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Belo Horizonte
2017
Vladimir Alexei Rodrigues Rocha
Belo Horizonte
Faculdade Ietec
2017
Rocha, Vladimir Alexei Rodrigues.
R672g Gestão do conhecimento em projetos: um estudo de
múltiplos casos em organizações brasileiras / Vladimir Alexei
Rodrigues Rocha. - Belo Horizonte, 2017.
136 f., enc.
Bibliografia: f. 124-130
CDU: 658.5
Programa de Pós-graduação
Faculdade IETEC em Engenharia e Gestão de
Processos e Sistemas
__________________________________________________
Prof. Dr. Ricardo Rodrigues Barbosa – ECI/UFMG
__________________________________________________
Prof. Dr. José Helvecio Martins - IETEC
__________________________________________________
Prof. Dr. George Leal Jamil – IETEC - Orientador
Faculdade Ietec
Rua Tomé de Souza, 1065 – Belo Horizonte, MG – 30140-131 – Brasil – tel.: (31) 3116-1000
Dedico este trabalho à Flavia, querida esposa que tem me auxiliado nessa existência
a ser uma pessoa melhor. À minha filha Marcela, presente de Deus a iluminar nossos
dias. Aos meus pais Roney (em memória) e Cicinha por todo esforço que sempre
fizeram e que me trouxeram até aqui e me levarão mais longe! Ao meu irmão Juninho
pela amizade verdadeira!
AGRADECIMENTOS
Agradeço também aos Professores Mauri Fortes e Wanyr Ferreira pela oportunidade
em abrir novos horizontes de pesquisa e docência a um aprendiz sedento por
conhecimentos.
AO – Aprendizagem Organizacional
EGP – Escritório de Gerenciamento de Projetos
GC – Gestão do Conhecimento
GP – Gestão de Projetos
PMBOK – Project Management Body of Knowledge
PMI – Project Management Institute
13
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 15
2. OBJETIVOS ................................................................................................... 19
2.1 Geral ............................................................................................................... 19
2.2 Objetivos Específicos...................................................................................... 19
2.3 Justificativa ..................................................................................................... 19
2.3.1 Acadêmica ...................................................................................................... 19
2.3.2 Prática............................................................................................................. 20
2.4 Amostra da pesquisa ...................................................................................... 20
2.5 Estrutura do trabalho ...................................................................................... 20
3. REVISÃO DA LITERATURA.......................................................................... 22
3.1 O Conhecimento ............................................................................................. 22
3.1.1 Economia do Conhecimento ........................................................................... 22
3.1.2 Conceito de Conhecimento............................................................................. 25
3.1.3 Tipos de Conhecimento .................................................................................. 26
3.2 Conhecimento em projeto ............................................................................... 29
3.3 A Gestão do Conhecimento ............................................................................ 29
3.3.1 Processos de Gestão do Conhecimento......................................................... 31
3.4 Influenciadores na Gestão do Conhecimento ................................................. 37
3.5 Práticas de Gestão do Conhecimento ............................................................ 45
3.6 Gestão do Conhecimento em Organizações Projetizadas.............................. 50
3.6.1 Organizações Projetizadas ............................................................................. 50
3.6.2 Desafios: Gestão do Conhecimento em Organizações Projetizadas .............. 54
3.7 Sumário da Revisão da Literatura .................................................................. 56
4. METODOLOGIA ............................................................................................. 57
4.1 Tipologia da pesquisa ..................................................................................... 57
4.2 Modelo Conceitual .......................................................................................... 60
4.3 Amostra .......................................................................................................... 62
4.4 Coleta e análise dos dados............................................................................. 63
4.5 Limitações da pesquisa .................................................................................. 67
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1. INTRODUÇÃO
pelo autor nos trabalhos de Kock, McQueen e Corner (1997), Setzer (1999), Bellinger,
Castro e Mills (2004).
Davenport (1998) define dado como representação obtida por intermédio de simples
observação, facilmente estruturado, obtido por máquinas, frequentemente
quantitativo, facilmente transferível. Informação consiste em dados dotados de
relevância e propósito, assim como conhecimento seria a informação valiosa da mente
humana, incluindo reflexão, síntese, contexto, como demonstrado, em síntese, no
Quadro 1.
Quadro 1 - Definições para dado, informação e conhecimento
(continua)
O PMI – Project Management Institute é uma das diversas associações criadas com
o objetivo de organizar e promover melhores práticas em gerenciamento de projetos.
Sua produção mais conhecida é o Guia PMBOK – Project Management Body of
Knowledge (Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos). Todas as
quatro empresas pesquisadas neste estudo trabalham com o conjunto de melhores
práticas difundido pelo PMI. Por isso, esta será a associação citada neste trabalho de
pesquisa. Outras associações que também atuam com gerenciamento de projetos,
são:
O Guia PMBOK, em sua sexta edição, encontra-se disponível, no período em que este
trabalho está sendo concluído, em sua versão “rascunho” para comentários (PMI,
2017). Por sua estrutura esboçada, é possível ter acesso ao implemento de três novos
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2. OBJETIVOS
2.1 Geral
2.3 Justificativa
2.3.1 Acadêmica
estrangeira, mas que estão presentes no Brasil, uma vez que tais empresas importam
as práticas de suas matrizes.
