, ou
seja, sua constituição física, mental e espiritual. Também foi visto acima.
4. 3. Argumento teleológico (do gr. “teleíos”, causa final + logia). Seu objetivo é argumentar em favor da
existência de Deus tendo como pressuposto básico a ordem e a finalidade com que todas as coisas funcionam no
Universo. Essa argumentação defende a idéia de que apenas uma Mente infinitamente superior a do homem poderia
criar um Universo com um sistema tão intrínseco, perfeito e maravilhoso como é esse em que vivemos.
4. 4. Argumento cristológico (Do gr. Christhos). Temos de explicar ou justificar a existência da Bíblia, o
cumprimento das profecias, os milagres, o caráter sobrenatural e a missão divina de Cristo, a influência do
cristianismo no mundo, e o fato da conversão (mudança moral e espiritual) do pecador arrependido. Estas coisas não
podem ser explicadas ou justificadas separadamente ou em conjunto, sem se pressupor a existência de Deus.

5. Teodicéia ou teologia natural (Do gr. Theos, Deus + dike, justiça=justificação de Deus). Teodicéia ou teologia
natural é o conjunto de doutrinas que tem por objetivo estudar os atributos morais de Deus, e justificar a Sua
3
bondade e retidão perante o mal do mundo. Foi Gottfried Wilhelm Leibnitz (1646-1716), o filósofo alemão que
popularizou o termo ao afirmar que Deus criou o melhor dos mundos. Como diz Severino Pedro, “a Teodicéia... já
existia no pensamento aristotélico sob o nome de Teologia e no dos escolásticos sob o nome de Teologia
Natural, isto é, a ciência de Deus obtida somente pelos recursos da razão natural” (Quem é Deus? p.59).
Ele ainda afirma que, para Tomás de Aquino era necessária uma prova da existência de Deus pela razão –
para satisfazer os intelectuais – já que esta era quase impossível no campo da revelação. Essa doutrina, isto é, a
“Teodicéia”, exigia a resposta a algumas questões a respeito de Deus: (1) Podemos perguntar se Ele existe. (2) Qual
á Sua natureza. (3) Quais são Seus atributos e enfim, (4) quais são Suas razões para o mundo.
5.1. As cinco vias de Tomás de Aquino. Aquino buscou uma harmonização entre a filosofia aristotélica e a
doutrina cristã concernente à existência de Deus. Em sua obra “Súmula Teológica”, ele procura provar pela razão a
existência do Criador, através de cinco argumentos ou vias. São elas:
5.1.1. A do “Movimento”. Aquino afirmava que todo movimento exige um primeiro motor, uma primeira
causa: “Ora, tudo que está em movimento é movido por outro... Logo, se uma coisa está em movimento, deve-
se dizer que ela está sendo movida por outra”. Sendo assim, o primeiro motor é infinitamente perfeito, pois não é
e nem pode ser movido por outro, já que mudar implica uma imperfeição, adquirir o ser que não tem. Que o
primeiro motor, como não teve uma causa primeira para o fazê funcionar é imóvel e infinitamente perfeito. Ele não
muda, nem no tempo nem no espaço. O primeiro motor imóvel é Onipotente, pois sendo ele o princípio universal,
por seu próprio poder está presente naquilo tudo que se move, ou melhor, no Universo.
5.1.2. A da “Casualidade”. Ele afirmava que havia uma Causa primeira, fonte de toda casualidade. “Neste
mundo de coisas palpáveis descobrimos que há uma ordem de causas eficientes. Não há nenhum caso
conhecido (e nem isso seria possível) em que uma coisa qualquer é a causa eficiente de si mesma; pois, nesse
caso, seria anterior ao próprio princípio de sua existência. Ora, retirar a causa é retirar o efeito” (Quem é
Deus? p. 62). Ora, se não há qualquer causa primeira entre as causas eficientes, jamais haverá causa final, e nem
intermediária. Entendemos então que a Causa primeira de todas as coisas é Deus.
5.1.3. A dos seres “Contingentes”. Contingente significa “eventual”, “possível, mas incerto”,
“contribuição” etc. Esta prova se refere ao mundo empírico, físico. O mundo físico é composto de seres que são,
mas poderiam não ser, pois estes seres, ou nós o vimos nascer, ou então a ciência nos mostra que eles foram
formados, ou ainda a sua composição exige, para explicá-los, uma causa de sua unidade. Embora não haja
explicação possível para todos os seres, deve haver alguma coisa cuja existência se faz necessária. O homem é uma
dessas existências necessárias, pois é através dele que se tornou possível um conhecimento maior sobre Deus.
Sendo o homem um ser pensante, ele tem conhecimento de si mesmo, sabendo que, pois como ser contingente (que
contribui), ele teve em outro a razão de sua existência, e, este outro, se também é contingente, também tem a sua
num outro. Como se torna impossível num efeito retroativo ao infinito: de ser em ser, deve-se chegar, afinal, a um
Ser necessário, que exista por si mesmo e pelo qual os outros seres vieram a existir. Certamente que este Ser é Deus.
5.1.4. A dos graus de “Perfeição dos Seres”. Esta prova se firma no sistema de gradação (transição
gradual) que se encontra em todas as coisas. Entre os seres há aqueles que são mais e outros menos bons, verazes,
nobres etc. Quando pensamos nisso, devemos ter em mente o aspecto de beleza que as coisas manifestam em seus
diferentes aspectos. Diremos: se a beleza se encontra em diversos seres segundo graus diversos, é necessário
que ela (a beleza) seja produzida neles por uma causa única. O fato de que há diferentes graus de beleza
obriga então a que os diversos seres em que descobrimos estes graus participem simplesmente de uma Beleza
que existe fora e acima desta hierarquia de beleza, e que é a beleza absoluta e infinita. Baseado nisso Aquino
entendeu que este argumento exige uma Beleza ideal, subsistente, e uma Verdade ou uma Bondade ideal e
subsistente (e assim por diante para todas as outras perfeições). Que o argumento conduz como já vimos, a um Ser
que existe em si e por si, e que é, por essência, Verdade, Bondade, Beleza, Unidade etc., absolutas e infinitas.
O que está acima, dentro de qualquer gênero é a causa de tudo quanto existe nesse gênero, como o fogo que
é o máximo do calor, é a causa de todas as coisas quentes. Logo deve haver algo que, para todos os seres é a causa
do Ser de todos eles, e, partindo em procura dessa Causa até o infinito, chegamos a esta Causa primeira, que é Deus.
5.1 5. A da “Ordem do Mundo”. Aquino afirmou que a prova pela ordem do mundo se apóia no princípio
da finalidade, e toma a seguinte forma: A organização complexa, objetivando um fim, exige uma inteligência
ordenadora. Apenas a inteligência pode criar a ordem objetivando um fim. Se os corpos ou os elementos corporais
trabalham em conjunto, se faz necessário que sua organização tenha sido obra de uma inteligência.
(b) Essa ordem é real em todo o seu conjunto. O Universo é visto como um algo admiravelmente ordenado,
em que todos os seres, todos os elementos, por mais diferentes que sejam, contribuem para o bem geral do
Universo. Jamais uma estrela, planeta ou cometa entraram na órbita dos outros.
(c) A natureza obedece cegamente às leis estabelecidas por Deus. O Universo não ultrapassa qualquer limite
além daquilo que lhe foi prescrito. É necessário, então, admitir que exista uma Causa ordenadora do Universo.As
coisas para as quais falta a inteligência (os irracionais), ou mesmo os corpos naturais, atuam visando uma finalidade
qualquer, o que se evidencia em todas as suas ações, o que fazem quase sempre da mesma maneira, de modo a
obterem os melhores resultados.
4
(e) Eles obtêm o seu alvo não por mera casualidade, e, sim, por meio de algum desígnio. Tudo aquilo em
que falta a inteligência não pode por si mesmo organizar-se para uma finalidade, a menos que seja orientado por
algum outro ser dotado de conhecimento e inteligência; tal como uma pedra é arremessada para um alvo específico.
(f) Sendo assim, deve existir algum Ser inteligente por meio de quem todas as coisas naturais são dirigidas
às suas perspectivas e finalidades. E a esse Ser chamamos de DEUS.

