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ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DO CONE SUL -


ASSECS
FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS DE NOVA
ANDRADINA – FACINAN
CURSO DE DIREITO

GIOVANNA GUSMAN BRUNHERA

O EMPREGADO DOMÉSTICO E A LEI COMPLEMENTAR Nº


150/2015.

NOVA ANDRADINA – MS
2018
2

GIOVANNA GUSMAN BRUNHERA

O EMPREGADO DOMÉSTICO E A LEI COMPLEMENTAR Nº


150/2015.

Monografia apresentada na Faculdade UNIESP –


Unidade de Nova Andradina no 10º Semestre, do
curso de Direito de Nova Andradina – FACINAN
como requisito final para obtenção do título de
bacharel em Direito.

Orientadora: Profª Mariana Stabile Mendes.

NOVA ANDRADINA – MS
2018
3

“Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás e tudo te irá bem.”
Salmos 128:2
4

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho


CRFB/1988 – Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
FGTS – Fundo de Garantia do tempo de Serviço
LC – Lei Complementar
OIT – Organização Internacional do Trabalho
PEC – Proposta de Emenda à Constituição
REDOM – Programa de Recuperação Previdenciária dos Empregadores Domésticos
RO – Recurso Ordinário
RSR – Repouso Semanal Remunerado
RR – Recurso de Revista
TRT – Tribunal Regional do Trabalho
TST – Tribunal Superior do Trabalho
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RESUMO

O presente trabalho tem o objetivo de realizar uma análise sobre o empregado


doméstico em relação a evolução jurídica de seus direitos desde a Constituição
Federal de 1923 até a Lei Complementar nº 150/2015, expondo o conceito de
empregado doméstico em relação aos demais empregados, mostrando seus direitos
e garantias atuais. Através dessa análise, pode se verificar que a Lei Complementar
nº 150/2015 trouxe direitos aos empregados domésticos com base nos princípios da
Constituição Federal de 1988. Sendo assim, foi feita a análise detalhada de algumas
das inovações trazidas pela Lei Complementar nº 150/2015. Por fim, sobre os direitos
conferidos aos empregados domésticos e a realidade brasileira, o que realmente
acontece no dia-dia em relação a condição do empregador doméstico e a dificuldade
para se contratar um empregado doméstico.

Palavras-chaves: Empregados domésticos. Lei Complementar nº 150/2015. Direitos


Trabalhistas. Constituição Federal 1988. Empregador doméstico.
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ABSTRACT

The objective of this study is to analyze the domestic employee in relation to the legal
evolution of their rights from the Federal Constitution of 1923 until Complementary Law
150/2015, exposing the concept of domestic employee in relation to other employees,
showing rights and guarantees. Through this analysis, it can be verified that
Complementary Law No. 150/2015 brought rights to domestic servants based on the
principles of the Federal Constitution of 1988. Thus, a detailed analysis of some of the
innovations brought by Complementary Law No. 150/2015. Finally, on the rights
granted to domestic servants and the Brazilian reality, what actually happens in the
day-day in relation to the condition of the domestic employer and the difficulty in hiring
a domestic employee.

Key-words: Domestic servants. Complementary Law 150/2015. Labor rights. Federal


Constitution 1988. Domestic employer.
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9

1 A EVOLUÇÃO LEGISLATIVA DO DIREITO DO TRABALHO E OS


TRABALHADORES DOMÉSTICOS.......................................................................... 11
1.1 O Código Civil de 1916 e o Decreto n° 16.107 de 1923 ...................................... 11
1.2 Decreto Lei 3078 de 1941 ................................................................................... 12
1.3 Decreto-Lei 5452 de 1943 ................................................................................... 13
1.4 Lei n° 5859 de 1972 ............................................................................................ 14
1.5 A Constituição Federal de 1988 .......................................................................... 15
1.6 A Lei n° 10.208 de 2001 e Lei N° 11.324 de 2006 ....................................... 16
1.7 A Convenção 189 da Organização Internacional do Trabalho ............................ 17
1.8 PEC n° 66 de 2012 e Emenda Constitucional n° 72 de 2013 ............................. 18
1.9 Lei Complementar 150/2015 .............................................................................. 20

2 O TRABALHO DOMÉSTICO NO BRASIL.............................................................. 22


2.1 Empregado doméstico e a natureza continua da prestação de serviços ............ 22
2.2 O empregador doméstico .................................................................................... 25
2.3 Atividade de natureza não lucrativa no âmbito residencial .................................. 25

3 AS INOVAÇÕES DA LC N° 150/2015 .................................................................... 29


3.1 Alterações na legislação trabalhista .................................................................... 29
3.2 Jornada de trabalho e horas extraordinárias ....................................................... 29
3.3 Domingos e feriados ........................................................................................... 30
3.4 Viagens ............................................................................................................... 31
3.5 Intervalos intrajornada e interjornada .................................................................. 31
3.6 Hora noturna ....................................................................................................... 32
3.7 Contrato por prazo determinado .......................................................................... 32
3.8 Férias .................................................................................................................. 32
3.9 Dispensa por justa causa .................................................................................... 33
3.10 Descontos no salário ......................................................................................... 34
3.11 Vale-transporte .................................................................................................. 35
3.12 Salário-família ................................................................................................... 35
8

3.13 Fiscalização do Trabalho................................................................................... 35


3.14 Convenções e Acordos coletivos ...................................................................... 36
4 OS DIREITOS CONFERIDOS AOS DOMÉSTICOS E A REALIDADE BRASILEIRA
.................................................................................................................................. 37

CONCLUSÃO............................................................................................................ 39

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 41
9

INTRODUÇÃO

O trabalho doméstico no Brasil teve uma grande evolução, sendo defendido


desde sempre pelo Direito do Trabalho que busca cada vez mais trazer os direitos
para estes empregados em razão das peculiaridades que estes possuem, sendo uma
delas a de trabalhar no âmbito residencial.

O presente trabalho será dividido em quatro capítulos, no primeiro, será tratado


sobre a evolução legislativa do direito do trabalho e os trabalhadores domésticos,
sendo feita a análise de vários diplomas legais, começando pelo Código Civil de 1916
até a Lei Complementar nº 150/2015, dentre estes também está a Convenção nº 189
da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sua influência e seu impacto no
ordenamento jurídico brasileiro, como exemplo, a promulgação da Emenda
Constitucional nº 72 de 2013, que possibilitou aos empregados domésticos uma
proximidade a equiparação jurídica em relação aos demais trabalhadores.

No segundo capítulo, dentro do trabalho doméstico no Brasil, será demostrado


as características que gera o vínculo empregatício doméstico, como a natureza
continua da prestação de serviços, atividade não lucrativa no âmbito residêncial,
onerosidade, subordinação, pessoalidade, idade mínima para condição de
empregado doméstico, entre outras peculiaridades, e, também as características para
a configuração de condição de empregador doméstico. Demostrando além dos
empregados domésticos tradicionais, como aqueles que cuidam do lar, os que não
são muito conhecidos como empregado doméstico como: o motorista, o caseiro, o
enfermeiro, dentre outros.

Ademais, no terceiro capítulo sobre as inovações trazidas pela Lei


Complementar nº 150/2015, como as alterações na legislação trabalhista, jornada de
trabalho, horas extraordinárias, domingos e feriados que com a nova lei o descanso
remunerado passa a ser, preferencialmente, nos domingos e feriados, sendo possível
a compensação em caso de labor, portanto em caso de não compensação, será
devido em dobro a remuneração, sem prejuízo da remuneração do descanso
semanal, dentre outras, está a vedação de desconto no salário do empregado
doméstico que ultrapasse 20% (vinte por cento) em relação a planos de assistência
médico-hospitalar e odontológica, de seguro e de previdência privada, ressaltando
10

que só será incluso o empregado doméstico nos planos de saúde, seguro e


previdência se houver acordo entre empregado e empregador.