2.3.2 Prática
3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1 O Conhecimento
Sveiby (1997) faz uma comparação de diferentes aspectos sob o ponto de vista do
paradigma da Era Industrial e do paradigma da Era do Conhecimento que pode ser
visto no Quadro 3.
Quadro 3 - Mudança do paradigma Industrial para o Conhecimento
Aspectos Paradigma da Era Industrial Paradigma da Era do Conhecimento
Pessoas Geradores de custos ou Geradores de receita
recursos
Base de poder dos Nível de hierarquia Nível de conhecimento
gerentes
Informação Instrumento de controle Ferramenta de comunicação, recurso
Produção Operários processando Trabalhadores do conhecimento
recursos físicos para criar convertendo conhecimento em ativos
produtos tangíveis intangíveis
Fluxo de informação Mediante a hierarquia Mediante redes colegiadas
organizacional
Fonte primária de Tangível (dinheiro) Intangível (aprendizado, novas ideias,
receita novos clientes, P&D)
Gargalos de produção Capital financeiro e habilidades Tempo e conhecimento
humanas
Manifestação da Produtos tangíveis (hardware) Estruturas intangíveis (conceitos e
produção softwares)
Fluxo da produção Direcionados pelas máquinas; Direcionado pelas ideias; caótico
sequencial
Efeito do tamanho Economia de escala no Economia de escopo nas redes
processo de produção
Relações com os Unidirecional via mercado Interativa via redes pessoais
clientes
Conhecimento Uma ferramenta ou recurso O foco no negócio
dentre outros
Propósito de Aplicação de novas Criação de novos ativos
aprendizagem ferramentas
Fonte: Adaptado de SVEIBY, 1997.
24
A nova era do conhecimento traz desafios. Terra (2001) indica que o conhecimento é
difícil de quantificar ao contrário de outros ativos organizacionais como estoques
financeiros, recursos naturais e mesmo mão de obra qualificada. Além disso, uma de
suas características fundamentais é o fato de ser altamente reutilizável e, quanto mais
utilizado, mais aumenta seu valor, representando uma lógica de depreciação oposta
ao que usualmente se aplica.
Definir conhecimento não é tarefa trivial. Grant (1996, p.110, grifo do autor) corrobora
esse desafio: “O que é conhecimento? Como a questão tem intrigado alguns dos
maiores pensadores do mundo, de Platão a Popper, sem a emergência de um
consenso claro, essa não é uma arena em que eu escolho competir.”
Essa discussão está relacionada ao que Nakano e Fleury (2005) classificam como
duas perspectivas do conhecimento: cognitiva versus construtivista. A perspectiva
cognitiva vê o mundo como uma realidade pré-definida cuja existência é independente
da ação e história da organização e dos indivíduos. A tarefa da organização é produzir
a representação mais acurada da realidade, por meio da coleta e interpretação de
informações, para que sejam tomadas decisões acertadas. A crítica feita à perspectiva
cognitiva se refere ao argumento de que o conhecimento não pode ser desvinculado
de seu caráter subjetivo e dependência do contexto (NAKANO; FLEURY, 2005).
Pode ser expresso em palavras, números ou Não é facilmente visível e explicável; grande
sons; é pronunciável, formulado em frases e parte é embutido e, logo, não pode ser
capturado sob a forma de desenho e escrita articulado
Fundamentado em uma teoria independente Subjetivo, dependente do contexto específico
do contexto Relacionado ao “saber como” (knowing how)
Relacionado ao “saber sobre” (knowing about) Ligado aos sentidos, experiência tátil,
É compartilhado na forma de dados, fórmulas habilidades motoras, intuição, modelos
científicas, recursos visuais, fitas de áudio, mentais não-articuláveis ou regras de bolso
especificações de produtos ou manuais implícitas; inclui intuições e palpites
Pode ser rapidamente transmitido aos Enraizado nas ações, procedimentos, rotinas,
indivíduos, formal e sistematicamente compromissos, ideais, valores e emoções
Tem uma característica universal, sendo capaz Altamente pessoal e difícil de formalizar,
de atuar em diferentes contextos dificultando sua comunicação e
É acessível por meio da consciência compartilhamento
Pode ser acessível por meio da consciência,
caso esteja mais inclinado ao lado explícito do
que contínuo
Fonte: Adaptado de GRANT, 1996; MATURANA; VARELA, 2010; NONAKA; TAKEUCHI, 1997; NONAKA; VON
KROGH, 2009; TAKEUCHI, NONAKA, 2008.
• Conhecimento sobre projetos: visão geral do cenário dos projetos que estão
sendo ou que já foram realizados pela organização.
Dalkir (2005) propõe uma definição próxima, mas com um foco equalizado entre
criação e reutilização:
Nicolini e Meznar (1995), por sua vez, propõem que a mudança organizacional seja
uma evidência de aprendizagem. Unindo essa definição com a de Takeuchi e Nonaka
(2008), a gestão do conhecimento permitiria perpetuar a aprendizagem na
organização. Esse aspecto aponta para a necessidade de diferenciar Gestão do
Conhecimento (GC) e Aprendizagem Organizacional (AO).
Fleury e Fleury (2004) propõem uma síntese dos processos a partir de outros autores
destacando três principais processos: aquisição e desenvolvimento, disseminação e
construção da memória organizacional (figura 1).
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Percebe-se que houve uma socialização do conhecimento tácito do padeiro por meio
da observação, imitação e prática.