6. A existência de Deus. Devemos saber que a prova da existência de Deus não é a prova de uma demonstração
matemática, mas de evidência cumulativa, tal como é aceita nos tribunais jurídicos. É uma prova que leva a
convicção, baseada em evidências. O homem por ser racional possui certas idéias inatas que não lhe são ensinadas,
já que elas não podem ser aprendidas, mas que suas faculdades mentais reconhecem diretamente, se não fossem
essas idéias inatas a racionalidade cessaria. Assume-se que existem sete dessas idéias inerentes que são
fundamentais: (a) o número, (b) o espaço, (c) o tempo, (d) a causa e efeito, (e) a personalidade, (f) o bem ou mal (g)
e Deus. Assim, a idéia de Deus é uma intuição da razão moral, uma percepção imediata, um fenômeno da própria
personalidade, inata ao homem. Essa percepção precede e condiciona toda observação e raciocínio, que é o
conhecimento indireto, e esse conhecimento pode ser desenvolvido pela intuição e pela percepção.
6. 1. A natureza de Deus. Se por definir a Deus, entende-se limitá-lO, na verdade jamais pode-se entendê-
lO. Entretanto, podemos indicar aquelas características que distingue o Seu ser, e assim dar uma definição, ou uma
descrição de Deus usando a Bíblia como instrumento para esse fim. Por exemplo, as Escrituras afirmam que Deus é
Espírito (Jo. 4: 24; Lc. 24: 39), que Deus é Luz (I Jo. 1: 5), que Deus é Amor (I Jo. 4: 16) e que é um Fogo
Consumidor (Hb 12: 29).
Já na definição teológica, segundo Strong: “Deus é o Espírito Infinito e Perfeito em que todas as coisas
têm a sua origem, subsistência e finalidade”.
No Catecismo de Westminster diz: “Deus Espírito, Eterno e Imutável, tanto em Seu ser, como em Sua
Sabedoria, Poder, Santidade, Justiça, Bondade, Amor e Verdade” (Deve-se observar que o termo “Espírito”, como é
usado pelos teólogos, implica personalidade. Que é: pessoa; caráter ou personalidade do que é a pessoal;
individualidade consciente; caráter essencial e exclusivo de uma pessoa).
6. 1. 1. Deus é Luz (I Jo. 1: 5). “Deus é luz, e não há nele treva nenhuma”. Ou seja, Deus é santo, é puro.
6. 1. 2. Deus é Amor (I Jo. 4: 16). “Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e
Deus nele”. Assim, viver uma vida cheia de amor é viver uma vida cheia de Deus, já que o amor é o órgão da
intimidade com Deus.
6. 1. 3. Deus é um Fogo Consumidor (Hb 12: 29). “... porque o nosso Deus é um fogo consumidor”. Esta
passagem é vista em Deuteronômio 4: 24: que diz: “Porque o SENHOR teu Deus é fogo que consome, é Deus
zeloso”. Fogo é um símbolo da santidade de Deus. Zeloso indica um Deus que mantém os Seus direitos.
6. 1. 4. Deus é Espírito (Jo. 4: 24; Lc. 24: 39). Segundo Claudionor de Andrade, na teologia “Espírito é a
arte imaterial que o Supremo Ser insuflou no ser humano, transmitindo-lhe a vida, o movimento e a semelhança
com a divindade” (Dicionário teológico, p. 141).
6. 2. Sobre a espiritualidade de Deus. Jesus falou que Deus é Espírito (Jo. 4: 24). A declaração define a
natureza de Deus como sendo espiritual. No entanto, diversas coisas estão claramente envolvidas na idéia de que
Deus é espírito.Espírito é imaterial e impalpável. Após Sua ressurreição Jesus disse: “apalpai-me e vede, pois um
espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lc. 24: 39).
Deus é para ser adorado ‘em espírito’, distinto de lugar, forma ou limitações. E ‘em verdade’, distinto de
concepções falsas que resultam de um conhecimento imperfeito. Aqui vão outros textos que derramam a luz sobre
espiritualidade de Deus (Col. 1: 15; I Tm. 1: 17. Essas passagens afirmam que Deus não tem nada de natureza
material ou corporal. Isso é comprovado pela razão dada para proibir a fabricação de imagens (Dt. 4: 23. Is. 40: 25).
Parece que aí está implícita a idéia de não comparar coisas perecíveis com o Soberano. Um outro pensamento
corrente é que, como ninguém jamais viu a Deus, assim como fazer uma imagem de quem nunca foi visto? não
saberia como representá-lo. Nada há na terra que a assemelhe a Deus.
6. 2. 1. Então, o que significa que o homem foi feito à imagem de Deus (Gn. 1: 27)? Em Colossenses 3:
10 e Efésios 4: 24 declaram que a imagem consiste em justiça, sabedoria e verdade. Por estes textos está visto que a
imagem de Deus no homem consiste na semelhança moral e intelectual antes que física, nos traços psíquicos e não
na forma corpórea.
Alguns teólogos crêem que a divisão tríplice do homem em espírito, alma e corpo (I Tss. 5: 23), também
constitui a imagem de Deus no homem.
6. 2. 2. O que se entende pelas expressões antropomórficas nas Escrituras? Pois a Bíblia representa
Deus como tendo mão e ouvido (Jo. 10: 29; Is. 59: 1), pés (Is. 66:1), braços (Is. 59: 1), olhos (II Cr. 16: 9), narinas e
boca (II Sm. 22: 9) etc? A atribuição dos membros físicos a Deus não é uma afirmação de que Deus possua esses
membros ou que Ele seja humano. Essas expressões são usadas com fim de trazer o infinito ao alcance da
compreensão finita. Não há outra maneira de o homem entender a Deus se não forem por expressões humanas,
figuras que todos conhecem.
5
6. 2. 3. Como se conciliam os textos de Êxodo 24: 10; 33: 18-23 e Números 12: 8, com João 1: 18; 5: 37 e
Êxodo 33: 20, que falam de visão de Deus e da forma de Deus, se ninguém jamais viu a Deus?
O Senhor em vários períodos manifestou-se de forma visível. O anjo de Jeová no V. T. é identificado como
Jeová (Gn. 16: 7, 10 13, conf. Ex. 13: 21; 14: 19). Este sem dúvida é a segunda pessoa da Trindade (conf. Is. 9: 6 e
Jz. 13: 18). Nesta passagem, o anjo de Jeová é chamado, no original, pelo nome de “Admirável” ou “Maravilhoso”,
que é usado com respeito a Cristo (Is. 9: 6).
Assim, podemos entender que essas manifestações eram “teofanias” (Do gr. Theos, Deus e phania,
manifestação). Ou seja, manifestação de Deus, desde a voz até a imagem, perceptível pelos sentidos humanos.
6. 2. 4. Os israelitas no V. T. não viram, portanto, a essência de Deus. Viram sim, uma aparição de Deus
numa forma reconhecida pelos sentidos. Por exemplo, alguém diz ao olhar-se num espelho: “Vi meu rosto”. Mas o
que de fato ele viu foi o reflexo do seu rosto no espelho.
A mesma pessoa pode dizer: “Jamais vi o meu rosto”. Assim, os homens viram uma manifestação de
Deus. Não vemos o sol, vemos apenas o manto de glória que o cobre. Assim, viu-se, não Deus na Sua essência, mas
a glória que O circunda (Dt. 4: 12; cf. Jo. 1: 18b; Col. 1: 15; Apo. 22: 3-4).

7. Teorias anti–teístas. Antes de considerarmos a questão da personalidade e de Sua existência, veremos algumas
teorias da Sua não-existência, como também algumas teorias não cristãs.
7. 1. O ateísmo. Ateísmo é a crença de que não há Deus. Já que não se pode provar que Deus não existe,
pode-se dizer que o ateísmo se ocupa principalmente de negação antes que com a confirmação. O ateu pode
substituir um Deus pessoal pela força, pelas leis da natureza, etc. A refutação do ateísmo está contida nas provas do
Teísmo. Para que possamos contestar com os ateístas sobre a existência de Deus temos que usar a fé. O Teísmo
Prático é aquele que não se preocupa em crer na existência de Deus.
7. 2. O politeísmo. Politeísmo é crença em muitos deuses. Parece que essa crença se originou do culto a
natureza. Diz-se que cada deus pessoal presidia sobre cada um dos elementos naturais, tais como, sol, a lua, os
ventos, etc. O politeísmo sempre resultou na degradação moral de seus adeptos. Muitos dos deuses possuíam todas
as paixões más dos homens, e o adorador não se eleva do objeto adorado, ou seja, o adorador se esforça para imitar
seu deus.
7. 3. O materialismo. O materialismo nega a realidade do espírito, a distinção entre a matéria e a mente,
explica os fenômenos mentais e espirituais como sendo propriedades e funções da matéria. Os materialistas dizem
“o cérebro segrega pensamentos como o fígado segrega a bílis”. A matéria é eterna, e evoluiu segundo a sua lei
imanente, dando em resultado o mundo atual. O homem é um animal aperfeiçoado. A fauna e a flora são produtos
de átomos inorgânicos e inanimados – geração espontânea. O materialismo afirma que: Só existe a matéria com as
forças químicas e físicas, fora da matéria, nada é real. Um deus imaterial e seres espirituais são simples idéias as
quais não corresponde à realidade alguma, não passando, pois de miragens, quimeras, utopias. (c) Por conseguinte,
nesses sistemas não há Deus, nem diabo, nem anjo, nem alma humana, nem céu, nem inferno etc.
7. 4. O panteísmo. Panteísmo significa que Deus é tudo e tudo é Deus. Em outras palavras Deus é um.
Nada existe fora de Deus. Por Deus se compreende tudo na sua existência. Concebe o Universo como tendo uma
substância com dois atributos: (a) o de extensão, que compreende as coisas materiais. O mundo físico é um aspecto
desta substância; (b) e o mundo mental. No homem essa substância alcançou o seu maior desenvolvimento. Tornou-
se pessoal e consistente. Não há um Deus pessoal, nem existe imortalidade.

