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Ciência e Religião: um diálogo possível?

1.0 Introdução

Há algumas semanas, tive a oportunidade de ler um texto bastante provocativo, de


autoria do jornalista Roberto Belisário, intitulado “Ciência e religião: um diálogo
possível”1, publicado na revista eletrônica “ComCiência”. O artigo aborda diversos
aspectos do relacionamento entre as duas áreas, para concluir que o diálogo é possível.
Minha opinião é diferente, como procuro explicar nos parágrafos que se seguem.

2.0 Comparação entre as metodologias da Ciência e da Religião

Um dos estudiosos citados no artigo é o teólogo Eduardo Rodrigues da Cruz, da Pontifícia


Universidade Católica de São Paulo. Cruz considera que a diferença de métodos não
implica em uma incompatibilidade entre as duas áreas e prefere falar em uma relação
entre Ciência e Teologia – ao invés de entre Ciência e Religião - considerando que a
Teologia é “um estudo racional baseado em fontes empíricas.”

O método científico consiste na observação dos fenômenos, na coleta de dados, na


formulação de hipóteses que expliquem os dados observados e na experimentação para
verificar a validade ou não das hipóteses formuladas. Karl Popper, citado no artigo,
afirmava que uma teoria somente pode ser considerada científica quando for falsificável,
ou seja, quando for possível conceber uma observação que a torne falsa. Um corolário
desta afirmação é que uma teoria científica possui, necessariamente, conseqüências
observáveis.

De fato, as grandes teorias científicas tem não só conseqüências observáveis, como


possuem geralmente a capacidade de predição, ou seja, explicam fenômenos que só mais
tarde são observados. É o caso, por exemplo, da Mecânica Quântica, da Teoria da
Relatividade e do Darwinismo.

Outra característica absolutamente fundamental do método científico é que as hipóteses


formuladas são abertas à discussão e à crítica e sofrem um processo constante de revisão,
aperfeiçoamento e, eventualmente, substituição.

3.0 Considerações sobre a Metafísica

Por outro lado, a Teologia Racional é uma das divisões da Metafísica, que engloba
também a Cosmologia Racional (Metafísica da Natureza) e a Psicologia Racional
(Metafísica da Alma). A Metafísica pressupõe que é dado ao ser humano alcançar através
da razão o conhecimento das causas primeiras e finalidades últimas do ser, demonstrar a
existência e, em certa medida, compreender a natureza de Deus, provar a existência e
compreender o destino do espírito, e assim por diante. Mas, será tal conhecimento
atingível pela razão?

1
O artigo pode ser acessado através do link http://www.comciencia.br/reportagens/cultura/03.htm

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Há várias correntes filosóficas que negam a possibilidade mesma da Metafísica. Entre


estas podem ser destacados o Criticismo, formulado por Immanuel Kant, e o Positivismo
de Augusto Comte.

Todavia, neste trabalho optei por apresentar o que um defensor da validade da Metafísica
diz sobre ela. Transcrevo alguns trechos de um compêndio de Filosofia2, extraídos do
tópico “Certeza própria das verdades metafísicas”.

Lê-se em um trecho:
“Aqui os problemas são tão complexos e ao mesmo tempo tão subtis; supõe observações
tão delicadas e tão numerosas, deduções tão longas, que o espírito raramente é capaz de
abranger numa vista de conjunto toda a série de raciocínios.”

E mais adiante:
“Tanto mais que muitas vezes estas conclusões não podem ser comprovadas pela
experiência direta, como na física, nem pelo absurdo de seus contrários, como na
matemática; porque a natureza e a íntima constituição das causas e das substâncias do
universo são ao mesmo tempo contingentes em si mesmas e estão fora do alcance do
sentidos.”

É de se perguntar como seria possível conceber uma observação que possa falsificar uma
hipótese sobre algo que está fora do alcance dos sentidos. Ou seja, tais conclusões não
possuem conseqüências observáveis e, portanto, não podem nem ser refutadas, nem
ser comprovadas.

E o parágrafo final do tópico conclui:


“Por todas estas razões muitas das conclusões da Metafísica serão sempre analógicas. Só
poderia encontrar as fórmulas adequadas quem conhecesse perfeitamente a essência do
ser e nele contemplasse diretamente a razão dos fenômenos. Ora, isto é privilégio só de
Deus.”