Por fim, no quarto capítulo será feita uma comparação dos direitos conferidos
aos domésticos com a realidade brasileira, sendo tratado dos pontos que estão
deixando as pessoas com receio de contratar um empregado doméstico, pela
exigências que a lei traz acerca dos direitos conferidos a esta categoria e a
inobservância do legislador na diferença da condição financeira do empregador
doméstico com o empregador não doméstico.
11

1 A EVOLUÇÃO LEGISLATIVA DO DIREITO DO TRABALHO E OS


TRABALHADORES DOMÉSTICOS

Nesse capítulo será demonstrado, a evolução legislativa do direito do trabalho


em relação aos trabalhadores domésticos.

No Brasil, o trabalho doméstico começou a surgir no período da colonização


portuguesa, com o trabalho escravo, os portugueses traziam mulheres escravas, que
ficavam com a responsabilidade de cuidar dos lares, dos alimentos da família e dos
senhores que a compravam. (MARTINS, 2012).

Com a falta de amparo legal, começou se a usar o Código Civil de 1916, que
regulamentava as relações trabalhistas como sendo uma relação de “locação de
serviço”. (MARTINS, 2012, p. 03).

Com a vinda da Consolidação das Leis do Trabalho, a situação do empregado


doméstico permaneceu praticamente a mesma, pois a (CLT) excluiu de forma taxativa
esses empregados de seu amparo legal em seu artigo 7°, alínea “a”, do referido
dispositivo legal:

Art. 7º Os preceitos constantes da presente Consolidação salvo quando for


em cada caso, expressamente determinado em contrário, não se aplicam:
(Redação dada pelo Decreto-lei nº 8.079, 11.10.1945)
aos empregados domésticos, assim considerados, de um modo geral, os que
prestam serviços de natureza não-econômica à pessoa ou à família, no
âmbito residencial destas;

Apenas em 2015 surge a Nova Lei dos Domésticos (Lei Complementar n°


150/2015), que representou a principal conquista dos empregados domésticos.

1.1 O Código Civil de 1916 e o Decreto n° 16.107 de 1923

Como já exposto, o trabalho doméstico no Brasil começou com os escravos


que eram trazidos da África, a escravidão foi abolida, mas o trabalhador doméstico
12

continuava trabalhando como escravo, sem qualquer regulamentação de suas


atividades e de seus direitos.

Com a chegada do Código Civil de 1916, em relação ao que se referia sobre


locação de serviços, era aplicada subsidiariamente para regulamentação do trabalho
doméstico.

Em 30 de julho de 1923, foi aprovado o Decreto n° 16.107 que


regulamentava a locação de serviços domésticos. (BRASIL. Decreto Lei nº 16.107.
Aprova o regulamento de locação dos serviços domésticos. Brasil. 1923). Como
dispõe seu artigo 2°:

São locadores de serviços domésticos: os cozinheiros e ajudantes, copeiros,


arrumadores, lavadeiras, engomadeiras, jardineiros, hortelões, porteiros ou
serventes, enceradores, amas seccas ou de loite, costureiras, damas de
companhia e, de um modo geral, todos quantos se empregam, á soldada, em
quaisquer outros serviços de natureza idêntica, em hotéis, restaurantes ou
casas de pasto, pensões, bar, escritórios ou consultórios e casas particulares.
(BRASIL. Art. 2º. Decreto Lei nº 16.107. Aprova o regulamento de locação
dos serviços domésticos. Brasil. 1923).

Esse Decreto trouxe dispositivos que visavam a identificação dos locadores de


serviço domésticos, os direitos e deveres do locador e do locatário, o interesse e a
necessidade desses trabalhadores, entre outras disposições.

1.2 Decreto Lei 3078 de 1941

O Decreto Lei 3078 de 1941, surgiu em 27 de fevereiro de 1941 e foi a primeira


norma no âmbito nacional a regulamentar de fato o trabalho doméstico no Brasil. Esse
Decreto conceituou os empregados domésticos de forma simples. Em seu artigo 1°
definia: empregados domésticos todos aqueles que, de qualquer profissão ou mister,
mediante remuneração, prestem serviços em residências particulares ou a benefício
destas. (BRASIL. Decreto Lei nº 3078. Lotação dos empregados em serviços
domésticos. Brasil. 1941).
13

Esse Decreto trouxe ao trabalhador doméstico que trabalhasse por mais de


seis meses permanente e exclusivo o direito de aviso prévio de 8 dias, em caso de
rescisão do contrato de trabalho. Havia também o direito de o empregado doméstico
reincidir o contrato de trabalho em caso de atentado à sua honra ou integridade física,
mora ou salarial ou em caso que o empregador deixasse de oferecer um ambiente
higiênico à sua alimentação e habitação (caso em que mesmo que o empregado
doméstico peça a demissão, ele possui o direito a indenização equivalente a oito dias,
tendo em vista a rescisão do contrato de trabalho, por culpa do empregador.

Em 1° de maio de 1943, surge a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),


onde estabelece normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho.
A então CLT, vigente até o momento, não dispõe sobre a classe dos trabalhadores
domésticos, mas foi uma grande conquista para os trabalhadores como um todo.

1.3 Decreto-Lei 5452 de 1943

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), existente até hoje no ordenamento


jurídico, foi aprovada pelo Decreto-Lei n° 5452, criado em maio de 1943. É
considerada a grande conquista dos trabalhadores urbanos, regulamentando a
proteção dos direitos sociais trabalhistas destes empregados.

No entanto, ao afastar o empregado doméstico do seu âmbito de proteção, fez


com que o empregado doméstico permanecesse frágil e sem qualquer
regulamentação específica. Com isso provará mais uma vez a escravidão e a
sociedade preconceituosa e juridicamente desigual. Em seu artigo 7°, alínea “a”,
mostra o afastamento dito:

Art. 7º Os preceitos constantes da presente Consolidação salvo quando for


em cada caso, expressamente determinado em contrário, não se aplicam:
(Redação dada pelo Decreto-lei nº 8.079, 11.10.1945)
a) aos empregados domésticos, assim considerados, de um modo geral,
os que prestam serviços de natureza não-econômica à pessoa ou à família,
no âmbito residencial destas; (BRASIL. Decreto lei nº 5.452. Brasil. 1943).
14

Portanto, com esse afastamento as relações domésticas continuaram a ser


orientadas pelo Decreto-Lei n° 3.078/41 ou pelo Código Civil de 1916, até que uma
legislação específica fosse criada.

Com o surgimento da Lei n° 5.859 no ano de 1972, o problema foi solucionado,


a lei mencionada dispunha sobre a profissão do empregado doméstico. Essa lei foi
regulamentada pelo Decreto n° 71.885, de março de 1973.

1.4 Lei n° 5859 de 1972

Foi uma grande conquista para os trabalhadores domésticos, a Lei n° 5859, de


11 de dezembro de 1972, pois foi a primeira norma no ordenamento jurídico brasileiro
a disciplinar a matéria trabalhista doméstica em âmbito nacional.

Com o advento da Lei n° 5859 de 1972, trouxe alguns direitos como, por
exemplo, benefícios e serviços da previdência social, férias anuais com o adicional de
um terço, etc.