8. Teorias anti – cristãs


8. 1. O deísmo. O vocábulo “deísmo” é de procedência latina que quer dizer Deus, como “teísmo” do
grego, significando a mesma coisa.
(a) Como filosofia, ensina que Deus é pessoal, infinito, santo, criador do universo. Porém, não existe,
revelação, milagre, encarnação, providência etc. Deus nada mais teve a ver com o mundo. O seu conceito é que
após Deus criar o mundo no princípio, não intervém no curso dos assuntos naturais e humanos.
Negam provas sobre a existência de uma revelação de Deus e dos milagres de Cristo.
Objeções. Quanto Deus ter criado todas as coisas e depois às abandonou, é absurdo pensar assim, isso
contraria Atos. 17: 28.
8. 2. O racionalismo. O racionalismo surgiu nos meados do VIII século. A filosofia de Cristão Wolf
auxiliou este movimento, ao passo que ele mesmo não era racionalista. Mas os seus seguidores o eram. Afirmam
eles, que não pode aceitar como verdadeiro nada que não possa ser demonstrado pela razão. A razão, em outros
termos, é a fonte de conhecimento em si e é superior aos sentidos, e independentes deles.
Observação. O racionalismo moderado reconhece que na Bíblia há revelações sobrenaturais, mas só
aceitam aquelas que a razão aprova. Os extremistas, que são a maioria, negam toda e qualquer revelação
sobrenatural.
8. 3. O ceticismo. Doutrina fomentada pelo filósofo grego Pirro de Élis (360-270 a.C.), segundo a qual o
homem jamais poderá chegar a um conhecimento indubitável da verdade. Um cético religioso é alguém que nega a
6
existência de quaisquer fundamentos numa crença racional em assuntos religiosos. Conhecimento verdadeiro,
dizem, é impossível ou incerto.
Dedicam-se a críticas destrutivas. O ceticismo é o antônimo do dogmatismo.
8. 4. O gnosticismo ou agnosticismo. O termo vem da raiz “gnósis”, significa “saber por excelência”.
Afirma que nem a existência, nem a natureza de Deus, nem a última origem do Universo são conhecidos e nem
serão jamais. È a doutrina que afirma a impossibilidade de qualquer conhecimento verdadeiro, pois que todo
conhecimento é relativo, e, portanto incerto. Os gnósticos diziam que O Senhor Supremo estaria distante desse
mundo. E não havia como Ele pudesse tocar a matéria, já que isso o contaminaria. Sua doutrina distanciava Deus
das criaturas, enquanto, os “aeons” é quem deveriam ser adorados (o termo designa a propriedade dos seres em
continuarem como tais apesar da ação do tempo. Eram esses personagens quem deveriam ser adorados, porquanto
ajudariam no processo da redenção do homem, segundo o gnosticismo).
Quanto a essa doutrina, acreditamos que o comentário acima de que Deus é Espírito, Luz e Amor, refuta
satisfatoriamente a teoria gnóstica.

9. A personalidade de Deus. O fato de Deus ser Espírito envolve Sua personalidade, pois um espírito é um ser
intelectual, portanto possuidor de intelecto, sensibilidade e vontade, capaz de autodeterminação e autoconsciência.
9. 1. A importância do ensino sobre a personalidade de Deus. A religião verdadeira pode ser definida
como comunhão pessoal entre Deus e o homem. Se Deus não é uma pessoa, como, pois poderia haver comunhão?
Para haver comunhão, é necessário que exista uma relação recíproca entre pessoas independentes. Um homem não
pode ter comunhão com uma influência, uma força ou um ser que é impessoal.
9. 2. Provas da personalidade de Deus. Há nas Escrituras uma clara distinção feita entre o Deus de Israel e
os deuses dos pagãos (Jr. 10: 10-16; note–se o contexto, vv. 3-9; Sl. 94: 9-10; At. 14: 15; I Tess. 1: 9). Deus se
distingue claramente das coisas que não têm vida, pois Ele é uma pessoa.
9. 2. 1. A Bíblia lhe atribui características de personalidade, como se lê em Gênesis que Deus se arrepende
e tem pesar (Gn. 6: 6); se ira (I Rs. 11: 9); é zeloso (Dt. 6: 15); ama (Ap. 3: 19) e se aborrece (Pv. 6: 16). Deus,
portanto possui os atributos de uma personalidade. É, pois uma pessoa.
Observação. As Escrituras nos dizem que Deus “... arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem
sobre a terra, e pesou-lhe em seu coração” (Gn. 6: 6). Ora, se Deus se arrepende, então ele não é Onisciente. E já
que Ele é Onisciente, não pode mudar de idéia. Ele também não se entristece por alguma das suas ações, pois que
não pode se arrepender. Isso, porém, revela que Deus tem intelecto, sensibilidade e vontade.
Em outras palavras, essas são expressões figuradas, foram usadas pelos escritores sagrados para dizer que
Deus não é indiferente ao que acontece no mundo. A teologia as chama de “antropopatismo” (Do gr. antropos,
homem; e do gr. pathos, sentimento).
9. 2. 2. A relação que Deus mantém com o universo e os homens, descrita na Bíblia, só pode ser entendida
admitindo-se que Deus é uma pessoa. Este ponto refuta o “deísmo”.
9. 2. 3. Deus é o Criador do Universo e do homem (Gn 1: 1, 26; Jo. 1: 1-3). O Universo não existiu desde a
eternidade, nem foi feito de matéria preexistente. Deus falou e aconteceu. A criação do universo e do homem,
portanto, prova a personalidade de Deus.
9. 2. 4. Ele é o preservador e sustentador. (a) O mantimento físico para todas as criaturas de Deus está na
Sua mão (Sl 104: 27-30); (b) Deus é o Juiz dos homens e das nações (Sal. 75: 6-7); (c) Sustenta e sustém todas as
coisas (At. 17: 28; Col. 1: 15-17; Heb. 1: 3); e tem um cuidado particular com aquilo que Ele criou (Gn. 39: 21; Dn.
1: 9; Mt. 6: 28-30; 10: 29-30; Jo. 1: 12).
9. 2. 5. Tanto no Velho como no Novo Testamento, Deus é representado como um Deus pessoal. É um
Deus que ‘vai e volta’, com quem os homens podem conversar e em quem pode confiar, enchendo-lhes os corações
de alegria e vitórias. A mais perfeita revelação de Deus é a revelação pessoal de Jesus Cristo (Jo. 14: 9).

10. Os atributos de Deus. O Ser de Deus é Sua essência ou substância, na qual estão os Seus atributos. São também
chamados de perfeições, são qualidades ou virtudes do Ser de Deus. Na teologia, a expressão “a tributos” é mais
utilizada quando fala sobre a Deidade. Não há como separá-los, pois, assim como não podemos conhecer a dureza a
não ser quando conhecemos algo duro, não há como afastar a essência de Deus de Seus atributos. Ou seja, a
essência divina é conhecida pelos seus atributos. Alguns teólogos utilizam a expressão “perfeições” no lugar de
atributos, por acharem que essa última dá uma conotação de que algo foi conferido à Deidade, quando se sabe que a
Imutabilidade de Deus é um axioma, na teologia cristã. Isto é, a Imutabilidade é evidente por si mesma. Nada se
acrescenta a essência divina. Deixemos claras algumas considerações:
10. 1. O Ser de Deus não é uma coleção de atributos. Não é o Ser de Deus composto de partes; como se a
Onipresença, a Onipotência, a Soberania, a Eternidade, a Imutabilidade, e todos os outros atributos se juntassem
para formar Deus. Essa visão fragmenta o Ser de Deus. Ele não é um quebra cabeça montado a partir de Seus
atributos. Como também os atributos não são acréscimos ao Ser divino. Mas cada atributo participa igualmente da
essência divina. Deus é inteiramente e essencialmente amor, bondade e justiça etc.
7
10. 2. Diversas são as classificações dos atributos. No entanto, a Teologia tradicionalmente os classificam
em dois: (a) os incomunicáveis (b) e os comunicáveis. Os incomunicáveis pertencem apenas ao Ser de Deus, já os
comunicáveis pertencem a Ele, mas são partilhados, em graus, pelos homens. Tal classificação deve ter suas
ressalvas, pois nenhum atributo deve ser entendido como comunicável ao homem em sua totalidade e os atributos
incomunicáveis também não deve ser visto, necessariamente, de forma tal que venham deixar implícita a idéia de
que o homem não pode sequer ter uma noção dos mesmos.
São vários os atributos incomunicáveis. Exemplo: (a) a Soberania; (b) Onipresença; (c) Onisciência; (d)
Onipotência; (e) Imortalidade; (f) Independência; (g) e Imutabilidade.
Vejamos apenas dois desses atributos.

10. 2. 1. Independência. O atributo da Independência, ou Auto-Existência, denota a idéia de que Deus