Salta aos olhos a falácia conhecida como raciocínio circular ou tautologia3, na qual se
incide quando a conclusão ou alegação é meramente a reafirmação de uma das
premissas. Se um dos objetivos da Metafísica é demonstrar racionalmente a existência de
Deus, como se pode afirmar que somente Deus possui as formulações adequadas para a
Metafísica?

2
LAHR, C. Manual de Filosofia. Tradução e adaptação de Antonio Alves da Cruz. 6 ª ed. Porto: Livraria
Apostolado da Imprensa, 1952. 847 p. Título original: Cours de Philosophie

3
SHERMER, M., 1997. Why People Believe Weird Things, W. H. Freeman and Company, New York.

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Finalmente, não é incomum que muitas questões metafísicas sejam respondidas com base
na Revelação, na Autoridade ou na Tradição. Muitas vezes, o debate não é realmente
livre, mas sim delimitado por condições de contorno estabelecidas a priori. Novas idéias
são silenciadas quando julgado necessário (por exemplo, Teilhard de Chardin, Leonardo
Boff, Hans Küng, e outros).

4.0 Estereótipos relativos às metodologias da Ciência e da Teologia

É comum considerar-se que a Ciência está sempre associada ao empirismo puro e a


Teologia sempre associada à Revelação Divina.

Como qualquer empreendimento humano, a Ciência opera no contexto de uma sociedade


e seus valores. Por exemplo, nas Ciências Sociais e na Biologia é claramente visível o
racismo e o etnocentrismo de muitos grandes cientistas do século XIX, quando os países
europeus dominavam o restante do mundo.

Thomas Kuhn, também citado no artigo, explica que as grandes revoluções no


pensamento científico se processam através da mudança de paradigmas: a) inicialmente,
existe uma teoria aceita por todos; b) novas descobertas e experimentos conduzem a
resultados não explicáveis pela teoria dominante; c) surge uma nova teoria que explica
satisfatoriamente as observações citadas; d) a nova teoria ganha aceitação geral e
substitui a anterior como novo paradigma. O exemplo clássico é a mecânica newtoniana e
a mecânica relativística.

Cumpre observar que o paradigma vigente determina até certo ponto as experiências que
são feitas. Por exemplo, existem hoje mais de 200 partículas sub-atômicas conhecidas. À
medida que são construídos aceleradores maiores e mais poderosos, mais e mais
partículas serão descobertas.

Alguns críticos dizem que isto ocorre porque é isto o que os experimentos estão
buscando, e sugerem alternativas. Um destes cientistas chamava-se David Bohm (1917 -
1992), um físico que, quando jovem, trabalhou com Einstein. Bohm teorizava sobre uma
“ordem intrínseca”4 que existiria ao nível das partículas sub-atômicas – algo como o
“Efeito Borboleta”5 – cuja observação exigiria experimentos totalmente diversos dos que
são hoje realizados.

Por outro lado, se é fato que a Teologia Racional não se baseia apenas e tão somente na
Revelação, já foram comentados os limites aos quais o estudo desta matéria está sujeito.

4
BRIGGS, J. P. & PEAT, F. D., 1984. Looking Glass Universe, Simon & Schuster, Inc., New Yotk
5
A rigor, efeito borboleta é uma metáfora que resume o conceito de dependência sensível às condições
iniciais na área da matemática denominada Teoria do Caos; especificamente, a idéia de que em um sistema
complexo uma pequena mudança em determinado lugar pode ter efeitos significativos em outro ponto.
Outro sentido, mais difundido popularmente e utilizado neste texto, é a noção de que tudo está
interconectado.

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Assim, creio ser bastante discutível a avaliação de que “o grau de racionalidade comum
entre a Teologia e a Ciência é grande”.

5.0 Interpretação literal do Gênesis e o debate Criacionismo versus Darwinismo

De acordo com o artigo, a “grande maioria dos teólogos abomina a postura


fundamentalista.” Neste contexto, fundamentalismo refere-se especificamente a algumas
denominações cristãs cuja doutrina se baseia na interpretação literal da Bíblia, “atitude
que poderia levar, por exemplo, a admitir que o mundo tem apenas seis mil anos de
idade.”