O artigo 1° da Lei n° 5859 de 1972, já revogado, definia o empregado doméstico


da seguinte forma: “o empregado doméstico, assim considerado aquele que presta
serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família no
âmbito residencial destas, aplica-se o disposto nesta lei”. (BRASIL. Art. 1º. Lei nº
5.859. Brasil. 1972).

Com isso o artigo 1° da referida lei trouxe duas características para a


caracterização do empregado doméstico: aquele que presta serviço de natureza
contínua; e de que o serviço fosse prestado a pessoa ou a família com finalidade não
lucrativa. Portanto, poderia nesse caso figurar como empregado doméstico a faxineira,
o motorista, o jardineiro, vários empregados que antes não possuíam uma
regulamentação.

Por fim, a Lei 5.859/1972, de forma simples regulou a profissão de empregado


doméstico, mas trouxe muitos benefícios como: férias anuais, carteira de trabalho,
serviços da previdência social, etc. Com esses benefícios os empregados domésticos
já podem se considerar progressistas.
15

1.5 A Constituição Federal de 1988

Diante de um cenário precário em relação aos direitos do empregado


doméstico, surge a Constituição Federal de 1988 (CRFB/1988), que foi uma das
maiores conquistas desta categoria, pois o rol extenso do artigo 7°, parágrafo único
da Carta Magna, contemplou os empregados domésticos com vários direitos se
comparados aos que já estão garantidos.

São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos


previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV, XVIII, XIX, XXI e XXIV, bem como a sua
integração à previdência Social.

Os incisos citados acima tratam, respectivamente, do salário mínimo,


irredutibilidade salarial, décimo terceiro salário, repouso semanal remunerado, férias
anuais, licença a gestante, licença paternidade, aviso prévio e aposentadoria.

Mesmo com a notável desigualdade em relação aos trabalhadores domésticos,


a Constituição Federal de 1988 menciona garantir a igualdade de todos perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, e declarou ser inviolável a igualdade,
estabelecendo que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações.

A Constituição Federal de 1988, vigente, é também chamada de Constituição


cidadã, pois trouxe vários direitos e garantias fundamentais. Embora tenha
estabelecido as normas de proteção ao trabalho, restringiu injustificadamente a
extensão desses direitos aos empregados domésticos, conforme a vontade expressa
de seu paragrafo único do artigo 7°, continuando com a luta desta categoria
profissional.

Além disso, é importante ressaltar que na época da promulgação da


Constituição de 1988, o referido dispositivo foi considerado uma grande vitória,
celebrado também pelos empregados domésticos. Entretanto, entre as comissões
criadas para a elaboração da Constituição Federal, não era unanime a vontade de
criação de proteção especial à categoria dos empregados domésticos. Além disso,
houve muitas críticas em relação a inserção desses trabalhadores no texto
constitucional, onde alegavam que a constituição não poderia privilegiar uma
categoria em particular, pois isso seria função de lei ordinária.
16

Diante do compromisso das lideranças com a categoria das empregadas


domésticas de assegurar-lhes direitos no âmbito constitucional, mesmo com diversas
discussões, resta evidente que a intenção do legislador foi assegurar direitos
trabalhistas as empregadas domésticas, e não discriminá-las. (MARTINS, 2007, p.
05).

1.6 A Lei n° 10.208 de 2001 e Lei N° 11.324 de 2006

Com as modificações na Lei n° 5.859/1972, em 2001 com a edição da Lei n°


10.208, deu-se mais um passo na busca pela igualdade dos direitos trabalhistas dos
empregados domésticos. Com essa lei, tornou-se possível a inclusão do empregado
doméstico no regime do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e seguro
desemprego, em caráter facultativo, a critério do empregador.

A medida estava sujeita à liberalidade do empregador e com isso, apesar do


avanço legislativo, tal alteração não foi muito eficaz, pois eram pouquíssimos os
empregadores domésticos que se sujeitavam a sobrecarregar suas folhas de
pagamento.

Com a promulgação da Lei n° 11.324, de 19 de julho de 2006, originada a partir


da Medida Provisória n° 284, 6 de março de 2006, a liberalidade em relação ao FGTS
poderia ter sido reparada, pois o Congresso Nacional havia modificado a referida
norma, com o propósito de promover a inclusão obrigatória do empregado doméstico
no regime de FGTS e seguro desemprego.

Portanto, o presidente da República, através da Mensagem n° 577, de 19 de


julho de 2006, vetou a inserção obrigatória do empregado doméstico no regime de
FGTS e seguro desemprego, argumentando que a inclusão do empregado doméstico
no regime do FGTS “acaba por onerar de forma demasiada o vínculo de trabalho do
doméstico, contribuindo para a informalidade e o desemprego”.

Ficou ainda mais evidenciada, com a mensagem do presidente, a discriminação


com a categoria dos empregados domésticos.
17

A Lei n° 11.324/2006, conseguiu com muita pressão dos sindicatos corrigir as


injustiças históricas confirmadas pela Constituição Federal de 1988. E daí se da um
grande avanço para a classe.

Por meio da Lei n° 11.324/2006, os empregados domésticos obtiveram o direito


ao descanso semanal remunerado aos domingos e feriados, pagamento em dobro do
trabalho em feriados civis e religiosos, garantia de emprego à gestante desde a
confirmação até cinco meses após parto, trinta dias de férias (para períodos
aquisitivos iniciados após a data de sua publicação), além de vetar descontos no
salário por fornecimento de higiene, alimentação, vestuário e moradia.

1.7 A Convenção 189 da Organização Internacional do Trabalho

A Convenção n° 189/2011 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) trata


do trabalho decente ao trabalhador doméstico, trazendo normas coincidentes ao
ordenamento jurídico brasileiro. A principal intenção dessa norma internacional foi
equiparar a condição dos domésticos e dos demais trabalhadores.

A Convenção em seu conteúdo abordou sobre os direitos humanos e direitos


fundamentais trabalhistas, trabalho infantil doméstico, assédio e violência no local de
trabalho, proteção contra abusos trabalhistas, jornada de trabalho, etc.

Em 31 de janeiro de 2018, o Brasil deu um grande passo na conquista dos


direitos para o empregado doméstico ao aderir a Convenção 189 da OIT, desta forma
o Brasil passa a ser o 25° Estado Membro da OIT e o 14° Estado membro da região
das Américas a ratificar a Convenção.

A ratificação da Convenção nº 189 representa um passo importante que apoia


uma série de medidas tomadas pelo Governo brasileiro para fornecer proteções
fundamentais aos trabalhadores domésticos. Essas medidas incluem a adoção de
uma emenda constitucional em abril de 2013, que estabeleceu uma semana de
trabalho de no máximo 44 horas.

Portanto, com a ratificação da Convenção 189 pelo Brasil, mostra que os


empregados domésticos vêm sendo reconhecidos a cada conquista.
18

1.8 PEC n° 66 de 2012 e Emenda Constitucional n° 72 de 2013

Os trabalhadores passaram a gozar de uma norma ainda mais protetiva, que


os igualou aos outros trabalhadores. A PEC (Projeto de Emenda a Constituição) n° 66
de 2012, conhecida como a “PEC das domésticas”, foi introduzida ao artigo 7° da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 por meio de sua aprovação
pelo Senado Federal, tornando-se Emenda Constitucional n° 72 de 2013.