Oliveira (2000) critica três aspectos do modelo de Walsh e Ungson: (1) não reconhece
integralmente o papel de novos sistemas de informação como forma de memória
organizacional. Os autores apenas assinalam que computadores podem ser vistos
como acessórios aos indivíduos para manutenção da memória, (2) não aprofunda em
como as organizações geograficamente distribuídas desenvolvem memória
organizacional, e (3) não aponta os processos específicos pelos quais as
36
Um ponto interessante trazido por Oliveira (2000) é o fato dos treinamentos realizados
na empresa promoverem a criação de laços sociais para futuras trocas de
conhecimento, entre si e com os profissionais seniores que ministraram os
treinamentos.
Von Krogh, Ichijo e Nonaka (2001), argumentam que o conhecimento não deve ser
gerido, pois, gestão implica controle de processos que talvez sejam intrinsecamente
incontroláveis ou, ao menos, que talvez sejam sufocados por um gerenciamento mais
intenso e discutem cinco “capacitadores do conhecimento”: (1) instalar a visão do
conhecimento, (2) gerenciar as conversas, (3) mobilizar os ativistas do conhecimento,
(4) criar o contexto adequado e (5) globalizar o conhecimento local. Todos os
capacitadores influenciam a nivelação do conhecimento, na medida em que ajudam a
promover a disseminação de informações em toda a organização e demolir as
barreiras à comunicação. O Quadro 10 mostra a relação das fases de criação do
conhecimento e dos capacitadores de conhecimento.
40
Globalizar o
conhecimento
local
Fonte: Adaptado de VON KROUGH, Ichijo e Nonaka, 2001.
Legenda: sem ocorrência frequência/ocorrência regular frequência/ocorrência alta
O quarto capacitador, “criar contexto adequado”, tem uma relação estreita com o “ba”
(contexto capacitante), que será detalhado mais à frente e diz respeito à estrutura da
empresa, por meio da maneira como se constituem e interagem as equipes de projeto
determinando a extensão em que se valoriza o conhecimento. Segundo Von Krough,
Ichijo e Nonaka (2001), a criação do contexto adequado afeta todas as cinco fases da
41
Prencipe et al. (2005) discutem alguns fatores influenciadores que dizem ser
condições que definem a zona de manobra em que se dá a evolução da aprendizagem
interprojeto. São eles: complexidade técnica, novidade técnica, duração do projeto,
porte da organização, estilo da organização do projeto e alocação de pessoal. O
quadro 11 detalha cada um deles:
Dimensões Características
Complexidade técnica Conforme aumenta a complexidade mais provável que efeitos em
cadeia gerem resultados não previstos
Projetos de grande complexidade demandam mecanismos mais
informais de transferência de conhecimentos como reuniões face
a face e encontros de gerentes de projetos
Por fim, o grau de instrução pessoal refere-se a quanto uma pessoa se vê capaz, ou
tem controle sobre desempenhar um determinado comportamento, no caso, o
compartilhamento. Isso envolve o conceito de auto eficácia – quanto uma pessoa se
sente confiante para realizar um comportamento – e de controlabilidade – quanto
controle a pessoa possui sobre seu comportamento: oportunidades e recursos para
fazê-lo.
Os fatores influenciadores podem ser resumidos em cinco fatores mais amplos, como
se sugere no quadro 13.
Hanisch et al. (2009) apontam que os tipos de conhecimentos variam de acordo com
o ciclo de vida do projeto e dão exemplos de práticas de GC em cada etapa. O quadro
14 apresenta esses exemplos:
Pode-se entender esses itens como práticas de gestão do conhecimento, pois são
ações que auxiliam o processo de Gestão do Conhecimento.
PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Níveis de análise Acumulação de Articulação de Codificação de
experiência conhecimento conhecimento
Individual Treinamentos on-the-job Pensamento Diário
Rotação do pessoal figurativo Sistema de
Especialização Pensar alto reporte
Rabiscos Desenho de
sistema individual
Grupo / Projeto Reutilização de Sessões de Plano de projeto /
especialistas brainstorm balanço
Pensamento grupal Revisões de projeto Marcos / prazos
desenvolvido formais Atas de reunião
Comunicação pessoa a Reuniões de Redação de case
pessoa debriefing Arquivos de
Encontros informais Reuniões pontuais histórico do
Imitação Reuniões de lições projeto
aprendidas ou pos- Base de lições
mortem aprendidas
Correspondência intraprojeto
intraprojeto
Organizacional Rotinas organizacionais Campos de Desenhos
informais, regras e Gerentes de Mapas de
processos seletivos Projetos processo
Departamentalização e Retiros de Processo de
especialização conhecimento gestão de
Comunidades de práticas Redes profissionais projetos
Facilitadores e Base de lições
Gerentes de aprendidas
Conhecimento
Correspondência
interprojeto
Reuniões
interprojeto
Fonte: PRENCIPE et al., 2005, p.202, tradução livre do autor.
Esses processos derivam da síntese proposta por Fleury e Fleury (2004) para os
processos de Gestão do Conhecimento em aquisição e desenvolvimento de
conhecimentos, disseminação e construção da memória organizacional. “Aquisição e
desenvolvimento” foi substituída por criação/aquisição, “disseminação” por
compartilhamento, e “construção da memória organizacional” foi separada em
recuperação e armazenamento.
Fonte: Adaptado de KOTNOUR, 2000; LÍCIO, 2005; HANISCH et al., 2009; PRENCIPE et al., 2005.