existe por Si mesmo. Ao mesmo tempo em que ele existe por Si mesmo, todas as coisas dependam dEle para existir
(Ap. 4: 11). Logo, essa Independência é vista com dois aspectos: que Ele existe independente de tudo, e faz com que
tudo o que existe dependam dEle (At. 17: 28).
(a) Assim como Deus é independente na Sua existência (Cf. Êx. 3: 13-15; Jo. 5: 26), também Deus é
independente nos Seus pensamentos. Seus desígnios estão livres de quaisquer influência humana ou angelical (Cf.
Jó 42: 2; Is. 55: 8-9; Rm. 11: 33-34).
(b) Deus é independente nos seus planos. Ele ignora os planos humanos, pois toda a História é a
realização dos desígnios do Senhor (Cf. Sl. 33: 10-11; Pv. 19: 21; Is. 40: 13-28; Rm. 11: 33 ss).
(c) Deus é independente na execução de Sua vontade. Ele executa todas as coisas pelo conselho de Sua
vontade, sem obrigação de dá nenhuma satisfação a ninguém (Cf. Dn. 4: 28-37; Ef. 1: 5, 11; Rm. 9: 19).
(d) Deus é independente no Seu poder. Ele faz o que quer porque é poderoso (Cf. Sl. 115: 3; Is. 40: 26-31;
41: 4).
10. 2. 2. Imutabilidade. Somente Deus que é independente de tudo, é imutável (Cf. Ml. 3: 6; Tg. 1: 17).
Pode-se definir Imutabilidade como sendo a perfeição que Deus possui, na qual Ele se despoja de toda a mudança,
não somente em Seu Ser, como também, em Suas promessas, decretos e atributos.
Exemplificando: Quem sofre qualquer mudança, ou é para melhor, ou para pior! Assim, qualquer mudança
implica em regressão ou progressão. Deus, portanto é imutável no Seu Ser; ele não retrocede nem progride (Cf.
Sl. 102: 24-27).
(a) Deus, é imutável em Suas promessas. Ele, que não pode mentir (Cf. Nm. 23:19; Tt. 1: 2), cumpre todas
as Suas promessas por amor a Si mesmo (Cf. II Tm. 2: 13).
(b) Deus é imutável nos Seus decretos. As resoluções tomadas por Deus na Eternidade, são todas
realizadas no tempo determinado por Ele (Cf. Jó 23; 13-14; 42: 2; Sl. 33: 11; Pv. 19: 21; Is. 14: 24-27; 43: 13; 46: 8-
11; Heb. 6: 17).
(c) Deus é imutável nos Seus atributos. Por estarem ligados ao seu Ser, que é imutável, os atributos de
Deus também são imutáveis. Assim, o Seu Amor é imutável (Cf. Jr. 31: 3), a Sua Verdade é imutável (Cf. Sl. 119:
89), a Sua Misericórdia é imutável (Sl. 100: 5), os dons a vocação são imutáveis (Cf. Rm. 11: 29).
Observação. Existem algumas passagens bíblicas que apresenta uma possível mudança em Deus (Gn. 6: 5-
6; Êx. 32: 10-14; Is. 38: 1-8; Jr. 18: 8, 10; Jn. 3: 9, 10; 4: 2; Am. 7: 1-3). Contudo, esses textos nunca podem ser
entendidos de uma forma literal – como já vimos acima – até porque se chocariam com a própria revelação divina,
que diz que Deus é imutável (veja Nm. 23: 19 e Sl. 110: 4, que demonstram e garantem a imutabilidade de Deus).
Já vimos que a teologia chama essas linguagens de antropomorfismo (atribuição de formas humanas a
Deus) e antropopatia (atribuição de sentimentos humanos a Deus). As passagens que atribuem forma de animais a
Deus (Cf. Sl. 91: 4) é chamada de ‘zoomorfismo’.

10.3. Alguns atributos comunicáveis. Quanto aos atributos comunicáveis, estes são mais fáceis de serem
compreendidos, porque partilhamos deles em nossas vidas diária. Através deles Deus se revela como um Ser de alta
personalidade moral. São eles: (a) Amor; (b) Bondade; (c) Misericórdia; (d) Fidelidade; (e) Justiça; (f) e Santidade
etc. Veremos apenas dois desses atributos.
10. 3. 1. Justiça. O atributo comunicável da Justiça está intimamente ligado ao da Santidade. Muitos dos
teólogos batizam a Justiça como a “santidade em ação”. A Justiça divina é o atributo pelo qual Deus se apresenta
como infinitamente reto em todas as Suas obras, agindo corretamente contra todo tipo de violação às leis
eternamente corretas. Assim, os homens também devem exercer justiça, a agirem retamente. Porém, do mesmo
modo como o homem participa da Santidade de forma limitada e imperfeita, assim também acontece com a
Justiça, pois, segundo Isaías, as justiças humanas não passam de imundícia (Cf. Is. 64: 6).
Em síntese, todos os atributos comunicáveis como o Amor, a Misericórdia, a Fidelidade, a Veracidade etc,
são desfrutados pelos homens de forma limitada e imperfeita.
Somente Deus desfruta desses atributos de forma plena e totalitária.
8
10 3. 2. Santidade. O atributo divino da Santidade é pouco compreendido entre os cristãos. Isso se dá
porque não atentamos, com cautela, para a totalidade da revelação. O termo santo (Do heb. qadosh e do gr. hagios),
respectivamente, transmitem a mesma idéia: cortar, separar. É uma das palavras mais utilizadas a Deus. Sua
significação original e fundamental é a transmissão de uma relação posicional qualitativamente superior. Ou melhor,
ela não representa apenas uma qualidade moral, ou religiosa adquirida por ascese (devoção).
A santidade aplicada a Deus, tem dois significados. (1) Deus, por ser santo, é absolutamente distinto de
todas as criaturas, estando exaltado acima delas. (2) Deus, por ser santo, é totalmente separado do mal e de qualquer
tipo de pecado. Deus não pode ter comunhão com o pecado (Cf. Jó 34: 10; Hab. 1: 13). Entendida nesse sentido, a
Santidade de Deus revela a Sua pureza. As Escrituras nos convocam a sermos santos (Cf. Lv. 19: 2; I Ped. 1: 16).
Sem a santidade ninguém verá o Senhor (Cf. Heb. 12: 14). Assim, a Santidade é um atributo de Deus, mas que os
homens também, de certa forma, participam, embora de forma limitada e imperfeita. Mesmo depois da nossa
glorificação, teremos um maior grau de santidade, mas não teremos a totalidade da santidade, como Deus tem.

11. Os nomes de Deus. Nome nas Escrituras, se refere ao caráter, à personalidade da pessoa. No processo de
revelação, temos os nomes de Deus como meios de apresentação de Seu caráter que, como os atributos, descrevem a
Sua essência. Apesar de diversos nomes, Deus é conhecido pelo Seu “nome” (Cf. Êx. 3: 13; 20: 7; 33: 12-23; Sl. 8:
1; 48: 10; 76: 1; Pv. 18: 10; Mt. 6: 9; Ap. 3: 12). Exemplo: O termo Senhor (Do heb. Yavé; do gr. Kurios; do lat.
Sênior) é um título de reverência. Referindo-se a Deus, denota o Seu poder e soberania sobre tudo quanto existe (Sl.
24: 1). No Antigo Testamento, este era o nome com que os profetas nomeavam ao Deus de Israel (Êx. 15: 1; Is. 43:
10; Jr. 2: 2), identificando-O não apenas como o Deus daquela nação, mas também como o Soberano de todos os
povos.
11. 1. Existe uma grande diversificação na apresentação do nome de Deus
(a) No Antigo Testamento, temos o termo El. Nome básico de Deus que entra na composição de muitas
nomenclaturas que identificam e qualificam o caráter e a natureza do Todo-Poderoso. Designa força e poder.
(b) Seu plural, Elohim, na Bíblia, apresenta-se como o Criador dos Céus e da Terra, lembrando assim, a
Trindade. É o primeiro nome atribuído a Deus (Cf. Gn. 1: 1). Aparece 2. 200 vezes em todo o Antigo Testamento. É
o nome de Deus utilizado quando se trata da soberania divina, ou em grandes operações (Cf. Gn. 1: 1; Dt. 5: 22; Sl.
68: 7; Is. 45: 18; 54: 5; Jr. 32: 27). Já no paganismo, Elohim significa deuses.
(c) Ainda temos uma série de nomes compostos. No período patriarcal usou-se muito o composto El-
Shaddai (Todo-Poderoso), que destaca o poder de Deus. Foi o nome que Deus usou para se revelar pactualmente
com Abraão (Cf. Gn. 17: 1-2). Por isso esse composto ficou conhecido como o nome do Pacto. Os patriarcas
encorajavam seus ouvintes ao lembrar esse nome (Cf. Gn. 28: 1-4; 43: 14; 48: 3).
Assim, El-Shaddai aponta para o poder que Deus tem de cumprir o que prometeu, pois designa o Seu poder
absoluto. Deus lembra esse Seu nome a Moisés (Cf. Êx: 6: 1-6).
(d) Outro nome composto muito usado no Antigo Testamento é Elyon. Esse termo representa Deus como
Altíssimo, demonstrando assim, o caráter transcendental e elevado de Deus em relação a todas as coisas. Aparece
pela primeira vez em Gênesis 14: 18-24, quando Abraão retorna vitorioso de uma batalha. É nesse contexto que
Abraão paga o dízimo (Gn. 14: 20), reconhecendo Deus como o Possuidor de todas as coisas. O nome aponta
também para a Soberania de Deus (Cf. Dt. 32: 8; Sl. 9: 2-8).
(e) Outro nome composto é El-Olom. Esse termo significa Deus Eterno. Em todo o Antigo Testamento só
há duas referências a esse nome (Cf. Gn. 21: 33 e Is. 40: 28). Ele aponta para a eternidade, imutabilidade e
constância do Ser de Deus.
Observação I. Afora El e seus compostos, existem outro nomes aplicados a Deus no Antigo Testamento.
Um deles é Adonai, cujo significado é Senhor, Mestre, Possuidor.
A palavra vem do hebraico adom, que sgnifica Senhor, em hebraico. O sentido de “Dom” é “meu mestre”
aplica-se a homens que tem autoridade. A partir do ano 300 a.C. os judeus piedosos o pronunciavam com o sentido
lato de “meu Mestre Senhor”.
(f) Foi a partir dessa época que o nome com as consoantes “YHWH” acrescentada as vogais de
“ADÕNÃY” passou, ao que parece, a ser pronunciado “YeHÕWÃH” (no Texto Massorético). Adonai é
governador de todas as coisas, entendendo assim, a superioridade de Deus em relação aos outros deuses (Dt. 10:
17). É o nome usado para expressar o governo absoluto de Deus, por isso, o maior pecado de Israel era a idolatria,
pois desprezava esse governo de Deus.
Observação II. A Septuaginta (a Bíblia hebraica traduzida para o grego [248 a.C.]) mostra que os judeus
relutaram em pronunciar o nome sagrado, daí substituírem-no pela termo “Kirios”, ou como alguns escrevem:
Kurios. Em algumas versões das Escrituras esta prática de respeito ao nome divino é demonstrada pelo termo
“SENHOR” escrito em maiúsculo.
(g) Um nome bastante conhecido, mas pouco entendido é Iavé. Esse nome refere-se ao caráter redentor de
Deus. Sua raiz está atrelada à raiz do verbo “ser”, e portanto, designa alguém que “é” (Cf. Êx. 3: 1-4). Devida à sua