Uma das principais conquistas dos empregados domésticos foi a


regulamentação da jornada de trabalho, onde antes ficava a mercê de acordo entre o
empregado e empregador. Com a promulgação da Emenda Constitucional n° 72/2013,
a limitação da jornada de trabalho foi executada imediatamente, o novo texto trouxe a
seguinte alteração:

EMENDA CONSTITUICIONAL N° 72/2013


Artigo único. O parágrafo único do art. 7º da Constituição Federal passa a
vigorar com a seguinte redação:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos
os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII,
XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições
estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das
obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de
trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV
e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social."

Assim, os novos direitos incluídos foram:

I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa


causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização
compensatória, dentre outros direitos;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender
às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder
aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo
coletivo;
19

VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem


remuneração variável;
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor
da aposentadoria;
IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção
dolosa;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa
renda nos termos da lei;
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta
e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da
jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em
cinquenta por cento à do normal;
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais
do que o salário normal;
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a
duração de cento e vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de
trinta dias, nos termos da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de
saúde, higiene e segurança;
XXIV – aposentadoria;
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até
5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas;
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem
excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou
culpa;
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério
de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de
admissão do trabalhador portador de deficiência;
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de
dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na
condição de aprendiz, a partir de quatorze anos. (FEDERAL, Constituição.
Brasil. 1988).

Ainda que com enormes avanços, alguns direitos continuavam com pendencia
de regulamentação, não entrando em vigor. Isso gerou grande confusão, pois uma
parcela da doutrina defendia aplicação imediata, enquanto outra sustentava que
somente uma legislação infraconstitucional posterior lhes conferiria eficácia.
20

1.9 Lei Complementar 150/2015

A maior conquista do empregado doméstico foi a Lei Complementar n°


150/2015 publicada no dia 2 de junho de 2015, com aplicação para todos os contratos
domésticos. Essa lei, conhecida como a Nova Lei dos Domésticos não se aplica as
diaristas e estabelece direitos aos empregados domésticos antes e depois da Emenda
Constitucional n° 72/2013. Além disso, revogou a Lei n° 5.589/72 (antiga Leis dos
Domésticos).

A LC n° 150/2015 acabou com a discussão que havia antes dela sobre quantos
dias de trabalho caracterizariam o vínculo de emprego como empregado doméstico e
não como diarista. Ela define em seu artigo 1° o doméstico como aquele “que presta
serviços de forma contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não
lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias
na semana”. Em seu Parágrafo Único do referido artigo veda o trabalho para os
menores de 18 anos.

Alguns dos direitos já existentes foram modificados de acordo com a


particularidade de cada contrato, já outros são recentes. A maior parte desses direitos
serão abordadas no terceiro capítulo, mas vale aqui mencionar algumas alterações,
como a do prazo de 120 dias, a partir da publicação, concedido para o empregador
começar a cumprir as novas regras da Lei Complementar n° 150/2015 (que se deu
em 2 de junho de 2015).

Para aqueles que estão em dividas com o INSS de seu empregado, a nova lei
trouxe o Programa de Recuperação Previdenciária dos Empregadores Domésticos
(REDOM). Esse programa parcela a divida em 120 meses, isenta o devedor de multas
e garante desconto de 60% nos juros referente ao tempo que ficou sem recolher.

Antes da Lei Complementar n° 150/2015 de acordo com a Lei n° 8.009/90 o


bem de família poderia ser penhorado em casos excepcionais previstos no artigo 3°
da Lei. Com a LC n° 150/2015 o inciso I do Artigo 3° da Lei 8.009/90 foi revogado. E,
com a revogação desse inciso não será mais possível penhorar o bem de família do
empregador por dividas trabalhistas que este tenha com seu empregado doméstico
ou por débitos relacionados com a contribuição previdenciária deste funcionário.
21

Vale ressaltar que se o devedor possuir mais de um imóvel e só um pertencer


a bem de família, o outro poderá ser penhorado. Dessa forma, também poderá ser
penhorado os bens móveis como carros, motocicletas, joias, além de bloqueios online
de dinheiro depositado em instituições financeiras que pertençam ao empregador
executado.

Com a Nova Lei dos Domésticos, percebe-se as grandes conquistas obtidas


pelos empregados domésticos. É inegável, que de modo geral, a lei trouxe
importantes mudanças, não só para os domésticos, mas para os empregadores e toda
sociedade. Porém, ainda há uma batalha muito grande para que essas conquistas
sejam efetivadas no dia a dia destes trabalhadores.
22

2 O TRABALHO DOMÉSTICO NO BRASIL

O trabalho doméstico no Brasil é oriundo da escravidão, homens, mulheres e


até crianças eram trazidos da África. As mulheres eram trazidas para cozinhar, cuidar
das casas, pois antes delas as próprias famílias faziam suas comidas e outros
deveres, como é feito nos dias de hoje por muitas pessoas que trabalham e mesmo
assim cumpre com seus deveres de casa. Eles eram tratados como escravos, pois
trabalhavam muito, não tinham salário fixo, ganhavam em troca de seu trabalho uma
cama para dormir. As vezes tinham folga, mais era raro isso acontecer, pois eles não
tinham seus direitos previsto em lei para reivindica-los. Fica claro que o direito do
empregado doméstico evoluiu bem mais devagar do que o direito do empregado
urbano, pois existe o empregado doméstico desde a abolição da escravatura no ano
de 1888 e até 1972 não se tinha nenhuma lei especifica para eles.

A lei 5.859/1972 Conceituava o empregado doméstico como: “Aquele que


presta serviços de natureza continua e de finalidade não lucrativa a pessoa ou a
família, no âmbito residencial destas.”

Com o advento da Lei Complementar 150/2015 em seu Art. 1° o conceito de


empregado doméstico passou a ser: “Aquele que presta serviços de forma continua,
subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família,
no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana.”

Tem se por empregados domésticos o mordomo, a cozinheira, o jardineiro, o


motorista, a copeira, a governanta, a arrumadeira entre outros.

2.1 Empregado doméstico e a natureza continua da prestação de serviços

Uns dos principais requisitos do empregado doméstico é que seja pessoa


física e com idade igual ou superior a 18 anos. Vale ressaltar é que deve ser
observado não só a atividade que exerce o empregado, mas também se seu
empregador é uma pessoa física ou jurídica.
23

Sendo o empregador pessoa física e não tendo nenhuma atividade


econômica em que o empregado colabore esse sim será considerado empregado
doméstico. Se for pessoa jurídica o empregado já não é considerado empregado
doméstico e sim empregado celetista que é regido pela CLT.

O trabalho doméstico pode ser especializado ou não, manual ou intelectual


como traz os autores Orlando Gomes e Vólia Bonfim, respectivamente:

A natureza da função de empregado é imprestável para definir a qualidade


de doméstico. Um cozinheiro pode servir tanto a uma residência particular
como a uma casa de pasto. Um professor pode ensinar num estabelecimento
público ou privado ou no âmbito residencial da família. Portanto, a natureza
intelectual não exclui a qualidade do doméstico. (GOTTSCHALK, 1995, p.
101).
É preciso lembrar que para ser doméstico basta trabalhar para empregador
doméstico, independente da atividade que o empregado doméstico exerça,
isto é, tanto faz se o trabalho é intelectual, manual ou especializado.
(CASSAR, 2014, p. 338).

O rol de trabalhadores que são considerados domésticos é extenso,


bastando para se enquadrar nessa categoria trabalhar em residência, e que o
empregador seja pessoa física e que não explore atividade econômica.