Fonte: Adaptado de KOTNOUR, 2000; LÍCIO, 2005; HANISCH et al., 2009; PRENCIPE et al., 2005.
Esse aspecto é também discutido por Pinto (2005), ao questionar como nós podemos
institucionalizar e tornar essas práticas sistemáticas, quando em sua própria natureza
a gestão de projetos representa um empreendimento único, no qual não é dirigido a
longo prazo, mas em todos os sentidos temporários.
A questão da natureza dos projetos, indicada por Pinto (2005), é relevante para a
compreensão da dificuldade de gerenciar conhecimentos em organizações baseadas
em projetos. Há dois aspectos-chave nessa definição: temporalidade e singularidade,
conforme já definido neste trabalho.
Temporalidade Singularidade
Dificuldade de retenção: projetos não Baixa replicação: por serem únicos, não contam
conseguem reter novas ideias (não têm memória com o benefício da repetição (noção de curva de
em si) porque não possuem rotinas e estruturas aprendizagem)
organizacionais; podem levar à fragmentação do
conhecimento organizacional
Fonte: Adaptado de KOSKINEN; Pihlanto, 2008; LOVE et al., 2005; TURNER, 2005.
55
4. METODOLOGIA
Natureza
A presente pesquisa está classificada como de natureza exploratória com análise
descritiva, que “(...) são estudos exploratórios que têm por objetivos descrever
completamente determinado fenômeno, como, por exemplo, o estudo de caso para o
qual são realizadas análises empíricas e teóricas.” (MARCONI; LAKATOS, 2010,
p.171). As autoras esclarecem ainda que as descrições podem ser tanto qualitativas
quanto quantitativas.
58
Método
O método adotado para realizar o estudo é o estudo de caso. Yin (2015) explicita que
o Estudo de Caso é o método adequado quando: a) as questões “como” e “por que”
são propostas; b) o investigador tem pouco controle sobre os eventos; c) o enfoque
está sobre um fenômeno contemporâneo da vida real.
O método pode ser empregado em uma única organização (estudo de caso único), ou
em mais de uma (estudo de casos múltiplos), segundo Yin (2015). O presente estudo
pode ser classificado como integrado, ou seja, envolvendo mais de uma unidade de
análise (YIN, 2015), pois a atenção é dirigida a duas delas: o projeto (práticas
intraprojetos) e interprojetos (práticas adotadas entre projetos).
Abordagem
A pesquisa está alinhada às características de uma pesquisa qualitativa por buscar
compreender comportamentos humanos através de quadros de referência, incluir
observação natural, ser subjetivo - no ambiente em que o fenômeno ocorre -, orientada
para o processo (o “como” é enfatizado na análise do fenômeno) e holístico. Essas
características foram apontadas por Martins e Theófilo (2009) como identificadas com
essa abordagem de pesquisa.
Caráter
Quanto ao caráter da pesquisa, Nakano e Fleury (2005) diferenciam o caráter
prescritivo do caráter analítico de um estudo:
- Prescritivo: o objetivo da proposição do estudo será preconizar ações e princípios
para a modificação da organização;
- Analítico: a proposição é voltada para a elaboração de conceitos e construtos que
permitam a descrição, análise e compreensão do fenômeno.
A pesquisa está alinhada ao caráter analítico, uma vez que o problema da pesquisa
envolve compreender como as organizações realizam a gestão do conhecimento. Não
se busca como resultado final da pesquisa obter um manual de melhores práticas
organizacionais para realizar a gestão do conhecimento, e sim um entendimento de
como o fenômeno da Gestão do Conhecimento acontece nos contextos a serem
estudados.
4.3 Amostra
Critérios
A escolha por estudar organizações que trabalham com projetos está relacionada às
dificuldades advindas da natureza dos projetos para a gestão do conhecimento, como
abordado na revisão da literatura. Essas dificuldades podem ser resumidas por
temporalidade – os projetos terminam e nem sempre os conhecimentos gerados são
integrados ao conhecimento organizacional – e singularidade – como cada um é
único, dificulta a repetição e a curva de aprendizagem. Dadas essas características,
decidiu-se por compreender a gestão do conhecimento nesse contexto.
Entrevistas
Foram realizadas entrevistas com profissionais das empresas definidas com que o
pesquisador fez contato, informando os objetivos da pesquisa, utilizando roteiro com
tópicos de ordem prática e que foram explorados sobre o tema.
Decidiu-se ainda que seria importante levantar com os entrevistados quais desses
conhecimentos eram considerados relevantes. As práticas de gestão do
conhecimento mapeadas deveriam ser aquelas que auxiliam a organização a
recuperar, criar, compartilhar e armazenar esses conhecimentos.
Os contatos ocorreram de forma presencial (entrevistas), via telefone e por escrito (e-
mail).
Estudo de Casos
Para escolher os estudos de casos, levantou-se, inicialmente, possíveis organizações
que poderiam fazer parte da pesquisa. Contatou-se seis organizações que estavam
dentro dos critérios definidos com as quais existia um contato de alguém sênior nos
postos pesquisados. Dessas seis, quatro aceitaram no período que seria factível a
realização da pesquisa, sendo que as outras duas teriam disponibilidade e interesse
futuro em participar.
