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RESUMO
O presente trabalho descreve aspectos da biologia das espécies capturadas com espinhel
pelágico na região sul das ilhas de Trindade e Martin Vaz, entre 22ºS-26ºW a 25ºS-40ºW. Dados
sobre reprodução e alimentação das espécies são analisados.
ABSTRACT
The present work describe biological aspects of species captured with pelagic longline in
south regions of Trindade and Martin Vaz islands, between 22ºS-26ºW to 25ºS-40ºW. Data about
reproduction and feeding ecology of different species are analised.
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MAZZOLENI, R.C. & P.R. SCHWINGEL: Aspectos biológicos de peixes pelágicos.
Figura 1: Localização dos lances realizados em janeiro de 2001. Nota: Tr - Ilha de Trindade; MV - Arquipélago de
Martin Vaz; o ponto na extremidade das retas indica o início do lance. As ilhas tiveram seu tamanho exagerado
aproximadamente 150x.
52
NOTAS TÉC. FACIMAR, 6: 51-57, 2002.
%
8
Nome vulgar Nome científico total (n)
6
Anequim Isurus oxyrinchus 2 4
Galha branca Carcharhinus 5 2
longimanus 0
Vaca Sphyrna lewini 1
11 0
12 5
14 0
15 5
17 0
18 5
20 0
21 5
23 0
24 5
26 0
27 5
29 0
30 5
50
65
80
95
Cação azul Prionace glauca 104 Com p rim en to total (cm )
Raia Pteroplatytrygon violacea 48
b
Peixe prego Lepidocybium 20 16
n=38
flavobrunneum 14
12
Espada preta Gempylus serpens 5 10
Dourado Coryphaena hippurus 14 8
%
Maka Tetrapturus albidus 2 6
Agulhão negro Makaira nigricans 4 4
Espadarte Xiphias gladius 116 2
0
Cavala Acanthocybium solandri 2
50
65
80
95
0
5
0
5
0
5
0
5
0
5
0
5
0
5
Albacora branca Thunnus alalunga 4
11
12
14
15
17
18
20
21
23
24
26
27
29
30
Albacora Thunnus obesus 1 C om prim en to total (c m )
bandolim
Foi o elasmobrânquio mais capturado no ros. A fecundidade foi estimada para 11 fême-
cruzeiro (n= 104). A maior concentração da as (Figura 4), encontrando-se uma média de
captura de P. glauca ocorreu nos três últimos 51,5 ovócitos por fêmea. A menor fêmea grávi-
lances (11 a 13), quando a pesca se realizou da encontrada possuía 200cm, valor que fica
mais ao sul (Figura 1). A amplitude de compri- próximo a estimativa de maturidade encontra-
mentos para as fêmeas variou de 175cm a da por Pratt (1979) que é de 185cm para as
284cm, enquanto que para os machos foi de fêmeas. O menor macho maduro encontrado
140cm a 302cm. Observou-se nas distribuições possuía 195cm, o que também está a cerca
de comprimento que os exemplares maiores da estimativa de Pratt (op. cit.) que foi 180cm.
que 260cm foram representados em sua maior Os dados também revelaram uma aparente re-
parte por machos (Figura 2). lação positiva entre o número de embriões e o
Dados biométricos foram obtidos para comprimento da fêmea, o que indica que fême-
possibilitar futuras investigações utilizando as maiores possuem um maior número de
amostragem de desembarques na pesca indus- embriões (Figura 4).
trial, onde os indivíduos são descarregados já Com referencia a repleção estomacal do
eviscerados e sem cabeça. Para tanto, esti- tubarão azul, verificou-se que a maior parte dos
mou-se a relação CT e CID para machos e fê- indivíduos analisados mostraram a dominância
meas separadamente (Figura 3). dos graus de repleção 1 e 3, sendo que a por-
A relação macho/fêmea obtida foi de centagem de estômagos vazios foi baixa (Ta-
1,08. Em 15 fêmeas analisadas (39,4%) houve bela 2). A dieta foi composta, predominante-
a presença de marcas de cópula em diferentes mente por cefalópodes e teleósteos (Tabela 3).
graus de cicatrização. Analisando o aparelho Dentre as presas identificadas, o baiacú de
reprodutor das fêmeas, 4 (10,5%) possuíam espinhos Diodon histix (Linnaeus, 1758) ocor-
ovócitos nos ovários e 32 (84,2%) estavam em reu em 30% (n=6) dos estômagos analisados
estágio inicial de gravidez, com seus ovócitos e em todos estes apresentou-se em estágio
fecundados e em fase de implantação nos úte- inicial de digestão. Segundo Gasparine &
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MAZZOLENI, R.C. & P.R. SCHWINGEL: Aspectos biológicos de peixes pelágicos.