Respeito as idéias destes grupos, enquanto crenças religiosas, mas não há dúvida que o
fundamentalismo é incompatível com o conhecimento científico.

Baseando-se numa interpretação literal do Gênesis, os fundamentalistas negam a


evolução das espécies, a despeito da evidência incontestável de que a evolução ocorreu.
Este criacionismo tosco ignora, entre outras áreas da Ciência, as descobertas da Geologia,
evidenciando os bilhões de anos que transcorreram desde a formação do planeta, e da
Paleontologia, que demonstram o surgimento e extinção de imenso número de espécies
ao longo do tempo, mapeando assim a seqüência evolutiva6, 7.

É fácil rebater o criacionismo fundamentalista, porém é bem mais complexo apontar o


problema de consistência lógica no que chamo “criacionismo teísta”. Esta corrente de
pensamento, que é hoje prevalente nas denominações protestantes tradicionais (por
exemplo, luteranos, metodistas, presbiterianos) e no catolicismo, aceita sem restrições as
descobertas científicas sobre a evolução e, de maneira geral, não vê qualquer conflito
entre Ciência e Religião.

De acordo com este ponto de vista, as leis naturais foram criadas por Deus com um
propósito, e regem a evolução do universo, desde a formação das partículas elementares
até o desenvolvimento da consciência humana, e além.

Há, também, uma longa tradição de buscar provas da intervenção divina na criação
partindo de argumentos focados na beleza e complexidade da natureza8. Um dos
argumentos mais conhecido foi apresentado por um teólogo do século XVIII, chamado
William Paley.

Em uma passagem célebre de sua obra “Teologia Natural – ou Evidências da Existência e

6
BERRA, T. M., 1990. Evolution and the Myth of Creationism, Stanford University Press, Stanford
7
KITCHER, P., 1986. Abusing Science – The Case against Creationism, MIT Press, Cambridge
8
DAWKINS, R., 1987. The Blind Watchmaker, W. W. Norton & Company, New York.

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dos Atributos da Divindade Coletadas nas Manifestações da Natureza”, publicada em


1802, o teólogo discorre sobre a complexidade de um relógio e afirma que ao nos
depararmos com tal aparelho somos forçados a concluir que “o relógio tem que ter tido
um fabricante; que deve ter existido, em algum tempo, em um lugar ou outro, um artífice
ou artífices, que o construíram para a finalidade que realmente possui; que compreendiam
sua construção, e previram seu uso.”

Em seguida, estende esta conclusão afirmando que “todos os indícios de propósito, todas
as manifestações de projeto, que existiam no relógio, existem nas obras da natureza, com
a diferença, a favor da natureza, de serem maiores e mais numerosas, num grau que
excede qualquer avaliação.”

O problema lógico com o criacionismo teísta, colocado de maneira bastante clara, é que a
hipótese de um propósito super-natural é desnecessária para explicar a evolução das
espécies ou, de modo geral, a existência do universo físico.

A formação casual de aminoácidos autoreplicantes, a mutação aleatória do material


genético e a seleção natural dos indivíduos melhor adaptados ao ambiente são
mecanismos suficientes para explicar a origem e a evolução dos seres vivos. Como a idéia
de um propósito divino nada acrescenta em termos de explicação do fenômeno, o
princípio lógico de economia de hipóteses recomenda sua exclusão.

É claro que, ao excluir a hipótese de um propósito para a evolução, a Ciência tira do ser
humano a veleidade de considerar-se como o pináculo da criação. Nos termos do
Darwinismo, tal como aceito pela quase totalidade dos cientistas, o “homo sapiens” nada
mais é que o resultado do acaso, assim como o “canis canis” ou a “blattella germanica”.
Em termos evolucionários, nenhuma destas espécies é superior às outras; tanto os
homens como os cães e as baratas estão adaptados ao respectivo meio ambiente e as três
espécies tem sido bem sucedidas do ponto de vista reprodutivo.

6.0 Positivismo e a influência da religião

Resumindo o que foi apresentando até o momento, pode-se sumarizar minha exposição
em duas idéias centrais que são:
(1) a impossibilidade e inutilidade da metafísica, e;
(2) a superioridade e prevalência do método científico como forma de aquisição do
conhecimento.