9
etimologia, era impossível de ser pronunciado. Posteriormente, qualquer tentativa de pronunciá-lo também foi
condenada devido à reverência que se tinha por esse nome.
Observação III. Igualmente a El, Iavé forma outros nomes compostos.
(h) Iavé-Jireh (Deus proverá), fala da provisão de Deus para com o Seu povo (Gn. 22: 14).
(i) O Iavé micadishkem (O Senhor que vos Santifica), enfatiza a santidade de Deus. Além de nos separar
para si, Deus age como o agente santificador de Seu povo (Cf. Lv. 20: 8; 21: 8, 23; 22: 15-16).
(j) O Iavé-Nissi (o Senhor é a Minha Bandeira), denota Deus como nossa referência para a vitória (Cf. Êx.
17: 15). Lembremo-nos que a bandeira é um símbolo militar; quando hasteada, significa vitória; e quando tombada,
significa derrota. Assim, o Senhor é a nossa bandeira hasteada.
(l) O Iavé-Raah (o Senhor é o Meu Pastor), expressa Deus como sendo a proteção, o sustento e o refrigério
das Suas ovelhas, de Seu povo (Cf. Sl. 23: 1).
(m) O Iavé-Shalom (o Senhor é minha Paz), retrata Deus como sendo a paz e o descanso do Seu povo. Paz
aqui é mais do que a ausência de guerra. É possuir harmonia com o próprio Deus (Cf. Is. 9: 6; Jo. 14: 27; Rm. 5: 1;
15: 33; Ef. 2: 14; I Ts. 5: 23; Heb. 13: 20). Por essa razão, os judeus se saudavam com: “paz seja contigo”, “é de
paz a tua vinda?”.
(n) O Iavé-Tsidkenu (o Senhor é a minha Justiça), apresenta Deus como absolutamente reto e justo em
todos os Seus caminhos. Por isso, Ele exige que nós andemos retos (Lv. 19: 35-36). A palavra quando aplicada a
nós, tem a ver com o andar de conformidade com a vontade de Deus.
(o) O Iavé-Shamah (o Senhor Está Ali), revela a presença do Senhor no meio do Seu povo. Sobre esse
nome, existe apenas uma só referência em toda a Bíblia (Cf. Ez. 48: 35).
(p) Iavé-Sabahote (o Senhor dos Exércitos). Este nome ocorre cerca de 279 vezes nas Escrituras. O termo
recebe três significados diferentes, segundo o dr. R. Mehl: (1) Os exércitos terresres dos filhos de Israel (Êx. 12:
43); (2) dependendo apenas do contexto, pode significar “os exérctos das estrelas” (Neem. 9: 6; Dn. 8: 10); (3) e as
legiões de anjos caídos (Ap. 12: 4 etc.) (Quem é Deus? p. 105).
(q) Iavé-Rafá (o Senhor que te Sara). O termo significa restauração de uma roupa, de um edifício e saude
do corpo.
(r) Iavé-Elohim-Israel (o Senhor, Deus de Israel), designa a distinção entre o Deus de Israel e os deuses
das outras nações (Cf. Jz. 5: 3; Is. 17: 6).
Observação IV. Ainda muitos outros nomes são dados a Deus por metáfora, em ambos os testamentos: (1)
Rei (Sl. 5: 2); (2) Legislador ( Is. 33: 22); (3) Juiz (Gn. 18: 25); (4) Rochedo (II Sm. 22: 2); (5) Fortaleza (Sl. 73:
26); (6) Refúgio (Sl. 46: 1); (7) Torre (Sl. 61: 3); (8) Libertador (Sl. 18: 2); (9) Marido (Is. 54: 5); (10) Lavrador
(Jo. 15: 1; Tg. 5: 7).

11. 1. 2. No Novo Testamento. Os nomes aplicados à Deus são mais títulos do que mesmo nomes próprios,
muito embora tragam, em si, todo o caráter dos nomes do Antigo Testamento.
(a) O primeiro deles é Theos, que é traduzido como Deus. É o nome divino que mais aparece no Novo
Testamento. As pessoas com algum tipo de autoridade recebiam esse título (Cf. Jo. 10: 34). O próprio termo é
aplicado ao diabo (II Cor. 4: 4). Quando aplicado ao Deus dos céus, carrega em si todas as conotações dos nomes de
Deus do Antigo Testamento (Ef. 1: 17-19; I Co. 1: 18-24 = Deus como o Todo-Poderoso [o El-Shaddai]; Rm. 15:
33; I Ts. 5: 23; Heb. 13: 20 = Deus como redentor [Iavé]).
(b) Temos um segundo nome: Kurios, que significa Senhor. Equivalente a Adonai no Antigo Testamento,
expressa alguém que governa, que rege (Cf. Lc. 10: 2, 21).
(c) O terceiro: Pater, e significa pai. Esse termo não é próprio do Novo Testamento, e sim do Antigo
Testamento (Cf. Êx. 4: 22; Dt. 32: 5-6; Sl. 103: 13; Is. 63: 16; 64: 8; Jr. 3: 4; 31: 9; Os. 1: 10; Ml. 1: 6; 2: 10). Jesus
é quem usa esse nome. Quando aplicado por ele, tem um significado restrito, pois Ele é o único Filho legítimo de
Deus (Cf. Ef. 1: 3; Jo. 5: 17-18). Jesus nos ensinou a chamá-lO de “Pai nosso” (Mt. 6: 9), mas não no mesmo
sentido de Jesus (Mt. 5: 45-48; 6: 32; Gl. 4.1-7; Jo. 20: 17). Ou seja, enquanto Cristo é um Filho gerado, os que se
tornam cristãos são filhos por adoção: “Mas, vindo a lenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de
mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam dabaixo da lei, afim de recebermos a adoção de filhos...
Asim que não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo” (Gl. 4: 4-5, 7).

12. A Trindade. A palavra “Trindade” não é um termo bíblico. Foi Teófilo, bispo de Antioquia da Síria, entre 168-
183 a.D. quem primeiro usou a palavra grega “Trias”. Já a forma latina, “Trinitas”, foi usada primeiramente por
Tertuliano, cerca de 220 a.D.. Este assunto é um dos mais inescrutáveis das Escrituras Sagradas. Embora a Bíblia
afirme que há um só Deus, “o Senhor é o único Deus” (Dt. 6: 4). Ela usa o termo “Elohim” para designar o
Senhor Deus (Gn. 1: 1). Ora, Tanto “Elohim” quanto a palavra “achad”, de onde vem a palavra “Único” de
Deuteronômio 6; 4 incluem pluralidade de personalidades. Daí encontrarmos frases em que Deus fala usando o
plural. “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança...” (Gn. 1: 26). “Eia, desçamos e

10
confundamos...” (Gn. 11: 7). “Depois disso, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir
por nós?...” (Is. 6: 8).
Definição. Há três pessoas na Divindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, estas pessoas são um só Deus
Verdadeiro e Eterno, da mesma substância e iguais em poder e glória, ainda que distintas pelas suas propriedades
pessoais (Catecismo Maior, p. 9). Um coisa é certa, na divindade única, coexistem três pessoas consubstanciais, co-
iguais e co-eternas, o porquê está além do alcance do finito.
A doutrina da Trindade é obtida por indicação dos fatos da revelação cristã. Seu objetivo é coligir e expor
estes fatos revelando a natureza de Deus. Comecemos com a fórmula batismal.

12. 1. A fórmula batismal trinitariana. Lemos: “... batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do
Espírito Santo”. (Mt. 28: 19). Deve ser lembrado que estas palavras foram proferidas pelo Senhor Jesus Cristo.
12. 1. 1. Observe que são três nomes (nome do Pai, nome do Filho e nome do Espírito Santo), mas num só
triplicado. Estando este nome no singular, salienta que há essência ou substância no Deus Triuno comum, portanto,
as três pessoas.
12. 1. 2. Todas três pessoas são divinas. As divindades do Pai e do Espírito são aceitas sem argumentos.
Como se vê, Cristo também é divino, de outra maneira, o Seu nome não teria direito de figurar na fórmula e sua
consistência seria quebrada.
12. 1. 3. Todos os Três são pessoas. Poucos negam a personalidade do Pai e a do Filho, porém, ouve-se
muito, que o Espírito não é uma pessoa, mas uma influência. Entretanto, se o Espírito Santo não fosse uma pessoa,
não teria direito a um lugar na Trindade, e, Sua consistência seria quebrada. Temos, portanto, uma distinção tríplice
na Unidade, onde cada membro é concebido como divino e pessoal.
12. 1. 4. A substância de uma das pessoas da Trindade é idêntica as das outras duas pessoas, e não
meramente semelhante como sucede com as pessoas humanas. A substância única não é dividida em três partes,
toda a substância está em cada pessoa. Não podemos dizer que uma das três pessoas é Deus sem afirmar que as
outras duas também é Deus. Ou seja, se uma é Deus, as outras duas têm que ser Deus.
Observação. Os termos Pai, Filho e Espírito Santo é usado em sentido rigorosamente limitado. “Pai” não
implica prioridade nem superioridade. “Filho” não implica derivação, inferioridade ou distinção a respeito do
começo do tempo. O mesmo se diz do Espírito Santo.

