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11 mandamentos para evitar

patologias em Paredes de
Concreto

O sistema parede de concreto representa uma alternativa bastante


industrializada de um sistema construtivo. Ele tem como característica
básica a de permitir uma obra de grande velocidade e repetitividade,
com a utilização intensiva de fôrmas mano portáveis, que permitem a
execução de duas a quatro unidades habitacionais por dia.

Com esta velocidade construtiva, é extremamente importante termos


uma obra muito bem planejada e executada, pois não há tempo
para ficar pensando em soluções pontuais para problemas localizados ou
modificar o processo construtivo durante a execução. Tudo precisa
funcionar perfeitamente, de modo a se evitar qualquer desvio que possa
originar reparos e retrabalhos.
ESPECIFICAÇÃO DO CONCRETO

Uma das grandes preocupações do sistema é a possibilidade de


fissuração. O sistema parede de concreto apresenta uma estrutura muito
rígida, com alta restrição à variação volumétrica. É uma estrutura que
gera altas tensões quando submetida à imposição de deformações, como
a retração.

A retração é um fenômeno intrínseco ao material concreto. Ela tem


diferentes causas:

 Retração plástica inicial, por perda de água com o concreto


ainda não endurecido
 Retração química, pelo menor volume dos cristais formados na
reação do cimento
 Retração hidráulica (ou secagem), pela perda de água quando
já endurecido

Por isso, devemos dar muita atenção a todo o processo desde o seu
planejamento, passando por um bom projeto e execução, com especial
atenção ao concreto. Temos que ter uma boa especificação do material
nos projetos, um estudo de dosagem detalhado e ensaios de pré
caracterização para confirmar se teremos no dia a dia da obra o material
que imaginamos. Exemplo de especificação de concreto pode ser
encontrado no Quadro 1.

Quadro 1 – ESPECIFICAÇÃO DO CONCRETO “PAREDE-LAJE”


Por que ocorrem retrações

Quando não tomamos todos os cuidados necessários, pode ocorrer uma


retração acima do normal causada por:

 Concreto autoadensável mal dimensionado, com poucos finos e


muita água. É extremamente importante um estudo do traço do
concreto por profissional especializado, seja ele da concreteira,
laboratório de ensaios ou consultor independente.
Figura 1 – Composição esquemática do concreto, sem e com a presença de agregados finos

 Falta de cura, causando grande perda de água inicial. Pela


rapidez do processo construtivo temos muitas paredes sendo
curadas simultaneamente, o que, em princípio, inviabiliza uma
cura úmida bem-feita. O ideal é trabalhar com a cura química,
observando sempre se há resíduo do produto nas paredes, para
não influenciar na aderência do revestimento.

Figura 2 – Aplicação de cura química


Ainda temos mais duas causas mecânicas para o aparecimento de
fissuras. São elas:

 Desforma com muito impacto, provocada pelo uso deficiente do


desmoldante ou pela utilização de ferramentas inadequadas
para a retirada das fôrmas, principalmente nos cantos de janela
e linha de espaçadores (faquetas, gravatas ou cones).
 Existência de vibrações no terreno nos primeiros dias,
causadas, por exemplo, por impactos nas paredes ou
terraplanagem com rolo vibratório.

Os pontos preferenciais para o aparecimento dessas fissuras são:

 Paredes muito longas sem junta de controle.


 Cantos de portas e janelas.

 Posição de eletrodutos (eletrodutos mal posicionados, com


poucos espaçadores, entre tela/eletroduto ou tela/fôrma).
 Juntas frias (horizontal entre pavimentos, vertical entre
concretagens de dias consecutivos e inclinadas entre
concretagens de caminhões sucessivos com intervalo após o
início de pega).
 Fissuras no primeiro pavimento devido a restrição de
movimentação imposta pela fundação.
 Fissuras no último pavimento devido a dilatação térmica da laje
de cobertura.

O ponto fundamental para diminuir a fissuração é estudar o traço do


concreto, com um consumo de finos maior e um fator a/c menor.
Adicionalmente deve-se cuidar dos processos de cura e utilizar fibras
têxteis para aumentar a resistência à tração nas idades iniciais, quando
ainda não temos aderência entre a ferragem e o concreto. Finalmente,
podemos pensar na utilização de aditivos compensadores de retração
que praticamente zeram a deformação imposta de longo prazo.

As obras que utilizam concreto com traço bem estudado praticamente


não apresentam fissuras sistêmicas.

PLANEJAMENTO

Nas obras com paredes de concreto, um cuidado especial deve ser dado
ao planejamento, com estudos sobre a logística a ser empregada,
treinamento de mão de obra de montadores, plano de ataque e plano de
controle da qualidade. Com a velocidade da obra, esta organização da
produção é essencial.

Baseados nos projetos já devidamente concluídos e compatibilizados,


devemos montar um plano de produção detalhado e completo. Nesse
momento, é de grande ajuda que os projetos já tenham sido feitos em
BIM, facilitando a visualização simultânea, em 3D, de diferentes
sistemas e suas interferências.

COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS

Neste sistema, todas as paredes compõem a estrutura da edificação.


Portanto, qualquer elemento embutido ou abertura interfere no
funcionamento estrutural. Por isso, o sucesso da construção com
paredes de concreto depende da existência de projetos bem
compatibilizados. Além de garantir uma estrutura portante, os projetos
devem solucionar interferências como inserts, aberturas ou instalações
embutidas que geram impacto no caminhamento das cargas da
estrutura.

Pelo fato de as paredes serem estruturais, a NBR 16.055:2012 prevê


que projetos de fôrmas, de escoramentos, detalhes embutidos ou
vazados e os projetos de instalações devam ser validados pelo calculista.