Estas idéias não são, de forma alguma, novas ou originais. De maneira geral, qualquer
sistema filosófico que se limita a considerar os dados da experiência e exclui especulações
a priori ou metafísicas, denomina-se positivismo9. Mais especificamente, o termo

9
POSITIVISM (2011). In Encyclopædia Britannica. Disponível em Encyclopædia Britannica Online:
http://www.britannica.com/EBchecked/topic/471865/positivism. Acesso em 10 fev 2011

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positivismo designa o pensamento do filósofo francês Auguste Comte (1798-1857). No


que se segue, será este o significado desta palavra.

Em síntese, a doutrina positivista:


(a) propõe que a experiência sensível é a única capaz de produzir, a partir de dados
concretos, a verdadeira ciência, que subordina a imaginação à observação,
tomando como base apenas o mundo físico ou material;
(b) considera tudo aquilo que não pode ser comprovado cientificamente como
pertencente ao domínio teológico-metafísico, caracterizado por crendices e
superstições, e;
(c) nega à ciência qualquer possibilidade de investigar a causa dos fenômenos naturais
e sociais, considerando este tipo de pesquisa inútil e inacessível, e voltando-se
para a descoberta e o estudo das leis (relações constantes entre os fenômenos
observáveis).

O positivismo teve grande influência na formação da sociedade brasileira no final do


século XIX e início do século XX. Um exemplo desta influência: o lema “Ordem e
Progresso” inscrito no pavilhão nacional deriva da máxima positivista “O amor por
princípio, a ordem como base, o progresso como fim”.

Inúmeros brasileiros esposaram o ideário positivista, o que provoca a seguinte questão: é


o positivismo, seja na versão de Comte, seja em outras versões, compatível com o
sentimento religioso tão característico do nosso povo?

A hipótese da existência de Deus não pode ser comprovada cientificamente e um adepto


do positivismo poderia rejeitar esta hipótese, classificando-a como crendice e superstição.
Esta pessoa tornar-se-ia um ateu, e não professaria qualquer religião.

Para responder à questão colocada, vale a pena apresentar primeiramente alguns


conceitos que permitem descrever de maneira clara os diferentes posicionamentos
filosóficos no que diz respeito à divindade. Estes conceitos são:
a) teísmo – é a crença em um princípio criador, distinto e separado de sua criação,
que dirige e suporta a existência continuada do mundo físico, e lhe dá significado e
propósito;
b) deísmo – é a crença em um princípio criador, distinto e separado de sua criação,
que estabeleceu as leis naturais e não intervem no curso dos acontecimentos
posteriores;
c) panteísmo – é a crença em um princípio criador, idêntico e unido à sua criação, de
modo que a divindade e o mundo físico se fundem e se confundem;
d) ateísmo - é a negação absoluta da existência da divindade; o ateu afirma
categoricamente que Deus não existe.

Todas as denominações cristãs são teístas, assim como o são o judaísmo e o islamismo.
Mas valorizar a razão como forma de compreender a realidade não leva necessariamente

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ao ateísmo. O artigo cita uma pesquisa feita com cientistas, abordando a relação pessoal
de cada um com a religião; os resultados foram publicados em 1997 por Edward Larsone e
Larry Witham na revista britânica “Nature”. Segundo a pesquisa 39% dos cientistas crêem
em um deus, 45% não crêem e 15% têm dúvida ou são agnósticos.

A Encyclopaedia Britannica nos ensina que o agnosticismo10 (do grego agnō stos,
“incogniscível; que não pode ser conhecido”) é a doutrina de que é impossível aos seres
humanos compreender algo que transcende os fenômenos de sua experiência; o termo
está hoje associado ao ceticismo a respeito de assuntos religiosos em geral, e
particularmente à rejeição dos ensinamentos tradicionais do cristianismo quando
interpretados à luz do conhecimento científico moderno.

A palavra “agnosticismo” foi criada pelo biólogo T. H. Huxley e utilizada publicamente pela
primeira vez em 1869, em uma reunião da Sociedade Metafísica de Londres. Huxley foi um
dos mais ativos divulgadores e defensores do Darwinismo.