12. 2. As provas indiretas no Velho Testamento. Não obstante ser a Trindade parcialmente encoberta no
Velho Testamento, ninguém pode negar que ela esteja indiretamente revelada nele.
Defende-se que havia razão para a Trindade não ser revelada claramente no Antigo Testamento.
Primeiramente, o propósito era incluir na mente do povo a unidade da Divindade e estabelecer o monoteísmo no
pensar dos israelitas (Dt. 6: 4-5). Em segundo lugar, não havia necessidade de ser divulgada a natureza tri-pessoal
de Deus, até que chegasse à consumação dos séculos e com ela a revelação do plano da salvação. Mas é interessante
notar que a concepção monoteísta prevalecerá outra vez no estado final (I Co. 14: 28).
12. 2. 1. Há uma trindade de pessoas na divindade Única. Que esta pluralidade é uma trindade, pode ser
observando pelo seguinte: (a) Jeová é distinto de Jeová (Gn. 19: 24; Is. 48: 16). (b) Em segundo lugar estão as
referências feitas ao Anjo de Jeová (Gn. 18: 2-17; 16: 2, 9, 13; 48: 15-16; etc.), que é identificado com Cristo (Is.
53). (c) Em terceiro lugar, vêem-se as alusões ao Espírito de Jeová (Gn. 1: 2; I Sm. 23: 2-3; Is. 40: 13; 48: 16).
12. 2. 2. A personificação da sabedoria divina de Provérbios 8, comparado com João 1: 1-2, 14 (logos), e
a sabedoria de I Coríntios 1: 24 – esses não são simples acidentes.
12. 2. 3. Outras indicações na repetição dos nomes divinos que implicam em uma distinção de pessoas na
Deidade (Nm. 6: 24-27; Gn. 48: 15-16; Is. 6: 3; Êx. 3: 15; Sl. 33: 6).
12. 3. As provas diretas no Novo Testamento. Esta doutrina aparece já feita em o Novo Testamento. Na
história do pensamento humano, nada mais maravilhoso há que a maneira silenciosa e imperceptível como esta
doutrina tomou lugar, sem peleja e sem controvérsia, entre as demais doutrinas cristãs, especialmente quando se
sabe que o teor do Velho Testamento era monoteísta.
12. 4. 1. A prova nos Evangelhos e nas epístolas, são monoteísta
(a) no anúncio do nascimento de Jesus Cristo (Lc. 1: 35).
(b) No batismo de Jesus (Mt 3: 16-17; Lc. 3: 21-22).
(c) Na comissão Apostólica (Mt. 28: 19).
(d) Na posição dos três atualmente (Jo 14: 26).
(e) Note-se como apóstolo Paulo introduz e conclui a sua epístola (Rm. 1: 1-7; I Co. 1: 1-3; II Co. 13: 13,
etc).
(f) Ele não perde de vista a unidade de Deus (Rom. 3: 30; Gl. 3: 20; I Co. 8: 4, 6), mas afirma que o Filho
(Rm. 9. 5: Tt. 2: 13) e o Espírito Santo (II Cor. 3: 18; 13: 13) igualmente é Deus, afirmando assim que o único Deus
é triúno (I Tess. 1: 2-5; Tt. 3: 4-6; II Tm. 1: 13-14).

11
Observação. O V. T. foi escrito do ponto de vista monoteísta. Enquanto o Novo foi do ponto de vista
trinitariano. Os dois testamentos se unem, se completam e não se contradizem.
12. 4. A prova da Trindade nos atributos divinos. Os atributos atribuídos ao Pai ao Filho e ao Espírito
Santo igualmente, tornam os três num mesmo pé de igualdade. Exemplo:
(a) Eternidade. O Pai (Sl. 90: 2), o Filho (Ap. 22: 13; Jo. 1: 2) e o Espírito Santo (Hb. 9: 14).
(b) Onipotência. O Pai (I Pe. 1: 5), o Filho, (II Co. 12: 9; Ap. 1: 8) e o Espírito (Rm. 15: 19).
(c) Onisciência. O Pai (Jr. 17: 10), o Filho (Ap. 2: 23) e o Espírito Santo (I Co. 2: 11).
(d) Onipresença. O Pai (Jr. 23: 24), o Filho (Mt. 18: 20) e o Espírito Santo (Sl. 139: 7).
(e) Santidade. O Pai (Ap. 15: 4), o Filho (Lc. 1: 35) e o Espírito Santo, já chamado de Santo.
O mesmo se pode dizer de qualquer aspecto do caráter de Deus, aquilo que é a verdade quanto a uma pessoa
da Trindade, o é igualmente para as outras duas pessoas.
Aí está uma prova concludente (convincente) de que a deidade é uma trindade de pessoas infinitas, ainda
que seja um só Deus.
12. 5. A Trindade e as obras de Deus. As obras cardeais são atribuídas as duas Pessoas da Trindade. A
idéia que a Bíblia dá não é que as três Pessoas fazem juntamente as mesmas obras. Mas que uma obra é referida
numa passagem a uma mesma pessoa, enquanto a passagem o é de outra, como se aquele ato não pudesse ser feito,
se aquela Pessoa não o tivesse feito. Isto prova uma unidade misteriosa, incompreensível a nós.
(a) A Criação atribuída ao Pai (Sl. 102: 2), ao Filho (Cl. 1: 16; Jo. 1: 3) e ao Espírito Santo (Gn. 1: 1-2).
(b) A criação do homem é atribuída ao Pai (Gn. 2: 7; Is. 54: 5), ao Filho (Cl. 1: 16) e ao Espírito Santo (Jo.
33: 4).
(c) A morte de Cristo é atribuída à vontade do Pai (Rm. 8: 32; Jo. 3: 16; Sl. 22: 1-5), a vontade do Filho
(Jo. 10: 16-18) e a vontade do Espírito Santo (Hb. 9: 14).
(d) A chamada dos ministros é atribuída ao Pai (II Co. 3: 5-6), ao Filho (I Tm. 1: 12) e ao Espírito Santo
(At. 20: 28).
(e) A Trindade mora no salvo. Exemplo: O Pai (Ef. 4: 6), o Filho (Col. 1: 18) e o Espírito Santo moram no
salvo (I Co. 6: 19).
(f) A santificação do salvo é atribuída ao Pai (Jd. 1), ao Filho (Hb. 2: 14) e ao Espírito Santo (I Co. 6: 11).
(g) A segurança eterna do salvo é atribuída ao Pai (Jo. 10: 29), ao Filho (Jo. 10: 28) e ao Espírito Santo
(Ef. 4: 30).
Está claro que, quanto ao modo de existência na divindade única coexistem três pessoas, nas suas relações
um para com a outra e nos seus ofícios e trabalhos como na economia divina.

13. As relações entre as pessoas da Trindade


13. 1. A geração do Filho. A propriedade pessoal do Filho é que Ele é gerado pelo Pai. Esta é a sua
característica incomunicável. Por meio desta geração, o Pai não chama a existência à natureza essencial do Filho,
mas se torna a causa da sua subsistência pessoal. A palavra gerar, quando aplicada à divindade, não exprime um
modo de vir a ser, mas um modo de existir. Prova-se que esta geração é eterna pelas passagens que falam sobre
Cristo como sendo Unigênito do Pai (Jo. 1: 1-2, 14, 18; 3: 18; Col. 1: 15, 16; Jo. 17: 5, 24). Cristo não se tornou
Filho de Deus pela Encarnação (Sl. 2: 7, Hb. 1: 4-6), nem por Sua ressurreição (At. 13: 32-33. Rm. 1: 4). Por estes
atos Ele apenas manifestou uma filiação já preexistente.
Essa geração não implica inferioridade por parte do Filho.
13. 2. A procedência do Espírito. A propriedade pessoal do Espírito é que Ele procede eternamente do Pai
e do Filho. Por este ato, o Pai e o Filho não chamam o Espírito à existência, mas se tornam a causa de Sua
subsistência pessoal, comunicando ao Espírito a essência divina, sem alheação ou mudança. Aqui vão as provas de
que a procedência é eterna.
13. 2. 1. O tempo presente do verbo em João 15: 26 e do Salmo 104: 30. E também o Espírito é de Deus e
de Cristo, I Coríntios 2: 11, 12; Gálatas 4: 6; Romanos 8: 9; João 15: 26.
13. 3. A ordem da existência das pessoas na Trindade reflete-se na ordem das Suas obras. Deus o Pai,
a Imagem ou Fonte da Deidade, dEle provém todas as coisas. Ao Filho pertence o princípio da revelação, quer na
Criação, quer na Redenção. Tudo é feito por Ele. Por esta razão Ele é chamado de “o Verbo de Deus”. Ao Espírito
Santo pertence o trabalho de levar a consumação à obra de Deus, na Criação, quer na Redenção. Podemos dizer que
Cristo é o centro das obras que manifestam Deus em busca do homem, enquanto o Espírito Santo é o centro das
obras que fazem o homem regressar à Deus. Nas obras de Cristo o homem é passivo; mas na do Espírito, o homem
é ativo. Neste modo de operação vemos que há subordinação entre as três Pessoas, mas esta subordinação termina
com o aperfeiçoamento do plano redentivo de Deus (I Co. 15: 19-24).
O Pai deu ou mandou o Filho (Jo 3: 16, 17; 6: 29. 8: 29) e O entregou (Rm. 8: 32). Cristo fez a vontade
d’Ele como o Filho obediente (Jo. 5: 19), pois o Pai é a cabeça de Cristo (I Co. 11: 3). Quanto ao Espírito, é Ele
mandado pelo Filho (Jo. 14: 26; 15: 26) e não falará de Si mesmo (Jo. 16: 13-14). Isso, porém, não afeta a divindade
de Cristo ou do Espírito Santo.
12
13. 4. Erros quanto a Trindade
13. 4. 1. Os arianos, que negaram a deidade do Filho, creram que Cristo era preexistente antes da
Encarnação, mas era criatura inferior a Deus e diferente do Pai. Segundo eles, geração não deve ser diferenciada de
criação.
13. 4. 2. Os nestorianos negavam a verdadeira união das naturezas humana e divina em Cristo, afirmando
ou dando a entender uma personalidade dupla em Jesus, criam que Ele tinha natureza semelhante ao do Pai. O
Logos habitava no homem Jesus Cristo, de maneira que, a união entre as duas naturezas era algo parecido com a
habitação do Espírito no salvo.
13. 4. 3. Os sabelianos ensinavam que havia apenas uma deidade, com três modos ou aspectos de
manifestação. Deus se revela como Pai na Criação, como o Filho na Encarnação e como Espírito Santo na
regeneração e na santificação.
13. 4. 4. Os socinianos dos dias da Reforma e os unitarianos – os modernistas de hoje – apresentam a
Trindade como consistindo de Deus o Pai, o homem Jesus Cristo e a influência divina que é chamado de o Espírito
Santo de Deus. Esta idéia tem a Deus como um, e não três pessoas no Seu Ser. Anulam assim, a Trindade.
13. 4. 5. O Triteísmo ensina a existência de três deuses. Enquanto o Trinitarianismo ensina que há três
pessoas, mas uma só essência. A essência indivisível da deidade, pertence como todos os seus atributos, a cada uma
das três pessoas da Trindade. A pluralidade na deidade não é pluralidade de essência, é apenas de distinção de
pessoas.