Entretanto, nem todos que trabalham em âmbito residencial é considerado


doméstico, tem os profissionais que atendem em casa e nem por isso deixam de
ser amparados pelos direitos previstos em seus estatutos profissionais especiais,
como o caso do personal trainers, massagista, fisioterapeuta, professor particular,
entre outros conforme diz Luciano Martinez:

Não parece ser razoável atribuir a esses profissionais (normalmente


autônomos o status de domésticos pelo simples fato de realizarem seu
trabalho em ambiente residencial [...]. Nada impede, todavia que um
integrante de categoria profissional regulamentada por lei aceite a proposta
de ser empregado doméstico para realizar, entre outras atividades típica do
ambiente residencial. (MARTINEZ, 2012, p. 174).

Portanto, nem toda atividade feita em âmbito residencial é considerada


trabalho doméstico.
24

Por muitos anos houve duas correntes para a chamada “natureza continua”,
a primeira é o artigo 1º da antiga Lei n. 5.859, que foi revogada pela LC 150/2015
que, por sua vez, traz em seu texto a mesma expressão “natureza continua”; a
segunda derivou-se do artigo 3º da CLT, trazendo a expressão “natureza não
eventual”. A primeira corrente entende que a análise do trabalho continuo é feita
com os mesmos critérios da análise feita para o trabalho não eventual previsto na
CLT. Tendo entre os que defendem essa corrente (MARTINS, 2001, p. 135),
entende que quanto aos domésticos, “os serviços podem ser prestados em forma
continua e ininterrupta ou em forma periódica; uma vez por semana, três vezes
por semana, uma vez a cada quinze dias etc.”, não afetando a caracterização do
trabalhador doméstico.

Entretanto, a doutrina e jurisprudência majoritária não consideram vinculo


de emprego o trabalho prestado apenas uma vez por semana para tomador
doméstico, pois não é um serviço contínuo. Na jurisprudência é consolidado como
trabalho contínuo, acarretando vínculo empregatício aquele presta serviço por três
dias ou mais na semana:

RECURSO DE REVISTA [...] - RELAÇÃO DE TRABALHO DOMÉSTICA –


PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI
COMPLEMENTAR Nº 150/2015 - SERVIÇOS PRESTADOS TRÊS VEZES
POR SEMANA – VÍNCULO EMPREGATÍCIO - NÃO CARACTERIZAÇÃO –
NÃO PREENCHIMENTO DO PRESSUPOSTO DA CONTINUIDADE –
CRITÉRIO TEMPORAL. Diversamente do termo "não-eventual", outrora
utilizado pela CLT, a Lei nº. 5.859/72, definiu empregado doméstico como
"aquele que presta serviço de natureza contínua", inserindo assim, uma
nomenclatura diversa, que sempre causou grande divergência na doutrina
trabalhista. A continuidade é traço distintivo marcante da peculiaridade com
que o trabalho doméstico sempre foi tratado em nosso país, e que, aos
poucos vai sendo diluída pela progressiva equiparação dos domésticos aos
demais trabalhadores, que decorre da ratificação pelo Brasil da Convenção
nº. 189 OIT, da promulgação da Emenda Constitucional nº. 72 e, mais
recentemente, da Lei Complementar nº. 150/2015, que regulamenta a
modificação constitucional. [...]. Com a nova regulamentação, contudo,
engajamentos com frequência de mais de duas vezes por semana
imediatamente caracterizam o vínculo empregatício doméstico. O caso dos
autos, contudo, versa sobre relação de trabalho iniciada e concluída antes da
entrada em vigor da nova legislação, o que, por segurança jurídica, implica a
observância dos parâmetros vigentes ao tempo da Lei nº. 5.859/72. A maioria
da doutrina trabalhista entende que a continuidade possui significação
própria, correspondente à permanência absoluta, ou seja, a iteratividade,
repetição da prestação no tempo sem hiatos, sendo necessária, para a
configuração da relação de emprego doméstica, a prestação contínua do
trabalhador, ressalvados apenas os descansos e repousos impostos pela lei.
[...]. (TST, 7ª. T., RR 1933-13.2010.5.15.0067, Relator: Ministro Luiz Philippe
Vieira de Mello Filho. Data de Publicação: 06 nov. 2015, destaque nosso).
25

Portanto, com a promulgação da LC 150/2015 a análise que gerava discussão


a respeito do requisito para continuidade foi finalmente encerrada, pois em seu artigo
1°, supramencionado, o legislador optou por deixar claro que a lei será aplicada
apenas para aqueles empregados que laboram a 2 dias por semana, excluindo do rol
as chamadas diaristas.

2.2 O empregador doméstico

De acordo com o artigo 15, inciso II da Lei n° 8.212/1991, empregador


doméstico é aquela pessoa ou família que admite a seu serviço, sem finalidade
lucrativa, empregado doméstico.

Portanto, as pessoas jurídicas, profissionais liberais, nem entes jurídicos


especiais sem personalidade formal, por exemplo: os condôminos, poderão ser
considerados empregadores domésticos.

Poderá ser empregador doméstico a pessoa relativamente incapaz (entre 16 e


18 anos), desde que assistida por responsável legal ou emancipada como diz o artigo
5°, caput, e parágrafo único).

Portanto, todas as pessoas jurídicas, pessoas físicas, ou entidades acima


citadas que contratem trabalhadores para prestar serviços vinculados a sua atividade-
fim, mesmo que não seja eventual, oneroso e etc. serão considerados empregadores
comuns e não empregadores domésticos.

2.3 Atividade de natureza não lucrativa no âmbito residencial

Dispõe o artigo 1° da LC 150/2015, que o trabalhador doméstico é aquele que


presta serviços “de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família”.

Não houve uma alteração digna em relação ao requisito de finalidade não


lucrativa em âmbito residencial do que já estava previsto na Lei n°. 5.859/72, em
relação a LC n. 150/2015.
26

Ademais, deve ser observado que para tipificar trabalhador doméstico é


necessário preencher além dos requisitos do artigo 1° da LC n. 150/2015, que a
atividade exercida no âmbito residencial não implique lucro ou renda para o tomador
dos serviços.

Portanto, considera-se atividade não lucrativa no âmbito de residência do


empregador doméstico os serviços normais realizados na residência familiar ou
necessários à sua manutenção, como serviços de limpeza, ou à satisfação das
necessidades básicas das pessoas ou da família que moram na residência, como
serviços de alimentação, saúde, higiene, segurança, motorista.

Neste caso o motorista particular que por mais de 3 (três) dias na semana
comparecer a residência para levar as pessoas ou a família para realizar atividades
pessoais ou de trabalho será considerado empregado doméstico. Nesse sentido,
aproveita-se o seguinte julgado:

MOTORISTA PARTICULAR. TRABALHADOR DOMÉSTICO. Categoriza-


se como empregado doméstico todos aqueles que trabalham em prol de
pessoa ou família, desde que atendidos os requisitos previstos no art. 1º da
Lei 5.859/72. Neste contexto, pode-se afirmar que não apenas os
empregados que trabalham no âmbito residencial são domésticos, mas
também aqueles que realizam atividades externas em prol da pessoa ou
família, como os motoristas particulares que conduzem seus patrões para o
trabalho, lazer, etc. Comprovado nos autos que o reclamante era motorista
particular do reclamado, não se lhe
(TRT-3 - RO: 00902200907203000 0090200-13.2009.5.03.0072, Relator:
Convocada Maristela Iris S.Malheiros, Setima Turma, Data de Publicação:
10/02/2011,09/02/2011. DEJT. Página 112. Boletim: Sim.)