É possível falar de agnosticismo religioso, mas para que esta expressão não seja
contraditória, ela deve ser entendida como referindo-se à aceitação do princípio agnóstico
(incogniscibilidade do Absoluto), associado:
a) à convicção de que um mínimo de doutrina afirmativa pode ser estabelecida, ou;
b) a uma religião ou religiosidade que não faz exigências doutrinárias substanciais.

7.0 Bases éticas para o progresso científico

O artigo original aborda em seu final a questão do afetivo na religiosidade dos cientistas e
afirma que, em uma pesquisa feita entre cientistas da USP, “nenhum deles optou pelo
repúdio ou pela aceitação da religião por motivos relacionados à sua ciência.”

De fato, não há necessidade de fazê-lo, pois Religião e Ciência têm áreas de atuação e
objetivos distintos. Enquanto a Ciência procura desvendar o “como” dos fenômenos
naturais e do universo sensível, a Religião busca unir (re-ligar) a finitude do homem ao
sentido maior do Cosmos, respondendo o “por quê” da condição humana.

Creio que o diálogo entre Religião e Ciência, no sentido de aprendizado e troca de


experiências, não só é impossível, como não faz sentido, pois as perguntas que se busca
responder são completamente distintas, assim como também o são os pressupostos e as
metodologias.

10
AGNOSTICISM (2011). In Encyclopædia Britannica. Disponível em Encyclopædia Britannica Online:
http://www.britannica.com/EBchecked/topic/9356/agnosticism. Acesso em 10 fev 2011

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Não é possível encontrar Deus através da razão11, que não O pode compreender
minimamente. Apenas a Fé e a busca incessante do progresso espiritual permitem que o
ser humano entreveja a realidade que se situa além da experiência sensível.

Entretanto, a comunicação entre a Religião e a Ciência é fundamental para que esta


última se desenvolva em benefício do ser humano. Sem esta comunicação não é exagero
considerar que a própria sobrevivência da espécie e, quem sabe, a continuidade da vida
no planeta, estarão ameaçadas.

Absolutamente isento de qualquer propósito confessional, mas simplesmente pela clareza


e elegância do texto, cito um trecho do Catecismo da Igreja Católica12 que trata deste
tema:

§2293 A pesquisa científica de base, como a pesquisa aplicada, constituem uma expressão
significativa do domínio do homem sobre a criação. A ciência e a técnica são recursos
preciosos postos a serviço do homem e promovem seu desenvolvimento integral em
benefício de todos; contudo, não podem indicar sozinhas o sentido da existência e do
progresso humano. A ciência e a técnica estão ordenadas para o homem, do qual provêm
sua origem e seu crescimento; portanto, encontram na pessoa e em seus valores morais a
indicação de sua finalidade e a consciência de seus limites.

§2294 É ilusório reivindicar a neutralidade moral da pesquisa científica e de suas


aplicações. Além disso, os critérios de orientação não podem ser deduzidos nem da simples
eficácia técnica nem da utilidade que possa derivar daí para uns em detrimento dos
outros, e muito menos das ideologias dominantes. A ciência e a técnica exigem, por seu
próprio significado intrínseco, o respeito incondicional dos critérios fundamentais da
moralidade; devem estar a serviço da pessoa humana, de seus direitos inalienáveis, de seu
bem verdadeiro e integral, de acordo com o projeto e a vontade de Deus.

Em conclusão, acredito que a Ciência é, pela natureza mesma de seu método e objetivo,
intrinsecamente incapaz de responder questões relativas ao sentido e à finalidade da
existência humana; paradoxalmente, respostas a estas questões são extremamente
necessárias, pois fundamentam os princípios éticos essenciais para que o conhecimento
científico não se volte contra o próprio homem.

11
Meu pai, João Batista de Azevedo (1912 – 1995), tratou deste tema em um belíssimo soneto, intitulado
“Ele?!...”, cujo primeiro quarteto diz:
Por mais que Te buscasse em vão nos alfarrábios,
na Ciência, nula e vã, que quase nada alcança,
na louca pretensão dos que se dizem sábios,
de Te encontrar perdi, também, toda esperança...
12
O texto completo do Catecismo da Igreja Católica pode ser acessado na internet, em português, em:
http://www.vatican.va/archive/ccc/index_po.htm

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