14. O decreto divino. No Breve Catecismo: “O decreto de Deus é o Seu propósito, segundo o conselho da Sua
vontade, pelo qual, para a Sua própria glória, Ele tem predestinado tudo quando acontece”.
14. 1. As características do decreto
14. 1. 1. O propósito de Deus é um só. Devido, porém, ao fato de incluir muita particularidade, chamámo-
lo muitas vezes de decretos divinos. O termo “decreto divino” ou “decretos” é a “manifestação da eterna e
soberana vontade de Deus, de conformidade com os quais é conduzido o curso da História”. Significa que o
mundo foi criado segundo um plano feito por Deus na Eternidade. Como, porém, esse plano é imutável, passou a ser
chamado, na linguagem teológica – “decreto”. É por ele ter vários aspectos em sua realização que o nome “decreto”
veio a ser no plural – “decretos”. O plano, porém, é um só (8: 28, Ef. 1: 11), com aspectos diversos (Ef. 3: 11; Tt. 1:
1-2). As coisas decretadas se realizam em tempo e em séries sucessivas, mas constituem um sistema, que, como um
todo, estava compreendido num propósito eterno de Deus.
14. 1. 2. O propósito de Deus é eterno, não somente no sentido em que antedata a Criação, mas também
em que sua formação é um ato eternamente contemporâneo do Ser divino. O propósito foi feito desde a Eternidade,
mas só no tempo foi feita a sua revelação. Se Deus tem um plano agora, esse plano é sem qualquer alteração desde o
princípio, pois Deus é imutável (Is. 14: 26; 37: 26; Ef. 1: 4; 3: 11; II Tm. 1: 9; Tt. 1: 2; I Pe. 1: 20; Ap. 13: 8).
14. 1. 3. O propósito de Deus tem como finalidade a Sua glória. Leia-se (Nm. 14: 21; Sl. 9: 1; Rm. 9:
23; I Co. 1: 29-31; Ef. 1: 6; 2: 8-9). Muitas vezes se pergunta: “Porque Deus criou o mundo? Porque Ele
permitiu o pecado? Por que Deus providenciou salvação apenas para os homens e não para os anjos?”. A
resposta para estas perguntas está em Apocalipse 4: 11.
14. 1. 4. O propósito de Deus é livre e soberano. Leia-se (Jó 36: 23; Sl. 115: 3; Is. 40: 13-14). Contudo,
todos os Seus atos estão de acordo com a Sua sabedoria (Jr. 10: 12), Sua justiça e Seu amor (Sl. 111: 7-8; 145: 17; II
Pe. 3: 9). Deus não escolheu a ordem atual das coisas por qualquer necessidade fora da Sua pessoa.
14. 1. 5. O propósito de Deus é permissivo no que diz respeito ao pecado. Os teólogos dividem o decreto
em quatro tipos: (1) Eficaz ou causativo, (2) Permissivo, (3) Eletivo (4) e Preteritivo. Estes dois últimos são
estudados como partes da Soteriologia. Quanto à certeza da realização de um evento, não há diferença quando o
decreto é eficaz, quando se refere à criação, a preservação do Universo, ou quando envolve causas físicas ou
materiais – criação, movimento dos astros, etc. (Jo 28: 26). Por decreto permissivo, queremos dizer por aquilo que
Deus decretou não impedir os atos pecaminosos da autodeterminação das Suas criaturas, mas apenas limitá-las e
controlá-las, dos mesmos (Gn. 20: 6; 50: 20; Sl. 78: 29; 106: 15; At. 14: 16). E isso Ele faz diretamente na vontade
do indivíduo, quer por meios físicos, quer por meios espirituais. A queda dos anjos e da raça humana liga-se a esse
decreto, porque Deus, sem tomar parte na referida queda, não impediu que ela acontecesse. Ele não força a vontade.
(Mt. 25: 35-39; Jo. 5: 40; 7: 17; Ap. 22: 17). Por esse decreto Deus tem controle absoluto sobre o mal, todavia não é
o Seu autor. Se Deus não tivesse permitido o pecado, este não se teria manifestado.

15. Bibliologia. Bibliologia é a doutrina das Escrituras e abrange todos os tópicos relativos à revelação escrita
sobre Deus. São elas: Revelação, Inspiração, Iluminação, Genuinidade, Canonicidade, Autenticidade ou
Credibilidade, Autoridade e Interpretação. O termo Escritura refere-se ao singular, a uma passagem particular (At.
8: 31-32; Lc. 4: 21). E as Escrituras é o uso plural, refere-se ao todo (Mt. 21: 42).

13
15. 1. A Bíblia como uma revelação divina. Revelação é o ato sobrenatural pelo qual Deus comunica aos
homens oralmente ou por escrito, algo que de outro modo, isto é, pela natureza ou pela razão, não chegariam, a
saber.
15. 1. 1. A necessidade de uma revelação. A luz imperfeita da natureza exige uma luz perfeita de uma
revelação. A razão ensina que o homem é pecador e merece a condenação, mas também não lhe mostra os meios de
receber a salvação nem a vida de comunhão que lhe acompanha. O estado de depravação total do homem exige
iluminação – a justiça e o poder, para isso, só a Escritura pode lhe fornecer. As aspirações espirituais do homem
exigem uma satisfação que só Ela pode mostrar.
15. 1. 2. As maneiras da revelação divina. Os teólogos dividem geralmente a revelação em duas partes
principais, que correspondem as duas fontes da teologia: (1) A revelação geral, ou não escrita, que abrange tudo o
que Deus comunica ao homem pela natureza ou pela História. (2) E a revelação específica, ou a Bíblia – a revelação
escrita.
Contudo, podemos dizer que Deus se revela:
(a) Através da Natureza (Sl. 19: 1-2; Rm. 1: 19: 20).
(b) Na providência.
(c) Na preservação.
(d) Nos milagres.
(e) Na comunicação direta – Teofanias, as visões, os sonhos, a comunicação boca a boca (Nm. 12: 8; Gn.
14: 18-20; 24: 50).
(f) Na Encarnação. Como a palavra é a expressão do pensamento, assim Cristo é a expressão do pensamento
ou propósito de Deus. Ele é a Palavra viva, como a Bíblia é a Palavra escrita (Jo. 1: 1-8; II Tm. 3: 16).
(g) Através das Escrituras. A revelação escrita é muito mais satisfatória do que a oral. É mais permanente e
mais difícil de ser pervertida. A Bíblia é a parte específica e essencial de toda a revelação de Deus. Dessas
revelações veremos duas delas.

15. 2. Preservação. É aquela operação pela qual Deus mantém em existência as coisas que criou, inclusive
as propriedades e poderes como Ele capacitou (Sl. 36: 6; 37: 28; 66: 9; Neem. 9: 6; At. 17: 28; Cl. 1: 17; Hb. 1: 3).
15. 2. 1. O método da preservação. A preservação não reside nos poderes de que é constituído o universo
abandonado por Deus, como ousa afirmar o deísmo. Também não é por criação animada, mas pela concorrência
divina, isto é, Deus coopera com a Criação, seja a criação animada, seja a inanimada, levando as duas a agir
precisamente como elas agem, sem, contudo, implicar-Se na responsabilidade do pecado.
15. 3. Providência. A providência divina é aquela operação contínua de Deus, pelo qual Ele toma parte
ativa em tudo o que acontece no mundo e dirige todas as coisas para um fim determinado, sem implicar-se na
responsabilidade do pecado. Desta maneira, há distinção entre preservação e providência. A preservação mantém as
coisas criadas, a providência as controla com o fim de efetuar um plano. Para fazer isso Deus pode usar as leis da
natureza ou efetuar milagres. Exemplos: A providência na Natureza (I Sm. 7: 10; Dn. 4: 35; Sl. 75: 6-7; 139: 16; Jr.
1: 5).