Ademais, é necessário advertir que a relação de empregado e empregador


doméstico é possível se transformar em relação regida pela CLT (Consolidação das
Leis Trabalhistas), no caso em que o empregador começa a fazer bolo e vender para
terceiros, contando com a ajuda do empregado, ou seja, o empregado estará
colaborando para uma atividade lucrativa, como diz o julgado a seguir:
27

EMPREGADO DOMÉSTICO EM SÍTIO DE LAZER TRANSFORMADO EM


ATIVIDADE ECONÔMICA. A Lei n. 5.854, de 11-12-1972, ao dispor sobre
a profissão de empregado doméstico, deixou claro que a primeira condição
para que se caracterize o trabalho doméstico, é que os serviços prestados
fossem de natureza não econômica. Não obstante, não econômica, isto sim,
é a utilização dos serviços domésticos por quem os contrata. Ora, se a
reclamada alega que a autora foi contratada para exercer a função de
doméstica, em sítio de lazer, e confessa que, posteriormente, passou a
alugar a propriedade para terceiros, nos fins de semana, ainda que de forma
descontínua, incumbindo a empregada, entre outros afazeres de receber o
valor do aluguel, abrir e fechar o portão, quando da chegada e saída dos
hóspedes, cabendo a ela fazer o contrato, segundo depoimento da própria
testemunha da reclamada, os serviços prestados passaram a constituir fator
de produção para a empregadora, que se utilizou de seus serviços para
auferir lucro.
(TRT-3 - RO: 1241103 00513-2003-026-03-00-8, Relator: Bolivar Viegas
Peixoto, Sétima Turma, Data de Publicação: 07/10/2003,DJMG . Página 17.
Boletim: Não.)

Será doméstico o empregado que laborar em sitio que não explore atividade
econômico-lucrativo. Nesse sentido:

VÍNCULO EMPREGATÍCIO. PROPRIEDADE RURAL. CASEIRO.


EMPREGADO DOMÉSTICO. Da análise do conjunto probatório dos autos,
constata-se que o recorrido não explorava atividade agro econômica em sua
propriedade rural, sendo o autor contratado na condição de empregado
doméstico (caseiro) apenas com o intuito de preservá-la (tomar conta da
propriedade), cuidar de alguns animais e colheita de frutas. Em suma, a
propriedade era destinada ao lazer do reclamado e de sua família, fato este
comprovado pelo próprio autor em seu depoimento pessoal. Recurso
Ordinário ao qual se nega provimento.

(TRT-6 - RO: 794200818106007 PE 2008.181.06.00.7, Relator: Ana


Cristina da Silva Ferreira Lima, Data de Publicação: 13/11/2008)

Portanto, é possível que cumular os dois contratos, de empregado doméstico e


empregado celetista, pois a CLT e a LC n°. 150/2015 não proíbem que isso aconteça.
De acordo com a jurisprudência a seguir:

MOTORISTA - DOIS CONTRATOS SUCESSIVOS DOMÉSTICO E


TRABALHISTA. Não há óbice em que o motorista doméstico seja
posteriormente contratado como motorista da empresa de propriedade do
casal na residência de quem trabalhava, estabelecendo-se, neste caso, dois
vínculos de natureza distinta, mormente quando verificam -se
28

inequivocamente delineados os pressupostos de configuração de um e de


outro contrato, sem qualquer indício de fraude.
(TRT-3 - RO: 1096404 00132-2004-016-03-00-2, Relator: Denise Alves
Horta, Oitava Turma, Data de Publicação: 28/08/2004, DJMG. Página 16.
Boletim: Não.)
29

3 AS INOVAÇÕES DA LC N° 150/2015

3.1 Alterações na legislação trabalhista

A Lei Complementar n° 150/2015 foi publicada no dia 02 de junho de 2015 e


entrou em vigor na mesma data, com ela trouxe várias inovações para a categoria de
empregados domésticos, como por exemplo, o critério de definição para se
caracterizar ou não esse vínculo, é necessário que o empregado doméstico trabalhe
por mais de dois dias na semana, isso era um problema antes da LC 150/2015, pois
não havia uma definição concreta sobre os dias trabalhados para que se configure o
empregado doméstico.

Um dos aspectos positivos foi que com a LC 150/2015 os empregados


domésticos tiveram seus direitos trabalhistas reconhecidos, igualando-os, com
algumas condições as outras classes de trabalhadores.

Com exceção do auxílio-creche, que depende de acordo coletivo ou


convenção, os demais direitos que estavam pendentes de regulamentação foram
regulamentados.

3.2 Jornada de trabalho e horas extraordinárias

A LC 150/2015 permaneceu estabelecendo a mesma quantidade de horas em


relação a jornada de trabalho, ou seja, continua sendo de 8 (oito) horas diárias e 44
(quarenta e quatro) horas semanais.

No que se refere ao controle de ponto, surge um grande problema, pois o


empregado doméstico muitas vezes trabalha em residência, onde não possui cartão
de ponto, livro de ponto etc. Isso dificulta para o empregador que trabalha fora da
residência saber quantas horas realmente o empregado doméstico está laborando ou
descansando. E torna-se, difícil também para o empregado doméstico respeitar
exatamente a extensão correta de sua jornada.
30

Não serão consideradas horas trabalhadas, as horas não trabalhadas


propriamente ditas, os feriados, domingos, tempo de repouso, inclusive as férias em
que o empregado doméstico repousar no local de trabalho.

Visando a continuidade do serviço e a possibilidade de contratação de mais de


um empregado doméstico a LC 150/2015, trouxe a inovação da jornada de 12x36
(doze horas seguidas de trabalho por 36 horas ininterruptas de descanso), agora se
torna possível no âmbito doméstico, desde que haja acordo por escrito entre
empregador e empregado doméstico, não necessitando de acordo ou convenção
coletiva.

Mais uma novidade trazida pela LC 150/2015, é a possibilidade da jornada de


trabalho em regime parcial, cuja duração é de no máximo 25 (vinte e cinco) horas
semanais e 6 (seis) diárias. Sendo assim, o que difere da CLT, é que o empregado
poderá fazer 1 (uma) hora extraordinária por dia, recebendo salário de acordo com a
jornada trabalhada, lembrando que é necessário acordo escrito entre empregador e
empregado doméstico.

3.3 Domingos e feriados

Em relação aos domingos e feriados a LC 150/2015, dispõe em seu artigo 16


que é devido ao trabalhador doméstico “descanso semanal remunerado de, no
mínimo, 24 (vinte e quatro) horas consecutivas, preferencialmente aos domingos,
além de descanso remunerado em feriados”.

A compensação dos domingos e feriados laborados é possível. No entanto,


caso não seja realizada a compensação, o artigo 8° da LC 150/2015 estabelece que
a remuneração deverá ser paga em dobro, sem prejuízo do RSR (repouso semanal
remunerado).
31

3.4 Viagens

Nas viagens que o empregador quiser levar o empregado, só é possível


mediante prévio acordo escrito entre as partes. Não vale acordo tácito ou verbal.

Serão consideradas como horas trabalhadas em viagens junto com o


empregador, somente as horas efetivamente trabalhadas no período, podendo ser
compensadas as horas extraordinárias em outro dia, observado o artigo 2° da LC
150/2015.

A remuneração-hora trabalhada na viagem será de no mínimo 25% superior ao


valor da hora normal.