O projeto deve dar atenção especial às instalações elétricas e


hidráulicas. No caso das instalações hidráulicas, não podemos colocá-las
simplesmente dentro da parede, pois isto não garantiria a sua
manutenibilidade, prevista na NBR 15.575.

Não são admitidas tubulações horizontais, exceto em trechos de até um


terço do comprimento da parede, não ultrapassando 1 m, desde que
este trecho seja considerado não estrutural. Também são proibidas
tubulações (verticais ou horizontais) nos encontros de paredes.

A espessura mínima das paredes com altura de até 3 m deve ser de 10


cm. Permite-se espessura de 8 cm apenas para paredes internas de
edificações de até dois pavimentos. Paredes com até 15 cm de
espessura utilizam uma tela centrada para armação. Já as paredes com
mais de 15 cm – assim como qualquer parede sujeita a esforços
horizontais ou momentos fletores aplicados – são armadas com duas
telas e cobrimentos previstos na NBR 6.118:2014 (projeto de estruturas
de concreto).

Quando bem projetada, a parede de concreto com 10 cm de espessura é


capaz de atender aos requisitos de desempenho da NBR 15.575. Para
assegurar o desempenho acústico, porém, deve-se evitar a colocação de
quadros de distribuição em paredes de divisa e principalmente a
colocação de caixinhas de elétrica fundo a fundo, o que criaria um túnel
de passagem de som de um ambiente para outro.
EXECUÇÃO

Tão importante quanto os projetos compatibilizados é a boa execução


das paredes. Os principais cuidados nas instalações elétricas se referem
ao posicionamento correto e boa vedação do sistema. Devemos lembrar
que esses elementos estarão colocados na fôrma quando da
concretagem. Portanto, sofrerão a pressão do concreto fresco e eventual
adensamento por vibração. Por isso, é necessário utilizar caixinhas
elétricas vedadas especiais (alumínio ou plástico) e eletrodutos
resistentes e com conexões próprias para evitar a entrada de nata de
cimento neles. O posicionamento será dado com a colocação de
espaçadores em quantidade apropriada.

Na execução, devemos lembrar também que, devido à velocidade da


obra, o planejamento do escoramento residual permanente é
fundamental para as deformações do sistema. O projetista de estruturas
deve atuar em conjunto com a construtora para estabelecer o esquema
de escoramento e as idades de retirada dele.

Por se tratar de uma solução industrializada, o sistema construtivo


demanda projetos voltados diretamente à produção. Ou seja, o grau de
detalhamento e simplificação deve facilitar o entendimento nas frentes
de trabalho.

Para evitar imprevistos e improvisações que afetariam a velocidade e a


qualidade da obra, o plano de ataque deve considerar o sistema de
fôrmas escolhido. Características como facilidade na montagem e
desmontagem, peso por metro quadrado dos painéis e quantidade de
peças soltas influenciam diretamente a execução do sistema.

Os ciclos rápidos de execução também exigem que haja uma dinâmica


de suprimentos ágil e estruturada, principalmente em relação aos
insumos principais: concreto, armações e jogos de fôrmas. A
movimentação de materiais, por sua vez, deve ser feita mecanicamente,
sempre que possível.
PROCEDIMENTOS EXECUTIVOS

Se alguma etapa produtiva for executada erroneamente,


eventuais patologias podem surgir em escala e o tratamento
geralmente custa mais do que a correta execução.
8 VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM OS CICLOS DE PRODUÇÃO

CONTROLE DA QUALIDADE

Cuidados com detalhes de armaduras, escoramento, tolerâncias, cura e


manuseio das fôrmas são essenciais para o sucesso do sistema
construtivo. A concretagem requer controle tecnológico rigoroso. No
estado fresco, os ensaios necessários são:

 Slump
 Slump Flow ou espalhamento
 Massa específica do concreto conforme a ABNT NBR 9833.
 Moldagem de corpos de prova, conforme a norma ABNT NBR
5738.

Ensaios também devem ser realizados no concreto endurecido, como a


análise de corpos de prova moldados durante a concretagem.

OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO

As paredes e lajes de concreto armado são estruturais. Logo, não podem


ser demolidas total ou parcialmente pelo usuário. Isso deve constar de
forma clara no Manual de Operação, Uso e Manutenção (Manual do
Usuário). Se forem notados pontos de corrosão de armaduras, deve ser
providenciado o tratamento adequado, com assistência técnica de
engenheiro ou empresa especializada.

OS 11 “MANDAMENTOS” DA PAREDE DE CONCRETO MOLDADA NO


LOCAL

Documentos de referência

 ABNT NBR 16.055:2012 – Parede de concreto moldada no local


para a construção de edificações – Requisitos e procedimentos
 ABNT NBR 15.575:2013 – Edificações habitacionais –
Desempenho
 ABNT NBR 15.873:2010 – Coordenação modular para as
edificações
 Normas relacionadas ao controle tecnológico do concreto, como
ABNT NBR 5.739:2007 (determinação de fck), ABNT NBR
15.823-2 (espalhamento) e ABNT NBR NM 67:1998 (slump).
 Diretrizes do Sistema Nacional de Avaliações Técnicas (SINAT)
para sistemas não normatizados.

Autores

Arnoldo Wendler, engenheiro civil, diretor da Wendler Projetos e


Sistemas Estruturais. Coordenou o grupo de estudos da Norma NBR
16.055 (Paredes de Concreto) da ABNT.

Rubens Monge, engenheiro civil. Coordena o Grupo Paredes de


Concreto da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).

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