16. A doutrina da Criação. A doutrina da Criação não é exposta nas Escrituras como uma solução filosófica para o
problema do mundo, mas sim, em Seu significado ético e religioso, como uma relação do homem com seu Deus.
Ela salienta o fato de que Ele é a origem de todas as coisas, e de que todas as coisas lhe pertencem e estão sujeitas a
Ele. Esta doutrina só é conhecida pelas Escrituras e só é aceita pela fé (Hb. 11: 3). Apesar das palavras, tanto
hebraicas como gregas se referirem a Deus como Criador, elas também são usadas em caso de criação secundária,
ou seja, nos casos em que Deus criou algo da matéria já existente (exemplo: o corpo do homem). Para Berkof a
Criação é: “O livre ato de Deus pelo qual ele, segundo a Sua vontade soberana, e para a Sua própria glória,
produziu todo o universo visível e invisível, sem o uso de material pré-existente e assim lhe deu uma
existência distinta da sua própria e ainda assim, dEle depende”.
Sobre a criação secundária que Deus efetuou, Wolly Bills define esta criação como: “O ato pelo qual Deus
produziu o mundo e tudo quanto nele há, em parte do nada, e em parte de material que por sua própria
natureza é inepto para manifestações da Sua glória, ou Seu poder, sabedoria e bondade”.

16. 1. Definição teológica da Criação. Esta é uma das poucas doutrinas em que há provas abundantes
espalhadas por toda a Bíblia. Provas estas que são claras e inequívocas; todas afirmando que a Criação partiu de
Deus e que a mesma é um fato histórico. Classificamos as referidas passagens como se segue:
(a) Passagens que salientam a Onipotência de Deus na obra da Criação (Is. 40: 26, 28; Am. 4: 13).
(b) Passagens que indicam Sua exaltação acima da Natureza, como Deus Grandioso e Infinito (Sl. 90: 2;
102: 26-27).
(c) Passagens que vêem a Criação do ponto de vista da sabedoria e do propósito de Deus nas coisas criadas
(Is. 43: 5-9; Rm. 1: 25).
14
(d) Passagens que falam da Criação como obra fundamental de Deus (I Cor. 11: 9; Cl. 1: 16).
(e) Passagens que se referem à soberania de Deus na obra da Criação (Is. 40: 12-14; Jr. 10: 12-16; Jo. 1: 3).
(f) Passagens que afirmam categoricamente Deus como Criador do Universo (Neem. 9: 6; Is. 42: 5; 45:
18; Ap. 4: 11; 10: 6).

16. 2. Por quem foi feita a Criação? As Escrituras nos ensinam que a Criação é um ato do poder de Deus.
Os textos que seguem se referem ao autor da Criação sem especificar alguma pessoa da Trindade, mas pondo Deus
como ser único e trino, sendo o Efetuador da Criação (Gn. 1: 1; Is. 40: 12). Não podemos negar que o Pai, nas
Escrituras, é posto em primeiro plano na Criação, porém, é também claramente reconhecida como a obra do Filho e
do Espírito Santo.
16. 2. 1. Como se deu a criação Trina? O Filho e o Espírito Santo não atuaram na Criação de maneira
dependente ou foram apenas intermediários; nem o ato criador foi dividido entre as três Pessoas. Antes podemos
dizer que as três pessoas da Trindade atuaram juntas. Podemos falar da atuação da Trindade na Criação, da seguinte
forma:
(a) O Ser provém do Pai como também do Filho como também do Espírito, como sendo Ele mesmo.
(b) O pensamento ou a idéia provém do Filho como também do Pai e do Espírito como sendo Ele mesmo.
(c) A vida provém do Espírito Santo, como também do Filho e do Pai, sendo Ele o único Deus.
Eis algumas passagens das Escrituras que atribui a obra da Criação ao Filho e ao Espírito Santo: Ao Filho
(Jo. 1: 3; I Co. 8: 6; Cl. 1: 15-17). Ao Espírito Santo (Gn. 1: 2; Jó 26: 13; 33: 4; Sl. 104: 30; Is. 40: 12-13).

16. 3. De que resultou a idéia da Criação?


(a) A teoria da Criação contínua – de Karl Heim – afirma que o ato criativo de Deus não se limitou apenas
a seis dias. Mas que o Senhor continua a recriar a sua obra no tempo e no espaço. Tudo indica que ele foi
influenciado pelos ensinos de Darwin.
(b) A teoria do criacionismo progressivo. Ensina que Deus criou apenas o primeiro membro de cada
espécie e daí originaram-se todas as diversidades biológicas conhecidas hoje.
(c) O que as Escrituras dizem sobre o assunto. A Bíblia começa de maneira simples, declarando: “No
princípio criou Deus, os céus e a terra”. O termo hebraico usado aqui “BERESHTITH”, que literalmente
significa ‘princípio’, antes de tudo, quer dizer que o mundo teve um começo, é isto que é declarado de modo
implícito (Sl. 90: 2; 102: 25). De maneira que podemos dizer que o mundo foi feito fora do tempo, como uma obra
de Deus, que não está preso ou sujeito ao tempo, e, portanto, uma obra eterna de Deus, porém com um começo. O
que o diferencia do ser da existência de Deus e da geração do Filho, é que é uma obra imanente de Deus no sentido
absoluto da palavra. Como também podemos dizer que ele é temporal porque na sua existência ele já começa
submetido ao tempo em todas as suas formas de vida.
Passagens sobre o princípio da Criação (Gn. 1: 1; Mt. 19: 4, 8; Hb. 1: 10).

16. 3. 1. Foi a Criação de matéria pré-existente ou do nada? Sobre essa questão, no decorrer dos séculos,
muitas teorias apareceram. Veremos três delas:
(a) Platão dizia que a Criação foi feita de material pré-existente, ao qual Deus deu forma.
(b) Os gnósticos crêem que ela foi feita originalmente por emanação da substância divina.
(c) O panteísmo afirmava que a Criação era as aparências fenomênicas do absoluto, sendo este o
fundamento oculto de todas as coisas. Outros declaram que a Criação é eterna.
Em oposição a todas estas teorias, podemos afirmar que o mundo foi feito do nada, como nos revelam as
Escrituras Sagradas.

Apenas para discussão


(a) Os textos bíblicos provam que os mundos foram criados do nada? Discute-se que objetivamente os
mundos foram criados a partir de algo, pois as palavras hebraicas: BARÁ, ASAH e YATZAR, como os termos
gregos KTIZEIM, POIEIN, THEMELIOUN, KATARTIZIN, PLASSEIT, não expressam em seu significado
literal tal idéia.
Com uma observação. O termo ‘bará’, além de poder ser traduzido por: formar e criar tem um sentido de
derivação, embora que distante de: produzir ou gerar; a palavra é usada em caráter distintivo. É sempre empregada
com relação a algumas produções divinas e nunca a qualquer produção humana.
(b) O que significa a expressão “criar do nada”? É bom deixar claro que esta expressão não se acha na
Bíblia. É oriundo dos apócrifos, mais precisamente Macabeus. 7: 28.
Algumas idéias foram desenvolvidas a respeito dessa expressão: (1) A palavra usada para ‘nada’ é um
designativo de certa matéria com qual o mundo foi criado, matéria essa, sem qualidades e sem forma. (2) Outros
entendem que a expressão “criou do nada”, significa dizer que Deus por Sua vontade deu existência ao mundo do

15
que não existia. Como diz Martensen: “O nada do qual Deus criou o mundo, são as eternas possibilidades da
Sua vontade, que são as fontes de todas as realidades do mundo”.
(c) Passagens em que se baseia que a Criação veio do nada. (Gn. 1: 1) Registra o início da Criação sem
material pré-existente, mas simplesmente pelo poder da Palavra de Deus. Da mesma forma nos ensina os textos (Sl.
33: 6-9; 148: 5; Hb. 11: 3), que merece ser destacado por ser a base mais sólida desta doutrina. A criação aqui é
descrita, como um fato que aprendemos apenas pela fé, ou seja, não é possível compreender do que o mundo se
originou, pois ele foi feito apenas pela Palavra de Deus.
Temos a confirmação dessa verdade através das palavras do apóstolo Paulo, que diz que Deus “... chama
as coisas que não são como se já fossem” (Rm. 4: 17).

CONCLUSÃO. Dizer que a teologia tem um efeito entorpecedor sobre a vida espiritual pode ser verdade, se o
assunto for tratado como mera teoria. Se for tratado em relação à vida, se ficar claro que cada um dos atributos de
Deus, por exemplo, tem uma influência prática na conduta; a teologia não terá um efeito entorpecedor na vida
espiritual; ao invés disso, servirá de guia para o pensamento inteligente a respeito de problemas religiosos e um
estímulo à uma vida santa. Como poderia idéias plenas e corretas a respeito de Deus, do homem, do pecado, de
Cristo, da Bíblia, etc., levar a outra coisa? A teologia não apenas nos ensina que tipo de vida se deveria viver, mas
nos inspira a viver dessa maneira.
Em outras palavras, a teologia não apenas indica as normas da conduta, mas também nos fornece os motivos
para tentarmos viver de acordo com essas normas.

REFERÊNCIAS
BÍBLIA Sagrada, Antigo e Novo Testamento. Sociedade Bíblica do Brasil, D.F., 1979.
BERKOF, Louis. Teologia Sistemática. Sinodal, Curitiba, 1982.
LEITE FILHO, Tácito da Gama, O Homem em Três Tempos, Rio de Janeiro, CPAD, 1982.
GONZÁLEZ, L. Justo e Pérez, Zaida M. Introdução à Teologia Cristã. Tradução: Silvana
Perrella Brito. São Paulo, Hgnos, 1ª edição 2008.
HUNT, Dave. Cosmos, Criador e o Destino humano: Respondendo a Darwin, Dawkins e aos Novos
Ateístas. Tradução; Eurico Pasquini. Posto Alegre Actual Edições, 2012.
STRONG, Augusto Hopkins. Teologia Sistemática. Volume I, Hagnos, São Paulo, 2007.

16

Você também pode gostar