Para todas as entrevistas, o pesquisador fez contato prévio por e-mail e telefone,
apresentando e detalhando o objetivo da pesquisa, explicando que a pessoa havia
sido indicada para participar do estudo e perguntando sua disponibilidade para uma
entrevista de uma hora. O pesquisador não conhecia ou possui quaisquer vínculos de
relacionamento com os entrevistados.
Análise integrada
Após a conclusão dos quatro estudos de caso, realizou-se a análise integrada. O
mesmo procedimento de análise de conteúdo foi utilizado, partindo, porém, das
categorias identificadas em cada caso.
Realizou-se uma releitura da literatura acessada, assim como novos materiais foram
pesquisados, tendo em vista comparar os resultados obtidos com estudos anteriores.
Análise de conteúdo
Trata-se de um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores – quantitativos ou não – que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens
(BARDIN, 2008).
66
Bardin (2008) indica ainda algumas regras que devem ser respeitadas pelo material
de análise selecionado:
A exploração do material foi feita por meio de codificação, ou seja, os dados brutos
foram transformados de forma a representarem o conteúdo (BARDIN, 2008). Isso foi
feito por meio da leitura do conteúdo de cada entrevista e, simultaneamente, o registro
dos pontos citados nos blocos correspondentes e marcação do entrevistado que
proferiu o trecho.
O tratamento dos dados foi feito de forma qualitativa baseado mais na presença do
que na frequência de aparição. Apesar de ter sido feita uma contagem da frequência
em que cada aspecto foi mencionado, a escolha final dos conteúdos foi baseada na
presença destes nas falas dos entrevistas. Bardin (2008) esclarece que a análise
67
qualitativa não rejeita toda e qualquer forma de quantificação, mas a diferença é que
a inferência é fundada na presença do índice (tema, palavra, etc.), e não sobre a
frequência de aparição em cada fala individual.
Por fim, foi realizada a interpretação dos dados e inferências. Bardin (2008) comenta
sobre esse processo dizendo que:
Se a descrição (a enumeração das características do texto, resumidas após
tratamento) é a primeira etapa necessária, e se a interpretação é (a significação
concedida a essas características) a última fase, a inferência é o processo intermédio,
que vem permitir a passagem, explícita e controlada, de uma à outra. (BARDIN, 2008,
p.41, grifo do autor).
Por fim, devem ser reconhecidas as limitações do escopo do trabalho, sendo que
outros setores e empresas distintas não serão analisadas. Apesar da limitação, esse
recorte é importante, para que se possa aprofundar a análise dentro do objetivo do
estudo.
69
5. ANÁLISE DE DADOS
Para preservar a identidade dos entrevistados, foi atribuída uma letra para representar
cada um deles.
Visão Geral
Conhecimentos relevantes
Considerou-se, para efeitos de conhecimento relevante na organização pesquisada:
processos de gestão (métodos e modelos documentados, seguidos, discutidos,
resgatados com certa facilidade) e de negócio (tipos de produtos e serviços vinculados
à tecnologia da informação).
Fatores influenciadores
Foram identificados diversos fatores que influenciam de forma positiva a Gestão do
Conhecimento na organização, conforme apresentado no Quadro 24:
INTRAPROJETO
dos projetos, nas reuniões com os comitês criados para a consulta de lições
aprendidas, seja na gestão ou no desenvolvimento do produto/serviço.
Interprojetos
• Metodologia de Gerenciamento de Projetos
• Escritório de Gerenciamento de Projetos (EGP)
• Reuniões de acompanhamento
• Análise do portfólio por parte do EGP
• Benchmarking interno entre equipes de projetos
• Modelo de gestão
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.
Além do método formal da gestão dos projetos, o EGP realiza reuniões periódicas
para discutir o avanço dos projetos com os atores responsáveis por suas respectivas
execuções no portfólio – projetos, programas, subportólios gerenciados em grupo.
Por fim, percebe-se no caso do EGP da ATTPS Tecnologia que a Gestão de Projetos
facilita a Gestão do Conhecimento, na medida em que a metodologia e seus
respectivos rituais (reuniões, processos, sistemas, produção de documentos)
trabalham com padrões de gestão, aprimorando seus métodos a cada projeto (de
investimento ou implantação), a partir do resgate contínuo de lições aprendidas
armazenadas em uma plataforma interativa, implementando práticas novas, práticas
exitosas, sempre em busca da melhoria de resultados.
78
Visão geral
O banco foi fundado por uma família com tradição no mercado financeiro, quando, na
década de 1930, surgiu o Banco de Minas Gerais. Ao longo dos anos, a família
também investiu na formação de uma rede de varejo de automóveis, consolidando-se
no mercado automotivo.
Em 2014, uniu-se ao banco Santander Brasil por meio de uma joint venture, fazendo
surgir o banco Olé Consignado. Ainda nesse ano, foi estruturada a Bonsucesso Asset,
com o objetivo de fornecer consultoria de investimentos nos mercados nacionais e
internacionais. Na atualidade, o banco avança no mercado de Adquirência. Produtos
comercializados: antecipação de recebíveis; câmbio; crédito e empréstimos;
investimentos; precatórios.