3.5 Intervalos intrajornada e interjornada

O intervalo intrajornada é o realizado dentro da mesma jornada diária de


trabalho, normalmente para alimentação e repouso (de curta duração) do trabalhador.

Está previsto para o empregado doméstico no artigo 13 da LC 150/2015 dispõe


que é obrigatória a concessão de intervalo para repouso ou alimentação pelo período
de, no mínimo, 1 (uma) hora e, no máximo, 2 (duas) horas, admitindo-se sua redução
a 30 (trinta) minutos, mediante prévio acordo escrito entre empregador e empregado.

O trabalhador residindo no próprio local de trabalho poderá desmembrar o


período de intervalo em 2 (dois) períodos, desde que cada um deles tenha, no mínimo,
1 (uma) hora, até o limite de 4 (quatro) horas ao dia.

Se o trabalhador doméstico deixar de residir no próprio local de trabalho, será


obrigatória a anotação dessa alteração no registro diário de horário, vedada sua
prenotação, previsto no artigo 13, § 2° da LC 150/2015.

O intervalo interjornada é denominado aquele que ocorre entre o término de


uma jornada diária e o início da outra. Esse intervalo é mais longo do que o intervalo
intrajornada citado no sub tópico anterior.

De acordo com o artigo 15 da LC 150/2015: “Entre 2 (duas) jornadas de trabalho


deve haver período mínimo de 11 (onze) horas consecutivas para descanso”.
32

3.6 Hora noturna

O horário noturno para o empregado doméstico é o mesmo horário do


empregado urbano, de acordo com o artigo 14 da LC 150/2015 considera trabalho
noturno o labor exercido entre as 22 horas de um dia e as 5 horas do dia seguinte.

A hora noturna terá a duração de 52 minutos e 30 segundos e o adicional será


de 20% sobre o valor da hora diurna.

3.7 Contrato por prazo determinado

De acordo com o artigo 4° da LC 150/2015, tornou-se possível a contratação


de empregado doméstico por tempo determinado, em dois casos: mediante contrato
de experiência e contrato temporário.

No contrato de experiência o prazo máximo é de 90 (noventa) dias, sendo


possível apenas mais uma prorrogação. E no contrato temporário, para suprir
necessidade familiar de natureza transitória ou para substituir outro empregado
doméstico que esteja com seu contrato de trabalho interrompido ou suspenso (prazo
máximo de 2 (dois) anos.

3.8 Férias

O empregado doméstico já possuía o direito de 30 dias de férias após 12 meses


trabalhados, até mesmo antes da EC n° 72/2013. Houve alteração no que tange sobre
a possibilidade de o empregador doméstico dividir em até 2 períodos, sendo que pelo
menos um deles deverá ter 14 dias corridos.

Desejando o empregado doméstico converter em abono pecuniário 1/3 de suas


férias, sendo este um direito potestativo do empregado, não poderá o empregador
doméstico se recusar a comprar.

É facultado ao empregado doméstico que reside no local de trabalho, como


dispõe o § 5° do artigo 17 da LC 150/2015, que nele permaneça durante as férias.
33

Porém neste dispositivo é exposta a vulnerabilidade do empregado doméstico, pois


poderá, de fato, não gozar livremente o direito de férias anuais remuneradas.

3.9 Dispensa por justa causa

A dispensa por justa causa do trabalhador doméstico corresponde à pratica de


qualquer ato previsto em lei que dá ao empregador o direito de extinguir o contrato de
trabalho por culpa do trabalhador.

A LC 150/2015 trouxe em seu artigo 27 um rol taxativo que prevê as situações


que tipificam a justa causa praticada pelo empregado doméstico;

I - submissão a maus tratos de idoso, de enfermo, de pessoa com deficiência


ou de criança sob cuidado direto ou indireto do empregado;

II - prática de ato de improbidade;

III - incontinência de conduta ou mau procedimento;

IV - condenação criminal do empregado transitada em julgado, caso não tenha


havido suspensão da execução da pena;

V - desídia no desempenho das respectivas funções;

VI - embriaguez habitual ou em serviço;

VII - (VETADO);

VIII - ato de indisciplina ou de insubordinação;

IX - abandono de emprego, assim considerada a ausência injustificada ao


serviço por, pelo menos, 30 (trinta) dias corridos;

X - ato lesivo à honra ou à boa fama ou ofensas físicas praticadas em serviço


contra qualquer pessoa, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;

XI - ato lesivo à honra ou à boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o


empregador doméstico ou sua família, salvo em caso de legítima defesa, própria ou
de outrem;

XII - prática constante de jogos de azar.


34

Vale ressaltar, que para os empregados que forem dispensados sem justa
causa, a LC 150/2015 dispõe sobre o direito destes em relação a multa de 40% sobre
os depósitos do FGTS.

Portanto, para os empregados domésticos deverá ser recolhido, pelo


empregador, todo mês o valor de 40% da multa rescisória, ao longo da vigência do
contrato de trabalho.

3.10 Descontos no salário

Em relação aos descontos no salário do empregado doméstico, a LC 150/2015


manteve a mesma regra prevista na antiga lei dos domésticos, ou seja, não serão
permitidos descontos por fornecimento de alimentos, higiene, vestuário, moradia.

No que se refere a moradia, a LC 150/2015 permite que o empregador desconte


do empregado doméstico que tenha moradia em local diverso e de propriedade do
empregador, podendo ser no mesmo terreno, bastando ser em casa diferente.

Portanto, o fornecimento de moradia pelo empregador para o empregado seja


na mesma residência ou em residência anexa não da o direito ao empregado qualquer
direito de posse ou propriedade sobre a moradia.

O artigo 46 da Lei Complementar 150/2015 revogou o artigo 3°, I da Lei


8.009/90, que trata da impenhorabilidade do bem de família, pois antes era possível
que fosse penhorado o imóvel residencial próprio do casal ou da entidade familiar para
pagamento de créditos trabalhistas e previdenciários dos domésticos.

Vale destacar, que é facultado ao empregador efetuar descontos no salário do


empregado nos casos de adiantamento salarial e, mediante acordo escrito entre as
partes, para inclusão do empregado em planos de assistência médico-hospitalar e
odontológica, de seguro e de previdência privada, não ultrapassando a dedução de
20% (vinte por cento) do salário.
35

3.11 Vale-transporte

No que se refere ao vale-transporte a LC 150/2015 em seu artigo 19, Parágrafo


Único, inova em trazer a possibilidade de o empregador doméstico substituir,
mediante recibo, o vale-transporte pelo pagamento em dinheiro dos valores referentes
ao valor da passagem necessária para deslocamento no percurso residência-trabalho
e vice-versa.

3.12 Salário-família

O salário-família é um direito garantido antes mesmo da LC 150/2015, onde é


regido pela CLT. Para ter direito ao salário o empregado de modo geral, estando
incluído o empregado doméstico, tem que perceber um salário de até R$ 1.319,18.

Sendo assim, o salário-família deverá ser pago mensalmente, juntamente com


o salário, na proporção do número de filhos do empregado doméstico e será
compensado no momento das contribuições previdenciária devidas ao INSS.

3.13 Fiscalização do Trabalho

No que tange a fiscalização do trabalho essa será feita pelo auditor fiscal do
trabalho, para verificar se as regras aplicadas ao contrato de trabalho doméstico estão
sendo cumpridas. Porém, essa fiscalização acontecerá por parte de agendamento do
empregador.