3 50 M a cho s (n=42 ) 70
N ú m e ro d e e m b riõ e
y = 2,5 37 5x + 4 6,87 5
3 00 60
C o mprimento tota l (c m)
2
R = 0 ,8 9 27
2 50
F ême a s (n=38 )
50
2 00 y = 3,1 23 1x + 9 ,1 52 7 40
2
R = 0 ,9 3 54
1 50 30
1 00 20
Fêm eas
50 M acho s 10
0
0
0 20 40 60 80 1 00 1 20 50 100 150 200 250 300
C o mprimento Inte rso rs al (cm) C o m p rim e n to T o ta l (c m )
Figura 3: Relação entre CT e CID para os machos e Figura 4: Fecundidade observada para fêmeas de P.
fêmeas de P. glauca. glauca.
Floeter (2001) este teleósteo é comum na re- ou que este existia em pouca quantidade (Ta-
gião de entorno da Ilha de Trindade até os 20m bela 2). A dieta desta raia foi representada
de profundidade e conhecido por ter hábitos principalmente por cefalópodes e crustáceos,
demersais relacionados a uma alimentação com pouca presença de teleósteos (Tabela 3).
bentônica. O que indica que o tubarão azul usa
a região de entorno das ilhas como uma área Espadarte - Xiphias gladius Linnaeus, 1758
de alimentação.
Durante o cruzeiro, 116 indivíduos da
Raia Pelágica - Pteroplatytrygon violacea espécie-alvo da pescaria, Xiphias gladius fo-
(Bonaparte, 1832) ram capturados. A distribuição de freqüência
dos espadartes capturados é mostrada na Fi-
Um total de 48 exemplares, entre 30 e gura 7, revelando a dominância de indivíduos
66cm LD foram capturados. (Figura 5). Na dis- entre 130 à 200 cm CMF. Segundo Arfelli (1996)
tribuição de freqüência ficou evidenciado que isto representa exemplares com idades entre
as fêmeas alcançaram tamanhos maiores que 1 a 10 anos. Nesta mesma distribuição pode-
os machos nas capturas
A relação macho/fêmea foi de 0,45, o
que não demonstra uma maior utilização da
Tabela 2: Porcentagem dos graus de repleção estoma-
área pelas fêmeas. Entretanto o maior número cal observados para cada espécie componente da cap-
destas nas capturas pode ser efeito da morta- tura. Nota: 0= vazio, 1= 25% cheio, 2= 50% cheio, 3=
lidade causada nos machos em decorrência 75% cheio, 4= cheio.
de ferimentos causados pelo espinho da fêmea
Exemplares Grau de repleção
no momento da cópula (com. pes. Henry Mollet, Espécie analisados
0 1 2 3 4
Monterey Bay Aquarium, Monterey, California). (n)
Anequim 1 - - - 100 -
Em 15 fêmeas analisadas de P. Galha branca 5 20,0 20,0 40,0 20,0 -
violacea, 11 encontravam-se grávidas com uma Vaca 1 - - - - 100
Cação azul 23 13,0 30,4 17,3 34,7 4,3
média de 5,4 embriões/fêmea possuindo tama- Raia 24 29,1 29,1 16,6 8,3 12,5
nhos superiores a 50 cm LD. A Figura 6 mos- Peixe prego 6 100 - - - -
Espada preta 2 - 50,0 - 50,0 -
tra a fecundidade obtida para esses exempla- Dourado 0 - - - - -
Maka 2 - - 100 - -
res, bem como sugere que os indivíduos maio- Agulhão negro 2 50,0 - - 50,0 -
res possuam um maior número de embriões. Espadarte 24 54,1 16,6 16,6 8,3
Cavala 0 - - - - -
A análise do conteúdo estomacal de 24 Albacora branca 0 - - - - -
exemplares, mostrou que a maioria dos exem- Albacora 0 - - - - -
bandolim
plares analisados não havia ingerido alimento
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NOTAS TÉC. FACIMAR, 6: 51-57, 2002.