Projeto de criação de novos negócios envolve legislação específica que difere das
práticas de acordos comerciais comuns por se tratar de um mercado altamente
regulamentado (mercado financeiro). Já os projetos de separação de infraestrutura
de TI são projetos internos, especificamente de TI. Além de projetos pontuais,
menores, de melhorias dos processos e rotinas. (entrevistado B)
80
Conhecimentos relevantes
Dentre as diversas formas de conhecimento, destacaram-se duas, como sendo mais
relevantes: documentação técnica (desenvolvimento) e experiência (histórico de
execução dos projetos). A documentação técnica é relacionada ao desenvolvimento
dos softwares (plataforma, linguagem, dentre outros). A experiência diz respeito ao
know how (conhecimento do funcionamento dentro da organização) e seu histórico de
execução, acumulando conhecimento para atuação nos diversos projetos existentes
e ocorrendo ao mesmo tempo (em fases distintas, como já relatado).
Fatores influenciadores
Fatores que influenciam, de forma positiva a Gestão do Conhecimento na
organização, são relacionados no Quadro 28:
81
as etapas seguintes tenham como ponto de partida o que foi desenvolvido até aquele
momento.
INTRAPROJETO
Interprojetos
• Reuniões de alocação de recursos e mão-de-obra
• Rituais periódicos de acompanhamento
• Reuniões operacionais
• Produção de material de apoio a projetos (templates)
• Comunicações informais
• Projetos internos
• “Comitês” de acompanhamento
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.
Por fim, percebe-se uma dinâmica elevada nas atividades de gestão de projetos, pois
a média de duração dos projetos é de três meses e o volume expressivo, mesmo
existindo estrutura funcional que comporte - o que obriga a maior número de recursos
humanos alocados na execução dos projetos em fases distintas.
Visão Geral
Em 05 de julho de 1963, por meio da Lei Estadual n o 2.842 foi criada a Companhia
Mineira de Água e Esgotos (COMAG), com a finalidade de definir e executar uma
política ampla de saneamento básico para o Estado de Minas Gerais.
Em 2006, a Companhia realizou sua Oferta Inicial de Ações (Initial Public Offering –
IPO), ingressando no Novo Mercado da BM&F BOVESPA, segmento diferenciado que
exige maior transparência e regras mais rígidas de governança corporativa. Em abril
de 2008, foi realizada uma oferta secundária de ações, em que o acionista Município
de Belo Horizonte alienou a totalidade de suas ações, e o acionista Estado de Minas
Gerais vendeu parte de suas ações, sem perder o controle acionário da Empresa.
Conhecimentos relevantes
Os conhecimentos apontados como relevantes para os empreendimentos de todos os
portes desenvolvidos pela Companhia, dentre outros, são: comunicação
(compreensão clara das tarefas que cada setor desempenha), conhecimento técnico
(visão sistêmica de todos os processos), seleção de projetos (critérios estabelecidos
para hierarquizar projetos para execução) e estudos de viabilidade dos projetos.
91
Fatores influenciadores
Pelo porte da Companhia e a variabilidade dos seus empreendimentos, destacam-se
alguns fatores, em meio a outros de menor expressão, relacionados no Quadro 32:
INTRAPROJETO
Interprojetos
• Comunicações estruturadas
• Reuniões periódicas
• Procedimentos Operacionais
• Caracterizações dos empreendimentos
• Metodologia executiva dos empreendimentos – criação de critérios de análise para viabilizar a
execução do projeto
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.
Visão Geral
O SENAI é um polo de geração e disseminação de conhecimentos aplicados ao
desenvolvimento da indústria do Brasil e de Minas Gerais. Criado em 1942, por
iniciativa do empresariado do setor, o SENAI faz parte da Confederação Nacional da
Indústria (CNI) e do Sistema Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
(FIEMG).
A entrevista ocorreu com o gestor, com mais de dois anos no cargo e com experiência
anterior em outras organizações na condução de projetos nacionais e internacionais,
sendo considerado o elemento mais adequado e com o conhecimento necessário para
fornecer informações a respeito da gestão e acompanhamento dos projetos da
organização.
Conhecimentos relevantes
Foram considerados como relevantes o modelo de gestão de projetos administrativos
e financeiros, assim como o conhecimento técnico do funcionamento das atividades
do projeto, pela interface que existe entre a realização física e o suporte proporcionado
pelas atividades administrativas.
Para o desenvolvimento de uma atividade, é necessário intercâmbio
com outros laboratórios de P&D no Brasil e no mundo. Isso implica
em viagens, e a utilização desse recurso é gerenciada de acordo com
o planejado para o projeto, confrontando em passo posterior o
atingimento da meta com a realização da viagem. (entrevistado D).
Fatores influenciadores
Os fatores influenciadores encontram-se relacionados no Quadro 36:
Quadro 36 - Fatores influenciadores no EGP do CIT-SENAI
INTRAPROJETO
Interprojetos
• Monitoramento dos resultados
• Sistema de registro dos projetos
• Comunicações informais
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.
Apesar das diversas práticas formais de gestão dos projetos, principalmente nos
últimos dois anos e meio, com registros e atividades de planejamento, a troca informal
de informações referente à rotina dos projetos, ocorre de forma intensa. Isso é
facilitado pela cultura de proximidade entre os membros das equipes de projetos –
tanto na execução, quanto administrativa/financeira - com impacto direto na
comunicação.
Por fim, o sistema de registros mantêm padrão de identificação dos projetos, sendo
também explorados na Biblioteca de Projetos.
Por outro lado, os casos se diferenciam tanto por características mais gerais, como o
setor de atuação e dimensão. Os setores contemplados na pesquisa foram bancário,
informática, saneamento e gestão administrativa e orçamentária de projetos. O setor
bancário e o de informática reservam similaridades nos produtos e serviços
pesquisados: dizem respeito a desenvolvimentos de Tecnologia da Informação (TI).
