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Quando o empregado é preso

Analisamos, aqui, a hipótese de um empregado ver-se preso em razão


de algum ilícito criminal do qual é acusado, ou por ter sido decretada a
sua prisão administrativa (caso de inadimplência no pagamento de
pensão alimentícia ou por ser reputado “depositário infiel”).

O empregador, neste caso, deve ter a maior cautela e analisar os fatos


com sobriedade, pois, nem sempre àquele que é acusado de um crime
é realmente culpado e condenado; além de que, caso de prisões por
“falta de pagamento de pensão alimentícia” e por “depositário infiel” são
modalidades de prisão civil, não guardando qualquer relação com a
“condenação criminal”.

E isso se faz necessário ressaltar porque é considerável a quantidade


de empregadores que, por falta de orientação ou mal-aconselhados,
nessa situação, se apressam em demitir o seu empregado por “justa
causa”, com fundamento no artigo 428, alínea “d”, da Consolidação das
Leis do Trabalho, o qual determina:

Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho


pelo empregador:
(...)
d) Condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não
tenha havido suspensão da execução da pena.

Ocorre que o empregado pode se encontrar preso de forma provisória,


aguardando o julgamento, não havendo o que se falar, portanto, em
“condenação criminal”. E, aliás, mesmo que condenado criminalmente
em primeira instância, a mesma só transita em julgado (“passa em
julgado”) depois de esgotados os recursos do acusado.

Portanto, se o empregador, nessa hipótese, se aventurar a demitir seu


empregado por justa causa, com fundamento na referida alínea “d” da
C.L.T., poderá ter a certeza de que essa demissão será fatalmente
convertida para “sem justa causa” na esfera da Justiça do Trabalho,
sendo condenado, por conseqüência, em todas as verbas rescisórias e
indenizatórias de direito do empregado, arriscando-se, ainda, conforme
for o caso, a uma condenação por danos morais, face à injusta ofensa
à honra e boa imagem do funcionário (caso, por exemplo, se o acusado
vier a ser inocentado e absolvido).

Também, nem há que se cogitar de demissão por justa causa com base
na alínea “i” do artigo 482 da C.L.T. (“abandono de emprego”), porque,
no caso em debate, o empregado não tem a escolha de não ir ao
emprego; ele simplesmente não pode ir, está impedido de comparecer
ao serviço por força maior. Trata-se de uma situação completamente
diferente, que não enseja a hipótese de “abandono de emprego”.

Portanto, em caso do empregado encontrar-se preso provisoriamente,


sem condenação criminal transitada em julgado, ou preso por falta de
pagamento de pensão alimentícia ou por ser declarado depositário
infiel, o empregador não poderá demitir o obreiro por justa causa.

Não obstante, trata-se de situação que suspende o contrato de


trabalho, devendo assim permanecer (suspenso) até que o empregado
seja colocado em liberdade (voltando ao trabalho imediatamente) ou
condenado criminalmente sem mais poder recorrer.

Se condenado criminalmente, não mais cabendo recurso, a sentença


“transitou em julgado”, o que, aí sim, possibilita o empregador demitir o
referido empregado por justa causa, com fundamento no artigo 482,
alínea “d”, da Consolidação das Leis do Trabalho; exceto se,
porventura, o magistrado decretar, em sentença, a suspensão da
execução da pena. Ou seja, é preciso que o empregado seja
condenado e também obrigado a cumprir a pena que lhe foi imposta,
porque, se, porventura, o juiz decidir suspender a execução da pena
(conforme previsto no artigo 77 do Código Penal), o empregado não
terá condenação a cumprir, podendo retornar imediatamente à
sociedade e, por conseqüência, ao seu emprego.

Mas, durante a suspensão do contrato de trabalho, o empregador não


terá que efetuar pagamento de salários ao seu empregado preso, nem
terá de se preocupar com os respectivos recolhimentos em prol do
F.G.T.S. e da Previdência Social. Esse período em que o empregado
estiver preso também não é computado como tempo de serviço para
efeito de pagamento de férias, 13º salário, entre outras verbas.

No entanto, o empregador deverá tomar o essencial cuidado de


requerer perante a Secretaria de Segurança Pública uma certidão
informando que o referido empregado encontra-se recolhido a prisão,
constando a data em que o mesmo foi preso; o que será concedido,
visto que se trata de um documento público, que qualquer pessoa pode
requerer.

Também é aconselhável, por medida de cautela, que o empregador


notifique o empregado (poderá ser pela via postal, com o aviso de
recebimento - A.R.) de que o contrato de trabalho se encontra
suspenso em vista de sua prisão, e que o mesmo deverá apresentar-se
ao local de trabalho imediatamente após encontrar-se em liberdade.

Desaconselha-se que sejam efetuados quaisquer apontamentos em


carteira profissional do empregado a respeito dos motivos dessa
suspensão do contrato de trabalho, pois poderá acarretar futuros
problemas ao obreiro e, em decorrência, o empregador se arrisca a
uma condenação na esfera da Justiça do Trabalho por danos morais
infringidos ao seu funcionário.

Nada obsta, também, que o empregador proceda à demissão do


empregado sem justa causa, pagando-lhe todas as verbas rescisórias e
indenizatórias que o mesmo tem direito; devendo comunicar o
funcionário da referida rescisão de contrato sem justa causa e
informando-lhe a data, local e forma de pagamento, no que o
empregado preso poderá, se assim desejar, nomear um procurador de
sua confiança para receber as verbas devidas e assinar o termo de
rescisão do contrato de trabalho.

Existindo a necessidade de homologação da rescisão perante o


Ministério do Trabalho ou entidade sindical da categoria profissional do
empregado, é aconselhável, por cautela, a conversar antecipadamente
com o sindicato sobre o assunto, mas nada obsta que a referida
homologação, nesse caso, se dê com um procurador representado o
funcionário preso.

Caso o empregado não constitua procurador para comparecer no ato


da homologação da rescisão perante o sindicato ou Ministério do
Trabalho, o empregador deverá requerer a declaração do respectivo
órgão de que lá esteve na data e horário marcados, sem a presença do
empregado ou de seu procurador, no que possibilitará ao empregador
proceder imediatamente ao depósito das verbas devidas em conta
bancária do empregado, ou, se o mesmo não possuir conta em banco,
o empregador deverá ajuizar uma ação de consignação em pagamento
perante a Justiça do Trabalho, de forma que se proceda ao pagamento
em juízo das verbas devidas ao obreiro.

Tal procedimento é importante para que o empregador não incida


futuramente em multa no valor equivalente ao salário do empregado, a
qual reverterá em favor deste, por motivo de pagamento das verbas
rescisórias fora do prazo de dez dias após a notificação do funcionário
quanto a sua demissão sem justo motivo (artigo 477, parágrafo 06º,
alínea “b”, e parágrafo 08°, da C.L.T.).

Cabe ressaltar, por fim, que durante o período em que o empregado


estiver preso, os dependentes deste poderão requerer o auxílio-
reclusão, na forma do artigo 80 e seu parágrafo único, da Lei Federal
n° 8.213/91 e do artigo 116 e seus parágrafos, do Decreto n° 3.048/99.

Escrito por Regis Cardoso Ares às 2/11/2009 03:46:00 AM

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