Nesse caso de contrato doméstico fica difícil a efetivação da fiscalização,


visando que na maioria das vezes o empregado doméstico tem como seu local de
trabalho a residência do empregador doméstico. Isso porque, nos termos do artigo 5°,
inciso XI, da Constituição Federal de 1988, “a casa é asilo inviolável do indivíduo,
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial”.
36

Portanto, a fiscalização só será possível no âmbito do domicilio do empregador,


mediante agendamento e entendimento prévio entre a fiscalização e o empregador.

Com a revogação da Instrução Normativa da Secretaria de Inspeção do


Trabalho pelo artigo 44 da LC 150/2015, foi necessário a análise do referido artigo
com base no artigo 5°, inciso XI, da Constituição Federal, que prevê o principio da
inviolabilidade do domicílio.

Conclui que só será possível a entrada do auditor fiscal para a fiscalização em


residência do empregador doméstico com seu consentimento, com exceção dos
casos previstos no artigo 5°, inciso XI, da Constituição Federal c/c artigo 149 do
Código Penal.

3.14 Convenções e Acordos coletivos

Em relação as convenções e acordos coletivos no que se refere ao seu


reconhecimento, a modificação não teve grande relevância, pois “em termos práticos
não há, principalmente entidades sindicais que representem supostas categorias
domésticas patronais, mesmo porque estes por definição legal, não prestam serviços
de natureza econômica ou lucrativa para que possam ser considerados uma
“categoria”.

O Ministério do Trabalho é oposição no que se refere a criação de dos


sindicatos patronais, pois compreendem que o empregador doméstico não é uma
estrutura econômica, portanto, não deteria obrigação sindical.

Portanto, mais uma vez acarretaria para o empregador a obrigação do


pagamento sindical.
37

4 OS DIREITOS CONFERIDOS AOS DOMÉSTICOS E A REALIDADE BRASILEIRA

Nos dias de hoje, principalmente em tempos de crise econômica, é muito fácil


de se relatar que as famílias estão com receios de contratar um empregado doméstico,
pois muitos não entendem o que mudou na Lei Complementar 150/2015. Pela falta de
conhecimento e também pelos tempos difíceis que estão vivendo, o receio de
contratação dessa categoria é constante nas famílias brasileiras.

Além disso, contratar um empregado doméstico nos dias de hoje não é


somente ter condições de arcar com um salário, o que muitas famílias de classe média
não estão conseguindo arcar pelas mudanças da Nova lei, mas é ter como custear
tudo o que a lei exige. O legislador não pensou quando igualou o empregado
doméstico ao urbano, pois o empregado doméstico não traz lucro financeiro para o
empregador como o urbano traz e isso também dificulta muito na hora de conseguir
arcar com os custos de ter um empregado doméstico.

Deve ser levado em conta a realidade do empregador doméstico, visando que


entre o empregador doméstico e o empregador não doméstico há muita diferença, ou
seja, nem sempre uma pessoa que contrata um empregado doméstico tem a mesma
realidade que um empregador de uma empresa. Sendo assim, pode ser que aconteça
o inverso do que traz a LC 150/2015.

Ademais, além do custo da manutenção de um empregado doméstico ter


aumentado e com isso dificultado sua contratação, temos também outros fatores que
a LC 150/2015 trouxe. Como a ausência do empregador na residência, o que dificulta
o controle da jornada do empregado doméstico, interferindo também na contabilização
das horas extras e adicionais noturnos.

Acredita-se que com tudo isso aumente o número de reclamações trabalhistas


e acarrete o crescimento da informalidade e desemprego. Pois, quando se trata de
aumento de custo, nos dias de crise como está o nosso país, o objetivo é economizar
cada vez mais.

Vale destacar que, entre o empregado e o empregador doméstico a


subordinação é mitigada, pois é uma prestação de serviço prestada pelo empregado
ao empregador doméstico pautada na confiança e cooperação, pois o empregado
possui livre acesso a residência do empregador, a intimidade do empregador e com
38

isso torna-se necessária uma atenção especial, para que essa categoria de
trabalhadores não pague pela não observância do legislador.

Portanto, é preciso que haja uma lei que observe os dois polos da relação
empregatícia para que se tenha o real cumprimento do que está previsto na legislação
por ambas as partes, empregado e empregador doméstico.
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CONCLUSÃO

Os empregados domésticos sempre tiveram origem de escravos e na maioria


das vezes relacionado ao trabalho feminino. Diante disso, os empregados domésticos
sempre sofreram discriminação pela sociedade e pela própria legislação, a
Consolidação das Leis Trabalhistas, em seu artigo 7, alínea a, excluía os empregados
domésticos dos direitos previstos para os demais empregados.

A luta pelo reconhecimento dos direitos da categoria dos empregados


domésticos começou a muito tempo, por muitos anos teve seus direitos trabalhistas
restringidos pelo próprio ordenamento jurídico.

Após muita luta desta categoria, foi promulgada a Lei Complementar nº


150/2015, que prevê os direitos tão sonhados pelos empregados domésticos. Sendo
assim, os direitos que foram conferidos aos empregados domésticos igualaram estes
a outras categorias de trabalhadores, claro que com algumas diferenças, em razão de
suas peculiaridades, o que foi um aspecto positivo pois houve a diminuição da
desigualdade, que perdurou por anos.

Por outro lado, as famílias terão que se reorganizar financeiramente, pois com
a Lei Complementar nº 150/2015 os gastos para ter um empregado doméstico
aumentou e em muitos casos são incompatíveis com a realidade brasileira, pois a
condição de um empregador doméstico na maioria das vezes não é a mesma de um
empregador urbano e rural. Diante disso, o presente trabalho busca uma reflexão
sobre os benefícios previstos na LC nº 150/2015 e a efetivação desta no dia a dia dos
empregados e empregadores domésticos.

Ademais, está claro que a Lei Complementar nº 150/2015 teve o intuito de


trazer benefícios aos empregados domésticos, para que esta categoria de
trabalhadores tivessem um avanço e a tão esperada equiparação aos demais
empregados, porém a legislação precisa de medidas que a coloque em sintonia com
a realidade, para que a lei não produza resultado diverso do pretendido. Desse modo,
vale ressaltar que como dito anteriormente, é necessário que se crie medidas para
que se efetive o cumprimento da lei, mas além disso, também é necessário que a
sociedade se conscientize que os trabalhadores domésticos merecem o mesmo valor
e importância dos demais empregados.
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Diante das alterações trazidas pela LC nº 150/2015, os empregados


domésticos terão vários obstáculos a serem enfrentados no que tange a sua
efetivação. Sendo assim, é válido que se faça uma análise entre os pontos que
precisam ser melhorados, para que esta lei seja realmente efetiva.

Além das medidas necessárias, é preciso que a sociedade brasileira comece a


deixar para traz os pensamentos de discriminação em relação aos empregados
domésticos, passando a tratar estes com igualdade. Pois, deve haver valorização por
parte da sociedade e uma reflexão por parte do legislador e do judiciário para que não
haja o efeito inverso do pretendido na LC nº 150/2015.

De todo modo, mesmo que os problemas já identificados, não há como negar


a importância da Lei Complementar nº 150/2015 em relação aos empregados
domésticos, que depois de muitos anos de luta, trouxe esperança, isonomia e
dignidade para muitos trabalhadores brasileiros e colaborou para que os empregados
domésticos continuassem na direção do maior objetivo da Constituição Federal de
1988, a dignidade da pessoa humana.
41

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de 1991, a Lei no 5.859, de 11 de dezembro de 1972, e o inciso VII do art. 12 da Lei
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