O quadro 39 evidencia alguns desses aspectos.
Quadro 39 - Diferenças entre os casos estudados
Características Características
Caso gerais particulares
• EGP ATTPS • Setor: informática • Empresa atuante há mais de 25 anos
• Organização privada em mercado de TI
• Desenvolvimento de • Estrutura organizacional classificada em
soluções em TI matriz forte e projetizada
• Média de 35 projetos
segmentados em
implantação e
investimento
• EGP Bonsucesso • Setor: bancário • Empresa pertencente a um grupo
• Organização privada diversificado de negócios, existente
• Solução de produtos desde 1930
bancários • Alta regulamentação (Banco Central)
• Empresa de origem • Estrutura matricial
familiar (hoje é SA)
• Média de 200 projetos
• EGP COPASA • Setor: saneamento • Colaboradores são servidores públicos
• Organização de economia • Forte hierarquia e departamentalização
mista (maior acionista • Muitos dos seus projetos impactam no
Gov.MG) saneamento de cidades inteiras
• Média de 380 projetos nos
últimos dois anos
• Predomínio de projetos de
engenharia
• Mais de 11 mil
colaboradores distribuídos
em 634 municípios
• EGP CIT-SENAI • Terceiro Setor • Execução física ocorre por intermédio
• Inovação e Tecnologia de outra equipe que não seja a gestora
Industrial administrativa do projeto
• Projetos de cunho • Projetos de Pesquisa e
administrativo e Desenvolvimento (recursos públicos e
orçamentário privados)
• Laboratórios distribuídos
em MG
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.
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Conhecimentos relevantes
A partir da análise integrada dos casos, foi possível identificar tipos de conhecimento
destacados como relevantes pelos entrevistados, ou seja, devem ser foco da Gestão
do Conhecimento em suas organizações. Grant (1996) reconhece que há diversos
conhecimentos relevantes para a empresa, mas não aponta quais poderiam ser esses
conhecimentos. De qualquer forma, não se pode afirmar que os conhecimentos
relevantes identificados nessa pesquisa, dizem respeito a todos os conhecimentos
encontrados em qualquer organização projetizada. Esses conhecimentos formam
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uma base de referência, surgida a partir dos casos estudados. O Quadro 40 apresenta
os conhecimentos mapeados.
É oportuno retomar uma teoria, trazida por Fleury e Fleury (2004), evidenciando a
diferença existente entre conhecimento e competência. Conhecimento está
relacionado ao que a pessoa precisa saber para realizar a tarefa. Só o conhecimento
não é suficiente para executar a tarefa. Seria necessário, ainda segundo os autores,
habilidades que definem em como agir e atitude (querer agir). O foco da pesquisa é o
conhecimento.
Fatores influenciadores
Percebeu-se a existência de fatores que influenciam a forma de se realizar a Gestão
do Conhecimento. São influenciadores, por exemplo, o porte da organização, uma vez
que esse aspecto, influencia o grau de alinhamento entre o Escritório de
Gerenciamento de Projetos e as equipes executoras - quando as atividades do projeto
não ocorrem apenas no EGP. Quanto maior a organização, maior a necessidade de
formalização. Entretanto, quando se analisam os casos de forma integrada, não se
pode afirmar que esse fator exerce influência positiva ou negativa. Apenas exerce
influência.
não são respeitados em sua quase totalidade, parecendo existir baixo nível de
consciência desses procedimentos. Ainda segundo os autores, isso não é uma
desvantagem competitiva porque uma grande porção de funcionários trabalha na
organização há muito tempo, de maneira que, internalizaram a forma efetiva de como
as atividades são desenvolvidas na empresa.
Por sua vez, o segmento do negócio é um fator influenciador positivo por ser
determinante quanto a práticas e modelos de gestão adotados. A experiência é outro
fator influenciador para que a Gestão do Conhecimento em projetos, seja disseminada
e progressiva nas organizações.
Falta de integração entre as áreas envolvidas No cumprimento dos prazos previstos nos
no projeto cronogramas de atividades dos projetos
Leiponen (2006), citado por Taminiau, Smit e Lange (2009), também discute esse
paradoxo dificultador no contexto do compartilhamento de conhecimentos, que diz que
por um lado há falta de atenção para a importância desse processo, mas por outro
lado os gestores percebem a necessidade e urgência do compartilhamento.
INTRAPROJETO
Segundo Shinoda (2012) é oportuno lembrar que para ser conhecimento, muitas
vezes os documentos precisam ser contextualizados, de forma que é necessário que
uma pessoa que fez parte do projeto explique o material para que ele faça sentido.
Em todos os casos estudados, esses documentos encontram-se na rede de arquivos
existentes, organizados de acordo com a estrutura de gestão adotada por cada uma
das quatro organizações pesquisadas.
No que diz respeito ainda ao compartilhamento, Huysman e Wit (2004), apontam para
uma segunda onda de gestão do conhecimento em que o compartilhamento de
conhecimentos ganha destaque. A primeira onda estaria mais focada em aquisição,
troca e criação de conhecimento mais no âmbito individual, com o apoio de tecnologia
e introduzido pela administração. Já na segunda onda, o coletivo ganha destaque,
assim como o compartilhamento de conhecimentos tácitos.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esses obstáculos são comentados ainda por Koskinem e Pihlanto (2008), que se
baseiam em autores diversos para apontar algumas fraquezas identificadas em
empresas projetizadas, dentre elas, falha em trazer desenvolvimento e aprendizagem
no nível organizacional, dificuldade de conectar os projetos aos processos de negócio
da organização e falta de tempo para reflexão durante a implementação dos projetos
devido a cronogramas excessivamente otimistas.
