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Francisco José Borges Motta LEVANDO O DIREITO A SERIO Uma critica hermenéutica ao protagonismo judicial M21 Mota, Francisco José Borges: Lecando dicito a sri: uma critica hermendutica ao protago- { rismo judicial / Franisc lose Borges Mota. ~ 2 ed. ee amp “Porto Alege Livaria do Advogatio, 2012. Zap. ;2Bem 2" EDICAO Inca bibliograia Revista e Ampliada ISBN 978-85.-7348-793-0 boar A. Direito, 2. Processo civil - Brasil. 3. Hermentutica Direito). 4. Direito- Filosofia. 5. Principios gerais do diteito. 6, Argumentos juridicos. 1 Titulo, cou 347.91/.95¢81) cop 341.46 {indice para catilogosistemitice: 1. Procesto civil: Brasil 347.91/ 95(8) A (Gibliowedvia responssve: Sabrina Leal Araujo~ CRB 10/1507) lisraria DO ADYOGADO ledivora Porto Alegre, 2012 da solugio do caso judicializado. Afinal, e af a raz4o segue com Dworkin, nio podemos ter certeza de que os pontos de vista de alguém sao, ou nao, os absurdos que supomos, a menos que 0 deixemos “acabar de fa- lar” para descobrir se compartilhamos suas conviagées.™ Por isso mes- ‘mo que, nesta dtica “democratica”, o “contraditério™ ser4 compreendido como garantia de comparticipacao e debate, assegurando a influéncia dos argumentos suscitados por todos os sujeitos processuais e garantin- do que, nas decisGes, néo aparecam fundamentos que nao tenham sido submetidos ao espago publico processual." A esse ponto, voltaremos no final na pesquisa, Seja como for, com isto, enfeixamos os tracos basicos de nossa “lei- tura moral” da Constituicéo a respeito do processo: isonomia (o juiz nao €“o protagonista” de um proceso policéntrica, e nem a Constituicao ¢ o que ele diz que ela é!), contraditério (influéncia efetiva dos argumentos de Principio trazidos pelos contraditores) e outras clausulas constitucion: importantes (tempestividade da tutela, por exemplo) em favor do “devi do processo”, compreendido como aquele que assegure 0 acesso a uma ordem jusicica constitucional principiologicamente everente. E 0 controle dessa pratica - veremos na sequéncia - sera propiciado pela exigéncia do cumprimento do dever fundamental de fundamentar decisdes (e nao $6 pelo atendimento do procedimento) e de, com ela, fornecer “boas respos- fas” (respostas constitucionalmente/hermencuticamente adequadas, ou “corretas”, mesmo, se se quiser). Postas essas nogdes todas, cabe-nos agora pesquisar as condigoes de Possibilidade que a hermenéutica oferece em detrimento dos “relativis- mos” de sentido, e que tém muito a ver com a necessidade de controle do alo judicial (que também sera ~ queiramos ou nao - interpretativo). E essa caminhada parte da reconstrucdo do ingresso dos principios na pratica do Direito, 0 que acontece ~ no que nos interessa mais de perto —a par- tir de Dworkin, e acaba (adiantamos) com o “fechamento hermenéutico” (Streck) por estes propiciado. disso que nos passamos a ocupar de ora em diante. ‘WORKIN, Ronald. O impirio do Dirt, op. cit p14 BSNUNES, Dito José Coelho, Proceso fursdicional Demucrdtiar Uma Andlise Critica das Reformas Processuas, op itp. 258 6 Francisco José Borges Motia 2. A hermenéutica entre o protagonismo e a discricionariedade judiciais: 0 papel dos principios 2.1. A inclusio das principios na pratica do direito ea necessidade de controle das decisies judiciais: duas faces de uma mesma moeda © nosso objetivo é o de clarificar aspectos importan- tes da toons do Direta de Ronald Dworkin, pretendondo atestar a sua “validagdo” hermenéutica e a sua aproveitabilidade pelo neoconstitu- cionalismo que se entende deva ser praticado (através de um processo dlemocrstica e hermeneuticamente compreendido, como vist) no Bras Para tanto ~ e jé para nos “vacinarmos” contra as constantes fontes de “mal-entendidos” que brotam de uma leitura (no mais das vezes) pouco exiteriosa (para nao dizer de “ma vontade”, mesmo) da obra do justi fo norte-americano -, explicaremos melhor nossas nogbes (sempre, “fil- tradas” pela Crien Hermentutca do Dirt a rexpeito de conceitos como “positivismo juridico”, “principios”, “discricionariedade judicial/poder discriciondrio” e, finalmente, “boas respostas” em Direito. Ao trabalho, pois. ; Falou-se antes que o positivismo juridico resumiu o Direito a um sis- tema de regras. E chegada a hora de explicar melhor este ponto. Sio sabidas as dificuldades de identificar todos os caracteres que definem as posturas positivistas."