Tabela 3: Freqüência de ocorrência das presas encontradas no conteúdo estomacal das espécies analisadas no
cruzeiro.
50
a
50 b
n= 15
40
40
n= 33
30
30
%
20 20
10 10
0 0
25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70
L arg ura d e dis c o (c m ) Largura de disc o (cm)
Fig. 5: Distribuição de freqüência para machos (a) e fêmeas (b) de P. violacea capturados na viagem.
6
res que 2 anos de idade segundo o mesmo
autor.
4
Buscando-se uma ferramenta de auxílio
2
para os estudos biológicos-pesqueiros, onde o
0 CMF é a medida padrão, apresentamos na Fi-
20 30 40 50 60 70
Largura de dis c o (c m )
gura 8 a relação entre essa medida e o compri-
mento inter-dorsal (CID), que freqüentemente
Figura 6: Fecundidade observada para as fêmeas de P. é a única medida possível em amostragens de
violacea . esembarques.
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MAZZOLENI, R.C. & P.R. SCHWINGEL: Aspectos biológicos de peixes pelágicos.
12 n=98
8 200
%
6 150
4 100
2 50
0 0
80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 0 20 40 60 80 100 120 140 160
Figura 7: Distribuição de freqüência de comprimentos Figura 8: Relação obtida entre o CMF e CID para os
para os exemplares de X. gladius capturados no cru- exemplares de X. gladius.
zeiro.
As Tabelas 2 e 3 mostram que os estô- tória-Trindade, onde pode utilizar as ilhas para
magos vazios foram dominantes para o espa- a obtenção de alimento. Em um estudo reali-
darte. Entretanto, os estômagos analisados zado na região Nordeste do Brasil, Vaske Jr.
com conteúdo revelaram a predominância de (2000) encontrou estas mesmas espécies na
cefalópodes. área oceânica aos arredores dos Arquipélagos
Nos exemplares que tiveram suas de São Pedro e São Paulo, Fernando de
gônadas analisadas, identificou-se 3 machos Noronha e Atol das Rocas em padrões simila-
e 15 fêmeas. Todos os machos (193 - 194cm res de utilização de recursos alimentares. En-
CMF) eram indivíduos no estágio maduro. As tretanto, para a área do presente estudo, a di-
15 fêmeas analisadas apresentaram compri- versidade de presas apresentou-se menor que
mentos (CMF) superiores a 196cm, sendo que a de Vaske Jr. (op. cit.) para as mesmas espé-
em 9 (60%) os ovários apresentaram-se com cies de predadores analisadas.
uma intensa rede capilar que segundo Vazzoler
(1996) é característica de um estádio gonadal
que apresenta-se em maturação. As outras 6
fêmeas (40%) apresentavam-se com gônadas
maduras.
No decorrer do cruzeiro, foram captura- Tabela 4: Amplitude de tamanho (cm) obtidos das de-
mais espécies de teleósteos capturadas no cruzeiro.
das mais três espécies de elasmobrânquios e
sete espécies de teleósteos, porém pouco fre- Amplitude
quentes. Os dados obtidos quanto a amplitude Captura Exemplares de
Espécies
total (n) medidos (n) Tamanho
de tamanho e alimentação das mesmas en- (cm)
contram-se listados nas Tabelas 2, 3 e 4. Anequim 2 2 210-227
Os dados obtidos no presente estudo Galha branca 5 5 116-182
Vaca 1 1 292
permitem uma primeira visão sobre a biologia Espada preta 5 1 120
das espécies na área analisada. Estes resul- Dourado 14 - -
tados indicam que a área de estudo é utilizada Peixe prego 20 20 48-156
Agulhão branco 2 - -
pela raia pelágica Pteroplatytrigon violacea, o
Agulhão negro 4 2 252-307
espadarte Xiphias gladius e o tubarão azul Cavala 2 1 141
Prionace glauca em seus ciclos de vida para Albacora 4 3 107-118
atividades relacionadas à reprodução. Além branca
Albacora 1 1 151
disso, fica claro um relacionamento entre o tu- bandolim
barão azul e o ambiente insular da Cadeia Vi-
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NOTAS TÉC. FACIMAR, 6: 51-57, 2002.
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