Tendo em vista esse contexto, o objetivo geral deste estudo foi investigar como ocorre
a Gestão do Conhecimento em projetos realizados em organizações brasileiras. Para
isso, foram construídos objetivos específicos de “mapear conhecimentos em projetos”,
“analisar a aplicação das práticas de gestão do conhecimento em projetos” e
“identificar e analisar fatores que influenciam as práticas de gestão do conhecimento
em projetos”.
O método utilizado para conduzir a pesquisa foi o estudo de caso. A partir da definição
do método, elaborou-se um roteiro de perguntas – Apêndice B – com o objetivo de
obter informações dos entrevistados da forma mais próxima à realidade dos fatos
vividos por cada um nas organizações. Estruturou-se um modelo conceitual para
levantamento das práticas de Gestão do Conhecimento a partir dos processos de
Gestão do Conhecimento consolidados por Fleury e Fleury (2004) e da segmentação
em intra e interprojetos proposta por Kotnour (2000). Esse modelo pode ser
visualizado na Figura 7.
documentar seus processos de trabalho faz parte da sua estrutura, desde a criação.
O mesmo nível de registro de informações pode não ocorrer em uma empresa
prestadora de serviços.
Por fim, o estudo de Hanisch et al. (2009) aponta algumas práticas que sugerem a
inclusão de um processo adicional ao modelo conceitual utilizado na presente
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6.1 Conclusões
Pode-se inferir como uma das principais conclusões após a realização da pesquisa
que o contexto organizacional favorável – e, neste sentido, o favorável seriam
processos estruturados, colaboradores capacitados e avaliados continuamente no
resgate, criação, compartilhamento e armazenamento – seria o ponto mais relevante
para o aprimoramento da gestão do conhecimento.
Foi possível observar também que a Gestão do Conhecimento contribui para a Gestão
de Projetos por meio da sistematização dos seus processos, e quando estruturada
formalmente, favorece o reaproveitamento de conhecimentos já possuídos,
provocando sensível aumento da eficiência e, consequentemente, do aprendizado.
Por outro lado, a gestão de projetos também beneficia a gestão do conhecimento por
ser uma prática em expansão que auxilia na solução de problemas e novos negócios.
6.2 Limitações
Por fim, e não menos relevante, há a limitação do pesquisador que não possui
recursos para analisar todos os aspectos envolvidos no fenômeno complexo da
gestão do conhecimento. Os apontamentos e discussões com o orientador
minimizaram esse limite.
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Por fim, seria interessante ainda explorar por área de conhecimento na gestão de
projetos, utilizando métodos quantitativos, bem como comparar as práticas
identificadas com empresas que sejam referência – em seu segmento e/ou no
mercado de um modo geral. É possível ainda estudar apenas um dos processos
abordados nesta pesquisa: recuperação, criação, compartilhamento e
armazenamento.
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REFERÊNCIAS
ACKOFF, R. L., From Data to Wisdom. Journal of Applied Systems Analysis. v.16,
n.1, p.3-9, 1989 apud SPENDER, J. C. Organizational Learning and Knowledge
Management: Whence and Whither? Management Learning, v.39, n.2, p.159-176,
2008.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. 1.ed., Lisboa: Edições 70, 280 p., 2008.
SABBAG, P. Y. Gerir projetos requer gerir conhecimentos. Revista Mundo PM. Ano
5, n.27, jun./jul., 2009.
129
WANG, S.; NOE, R. A. Knowledge Sharing: a review and directions for future research.
Human Resource Management Review, vol.20, p. 115-131, 2010.
Trabalho de campo
Procedimento para coleta de dados – agendamento de entrevistas por email, com
envio do escopo para o entrevistado, realização da entrevista, reunião de
documentos fornecidos pelo entrevistado, análise do conteúdo, transcrição,
redação, ajustes finais, análise conjunta, retorno à literatura para discutir os
resultados
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Processos
19. Existem processos formais de Gestão do Conhecimento na organização? Se sim,
quais e como se configuram.
20. Existem informações dos projetos, consideradas confidenciais para os
funcionários? Se sim, como é o processo e essas informações?
21. Existe um sistema tecnológico de Gestão do Conhecimento na organização?
ERP, portal, intranet.
22. É realizada uma avaliação de como é feita a Gestão do Conhecimento na
organização?
Práticas
23. No contexto de um projeto, quais são as práticas/atividades realizadas para:
o Recuperar conhecimentos de projetos anteriores?
o Gerar novos conhecimentos?
o Compartilhar conhecimentos entre as pessoas da equipe?
o Armazenar os conhecimentos gerados?
o Em um contexto mais amplo – programas e portfólios – como ocorre a
recuperação, geração, compartilhamento e o armazenamento de
conhecimento nos projetos?
24. Em sua opinião, quais os fatores presentes na Organização que facilitam ou
dificultam as práticas de Gestão do Conhecimento acontecerem?
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Figura 08 – Anexo
Figura 9 – Anexo
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Figura 10 - Anexo