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17 de outubro de 2018

Banestado 18 anos depois

Qual o saldo da privatização do Banestado 18 anos depois?

quarta-feira, 17/10/2018

Banco público estadual do Paraná, Banestado foi privatizado durante leilão no dia 17 de
outubro de 2000. Comprado pelo Itaú, que exterminou os empregos e grande parte das
agências, venda deixou como herança uma dívida impagável para o Estado.

Com bancos públicos BB e Caixa em permanente risco de privatização na conjuntura do


Brasil pós-golpe de 2016, a privatização do Banestado completa 18 anos.
O Banestado foi vendido ao Itaú via leilão, no dia 17 de outubro de 2000, pelo valor de R$
1,6 bilhão, após o então governador Jaime Lerner reagir à ameaça de intervenção pelo
Banco Central do então presidente Fernando Henrique Cardoso. O banco foi levado à
falência por práticas de realização de empréstimos de alto risco.

O Banco do Estado do Paraná teve o mesmo destino de outros públicos estaduais, como o
Banespa, o Banerj e o Bemge: passaram a ser geridos por instituições financeiras
privadas, que demitiram trabalhadores até então concursados, que perderam sua
estabilidade, e fecharam inúmeras agências bancárias, dificultando o acesso da
população em locais mais distantes numa época em que a tecnologia dos serviços
bancários era ainda embrionária e não havia internet.

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“Um banco que tinha um papel social foi entregue à iniciativa privada engordando ainda
mais os lucros do setor, concentrando o sistema nas mãos de poucas famílias, e pior,
deixando uma dívida impagável ao Estado. Os riscos da privatização estão sempre à
espreita. Além do patrimônio público, milhares se empregos foram ceifados”, explica
Marisa Stedile, diretora da Secretaria de Políticas Sociais da Federação dos Trabalhadores
em Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-CUT-PR). Marisa é uma entre os poucos mais
de 500 trabalhadores que restam no Itaú oriundos do Banestado. Quando foi vendido, o
banco tinha 10 mil funcionários.

Em 2018, privatização do Banestado ainda traz prejuízos ao povo do Paraná, que paga,
todos os meses, R$ 1,9 bilhão para a União, por conta de uma dívida de R$ 5,6 bilhões, de
financiamento adquirido por Lerner em 1997, para “sanear” o banco e que, ainda assim
após esse investimento público, foi vendido para a iniciativa privada por R$ 1,6 bilhão.

Essa dívida foi refinanciada diversas vezes, a última agora em 2018. Em maio, a
governadora Cida Borghetti consolidou a adesão do Paraná ao chamado Plano de Auxílio
aos Estados (Lei Complementar 156/16) e a dívida foi empurrada por mais 20 anos: tinha
quitação prevista para 2028 e o prazo foi estendido para 2048. Em contrapartida, neste
momento, o Paraná deixa de pagar o governo federal as parcelas.

De acordo com estimativa do economista Cid Cordeiro, ainda em 2017, o Paraná devia à
União 5 bilhões de reais, já havia pago R$ 13 bilhões e ainda devia R$ 9 bilhões por causa
dos juros. Atualmente a dívida está em R$ 10,3 bilhões, valor menor que qualquer lucro
líquido trimestral do Itaú nos últimos anos. “Como comparativo, também podemos citar o
montante que o Bradesco pagou pelo HSBC: R$ 16 bilhões”, lembra Junior Cesar Dias,
presidente da FETEC/PR.

Por conta das operações que levaram o Banestado quase à falência, do empréstimo
adquirido junto à União para seu saneamento, pela privatização no ano 2000 e pela
compra de títulos podres (papeis comprados pelo Banestado por Lerner como garantia e
que foram declarados nulos pela justiça), foram realizadas duas CPIs, uma na Assembleia
Legislativa do Paraná e outra mista com membros da Câmara e do Senado, em
Brasília, que produziu relatório de mil páginas.

Os títulos podres garantiram ao Itaú 21% em ações da Copel, a Companhia Paranaense de


Energia, como garantia pela compra desses títulos. E quem paga essa conta, ainda hoje,
não é o Itaú, é o Estado do Paraná e sua população, que tem reduzido os investimentos
públicos por conta dessa dívida impagável, e fez com que o Estado tivesse retido por
muitos anos o Fundo de Participação dos Estados, disponibilizado pelo governo federal.

“Em um país com seriedade, com um poder judiciário comprometido com a preservação
do patrimônio público, o que o governo Lerner fez seria tratado como crime. Duas CPIs
(Assembleia e Senado) não responsabilizaram nenhuma autoridade envolvida nas
transações suspeitas. Foram presos apenas funcionários do segundo escalão, que agiam
com remessa de dinheiro ilegal ao exterior utilizando o Banestado, e outras figuras menos
expressivas. Os responsáveis pelas remessas ilegais não foram punidos. Temos também
que chamar a atenção para o papel irresponsável (para dizer o mínimo) do Banco Central,
que não fiscalizou, ou foi conivente”, lembra Marisa Stedile.
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O Banestado foi um banco que deixou de existir por uma gestão irresponsável, com
garantias duvidosas. Para evitar sua falência, Lerner emprestou dinheiro da União e é esse
valor de amortização, juros e da dívida que ainda deve ser pago pelo Estado até 2048.
Foram investidos R$ 5,6 bilhões para sua recuperação financeira e três anos depois foi
vendido por R$ 1,6 bilhão. Uma conta que não fecha e onera toda a população.

Dívida do Banestado

1997 – BC ameaça de intervenção ao Banestado. Lerner adquire financiamento de R$ 5,6


bilhões junto à União Federal para “sanear” o banco
2000 – Após receber R$ 5,6 bilhões de dinheiro público, Banestado é vendido por R$ 1,6
bilhão ao Itaú
2017 – Da dívida de R$ 5,6 bilhões adquirida em 1997, foram pagos, R$ 13 bilhões mas o
Paraná ainda devia R$ 9 bilhões
2018 – A dívida está em R$ 10,3 bilhões e sua quitação foi empurrada para 2048

Por Paula Zarth Padilha


FETEC-CUT-PR

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