* Contudo, com o auxflio de Dworkin, 7 Sc mb tes an eh gu pro ie ncn nsec py Sn nan or ota ue de ope sl bar sn ra puter a cen utr spe aracs "i on” ngs utara us eight CEePSinc er ln eepna gor nn tome Seana" no waa elt ene nhc atmos pontine STRECK. toi Fede Converse Consttuigho Henmenéutiese leoras Ducurivas, op. cl, p45 a| Levando 0 Diteito a Sério podemos formular pelo menos 03 (trés) preceitos-chave que orientarao.o nosso trabalho, assim resumidos: {2} 0 dito de uma comunidade & um conjunto de regras especiais ulizado deta ov indretamente pela comunidade com o propésito de determinar qual comportamento sera ‘punido ou coagido pelo poder pico, Essas regas especais podem sor Wentticadas ¢ fslnguidas com auxlo de etéos especticos, de testes que nda tm a ver com 0 seu conte, mas com seu pedigree ou maneira pla qual foram adotadas cu formuladas, £-1(6) © conjunto dessas regras jurticas & coextensivo com “o diet, da modo que se © caso de alguma pessoa nao estver coberto par uma regra dessas (porque ndo existe ‘nenhuma que Paresa apropriada ou porque as que parecem apropiadas so vagas Ou por ‘lguma ora razo), nto esse caso nao pode ser deciddo mediante a“apicapto dod. ret. Ele eve ser decide por zlguma auloridade pba, como um juz, “exereendo seu «fscemimento pessoa, 0 que significa i além do deo na busca por algum outo tipo de padrao [1]. (€) Dizer que alguém tem uma “obsgacio jurtia” 6 dizer que seu caso se enquadra em alguma regra urdca valida que exigo que ele faca ou se abstenha de lazer alguna cosa” De outra parte, o autor norte-americano também explica que 0 con- ceito de poder discriciondrio “sé est perfeitamente & vontade em apenas um tipo de contexto: quando alguém é em geral encarregado de tomar decisdes de acordo com padrées estabelecidos por uma determinada autoridade”." Assim, apés sugerir dois sentides fracos para a plurivoca expressio (ora equiparada & mera exigéncia de alguma capacidade de ra ciocinio do tomador de decisao, ora entendida como a potencialidade de dar a tiltima palavra sobre algum assunto), Dworkin finalmente traca um. sentido forte de poder discricionério, entao compreendido como a auséncia de limitagdes, 20 seu titular, de quaisquer padrdes (standards) estabeleci dos por outra autoridade. Nas suas proprias palavras, 4s vezes usamos “poder dscrilonario™ no para dizer que um funcionéio plea deve usar seu giscerrimento na apicagao dos padhées estabeleidos para ele pela autocidad ‘u para afar que ninguém ir rover aqueleexerccio de juizo, mas para dizer que, em eros assunos, ele no est Emitado pelos padides da autridade em quastio "* desse conceito de pader discricionério — compreendido no “sentido forte” de que falou Dworkin, e que é, como veremos, apandgio do positi vvismo juridico ~ que se ocuparé, de ora em diante, a nossa pesquisa Ainda na introdugéo de Levando os Direitos a a teoria do Direito de Dworkin), 0 autor norte-americano aponta que a Parte conceitual da teoria do Direito de Bentham ~ o positivismo juridi co — foi bastante aperfeigoada por Herbert L. A. Hart, responsivel pela ério (livro que abre "© DWORKIN, Ronald, Levande os DieiosaSério,op. ci p.278. e cada} versio contemporanea “mais influente [além de complexa e sofistic sree dvismo' que pase ser,bem por 0,0 bjto principal de sua critica Vamos a ela! ; . Hart sustentou ~ na suma ~ que o sistema juridico € composto pela combinagio ce regras primrias (que impoem severe dlzendo respeito ‘agbes que envolvem movimentos ou mudangas fi secundarias (que atribuem poderes, pablicos ou prvados, perm emitindo a erngooua Jo de deveres ou obrigacbes)"° Entre ras do ira, npr as de altemefo ede julgemento estéa de reconhecimento, conceit da pelo autor inglés como: . toma alsin de emi prance do ene as oes is Ried especticar algun aspeio ov aspacas oa extn numa dada req ¢ lomada caro tuna indicazaoafmalvae concludente de que € uma rera do grupo que deve ser apo pela pressdo social que ele exerce ' ‘ do direito como ins- -aba desenvolvendo, a partir dat, a tese d no in stig soc como um fenémeno cultural constituido pela linguag © WORKIN, Ronald. Levando os Diets a Siri, op-cit p35 SB cancun Deng gn eee Aon crn sentence oe eth a eterno phe alr ee ia ct eo i eer som recone oe Seite ent anatrge e Sv eli Cig Soren eee rene Ppa les oe emery co oe we 3 conclusto (), A admissit dade de dretos que nao estvessm positives rm ous pcan slo teste de validede seriam confundidas com a to cos nda ese do Daca Nat see ca tomamncaeca es maar cnetanactuaee snide ered oleae ae rt iain ih dae te ee basta a Iatura do “apitulo VIII da Teoris Pura para constatar que Kelsen & um a (Erol Rin ine cunt ten Ne EOS get ecateapstbads qs apeiron do Dina ap senate ogebarstepeunt ite fr, cei Sis Site ete nt shove bene anea eects ‘cB foal reer gaa gt guts tide char astntes les vias). Aseim como da Constituigio, através da interpretac3o. se tin i an ts fren Se ees ac hetero Scere me SRB eee Snes arc ‘ipetvismo fridienem gera, inclusive o seu principal cole, Kelsn. mieten 10 HART, Hesbert OConcetode Dire, op. ci, p. 9 Idem, p52 ART Het 7 70 Francisco José Borges Motta n Levando 0 Diteitoa Sério

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